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Monetarismo: contexto histórico

Vale destacar que as ideias de Friedman tiveram o segundo momento


da Guerra Fria e a polarização mundial entre o Capitalismo e
o Socialismo como contextos históricos. Sendo assim, o monetarismo que o
teórico propôs moldou o pensamento capitalista tal como o conhecemos hoje.

Na década de 1970, os Estados Unidos passavam por um período


de estagflação, isto é, quando há estagnação econômica junto com o excesso
de circulação de moeda (inflação).

Friedman entendeu que papel moeda em larga quantidade no mercado


causava inflação e foi nesse ponto que as políticas keynesianas encontravam
dificuldades para aquecer a economia.

Assim, Friedman propôs justamente o contrário do que era o praticado na


época: a diminuição de demanda pelo consumo e o aumento do desemprego
iria fazer com que os Estados Unidos superassem a estagflação.

O teórico afirmava que a inflação sempre seria uma falha estatal – ao imprimir
dinheiro demais ou não agir de forma efetiva quando necessário -, ou seja,
resultado de uma política monetária mal executada.

A política fiscal (trata-se de um conjunto de iniciativas do Poder Executivo, na


figura dos Governos Federais, que se voltam ao equilíbrio das contas públicas
e ao ajuste de gastos de um país) não é capaz de resolver o problema
da estagflação (quando a inflação e o desemprego se apresentam em níveis
altos, ao mesmo tempo), ao contrário da política monetária (iniciativa que preza
pelo controle de moeda em circulação). A taxa de juros teria um papel
fundamental nesse quesito ao induzir uma recessão.

O monetarismo na prática

Friedman ganhou destaque como conselheiro em assuntos econômicos do


presidente norte-americano Ronald Reagan (Partido Republicano), quando o
chefe de Estado assumiu o cargo, em 1981, em um período de fragilidade
econômica. Na época, o economista propôs uma economia de livre mercado
com intervenção mínima e foi com essa estratégia que Reagan conseguiu
atenuar a crise causada pela estagflação da economia norte-americana.

Em 1983, a economia norte-americana saltou 4,5%; no ano seguinte, mais


7,2%; e, em 1985, o crescimento foi de 4,1%. O desemprego, em 10,8% em
1982, caiu para 6,6%, no fim de 1986, e chegou a 5,3% em 1988, a
porcentagem de desemprego considerada como “natural” pelos preceitos do
Monetarismo e economistas dessa escola.
Todavia, suas medidas econômicas acabaram por aumentar a desigualdade
social nos Estados Unidos. Para manter o equilíbrio fiscal, Reagan reduziu
significativamente os programas de auxílios governamentais e o salário mínimo
dos norte-americanos foi mantido em US$ 3,35 por hora, valor que foi
congelado durante a sua administração.

Enquanto o desequilíbrio se alargava, Reagan não economizou ao financiar a


Defesa dos Estados Unidos, enquanto a disputa ideológica com a URSS se
mantinha ativa. De US$ 154 bilhões gastos em 1981, houve o crescimento de
11% no financiamento para as tropas americanas e equipamentos em 1989,
totalizando US$ 295 bilhões.

Monetarismo e Liberalismo
Friedman se considerava um liberal. Ou seja, para o economista, nenhum valor
deveria ser priorizado em detrimento da liberdade, nem mesmo a igualdade
entre as pessoas.

Sendo assim, o teórico se opunha fortemente às atitudes do Estado que


restringiam a liberdade entre as pessoas. A ideia de liberdade para Friedman
estava intrinsecamente ligada com a economia, pois apenas em um sistema
econômico livre as pessoas poderiam fazer total uso de sua liberdade.

Para Friedman, o Governo não passava de um mal necessário para que as


liberdades individuais não fossem violadas. Os seres humanos são seres
imperfeitos e precisam de uma entidade, mesmo que com atuação mínima,
para controlar o meio social. Nesse ponto, Friedman se afasta do anarquismo,
doutrina que visa à eliminação total do Estado.

O Governo só deve estar onde a iniciativa privada não consegue atuar. Essa é
a ideia central do pensamento de Friedman. Sendo assim, o Estado só estaria
presente em questões como a proteção à ataques internos e entre cidadãos de
uma mesma sociedade. Sendo assim, o Monetarismo pode ser entendido como
uma vertente dentro do pensamento liberal, que se ocupa, sobretudo, de
assuntos relacionados à economia.

A Escola de Chicago
Nos últimos anos, muitas ideias outrora defendidas pela Escola de Chicago
voltaram à tona, junto com a disseminação de ideias neoliberais que
avançaram pelo mundo.

