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Peça publicada em 1923 e levada à cena, pela primeira vez, em 1926. Obra satírica, com
uma pitada de trágico, que possui um caráter simbolista tardio (o cómico supera o
trágico, também devido ao título que antecipa o final).
Estrutura/ação
«Farsa»:
- lembra o teatro vicentino (dizer as verdades a rir);
- a ameaça de morte é uma farsa (mentira);
- a vida do governador (e de todos) também é uma farsa (uma representação e uma
mentira.
«em um ato»:
Ausência de cenas. No entanto, podemos distinguir os seguintes momentos, com
indicação prévia das personagens intervenientes:
Críticas
Esta peça apresenta algumas críticas à situação política da época (a primeira república).
Critica-se a participação de Portugal na Primeira Grande Guerra Mundial, pois esta
piorou a situação económico-social do país. A administração pública ignorava o povo e
governava para os abastados. Vivia na hipocrisia, na aparência e conveniências sociais.
É criticado o mundo moderno e a sua rotina.
Está igualmente presente uma crítica ao gosto pelo teatro romântico (já criticado no
século XIX) e aos escritores medíocres. O Governador é escolhido para morrer
precisamente devido às peças que escreve.
Também existe sátira à convenção matrimonial (a mulher também abandona o
Governador e acusa-o de ser egoísta) no que respeita a relações sociais ultrapassadas,
insatisfatórias, o que se reflete nas relações pessoais.
Raul Brandão desmascara ainda a subserviência do poder político ao capital privado e
critica um governo alienado e aliciado pelo dinheiro. Por outo lado, o explosivo SO3-
HO4, capaz de destruir a cidade, o país ou o globo, parece antecipar factos: a criação de
uma bomba potente, no pós-guerra.
Espaço
Tempo
Personagens
Governador Civil (Baltazar Moscoso) – homem que vive do seu estatuto social, da
aparência, da mentira. Julga-se muito talentoso. É vaidoso. Dobra-se ao poder
económico. É corrupto. Representa a classe política. É cobarde. A alienação, o vazio e a
mediocridade estão nas atitudes e no discurso daquele que deveria figurar como o
responsável pelo bem-estar do povo.
Sr. Milhões – personifica o grito de revolta de todos nós contra a vida mesquinha do dia
a dia, as conveniências. Sabe controlar e infundir medo. É altivo, seco, direto, calmo,
crítico, irónico, implacável, não teme ninguém. Aparenta sanidade mental. Denuncia
hipocrisias e apresenta capacidade de argumentação. A ausência de nome é
significativa. Por um lado, a designação «Sr. Milhões» mostra que ele é o homem mais
rico de Portugal; por outro, indica que esta personagem representa também os
desvalidos, os sofredores, os milhões de pessoas que tudo suportam para que poucos
possam usufruir dos benefícios de uma humanidade que se desenvolve de maneira
irregular (o nome individualiza e generaliza ações, à maneira de Gil Vicente). No seu
discurso filosófico sobre as razões que o levaram a tomar aquela decisão radical, passou
a descobrir quem ele era e a ver o mundo com outros olhos, para além das aparências. É
o louco que diz a verdade. A alienação do Governador contrasta com a consciência do
Sr. Milhões sobre a condição humana.
Tipos de cómico
Elementos trágicos
- Indícios
- Vocabulário trágico
- Clima de ansiedade
- Tema da morte
- Número 3
Linguagem