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Resumo
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Mestre em Educação em Ciências na Amazônia pela Universidade do Estado do Amazonas. Tutora
Educacional da Secretaria Municipal de Educação de Manaus (SEMED/Manaus). Membro do Grupo de Estudo e
Pesquisa em Formação de Professores para a Educação em Ciências na Amazônia (GEPEC). E-mail:
monica_aikawa@hotmail.com.
2 Doutora em Educação: Universidade Federal da Paraíba. Professora Titular da Universidade do Estado do
Amazonas (UEA). Líder do Grupo de Estudo e Pesquisa em Formação de Professores para a Educação em
Ciências na Amazônia (GEPEC). E-mail: lucinetegadelha@gmail.com.
ISSN 2176-1396
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Introdução
Inicialmente, bastava gostar de crianças para trabalhar nas creches, a educação para a
criança pequena e bebês priorizava apenas o cuidar. Esta necessidade surgiu quando as mães
precisaram sair de suas casas para trabalhar nas fábricas, logo passaram a buscar locais de
cuidados para seus filhos.
Kuhlmann (2000) denominou este movimento como concepção assistencialista de
educação infantil, destacando-o como a promoção da pedagogia da submissão, preparando os
pobres para a aceitação da exploração social, terceirizando o cuidado de seus/suas filhos/as. O
autor ainda expõe que as ações destas instituições eram dominadas pelo higienismo,
filantropia e puericultura, caracterizando o atendimento da criança fora da família
relacionados apenas às questões de saúde e alimentação, vinculados a instituições
assistencialistas.
Craidy e Kaercher (2001) indicaram esta educação mascarada na forma de proteção da
inocência da criança de modo a resguardá-la das influências negativas do seu meio, isto
evidenciava uma compreensão de criança desprotegida e sem autonomia.
As instituições de acolhimento da infância guardavam as crianças pequenas enquanto
suas mães trabalhavam. Cabia-lhes o cuidado com a higiene, alimentação e segurança,
visando a qualidade de vida, contribuindo para a diminuição da taxa de mortalidade infantil.
Oliveira (2005) evidencia que a proposta era uma educação que seguia a liberdade e o
ritmo natural, resultando no livre exercício das aptidões infantis, entretanto, as ações
resumiam-se num laissez faire. Pois “o desenvolvimento seria como o desenrolar de um
novelo em que estariam previamente inscritas as características de cada pessoa” (Oliveira, p.
125). Esta visão de desenvolvimento natural, orgânico da criança, gerou práticas, ou não-
práticas, de espera pelo desabrochar das aptidões infantis.
Outra concepção percebida historicamente nas escolas infantis foi a compensatória,
segundo Kuhlmann (2000) ela projetava nos programas para a infância a ideia de que seriam a
solução dos problemas sociais. E para Craidy e Kaercher (2001) essa educação desviaria a
criança de uma situação de exploração ou eliminaria sua predisposição para preguiça e
malandragem. Assim, o compromisso social das instituições de infância se fundia em ações
para compensar eventuais problemas de desenvolvimento das crianças em situações sociais
críticas:
Esta concepção revelou a compreensão de que a escola seria a solução para as mazelas
sociais e a educação deveria compensar as deficiências da criança, de modo a desviá-las dos
caminhos da delinquência e compensaria os problemas sociais.
Esta ideia de compensação de carências de ordem social explicitada se ampliou para a
concepção preparatória de educação infantil visando a preparação da criança para o ingresso e
permanência no ensino fundamental.
Kuhlmann (2000) a concepção preparatória enfatiza o processo de alfabetização e o
controle dos alunos pelo autoritarismo, seus conteúdos escolares constituem a maior
preocupação na educação infantil, pois visa preparação para o ensino fundamental.
Entendendo a educação das crianças pequenas como garantia para a diminuição do fracasso
escolar no ensino obrigatório, que caracteriza a concepção de educação infantil como
preparação para o ensino fundamental. Nesta concepção:
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Hoje o parecer das DCNEIs expressa esta função para a educação infantil e explicita
quatro situações:
Tabela 1: Situações a serem cumpridas para efetivar a função da EI.
Primeiro Segundo Terceiro Quarto
O Estado assume sua Creches e pré-escolas Efetivação de creches e Entendimento da criança
responsabilidade pela constituem uma pré-escolas como espaços como sujeito de direitos e
educação coletiva das estratégia de promoção de convivência, desejos, oferecendo
crianças em de igualdade de construção de condições e recursos
complementação a ação oportunidades entre os identidades, ampliação de construídos histórica e
da família. gêneros, pois permite à saberes de várias culturalmente para
mulher a realização de naturezas, igualdade de exercer seus direitos.
um trabalho fora do oportunidades, acesso à
contexto doméstico. cultura e vivência da
infância.
Fonte: Brasil (2009a) adaptado por Aikawa (2014).