Basicamente, os adeptos aos preceitos da Escola de Chicago rejeitam


fortemente os ideais keynesianos de um Estado interventivo na economia e
defendem a filosofia de economistas liberais, como George Stingler e Milton
Friedman.
Vale ressaltar que a Escola de Chicago – termo que surgiu em meados de
1950 para designar o Departamento de Economia da Universidade de Chicago,
onde os preceitos de Friedman e a sua teoria monetarista eram discutidos – foi
primeiramente influenciada pela Escola Austríaca de pensamento, sendo esta
um conjunto de ideias que refutavam a leitura de Karl Marx e Friedrich Engels
do Capitalismo, encontradas na obra “O Capital”. Dessa maneira, a Escola
Austríaca defendia o Liberalismo Econômico e tem como principal
representante o economista Friedrich Hayek.

A Escola de Chicago recebeu esse nome pois era em uma universidade dessa
cidade norte-americana que estudiosos se reuniam para discutir ideias políticas
e econômicas na década de 1950. Era no Departamento de Economia da
Universidade de Chicago, bem como na Escola Superior de Administração e na
Faculdade de Direito, que os ideias liberais foram voltando ao cenário mundial
em um contexto altamente desfavorável às políticas intervencionistas estatais.

Na década de 70, os assuntos discutidos na Escola de Chicago ganharam


tamanha força mundial que líderes políticos chegaram a ser influenciados por
suas ideias.

Influências da Escola de Chicago pelo mundo

No Chile, por exemplo, Augusto Pinochet, acompanhado dos “Chicago Boys”


(um grupo de 25 economistas que elaboram a política econômica de Pinochet),
tomou o poder com promessas embasadas na filosofia dessa escola de
pensamento.

Mais tarde, na Inglaterra, Margaret Thatcher também alcançou uma posição de


prestígio, como Primeira-Ministra, com a promessa de colocar em prática os
ideais do pensamento liberal, ao combater movimentos comunistas na
Inglaterra, acabar com a política sindical trabalhista e iniciar um plano amplo de
privatização estatal.

Nos Estados Unidos, como mencionado, o presidente Ronald Reagan era forte
adepto aos preceitos da Escola de Chicago, pois o líder de Estado teve uma
postura econômica voltada à redução de gastos públicos, à redução do imposto
pago sobre ganhos de capital, à redução da regulação da economia e ao
controle da oferta da moeda para reduzir a inflação, sendo isso tudo diretrizes
do monetarismo de Friedman. Nesses governos, a ideia de Estado Mínimo de
Friedman era central.

Além do Chile e da Inglaterra, a Escola de Chicago influenciou instituições


internacionais, como o Banco Mundial, o Departamento do Tesouro Americano
e o Fundo Monetário Internacional. Nos anos 80 e 90, muitas estatais,
especialmente as localizadas em países em desenvolvimento, foram
privatizadas, seguindo os preceitos da Escola de Chicago.
Sendo assim, a Escola de Chicago é influenciada pela ideologia
do monetarismo, ou seja, uma doutrina que defende que o foco do Estado
deve ser na política monetária e defensora do livre comércio.

Entre os pilares que sustentam a Escola de Chicago estão a privatização de


estatais, a eliminação do Estado na economia, o mercado guiado por sua força
natural (a “mão invisível” de Adam Smith), a redução de tributos aos
consumidores e para companhias, e a negação ao protecionismo econômico,
uma postura que tem como base a priorização do mercado nacional, em
detrimento do mercado internacional.

Enquanto a Escola Austríaca rejeitava o Socialismo na segunda metade do


Século XIX e início do Século XX, a Escola de Chicago criticou o
Keynesianismo praticado nas nações depois dos conflitos mundiais,
especialmente na questão do intervencionismo estatal.

Apesar das políticas defendidas pela Escola terem encontrado solo firme na
história, o neoliberalismo, que teve como berço a Escola de Chicago, é
considerado responsável por aumentar a desigualdade social e precarizar o
sistema trabalhista nos Estados Unidos de Reagan e na Inglaterra de Thatcher,
além de ter dado espaço ao autoritarismo de Pinochet.

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REFERÊNCIAS:

 Gentil Corazza & Rodrigo L. Kremer (Friedman e o monetarismo:


A Velha Teoria Quantitativa da Moeda e a Moderna Escola
Monetarista)
 Kimberly Amadeo (President Ronald Reagan’s Economic Policies)
 L. Randall Ray Wray (A Teoria do Dinheiro de Keynes: Uma
Avaliação Após 70 Anos)
 Milton Friedman (Capitalismo e Liberdade)
 Politize! (Keynesianismo: O Que Diz Essa Teoria Econômica?)

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