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COMITÉ DE PILOTAGEM DE

MICRO CRÉDITO
MORABI, OMCV, ASDIS, FAMI-PICOS E
ADIRV

Elaborado por
Anilda Soares

ESTUDO IMPACTO DO MICRO


CRÉDITO NA VIDA DOS CLIENTES

RESUMO

A
Nota Introdutória G
O
S
O Comité de Pilotagem, associação das instituições de microfinanças, T
O,
é constituído pelos principais operadores de micro-crédito (MC) em
Cabo Verde, e tem como principal objectivo reflectir e formular 2
propostas de políticas e estratégias para o desenvolvimento do micro- 0
0
crédito no país. 3
INDICE

1. Introdução 7
2. Micro-Crédito em Cabo Verde 9
2.1 Historial 9
2.2 Breve Resenha da Situação Actual e Desafios Futuros 11
2.3 Experiência de Micro-crédito dos Bancos Comerciais 13
3. Enquadramento Institucional dos Créditos Autorgados no Âmbito do Estudo 17
3.1 Comité de Pilotagem das organizações de Micro-finanças 17
3.2 Membros do Comité de Pilotagem 19
3.2.1 MORABI 19
3.2.2 OMCV 23
3.2.3 ASDIS 26
3.2.4 FAMI-PICOS 29
3.2.5 ADIRV 32
4 O Impacto do Micro-Crédito 35
4.1 Metodologia 35
4.2 Característica dos Inquiridos 36
4.3 Características dos Empreendimentos/Negócios Financiados 38
4.4 Situação dos Créditos/Empresas 40
4.5 O Impacto do Crédito na vida do cliente 42
4.6 Quadro Conceptual de AIMS: Níveis e Domínios de Impacto 44
4.7 Impacto no Empreendimento (Empresa) 45
4.8 Impacto no Lar 48
4.9 Impactos nos Indivíduos 49
4.10 Casos de Insucesso 50
4.11 Satisfação/Insatisfação dos Clientes 52
5. Conclusões e Recomendações 55
6. Bibliografia 63
7. Anexos 64
RESUMO

Nota Introdutória

O Comité de Pilotagem, associação das instituições de microfinanças, é


constituído pelos principais operadores de micro-crédito (MC) em Cabo Verde, e
tem como principal objectivo reflectir e formular propostas de políticas e
estratégias para o desenvolvimento do micro-crédito no país.

Em Cabo Verde, a prática do micro-crédito é bem recente e as ONG’s


constituem principais protagonistas. Existe um número razoável de operadores
para o contexto nacional e persiste ainda alguma desarticulação entre os
diferentes intervenientes. Contudo, realça-se o papel do Comité de Pilotagem
no afunilamento e concertação dos diferentes programas das organizações
membros.

Tendo em conta o historial e o trabalho desenvolvido por cada uma das


organizações membros e a percepção positiva do impacto dos créditos
outorgados pelos membros do Comité de Pilotagem, o presente estudo visa
essencialmente conhecer o impacto do crédito na vida dos clientes e
subsidiariamente obter subsídios para a definição de uma estratégia de
desenvolvimento de Microfinanças em Cabo Verde.

Conteúdo do Estudo

O estudo inclui uma breve resenha sobre o historial do MC em Cabo Verde e


uma descrição dos diferentes programas das organizações membros,
perspectivando uma melhor compreensão do alcance do impacto. Inclui-se
ainda a experiência do MC pelos Bancos Comerciais e análise da possibilidade
de cooperação e comparação com os operadores especializados em
microfinanças. Por último, analisou-se o impacto do crédito na vida das pessoas
e apresentou-se um conjunto de recomendações com vista a potenciar os
resultados alcançados.

Principais Resultados

Numa amostra de 235 inquiridos, representando quase 10% dos clientes de


cada uma das instituições membros, aplicou-se um questionário e analisou-se
alguns casos. Da análise das características dos clientes e dos
empreendimentos bem como das condições dos créditos outorgados, chegou-
se nos seguintes resultados:
1. Características dos clientes

Os inquiridos se caracterizam por serem maioritariamente jovens onde 54,8%


tem menos de 40 anos; Uma maioria expressiva (89,4%) é do sexo feminino;
Uma maior participação de solteiros com agravante de muitas mulheres
casadas não receberem a contribuição dos maridos; O número médio do
agregado familiar situar em 6 pessoas e em 42,5% dos casos apenas uma
pessoa trabalha. Portanto, se evidência a vulnerabilidade das famílias que
dependem em grande medida do pequeno negócio a que se dedicam.

2. Características dos Empreendimentos/Negócios


Uma parte significativa das actividades (52,1%) não são realizadas em espaços
próprios mas sim no passeio das principais ruas (25,2) e ambulante (25,9%).
Dos restantes 25,9% vende nos mercados, 13,6% nos domicílios e apenas
6,1% em espaços próprios (oficinas, barracas).
As áreas de negócio se concentram no pequeno comércio, representando
84,6% no conjunto das actividades financiadas. As outras actividades de
representação minoritária se distribuem entre a Agricultura com 7,9%, o sector
de transformação com 4,80%, os serviços com 2,20% e as pescas com 0,50%.

3. Situação dos Créditos/Empresas


Os créditos são atribuídos na sua maioria para empreendimentos existentes,
pois apenas 7,7% dos créditos foram para iniciar um negócio.
Realça-se o co-financiamento pelos empreendedores, que segundo os dados
49,1% financiaram as actividades em proporções que chegam a alcançar a
80% das necessidades de financiamento.
Os créditos são escalonados em função do número de empréstimo sendo o
valor médio da primeira vez 35.270$00 e da terceira 73.810$00. Vale frisar
ainda que 60,4% dos inquiridos revelam não utilizar todo o dinheiro para o fim
pretendido, sendo uma parte utilizada para fins diversos como despesas do lar,
fundo de risco entre outros.

4. Impacto na Vida do cliente

Este foi analisado em diferentes níveis: do lar, do empreendimento e do


indivíduo.
O estudo revela um impacto muito positivo em todos níveis analisados, com
maior realce para o impacto no lar ou seja melhoria das condições sócio-
económicas das famílias contempladas.

De realçar que, a nível do empreendimento o impacto positivo é revelado pelos


indicadores analisados que demonstraram na sua maioria crescimentos
significativos. No contexto de repostas múltiplas 42,2% dos inquiridos
aumentaram o volume de negócios, 18,2% registou o aumento de património
na empresa, 4,7% o número de empregos, 28% maior visibilidade e 7,1%
remarcam outros benefícios como o aumento da clientela e capacidade
competitiva.

O impacto no lar é mais notório dado em parte ao carácter “fungible” do micro-


crédito, ou seja uma parte do crédito é utilizado para fins diversos, sobretudo
as necessidades do lar e a constituição de um fundo de risco. O estudo revela
que 90% dos inquiridos demonstram ter ocorrido melhorias significativas nas
suas condições de vida, traduzidas na melhoria em termos de dieta alimentar,
acomodação da habitação, aumento do consumo de bens duráveis como
electrodomésticos, frigoríficos, televisão, mobiliários, ouro e mais folga
financeira para a co-participação nas despesas de educação dos filhos. O
aspecto educação ultrapassa o domínio de ensino básico, ressaltando o
financiamento do ensino secundário e em alguns casos mesmo o ensino
superior.

O impacto a nível individual manifesta-se por importantes manifestações da


satisfação individual no domínio do crescimento pessoal. Nesta linha , regista-se
o aumento da auto-estima, maior autonomia financeira e nas decisões, mais
conhecimento do negócio e de gestão, entre outros.

No que se refere a satisfação com as instituições de crédito, ressalta-se o alto


nível de satisfação com 98,2% dos casos. Contudo algumas reclamações
registadas incidem sobretudo na taxa de juro utilizada, no prazo de pagamento
e uma grande necessidade de formação tanto de aperfeiçoamento técnico
como de gestão.

Vale salientar que, o nível de explicação entre algumas variáveis, possíveis de


analisar, é muito baixa sendo a maior explicação encontrada entre os Concelhos
e a satisfação com instituições de crédito. Isto prende-se essencialmente com a
diversidade cultural, económica, colocando em evidência a necessidade de
aprimorar os programas, focalizando mais estas realidades.

Conclusões

Ficou patente que o micro-crédito contribui sobremaneira para a melhoria das


condições sócio-económica dos indivíduos e portanto constitui um importante
instrumento de luta contra a pobreza, pois é demonstrado que o crédito,
mesmo pequeno, proporciona aos pobres oportunidades de iniciarem
empreendimentos e escapar do ciclo vicioso do baixo rendimento, poupança,
investimento e outra vez baixo rendimento.

Tendo em conta a realidade do País de acentuada pobreza em que 30% da


população é pobre e 14% é extremamente pobre, o crescente aumento do
sector informal na economia cabo-verdiana e a quase ausência dos bancos
comerciais para o financiamento das actividades da camada mais
desfavorecida, considera-se que urge encetar esforços para a expansão dos
programas a um público muito mais expressivo. Entretanto, a análise do
funcionamento dos diferentes programas evidencia algumas insuficiências dos
mesmos tanto a nível individual como a nível da Associação destes - o Comité
de Pilotagem, para que se alcance o público almejado. Neste sentido, foi
sugerido algumas acções nas duas vertentes privilegiando o aprimoramento dos
programas e o funcionamento do Comité, realçando o papel da organização e
algumas acções necessários para o cabal desempenho da função visionada.
SIGLAS UTILIZADAS

ACDI/VOGA – Agricultural Cooperative Development International/Volunteers in


Overseas Cooperative Assistance
ADF- African Development Foundation
ADIRV- Associação Desenvolvimento Integral de Rui Vaz
ASDIS- Associação Desenvolvimento Interior de Santiago
AIMS- Management Systems Internacional
BAD – Banco Africano de Desenvolvimento
BCA- Banco Comercial do Atlântico
CECV- Caixa Económica de Cabo Verde
FAMIPICOS – Associação de Apoio a Iniciativas de Auto-promoção Familiar
GTI- Gabinete Técnico Intermunicipal
IEFP – Instituto de Emprego Formação Profissional
INE – Instituto Nacional de Estatísca
IRAM – Institut de Recherches et d´Aplications des Méthodes de Dévelopment
MC – Micro-crédito
MORABI- Associação de Apoio a Auto-promoção da Mulher no Desenvolvimento
OMCV – Organização das Mulheres de Cabo Verde
ONG- Organização Não Governamental
PNLP- Programa Nacional de Luta Contra a Pobreza
SDE – Sociedade Desenvolvimento Empresarial

SPSS- Statiscal Package for Social Sciences


INTRODUÇÃO

As micro-finanças, serviço financeiro dirigido às camadas mais pobres da população,


sem acesso ao sistema financeiro formal, é considerado hoje, uma importante
estratégia de desenvolvimento por diversos actores, pois combina os valores da
prestação de serviço orientado para o mercado, o espírito empresarial, a auto-ajuda e
assistência aos pobres.

No mundo de hoje, está amplamente reconhecida o papel do micro-crédito (MC),


como complemento do sistema tradicional ao apoiar modelos alternativos de geração
de rendimento e emprego afirmando-se como importante estratégia para a luta contra
a pobreza e a exclusão social e por outro lado, revelando-se constituir uma
oportunidade de negócio lucrativa. As análises da experiência de América Latina
demonstram que as bancas de micro-finanças podem conseguir grandes dimensões e
obter resultados a níveis dos bancos tradicionais.

Em Cabo Verde, esta actividade é bem recente, datada de meados de 1990, com as
ONG´s como principais protagonistas ao lado de instituições públicas. Apesar da
incipiente experiência, notáveis avanços tem-se dado nesse domínio. O Comité de
Pilotagem das microfinanças, que surgiu em 1997, tendo como membros os principais
operadores do sector: Morabi, OMCV, ASDIS, FAMI PICOS e ADIRV, representa um
dos exponentes dessa dinâmica registada. Este nasceu da conjugação dos esforços
dos intervenientes com principal propósito de fortalecer e desenvolver as
Microfinanças em Cabo Verde. Neste sentido, o Comité já realizou diversas acções,
sendo este estudo de impacto de MC enquadrado nesse âmbito.

Tendo em conta o trabalho desenvolvido por cada uma das organizações membros e a
percepção positiva por parte dos beneficiários, organizações e doadores, sem contudo
haver dados concretos que corroboram essa percepção, o presente estudo visa,
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Estudo Impacto do Microcrédito
essencialmente, conhecer o impacto do crédito outorgado pelas instituições membros
na vida das pessoas e subsidiariamente obter subsídios/recomendações para a
definição de uma estratégia sobre a política de desenvolvimento de micro- finanças
em Cabo Verde.

Assim se coloca as seguintes questões:

 O micro- crédito tem melhorado as condições sócio económica dos


beneficiários?
 Que tipo de beneficiários contempla? Que tipo de beneficiários temos, são os
pobres ou os muito pobres?
 Em que medida tem-se dado esse impacto?

O estudo responde estas questões, analisando alguns indicadores de impacto pré


definido e a inter-relação entre determinadas variáveis consideradas relevantes.

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Estudo Impacto do Microcrédito
MICROCRÉDITO EM CABO VERDE

2.1 Historial

A prática do micro- crédito em Cabo Verde, é bem recente sendo as primeiras


experiências registadas na década de 90, embora algumas modalidades de
financiamento a esse segmento de mercado já eram conhecidas como por exemplo as
associações funerárias.

