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Fundamentos históricos
do serviço social II
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e Distribuidora Educacional S.A.
ISBN 978-85-68075-34-0
CDD 361.008
Introdução ao estudo
Nesta unidade, abordaremos os principais contornos da sociedade brasileira
entre os anos de 1956 e o segundo governo da ditadura militar, período de
intensas mudanças e que se configurou determinante para o perfil que o Brasil
assume perante a América Latina.
Nesse sentido, enfatizamos que o pretendido nestas primeiras páginas não
é munir o discente de um vasto conteúdo histórico concebido nas graduações
específicas ao tema, mas, sim, proporcionar um panorama sob a visão geral
da sociedade brasileira.
Assim, convida-se o leitor a mergulhar na história e visualizar os profissionais
que se dedicavam ao seu exercício, a fim de que munidos desses conteúdos
possamos avançar para a compreensão da erosão do serviço social tradicional.
Boa leitura.
Ele alcançou cerca de 1/3 dos votos válidos, com 33% dos votos, ficando,
assim, à frente do segundo colocado, o candidato Juarez Távora da União De-
mocrática Nacional (UDN). Destaca-se que naquele período o pleito eleitoral
era disputado em turno único, não havendo, dessa forma, uma disputa entre
os dois candidatos mais votados.
JK iniciou a gestão presidencial em janeiro de 1956, encerrando-se em
1961, quando então assume a presidência da república o candidato eleito
democraticamente, o Sr. Jânio Quadros. O governo de Juscelino Kubitschek
ficou conhecido pelo grande salto no processo de industrialização do país,
lançando o seu plano de governo denominado Plano de Metas, sendo este
um programa de governo que tinha como slogan “Crescer cinquenta anos
em cinco”, realizando, assim, um projeto desenvolvimentista em nosso país,
principalmente com investimentos nas grandes indústrias de base, como as do
ramo do transporte e da mineração (RODRIGUES, 1999).
É então no governo de Juscelino que esse impulso no planejamento se faz
mais presente enquanto forma de administrar o país, o que anteriormente não se
registrava com grande relevância, não conferindo grandes méritos a ferramenta
de planejamento.
Bierrenbach (1981) destaca que o Plano de Metas pode ser considerado a
primeira tentativa de sistematização de planejamento no Brasil, e que o presi-
dente daquele período deu especial atenção a esse plano como meio de supe-
ração do subdesenvolvimento, sendo este identificado como um instrumento
coeso e consistente, características estas que não foram percebidas nos planos
anteriores nos demais governantes do país.
Podemos perceber esse impulso no processo de crescimento do campo
industrial nas palavras de Raquel Raichelis:
Um novo período no processo de crescimento industrial
inaugura-se a partir de 1956 com o governo de Juscelino
Kubitschek. Verifica-se, a partir desse momento, um novo
desempenho do Estado no que se refere ao incremento
do processo industrial, a partir das facilidades que abre
para a penetração das corporações multinacionais (RAI-
CHELIS, 1988, p. 36).
Atividades de aprendizagem
1. O governo de JK traz um grande impacto para o Estado brasileiro, no
entanto, temos como destaque de sua gestão um processo de planeja-
mento. Relate qual a denominação atribuída a seu plano de governo
e qual a tonalidade desse processo.
2. Na gestão do governo de JK temos a busca pela inversão da vocação
econômica do país. Destaque qual a tônica que JK buscava dar a eco-
nomia brasileira e seu o impacto nesse setor?
Silva (2000) acrescenta que os sinais dessa crise podem ser confirmados, nas
várias tentativas de planejamento econômico que se sucederam desde o início
da gestão de Jânio Quadros até o ano de 1964, as quais tentaram contorná-las
no então governo de João Goulart. Nesse quadro já se considerava a inflação
como algo grave dentro do efeito da política desenvolvimentista assumida na
gestão de JK.
Destacamos que a gestão do presidente Juscelino Kubitschek conseguiu es-
truturar um parque industrial forte, como visto centrado nas grandes empresas de
base, com grande incentivo ao capital externo no entanto, debilitou em grande
parcela o empresariado nacional, que se viu atrelado as empresas estrangeiras
para poder se manter vivo na economia nacional (BIERRENBACH, 1981).
Contudo, vamos iniciar nossa reflexão sobre esse período destacando o
processo histórico que leva o candidato Jânio Quadros a ascensão à presidência
da república em janeiro do ano de 1961.
Queler (2010) destaca que Jânio Quadros nasceu no Estado do Mato Grosso,
na cidade de Campo Grande, atualmente Mato Grosso do Sul, filho do médico
Gabriel Quadros.
A família veio a residir posteriormente em São Paulo, onde Jânio Quadros
se graduou em direito. O autor destaca, ainda, que o candidato lecionava aulas
de geografia e português nos colégios Vera Cruz e Dante Alighieri, tradicionais
colégios de São Paulo e que esse ofício impulsionou sua carreira política, le-
vando a assumir o cargo de vereador de São Paulo ainda na década de 1940.
Queler (2010) afirma também que em um curto período de tempo (cerca
de 13 anos), o Sr. Jânio Quadros tem uma carreira política ascendente vertigi-
nosa, passando de vereador da cidade de São Paulo a deputado estadual e, em
seguida, assumiria a prefeitura da capital do Estado.