Estas diretrizes incorporam a coletividade das ações com e para a infância, evidenciam
a oportunidade igualitária na sociedade, destacando o trabalho da educação infantil na
ampliação dos saberes e da cultura da infância, entendendo-a como sujeito histórico e social.
Tanto as pesquisas quanto as Diretrizes Curriculares Nacionais para Educação infantil,
ilustram que a concepção de educação infantil reconhece o direito de toda criança à infância,
encara-a como sujeito social desde a mais tenra idade. Conforme Oliveira (2005), a criança é
entendida como agente construtor de conhecimentos e sujeito ativo em seu desenvolvimento,
na busca do conhecimento, da fantasia e da criatividade.
As ações pedagógicas das creches e pré-escolas dentro desta concepção de educação
preconizam:
Estas ações pedagógicas movimentam-se para uma visão de criança em sua inteireza,
tanto em seus aspectos cognitivos, motores e afetivos, quanto à sua perspectiva histórica,
social e cultural, gerando mudança na prática educativa ao emergir dos interesses da criança,
de modo a incluí-la na construção de seu processo formativo.
Podemos dizer que as concepções de educação infantil perpassam de assistencialista
para uma função global, entretanto não se evidenciam numa linearidade, mas que convivem
paralelamente nas compreensões e práticas dos sujeitos da educação para criança pequena de
modo particular.
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O Percurso Investigativo
Professora Eva: Pra mim é a base de tudo, a base da vida do ser humano. Porque na
educação infantil a gente consegue moldar, não sei nem se seria “moldar” a palavra,
você consegue ajudar, mostrar o certo, estimular, incentivar a criança a fazer as
coisas certas, melhores... (ENTREVISTAS COM DOCENTES, AIKAWA, 2014).
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Esta professora começa retratando uma perspectiva global de EI, afirmando ser a base
de vida do ser humano, contudo diz que a educação infantil consegue moldar e destaca uma
necessidade educativa de compensar os problemas trazidos pela criança.
Nesta visão adultocêntrica, a criança precisa ser moldada e ela será esculpida no
modelo idealizado pela professora que, por sua vez, implicitamente compreende a criança
como incompleta ou inadequada aos padrões sociais. No caso, o trabalho docente representa o
molde, a ajuda, o incentivo em fazer o certo, projetando a educação dos pequenos como
solução dos problemas sociais.
Kuhlmann (2000), Craidy e Kaercher (2001) e Oliveira (2005) retratam que, na
concepção compensatória de educação infantil, as creches e pré-escolas surgem para remediar
suas carências sociais e minimizar problemas sociais futuros.
Contudo, a professora complementa sua fala e expressa dúvida quanto ao uso da
palavra moldar, havendo controvérsia em suas colocações e paralelamente questionando sua
própria fala na busca de reencontro com as concepções.
Ao mesmo tempo, ressaltamos que nas observações não identificamos elementos
apoiados no molde, pelo contrário, identificamos momentos de educação e cuidado,
fundamentados na preocupação com o desenvolvimento da criança como um todo. De certo,
há uma tentativa em valorizar a criança em sua prática pedagógica e expressa tentativas
articuladas com uma concepção educação para primeira infância que inclui a criança em seu
processo de desenvolvimento.
A professora Lia afirma que a educação infantil “é uma preparação da criança pra ela
entrar no fundamental (...). Porque a educação infantil não é só vir aqui pra brincar não, é vir
preparar a criança pra vida escolar” (Entrevista com docentes, AIKAWA, 2014).
Esta afirmação evidencia a educação infantil como um degrau que instrumentaliza a
criança para subir a um nível de ensino mais importante, o ensino fundamental. Kuhlmann
(2000) e Oliveira (2005) discorrem que pensar a educação infantil como uma preparação para
nível de ensino subsequente remete à concepção preparatória de educação infantil, divergindo
das atuais pesquisas em educação.
Esta fala docente, ainda exprime uma incompreensão a respeito da função do brincar
para o desenvolvimento da criança, atualmente entendido como primordial para sua formação.
Sobre o brincar, Craidy e Kaercher (2001) e Kishimoto (2008) asseguram-no como inerente à
infância, uma vez que brincando a criança interage com saberes e conhecimentos, desenvolve
e aprende linguagens, vive e convive com o outro e com o meio.
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aprendizagem da criança, é nesta fase que ela desenvolve todas as suas habilidades né,
integralmente” (Entrevistas com docentes, AIKAWA, 2014).
Percebemos uma valorização do referido nível de ensino, assim como, o entendimento
da criança em sua integralidade. Partindo desta compreensão, remetem ao desenvolvimento de
habilidades e linguagens, fortalecendo uma ação pedagógica na concepção global de EI.
Conforme Oliveira (2010) e as DCNEIs (BRASIL, 2009b), o uso do termo integral na
educação da criança pequena concebe o desenvolvimento global de conhecimentos e atitudes,
nos aspectos motores, afetivos, sociais e cognitivos, caracterização associada à concepção
global de educação infantil.