As primeiras experiências de meados de 90 eram um pouco desconcertadas e se


enquadravam normalmente dentro de diversos programas de promoção da mulher no
desenvolvimento rural, entre outros, encarando o instrumento crédito como parte
integrante da promoção do seu público alvo. Os fundos dessas iniciativas provinham,
essencialmente, da cooperação internacional, a fundo perdido e muitas vezes os
procedimentos eram impostos pelos financiadores. Os operadores de créditos sendo
alguns do sector público não tinham uma visão clara de um programa de crédito pelo
que muitos créditos eram atribuídos a fundo perdido ou a taxas muito baixas o que
comprometeu o desenvolvimento do programa ou o alcance a um público significativo.
O diagnóstico realizado em 1998 por Yves Fourier constatava a existência de um
grupo razoável de operadores com predominância das ONG’s e remarcava a
desconcertação reinante, fruto da incipiente prática, em que cada um aplicava o seu
critério e se levantava o problema da sustentabilidade.

Nessa altura surgia o Comité de Pilotagem constituído por quase todos os operadores
tanto público como privado com o intuito de ter um espaço de concertação entre os
intervenientes, visando o desenvolvimento do MC. De realçar que, apesar da
movimentação inicial de todos os intervenientes, o saldo final traduziu-se na
assinatura de um Protocolo de acordo por 5 ONG’s, em 1999. Constituíram membros
fundadores MORABI, OMCV, CÁRITAS, CITY HABITAT, ASDIS. Porém a CITY HABITAT
e CÁRITAS deixaram de participar e novos membros foram admitidos, sendo a FAMI
PICOS em 2000 e ADIRV em 2001.

De realçar que o impulso decisivo para o funcionamento do figurino actual do MC em


Cabo Verde, deve-se ao grande apoio dado pela actuação da ONG americana ACDI-
VOCA que implementou um programa de MC um pouco diferente dos modelos que
existiam na altura, onde se pode destacar as seguintes características:

 Montantes pequenos e crescentes nos sucessivos empréstimos;

 Taxa de juro (3%/mês) que permite cobrir os custos de funcionamento, muito


acima da taxa de mercado;
 Concessão de crédito assistido pelos agentes de crédito;
 Seguimento com aposta na figura do agente de crédito como peça chave do
modelo;

 A formação dos clientes visando a consciencialização das responsabilidades


inerentes ao crédito e a capacitação na gestão do crédito e negócio.

O sucesso dessa experiência que, ao contrário dos outros operadores (ONG´s,


instituições públicas e outros operadores existente na altura), alcançou um número
significativo de clientes, com altas taxas de reembolso, demonstrou que é possível dar
créditos em condições aceitáveis pelo mercado e que garantiam a sustentabilidade do
sistema. Isto fez com que muitos dos operadores, sobretudo os elementos do Comité
de Pilotagem adoptasse procedimentos similares, o que levou a uma certa
uniformização das diferentes práticas e consequentemente maior alcance do
programa devido aos pequenos montantes atribuídos e as normas adoptadas. Por
outro lado, destaca-se o papel desta ONG como instituição de promoção das
iniciativas dos operadores de crédito, empenhado no reforço da capacidade
institucional dos operadores, tendo realizado formações diversas para os gestores,
agentes de crédito e contabilistas desses operadores. Além do mais, apoiou na
definição e implementação do sistema de gestão, facto que ajudou os operadores a
imprimirem uma maior transparência e, consequentemente, maior mobilização de
recursos para a prática do crédito e, por conseguinte, potenciando-lhes para abranger
maior número de beneficiários. É de realçar ainda, inúmeros apoios nas diversas
acções de pesquisa, reflexão visando o desenvolvimento do MC em Cabo Verde,
sendo este estudo um dos exemplos. Actualmente apesar de continuar o programa
de ACDI na vertente operador directo, sob a gestão da Caixa Económica de Cabo
Verde, esta sobressai num outro nível de intervenção, isto é, como entidade de apoio,
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promoção e assistência técnica, visando a sustentabilidade das ONG’s operadores de
MC.

2.2 Breve Resenha da Situação Actual e Desafios Futuros

Graças à intervenção da ACDI-VOCA, temos uma melhor orientação do sector com


programas bem definidos e o mais importante a similitude entre os programas,
sobretudo as instituições que fazem parte do Comité de pilotagem, o que facilita
muito a concertação entre estes e tem permitido uma maior abrangência e impacto
dos programas.

De realçar, também, o papel de ADF (Fundação para o Desenvolvimento em África)


no desenvolvimento do programa de MC em Cabo Verde, pois tem sido o principal
financiador dos fundos das organizações membros do Comité de Pilotagem e tem
financiado também alguns estudos e desenvolvimento de programas de gestão desses
organismos. Nesta linha cabe destacar:

o Disponibilização de fundos;
o Assistência técnica na implementação dos programas;
o Apoio na capacitação institucional;
o Financiamento do novo software de gestão de crédito;
o Facilitador na trocas de informações entre as ONG’s.

Constituem operadores directos, os seguintes:


 Instituições do Comité de Pilotagem:
o Morabi- ONG de promoção da mulher;
o OMCV- ONG de promoção da mulher;
o ASDIS- União das Associações de Desenvolvimento Interior de Santiago-
intervenção MC;
o FAMI PICOS – Associação das Mutualidades de crédito de Picos e Santa
Catarina;
o ADIRV- Associação Desenvolvimento Comunitário.
 Cáritas- Ong de cariz religioso que tem intervenções no domínio social;

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Estudo Impacto do Microcrédito
 City Habitat – ONG de desenvolvimento comunitário, tem um
programa PAGRE para crédito;
 Solmi – ONG de desenvolvimento comunitária que também tem um
programa de microcrédito;
 GTI- Gabinete Técnico Intermunicipal dos Municípios de Santo Antão;

 Caixa Económica de Cabo Verde.

Importa referir aqui que outras instituições públicas fizeram parte deste elenco num
passado bem recente como é o caso dos Municípios de São Domingos e da Boa Vista
e o Instituto de Emprego e Formação Profissional- IEFP.

Se evidencia a predominância das ONG´s nesse sector e a intervenção de um banco


comercial – a CECV. Das instituições públicas, as Câmaras Municipais predominam
mas a actuação destas têm sido muito contestada pela falta de vocação como
operadores directos. Para além disso, existe a tentação da partidarização dos
programas e por outro lado a natureza dessas entidades com forte cariz social pode
contribuir para o reforço da mentalidade assistencialista pois denota-se uma grande
dificuldade na separação dos diferentes papéis, constituindo, assim, um entrave para
o desenvolvimento do espírito empresarial. Contudo, é reconhecida mundialmente o
importante papel das instituições públicas no desenvolvimento do sector de
microfinanças apoiando e incentivando as iniciativas nesse domínio.

Vale frisar que, as experiências positivas da intervenção dos Municípios registadas


noutras paragens tem como principais factores de sucesso a total separação da
actividade creditícia e o envolvimento de outros actores na gestão.

Por sua vez, constituem instituições de promoção e apoio aos operadores


directos:

 ACDI/ VOCA (Agricultural cooperative for Development Internacional/volunteers


in Overseas Cooperative Assistence) – ONG americana com fundos
provenientes do programa de Ajuda Alimentar Americana através da USAID.
 ADF- African Development Foundation – instituição governamental Americana
com recursos provenientes do Congresso americano
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Estudo Impacto do Microcrédito
 Programa Nacional de Luta Contra a pobreza- financiado por diferentes
organismos Banco Mundial, BAD, entre outros .

2.3 Experiência de Microcrédito dos Bancos Comerciais

O MC pouco tem atraído os Bancos Comerciais em Cabo Verde, pois até então a
intervenção dos bancos nesse domínio tem sido muito limitada, resumindo à gestão
das linhas de crédito pelos dois maiores bancos comerciais, o Banco Comercial do
Atlântico (BCA) e a Caixa Económica de Cabo Verde, destacando-se o crédito à Pesca
Artesanal. Apesar da controversa sobre a vocação ou não dos Bancos Comerciais, o
facto é que nenhum banco se especializou nesse domínio, adoptando estruturas
adequadas para o atendimento desse segmento. A pouca evolução dos bancos nesse
ramo poderá prender-se com os fracos resultados obtidos a nível do reembolso e
alguns problemas encontrados na gestão dessas linhas de crédito.

Porém, a experiência da CECV tem ultrapassado esse âmbito gerindo mais linhas de
crédito, a saber:

 Linha de crédito do IEFP, destinado aos microempresários- Protocolo 7 de


Julho 1999;

 Linha de crédito da Câmara Municipal de São Domingos que visa o


financiamento de actividades geradoras nesse concelho- Protocolo Julho 1998;
 Linha de Crédito da pesca artesanal para o financiamento de aquisição de
pequenas embarcações de 6 metros- Protocolo com o Ministério do Mar de
1999;

 Linha de crédito no âmbito do Programa Especial de Segurança Alimentar


(PSSA)- Protocolo Abril 2003.

Por outro lado, a Caixa tem uma intervenção directa na gestão do Programa de
crédito de ACDI/VOCA que foi transferido para a CECV em Maio 2001. De salientar, a
continuidade do programa nos mesmos moldes, com o mesmo staff e no mesmo
escritório. Nesse período de gestão da Caixa Económica o programa tem funcionado
bem, segundo os responsáveis, tendo verificado o aumento da carteira de crédito e o

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COMITÉ DE PILOTAGEM DE MICRO-CRÉDITO
Estudo Impacto do Microcrédito
alargamento do programa ao interior de Santiago, nomeadamente Santa Catarina,
que se restringia ao mercado da Praia, no momento da transferência. A expansão do
programa levanta alguns problemas, como por exemplo a afectação do pessoal,
pendente de definição, pois, não está claro se será criado representações do género
do staff da Praia ou se será utilizado os balcões da CECV. A incorporação do programa
para dentro da Caixa, continua portanto, uma incógnita. Salienta-se o facto da CECV
não parecer motivada por essa opção e até então não se ter registado nenhuma
acção que uma inclusão do programa exigiria. Contudo, a CECV poderá optar pela
gestão autónoma, criando representações noutros concelhos.

Possibilidade de Cooperação dos Bancos Comerciais com Outros Operadores


de MC

Neste momento, a CECV, através do programa de crédito de ACDI/VOCA, tem


participado na circulação das informações sobre os créditos outorgados, evitando a
duplicação a mesma pessoa. Outro aspecto importante é a facilitação dos créditos
outorgados pela Caixa Económica quando o cliente tem informações favoráveis por
parte das instituições de MC.

Contudo a cooperação poderá ser alargada a outros domínios:

 A assinatura de protocolo que permite o financiamento continuado dos clientes


das instituições de MC que já ultrapassaram os montantes limites e com bom
historial;

 Funcionar como caixa do sistema, movimentando o capital dessas organizações


em condições vantajosas;

 Financiar estas instituições mobilizando capital do exterior a preços mais


baratos.

Este último ponto poderá ser alargado ao BCA e ao Grupo Caixa Geral de Depósitos
ou mesmo a Sociedade de Desenvolvimento Empresarial dada as suas posições para
mobilizar capital a custos menores nos mercados de capitais mais desenvolvidos.

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COMITÉ DE PILOTAGEM DE MICRO-CRÉDITO
Estudo Impacto do Microcrédito
Talvez este último aspecto não se impõe com urgência, uma vez que os programas se
financiam com fundos de doadores internacionais, muitas vezes a fundo perdido. Mas,
na perspectiva do alargamento do MC a um maior número de pessoas e levando em
consideração que os fundos dos doadores são limitados e têm tendência a baixarem,
esta poderá constituir uma das importantes vias de financiamento.

Importa referir que a cooperação entre os bancos comerciais poderá transcender os


níveis expostos, podendo passar pela criação e desenvolvimento de programas de MC
pelos bancos como é o caso das experiências do Banco do Nordeste do Brasil e Las
Mutuelles Communautaires de Croissance, MC2 em Camarões. A particularidade
dessas experiências reside no apoio às técnicas financeiras, formação dos gerentes, o
acesso ao capital e capacitação das novas entidades financeiras. É de salientar, no
caso da experiência brasileira, a utilização das agências do Banco pelo programa de
crédito mesmo depois de ser autónomo.

Comparação dos Bancos Comerciais e dos Operadores especializados em MC

A diferença entre a primeira e a segunda se dá sobretudo a nível de especialização,


entendendo um serviço direccionado ao segmento de parcos recursos em que se
criam estruturas próprias. Cabe realçar as seguintes diferenças:

 A figura do agente, que constitui o elo de ligação entre o cliente e a instituição


de MC, facto que contribui sobremaneira para o crescimento desse tipo de
cliente na sua relação com a banco;

 A agilidade no atendimento em que a burocracia é quase eliminada e as


decisões são rápidas;
 Sistema de garantia adaptado ao público que não apresenta garantias reais
muito exigido pelos bancos. Para além de outras formas, uma muito usada para
contornar o problema de fiadores é a garantia solidária, baseada nas relações
sociais dos indivíduos;
 Montantes bem pequenos em relação aos créditos bancários;
 Taxa de juro mais elevado que o normalmente praticado pelos bancos;

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COMITÉ DE PILOTAGEM DE MICRO-CRÉDITO
Estudo Impacto do Microcrédito
 A não regulação pela entidade supervisora como é o caso dos bancos que estão
submetidos a regulamentos do Banco Central.

