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As raízes etimológicas do nome Brasil são ainda disputadas.

O nome Brasil é uma forma


abreviada de Terra do Brasil, uma referência à árvore pau-brasil. O nome foi dado no início
do século XVI aos territórios arrendados ao consórcio comercial liderado por Fernão de
Loronha, para explorar o pau-brasil na produção de corantes de madeira para a indústria
têxtil europeia.
O termo para a árvore pau-brasil em português, pau-brasil, é formado por pau ("madeira")
e brasa ("brasa"), sendo que este último se refere ao corante vermelho vívido que pode ser
extraído da árvore. A palavra brasa é derivada do francês antigo brese ("brasa, carvão
incandescente").[1]

Nomes nativos anteriores à colonização


De acordo com a tradição, antes da colonização, o nome nativo da terra era aquele dado
pelos povos indígenas locais, Pindorama [pt] (do tupi para "Terra das Palmeiras").[2] No
entanto, a tradução exata de "Terra das Palmeiras" seria Pindotetama ou Pindoretama na
língua Tupi, sugerindo que Pindorama pode ser uma corrupção posterior do termo
original.[3] Pindorama pode ter se referido apenas às regiões costeiras, já que o termo
Tapuiretama ou Tapuitetama ("Terra do Inimigo") era usado pelos Tupi para se referir ao
interior, então predominantemente habitado pelos povos Jê.[4]

