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Fundamentos

Históricos, Teóricos
e Metodológicos do
Serviço Social III
Maria Angela Santini
© 2020 por Editora e Distribuidora Educacional S.A.
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Santini, Maria Angela
S253f Fundamentos históricos, teóricos e metodológicos do serviço social III /
Maria Angela Santini� – Londrina: Editora e Distribuidora Educacional S�A�,
2020�
120 p�

ISBN 978-85-522-1664-3

1� Reconceituação� 2� Profissionalização� 3� Trabalho�


I� Título�
CDD 361�07
Jorge Eduardo de Almeida CRB-8/8753

2020
Editora e Distribuidora Educacional S.A.
Avenida Paris, 675 – Parque Residencial João Piza
CEP: 86041-100 — Londrina — PR
e-mail: editora�educacional@kroton�com�br
Homepage: http://www�kroton�com�br/
Sumário

Unidade 1
O significado ontológico-social do trabalho na constituição do ser
social� O trabalho enquanto atividade humano-genérica ������������������������ 5
Seção 1
O trabalho como categoria fundante do ser social
e as bases do Serviço Social ��������������������������������������������������������������� 8
Seção 2
O homem como ser social ���������������������������������������������������������������21
Seção 3
Serviço Social brasileiro: breve histórico
de 1965 e 1975 e o Movimento de Reconceituação����������������������31

Unidade 2
O trabalho na contemporaneidade, práxis, objetivações
humanas e construção da subjetividade ���������������������������������������������������43
Seção 1
O objeto de trabalho do Serviço Social: a Questão Social ����������45
Seção 2
Transformações no trabalho dos assistentes sociais ��������������������53
Seção 3
Serviço Social brasileiro: breve histórico
de 1975 a 1990, o Movimento de Reconceituação
e a Constituição Federal de 1988 ����������������������������������������������������59

Unidade 3
Trabalho alienado e sociabilidade no capitalismo ����������������������������������69
Introdução à unidade ����������������������������������������������������������������������������������69
Seção 1
Marx e as categorias trabalho e alienação �������������������������������������71
Seção 2
A privatização do Estado brasileiro a partir
da década de 1990 e a intensificação das
transformações no mundo do trabalho
dos assistentes sociais �����������������������������������������������������������������������78
Seção 3
O Serviço Social nos anos 1990, as tendências
históricas e teórico-metodológicas do debate
profissional e os desafios para o Serviço Social ����������������������������83
Unidade 4
Leitura da teoria social de Marx e pensadores vinculados à tradição marxista������������������������������ 95
Seção 1
Assistência versus ditadura versus democracia������������������������������������������������������������������������ 97
Seção 2
Regulamentação legal da profissão������������������������������������������������������������������������������������������102
Seção 3
Marx: a apropriação do Serviço Social������������������������������������������������������������������������������������107
Unidade 1

O significado ontológico-social do trabalho na


constituição do ser social. O trabalho enquanto
atividade humano-genérica
Nesta unidade, você irá além de realizar estudos para a formação
profissional, buscará a capacitação para uma leitura crítica da realidade,
vislumbrando a competência teórico-metodológica, técnico-operativa e
ético-política.

Seção 1 | O trabalho como categoria fundante do ser social e


as bases do Serviço Social.
Os profissionais de Serviço Social e o processo de revisão da prática
profissional. A profissionalização do Serviço Social. A reconceituação e a
Fenomenologia e sua influência no Serviço Social.

Seção 2 | O homem como ser social.


As relações pessoais, de mercado e a categoria trabalho na constituição
do ser social.

Seção 3 | Serviço Social brasileiro: breve histórico de 1965 a


1975 e o movimento de reconceituação.
A contextualização histórica, política e econômica do Movimento
de Reconceituação do Serviço Social e a qualificação profissional no
cenário nacional.

Introdução à unidade
Estudaremos e conheceremos as bases teóricas sobre o trabalho na socie-
dade do capital e o significado ontológico-social do trabalho, que apresenta
um valor mercadológico e de produção da riqueza social, suprimindo a
possibilidade de autoconstrução. Portanto, analisaremos o trabalho enquanto
categoria que constitui o ser social.
Buscaremos a reflexão e o aprofundamento a partir do estudo da
ontologia do ser social na perspectiva marxista, que vislumbra identificar o
homem e a mulher como seres reais, materiais, dinâmicos e sociais, inseridos
em contextos sociais e historicamente fundados.
Também, veremos o processo de construção do projeto de formação profis-
sional em Serviço Social, histórica e socialmente edificado, frente ao atendi-
mento das demandas em seus respectivos períodos políticos, econômicos e
sociais, por meio de um breve histórico, de 1965 a 1975, e ao Movimento de
Reconceituação, inseridos na divisão social e técnica do trabalho.
O estudo sobre trabalho, para Marx, aqui entendido como processo de
objetivação do ser social com a natureza onde se encontra subentendida a sua
própria ação, a sua práxis. A exemplo de que, ao se relacionar com a natureza,
externa-se por meio de seus membros a sua força de trabalho.
Marx analisa o ser social e o mundo entendendo o reconhecimento no
mundo quando o homem e a mulher transformam a natureza e essa passa a
ter significados. Portanto, o concreto, ou o mundo real, passa a existir quando
o ser social se reconhece no mundo por meio do trabalho.
Este conteúdo, que será trabalhado ao longo deste material, será, em
alguns momentos, representado por meio de imagens ou de palavras, para
que possamos discutir e caminhar para os entendimentos, as reflexões e os
conhecimentos necessários neste processo de ensino e aprendizagem.
Devemos considerar que os conhecimentos e as teorias do Serviço Social
se dão de um modo dinâmico e se constroem conforme o momento histórico
e social de cada período, para isso apresentaremos o material de estudo em
três seções.
A primeira seção abordará o trabalho como categoria fundante do ser
social e as bases do Serviço Social, com considerações sobre os profissionais
de Serviço Social e o processo de revisão da prática profissional, a profis-
sionalização do Serviço Social, a Reconceituação e a Fenomenologia e sua
influência no Serviço Social.
A segunda seção tratará da discussão do homem enquanto ser social,
as relações pessoais e de mercado e a categoria trabalho na constituição
do ser social.
A terceira seção fará a discussão do Serviço Social brasileiro, trazendo
um breve histórico de 1965 e 1975, e o Movimento de Reconceituação, a
contextualização histórica, política e econômica dele e a qualificação profis-
sional no cenário nacional.
Seção 1

O trabalho como categoria fundante do ser social


e as bases do Serviço Social

Introdução à seção
Nesta primeira seção, estudaremos a ontologia do ser social, uma vez que
o processo de formação profissional inspira a busca por conhecimentos de
caráter histórico-social, embasados na discussão da divisão social e técnica
do trabalho. Agora, você tem esse desafio para conhecer um pouco mais
sobre a profissão que escolheu.