Não obstante, seguindo sua carreira política, o candidato conseguiria
também ganhar as eleições para governador do Estado de São Paulo e
posteriormente ganharia as eleições para ser deputado federal, até que, em
seguida, atingiria a vitória na candidatura de presidente da república.
Nesse sentido, com o seu plano de frear a inflação, Jânio desagradou às classes
sociais do país, tanto aqueles que dispunham de grande poder econômico ligados
à classe política e que detinham grande poder, quanto àqueles que dependiam
de seu rendimento mensal proveniente da exploração de sua força de trabalho.
Não obstante, o autor destaca que a elevação dos preços dos produtos de
consumo fez desgastar a imagem popular do então presidente, chegando a
ser acusado de antinacionalista e atrelado aos interesses do Fundo Monetário
Internacional (FMI), de quem contraía empréstimos para tentar conter a crise.
Para contornar essa crise, Silva (2000) afirma que Jânio Quadros buscou
distanciar-se do alinhamento automático ao bloco imperialista capitalista, tendo
uma posição mais independente quanto à política ideológica internacional que
opunha os blocos socialistas e capitalistas. Tal medida desagradou os Estados
Unidos da América, que buscavam a sua hegemonia ideológica na América
Latina em um tempo de guerra fria e instabilidade mundial.
Embasados pelo pensamento acima, temos, então, que o medo das elites
políticas nacionais sobre os rumos do governo brasileiro na presidência de João
Goulart, levou a um acordo que mudou o regime político nacional, cerceando
ao presidente os seus poderes e conferindo esse poder a um terceiro sob os
olhos atentos do Congresso Nacional. Estava, assim, instituído um regime par-
lamentarista no Brasil.
Atividades de aprendizagem
1. Segundo os autores que apoiam os conteúdos desta unidade, relate
sobre a relevância do serviço social no período do governo de Jânio
Quadros.
2. Com base nos pressupostos descritos nesta seção, descreva o que
foram as reformas de base.
Atividades de aprendizagem
1. O que foi o último regime ditatorial no Brasil e o que ele interrompe
naquela conjuntura.
2. A tônica das prioridades do governo militar nesse período era conter
a inflação e retomar o crescimento. Nesse sentido, tendo os canais de
participação popular encerrados, como era pensada a política social?
Fique ligado!
Vimos nesta unidade que na década de 1950 temos um novo estágio do
desenvolvimentismo elevando o rol das indústrias de base no país.
Percebemos que o governo de JK se alicerçou em um processo de pla-
nejamento, cunhados no Plano de Metas, deslocou a capital do país
para a região central e contraiu um volume significativo de empréstimos
a ser saudado no governo de Jânio Quadros.
Vimos ascensão dos governos populistas e seu apelo para as interven-
ções nas áreas sociais, sem, contundo, romper com as classes abastadas
e mais influentes nesse processo.
Vimos que o governo de João Goulart busca implantar as Reformas de
Base no Brasil, o que gera insatisfação e das elites e corrobora para o
golpe militar.
Percebemos que o golpe militar implanta novamente um período de
autoritarismo e revela traços significativos de atentado aos direitos
humanos.
Referências
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NOBLAT, Ricardo. Sob as ordens de Brasília. Nosso Século. 1960/1980. São Paulo: Abril
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QUELER, Jefferson José. Dossiê 1946-1964: a experiência democrática no Brasil. Quando
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RODRIGUES, Marly. A década de 50. Populismo e metas desenvolvimentistas no Brasil. 4.
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Introdução ao estudo
Nesta unidade abordaremos as principais características do serviço social
realizado no Brasil até o final da década de 1950, destacando suas metodo-
logias cunhadas pelo perfil estrangeiro, com destaque para a influência da
Europa, que primeiramente influenciou a profissão e, em seguida, abordando
as perspectivas de influência Norte-americana com sua metodologia cunhada
pelo perfil funcionalista.
Assim, abordaremos, a priori, os aspectos débeis de metodologias rígidas
que não se adaptavam com a dinâmica sociopolítica da América Latina.
Nessa direção, ao aprofundar nessas análises, conheceremos as fragilidades
que levaram a uma crítica do serviço social tradicional, a qual se generalizou
por toda a América Latina, tanto interna, quanto externamente, levando a sua
superação ao longo da história.
Tal superação necessária para o serviço social não encontra terreno de
crítica restrito ao Brasil, mas sim, em todo continente latino-americano, com
destaque principalmente para os países do cone sul, como Argentina, Chile e
Uruguai, que, em conjunto com o Brasil, iniciam o denominado Movimento
de Reconceituação do Serviço Social.
Não obstante, também abordaremos nesta unidade as perspectivas em que se
dirigem a vanguarda da profissão, ora pendente para um viés conservador, ora
com viés mudancista, mas sempre direcionados para superação do tradicional.
No que toca às posturas que buscam a superação do serviço social tradicio-
nal, sem, contudo, realizar profundas alterações em seu sentido, veremos que a
proposta conservadora altera apenas a roupagem do serviço social tradicional,
mas não supera a essência de suas bases, pretendendo apenas se modelar às
condicionalidades que a época exigia. No entanto, tais alterações não entram
em conflito com as camadas mais conservadoras que circulam na profissão.
Na outra vertente de alterações profissionais, o que Maria Ozanira Silva e
Silva (2011) denominou de posturas mudancistas encontra-se um serviço social
questionador que não se contenta em mudar apenas sua roupagem, mas busca
um sentido mais crítico na profissão, entendendo que essa profissão deve supe-
rar o crivo das ideologias religiosas e também a fé em uma ideologia abstraída
da realidade, se vinculando, assim, com pensadores mais voltados à esquerda
e se mobilizando em favor das classes populares.