As particularidades do MC permite a democratização do crédito ao facilitar o acesso ao


crédito às camadas desfavorecidas, excluídas do crédito bancário, pois a figura do
agente de crédito, o sistema de garantia e a pouca burocracia utilizada são elementos
que adequam o financiamento a essa camada e as microempresas em geral.

Os Bancos Comerciais, sobretudo universais, estão vocacionados para operações de


maior porte, ou seja para clientes que lhes dêem mais garantias, visando economias
de escala, eficiência financeira com menores custos possíveis e maiores ganhos em
cada operação.

Os bancos que optem por atender este segmento devem criar estruturas próprias
como os balcões próprios, profissionais treinados com a metodologia do MC para que
possam prestar um serviço eficaz. Nesta perspectiva os bancos teriam alguma
vantagem:

 Alcançar maior número de clientes pela capacidade instalada traduzida em


balcões nas diferentes localidades e maior disponibilidade de capital;

 Poder aplicar taxas de juros mais baixos pela economia de escala e por estarem
regulados pelas entidades de supervisão bancária.

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Estudo Impacto do Microcrédito
Enquadramento Institucional dos Créditos Outorgados no Âmbito do Estudo

3.1 Comité de Pilotagem das organizações de Micro-finanças

Esta é uma associação das ONG’s que operam no domínio das microfinanças e teve
como motivação na sua criação a conjugação de esforços entre os principais
intervenientes do sector. Esta tem como principal propósito reflectir, inventariar e
formular propostas de políticas e estratégias para o desenvolvimento do Micro-crédito
em Cabo Verde. Constituem objectivos da organização os seguintes1:

 Contribuir para a criação de um sistema de MC durável em Cabo Verde, como


uma das formas da luta contra a pobreza;

 Contribuir para um maior acesso dos pobres ao MC, perspectivando o aumento


dos seus rendimentos, autonomia e independência económica e
consequentemente proporcionar maiores oportunidades de acesso a outros
serviços sociais;
 Facilitar a troca de experiências e informações;
 Facilitar a coordenação espacial das actividades do conjunto de intervenientes, a
nível local, regional e nacional;
 Procurar apoio técnico e financeiro para os seus membros;
 Encorajar a pesquisa aplicada e formação;
 Contribuir, de forma permanente, na elaboração e evolução das legislações sobre
o sistema financeiro descentralizado;
 Contribuir para a realização e actualização de um banco de dados sobre Sistemas
Financeiros descentralizados (SFD);

 Contribuir para a capitalização das experiências realizadas com sucesso.

Apesar de alguns esforços na materialização dos objectivos, ainda muito está por fazer
na condição de um interveniente de nível superior (apoio dos operadores directos). Das
suas realizações cabe destacar o projecto de apoio institucional para a implementação
de serviços descentralizados, em particular:

1
Extraído do documento “Experiência do Comité de Pilotagem- Maio 2003.
 Uma visita de estudo a Mali com duração de 15 dias em 1999, na qual
participaram instituições públicas e 6 ONG’s (Morabi, OMCV, Citi Habitat e
ACDI/VOCA);

 Programa de formação para operadores de microfinanças, a ser


ministrado em três fases. Já foram realizadas as duas fases pelo IRAM em
colaboração com a cooperação francesa e aguarda-se pela realização da
terceira fase;
 Criação de uma Associação Profissional de operadores de microfinanças
em que se assinou um protocolo de acordo entre 4 ONG’s, a utilização por
estas do mesmo software de Gestão instalado e oferecido pela ACDI;
 Um novo softaware está sendo desenhado visando maior eficiência na
produção de dados;
 O funcionamento informal de uma central de risco com a circulação
mensal da lista dos candidatos ao crédito para todos os operadores;

 A realização de dois estudos com o intuito de se aprofundar na pesquisa


do sector em Cabo Verde.

Objectivando um melhor desempenho da organização, está em definição mecanismos


mais eficazes de gestão com a adopção de um núcleo de gestão independente. Espera-
se que esta contribua para um maior engajamento das instituições membros e,
consequentemente, o desenvolvimento destas, colmatando as dificuldades de
concertação que ainda persistem.

Contudo é de salientar o papel desta organização, sobretudo como espaço de partilhas


de conhecimento, de instrumentos de gestão o que tem levado a uma certa
homogeneização dos programas, melhor eficiência das organizações filiadas e, por sua
vez, uma maior abrangência e impacto dos programas de MC.

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COMITÉ DE PILOTAGEM DE MICRO-CRÉDITO
Estudo Impacto do Microcrédito
3.2 Membros do Comité de Pilotagem

Segundo Mamadou Ouédraogo y Marc Mees- PRODIA “Cada instituição de


Microfinanças é antes de mais nada uma aventura humana, mais do que qualquer
critério estandarizado, cada uma tem o seu próprio ritmo de crescimento e sua própria
história.”

Fazem parte actualmente, do Comité de Pilotagem, 5 ONG’s nomeadamente: MORABI,


OMCV, ASDIS, FAMI PICOS e ADIRV.

3.2.1 MORABI

A Morabi é uma ONG, criada em 1992, constituída por 224 membros sem distinção de
sexo e aberta a todas as pessoas. Os membros da organização pertencem a todos os
quadrantes sociais e políticos.

Tem como principal objectivo a inserção e a melhoria da posição social das mulheres
cabo-verdianas, promovendo a sua participação no processo de desenvolvimento. Tem
por objectivo geral, contribuir para a inserção e a melhoria da posição social das
mulheres cabo-verdianas e promover a participação da mulher no processo de
desenvolvimento económico, social, cultural e político das suas comunidades e do pais,
de modo a melhorar as condições de vida das mesmas e das famílias.

Nesta perspectiva, intervêm a nível de quatro domínios: Micro-Crédito, Formação,


Desenvolvimento Comunitário e Saúde Sexual e Reprodutiva.

A intervenção desta instituição abrange seis ilhas: Santiago, Maio, Santo Antão, São
Nicolau, São Vicente e Boa Vista. No tocante à infra-estrutura possui uma sede nacional
e delegações em Ribeira Grande, São Vicente, e representantes nas restantes ilhas e
concelhos do interior de Santiago.

Programa de Crédito

Esta se enquadra no programa de Promoção Sócio Económica da Mulher, da qual faz


parte o programa de formação.

20
COMITÉ DE PILOTAGEM DE MICRO-CRÉDITO
Estudo Impacto do Microcrédito
O MC foi introduzido em 1994, sem qualquer estruturação com ausência de normas
orientadoras de intervenção. Tratava-se da mobilização de alguns fundos para o
financiamento de algumas actividades desenvolvidas pelas mulheres, sobretudo a
venda de pescados. Pouco a pouco o MC foi-se estruturando, chegando em 1998 a um
programa de crédito com os procedimentos definidos e incorporados num manual de
Crédito da Organização, Software de Gestão e autonomia do Departamento de Crédito.

Estrutura do Departamento de Crédito


Pessoal afecto
O quadro do pessoal é composto por:
 Uma coordenadora;
 Uma tesoureira;
 Uma contabilista;
 Um Operador de Banco de Dados;

 16 agentes de crédito: 3 na sede, 8 na ilha de Santiago, 1 por cada uma das


ilhas em que opera;

 Um condutor.

Serviços Oferecidos:

 Créditos de Tesouraria (fundo de maneio);


 Créditos de investimento (capital fixo);
 Apoio na criação de micro-empresas, destacando a identificação e elaboração de
projectos;
 Aconselhamento;
 Seguimento;
 Formação;

 Apoio na colocação dos produtos no mercado.

O crédito de tesouraria destina-se a financiar as necessidades de financiamento de


fundo maneio e pode ir até 100%. São financiados as modalidades de crédito
individual/familiar e solidário. Os limites variam de:

21
COMITÉ DE PILOTAGEM DE MICRO-CRÉDITO
Estudo Impacto do Microcrédito
Crédito Individual/Familiar

 Primeiro Empréstimo:35.000$00
 Segundo Empréstimo:75.000$00
 Terceiro Empréstimo:150.000$00
 Quarto Empréstimo: 175.000$00

 Quinto Empréstimo ou mais: 200.000$00

Crédito Solidário

 Primeiro Empréstimo: 22.000$00

 Segundo Empréstimo: 50.000$00

 Terceiro Empréstimo: 75.000$00

Créditos de investimentos destinam-se a financiar as necessidades de investimento em


equipamentos e outros e pode ir até 90% das necessidades. Este tipo de empréstimo é
destinado apenas a modalidade de crédito individual/familiar. Os limites variam de:

 Primeiro Empréstimo: 75.000$00


 Segundo Empréstimo:150.000$00

 Terceiro Empréstimo: 300.000$00

Os serviços de apoio na criação de microempresas estão ligados à actividade do crédito,


onde os proponentes são apoiados na identificação, elaboração de projectos, e
aconselhamento. Vale salientar que, este serviço é gratuito e complementa o crédito
concedido.

Por sua vez, a formação é organizada juntamente com o Departamento de formação e


é facultada em função das necessidades manifestadas pelos clientes e abrange áreas
como: gestão de crédito, criação e gestão de pequenos negócios, contabilidade e
formação técnica em áreas que desenvolvem o próprio negócio.

No tocante ao acompanhamento, este é feito pelos agentes de crédito sendo que na


primeira fase são efectuadas visitas semanais passando posteriormente para uma
periodicidade mensal.
22
COMITÉ DE PILOTAGEM DE MICRO-CRÉDITO
Estudo Impacto do Microcrédito
Sectores de Actividade Abrangidas:

 Pequeno comércio;
 Pesca artesanal;
 Conservação e comercialização de pescado;
 Agro-pecuária;
 Artesanato;
 Pequenas indústrias;
 Prestação de serviços.

Cabe salientar que os créditos têm concentrado no Pequeno comércio (62,79%), a


Produção (22,8%) e Serviços (14,5%).

Abrangência geográfica: Ilha de Santiago, Stº Antao, S. Nicolau, Maio, S. Vicente e


Boa Vista.

Evolução dos créditos

O número de crédito tem crescido significativamente de 1994 a Março 2003 (3.828


créditos) onde os maiores crescimentos registaram-se em 2001 (996 créditos) e 2002
(1.336 créditos). A tabela abaixo2 espelha a evolução de crédito por ano e os
montantes respectivos.
Tabela n.º 1 – Evolução do Crédito da Morabi
Ano 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 Mar Total
2003
Nº créditos 156 12 57 261 117 346 296 996 1336 251 3828

Montante 600,3 77 802,4 6.246,9 6.248,5 8.076,2 10.131,7 38.817,6 56.119,2 11.333 138.452,80
CONTOS

Vale frisar que a Morabi tem trabalhado com uma taxa de Reembolso de 98%.

2
Fonte Experiência MC da Morabi.
23
COMITÉ DE PILOTAGEM DE MICRO-CRÉDITO
Estudo Impacto do Microcrédito
Tabela n.º 2 - Resumo das condições do crédito
Grupo Montante Taxa Penalização Carência Comissão de Sistema Prazo
alvo financiamento de juro por atraso serviço garantia financiamento
Todo De 22.000$00 a 2% ao 5% sobre o 0-2 meses Varia de 4% Fiadores Min. 1 mes e
cidadão 500.000$00 mês capital dependendo a 8% individuais e Max. 18
nacional vencido da actividade Aval solidário meses.
maior de
18 anos
de idade,
em
especial
as
mulheres
chefes
de
família

3.2.2 OMCV

Esta organização foi criada em 1980 com estatuto de ONG, sem fim lucrativo e conta
com 10.000 membros, organizadas em grupos locais. Tem como principal objectivo a
promoção da mulher, intervindo em todos os aspectos sociais que contribuam para o
desenvolvimento da mulher. Assim intervém no domínio da saúde, educação,
desenvolvimento comunitário e a promoção de actividades geradoras de rendimento.

Com sede em Praia, possui 11 centros de Promoção feminina e uma pequena loja
aonde são vendidos artesanatos produzidos pelos seus membros.

Programa de Crédito

Desde 1990 que a OMCV introduziu micro-crédito, mas antes de 1999 resumia-se a
fundos diversos financiados por diferentes organismos internacionais e respeitando a
regras específicas em função do fundo. Em 1997 era evidente a falta de visão para o
desenvolvimento como intermediário financeiro especializado em MC, já que não existia
um programa estrutura do crédito. Em 1999, com o financiamento da ADF começaram
a estruturar o funcionamento de um programa de crédito autónomo, com a instalação
de uma célula de crédito e a implementação do Manual de crédito, contendo os
princípio orientadores. Com apoio da ACDI formou-se os agentes de crédito e instalou
um software de controle e gestão de crédito.

24
COMITÉ DE PILOTAGEM DE MICRO-CRÉDITO
Estudo Impacto do Microcrédito
Estrutura do Departamento de Crédito

Pessoal Afecto:
O quadro do pessoal é composto por:
 Um gestor;
 12 agentes de crédito3: sendo dois na sede, dois em Santo Antão e os restantes
nas principais zonas de intervenção;
 um contabilista.

Serviços Oferecidos
 Credito de investimento;
 Crédito para fundo de maneio;
 Formação;
 Aconselhamento;

 Seguimento.