1.1 Os profissionais de Serviço Social e o processo de revisão


da prática profissional
O conteúdo e as reflexões aqui apresentados têm como proposta que este
estudo oportunize o despertar e o fortalecimento do compromisso profis-
sional, fundado enquanto categoria que se disponibiliza a uma prática inter-
ventiva. Sinteticamente, iniciamos a apresentação deste conteúdo, que se
refere ao trabalho na sociedade do capital e ao significado ontológico-social
do trabalho, remetendo a uma inicial discussão de diferenciação dos homens
e dos animais, em que, desde o instinto de sobrevivência até as condições de
construção de autonomia, há uma busca de condições materiais no processo
de socialização do ser social.
O trabalho como categoria fundante do ser social pode ser entendido
como um ser real e historicamente formado pelo movimento dialético, em
relação de classes desmontadas pelas relações sociais capitalistas e frente à
exploração entre capital e trabalho.
As formas de sociabilidade do ser social ocorrem a partir da linguagem e
do pensamento, uma vez que o homem responde às suas necessidades sociais
quando alcança um sentido e o desenvolvimento social, tendo a consciência
como uma ferramenta ao seu dispor para orientar suas ações.

Para saber mais


A palavra ontologia refere-se à ciência que estuda o ser humano. De
acordo com a história, a filosofia tratou o humano e o estudou tendo
como referência a metafísica. Marx defende que o ser que vive em socie-

8
dade, homens e mulheres em suas diferentes expressões, apresentam
características que os distinguem de outros seres da natureza.

Os profissionais de Serviço Social, com o passar do tempo, iniciam um


processo de revisão da prática profissional frente à realidade e a partir da
própria categoria.
Podemos entender que se fez necessário encontrar uma forma de alterar
o que estava colocado para a profissão e, ao mesmo tempo, tinha que ser
desvelado pelos integrantes da profissão em formatos e momentos que de fato
correspondessem ao desejo da maioria em detrimento aos questionamentos
presentes, para alcançar uma nova abertura para a proposta de mudança e
alcance da renovação do Serviço Social.
Figura 1.1 | Abertura para mudança

Projeto de formação
profissional
Revisão da
prática profissional

Serviço social

Fonte: elaborada pelo autor (2019).

A busca constante pelo projeto de formação profissional em Serviço Social,


histórica e socialmente construída, se apresenta em face ao atendimento das
demandas em diferentes períodos políticos, econômicos e sociais. Portanto,
o projeto teórico e metodológico foi e é merecedor de revisões constantes.
Na vinculação estreita da profissão com sua base teórica e suas primeiras
metodologias, destacam-se as tendências de renovação profissional, relacio-
nadas às finalidades da Igreja Católica, com a influência, a partir da década
de 1940, do Serviço Social norte-americano, que introduziu novas vertentes
de atuação, como no caso do Serviço Social de Grupo e Desenvolvimento
de Comunidade.

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Esse processo questionador teve grande impacto em vários períodos
históricos, iniciando-se no final da segunda metade da década de 1950 no
Brasil e adquirindo foco de referência a partir da segunda metade da década
de 1960, constituindo-se por meio de uma série de transformações na
profissão e repercutindo até a atualidade.
Neste estudo, daremos mais atenção ao período pós-1965, retomando
alguns pontos, a fim de contextualizar as reflexões e entendimentos
da temática.
Na busca de compreender as origens, transformações, abordagens e
impactos do Serviço Social, propomos uma apreciação do processo de
renovação profissional que, pelo seu importante significado e proposi-
turas com questionamentos e renovações, denominou-se de Movimento
de Reconceituação.
Algumas considerações sobre a trajetória histórica do Serviço Social no
Brasil, a partir da prática assistencial; na sequência, a competência profissional
e as contribuições do Serviço Social; e, concretamente, como as intervenções
foram efetivadas ao longo dos tempos em cada momento histórico, devem
ser apreendidas para a fundamentação profissional do assistente social.
O entendimento e a análise de conjuntura sobre o enfrentamento
do Serviço Social frente à realidade nas décadas de 1930 e 1940 estavam
imbuídos de uma característica assistencial e controladora, que favorecia o
capitalismo e o desenvolvimento industrial, pois sua atuação era imediatista,
fruto da iniciativa particular de vários setores da burguesia, respaldados pela
Igreja Católica, visando garantir valores morais cristãos e, com o método
preconizado pela Ação Católica, ver, julgar e agir. Na década de 1950, em
que a metodologia consistia em ver através da constatação da realidade por
meio da observação pessoal, visando fazer alguma coisa enquanto juventude
da igreja, a comparação dos princípios evangélicos em comparação com a
realidade seria o julgar e o agir em resposta a um problema concreto com
uma solução concreta.
O Serviço Social no Brasil foi instituído para atender às necessidades
da população. Segundo Iamamoto (1995), ele passou a existir no início da
década de 1930, por meio do movimento católico, sob influência de sua
origem, com ações respaldadas pelo foco individualista, o que gerou uma
necessidade de desenvolver ações grupais. E já no final da década de 1940,
ações de organização de comunidade vislumbravam ações assistencialistas e
filantrópicas por meio da coordenação de líderes das igrejas, para beneficiar
pontualmente algumas famílias ou pessoas.

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Nos períodos iniciais da profissão, desde as origens até os primeiros anos
da institucionalização profissional, a influência da Igreja Católica ocorreu
a partir das duas encíclicas papais: a Rerum Novarum, de Leão XIII, e a
Quadragésimo Anno, de Pio XI. Com o processo de reconceituação e no
contexto contemporâneo da profissão, a laicidade e o materialismo histórico
dialético reconfiguraram o sincretismo, que acompanhou a sua trajetória
histórica e se faz importante como destaque para a memória histórica do
Serviço Social.
O Serviço Social surge em função de restaurar áreas de influências e
prerrogativas que a igreja havia perdido, frente à crescente secularização da
sociedade e das complexas relações com o Estado e sua legitimação jurídica
no aparato estatal.
Durante cada processo que se percorreu para a construção do Serviço
Social no Brasil, houve avanços e compromissos com a população, os quais
serão discutidos para que este conhecimento possa fundamentar este estudo.
A tradição assistencialista e paternalista não deixa de considerar que
o Serviço Social no Brasil foi inovador e modernizador na área social,
como segue:

Não há dúvida de que o surgimento do Serviço Social no


Brasil não foi um acontecimento sociológico de um ‘id
político’. Portanto, não se deu origem ao mito de uma vida
melhor num mundo melhor, que deve ser tentado na trans-
formação imediata de toda uma conjuntura social e econô-
mica. Também não foi implantado pelo poder de forças
externas, impostas pelo crescimento econômico para
assegurar um clima de bem-estar. Ele exprimiu o sentido
global de uma solução antecipatória do ‘ego político’, de
um grupo de brasileiros que tentou operacionalizar, nas
atividades socioeconômicas, a concepção ética de ‘Justiça
Social’ a partir dos anos 30, quando foi acelerado o processo
de industrialização-urbanização no país. (ALMEIDA,1986, p.
18, grifo do autor)

As alterações na conjuntura modificam as relações de trabalho e a questão


social ao longo de décadas, bem como a relação do Estado com a sociedade
civil, e exige que o assistente social busque compreender a realidade dos
usuários neste movimento.