Nesses termos de Netto (2011) não queremos enfatizar que o serviço social
não teria aqui conflitos anteriormente à década de 1960, porém queremos
destacar que seu período de maior processualidade de transformações se dá
a partir dessa data. É a partir de 1960 que se adensam as transformações na
profissão que são processadas por pressões intrínsecas e extrínsecas a ela, e
que se remetem ao conjunto maior das relações sociais vigentes.
Nesse sentido, temos que a gênese do processo de renovação da profissão
tem seu registro na intenção de laicização do serviço social, buscando se
afastar de seus credos religiosos que concebiam a profissão como um aperfei-
çoamento da caridade, de onde saem seus berços maquiando a questão social
das décadas de 1930 em diante (IAMAMOTO, 1982).
Essa laicização, ou seja, esse afastamento de sua vinculação com os credos
religiosos, é, sem dúvida, ponto determinante para entender o afastamento da
profissão com práticas reiterativas e ideologias que não explicavam o cenário
da época. No entanto, é necessário enfatizar que ainda que se iniciem no limite
Silva (1984), justificando a influência dessa corrente, destaca que tal pers-
pectiva se faz pela busca de influência econômica e cultural que os Estados
Unidos tentavam consolidar após a Segunda Guerra Mundial sob o continente
Latino Americano.
A partir desse período a intervenção do serviço social será cada vez mais
requisitada, uma vez que mesmo com a intensificação do processo capitalista
em nosso país, a taxa de exploração da força de trabalho somente se eleve, não
registrando ganhos reais a classe trabalhadora e tendo muitos dos sindicatos
sob os olhos e as mãos vigilantes do Estado.
Acrescenta-se aqui o adensamento das expressões da questão social também
influenciado pela imigração das zonas rurais para os centros urbanos, o que
vai agravando as expressões da questão social.
Observa-se nessa base que há também tensões junto a ciências sociais, as-
sumindo correntes teóricas mais críticas e absorvendo o discurso da necessária
ultrapassagem do subdesenvolvimento a que estava submetido o continente
Latino Americano até aqui.
Esse processo de gradativa falência do serviço social tradicional, que no
Brasil vai se aprofundar com a ditadura militar, instaurada no final da primeira
metade da década de 1960, gesta polêmicas e conflitos no interior da profis-
são, não negando totalmente as posturas conservadoras e ao mesmo tempo
buscando inovar a profissão como um todo.
Netto (2011) destaca três elementos relevantes para entender a erosão do
Serviço Social tradicional no Brasil.
[...] despontam três elementos que são absolutamente
relevantes para detectar a erosão do serviço social tradi-
cional: primeiro, o reconhecimento de que a profissão ou
se sintoniza com “as solicitações de uma sociedade em
mudança e em crescimento” ou se arrisca a ver seu exer-
cício “relegado a um segundo plano”; em consequência,
levanta-se a necessidade “de [...] elevar o padrão técnico,
científico e cultural dos profissionais desse campo de
atividade”; e finalmente, a reivindicação de funções não
apenas executivas na programação e implementação de
projetos de desenvolvimento (NETTO, 2011, p. 139).
E é assim que forçado por aspectos internos à profissão, mas tencionado prin-
cipalmente pela conjuntura da época que o serviço social tradicional no Brasil
vem a ter suas bases de legitimidade questionadas, de onde não há mais espaços
para as práticas empíricas de cunho confessional, ou ainda de ações limitadas a
números restritos em modelos de intervenção em casos e grupos, necessitando se
reformular em diversos aspectos para ter a sua relevância profissional resguardada.
Faleiros (2005) também discorre sobre o tema:
A mobilização social e política da sociedade e a mobi-
lização interna dos assistentes sociais põem em relevo
a crise da profissão em meados dos anos de 1960: sua
desqualificação no mundo científico-acadêmico, sua
inadequação “metodológica” com a divisão em serviço
social de caso, serviço social de grupo e desenvolvimento
de comunidade e a ausência de uma teorização articu-
lada. Suas práticas mais significativas se faziam longe dos
graves problemas sociais, sem consonância com as ne-
cessidades concretas do povo. As ações de transformação
ficavam “à margem” (FALEIROS, 2005, p. 26).
O mesmo autor aponta três vetores significativos para dar vazão a esse pro-
cesso de erosão do serviço social em escala internacional e que aproveitava
dessa conjuntura sociopolítica descrita anteriormente.
O primeiro se refere a uma necessária revisão crítica dentro do universo
das ciências sociais. Essa revisão afeta o embasamento científico da profissão
a qual mantinha a sua aproximação com a ciência sociais. Nesse sentido,
temos que um dos aspectos determinantes para a ultrapassagem do serviço
social tradicional é a revisão no interior das ciências sociais, buscando uma
postura a romper com as ideologias mais conservadoras.
Outro ponto destacado por Netto (2011), como vetor determinante para essa
erosão, diz respeito ao deslocamento sociopolítico de instituições que manti-
nham proximidade ao Serviço Social, dentre elas destacam-se principalmente
a Igreja Católica e algumas confissões protestantes.