O crédito de investimento destina-se a financiar as necessidades de investimento em


equipamentos, construção e outros. Por sua vez, o do fundo de maneio reponde às
necessidades de reforço de caixa. Vale salientar que, os limites do crédito dependem do
número de empréstimos:

1ª vez – 80.000$00
2ª vez – 100.000$00
3ª vez- 150.000$00

no tocante a formação, esta é oferecida aos clientes em duas modalidades:

1. A formação informativa pré-crédito objectivando a consciencialização dos


compromissos e procedimentos adjacentes ao crédito. Esta é dirigida a todos os
clientes e constitui requisito para liberação do crédito.

3
Um agente foi incorporado em 2003 em Santo Antão

25
COMITÉ DE PILOTAGEM DE MICRO-CRÉDITO
Estudo Impacto do Microcrédito
2. A formação em domínios diversos ligada à gestão da unidade do cliente:
contabilidade, gestão de pequenos negócios entre outros. Esta não é obrigatória, nem é
regular. Depende das necessidades sentidas e da disponibilidade da organização.

O seguimento e aconselhamento faz parte da estratégia de tornar bem sucedidos os


créditos. Esta é efectuada essencialmente pelas agentes do crédito visando prevenir as
dificuldades da empresa e, consequentemente os atrasos no reembolso.

Sectores de actividades elegíveis: comércio, pesca, agricultura, transformação.


Vale frisar que, até então têm-se destacado o sector informal representando 95% dos
créditos outorgados.

Abrangência geográfica: Ilha de Santiago (todos os concelhos com excepção de


Santa Catarina), Fogo (São Filipe), São Vicente, Santo Antão (todos os Concelhos).

Tabela n.º 3 - Evolução dos Créditos


Ano 2000 2001 2002 2003 Total
Nº de crédito 197 329 513 373 1412
Montante 11.530 19.165. 14.615 1.440 45.840
Contos

A Tabela acima evidencia a evolução dos créditos de 2000 a 2003, altura em que o
programa começou a funcionar nos moldes actuais. Importa salientar que a taxa de
reembolso tem situado acima de 95%, situando actualmente em 97%.

26
COMITÉ DE PILOTAGEM DE MICRO-CRÉDITO
Estudo Impacto do Microcrédito
Tabela n.º 4 - Resumo das Condições do Crédito
Grupo alvo Montante Taxa Penalização Taxa Comissão Sistema Prazo
financiamento de juro por atraso s/poupança de serviço garantia financiamento
Todo cidadão De 20.000$00 a 1,75% 5% sobre o 10% 5% sobre 10% + Min. 1 meses e
nacional 300.000$00 ao mês capital montante poupança Max. 10 meses.
maior de vencido +dois
idade, em avalistas
especial as -
mulheres 10% +
chefes de poupança
família, + aval
trabalhadoras solidário
das FAIMO

3.2.3 ASDIS

A ASDIS é uma federação das associações, sem fins lucrativas dotada de autonomia
administrativa e financeira, visando fins sociais, criada em 1999 para proporcionar
oportunidades de créditos à população rural.

O principal objectivo desta Associação é proporcionar a solidariedade social e o


desenvolvimento comunitário na ilha de Santiago em especial, e estimular a auto-
suficiência das associações e ainda:

 Facilitar o empréstimo aos agricultores e criadores de animais domésticos, com o


fim de, com maior rapidez e proveito, financiarem os seus projectos;

 Assessorar estudos e projectos que visem obter e melhorar os recursos dos


agricultores e associados, destinados à agricultura, avicultura e pecuária;
 Recolher poupanças e distribui-las por empréstimo, aos habitantes das zonas
rurais que são sócios das associações.

São membros da associação, além dos sócios fundadores, todas as associações, com
personalidade jurídica, que a ela queiram aderir e sejam aceites. Os membros são:
Agro- Órgãos, ADP-Picos, Agro Miguel, JOAGRO, Agro Tabugal, Agro-Boa Entrada, Agro
Verde, Agro-Milho Branco, Agro-Montainha, Agro Cristóvão, Agro Riboi, FLAGRO, Agro
Serelho, Agro-Hortelã, Agro Convento, Agro Furna e Agro Espinho Branco.
27
COMITÉ DE PILOTAGEM DE MICRO-CRÉDITO
Estudo Impacto do Microcrédito
A associação possui a seguinte estruturação: uma Assembléia Geral; Vice-presidente –
e Secretário – Agro Miguel), um Conselho Directivo (Presidente – Agro Hortelão; Vice-
Presidente – Agro Órgãos e Secretário – Agro Milho Branco) e um Conselho Fiscal
(Presidente – Agro Riboi, Relator – Agro Serelho e um Vogal – Agro Espinho Branco).

Estrutura do Programa de crédito

Pessoal afecto
O quadro de pessoal é composto por:
 Um gestor;
 três agentes de crédito;
 Um contabilista;
 Um tesoureiro.

Condições de acesso:
 Mulheres chefes de família;
 Jovens à procura do primeiro emprego;
 Experiência de pelo menos 6 meses na actividade;
 Não ter dívida junto da instituição;

 Assistir à formação informativa e ser pontual durante a formação.

A continuidade de aceder ao crédito requer a pontualidade no pagamento e aumento


do volume de negócio.

Serviços oferecidos
 Crédito;
 Formação;
 Aconselhamento e Seguimento.

O crédito varia em função das actividades financiadas (comércio informal e rega gota a
gota), sendo as condições estabelecidas em função destas.

28
COMITÉ DE PILOTAGEM DE MICRO-CRÉDITO
Estudo Impacto do Microcrédito
A formação é tipo informativo sobre as condições do crédito e as responsabilidades
inerentes. Destina-se aos seleccionados para o crédito e é obrigatória para a liberação
do mesmo.

O aconselhamento e seguimento é feito pelos agentes de crédito visando o bom


andamento dos projectos financiados, pois os eventuais problemas são detectados a
tempo.

Sectores de actividade
Não se exclui nenhuma actividade mas o crédito tem concentrado em duas áreas:
 Comércio informal;
 Rega gota a gota .

Abrangência geográfica: Toda a ilha de Santiago, tendo créditos em todos os


Concelhos mas não tem nenhuma representação fora de Calheta. Importa salientar
que, a maior parte dos créditos concentram-se na Calheta de São Miguel onde está
sediada.

Evolução dos créditos concedidos:

Em Dezembro de 2002, a organização contava com uma carteira de 1.140 créditos com
a seguinte evolução4:

Tabela n.º 5 – Evolução dos Créditos Concedidos


Ano Jun99-Dez01 Jan-Mar 02 Abril-Jun 02 Jul-Set-02 Out – Dez 02 Total Dez 02

Nº de crédito 781 111 72 95 81 1140


Montante ($) 33.645.647 5.498.277 6.967.900 6.492.330 5.650.000 59.098.330

Salienta-se que a taxa do reembolso situa-se em 97%.

4
Fonte: Dados Estatísticos de Exploração e Crédito- ASDIS 2002

29
COMITÉ DE PILOTAGEM DE MICRO-CRÉDITO
Estudo Impacto do Microcrédito
Tabela n.º 6 - Resumo das condições do Crédito

Grupo alvo Montante Taxa de juro Penalização Taxa s/ Carência Sistema Prazo
financiament por atraso poupança garantia financiamento
o
Pessoa de De 3% ao mês 2500$00 5% 1a4 Aval Min. 4 meses e
baixo 25.000$00 a independente meses solidário Max. 12 meses,
rendimento 300.000$00 mente constituído excepcionalmen
com por 3 a 5 te 18 meses
experiência pessoas
numa área
de
actividade

3.2.4 FAMI-PICOS

A Fami-Picos é uma associação, sem fins lucrativa, criada em 1997 através da união das
mutualidades de Poupança e Crédito de Manhanga, Pico Acima e Achada Igreja, que
exerce a sua actividade ao nível do Concelho de Stª Catarina. A partir do ano 2000,
com a adesão de mais duas mutualidades a de Rincão e Ribeira da Barca passaram a
fazer parte da organização cinco mutualidades de poupança e crédito: Picos acima,
Achada Igreja, Manhanga, Rincão e Ribeira da Barca.

As mutualidades tiveram a sua génese em 1991, ligadas às Frentes de trabalho,


visando cobrir os atrasos nos pagamentos, com apoio do Instituto Nacional das
Cooperativas.

Vale frisar que, a organização com sede em Picos- freguesia de São Salvador do
Mundo, tem associados em todas as localidades da freguesia de São Salvador do
Mundo e na Freguesia de Santa Catarina de entre as quais se destacam as localidade
de Assomada, Nhagar, Pedra Barro, Gil Bispo, Rincão e Ribeira da Barca.

A Instituição é dotada de uma personalidade jurídica, cuja finalidade é de apoio,


promoção e incentivo às iniciativas de autopromoção e de desenvolvimento a nível
local, através do apoio ao desenvolvimento socioeconômico e cultural das famílias e do
fomento à prática de entre ajuda e solidariedade social. Ela é regida pelos princípios de
livre adesão, solidariedade, intercooperação, educação e formação dos membros e
democracia interna e integra 720 membros.

30
COMITÉ DE PILOTAGEM DE MICRO-CRÉDITO
Estudo Impacto do Microcrédito
Estrutura do programa de crédito

Com um escritório, o quadro do pessoal afecto é composto por:


 Um gestor;
 Dois agentes de crédito;
 Um contabilista.
O trabalho da equipa é coadjuvado pela Comissão de Crédito constituída por três
pessoas, eleitas pela assembleia que tem a responsabilidade de aprovar o crédito
mediante proposta da equipa de gestão.

Serviços oferecidos
 Crédito;
 Formação;
 Aconselhamento e Seguimento.

Existem duas modalidades de crédito:


 Crédito ao investimento nos pequenos negócios (activo fixo e fundo de maneio);

 Crédito consumo para financiamentos de actividades sociais: baptizados,


casamentos, emigração, educação e construção.

A formação responde sobretudo às necessidades de informação por parte dos clientes


no tocante às responsabilidades do crédito e as orientações para o negócio.

O aconselhamento é efectuado pelos agentes de crédito e algumas vezes pelo próprio


gestor visando a efectiva aplicação do crédito e sucesso dos empreendimentos.

Sectores de actividade:
 Agro-pecuária;
 Pequeno comércio;
 Pequenas transformações;
 Serviços.

Abrangência geográfica: Concelho de Santa Catarina em todas as localidade onde


tem associados.

31
COMITÉ DE PILOTAGEM DE MICRO-CRÉDITO
Estudo Impacto do Microcrédito
Principais condições de acesso ao crédito:

 Ter um capital social, que é o valor que o membro retêm para ser considerado
membro e ter direito ao crédito;
 Ser membro da associação;
 Ter a sua situação associativa regularizada;
 Ser promotor de um projecto, uma ideia ou ter uma actividade em curso.

Evolução dos créditos concedidos

Sendo esta aplicável no universo dos sócios, não poderia experimentar um crescimento
significativo, a não ser que se aumentasse os sócios ou se estabelecesse paralelamente
um programa aberto às outras pessoas. Porém, parece que não constitui a opção da
organização. A Tabela abaixo espelha o crescimento registado:
Tabela n.º 7 – Evolução dos Créditos Concedidos
Ano 2000 2001 2002 Fev 2003 Total
Nº de créditos 45 152 206 6 409
Montante 1.850 9.625 18.000 850 30.613
Contos

Tabela n.º 8 - Resumo das Condições do Crédito


Grupo Alvo montante Taxa de Taxa Taxa s/ Carência Sistema Prazo
juro serviço poupança garantia financiamento
Membros da Máximo 3,34% 5% 1 a 6 meses Fiador(es) Min 1 mês
associação quatro vezes Aval Max 12 meses
a poupança solidário

A penalidade por atraso inferior a 6 meses consiste numa multa de 500$00 e 1000$00
para período igual ou superior. De salientar a taxa de 100% de reembolso mantida.

Cabe frisar que os fundos provêm da poupança dos sócios, e das doações, tendo a
ADF disponibilizado 11 mil contos, neste caso. O capital social, da instituição, é
constituída pela contribuição dos sócios (jóias) é de 1.000.000$00.

32
COMITÉ DE PILOTAGEM DE MICRO-CRÉDITO
Estudo Impacto do Microcrédito
3.2.5 ADIRV

A Associação de Desenvolvimento Integral de Rui Vaz, é uma associação constituída


pelos moradores de Rui Vaz, criada em 1997, por 20 membros, em substituição da
Comunidade de zona existente desde 1987, com o intuito de resolver os problemas
cruciais da localidade que se impunha com as mudanças climáticas ocorridas e os
reflexos na vida das população.

Actualmente conta com 120 associados, abarcando praticamente todas as famílias da


localidade. É notório o trabalho desenvolvido nesse domínio e cabe destacar a execução
de alguns projectos ligados à reflorestação, conservação de solos, promoção das
actividades económica e sociais dos moradores, no âmbito do Projecto KFW2 do
Ministério de Agricultura.

Enquadrada na sua filosofia de intervenção instituiu a actividade creditícia em Maio de


2002 com a finalidade de atender as necessidades de financiamento das actividades
geradoras de rendimento desenvolvidas pelos membros da Associação (120 sócios). Dá-
se prioridade às mulheres chefes de família, os jovens e desempregados.

O programa de crédito foi montado com apoio e financiamento da ADF.