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Neste período, grande parte da discussão era pautada pela questão social,
a posição do Estado, do empresariado e dos trabalhadores. A participação
da Igreja Católica e a reconstrução da sua hegemonia ocorreram a partir dos
desdobramentos e instrumentos criados para fortificar o Bloco Católico e as
primeiras escolas pelo processo de formação e pelas influências internacio-
nais e conjunturais.
O entendimento do Serviço Social a partir da imagem construída pelos
fundamentos históricos, teóricos e políticos que percorreram o Serviço
Social no Brasil trouxe, em sua definição e em suas particularidades, a repre-
sentação da realidade e as possibilidades de mudanças conforme a profissão
passa a andar por novos rumos e adquirir compromissos históricos com
outras disciplinas e com diferentes demandas.
O direcionamento do Serviço Social no Brasil foi constituído pelo grande
investimento intelectual, que permitiu fundamentar a perspectiva de que
ele fez parte de um procedimento de construção de uma imagem renovada,
convivendo dialeticamente com outros arranjos tradicionais e conservadores.

Questões para reflexão


Qual era a visão de mundo quando surgiu o Serviço Social no Brasil, a
partir da década de 1930?
Qual é o ponto de partida para analisar o significado social da profissão
do Serviço Social mediante todo esse referencial histórico, desde o seu
surgimento até o período inicial da Reconceituação?

1.2 A profissionalização do Serviço Social e a Reconceituação


A profissão do Serviço Social passa a ser inscrita na divisão social e técnica
do trabalho, na medida em que se estabeleceu um mercado de trabalho,
evidenciando que a profissionalização do Serviço Social, legalmente inserida
em órgãos públicos, ocorre em 1935, sendo legalizado o ensino da profissão
no final da década.
A orientação para o exercício profissional no início da profissão era o
referencial do Serviço Social europeu, com fundamentos na razão formal
abstrata, por meio das doutrinas Neotomista e Positivista. Nos anos 1940,
o referencial que passa a guiar o exercício profissional é o de caso, grupo e
comunidade, de origem do Serviço Social dos Estados Unidos.
O Neotomismo foi baseado nas doutrinas da Igreja Católica, que subsi-
diaram a prática profissional do assistente social na perspectiva assistencia-
lista e moralista; já o Positivismo trouxe a sua influência no Serviço Social

12
quando a profissão começa a questionar a sua intervenção e quando as técnicas
norte-americanas passaram a ser utilizadas na intervenção profissional.
No Brasil, apenas na década de 1940 foram estabelecidas as primeiras
instituições socioassistenciais como espaços de intervenção profissional, pois
as práticas institucionalizadas e as atividades desenvolvidas pelo Serviço
Social foram visíveis em função da adequação da profissão ao projeto refor-
mista conservador e aos princípios positivistas e cristãos. Para o Serviço
Social, a busca pela transformação profissional frente ao rompimento com
o conservadorismo ocorreu em alguns países da América Latina, além da
realidade brasileira.
Figura 1.2 | Movimento de alteração no Serviço Social

1940 - Ins�tuições socioassistenciais


Discussões sobre as intervenções profissionais
Interferências sociais, econômicas e polí�cas
Rupturas ideológicas
Busca para um novo projeto profissional

Fonte: elaborada pelo autor (2019).

No Movimento de Reconceituação, no Brasil, houve questionamentos da


configuração profissional, desde o processo de intensificação da industria-
lização, no governo de Juscelino Kubitschek, perpassando pelos governos
populistas de Jânio Quadros e João Goulart e por todo o regime militar.
O desenvolvimento do Movimento de Reconceituação do Serviço Social
brasileiro na perspectiva modernizadora se apresentou visando atingir a
uma maior cientificidade para a profissão, alterando processos metodo-
lógicos sem modificar significativamente seus objetivos e as perspectivas
de Reatualização do Conservadorismo e de Intenção de Ruptura, que se
apresentaram vislumbrando uma base crítica e emancipatória, a qual, poste-
riormente, fundamentou o projeto ético-político do Serviço Social.
Para Netto (2011), a perspectiva modernizadora, em 1965, buscou
o rompimento do Serviço Social tradicional de modo tímido frente ao
desbravamento e enfrentamento de conflitos com as normas fundantes de
suas posturas.

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A primeira direção conforma uma perspectiva moderni­
zadora para as concepções profissionais — um esforço
no sentido de adequar o Serviço Social, enquanto ins­tru-
mento de intervenção inserido no arsenal de técnicas
sociais a ser operacionalizado no marco das estratégias de
desenvolvimento capitalista, às exigências postas pelos
processos sócio-políticos emergentes no pós-64. (NETTO,
2011, p. 154)

Essa perspectiva inserida no processo de desenvolvimento capitalista, no


regime militar, considerando a profissão do Serviço Social como interven-
tora, dinamizadora e integradora, investiu em ocultar a crise democrática
proveniente do regime militar, despertando para o não questionamento da
ordem social e política de 1964, distanciando-se da essência transfor­madora
que originava o Movimento de Reconceituação.
A perspectiva modernizadora mantém a essência do Serviço Social,
mas apenas remodela alguns aspectos e a instrumenta­liza para atuar em
pleno governo militar, com a abertura de espaços institu­cionais, conven-
cionando a proposta do Estado brasileiro de apontar políticas sociais com
teor integrador, para possibilitar o desenvolvimento do capitalismo nacional
e inserir o país no rol dos países industrializados, ampliando seus campos
econômicos, desconsiderando a realidade dos trabalhadores.
De acordo com Faleiros (2000 apud BEHRING; BOSCHETTI, 2007, p.
136), “no contexto da perda das liberdades democráticas, de censura, prisão
e tortura para vozes dissonantes, o bloco militar-tecnocrático-empresarial
buscou adesão e legitimidade por meio da expansão e modernização de
políticas sociais”.
A perspectiva modernizadora é a primeira a se manifestar junto ao
Movimento de Reconceituação do Serviço Social brasileiro, buscando a
cientificidade para a profissão sem romper profundamente com o conser-
vadorismo, optando por uma teoria conservadora manifesta por meio do
estrutural funcionalismo. Tendo em vista as próprias características do
desenvolvimento da sociedade, essa característica foi capaz de se adequar ao
governo por meio de um posicionamento tipicamente estrutural-funciona-
lista, instrumentalizado por meio da diretriz profissional e da aquisição de
conhecimentos técnicos capazes de interferir na sociedade.
O Centro Brasileiro de Cooperação e Intercâmbio de Serviço Social
(CBCISS) foi a instituição que estimulou os assistentes sociais para a renovação
por meio de seminários, para se pensar um Serviço Social reformulado, com

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o propósito de que novas posturas pudessem legitimar os profissionais nesse
período de desenvolvimentismo, em busca de esclarecer conceitos, valores de
base e conhecimentos necessários para uma prática eficiente.
As produções do CBCISS, como o Documento de Araxá, em 1967, sob
a presidência de Helena Iracy Junqueira, sobre a teorização do Serviço
Social; o de Teresópolis, em 1970, sob a coordenação de Edith Motta, sobre
a Metodologia do Serviço Social; e o de Sumaré, em 1978, sob a coorde-
nação de Leila Maria Vieira Bugalho, sobre a cientificidade do Serviço Social,
vislumbrando a teorização do Serviço Social, provenientes de estudos profis-
sionais, resultantes de seminários que ocorrem no Brasil no período do
regime militar, buscando a superação do tradicionalismo do Serviço Social.