Assim, essas organizações que mantinham estreito vínculo com a profissão,
se inclinavam em algumas de suas vertentes a correntes anticapitalistas e an-
tiburguesas. A Igreja, que até então mantinha laços intrínsecos com o serviço
social, identifica em seu interior, correntes que não legitimam a ordem vigente,
o que rebate diretamente no posicionamento da profissão.
E como terceiro vetor significativo para essa erosão do serviço social em
escala internacional, o autor destaca a relevância do movimento estudantil, que
dinamiza esses processos e força no campo da formação profissional a novas
bases de sustentação e intervenção.
Atividades de aprendizagem
1. O que é o serviço social tradicional?
2. Em que período histórico se dá a crise desse dito serviço social
tradicional?
É possível, ainda, com essa inserção perceber uma mudança do perfil dos
seus discentes, o que, sem dúvida, contribuirá para erosão de um serviço social
tradicional que agora contará com um perfil de discente que visualizará, nessa
profissão, as possibilidades de sua manutenção, advêm de categorias mais
próximas àquelas classes com quem irá atuar diretamente, bem como terá um
maior contingente de alunos para defender seus posicionamentos.
Somente a título de exemplo, a autora destaca que em 1955 havia registrado
123 matrículas nas escolas de Serviço Social de São Paulo; já em 1960, esse nú-
mero se eleva para 200; e em 1965 são registradas 405 matrículas, isto já em um
cenário de contestação da categoria e uma recém-implantada ditadura militar.
A partir desse momento observa-se aqui, e não somente no Brasil, uma crí-
tica contundente ao dito Serviço Social Tradicional, ao qual não mais atendia
as demandas postas nessa década. No caso brasileiro, percebia-se um adensa-
mento da massa urbana e com isto a presença ainda maior das contradições
entre o capital e o trabalho.
Nesse período, já no II Congresso Nacional de Serviço Social realizado em
1961, percebem-se manifestações que impulsionam a decadência do serviço
social tradicional, conforme citação do livro de Marilda Iamamoto e Raul de
Carvalho (2000, p. 71-92).
Vejo como um imperativo categórico para nós, Assistentes
Sociais, a necessidade imediata de nos colocarmos em
sintonia com a hora que vivemos e, na atual conjuntura,
vincularmos o Serviço Social, integramos o Serviço So-
cial, corajosamente, no esforço comum pelo desenvolvi-
mento nacional, autêntico, democrático e solidário [...]
E segue afirmando ser necessário que esse profissional seja inserido diante
de suas competências nesse estágio do desenvolvimento nacional:
Cumpre, pois, vincular estreitamente o serviço social
ao processo de desenvolvimento nacional e dar aos As-
sistentes Sociais, na área de sua estrita competência, as
atribuições que lhe são próprias e que ainda não foram
devidamente definidas. Nesse sentido, tanto o Serviço
Social como os profissionais dessa atividade devem de-
sempenhar na sociedade brasileira um papel pioneiro
e relevane no que toca ao desenvolvimento nacional”
(IAMAMOTO; CARVALHO, 2000, p. 351-352).
e com sua ideologia, bem como com algumas de suas unidades formadoras, no
entanto, não nega a permeabilidade e o deslocamento do modelo franco-belga
para o de influência norte-americana, com sua ideologia funcionalista e a ên-
fase para o desenvolvimento, isto já na década de 1940, o que vai ocasionar
um afastamento do caráter confessional e um adensamento do movimento
laico dentro do serviço social, sendo este também um dos fatores que impul-
siona a profissão para a mudança e a superação do serviço social tradicional.
Aqui têm-se textualmente que o serviço social é uma profissão que, em sua
origem, é instituída por uma classe para atuar sobre outra classe, o que não
pode ocultar sua dimensão política.
Raichelis (1988) enfatiza que a profissão de serviço social não nasce de
uma reivindicação da classe trabalhadora ou de uma percepção de necessi-
dade dela, mas, sim, da iniciativa das classes dominantes, em um processo de
industrialização, onde há a necessidade de estabelecer controle social sobre
o operariado com a finalidade de inseri-lo no pensamento e modo de vida
burguês, dando suporte mínimo para a reprodução de suas relações sociais e
evitando, assim, conflitos.
É descritivo, dessa forma, o caráter contraditório da existência dessa profis-
são, colocando ao meio da década de 1960 um questionamento de sua origem
e finalidade, bem como as suas bases de sustentação, para então se projetar a
caminho de um rompimento com as velhas práticas ajustadoras.
Desde o final do governo de Juscelino Kubitschek, de 1960 a 1964, o Serviço
Social vem assumindo um papel de destaque no cenário nacional, admitindo o pro-
jeto desenvolvimentista nacional, mas vivenciando uma plena crise nesse período.
Essa tonalidade de governos desenvolvimentistas afetou também a profissão
que via na vertente da participação os mecanismos para se atingir o desenvolvi-
mento, tendo entendimentos diferenciados quanto ao conteúdo da participação.
Junta-se aqui as matrizes funcionalistas que embasam grande contingente
da profissão, onde devia-se integrar as pessoas que estavam disfuncionais ao
tradicional, a profissão tomará caminhos distintos, ora sustentado por uma visão
conservadora, como acabamos de observar, ora posicionada por uma contesta-
ção nas formas de pensar e agir da profissão (SILVA, 1984).
Podemos afirmar, então, que diante dessa crise de legitimidade, a que já
descrevemos acima, em uma realidade de contextos distintos em cada país,
mas, que, porém, gozavam de uma determinante comum, — o subdesenvol-
vimento — o serviço social, em um movimento inicial, busca novas bases de
legitimação já no início da década de 1960, apresentando matizes conserva-
doras e mudancistas no Brasil.