Estrutura do Programa de do Crédito

Criou-se uma célula para gerir o programa de crédito, composto por:

 Um gestor;
 Um agente de crédito;

 Um contabilista.

A equipa é auxiliada pelo Comité de crédito composto por 5 membros, todos membros
da associação que para além da função de aprovar os créditos submetidos pela equipa
de gestão, auxiliam na análise da componente técnica na medida das suas experiências.

33
COMITÉ DE PILOTAGEM DE MICRO-CRÉDITO
Estudo Impacto do Microcrédito
Condições de acesso:
 Ser membro da ADIRV;
 Ter a sua situação associativa regularizada;
 Ser maior de 16 anos;
 Experiência na actividade que propõe desenvolver;
 Viabilidade da actividade proposta.

Processamento da decisão do crédito


 Candidatura mediante preenchimento da ficha;
 Análise e proposta de aprovação pela agente e o gestor;
 Decisão pela comissão;
 Acompanhamento e reembolso através da agente de crédito.

Área/sectores:
Actividades geradoras de rendimento: Todas as áreas possíveis de se desenvolverem na
localidade com predominância da agricultura e o comércio informal.

Abrangência geográfica: Concelho de São Domingos, localidade de Rui Vaz

Tabela n.º 9 - Evolução dos Créditos Concedidos

Ano Maio 2001 Outubro 2002 Dezembro 2002 Total – Dez 2003
Nº de crédito 20 2 7 39
Montante (contos) 533 110 550 1.193

Regista-se um baixo crescimento devido aos condicionalismo da operância do crédito,


limitado às actividades desenvolvidas pelos membros essencialmente agrícola que por
sua vez dependente da pluviometria bastante irregular e anual. Porém, equaciona-se a
reformulação do programa de forma a alcançar um universo mais lato.
Contudo, vale salientar que a taxa de reembolso tem mantido a 100%

34
COMITÉ DE PILOTAGEM DE MICRO-CRÉDITO
Estudo Impacto do Microcrédito
Tabela n.º 10 - Resumo das Condições de Crédito

Grupo Alvo Montante Taxa Penalização Carência Sistema Prazo


Financiamento de juro por Atraso Garantia Financiamento
Membros da De 20.000$00 a 3% ao 1% sobre o 0-3 meses Fiador(es) Min. 3 meses e
Associação 120.000$00 mês valor da dependendo da membro da Max. 18 meses,
prestação actividade Associação consoante a
actividade.

35
COMITÉ DE PILOTAGEM DE MICRO-CRÉDITO
Estudo Impacto do Microcrédito
O IMPACTO DO MICRO-CRÉDITO

4.1 Metodologia

Para avaliar o impacto, realizou-se um inquérito aos beneficiários das cinco instituições
que compõem o Comité de Crédito. Tendo em conta a quantidade de crédito atribuída
por cada uma das instituições e a distribuição por ilhas, tomou-se por base uma amostra
aleatória que representasse 10% dos créditos atribuídos, guardando as devidas
proporções em relação às ilhas e as instituições.

Partiu-se de uma amostra inicial de 385 inquiridos, mas pela incoerência de alguns dados
facultados, inicialmente, e a dificuldade de contactos de alguns beneficiários, esta foi
reduzida para 235 inquiridos. Considera-se o tamanho atingido satisfatório para a análise
pretendida, uma vez que os casos que ficaram de fora referem-se às instituições com
maior peso e, portanto, os números a estes atribuídos continuam representativo dentro
da amostra.

Para a recolha dos dados, foi elaborado e testado um questionário e os casos foram
escolhidos aleatoriamente durante o processo das entrevistas. Ou seja, utilizou-se o
enfoque do método misto que combina dados do inquérito com os dados de estudo de
caso, na medida em que, segundo AIMS (Management Systems Internacional), os dados
do inquérito nos dão informações sobre a direcção e tamanho dos impactos, enquanto
que os dos casos permitem ver os processos pelas quais produziram o impacto. Por
outro lado, foram feitas entrevistas aos agentes e gestores de crédito com o propósito da
obtenção de alguns elementos que clarificam os factores influenciadores do impacto em
cada uma das regiões estudadas.

Foi utilizado os recursos do Excel e Statistical Package for Social Sciences- SPSS para o
processamento dos dados do inquérito.

Vale salientar que, o estudo abrangeu todas os Concelhos que tivessem um número
mínimo de créditos, tendo sido abrangidos todos os Concelhos da Ilha de Santiago, as
ilhas de Santo Antão, São Vicente e Maio.
4.2 Características dos Inquiridos

Dos 235 beneficiários inquiridos, o gráfico abaixo demonstra a composição por sexo dos
beneficiários.

Características dos Beneficiários

10,6
Homem
1

89,4 Mulheres

Isto demonstra a tendência do micro-crédito para o público feminino, apesar de não


estar explícito nos regulamentos a exclusão dos homens. Isto pode ser explicado por
vários factores, mas limitaremos a dois que para nós tem mais relevância: o facto das
duas maiores organizações (Morabi e OMCV), serem ONG’s de promoção da mulher e,
por outro lado, o nível de desemprego na camada feminina5 representando 38% do
conjunto de pessoas inactivas, sendo a maior concentração na camada juvenil dos 15 a
24 anos. Ainda pode influenciar a maior preocupação das mulheres com o sustento da
família e dos filhos.

O grupo etário dos inquiridos evidencia a participação maioritariamente jovem onde o


grupo dos 20 a 29 anos representa 21,6% e o dos 30 a 39 anos 33,6%. Isto reflecte,
em parte, a própria composição da nossa sociedade por um lado e por outro a taxa de
desemprego entre os jovens, onde aproximadamente 50% dos inactivos situam na faixa
etária de 15 a 24 anos.

Os dados evidenciam, também, uma maior participação de solteiros 38,2% nos


programas de MC. Porém, se juntarmos a união de facto 26,3%, com a condição de
casado, o solteiro fica em minoria. Isto significa que, as mulheres chefes de famílias não
são majoritárias como se pensava. Contudo, deve-se relativizar os dados estatístico, uma
vez que boa parte das entrevistadas revelaram não receber muita contribuição dos
maridos por estes se encontrarem no desemprego ou então sujeitos a trabalhos precários

5
Fonte: Censo 2000 - INE
37
COMITÉ DE PILOTAGEM DE MICRO-CRÉDITO
Estudo Impacto do Microcrédito
ou mesmo pela falta de vontade dos companheiros em contribuírem nas despesas
familiares. Esta situação acaba por relegar a maioria das mulheres a responsabilidade de
chefes de família.

O número médio do agregado familiar é de 6 pessoas sendo que, em 42,5% dos casos
trabalham apenas uma pessoa e em 46,1% dos casos duas pessoas. Isto reflecte a
proveniência do rendimento que muitas vezes são manifestamente insuficiente para
satisfazer as necessidades do lar, sobretudo nos lares onde encontramos número de
pessoas superior a oito pessoas e apenas uma pessoa trabalha.

Os dados atrás apontam para a vulnerabilidade da maior parte das famílias inquiridas, na
medida em que estas dependem desses negócios para a sua sobrevivência. Os dados6
apontam que 46,7% do rendimento dos inquiridos provém do pequeno comércio –
actividade a que dedicam. E em relação a outras fontes de rendimentos estas provêm do
salário e que normalmente é do cônjuge ou algum outro membro do agregado familiar
que trabalha – 34,4%, remessas de emigrantes com 8,7%, agricultura e pecuária 6,7% e
a reforma 3,6%. Deve-se levar em conta, no caso da agricultura e pecuária, que para
além de constituir a actividade básica exercida, muitas vezes complementa o rendimento
das famílias.

O caso n.º 1 abaixo, tipifica o perfil dos inquiridos.

Laurinda, jovem de 26 anos, mãe de quatro filhos, não conta com qualquer apoio do pai
das crianças. Tinha um trabalho precário de limpeza e decidiu enveredar pelo negócio
de compra e venda de produtos diversos, sobretudo alimentar, vendendo à porta do
mercado. Iniciou com 2.000$00, fundo próprio e percebendo que podia sobreviver-se
desta forma solicitou um empréstimo de 20.000$00 junto de uma ONG para reforçar o
negócio.

Deste caso realça-se: a juventude, a responsabilidade de uma chefe de família para com
uma família relativamente numerosa e sem muitas alternativas de emprego, o baixo nível
de escolaridade e falta de formação profissional da jovem. Porém, consta-se que disposta

6
Respostas Múltiplas. Obteve-se 390 respostas nesta pergunta.
38
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Estudo Impacto do Microcrédito
a lutar e com algum dom pelo comércio decide enveredar activamente na actividade com
o financiamento de uma ONG. No entanto, o caso demonstra, de certa forma, a
debilidade financeira desta cliente que representa o quadro da tipologia dos clientes do
micro-crédito.

4.3 Características dos Empreendimentos/Negócios Financiados

A maior parte dos inquiridos não possuem espaço próprio 52,1%, sendo 25,9%
ambulante, e 25,2% vendem na rua (passeios das principais ruas), contra 13,6% que
vendem nas casas, apenas 6,1% tem espaço próprio (oficinas, barracas) e 25,9% vende
nos mercados. Realça-se ainda, que estes espaços próprios são na sua maioria exíguos,
desprovidos de equipamentos suficientes. Por isso, nota-se, a reduzida dimensão dos
negócios financiados.

O ramo de negócio predominante é o pequeno comércio, sobretudo compra e venda de


produtos alimentares, vestuários e calçados e em menor medida venda de alimentos
confeccionados e animais. Em relação à venda de alimentos confeccionados algum outro
já tem dimensão de um pequeno bar e restaurante. O Gráfico abaixo, espelha a
representação de cada um dos sectores no total dos inquiridos.

Participação por Sector

100,00%

80,00%

60,00%

40,00%

20,00%

0,00%
Pequeno Agricultu Transfor
Serviços Pesca
Comérci ra mação
Sector 84,60% 7,90% 4,80% 2,20% 0,50%

39
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Estudo Impacto do Microcrédito
Esta realidade traduz um pouco a dinâmica da nossa economia onde o comércio é
predominante, sobretudo no sector informal. Segundo o inquérito realizado em 1998 pelo
IEFP, estes representam 78,8% do sector.

Esta dimensão do comércio se explica pela não exigência da formação por um lado, e
por outro pelo nível de capital requerido, bastante baixo em relação a outras actividades.
Além do mais, o crédito ao comércio representa para as instituições de crédito menor
risco e por outro lado permite maior rotatividade dos fundos e um acompanhamento
efectivo dos clientes, pois, o acompanhamento do comércio não exige conhecimentos
especiais.

Quanto às outras actividades, temos que levar em conta os vários factores que
condicionam o sucesso e, por conseguinte, a reduzida capacidade de atrair
investimentos. Por exemplo, os sectores agrícola/pecuária requerem acompanhamentos
técnicos por entidades competentes, já que a falta de domínio das técnicas de
tratamento, levam ao fracasso boa parte destes empreendimentos. Esses sectores são
mais exigentes na sua formação inicial porque demandam um saber fazer e como se
sabe, em Cabo Verde, apesar de muitos esforços ainda persiste um déficit importante de
formação profissional. Apesar da eminente oportunidade em algumas áreas, falta o
colmatar dessas lacunas para que mais pessoas sintam atraídas a investir nestes sectores
com alguma segurança de sucesso, porque normalmente os pequenos negócios dada a
sua natureza são criados como uma extensão da ocupação para gerar rendimentos e por
conseguinte, muitas vezes, não se leva em consideração a concorrência, conjuntura e
mesmo uma orientação para o mercado e por isso, na sua grande maioria, têm uma vida
bastante curta. Por outro lado, a sua pequinês, se bem aproveitada, permite-lhe uma
maior flexibilidade na adaptação às mudanças do meio envolvente e sendo assim, o foco
assenta no empreendedor que pode driblar as vicissitudes do meio, determinando ou não
o sucesso do empreendimento.

O caso n.º 2 abaixo, ilustra a relação do tipo de actividade com os investimentos


necessários para o arranque.

40
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Estudo Impacto do Microcrédito
D. Paula vende produtos hortícolas no mercado de Achada, onde tem uma mesa para a
venda. Para iniciar necessitou, apenas, de alguns cestos e bandejas e de uma quantia mínima
de capital para comprar produtos de revenda. Com o crédito recebido reforçou o capital,
aumentou o volume de negócio e obteve mais rendimento. Contudo, a estrutura de negócio
manteve-se sem grandes alterações devido à opção da empreendedora de manter a dimensão
do empreendimento a níveis iniciais. O rendimento obtido é canalizado para a
diversificação do risco em outros negócios e necessidades do lar.

4.4 Situação dos Créditos/Empresas

O estudo demonstra que o crédito é atribuído sobretudo para pessoas que já


desempenham uma actividade, 89,4% dos inquiridos. Apenas 7,7% dos créditos
atribuídos foram para iniciar o negócio, o que sinaliza a percepção de risco por parte das
instituições à estas actividades, principalmente quando são iniciadas. Para a actividade
requerida, o financiamento nem sempre é concedido a 100% pela instituição de micro-
crédito, entrando os beneficiários com uma percentagem significativa. Os dados apontam
que 49,1% dos inquiridos co-financiaram as actividades no primeiro crédito, em
proporções que, em alguns casos, alcançaram 80% das necessidades de financiamento.
Vale salientar que, 50,5% dos inquiridos financiaram 40% das suas necessidades de
financiamento no primeiro empréstimo.