Para saber mais


Acesse o link a seguir para conhecer um pouco mais sobre os
documentos dos seminários que ocorreram em busca da renovação
do Serviço Social:
CONSELHO FEDERAL DE SERVIÇO SOCIAL (org.). 30 anos do
Congresso da Virada. Brasília, DF: CFSS, 2009.

Os documentos de Araxá, Teresópolis e Sumaré são os primeiros identi-


ficados no Movimento de Reconceituação do Serviço Social, quando a base
dos profissionais foi consultada sobre a sua prática.
Os participantes do seminário de Araxá reconheceram a importância
do momento histórico, acreditando que os resultados foram um marco para
o processo de elaboração do conteúdo técnico-científico do Serviço Social,
buscando a reformulação na teoria, na metodologia, no ensino e nos meios
de comunicação do Serviço Social com a população, vislumbrando esse
compromisso como desafio.
O documento de Araxá, de 1967, ocorreu a partir da discussão da
metodologia do Serviço Social, objetivando redefinir os objetivos, as funções
e a metodologia, na tentativa de adequar-se ao contexto econômico social
da realidade brasileira por meio de discussões sobre os conceitos básicos e
a metodologia quanto à natureza do Serviço Social e à prática institucional,
bem como sobre a valorização e melhoria das condições do ser humano, tendo
como referência a Declaração Universal dos Direitos Humanos e os objetivos
operacionais para identificar e tratar problemas ou distorções residuais que
impediam as pessoas de alcançarem padrões econômicos compatíveis com a
dignidade humana.

15
As funções do Serviço Social, a política social, o planejamento e a adminis-
tração do Serviço Social formam pontos de discussão sobre os serviços de
atendimento corretivo, preventivo e promocional.
No que se refere à metodologia de ação do Serviço Social, definiu-se que
ele tem postulados, pressupostos éticos e metafísicos e princípios operacio-
nais que orientam a atuação do agente profissional e as normas de ação de
validade universal por meio do estímulo ao exercício da livre escolha e da
responsabilidade das decisões, do respeito aos valores e dos padrões culturais.
O avanço no seminário de Araxá ocorre ao expandir o Serviço Social de
executor de políticas sociais ou tradicionais serviços para um profissional
que é formulador e gestor de políticas sociais. O documento desse seminário,
por meio da teorização operacional a partir do modelo básico de desenvolvi-
mento, tem como referencial teórico o método estrutural-funcionalista.
O seminário de Teresópolis seguiu uma pauta de três itens, sendo:
fundamentos da metodologia do Serviço Social, a concepção científica da
prática do Serviço Social e a aplicação da metodologia do Serviço Social. Ele
foi realizado em 1970 e ocorreu a partir dos seguintes critérios de interesse
pelo estudo da teoria do Serviço Social: realizações ou vivências profis-
sionais; representatividade de instituições nacionais, públicas e privadas;
tempo de formatura; e procedência regional, a partir das temáticas: Teoria
do Diagnóstico e da Intervenção Social e a Intervenção em Serviço Social;
Diagnóstico e Intervenção em Nível de Planejamento, incluindo situações
globais e problemas específicos; Diagnóstico e Intervenção em Nível de
Administração; e Diagnóstico em Nível de Prestação de Serviços Diretos a
Indivíduos, Grupos, Comunidades e Populações.
O seminário desenvolveu-se com a apresentação da proposta sobre
a Pesquisa em Serviço Social no Brasil, a análise e o debate em plenário.
Os relatórios dos grupos versaram sobre fenômenos e variáveis significa-
tivos para a prática do Serviço Social e a concepção científica da prática do
Serviço Social, apontando para uma requalificação profissional, definindo
o perfil sociotécnico da profissão e a inscrevendo no circuito da moderni-
zação conservadora.
O seminário de Sumaré, por sua vez, discutiu três temas básicos: o Serviço
Social e a cientificidade; o Serviço Social e a fenomenologia; e o Serviço
Social e a dialética. Ocorreu em 1978 e fez apontamentos de novos questio-
namentos para serem discutidos, como o Serviço Social numa perspectiva do
método científico de construção e aplicação; o Serviço Social a partir de uma
abordagem de compreensão e de interpretação fenomenológica do estudo
científico dessa área; e o Serviço Social a partir de uma abordagem dialética.

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O tema Serviço Social e a Cientificidade se preocupou em conceituar a
cientificidade e o conhecimento da realidade em sua efetivação, e não em
seus efeitos, não entendendo como possível analisar a realidade em termos
de variáveis, defendendo que a cientificidade representa uma ideia regula-
dora, e não um modelo determinado, e que o saber científico é, ao mesmo
tempo, a aquisição de um saber, o aperfeiçoamento de uma metodologia e a
elaboração de uma norma.
Quando o foco da discussão era o objeto do Serviço Social, as preocu-
pações eram com os fenômenos, processos, fatos e ações empreendidos
enquanto situações que se dão no nível das relações sociais.
O tema Serviço Social e Fenomenologia apresentou a fenomenologia
como ciência do vivido, entendida como o ato de significar ou dar sentido a
alguma coisa, que nem todas as experiências são vividas conscientemente e
que ela é compreensiva e não explicativa.
Também, defendeu-se o pluralismo, colocando que o objeto do Serviço
Social são as situações-problema reais e que o movimento de Reconceituação
vem evidenciar as contradições do Serviço Social e a posição de uma visão
idealista e tradicional dele, o que implica a revisão teórica e metodológica
do Serviço Social, a identificação do Serviço Social como um dos aparatos
ideológicos do Estado para manutenção do sistema capitalista e uma prática
do Serviço Social ideologicamente comprometida, bem como a aprovação do
método dialético como referencial para ação e interpretação.

1.3 A Fenomenologia e sua influência no Serviço Social


No início do século XX, Edmund Husserl (1859-1938) apresentou
a Fenomenologia, a qual foi uma corrente filosófica que fundamentou as
bases históricas e teóricas da profissão em seu processo de desenvolvimento
no Brasil. Ela se consolida como uma linha de pensamento, como ciência
do fenômeno, sendo este compreendido como aquilo que é imediatamente
dado em si mesmo à consciência do homem, um modo de ver a essência do
mundo e de tudo que nele existe.
É uma ciência rigorosa, não exata, que busca a compreensão da essência,
ocupando-se da análise e interpretação dos fenômenos, mas com uma atitude
totalmente diferente das ciências empíricas e exatas, pois os fenômenos são
os vividos pela consciência. Como o fenômeno é o objeto de investigação,
essa corrente traz em seu significado o desvelar, nos levando a entender que
ele é tudo o que se manifesta, se desvela e se mostra à consciência da pessoa
que o questiona.