Verifica-se, nessa conjuntura, um período de gestação
da consciência nacional-popular, com engajamento de
amplos setores sociais na luta pelas reformas estruturais e
reformas de base, com especial atenção para uma política
externa independente. Os processos de conscientização
e politização atingem operários e camponeses, estudan-
tes e intelectuais, com a presença das ligas camponesas,
sindicatos rurais, Movimento de Educação de Base (MEB),
Centros Populares de Cultura, Movimento de Cultura
Popular, Ação Popular e outros...
A repercussão desse processo sobre o Serviço Social
pode ser pensada a partir de duas vertentes mais gerais
em luta nesse período: a conservadora e a mudancista
(SILVA, 2011, p. 46).
O serviço social nessa postura conservadora centra suas ações para as dis-
funcionalidades dos indivíduos que possam ser obstáculos para o processo de
desenvolvimento, utilizando métodos isolados de acordo com a natureza de
cada intervenção, caso, grupo e desenvolvimento de comunidade.
Percebe-se, assim, que o serviço social vai buscar aprimorar os seus mé-
todos para então dar vazão à ênfase no desenvolvimento alinhado a posturas
funcionalistas requeridas nas políticas sociais daquele período.
Aqui não há mudanças profundas nesse perfil e, sim, um processo que
tende a ser ressignificado para dar sentido a essa profissão no cenário de de-
senvolvimentismo e fazer frente às demais profissões nesse momento de busca
do desenvolvimento.
O serviço social irá se inserir nos programas e políticas sociais implemen-
tadas pelo Estado e não raramente com incentivos internacionais — norte-
-americanos, como é o caso do Programa Aliança Para o Progresso.
É fato, porém, que nesse processo de renovação profissional, que não se
apresenta como uniforme, mas sim como um caleidoscópio de propostas,
percebem-se experiências mais críticas, que se apoiam na participação política
da população como meio de transformação, aliadas à prática do Movimento
de Educação de Base e às postulações de Paulo Freire (RAICHELIS, 1988).
Assim, se contrapondo à postura de renovação apenas superficiais, como se
manifestaram as formas conservadoras, na outra vertente, está uma perspectiva
mais mudancista, que busca romper com o Serviço Social conservador da ordem
vigente, se apoiando principalmente na ala de esquerda da igreja católica que
possuía seu alinhamento mais próximo às classes populares e rompendo com
a dura hierarquia da igreja naquela conjuntura.
Essa postura é identificada em menor número, porém pode ser compreen-
dida como um romper com as práticas conservadoras até então experimentadas
pelo Serviço Social.
Tivemos no período de 60 a 64 uma outra experiência de
Serviço Social. A experiência de um pequeno grupo de assis-
tentes sociais que partem de uma análise crítica da sociedade,
percebendo as contradições e a necessidade de mudanças
radicais [...] Nesse período, os assistentes sociais com-
prometidos, muitos partindo do posicionamento cristão
de esquerda, engajam-se no Movimento de Educação de
Base (MEB), organizado pela CNBB, que inicialmente em-
preende um trabalho alfabetização, passando depois para
a animação popular e para o trabalho de sindicalização;
Porém, destaca-se que tal postura, que ao longo dos processos de transfor-
mação do serviço social brasileiro, irá se manifestar no Movimento de Recon-
ceituação em nosso país no início da década de 1970, onde se dá uma guinada
nos rumos profissionais no Brasil, atingirá primeiramente o campo acadêmico
e se espalhará por toda a profissão ao longo da década de 1980.
Atividades de aprendizagem
1. Nesta seção vimos que o início da década de 1960 apresenta caracte-
rísticas que incidem diretamente na profissão de serviço social. Temos
que no início da década de 1960 identificam-se posturas mais conser-
vadoras e posturas mais mudancistas. Comente sobre estas afirmações.
2. Podemos perceber que a profissão vinha sentindo a crise do serviço
social tradicional desde o final da década de 1950. Esse processo que
se realiza antes do Movimento de Reconceituação não apresenta uma
linearidade e nem mesmo se faz de modo estanque?
3. Temos que as alterações na categoria profissional buscando superar o
conservadorismo, identificadas no Brasil no século XX, estão datadas
de um momento histórico, onde se registra também alteração do perfil
profissional. Descreva que momento elas ocorrem e qual a alteração
do perfil profissional e da formação dessa categoria que se identifica
naquela conjuntura.
Fique ligado!
Vamos retomar os temas abordados nesta seção:
Vimos nesta seção que o serviço social sente as alterações engendradas na
sociedade e acaba por ter as suas características tradicionais questionadas
em um ambiente de mudanças significativas, não podendo mais sustentar
as manifestações débeis a que se alicerçava o serviço social tradicional.
Abordamos, de forma geral, as transformações na sociedade nesse período,
concebendo o novo estágio do capitalismo nacional impulsionados pela
intensificação do desenvolvimentismo.
