História Econômica Geral Professor: Rogério Klaumann Aluno: Thiago Curcio Pering
Balanço do Neoliberalismo
Em “Balanço do neoliberalismo”, Perry Anderson começa o texto
destrinchando as origens do neoliberalismo, movimento teórico nascido após a segunda guerra mundial na Europa e na América do Norte, contrário ao intervencionismo estatal e ao estado de bem estar social. Segundo o autor, seu primeiro texto pode ser identificado como “O Caminho da Servidão”, escrito por Hayek em 1944. Segundo o austriaco, apesar das boas intenções, a social democracia conduzia a sociedade a uma servidão moderna. Tendo isso em mente, Hayek convidou diversos autores de grande prestígio e semelhança ideológica consigo, como Milton Friedman, Karl Popper e Ludwig Von Mises para uma reunião na estação de Mont Pèlerin, na Suíça. Desse modo, se formou a Sociedade Mont Pèlerin, uma associação neoliberal com reuniões a cada 2 anos, com o propósito de combater o keynesianismo e o solidarismo em busca de uma nova forma de capitalismo desregrado. Além disso, esses autores argumentam que o igualitarismo produzido pelo estado de bem estar destruía a liberdade dos cidadãos e a concorrência, e por fim a prosperidade de todos. Após a crise de 1973, o capitalismo Europeu/Americano se viu em uma situação de alta inflação e desemprego. Nesse contexto, Hayek e seus companheiros afirmaram que o motivo disso era o alto poder sindical do movimento operário, que pressionava o governo a aumentar o gasto público e os salários. A solução para isso, segundo eles, seria manter um estado forte para romper com a ação sindical, controlar o dinheiro, ter disciplina orçamentária e gerar incentivos para os produtores, como impostos de alta renda baixos. Com isso feito, o tempo iria trazer o crescimento de volta ao normal. Em 1979, surgiu a oportunidade de pôr essas ideias em prática, pois na Inglaterra foi eleita a primeira ministra Margaret Thatcher, dando origem ao primeiro governo neoliberal da história. Em sequência, foram eleitos Reagan nos Estados Unidos, Kohl na Alemanha e muitos outros. Já em 1978, se originou a segunda guerra fria, dando combustível ao neoliberalismo político, tendo em vista que aos olhos neoliberais o comunismo seria a forma suprema da servidão proclamada por Hayek. Na prática, o governo neoliberal de Thatcher foi o mais puro de todos, pois implementou a contração da emissão de moeda, uma alta taxa de juros, diminuiu impostos, aboliu o controle financeiro, destruiu greves, diminui o gasto do governo, impos uma legislação anti sindical no país e privatizou diversas empresas. Já a vertente Norte Americana foi um pouco diferente. Embora tenha reduzido impostos em favor dos ricos e elevado a taxa de juros, produziu déficits orçamentários enormes devido ao investimento no setor militar, em busca de combater a União Soviética. A Europa, por sua vez, foi dividida em dois grandes pólos. O polo do norte experimentou várias versões de um brando neoliberalismo, focado na disciplina orçamentária e nas reformas fiscais, porém não muito combativo contra os sindicatos e preocupado com os gastos sociais. O polo do sul, mais progressista, experimentou diversos governos de esquerda denominados euro-socialistas, focados na deflação, redistribuição, pleno emprego e proteção social. Entretanto, esse projeto falhou, tendo logo a frança e a espanha tido que aderir ao neoliberalismo. Segundo o autor, isso demonstra o êxito do projeto neoliberal no campo político, pois até mesmo os governos ditos de esquerda precisam aderir ao neoliberalismo. Já no campo econômico, seus objetivos foram igualmente atingidos, com o aumento da taxa de lucro, diminuição da inflação, agravamento das desigualdades e quebra dos sindicatos devido ao alto desemprego. Paradoxalmente, mesmo tendo êxito no campo político e econômico, a retomada do crescimento não foi atingida, muito devido a queda no investimento causada pelo excesso de aplicação de capital no setor financeiro, que muitas vezes é apenas especulativo e não interfere na economia real, e o aumento dos gastos realizados para socorrer as vítimas do desemprego. Por fim, com a crise de 1991, a dívida pública teve de ser aumentada novamente, abalando os objetivos do neoliberalismo. Mesmo com o aprofundamento das crises no sistema capitalista, o neoliberalismo permaneceu inabalado, tendo elegido diversos governos de direita tanto na Europa quanto na América, tendo penetrado ideologicamente até mesmo nos governos de esquerda. Uma das causas disso foi a vitória do neoliberalismo no campo ideológico, catapultada pela queda do muro de Berlin e a derrocada da União Soviética. Com isso, no período pós-comunista, diversos líderes neoliberais surgiram, como Balcerowicz na Polônia, Gaidar na Rússia e Klaus na República Tcheca. O impacto do neoliberalismo logo se alastrou para a América Latina, com suas políticas massivas de privatizações. Há de se pontuar que embora cronologicamente isso tenha acontecido em sequência na Europa, depois na América do Norte e depois na América Latina, no Chile de Pinochet foi onde aconteceu o primeiro experimento do neoliberalismo. Seguindo todas as doutrinas do neoliberalismo, o Pinochetismo se diferenciava em seu caráter ditatorial militar , e em ser inspirado mais em Friedman do que em Hayek. Além disso, foi notável o crescimento econômico do Chile no regime. Tendo isso em mente, o neoliberalismo logo se alastrou pela américa latina, com Fujimori no Peru, Carlos André Perez na Venezuela e Sachs na Bolívia. Desses países, o único que não demonstrou uma guinada autoritária foi a Venezuela, com sua sólida democracia. Na ásia, o neoliberalismo não conseguiu se alastrar, embora os esforços da ideologia neliberal tenham caráter mundial. Por fim, o Anderson acaba por salientar que tendo em vista tudo o que foi discutido, qualquer balanço do neoliberalismo é algo provisório, e todos os seus objetivos alcançados, exceto o essencial, a retomada do crescimento no capitalismo global.