17
Para essa ciência, pondera-se que não há consciência pura, isolada do
mundo, ao mesmo tempo em que toda consciência é de alguma coisa que
existe no mundo. Os admiradores da Fenomenologia entendem que o mundo
da história é o mundo da mudança, do particularismo, e que a particulari-
dade do ser é que o faz se tornar compreendido.
O grande propósito da Fenomenologia é atingir a essência do vivido, do
pensado, para se encontrar os fundamentos buscados, por isso, estudá-la se
torna um grande desafio e deve ser feito com muita dedicação, para que as
perguntas mais frequentes sejam respondidas, desde o seu entendimento até
sua definição.
O entendimento da epoché fenomenológica, que significa suspender
o juízo do mundo diante do fenômeno e das crenças referentes ao mundo
natural, demonstra que o estudioso ou o pesquisador deve deixar de olhar o
fenômeno de uma forma comum, abdicando dos preconceitos em relação ao
que se questiona.
A Fenomenologia colocou uma visão existencial do trabalho social,
proporcionando a aplicação da teoria social. O Serviço Social se aproximou
dela para tentar explicar os fenômenos humanos e da sociedade, mas outras
correntes filosóficas ganharam maior peso ao longo do desenvolvimento da
categoria profissional. Já a influência no Serviço Social se realizou por meio
da intervenção social, com um procedimento sistemático de ajuda psicosso-
cial, por meio de um diálogo que possibilita mudanças a partir das experiên-
cias da pessoa, dos grupos e da comunidade.
A busca pela modernização da profissão, no cenário em que o Serviço
Social se encontrava, oportunizou a busca pela cientificidade, sem alterar
significativamente os conteúdos profissionais.
O processo de renovação profissional, conhecido como Movimento de
Reconceituação do Serviço Social no Brasil, se expressou em três perspec-
tivas, sendo elas: a Modernizadora, a Reatualização do Conservadorismo e a
Intenção de Ruptura.
A perspectiva Modernizadora procurou adequar o Serviço Social às
exigências sociopolíticas do período ditatorial, inserindo os valores e as
compreensões tradicionais em uma nova teoria e metodologia, enquanto
a perspectiva de Reatualização do Conservadorismo, embasada teórico e
metodologicamente na Fenomenologia, buscou fundamentar o exercício do
Serviço Social na ajuda psicossocial; e a perspectiva de Intenção de Ruptura
procurou romper com o pensamento conservador e com o reformismo,
atrelando-se à tradição marxista. Neste importante processo de renovação,

18
ocorreram diferentes momentos de reflexão teórico-cultural e ideológica
e política.

Questões para reflexão


Qual alteração proporcionou a perspectiva modernizadora com relação
ao Serviço Social tradicional?

Atividade de aprendizagem

1. O processo de renovação profissional denominado de Movimento de


Reconceituação do Serviço Social atingiu toda a América Latina, apresen-
tando momentos distintos de acordo com a conjuntura de cada país. No Brasil,
esse movimento se expressou em três perspectivas, sendo elas: a Moderniza-
dora, a Reatualização do Conservadorismo e a Intenção de Ruptura. Destas,
somente a última é de tonalidade crítica e progressista.
O Movimento de Reconceituação do Serviço Social brasileiro se apresenta
em três perspectivas distintas. Diante dessa consideração, assinale qual foi o
embasamento teórico da perspectiva Modernizadora:
a. Marxismo.
b. Tomismo.
c. Fenomenologia.
d. Tomismo Cristão.
e. Estrutural Funcionalismo.

2. A perspectiva de Reatualização do Conservadorismo obteve sua emersão


quando ocorreu o enfraquecimento da perspectiva Modernizadora, sendo
manifestada junto ao Seminário de Sumaré. O Movimento de Reconceitu-
ação do Serviço Social brasileiro se apresentou sob três perspectivas.
Com relação à perspectiva de Reatualização do Conservadorismo, assinale a
alternativa correta quanto a ela:
a. Apareceu na década de 1970, no Chile, com fundamentação teórica
no marxismo, e rompeu definitivamente com o serviço social tradi-
cional.

19
b. Despontou na década de 1960, na América Latina, buscou referencial
teórico na conjuntura funcionalista e rompeu definiti­vamente com o
Serviço Social tradicional.
c. Manifestou-se na década de 1970, no Brasil, com fundamentação
teórica na Fenomenologia, e não rompeu definitivamente com o
Serviço Social tradicional.
d. Mostrou-se na década de 1960, na Europa, aprofundou o conceito de
Fenomenologia e rompeu com o Serviço Social tradicional e com a
democracia.
e. Surgiu na década de 2015, no Brasil, buscou a referência teórica no
pluralismo e reforçou o Serviço Social tradicional como propósito
profissional.

20
Seção 2

O homem como ser social

Esta seção propõe o estudo do homem como ser social, neste longo
processo de construção metodológica do Serviço Social, que se configura
como uma profissão inserida na divisão social e técnica do trabalho, frente às
diferentes conjunturas sociais e políticas no Brasil. Aproveite este momento
para refletir e aprofundar conceitos e conhecimentos da profissão de assis-
tente social.

2.1 As relações pessoais, de mercado e o ser social


O longo caminho para a profissionalização do Serviço Social foi prove-
niente das demandas, muitas vezes, emergentes da população, dada sua
condição de vida e de exploração.
O surgimento do Serviço Social no período do capitalismo monopolista
estava relacionado à necessidade da concepção de novas formas de controle,
frente ao caráter repressivo da época, para a intervenção nas expressões da
questão social. O referencial tradicional e conservador da profissão passa,
então, a ser questionado pela categoria dos profissionais do Serviço Social.
Esse movimento acontece porque esse pensamento não representava
um projeto construído pelos profissionais, mas uma identidade conferida à
profissão pela burguesia, desde a sua extensa trajetória marcada pelo referen-
cial ideológico da Igreja Católica.
A partir do capitalismo monopolista e das mudanças na dinâmica social
burguesa, surgiu a necessidade de enfrentamento das condições de vida e de
pobreza da população, mas não mais de forma repressiva pelo Estado, e sim,
por meio da edificação de uma ação coletiva pela sociedade.  
A distinção entre moral e religião apresentou a necessidade de construir
uma moralidade racional, fundamentada na autoridade, que embasasse a
sociedade burguesa e garantisse a harmonia e coesão social.
O pensamento de Barroco (2006) apresenta que a moral surge a partir da
necessidade de o homem estabelecer um conjunto de regras que orientem a
convivência em sociedade, conforme expõe:

[...] origina-se do desenvolvimento da sociabilidade;


responde à necessidade prática de estabelecimento de

21
determinadas normas e deveres, tendo em vista a socia-
lização e a convivência social. Faz parte do processo de
socialização do indivíduo reproduzindo-se através do
hábito e expressando valores e princípios socioculturais
dominantes, numa determinada época histórica. Possibili-
tando que os indivíduos adquiram um senso moral (referido
a valores, por exemplo, a justiça), ou seja, tornem-se
conscientes de valores e princípios éticos. Ao serem inter-
nalizados, transforma se em orientação de valor para o
próprio sujeito e para juízo de valor em face dos outros e da
sociedade. (BARROCO, 2006, p. 42)