Percebemos ao final da década de 1960 que a sociedade estará sensível
às tonalidades populistas do governo de Jânio Quadros e João Goulart,
identificando aqui uma efervescência nas mobilizações populares e na
tonalidade democrática nas questões por elas engendradas trazendo um
Referências
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CARVALHO, A. S. Metodologia da entrevista. Uma abordagem fenomenológica. Rio de
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Introdução ao estudo
Nesta unidade o discente encontrará o adensamento do processo de reno-
vação da profissão, sendo este consolidado em um movimento que se inicia
no segundo terço da década de 1960 e se expande pelo continente latino-
-americano, tomando proporções e caminhos distintos em cada país, de acordo
com as conjunturas sociopolíticas específicas, que no Brasil vivencia o pleno
autoritarismo da ditadura militar iniciada em 1964.
Assim, estaremos aprofundando os contornos do Movimento de Reconceitua-
ção do Serviço Social, que apesar de possuir o ponto de partida unívoco, assume
posturas diferenciadas no Brasil se comparado aos países do cone sul do conti-
nente latino-americano, principalmente países como Uruguai, Chile e Argentina,
que experimentarão, em seu início, um posicionamento bem mais contestador.
Passaremos a abordar as características desse movimento na América Latina,
concebendo a sua tonalidade mais crítica e com inspirações marxistas, bem como
nos dedicaremos, com maior grau de detalhamento, aos seus contornos no Brasil.
E como determinante para a compreensão das matizes que levaram adiante
a renovação do serviço social, abordaremos a perspectiva modernizadora e seu
atrelamento ideológico ao regime militar, bem como sucintamente destacare-
mos a perspectiva de Reatualização do Conservadorismo e ainda a perspectiva
de intenção de ruptura, apoiadas sobre tudo nos conhecimentos emanados
por José Paulo Netto, o qual nos oferece grande recursos para desenvolver
nossas considerações.
O mesmo autor, escrevendo anos antes, afirma que esse impulso a dar uma
tonalidade diferente ao serviço social, e colocá-lo como agente de mudança
junto ao processo de desenvolvimento do país é impelido pelo fracasso gradual
e inevitável daquele serviço social tradicional, tencionando a uma mudança
da qual era tão necessária ao ponto de determinar a legitimidade ou não dessa
profissão nos anos subsequentes (NETTO, 2011).
Percebe-se na origem desse Movimento de Reconceituação, uma grande
união dos assistentes sociais deste continente para superar o tradicionalismo
presente nessa profissão, buscando ultrapassar o Serviço Social Tradicional, e
Tal episódio, ainda que interrompido por certo período de tempo, dará o
alento para que, ao final da década de 1970, se detenha o acúmulo crítico
necessário para se gestar as transformações e apontar para a construção de um
projeto profissional autêntico para esta profissão (BRANDÃO, 2006).
A profissão no Brasil passa, então, a adotar o método dialético em suas
análises da realidade, concebendo o homem não mais como um ser abstrato,
mas, sim, o enxergando nas suas relações com os outros homens, inserido em
uma sociedade que contém conflitos, que não é harmônica, que assume con-
tradições inerentes a sua estrutura, buscando adotar uma prática interventiva
que tenha no homem a concepção de sujeito histórico.
Em outras palavras, nessa vertente em sua incipiente ação, embasará a
sua intervenção para a superação da exploração das classes e da dominação
das relações sociais, assumindo na teoria marxista a matéria-prima para suas
reflexões (BRANDÃO, 2006).
Essa assimilação marxista a priori terá alguns equívocos, em razão da falta
de compreensão de elementos determinantes dessa teoria, principalmente com
relação ao método crítico-dialético, a teoria do valor-trabalho e perspectiva de
transformação social.
Tais equívocos dentro da corrente marxista caberão ao processo histórico
de transformação da profissão superar, o que foi erguido no decorrer do Mo-
vimento de Reconceituação na década de 1980.
Assim, o processo no qual decorreu o Movimento de Reconceituação no
Brasil, vai se movimentar sob a plataforma de um Estado autoritário que se ergue
na década de 1960 e terá a sua derrocada somente em 1985; no segundo terço da
década de 1970 sente a fragilidade de uma conjuntura política e econômica desfa-
vorável a seus interesses.
Atividades de aprendizagem
1. Diante do exposto nesta seção, faça uma síntese do que Movimento
de Reconceituação.
2. Com base no exposto, destaque os principais aspectos da conjuntura
brasileira no momento da emersão do Movimento de Reconceituação.
Atividades de aprendizagem
1. Faça uma análise comparativa entre estas duas formas de realizar as
intervenções profissionais.
2. Quais as possibilidade l de um serviço social mais crítico na
contemporaneidade.
Esse autor defendia que a prática profissional nada mais era que um modo
organizado e sistemático de prestação de serviços, e que a metodologia atingia
assim a parte central da Teoria Geral do Serviço Social. Assim centra-se grande
parcela de soluções de problemas brasileiro a uma adaptação da metodologia
desse profissional (NETTO, 2011).
Vislumbra-se nessa pequena passagem que há uma redução da magnitude
das expressões da questão social, centrando foco para o problema metodológico
para a solução de tais expressões, como em uma supervalorização da profissão
e da metodologia em busca da superação de problemas que encontram suas
raízes muito além do universo profissional.
É notório que há a busca de cientificidade almejada por esse autor junto a
suas construções dentro da perspectiva modernizadora. Defende ainda dentro
do seminário de Teresópolis e, portanto, dentro da perspectiva modernizadora,
que o método profissional se constituía em duas categorias básicas, sendo estes,
o diagnóstico e a intervenção planejada.
Dantas não poupa esforços para encontrar raízes bibliográficas para susten-
tar seus argumentos, no entanto, sem o caráter contestatório presente na obra
dos autores que lhe embasavam o raciocínio, conforme afirma Netto (2011).