O montante do crédito tem sido escalonado em função da confiança criada junto da


instituição de crédito, aumentando da primeira para as vezes seguintes. A Tabela abaixo
demonstra o valor médio por etapa.

41
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Estudo Impacto do Microcrédito
Número de Vezes Valor Médio

1.ª 35.270$00

2.ª 50.892$00

3.ª 73.810$00

Outras Vezes 93.636$00

O crédito tem sido destinado para a fins mais diversos, concentrando um maior
percentual na compra de produtos para a venda (82,1%). Regista-se 8,1% para o
reforço de capital e em menor medida para outros fins. Normalmente, a aplicação do
crédito não se altera, com excepção de alguns que mudam, principalmente de produtos.

Quanto à utilização integral do crédito para o fim pretendido, 60,4% dos inquiridos
responderam que não utilizam todo o dinheiro disponibilizado, ou seja utilizam parte do
dinheiro para fins diversos de entre as quais destaca-se as despesas do lar, fundo de
risco entre outros.

Este facto não é uma peculiaridade da nossa realidade, pois os estudos apontam que
mundialmente, os beneficiários costumam aplicar o dinheiro para satisfazer outras
necessidades sobretudo constituir poupança para fazer face a situações adversas.

O rendimento proveniente da aplicação do crédito tem sido muito variável dependendo


do ramo da actividade, do perfil do pequeno empreendedor e mesmo da conjuntura. De
realçar que 60% dos inquiridos conseguem rendimentos superior a 50% numa operação.
Há ainda uma parcela significativa 23,9% que consegue 100% de rendimentos (ver
outros rendimentos obtidos em anexo).

Os créditos são na sua maioria bem recentes concentrando-se em 2002 (40,4%) e


25,5% dos casos em 2001.

42
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Estudo Impacto do Microcrédito
Constata-se uma concentração dos empréstimos pela segunda vez, apesar de ter-se
registado um número significativo de créditos pela terceira vez. Essa tendência deve-se à
política adoptada por cada uma das instituições de crédito.

O facto dos créditos serem recentes e a maioria dos clientes terem recebido o crédito
menos de três vezes condiciona o resultado do impacto, já que estudos diversos
demonstram que um impacto significativo se dá a partir do terceiro empréstimo.

O gráfico abaixo evidencia os inquiridos da amostra por instituições. Pode-se constatar


que as instituições de maior peso foram as mais contempladas, dado o histórico e
abrangência em termos de cobertura a nível nacional.

4.5 O Impacto do Crédito na Vida do Cliente

Inquiridos por Instituições

10% 4%
Morabi
15% OMCV
46%
ASDIS
FAMI PICOS
ADIRV
25%

O marco conceptual utilizado7 se concentra na família/lar como ponto central da análise.


Isto porque no contexto dos pequenos negócios a família é o centro e a microempresa
está assente nesta. Por isso, só compreendemos o impacto se analisarmos as várias
facetas da relação da família com a empresa ou seja as decisões nos negócios dependem
de:

 Composição da família/lar;
 A tomada de decisões a nível da família/lar;
 O vínculo da família com outras redes sociais.

7
Um marco conceptual para Análises- extraído do processo de Avaliação de Impacto de AIMS-SEEP (Management
Systems Internacional)- Ferramentas de Avaliação de Operadores de Microfinanças.
43
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Estudo Impacto do Microcrédito
Sendo assim, a análise do pequeno empreendimento carece de sentido se for feito de
forma Isolada. O marco conceptual defende que o impacto se dá em diferentes níveis:

 A nível do lar;
 A nível da unidade económica (empresa);
 A nível individual;
 A nível da comunidade.

44
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Estudo Impacto do Microcrédito
4.6 Quadro Conceptual de AIMS: Níveis e Domínios de Impacto

A Nível da Comunidade
Domínio de Desenvolvimento
 Emprego e Rendimentos;
 Vínculos Anteriores e Posteriores.

AA
A Nível do Lar, Domínios da Segurança do Lar
 Rendimentos Despesas e Activos

A Nível Individual Domínios


A Nível da Empresa Domínios de do Bem Estar
Desenvolvimento  Controle Recursos;
 Base de Recursos;  Influencia na
 Processo de Produção; Tomada de
 Administração; Decisões;
 Mercado e;  Participação

 Redes Sociais;
 Participação Cívica.

Fonte: Processo de Avaliação de Impacto de AIMS – SEEP

45
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Estudo Impacto do Microcrédito
4.7 Impacto no Empreendimento (Empresa)

Percebe-se um impacto positivo na empresa ao analisarmos a evolução do negócio após


o crédito. Isto foi medido através da análise dos seguintes indicadores: volume de venda,
património, número de emprego, visibilidade da empresa, capacidade competitiva entre
outros. Constata-se uma evolução favorável, embora na maioria dos casos esta não
tenha sido forte, salientando algumas mudanças, sobretudo, a nível do reforço do capital
e volume de vendas. No contexto das respostas múltiplas, 42,2% diz aumentar o volume
de venda, 18,2% considera o aumento no património, 4,7% no número de empregos
aumentados, 28% aponta maior visibilidade do negócio e 7,1% aponta para outros como
maior clientela, aumento da capacidade competitiva, entre outros. O gráfico ilustra a
evolução média nas vendas antes e após o crédito.

Média de Vendas Semanais - Antes e Depois do Crédito

40.000

30.000

Valor em $ 20.000

10.000

0
1
Antes 14.121
Depois 30.638

Cabe realçar que, o aumento de volume de vendas tem sido minimizada devido,
principalmente, a conjuntura do país, uma vez que se tem verificado um arrefecimento
das actividades económicas nos sectores como o turismo, industria e comércio. O
arrefecimento do comércio prende-se com o aumento do desemprego sobretudo nos
meios rurais onde não se abriu as frentes de trabalho agravando a difícil situação pela
falta de chuva. As manifestações generalizadas da dificuldade de venda nos últimos
tempos comprovam isso.

46
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Estudo Impacto do Microcrédito
Por outro lado, esse fraco impacto nos negócios deve-se a própria natureza desses
pequenos negócios, ligados à família, e portanto 20,7% do rendimento é utilizado nas
necessidades do lar8, 9% nas despesas com a educação dos filhos, 35,8% para cobrir a
falta de capital noutros negócios da família e 34,4% na constituição de um fundo de
risco. Salienta-se o facto da grande maioria não perspectivar um investimento grande
nos negócios porque preferem manter os níveis mínimos e ir arriscando pouco a pouco,
demonstrando uma visão pouco empresarial dos clientes.

O reflexo no emprego não tem sido muito significativo em termos de geração de postos
de trabalho, na medida em que a grande maioria mantêm-se com o mesmo número de
postos de trabalhos após o crédito. Isto se explica pelo facto de, em função da dimensão
do negócio, a maioria prefere manter-se como os únicos empregados dos seus
estabelecimentos e recorrer ao auxílio dos membros da família, quando necessário.
Importar remarcar a estabilidade do emprego proporcionado aos proprietários.

O aspecto da visibilidade do negócio é notório, o que nos leva a concluir que o MC tem
influência no desenvolvimento empresarial, uma vez que a maior visibilidade costuma
estar associada a maior clientela, maior conhecimento no mercado e, portanto, maior
capacidade competitiva.

Os casos n.º 3 e 4 demonstram o potencial do MC no desenvolvimento dos negócios no


tocante ao aumento do volume de negócios, aumento da capacidade de gestão, geração
de emprego e desenvolvimento da comunidade onde se insere.

Após um período de doença, a jovem Joana, conseguiu retomar a actividade de


venda de produtos diversos no tabuleiro, graças ao crédito obtido para
financiamento desta operação. Sendo de São Domingos, tinha um Tabuleiro no
mercado municipal e com o rendimento conseguido, colocou uma outra pessoa
para vender esses mesmos produtos em Santa Cruz, posteriormente outra em
Assomada e por último uma quarta pessoa no Liceu de São Domingos.
Paralelamente, com o nível de rendimento obtido com essa expansão, mantém
negócios mais avultados de compra de produtos diversos no exterior (Brasil,
Senegal, Portugal) para vender nas diferentes ilhas de Cabo Verde.

8
Respostas múltiplas

47
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Estudo Impacto do Microcrédito
D. Filó após o encerramento do bar onde trabalhava viu-se desempregada e apenas
tinha uma pequena quantia de indemnização que não dava para iniciar grandes
actividades. Sendo assim, começou a produzir salgadinhos vendendo de porta em
porta. Embora o rendimento fosse limitado, conseguia o sustento da família e fazer
alguma poupança. Com a poupança abriu uma espécie de bar na própria casa
vendendo uns aperitivos e bebidas.
Tendo ouvido falar do micro-crédito solicitou um empréstimo junto a uma ONG e
com o montante recebido, reforçou o fundo de maneio numa primeira fase; e nas
seguintes adquiriu equipamentos básicos para o desenvolvimento do seu negócio
como arca, fogão. A dinâmica gerada com esses reforços, fez com que aumentasse o
número de clientes e por isso sentiu a necessidade de um espaço mais adequado à
demanda. Nesta perspectiva, e para sair da clandestinidade tirou a licença de
exploração e alugou um espaço melhor posicionado para o negócio.
Actualmente, conta com muitos clientes, melhor qualidade dos serviços e o local
equipado com equipamentos modernos (televisão, mobiliário, entre outros) e mais um
empregado. Ultimamente, ganhou um concurso para exploração de um espaço no
Centro Comunitário do seu bairro, com efeitos positivos no seu negócio. Vale
salientar que, o financiamento e as formações recebidas em diferentes domínios
ligadas à gestão dentro e fora do País são os responsáveis pelo notável crescimento.

Está patente, nestes casos, as transformações em termos de volume de negócio,


emprego gerado, visibilidade do negócio, aumento dos clientes, entre outros, ou seja
partindo de uma pequena unidade chegou-se a dimensão de uma pequena empresa com
potencial de crescimento.

Porém, nem sempre o sucesso do negócio determina o seu crescimento. Como se referiu
anteriormente o carácter das actividades informais muitas vezes respondem mais à
sobrevivência das famílias e portanto são prioritárias na canalização dos recursos.

O caso n.º 5 exemplifica, com a experiência de uma empreendedora, o aumento do


volume do negócios e a decisão de canalizar o rendimento obtido na educação dos filhos.

48
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Estudo Impacto do Microcrédito
A D. Zinha, encontra-se no seu 4.º empréstimo, tendo começado com um crédito de
30.000$00 para o financiamento de actividades de produção e venda de doçarias (bolos,
cuzcuz, funguinho). Apesar de reconhecer o aumento do rendimento e o aumento do
capital não canaliza esses recursos para financiar o crescimento do negócio mas sim
para a educação dos filhos que se encontram na fase final dos Liceus, melhoria da
alimentação e uma pequena poupança para fazer face a situações adversas.

4.8 Impacto no Lar

É muito mais notável o impacto nesse domínio, onde obtivemos na maioria dos casos
reflexos importantes na melhoria das condições da habitação, aumento de consumo de
bens de conforto, melhoria na alimentação e uma maior capacidade dos beneficiários em
financiarem as despesas escolares dos filhos. Dos entrevistados mais de 90% apontam
que ocorreram mudanças significativas na sua qualidade de vida e de suas famílias após
a obtenção do crédito. Essas melhorias traduzidas numa melhoria em termos da dieta
alimentar, acomodação da habitação (em alguns casos houve a aquisição de uma
habitação própria) aumento do consumo de bens duráveis (electrodomésticos –
Televisão, Frigorífico, Ouro entre outros) e mais folga financeira para co- participarem
nas despesas com a educação dos filhos. Em certos casos, o rendimento obtido com os
empreendimentos financiados, permitiu o financiamento das despesas de estudo
superior. Pode-se dizer que mais de 90% utilizam o excedente na melhoria das condições
sócio-económicas das suas famílias.

O caso n.º 6 e 7, demonstra melhorias no Lar de uma beneficiária da ilha do Maio e uma
de Picus.

A Clorinda dedica ao negócio inter-ilhas Praia - Maio, Maio Praia. Apesar de ter
aumentado, consideravelmente, o Capital do seu negócio, o volume de venda e variedade
dos produtos, aplicou uma boa parte do rendimento nas necessidades do lar, elevando o
nível de conforto da sua família e melhorando o acabamento da sua casa: com mosaicos e
apetrechamento da casa de banho; instalação da água canalizada etc. Além demais,
responsabiliza pela educação dos filhos em melhores condições.

49
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Estudo Impacto do Microcrédito
D. Mariana, mãe de 7 filhos iniciou a sua actividade de compra e venda com recurso ao
financiamento de uma organização do interior de Santiago e o rendimento obtido constitui o
principal sustento da família. Graças aos sucessivos empréstimos e a sua determinação já
aumentou o capital do seu negócio de 20.000$00 para 40.000$00. Contudo, o resultado
mais notório deve-se a outros empréstimos conseguidos junto da mesma organização para o
financiamento da viagem e outras despesas inerentes para a deslocação dos filhos com vista
a continuarem os estudos no exterior. O apoio da mãe tem sido continuado,
complementando o valor da bolsa que auferem. Vale frisar que, o filho mais velho já se
encontra no último ano do curso e o outro já superou o primeiro ano.