A moralidade pode assinalar o grau de sociabilidade de determinada


sociedade, produzindo indicativos de que as regras estão sendo seguidas
pelas pessoas ou não. O senso moral, por sua vez, faz referência aos valores
locais de uma sociedade, mobilizados quando se fica sabendo da situação de
pobreza em alguns países do mundo, em que crianças e adultos morrem por
fome e falta de assistência.
O conservadorismo interfere socialmente a partir de uma situação moral,
e sua ação vislumbra a recuperação da moral tradicional, com o objetivo do
dever moral, de resgate da tradição e da compreensão de que os valores são
absolutos, o que pode significar tanto uma atitude de conformismo diante
da norma repressiva como a transferência da liberdade para a esfera de uma
realidade transcendental.
A partir da consideração da discussão de moral e ética e do entendi-
mento das situações enfrentadas pela população e de seu quadro de pobreza,
surgiu a necessidade de ações vislumbrando políticas sociais privadas, como
as associações profissionais e os clubes de serviços, que atuam como uma
associação de pessoas e de diferentes profissionais, com um objetivo comum:
a socialização entre seus integrantes para o bem comum de um grupo ou de
uma sociedade. Desse modo, as atitudes de solidariedade e cristãs se constru-
íram no dever cívico, ocupando cada vez menos espaço com as situações de
desigualdade social.  
Com a crise econômica, social e moral que se apresentou nos países
capitalistas a partir do final dos anos 1970, essa solidariedade universal, que
fundamentou os sistemas de seguridade social, passou a ser questionada
pelos teóricos neoliberais e pelos neoconservadores, em busca de retroceder
a solidariedade do passado a partir de princípios humanitários e altruístas.

22
Considerando as particularidades do Serviço Social, diversos funda-
mentos contribuíram para a edificação da imagem da profissão, desde
a emergência do Serviço Social no Brasil, em 1930, quando se ressalta
a afirmação e o fortalecimento do projeto reformista e conservador, de
encontro com o processo de consolidação do capitalismo no Brasil.
O Serviço Social configura-se como uma das profissões em que a inserção
na divisão social e técnica do trabalho ocorreu a partir de sua premissa
orgânica, com as prerrogativas e os princípios do seu projeto.
Neste momento, a questão social passa a ser uma questão política, e os
afazeres se aproximam das ações exercidas pelos primeiros profissionais no
início do século passado.
A trajetória histórica da assistência social no Brasil aconteceu de forma
crescente, junto ao agravamento da ordem econômica, política e social,
proporcionando choques políticos e sociais entre grupos subalternizados da
sociedade, o Estado e a burguesia.
A política social surgiu e adquiriu utilidade social, desenvolvendo condi-
ções para se firmar a profissão, objetivada com as diferenças e contradições
que o sistema capitalista provocava e focando também nas situações de
vulnerabilidade pessoal e social.
A assistência social, em resposta ao Estado e às expressões da questão
social, marcou densamente a relação com a igreja, em virtude do seu pionei-
rismo, da caridade e do dom de servir ao próximo.
Na década de 1930, com a crise econômica e o agravamento das desigual-
dades sociais, o governo passou a reconhecer a existência de problemas de
grande relevância aprovando diretrizes para o atendimento a âmbitos mais
carentes e vulneráveis.
Iamamoto (1995) discute a formalização das teorias e a sua instituciona-
lização no período de 1930 frente às demandas e realidades apresentadas e
traz a discussão de que:

É necessário, por um lado, explicar historicamente as


determinações sociais que a qualificam na divisão social do
trabalho e que atribuem a esse tipo de trabalho na socie-
dade algumas peculiaridades. Por outro lado, é importante
também recuperar e elucidar as raízes teóricas das quais o
Serviço Social é caudatário, que vêm informando a maneira
de ler a sociedade e de ler a profissão nessa sociedade.
(IAMAMOTO, 1995, p. 173)

23
A autora lembra que é necessário interpretar o significado sócio-histórico
da profissão na sociedade, como orientador da proposta de ensino teórico e
prático em todo o seu contexto.

A profissão traz, pois, em suas raízes, o selo de legitimi-


dade de classe, como um dos instrumentos a serviço da
dominação político-ideológica e da apropriação econô-
mica, isto é, como um tipo de ação social essencialmente
política, ainda que travestida de aparência técnica-burocrá-
tica e filantrópica-moralizadora. Assim sendo, o desafio do
ensino de prática acompanha historicamente a trajetória
profissional, suas continuidades e rupturas. A indagação
que se apresenta, hoje, pode ser assim formulada: como
responder academicamente às exigências de formação
para a prática profissional sob novos parâmetros históricos
e políticos-intelectuais? (IAMAMOTO, 1995, p. 194 -195)

As ciências sociais oferecem suporte teórico para o Serviço Social, escla-


recendo as questões da desigualdade social e focalizando os problemas
sociais estruturalmente colocados pela lógica do sistema capitalista. A siste-
matização da ação do Serviço Social é vislumbrada a partir dos debates e
das reflexões para o reconhecimento da profissão enquanto uma disciplina
de intervenção.

Para saber mais


Afirmar que o Serviço Social é uma profissão inscrita na divisão
social e técnica do trabalho como uma especialização do trabalho
coletivo, identificando-se como trabalhador assalariado, sugere
problematizar como ocorre a relação de compra e venda dessa
força de trabalho a diferentes empregadores, como o Estado,
as organizações privadas, não governamentais ou patronais.
Para conhecer mais sobre essa reflexão, acesse:
NETTO, José Paulo. Capitalismo monopolista e Serviço Social. 4. ed.
São Paulo: Cortez, 2005.

24
Figura 1.3 | Relações e condições de vida e de trabalho

Mercado
de trabalho

Mundo
do trabalho

Consciência
de ser social

Fonte: elaborada pelo autor (2019).

Como entender o fenômeno humano e as dificuldades de acessar o


mundo do trabalho e alcançar a consciência de mundo e de ser social, aqui
representado pela imagem de uma árvore que brota em um terreno pedroso e
que mantém a vida vegetativa apesar de um terreno não totalmente propício
para isso, nos mostrando que as relações e as condições que são apresentadas
nem sempre são compatíveis com o que se idealiza ou se acredita.
O assalariamento profissional e a ocupação de um espaço na divisão socio-
técnica do trabalho, entendida como uma profissão que almeja desvendar
suas particularidades como parte do trabalho coletivo e de uma atividade
coletiva de caráter eminentemente social e que coloca o Serviço Social brasi-
leiro na perspectiva de aumentar seus referenciais técnicos para a profissão.
O questionamento ao referencial positivista tem início na conjuntura de
mudanças econômicas, políticas, sociais e culturais que disseminam nos anos
1960, com as novas configurações que marcam a expansão do capitalismo
mundial, conferindo à América Latina um caráter de desenvolvimento exclu-
dente e dependente.
O Serviço Social caminha para melhorar frente às inquietações e insatis-
fações desse momento histórico e direciona seus questionamentos ao Serviço
Social tradicional por meio de um extenso movimento, de um processo de
revisão teórico, metodológico, operativo e político.