A longa dissertação de Dantas se desenvolve com uma
constante revisão de ampla bibliografia, mediante o que
o autor filtra elipticamente a crítica modernizadora das
formulações tradicionais. Entretanto, avaliadas as suas
conclusões, é inevitável a fortíssima impressão de que
Dantas ergue andaimes extremamente complicados para
uma arquitetura muito modesta [...] (NETTO, 2011, p. 182).
Não obstante, Netto (2011) destaca que essa perspectiva que condensa,
sem sobra de dúvida, grande contingente profissional naquele período, deve
essa grande adesão principalmente por que a partir desse autor — José Lucena
Dantas — oferece respostas a duas questões centrais que naquele período
abalavam os alicerces do universo profissional: A questão da cientificidade e
do método do serviço social.
Com tal arcabouço, Dantas forneceu as mais adequadas
respostas a duas demandas que à época amadureciam
no processo renovador: a requisição de uma fundamen-
tação “científica” para o Serviço Social e as exigências
de alternativas para redimensionar metodologicamente as
práticas profissionais (NETTO, 2011, p. 183).
Atividades de aprendizagem
1. Qual a conjuntura em que se dava a perspectiva modernizadora, bem
como suas principais características?
2. Quais as características da Perspectiva Modernizadora?
Fique ligado!
Nesta unidade você apreendeu que:
O Movimento de Reconceituação é um movimento essencialmente
latino-americano.
Este movimento simbolizou uma busca de ruptura com o dito serviço
social tradicional.
Sua emersão se dá na metade da década de 1960.
A incidência do Movimento de Reconceituação está condicionada
a uma série de fatores externos que tencionam a sociedade naquela
conjuntura em especial na realidade latino-americana.
Introdução ao estudo
Nesta unidade o discente será levado a conhecer a segunda perspectiva do
Movimento de Reconceituação do Serviço Social Brasileiro, destacando suas
principais características e seu momento histórico.
A análise será conduzida no sentido de proporcionar ao discente a compreen
são sobre o cenário em que se gestam as transformações do desenvolvimento
profissional no Brasil, incidindo em um momento de fragilidade da perspectiva
modernizadora. A sua emersão se dá em um período de decadência da Ditadura
Militar e questionamento.
O resultado será um retorno às bases do passado recente do serviço social,
recuperando com uma nova roupagem os traços do conservadorismo, daí a
sua denominação de Reatualização do Conservadorismo.
Também abordaremos os principais seminários que deram vazão ao pro-
cesso de renovação da profissão ao longo do Movimento de Reconceituação
brasileiro. Tal reflexão nos fornecerá as concepções ideológicas que os emba-
saram a renovação, datando-se em períodos determinados da ditadura militar.
Nesse sentido, seminários como o de Araxá e Teresópolis, serão alvos de
nossas reflexões, delineando seu conteúdo e proporcionando análises sobre
seus desdobramentos no universo da autocracia militar.
Não obstante, entraremos nos seminários de Sumaré e de Alto da Boa vista
em uma breve contextualização sobre seus conteúdos e defasagem perante a
nova proposta profissional que se apresentava.
Pesa-se que até então não há registro junto a categoria profissional da utili-
zação da fenomenologia como fonte teórica válida para a profissão, o que lhe
remete peculiarmente a algo novo para o processo de renovação profissional.
Não obstante, também não é de grande monta o acúmulo teórico de estudiosos
brasileiros sobre os fundamentos da fenomenologia em nosso país.
Se por um lado, temos consciência de que o método
fenomenológico não abarca toda a realidade do Ser-
viço Social, por outro lado, estamos convencidos de
que do ponto de vista metodológico da ação com o
cliente, e na supervisão de alunos, a única verdade está na
José Paulo Netto (2011), tecendo suas críticas a essa forma de interpretar a
sociedade e a ação profissional, esclarece que os pensadores dessa perspec-
tiva buscava enxergar o homem em sua totalidade, ultrapassando, assim, a
dualidade entre sujeito e objeto em formulações de interpretações simplistas
e com respostas pragmáticas conforme as elaborações contidas na perspectiva
modernizadora.
Quanto à questão da assepsia e dos valores que deveriam embasar a profis-
são, esta perspectiva — Reatualização do Conservadorismo — segue o recurso
aos valores Cristãos, conforme contido nas formas de agir tradicional, e ainda
visualizam que não é possível práticas ajustadoras de condutas no exercício
profissional, trazendo que a prática profissional deve levar a uma transformação
social e não a adaptação maciça em nome de um almejado desenvolvimento.
A crítica às correntes positivistas nessa perspectiva também se sustentava
na direção de que era preciso avançar na interpretação não dualista dos pro-
blemas apresentados, entre sujeito e objeto e, buscar sim, a compreensão do
sujeito como um todo.
Contudo, Netto (2011), ao analisar um de seus maiores expoentes — Al-
meida, em 1978 —, afirma que sua crítica sustenta o registro ideológico que
moveu o Movimento de Reconceituação do Serviço Social e na ausência a
crítica ao tradicionalismo, deixando este ausente de suas considerações que
possa sinalizar na direção de uma superação do tradicionalismo. O mesmo
autor ainda acrescenta que a construção de Brandão (2006) se sustenta na
fenomenologia e no personalismo cristão.