Os dois casos acima evidenciam o impacto do crédito na melhoria das condições de vida
das famílias, elevação dos padrões de consumo, com realce para o financiamento da
educação, principal arma de combate à pobreza.

4.9 Impactos nos Indivíduos

Está comprovado por estudos de impacto realizado noutras paragens, como por exemplo
o do Projecto AIMS (Management Systems Internacional) de que apesar de ser
fundamental esta dimensão, a captação desta é difícil pelos dados do inquérito pelo que
o complemento com estudos de casos revela ser adequado para se demonstrar como se
dá este impacto, uma vez que, aspectos como a auto- estima, controlo de recursos, estar
preparado para o futuro são difíceis de se captar com o inquérito.

Baseando nessa experiência, utilizamos os dados do inquérito que incorpora as


manifestações das pessoas quanto às mudanças que incorreram a nível pessoal. Nesta
perspectiva, 49% revelam sentir mais fortalecidas para o futuro e por isso sentem mais
felizes, 29% destacam a autonomia financeira, 10% maior controlo de negócio e 11%
realçam maior conhecimento e credibilidade junto dos clientes, fornecedores
financiadores como dado mais importante. Entretanto, percebemos pelas diferentes

50
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Estudo Impacto do Microcrédito
entrevistas mais detalhes dessas manifestações e estas podem ser evidenciadas em
casos como o n.º 8 abaixo e as manifestações de satisfação registadas.

A Josefa, que antes de tomar o crédito vendia dois ou três produtos, sentiu fortalecida
com o crédito que lhe deu uma autonomia muito grande. Diz sentir-se mais feminina e
respeitada pelos vizinhos e companheiros pela determinação e coragem em investir e
enfrentar dificuldades. Após o crédito, adquiriu o sentido de responsabilidade perante a
preocupação de cumprir com compromissos dedicando assim mais horas ao
empreendimento.

Algumas Manifestações de Satisfação:

“Chinte más disposição pa trabadju e pa vida”

“Gossi ami é bodona”

“Sta Chinti más mudjer”

“cu moral”

“dona de mi”

“sta señora di nha nariz”

“comprometida cu nha nogoci”

“mas valorizada”

“Más confiante”

“Más respetada”

4.10 Casos de Insucesso

Todavia o impacto nem sempre é positiva, apesar dos dados sinalizarem isto. Importa
apontar alguns casos escolhidos de impacto negativo ou mesmo insucesso do negócio,
com o crédito, tendo por base factores endógenos e exógenos.

O caso n.º 9, demonstra a situação vivida por uma clientes após o crédito
51
COMITÉ DE PILOTAGEM DE MICRO-CRÉDITO
Estudo Impacto do Microcrédito
A Sônia, de 35 anos, dedica ao negócio desde criança, tendo sido bem sucedida, até o
primeiro empréstimo no valor de 20.000$00. Ela é rabidante e faz compras e vendas entre a
ilha do Maio e Santiago. No segundo empréstimo não conseguiu reembolsar o crédito pois
dois factores determinaram o insucesso do seu negócio. Foi vítima da perda de um filho nas
condições muito estranha que abalou a sua estabilidade emocional e a capacidade financeira
e ainda por cima tendo um filho deficiente para cuidar. Por outro lado, na venda a prazo,
uma importante cliente por compras não pagas criou-lhe o problema de sustentabilidade do
negócio e hoje ela pergunta se continua ou não no ramo, já que precisa preparar emocional e
financeiramente para isso.

No caso n.º 10, fica evidente que problemas de ordem social podem afectar
negativamente o andamento de uma unidade de negócio.

O Pedro, aprendeu a arte de fazer pães em São Vicente. Começou a produzir pães com o
crédito de fornecedores e não tinha capacidade de resposta à procura crescente do seu
produto. O rendimento dava-lhe para o seu sustento e por isso recorreu ao crédito no valor
de 50.000$00 para aumentar a capacidade produtiva. Depois de um mês, sofreu um roubo,
deixando-lhe sem condições de continuar o negócio, já que detinha dívida a saldar junto à
instituição de crédito.

Os dois casos demonstram como os factores exógenos, que não foram considerados na
hora de determinar o lucro, podem afectar o sucesso dos empreendimentos. No primeiro
caso, o motivo da doença e infortúnios na família como perda de familiares,
condicionaram o decorrer do negócio e levantou dúvidas sobre a sua continuidade e por
isso todo o fundo restante foi consumido pelas necessidades crescentes no momento que
não detinha nenhum rendimento. Isto veio a piorar a situação do cliente que tinha uma
dívida por pagar e que, sendo assim terá que recorrer a venda de algum bem do
património particular para poder liquidar a dívida e não enfrentar as barras do tribunal.

52
COMITÉ DE PILOTAGEM DE MICRO-CRÉDITO
Estudo Impacto do Microcrédito
No segundo caso, o roubo comprometeu o andamento do negócio, encontrando-se este
em situações de dependência de familiares para poder alimentar. Esta situação “bicuda”
parece ser conflituosa, na medida em que fica difícil convencer as instituições do facto,
pela falta de provas e, por outro lado é difícil recuperar o fundo perdido por esta não ter
qualquer seguro.

Estes casos levam-nos a questionar o tipo de segurança que existe para esse tipo de
actividade e a levantar a questão dos serviços que poderão ser criadas para atender
essas necessidades, inerentes à qualquer actividade humana.

4.11 Satisfação/Insatisfação dos Clientes

Pese algumas reclamações dos clientes, a esmagadora maioria (98,2%), manifestam


satisfeitos com o serviço prestado pela instituição de crédito com a qual trabalham. Estas
satisfações são traduzidas no reconhecimento do acompanhamento de crédito pelos
agentes de crédito, pelos aconselhamentos e pela atenção dispensada. Contudo registou-
se algumas reclamações no tocante a:

 Taxa de juro;

 Prazo de pagamento, considerado curto nalguns casos específicos;

 Montante mais elevado;

 Serviço de poupança;

 Necessidade do serviço de formações na organização e gestão dos negócios


(60,9% dos inquiridos).

Vale frisar que, algumas pessoas, mesmo manifestando satisfeitos apresentaram suas
reclamações em forma de sugestão. Contudo, importa fazer alguns esclarecimentos,
contextualizando essas reclamações.

O prazo de pagamento é questionado nalguns casos em que o negócio é condicionado


por constrangimentos dos transportes como é o caso da ilha do Maio. Nesta ilha, o
pequeno negócio de compra e venda, entre Maio e Santiago, pelo facto dos transportes
53
COMITÉ DE PILOTAGEM DE MICRO-CRÉDITO
Estudo Impacto do Microcrédito
serem irregulares (demoras que podem chegar a 20 dias) dificultam a fixação, em
grande parte, de um plano de pagamento de crédito. Alia-se ainda, o risco de perdas
com produtos perecíveis e, sendo assim, esse aspecto merece uma análise e redefinição
das condições de crédito levando em consideração as queixas dos clientes e as
observações dos agentes de créditos, supostos conhecedores de realidades locais.

A taxa de juro é considerada elevada por alguns, mas não existe uma fundamentação
clara. A maioria reconhece que esta questão não lhes afecta no reembolso, porém de
destacar situações menos comuns que merecem considerações e que são casos onde o
cliente decide reembolsar antes do período estabelecido e “não é permitido”. Quer dizer,
mantém-se o valor dos juros para o período curto levando o cliente a decidir por não
reembolsar.

Alguns clientes reclamam pela falta de serviços de poupança inexistente na maioria das
instituições. Outros valorizam a prática de poupança obrigatória praticada por algumas
instituições por fomentar a poupança destes. Sendo assim, poderia-se pensar na
implementação deste serviço em condições que se adeqúem a esse público.

As reclamações sobre o montante tem facetas diversas. Por um lado, relaciona-se com o
tipo de actividade/pessoa e por outro com realidades geográficas. Em relação ao primeiro
depara-se com situações em que o negócio/pessoa justificam montantes superiores aos
limites impostos pelo regulamento ou uma análise pouco cuidada. No segundo aspecto,
destacam os aspectos culturais e condicionalismos de cada uma das ilhas ou regiões. Por
exemplo, nas ilhas do norte como São Vicente um crédito de 15.000$00 é pouco
expressivo para o desenvolvimento de uma actividade, já que as oportunidade de
investimentos são menores em relação a Santiago e os clientes não têm o hábito de
enveredarem por actividades ambulantes. Aliás, regista-se o facto que as vendedoras
ambulante serem quase todas oriundas de Santiago, preenchendo uma lacuna nos
negócios na ilha.

Em Santo Antão algo similar se verifica com o agravante do isolamento de certas


localidades e o fraco poder de compra da população, obrigando os operadores a
deslocarem a centros urbanos ou a ilhas vizinhas tornando o negócio pouco lucrativo.

54
COMITÉ DE PILOTAGEM DE MICRO-CRÉDITO
Estudo Impacto do Microcrédito
Neste caso, impõe-se o envolvimento das autoridades na superação de alguns
constrangimentos e potencializando novas oportunidades de negócio.

A formação foi a mais sugerida e é reconhecida por muitos como um factor importante
de crescimento dos negócios, uma vez que os clientes, na sua grande maioria, praticam
as suas actividades para o sustento e não possuem visão empresarial. Denota-se que, os
clientes que já atingiram um certo nível de desenvolvimento têm predisposição para
aprenderem e desenvolverem as suas actividade com base numa lógica menos familiar e
mais empresarial, faltando para isso que as instituições apresentem serviços
complementares neste sentido.

Pode-se concluir que, há um alto grau de satisfação por parte dos clientes pelos serviços
prestados mas algumas reclamações apresentadas impõe a reflexão sobre o
desenvolvimento dos diferentes programas e do Comité, ajustando-lhes na medida do
possível às necessidades dos clientes e peculiaridades regionais, com vista a se alcançar
um maior impacto.

Níveis de Explicação entre Algumas Variáveis Analisadas

Buscando encontrar níveis de explicações entre algumas variáveis, aplicou-se a regressão


entre varáveis que poderia representar alguma relação. Nestas regressões efectuadas,
constatamos que não existe um alto nível de explicação entre as mesmas, ou seja
considerando as variáveis independente e dependente: instituição que tomou o crédito e
a avaliação do benefício do crédito por parte dos clientes; Ilhas inquiridas e a utilização
do dinheiro para o fim pretendido; Rendimento que teve, ramo de negócio e instituição
que tomou o crédito; Satisfação com a instituição de crédito e concelho/ilhas.

A maior explicação foi encontrada pelas variáveis Concelho e satisfação com instituição
de crédito e rendimento que se obteve com aplicação do crédito. Isto prende-se com as
diversas considerações feitas anteriormente em relação aos condicionalismos das
diversas ilhas/concelhos.

55
COMITÉ DE PILOTAGEM DE MICRO-CRÉDITO
Estudo Impacto do Microcrédito
Conclusões e Recomendações

A contribuição do micro-crédito para a melhoria das condições sócio-económica dos


indivíduos é inegável, facto corroborado pelo presente estudo.

De uma forma geral, o grupo que acede ao micro-crédito possui parcos recursos, tendo
muitas vezes o rendimento das actividades geradoras de rendimento como única fonte
de rendimento da família e uma importante alternativa de emprego. As mulheres
constituem a maioria o que dá uma certa garantia de partilha dos benefícios no lar, já
que demonstram mais preocupadas com o bem estar da família.

O financiamento das suas actividades pelo micro-crédito se adapta às necessidades


desse grupo porque são montantes baixos que satisfazem as suas necessidades de
investimento e tem a particularidade da utilização mínima da burocracia, facto muito
valorizado por esse grupo mais do que a diferenciação nas taxas de juro aplicada se
comparada com as do mercado financeiro. Além do mais, o papel do agente de crédito
como elo de ligação entre o cliente e a instituição lhe dá mais confiança em prosseguir,
uma vez que lhe ajuda a tomar decisões mais acertadas quanto ao volume de
investimento e lhe auxilia na tomada de medidas quando algo começa a funcionar fora
do planeado, diminuindo assim, o risco de incumprimento e aumenta as chances de
sucesso.

Em Cabo Verde, existe um mercado potencial importante para a prática do micro-crédito


dada os condicionalismos estruturais, ou seja:

 Uma taxa de desemprego superior a 20%;

 Um acentuado nível de pobreza, estimada em cerca de 30% da população;

 O relativo atraso económico em que se encontra votada a população rural,


tornando-as dependente das fainas agrícolas que por sua vez está condicionada à
irregularidade pluviométrica, característica do arquipélago.
Esta última questão tem sido amenizada com o recurso a empregos públicos (FAIMO),
mas este é muito contestada actualmente, pelo que se perspectiva a sua extinção. Aliás,
nos últimos dois anos o número de empregos vem diminuindo por esta via, encontrando-
se as autoridades em busca de solução para este problema. Este constrangimento,
potência a informalidade que por sua vez potência o micro-crédito, ou seja perspectiva-
se um aumento de demanda da actividade geradora de rendimento.

O potencial existente nesse domínio ainda é pouco explorado devido à limitação dos
programas de créditos que subsistem graças aos fundos disponibilizados pelos doadores,
manifestamente insuficientes para atingirem o mercado potencial. Viu-se que o Comité
de Pilotagem constituído por operadores de MC mais dinâmicos, ainda não alcançarem
4000 clientes9 e, isto se explica pela pouca experiência e, também, pelas próprias
limitações dos programas e do sistema. Vale frisar aqui a constatação da falta de
entidades de promoção que abarcam outras necessidades do sector informal e a falta de
um quadro legal para o MC10.