25
Esse movimento de renovação que aparece no Serviço Social na sociedade
latino-americana coloca aos assistentes sociais a necessidade de construção
de um novo projeto empenhado com as demandas das classes menos favore-
cidas economicamente e em suas mobilizações. Por meio desse movimento,
de questionamentos à profissão, que ocorre de forma diferenciada de acordo
com as realidades de cada país, a interlocução com o marxismo se configurou
para o Serviço Social latino-americano, como a apropriação da matriz teórica
da teoria social de Marx.
Esse movimento de Reconceituação e seus desdobramentos se definem
de forma mais clara nas tendências voltadas à fundamentação do exercício e
nos posicionamentos teóricos do Serviço Social.
As ditaduras que tiveram vigência no continente deixaram suas marcas
nas Ciências Sociais e no Serviço Social, o qual, no período de 1960 a 1970,
permaneceu em inércia.
Na década de 1970, a formação e o exercício profissional no país modifi-
caram-se como desenvolvimento do debate e da produção intelectual do
Serviço Social brasileiro, procedendo na explicitação das vertentes moderni-
zadora e na vertente guiada pela fenomenologia.
No entanto, é com esse referencial, ambíguo em um primeiro momento,
do ponto de vista teórico, mas posicionado do ponto de vista sociopolí-
tico, que a profissão questiona sua prática institucional e seus objetivos de
adaptação social, ao mesmo tempo em que se aproxima dos movimentos sociais.
Essas tendências, que configuram linhas diferenciadas de fundamen-
tação teórico-metodológica para a profissão, acompanharam a trajetória do
pensamento e da ação profissional nos anos subsequentes ao Movimento de
Reconceituação e se conservaram presentes até os anos recentes, apesar de
seus movimentos, de suas redefinições e da emergência de novos referenciais
nesta passagem de milênio.
A compreensão do Serviço Social, a partir do conceito construído pelos
fundamentos históricos, teóricos e políticos que percorreram o Serviço Social
no Brasil, traz em seu significado e nas suas particularidades a representação
da realidade e as possibilidades de mudanças à medida que a profissão passa
a trilhar novos rumos e a assumir compromissos históricos com outras disci-
plinas e com diferentes demandas, por meio de relações interdisciplinares
com as diferentes políticas públicas e com os profissionais de especificidades
diversas, que em uma somatória oferecem condições de leituras e análises
ampliadas, como o caso da Psicologia, Pedagogia, Economia, entre outras.

26
A trajetória do Serviço Social no Brasil é constituída pelo grande inves-
timento intelectual, o que permite fundamentar a perspectiva de que ele faz
parte de um processo de construção de uma imagem renovada, convivendo
dialeticamente com arranjos tradicionais e conservadores.
O conservadorismo da Igreja Católica e a teoria social positivista formam
as primeiras matrizes do conhecimento e da ação do Serviço Social brasi-
leiro. A relação da profissão com o ideário do pensamento social da Igreja
Católica se constitui numa relação que imprime o caráter apostolado, conce-
bendo a questão social como problema moral e atribuindo intervenções para
a priorização da família e do indivíduo enquanto solução dos problemas
sociais, materiais e morais. O Serviço Social surge para atuar sobre os valores
e comportamentos das pessoas, a partir do referencial moral da igreja.
Almeida apresenta três sínteses da memória do Serviço Social:

A primeira configura a história do primeiro estágio do


desenvolvimento do Serviço Social em sentido restrito
e particular; ou seja, a memória da implantação dos
primeiros programas de Serviço Social na cidade do Rio
de Janeiro. A segunda síntese compreende a evolução do
Serviço Social desenvolvida numa perspectiva funciona-
lista reduzida do Modelo Social Work. Este procedimento
metódico está explícito em termos concretos numa formu-
lação de caráter sistemático, que designamos de Modelo
Funcional. A terceira síntese configura de forma inacabada
um modelo histórico. Admite os dois quadros referenciais,
os dois métodos e as técnicas dos dois modelos anteriores;
colocando-os em contradição. (ALMEIDA, 1986, p. 61)

O modelo proposto por Almeida para o primeiro momento, no período


de 1932 a 1945, versou na implantação e no desenvolvimento inicial do
Serviço Social no Brasil, contando com a participação de alunos do Instituto
Social do Rio de Janeiro e provocando grandes modificações na estrutura
socioeconômica do país, revelando tanto crescimento de riqueza e oportuni-
dades como graves problemas, por exemplo, na questão da industrialização,
agrária, de urbanização, na relação com a igreja, entre outros.
O processo de institucionalização do Serviço Social brasileiro se deu
com o processo de produção e reprodução das relações sociais no contexto
contraditório, oriundo das relações entre as classes sociais antagônicas na

27
consolidação do sistema econômico capitalista, que contou com a interfe-
rência do Estado nos processos de regulação social.
Esse processo teve início na década de 1930, quando o governo do
Presidente Getúlio Vargas, por meio da Consolidação das Leis do Trabalho,
do salário mínimo, entre outros aspectos, reconhece a questão social no
âmbito das relações do capital e do trabalho.
A questão social foi transformada em problema de administração
pública, sendo o Estado responsável pela criação e pelo desenvolvimento de
políticas para a regulação da questão social nos mais diversos setores da vida
da população a nível nacional.
A criação do Serviço Social enquanto profissão responde a determina-
ções históricas e sociais, nas quais, muitas vezes, o assistente social é reconhe-
cido como o profissional da ajuda, do auxílio, da gestão dos serviços sociais,
orientando e esclarecendo a população quanto aos seus direitos, serviços e
benefícios disponíveis.

2.2 A categoria trabalho na constituição do ser social


A análise sobre a centralidade da categoria trabalho na constituição do
ser social enquanto significado ontológico-social da categoria trabalho na
emergência do ser social deve ser estudada de forma que esta correlação entre
a discussão do ser e do processo interventivo do Serviço Social se aproprie de
conhecimentos e abertura para que as reflexões e o desenvolvimento de ações
se propaguem com respaldo técnico e reflexivo.
A concepção de trabalho constante no projeto de formação profissional
do Serviço Social é a compreensão de que, por meio da ação e organização do
trabalho, foram situadas as condições de existência e reprodução social dos
indivíduos historicamente.
O trabalho do assistente social é concreto e abstrato, pois seu exercício
profissional especializado se alcança por meio do trabalho assalariado, na
relação de compra e venda de sua força de trabalho, subordinado às determi-
nações da alienação e exploração, inserido na trajetória do valor.
O significado das relações de poder, que extrapola o conceito de poder
propriamente dito para um conceito que está em constante transformação e
enquanto realização de uma prática social, pode ser entendido como a coisi-
ficação das relações, quando o trabalho adquire a forma mercantil que afeta
as relações sociais, coisificando-se.
O entendimento de que nas relações entre objetos materiais há uma
relação oculta das coisas frente às relações sociais, em que as representações

28
e as contradições são expressadas e o entendimento sobre o significado das
relações de poder extrapola o conceito de poder propriamente dito para um
conceito que está em constante transformação e enquanto realização de uma
prática social.
O Serviço Social, no processo de reprodução material e social da força
de trabalho, por meio dos serviços sociais previstos em programas desenvol-
vidos em diversas áreas, como na assistência social, na saúde, na educação,
entre outras, interfere na reprodução da força de trabalho, portanto, é tido
como socialmente necessário. Por várias décadas, a profissão vivenciou um
processo de renovação, com importantes redefinições teóricas e metodoló-
gicas, como também éticas e políticas.
A fundamentação teórica da relação do Serviço Social com o trabalho
é uma discussão necessária e constante para fortalecer os elementos inova-
dores para crítica e apreensão da profissão.