Aqui a conotação do exercício profissional vai se moldar a um tipo de
ajuda psicossocial, onde através da compreensão com auxílio do profissional,
mediando a ação com o cliente, vai se revelando as formas do fenômeno a ser
compreendido e a incidência deste mesmo cliente no processo de tomada de de-
cisão, em uma clara retomada da subjetividade de cada fenômeno em particular.
Com tal tonalidade, é passível de perceber que dentro desta perspectiva,
vai se reduzindo as possibilidades de análises e atuações macrossocietárias,
voltando se em uma ação mais micro e com foco no indivíduo.
Como podemos visualizar, cada corrente teórica irá possibilitar uma ma-
neira de compreensão do mundo e de diagnóstico dos fenômenos que incidem
sobre o serviço social. Isto posto, temos que a Perspectiva de Reatualização
Atividades de aprendizagem
1. Com base no exposto, teça um resumo sobre as principais caracte-
rísticas da perspectiva de Reatualização do Conservadorismo.
2. Compreendendo as características da perspectiva modernizadora,
bem como as características da perspectiva de Reatualização do
Conservadorismo, faça um comparativo entre as duas perspectivas.
Assim, percebemos que, com relação aos objetivos do Serviço Social, temos
que a profissão se matém sob a direção de dois pressupostos, um de caráter
mais filosófico e outro de conteúdo mais operacional, estabelecendo uma
relação entre os dois.
Ainda nesse capítulo, o Documento aborda a questão das funções do Ser-
viço Social. Estabelece que essas funções são: Política Social; o Planejamento e
Administração de Serviços Sociais; e ainda os Serviços de Atendimento direto,
corretivo, preventivo, e promocional destinado a indivíduos, grupos, comuni-
dades, populações e organizações.
Com relação a Política Social, estabelece que como função da profissão esta
deve provocar o processo da formulação das políticas, bem como reformulá-
-las quando necessário, dando a perspectiva de globalidade a estas, bem como
criar canais de participação da população.
Na função de Planejamento Social, o Documento aborda que o profissional
deve contribuir com aquele conhecimento extraído do relacionamento com a
população, assim este deverá subsidiar as agências que se propõem ao processo
de planejamento social com os conhecimentos acumulados nessa relação.
Com relação a função de Administração de Serviços Sociais, o profissional
deverá participar contribuir com as pesquisas a nível institucional, bem como
participar do processo de microplano, e ainda implantar e implementar os
serviços institucionais, não desconsiderando a participação da população.
Por fim, estabelece na função de Serviços de Atendimento direto, corre-
tivo, preventivo, e promocional destinado a indivíduos, grupos, comunidades,
O Seminário foi antecedido por sete encontros que versavam sobre o apro-
fundamentos do contido em Araxá, sendo que mais de setecentos profissionais
destacaram suas contribuições sobre o conteúdo formulado em 1967, sendo
que na necessidade de maior debate e aprofundamentos obre tais questões se
propôs o Seminário de Teresópolis.
A programação do Seminário foi submetida ao participantes que relataram a
dificuldade de se realizar todas as temáticas elencadas, deliberando então por
debater sobre: os fundamentos da metodologia do serviço social; concepção
científica da prática do assistente social; aplicação da metodologia do serviço
social (CBCISS, 1986, p. 54).
As escolhidas para o evento foram: Fundamentos da metodologia do serviço
social — o qual foi debatido em plenária —, concepção científica da prática
Netto (2011) afirma que este grupo vai um pouco mais longe do que o grupo
A, quando se refere as atuações deste profissional, destacando que as ações
podem ser de prestação direta, administração e planejamento, o que nos remete
ao contido em Araxá. Há ainda o destaque para os conhecimentos elaborados
e que serviriam para proceder de amparo nas práticas dos assistentes sociais.
Atividades de aprendizagem
1. Compreendido o que foi o Seminário de Araxá, teça um breve resumo
de suas características.
2. Destaque aqui as principais características do Seminário de Teresópolis.
Atividades de aprendizagem
1. Teça suas análises sobre o que foi o seminário de Sumaré.
2. Com base no exposto, faça uma breve síntese do processo de desgaste
da realização dos seminários propostos pelo CBCISS.
Fique ligado!
Nesta unidade vimos o que foi o Movimento de Reconceituação e o
que ele significou para a categoria profissional na superação do dito
serviço social tradicional.
Compreendemos que o Movimento de Reconceituação se fez a partir da
década de 1960 e apresentou desdobramentos distintos na conjuntura
brasileira e latino-americana, manifestando a perspectiva de Reatuali-
zação do Conservadorismo.
Percebeu que no Brasil, a princípio, temos a manifestação deste movimento
alinhado a realização de seminários, impulsionados por uma organização
da categoria profissional não inscrita no eixo de formação acadêmica;
Compreendemos o que foi o primeiro seminário deste movimento no
Brasil, realizado no ano de 1967.
Percebemos a relevância e as características dos seminários de Araxá,
Teresópolis, Sumaré e Alto da Boa Vista.
Identificamos que à medida que tal movimento se aprofunda no Bra-
sil, também se destaca a crise na realização de tais seminários, uma
vez que estes não apresentam caminhos radicais para a superação do
conservadorismo.
Percebemos que embora as duas perspectivas que foram abordadas neste
livro sinalizem um importante debate no inteiro da profissão, nenhuma
das duas oferece o aporte necessário para a superação do conservado-
rismo, ficando esta tarefa para a perspectiva de Intenção de Ruptura.
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do serviço social II