Contudo para o público alcançado realça-se as importantes contribuições do MC na luta


contra a pobreza e no reforço da capacidade empresarial em Cabo verde, pois:

 permite que muitas famílias iniciem uma actividade que lhes dêem um rendimento
superior às FAIMO;

 obtenção de mais rendimento que é canalizado para as necessidades da família,

 permite uma elevação do padrão de consumo, facilitando o acesso a outros bens


básicos como o de saúde, educação;

 possibilita às pessoas tomadoras do crédito a elevação da auto-estima, da


dignidade e mesmo mais consciência do papel que desempenham nas suas
comunidades;

9
Dados de Dezembro 2002
10
O Banco Central estuda a regulamentação deste sector.
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Estudo Impacto do Microcrédito
 Estimula e potencia o empreendedorismo, uma vez que desperta muitas pessoas
para questões fundamentais de empreender, quais sejam assunção de risco
calculado, respeito pelos compromissos entre outros.

Porém, os resultados do impacto não são iguais para todos os casos dependendo de
alguns factores que reforçam ou minimizam esse impacto. De destacar os factores
estruturais e conjunturais que no caso do nosso estudo afectam negativamente. O
abrandamento da economia, o mau ano agrícola nos dois anos e a não abertura das
Frentes na maior parte das zonas rurais, condicionaram a dinâmica das actividades
informais, afectando negativamente o mercado consumidor e, consequentemente, teve
repercussões negativas nas vendas e no rendimento dos empreendimentos. Por outro
lado, a falta de estruturas de promoção das actividades geradoras de rendimento que se
interligam com organismos de formação, entidades especializadas nas práticas de
agricultura/pecuária diminui o potencial do desenvolvimento desses negócios.

Aspectos culturais de cada uma das regiões também tem as suas influencias. Por
exemplo, o pessoal de Santiago está mais pré disposto, sobretudo no meio urbano, de
começar um negócio bem pequenino até de venda de guloseimas nas bandejas.
Enquanto os do Norte, ilha do Maio têm mais resistência pela pouca tradição da venda
ambulante e do negócio estar associado a empreendimentos maiores com mais exigência
do capital.

Ressalta-se também, a falta de protecção de riscos de doenças, roubos como factores


que podem minimizar o impacto.

Factores que contribuem para maior impacto

Ficou comprovado a utilização da caixa do negócio nas necessidades do lar como algo
inerente e que às vezes acarreta riscos para a continuidade do negócio. Porém, o
controlo da saída de dinheiro para as necessidades familiares parece ser o diferencial e
isso tem muito a ver com a pessoa (empreendedor). Portanto, o diferencial mais
importante na hora de se conseguir maior rentabilidade tem a ver com a pessoa mais do
que o meio envolvente.

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COMITÉ DE PILOTAGEM DE MICRO-CRÉDITO
Estudo Impacto do Microcrédito
O funcionamento dos programas, quando melhor ajustado às necessidades dos clientes
pode contribuir para melhorar o impacto. Constata-se que, o acompanhamento dos
agentes de crédito, é dificultada muitas vezes pela falta de capacidade das instituições
em proporcionar um serviço eficaz dos agentes de créditos.

Recomendações/Sugestões

Os níveis de impacto alcançado pelo Comité de Pilotagem alicia o trabalho mais afincado
no sentido de abranger maior público, pois a exploração do potencial do mercado de MC
está muito aquém do desejável.

Um maior impacto do programa passaria não só pela mobilização de capitais mas


também pelo aprimoramento dos diferentes programas e da organização das Associações
de Microfinanças e pela facilitação de um ambiente favorável ao desenvolvimento do
sector.

Assim sendo, recomenda-se intervenções a dois níveis:

1. Programas das instituições membros do Comité;

2. A nível do comité de pilotagem.

Em relação ao primeiro:

1. Que os programas sejam aprimorados tendo em conta as contestações dos


clientes, analisando os prazos, taxas de juro, montante em função das diferentes
realidades regionais; cada programa deverá para além dos procedimentos definidos ser
mais flexível adaptando às diferentes circunstâncias;

2. Quanto ao montante máximo e mínimo, por exemplo, para além da sua definição
em função da actividade deve-se considerar sobretudo o potencial do empreendedor e
das oportunidades reais do negócio. Em certos casos, o nível de análise ultrapassa a
competência dos agentes pelo que seria salutar:

 Um maior entrosamento com o gestor na análise;

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COMITÉ DE PILOTAGEM DE MICRO-CRÉDITO
Estudo Impacto do Microcrédito
 Formações contínuas dos agentes;

 Troca de experiências entre os agentes, orientados por especialistas na análise de


crédito/risco.

3. As taxas de juros a aplicar dependem dos custos dos fundos obtidos, dos custos
de funcionamento dos programas, dos riscos associados e das margens de lucro que se
quer ter. As taxas de juros aplicadas por cada uma das instituições são muito superiores
às taxas de juro de mercado. O ideal seriam taxas de mercado ou mais próximas do
mercado. Sendo assim, seria oportuno trabalhar no sentido de se ganhar mais eficiência
diminuindo os custos de funcionamento, procurando fontes mais baratas de
financiamento e procurando fórmulas que visem minimização de riscos dos diferentes
sectores que recorrem ao crédito. Esta minimização passaria pela parceria com outras
instituições ligadas ao desenvolvimento das actividades geradoras de rendimento, no
intuito de contribuir para o sucesso dessas actividades;

4. Percebe-se uma contemplação do sector produtivo no conjunto das actividades


financiadas. Isto deve-se à diversas razões atrás apontadas, entre as quais se destacam
os problemas estruturais do País. Para que haja uma inversão desta tendência os
esforços necessários ultrapassam as instituições individualmente. A nível do Comité
poderia-se concentrar os esforços individuais encetando parcerias no desenvolvimento do
sector produtivo. O desenvolvimento implicaria não só o trabalho a nível de domínio das
diferentes técnicas de produção, higiene, a primazia pela qualidade mas também o
desenvolvimento dos mercados. Esforços deveriam ser despendidos para se encontrar
clientes (empresas estabelecidas ou a criar que comercializem esses produtos
devidamente certificados). Ademais, outros produtos de simples produção e aceitação
pelo mercado deviam, ser estudados para a introdução da sua produção por pequenos
artesões, sobretudo jovens. Nesta óptica, um trabalho interessante seria parceria junto
da Câmara de Comércio, no sentido de propiciar a terceirização de determinadas
empresas que seriam fornecidas por pequenos empreendimentos. Ainda poderá
contribuir para esse desenvolvimento o intercâmbio de experiências com realidades
próximas a Cabo Verde no domínio de produção artesanal ou semi-artesanal;

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COMITÉ DE PILOTAGEM DE MICRO-CRÉDITO
Estudo Impacto do Microcrédito
5. A caixa única e o desvio do dinheiro, característico dos pequenos
empreendimentos constitui um perigo quando mal utilizado. Assim, o papel das
organizações de crédito é importante no desenvolvimento da capacidade empreendedora
através da formação nas suas diversas formas:

 Aconselhamento;

 Formação em sala;

 Intercâmbios com exposição de testemunhos de casos de bom uso de


caixas dos negócios e impacto inerente.

6. Os clientes que ultrapassam o montante máximo das instituições representam


uma perda neste momento para essas organizações mas estas não se encontram
capacitadas para trabalhar com montantes muito superiores aos limites estabelecidos. A
solução poderia passar-se pela criação a nível do Comité de uma entidade em créditos de
montantes superiores em que o pessoal afecto seria capacitada para avaliar
investimentos que comportam maiores riscos;

7. Um serviço de reclamação seria importante, na medida que se acolheria as


reclamações/sugestões dos clientes e estes seriam analisados por uma comissão dos
programas e mesmo em certos casos levados a nível do Comité de Pilotagem. Isto
permitiria maior satisfação dos clientes e, consequentemente, o crescimento das
organizações;

8. A actuação mais activa dos agentes de crédito, munindo-lhes de condições para o


trabalho, pois em certos programas constata-se a falta de transportes, seguimento
regular e capacitação dos agentes de crédito com reflexos nos níveis de serviços
prestados e impacto dos programas;

9. Percebe-se alguma limitação do programa de gestão de crédito utilizado


actualmente pelas diferentes organizações. Neste sentido, urge desenvolver sistemas
informáticos adequados aos programas de MC imprimindo maior rigor na gestão e
controlo dos empréstimos;

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COMITÉ DE PILOTAGEM DE MICRO-CRÉDITO
Estudo Impacto do Microcrédito
10. A capacitação dos responsáveis e colaboradores no uso de base de dados e
contabilidade do programa acima referenciado seria pertinente, para uma maior eficácia
na gestão dos créditos. Tendo em conta que os dois últimos pontos abrangem a todas as
instituições membros a tarefa do desenvolvimento e implementação do programa caberia
ao Comité de Pilotagem, como até então tem sido neste aspecto.

Em relação ao segundo:

1. O funcionamento do Comité de Pilotagem como um órgão de gestão para


trabalhar verdadeiramente como uma instituição de nível superior às organizações
membros, oferecendo apoio técnico, prover recursos financeiros, mobilizando recursos
mais baratos para conceder em forma de crédito às organizações filiadas, constituir
ponto de referência para o desenvolvimento de tecnologias e inovação; propiciar
ambiente favorável ao negócio;

2. Urge Implementar uma estrutura de gestão apropriada ao desenvolvimento do


Comité de Pilotagem com um núcleo de gestão próprio e independente;

3. O Comité com a nova estrutura deveria ocupar-se das necessidades individuais de


cada uma das organizações, monitorando o desenvolvimento destas na sua
transformação em instituições especializadas no MC;

4. O Comité de Pilotagem assumiria a articulação com os Bancos Comerciais e


instituições financeiras internacionais e o próprio governo na captação de recursos no
exterior e, por conseguinte, a custos menores e repasse à actividades de micro-crédito;

5. O Comité poderia ter a intervenção a nível de operador de crédito trabalhando


com clientes que requerem montantes superiores aos concedidos pelos membros mas
este serviço deveria ser diferenciado do de promoção atrás mencionado;

6. O comité como organismo de concertação e pilotagem das políticas do sector


deverá apresentar propostas concretas para o governo, no sentido da criação de um
ambiente favorável em que a definição dos papeis dos diferentes actores ficasse claro.
Nesse último, de remarcar o envolvimento dos Municípios, das Associações do
Desenvolvimento local, os doadores e o governo na definição de um ambiente favorável
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Estudo Impacto do Microcrédito
ao negócio no sector informal. No caso dos municípios o seu envolvimento se justifica
sobretudo pelo enquadramento das actividades financiadas pelas das normas e leis
municipais, uma vez que muitas actividades informais representam problemas diversos
para as autoridades como a saúde pública, a organização urbana originando em certos
casos conflitos entre as entidades municipais e os operadores económicos resultando,
muitas vezes, em prejuízo financeiro para os últimos;

7. No domínio de concertação de políticas deverá desenhar estratégias que reverta o


quadro de fraco financiamento das actividades produtivas. O fortalecimento do sector
produtivo implicaria o entrosamento dos programas de crédito e as políticas sectoriais.
Neste sentido, a promoção de parcerias com entidades competentes em diferentes
matérias com o Comité no sentido de propiciar maiores condições da capacidade
produtiva nomeadamente técnicas agrícolas e pecuárias, formações técnico-profissionais.
Em todo este processo o Comité seria o propulsor desta dinâmica.

8. Estudar a possibilidade da criação de instituições especializadas em outros


domínios de microfinanças, como por exemplo os seguros.

9. A capacitação dos pequenos empreendedores nos diferentes níveis de gestão e do


ambiente do negócio poderia-se passar pela criação de um sistema adequado de
definição de materiais didácticos, manuais, etc. a nível do Comité ou de uma entidade
que esteja em articulação com o Comité.

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Estudo Impacto do Microcrédito
BIBLIOGRAFIA

Simpósio Internacional sobre o Microfinanciamento e promoção de Micro e pequenas


Empresas- F. Shodjai, Y. Fournier, O. Correia e M. Hamp – Julho 2000

Diagnóstico da Situação Actual da Micro-Finanças em Cabo Verde – João pinto serra e


João Manuel Almeida

Papel do Micro-crédito na Luta contra a Pobreza- Amélia Figueiredo

O Processo de avaliação de Impacto de AIMS-SEEP- Site do projecto da AIMS na Rede,


www.mip.org

Microcréditos. Un médio efectivo para el alívio de la pobreza – Barbara Mena –


http//www.cambiocultural.com.ar/investigación/microcredito.htm

Sistema de Crédito para Microempresas- pesquisa preparatória- Dr. Anja Lepp, Gabriel
Heber, Betina Wittlinger – IPC – Cooperação austríaca cabo verde

Introdução ao microcrédito- comunidade solidária- brasil-

A tecnologia do Microcrédito – Valdi de Araújo Dantas

Inquérito sobre o sector Informal (1997) – Instituto de emprego e formação profissional

Artigos da SOS FAIM, Extraídos da Internet

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Estudo Impacto do Microcrédito
Anexos – Questionário, Estatísticas Discretivas e Regressão

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