Ressaltamos o relato:
Professora Diva: Pra mim, educação infantil não é só aquele assistencialismo, pra
mim educação infantil é preparar a criança para a sociedade, não é só preparando ela
(...) com relação a alfabetizar essa criança, sim nós damos ferramentas necessárias
pra que essa criança possa estar ali, né, estar se alfabetizando no momento e na
idade certa, mas principalmente preparar essa criança pro seu dia-a-dia, né, pra uma
sociedade melhor (ENTREVISTAS COM DOCENTES, AIKAWA, 2014).
Professora Sara: Eu entendo que a educação infantil ela é mais do que um momento
de horas para estar com essas crianças, ela é um momento de cuidado, de atenção, de
afetividade. (...) ela é um espaço pra desenvolver a criança, pra que ela possa estar
em contato com o mundo, pra que ela possa ter uma visão de mundo, que ela possa
ter uma leitura de mundo (...) nós entendemos que a educação infantil é o
momento de ampliar o conhecimento dessas crianças pequenas, é o momento, é
o espaço que ela tem pra compreender, para se compreender, para se conhecer,
se compreender e intervir no mundo em que ela vive, mesmo sendo tão pequena,
ela tem a oportunidade de intervir na nossa sociedade (ENTREVISTAS COM
DOCENTES, AIKAWA, 2014 – GRIFO NOSSO).
Também quando as crianças ficam livres para decidirem o que fazer diante das situações,
sempre as observando e mediando os relacionamentos quando necessário.
O cuidado esteve presente na ambientação da sala, na organização de um ambiente
saudável e livre de perigos para as crianças, na seleção de temas no planejamento que
integraram as necessidades das crianças aos objetivos educacionais. Ao mesmo tempo, a
educação está no cuidado quando, ao indicar o horário do lanche, a professora orienta sobre a
necessidade de higienizar as mãos antes de se alimentar, escovar os dentes após as refeições e
sobre a importância de não estragar alimentos ou mesmo reaproveitá-los no adubo da horta.
Craidy e Kaercher (2001) enfatizam o cuidado como inerente à ação educacional com
a primeira infância e o contrário também é real. Cuidado e educação estão presentes na
seleção e efetivação de atividades diversas quando o principal elemento está sendo
considerado: a formação integral da criança.
Nas acolhidas e culminâncias também percebemos esta valorização e integração
social, pois as crianças entram em contato com temas atuais ou relacionados a uma
comemoração específica referente ao mês, dialogando sobre eles. Contudo, entendemos que
um currículo baseado em datas comemorativas não é o ideal, pois neste nível de ensino o
currículo é construído com as crianças, partindo de seus interesses e visando a realização de
experiências diversificadas para a ampliação de seus saberes.
Nas culminâncias e acolhidas neste CMEI, as crianças tiveram a possibilidade de
vivenciar situações sociais coletivas de aprendizagem e expressão de suas linguagens:
oralidade, música, dança, dramatização, brincadeiras, desenho, entre outros. Nestas ações
pedagógicas, emergem a preocupação docente em permitir o posicionamento das crianças,
tanto apreciam seus pensamentos, quanto propiciam um sentimento de valorização da criança,
contribuindo para o desenvolvimento do pensamento e da expressão oral.
Barbosa e Horn (2008, p. 26) afirmam que é “na vida social que os sujeitos adquirem
marcos de referência para interpretar as experiências e aprender a negociar significados de
modo congruente com as demandas da cultura”. Nesse sentido, os momentos de diálogos
podem propiciar a interpretação destas situações sociais no âmbito escolar e estender aos
significados reelaborados pelas crianças a partir das relações sociais.
Sobre as brincadeiras livres, estas ocorrem no início da aula com blocos de montar ou
massinha, na sala de referência, na brinquedoteca, no parquinho e no pátio. Apesar de
compreendermos as brincadeiras como parte da vida da criança, no qual ela se relaciona, se
expressa e compreende o mundo ao seu redor e que o docente é um parceiro mais experiente
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Considerações Finais
REFERÊNCIAS
BARBOSA, Maria Carmem Silveira; HORN, Maria das Graças Souza. Projetos pedagógicos
na educação infantil. Porto Alegre: Artmed, 2008.
CRAIDY, Carmem Maria; KAERCHER, Gládis. Educação infantil: pra quê te quero? Porto
Alegre: Artmed, 2001.
OLIVEIRA, Zilma Ramos de. Educação infantil fundamentos e métodos. 2. ed. São Paulo:
Cortez, 2005.
OLIVEIRA, Zilma Ramos de. O currículo na educação infantil: o que propõem as novas
diretrizes nacionais?. Agosto, 2010. In: BRASIL. Consulta Pública sobre Orientações
Curriculares Nacionais da Educação Infantil. Portal MEC <http://
portal.mec.gov.br/index.php?Itemid= 1096&id=15860&option=com_content&view=article>.
Acesso em 28 de julho de 2014.