Trajetória do conceito
A palavra Brasil já era conhecida há muitos séculos na Europa. O filólogo Adelino José da
Silva Azevedo postulou que se trata de uma palavra de procedência celta. De fato, a
cartografia medieval identifica a ilha de Hy-Brasil em algum ponto do Oceano Atlântico a
partir de lendas ancestrais célticas que remontam a São Brandão, dos anos 500 d.C., e
aos Immram posteriores, que falam de uma "terra de delícias", vista entre nuvens. No
entanto, o termo Brasil é ainda mais antigo e pode ser rastreado até a língua dos
antigos fenícios.
Brasil deriva da palavra celta bress, que significa "abençoar", por isso esta ilha das
histórias de São Brandão foi nomeada Hy-Brasil, ou "Ilha dos Abençoados". Foi com esse
sentido que o nome Brasil foi amplamente usado na cartografia medieval para identificar
ilhas que se acreditava existirem no Oceano Atlântico. Assim elas aparecem, por exemplo,
no Portulano de Dulcert, de 1325 e o Portulano Mediceo Laurenziano de 1351, dentre
outros.
Concordando e promovendo essa teoria da origem céltica do nome Brasil estiveram
proeminentes historiadores e estudiosos ao longo dos séculos, dentre eles Robert
Southey no primeiro livro de História geral do Brasil publicado
entre 1810 e 1819, Capistrano de Abreu, Gustavo Barroso, Sérgio Buarque de Holanda em
sua Visão do Paraíso (1959), Pedro Calmon, Pedro Paulo Funari, dentre outros. A
historiadora Laura de Mello e Souza afirmou em O nome do Brasil. Nossa História 1 (6),
(2004): “primeiro houve o nome, depois o lugar que foi nomeado” (Souza, 2004: 35).
Em 2000, escrevendo para o Dicionário do Brasil colonial, o historiador Ronaldo
Vainfas afirmou que o vocábulo Brasil teria provindo do imaginário europeu pré-cabralino
(isto é, antes de 1500) e que teria sido utilizado pelos portugueses como mito geopolítico.
As denominações burocráticas (de Monte Pascoal, Ilha de Vera Cruz, Terra de Santa
Cruz, Cabrália, etc) cederam lugar à terminologia mítica (de Brasil), apesar de
posteriormente alguns autores coloniais acreditarem que este nome teria advindo da
madeira homônima, um engano que se perpetua até nossos dias.[5]
O monge beneditino e botânico Bento José Pickel escrevendo para a Revista de História,
v. XVI, a. IX, 1958, p. 3–8. comenta que o nome brasil adveio do latim brasilia, palavra
medieval, que já havia sido citada num tratado italiano sobre tinturas, escrito
em Ferrara em 1148. Onde a palavra brasilia era usada genericamente para se referir a
diferentes tipos de plantas das "Índias", as quais extraía-se pigmentos vermelhos. A
palavra brasilia seria a versão latina para os termos indianos sappan e patang, que eram
traduzidos como vermelho: "Apesar do nome mais comum ser pau-brasil, os portugueses
também passaram a usar sinônimos como pau-de-tinta, pau-rosado, pau-vermelho, pau-
de-pernambuco (referência a Pernambuco ser um grande exportador da planta) etc. Por
sua vez, entre os nomes indígenas destaca-se a palavra tupi, ibirapitanga (árvore
vermelha), o termo foi inclusive traduzido ao francês por Thevet (1558) e Lery (1578),
passando a ser chamado de oraboutan e araboutan, nomes depois aportuguesados para
orabutã e arabutã".[6]
A pesquisadora CNPq doutora Ana Donnard em O Outro Mundo dos celtas atlânticos e a
mítica Brasil, ilha dos afortunados: primeiras abordagens. Nuntius Antiquus, Belo
Horizonte, n. 3, 2009, p. 14–28, escreve: “Várias foram as designações para a madeira de
cor avermelhada utilizada pelos europeus como tinta para tecidos e outras utilidades:
verzino pelos venezianos, bois de pernanbouc pelos franceses, arboles de tinturería pelos
espanhóis, araboutan pelo incrível cronista Jean de Léry, ibirapitanga pelos indígenas,
Presilholtz (madeira do Brasil) pelos alemães em 1514, verniz pelos portugueses e
brisilicum para designar o pau do Brasil por Duarte Pacheco em circa 1505. A confusão
entre o termo celta e a designação do pau-Brasil teve inicio a partir de um planisfério
conhecido como Kunstmann IV, que toma um termo pelo outro, anunciando que o nome
brasil derivava da abundância de “tinta brasil” encontrada sobre seu solo”. (DONNARD,
2009, p. 14).[7]
Segundo Barroso (1941, p. 77), a palavra brasil já existia no vocabulário espanhol há
bastante tempo, sendo usada como sinônimo de carmesim e vermelho. Tal palavra era
usada principalmente para se referir aos ofícios de tinturaria, no fabrico do pigmento de cor
vermelha. No livro Singularidade da França Antártica (1558), escrita pelo capuchinho
francês André Thevet, após sua estada no Brasil, mais precisamente na colônia da França
Antártica, situada na baía de Guanabara, atualmente na cidade do Rio de Janeiro, Thevet
comentou que o pau-brasil era parecido com uma árvore asiática comumente chamada de
sapang ou sappan. Ainda hoje tal árvore em língua inglesa é conhecida como
sappanwood. Seu nome científico é Caesalpinia sappan, e entre os portugueses era
conhecida como pau-brasil das Índias ou pau-roxo de Sumatra. (BARROSO, 1941, p. 77).
Paulo Márcio Leal de Menezes em O Brasil na cartografia pré-lusitana. Anais do 1
Simpósio Brasileiro de Cartografia Histórica: Passado-Presente nos velhos mapas:
conhecimento e poder, Paraty, 10 a 13 de maio de 2011. p. 1–18,[8] escreve: “Referências
ao comércio do pau-brasil podem ser encontradas também em uma série de documentos,
principalmente em antigas pautas alfandegárias e forais governamentais, remontando aos
séculos XII, XIII e XIV. De 1151, encontra-se um documento escrito em latim bárbaro, uma
ordem de pagamento do arcebispo de Gênova a Filippe de Lamberto Guezzi,
mencionando que uma quarta parte do pagamento seria realizado in brasilem. De 1194 é
conhecido um documento, também escrito em latim bárbaro, versando sobre um tratado
de paz celebrado entre os governos de Ferrara e Bolonha, referindo-se ao pagamento por
carga muar, “de todos os panos de algodão, pedra hume, de grã e de brasile”. Além
desses, outro documento, datado de 1198, denomina a tinta vermelha de braxilis. Esses
termos, brasilem, brasile e braxilis, são então formas de referências, bastante antigas,
atribuídas ao pau-brasil”. (MENEZES, 2009, p. 13 apud CÂNDIDO, 1922).

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