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Una revolución, la maquina de la decadencia

"Eles chegam como o destino, sem causa, sem razão, sem respeito, sem
pretexto..." "Impossível compreender como eles penetraram até a capital, no
entanto aí estão eles, e cada manhã parece aumentar seu número..." — Luc
de Heusch pôs em evidência um mito banto que nos remete ao mesmo
esquema: Nkongolo, imperador autóctone, organizador de grandes obras,
homem público e de polícia, entrega suas meio-irmãs ao caçador Mbidi, que
primeiro o ajuda, depois vai embora; o filho de Mbidi, o homem do segredo,
junta-se a seu pai, mas para retornar de fora, com esta coisa inimaginável,
um exército, e matar Nkongolo, com o risco de refazer um novo Estado... s
"Entre" o Estado despótico-mágico e o Estado jurídico que compreende uma
instituição militar, haveria essa fulguração da máquina de guerra, vinda de
fora.5 Luc de Heusch (Le roi ivre ou 1'origine de 1'Etat) insiste no caráter público dos gestos
de Nkongolo, por oposição ao segredo dos gestos de Mbidi e de seu filho: o primeiro,
notadamente, come em público, enquanto os demais se ocultam durante as refeições. Veremos
a relação essencial do segredo com uma máquina de guerra, tanto do ponto de vista do
princípio como das conseqüências: espionagem, estratégia, diplomacia. Os comentadores
salientaram com freqüência essa relação.
Do ponto de vista do Estado, a originalidade do homem de guerra, sua
excentricidade, aparece necessariamente sob uma forma negativa: estupidez,
deformidade, loucura, ilegitimidade, usurpação, pecado... Dumézil analisa os
três "pecados" do guerreiro na tradição indo-européia: contra o rei, contra o
sacerdote, contra as leis derivadas do Estado (seja uma transgressão sexual
que compromete a repartição entre homens e mulheres, seja até uma traição
às leis da guerra tal como instituídas pelo Estado6).
6Dumézil, Mythe et epopée, Gallimard, II, pp. 17-19: análise dos três pecados, que
reencontramos no caso do deus indiano Indra, do herói escandinavo Starcatherus, do herói
grego Heracles(Hércules). Cf. também Heur et malhem du guerrier.
O guerreiro está na situação de trair tudo, inclusive a função militar, ou
de nada compreender. Ocorre a historiadores, burgueses ou soviéticos, seguir
essa tradição negativa, e explicar que Gêngis Khan nada compreende: ele
"não compreende" o fenômeno estatal, "não compreende" o fenômeno
urbano. Fácil de dizer. E que a exterioridade da máquina de guerra em
relação ao aparelho de Estado revela-se por toda parte, mas continua sendo
difícil de pensar. Não basta afirmar que a máquina é exterior ao aparelho, é
preciso chegar a pensar a máquina de guerra como sendo ela mesma uma
pura forma de exterioridade, ao passo que o aparelho de Estado constitui a
forma de interioridade que tomamos habitualmente por modelo, ou segundo
a qual temos o hábito de pensar. O que complica tudo é que essa potência
extrínseca da máquina de guerra tende, em certas circunstâncias, a
confundir-se com uma ou outra das cabeças do aparelho de Estado. Ora se
confunde com a violência mágica de Estado, ora com a instituição militar de
Estado. Por exemplo, a máquina de guerra inventa a velocidade e o segredo;
no entanto, há uma certa velocidade e um certo segredo que pertencem ao
Fitado, relativamente, secundariamente. Há, portanto, um grande risco de
identificar a relação estrutural entre os dois pólos da soberania política e a
relação dinâmica do conjunto desses dois pólos com a potência de guerra.
Dumézil cita a linhagem dos reis de Roma: a relação Rômulo-Numa, que se
reproduz ao longo de uma série, com variantes e alternância entre os dois
tipos de soberanos igualmente legítimos; mas também a relação com um
"mau rei", Tulo Hostílio

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