Atividade de aprendizagem

1. A inserção do Serviço Social próximo à sociedade civil organizada e


aos trabalhadores fortaleceu a análise crítica das intervenções, bem como
destacou a reflexão crítica e a análise de conjuntura.
O que foi vislumbrado neste momento de construção teórica e metodológica
da profissão?
a. Um exercício prático que oportuniza a transformação cultural.
b. Um consenso entre o entendimento teórico frente a uma ideologia de
manutenção social.
c. Uma construção de referencial prático que rompe com uma ideologia
de transformação econômica.
d. Um propósito político que nega uma ideologia de transformação
política.
e. Um referencial teórico frente a uma ideologia de transformação social.

2. O movimento operário e a burguesia contribuíram para a prestação da


assistência social de forma especializada. Iamamoto (1995, p. 183), referente
ao pensamento e ao movimento apreendido por meio de contradições, diz
que “o fundamento da prática social é, pois, o trabalho social, o trabalho
coletivo: atividade criadora por excelência, através da qual o homem se
objetiva exteriorizando as suas forças genéricas na relação com outros
homens. Todavia, na sociedade em que vivemos o trabalho não só cria o

29
homem; no trabalho, ele também se perde se aliena”. No entendimento sobre
as relações entre objetos materiais, a autora afirma que há uma relação oculta
das coisas frente às relações sociais, nas quais as representações e as contra-
dições são expressas.
Como a autora define o entendimento sobre o significado das relações de
poder que extrapola o conceito de poder propriamente dito para um conceito
que está em constante transformação e enquanto realização de uma prática social?
a. Exteriorização.
b. Rompimentos.
c. Antecipação.
d. Coisificação.
e. Meditação.

30
Seção 3

Serviço Social brasileiro: breve histórico de 1965


e 1975 e o Movimento de Reconceituação
Nesta unidade, o objetivo é analisar alguns pontos das singularidades
em relação ao regime militar no Brasil e sua influência no Serviço Social,
a fim de explanar sobre a ruptura que tal período ocasionou nele, a partir
do processo de discussões ocorridas nos congressos e seminários profissio-
nais, como os de Teresópolis, Araxá e Sumaré, resultando no Movimento
de Reconceituação, no rompimento com o método tradicional e na adesão
de uma postura crítica social do fazer profissional, com ênfase na discussão
política e econômica.

3.1 Contextualização histórica, política e econômica do


Movimento de Reconceituação do Serviço Social
O Movimento de Reconceituação é um marco histórico para o Serviço
Social, visto que representa a ruptura com o conservadorismo, para avançar
na perspectiva teórica e metodológica da profissão. Destacamos, neste estudo,
que a análise desse momento de transição do Serviço Social tradicional ou
conservador para a sua renovação vai além da representação cronológica,
vislumbrando a importância histórica da formação profissional, de luta
e sonhos, pois revela os anseios e as expectativas dos profissionais para a
mudança do pensamento crítico, em busca de um projeto profissional que
almeja uma sociedade justa e digna.
Para a contextualização histórica, política e econômica do Movimento
de Reconceituação do Serviço Social, destacamos, primeiramente, o governo
de Juscelino Kubistchek, de 1º1 de janeiro de 1956 até 31 de janeiro de 1961,
que teve como base um perfil desenvolvimentista, com a execução de obras
de impacto para a economia brasileira e para a sociedade, e como marca de
seu governo o propósito de crescer cinquenta anos em cinco por meio da
implementação de um Plano de Metas.
Na segunda metade da década de 1950, ocorreu um impulso do cresci-
mento industrial, com a implementação do planejamento econômico e
industrial, conforme Raichelis (1998, p. 36):

Um novo período no processo de crescimento industrial


inaugura-se a partir de 1956 com o governo de Juscelino
Kubitschek. Verifica-se, a partir desse momento, um novo

31
desempenho do Estado no que se refere ao incremento do
processo industrial, a partir das facilidades que abre para a
penetração das corporações multinacionais.

Com a intensificação do desenvolvimentismo nesse governo, o cresci-


mento econômico e industrial ocorreu alicerçado nos capitais estrangeiros;
permitiu a ampliação do campo industrial e negociações de diversas classes e
ideologias; e ampliou relações comerciais externas, desprovendo as necessi-
dades das relações sociais no país.
Na sequência, houve o governo do presidente Jânio Quadros, de 31 de
janeiro de 1961 a 25 de agosto de 1961, quando renunciou. Jânio Quadros
tinha grande simpatia do eleitorado, e como símbolo de sua campanha, uma
vassoura, justificando que varreria a corrupção do cenário político brasileiro
e combateria a crise econômica, admitindo medidas anti-inflacionárias e a
desvalorização da moeda para conter as importações, logo, houve o congela-
mento de salários e restrições de crédito.
O presidente deixou de contar com o apoio do Congresso Nacional
e renunciou. O presidente do Congresso Nacional, o deputado Paschoal
Ranieri Mazzilli, assumiu o poder interino do país durante treze dias, de 25
de agosto a 7 de setembro de 1961. Nesse período, o vice-presidente João
Goulart estava em missão diplomática na China e seu retorno foi desaconse-
lhado pelo Ministro da Guerra, em face de sua proximidade ao movimento
sindical e a outras representações de classe, instalando uma tensão política
que culminou em um encaminhamento diplomático, alterando o sistema de
governo brasileiro de presidencialismo para parlamentarismo.

Questões para reflexão


Cabe, neste momento de estudo, o entendimento do que vem a ser o
regime parlamentarista. Você sabe qual é a proposta desse regime?
Você consegue imaginar como ocorreram as relações profissionais
nesse período?

João Goulart assume a presidência em uma instância diplomática,


no parlamentarismo, a fim de se evitar conflitos civis armados e não ferir
os interesses do grande capital, levando o Estado a realizar um plebis-
cito para verificar a possibilidade de manutenção desse regime ou a volta
do presidencialismo, resultando na vontade da população para retornar
ao presidencialismo.

32
Figura 1.4 | Momento econômico e político e suas repercussões

Interferência
no processo
Ações de renovação
governamentais profissional
Repercussão
econômica e
polí�ca

Fonte: elaborada pelo autor (2019).

O retorno do presidencialismo, com João Goulart, levou à elaboração do


Plano Trienal de Desenvolvimento Econômico, visando corrigir as distor-
ções da distribuição de renda, evidenciando polêmicas nas áreas do sistema
tributário, da administração pública, do sistema bancário, do sistema univer-
sitário e da reforma agrária.

Eliminar progressivamente os entraves de ordem institu-


cional, responsável pelo desgaste de fatores de produção e
pela lenta assimilação de novas técnicas em determinados
setores produtivos. Dentre esses obstáculos de ordem
institucional, destaca-se a atual estrutura agrária brasileira,
cuja transformação deverá ser promovida com eficiência e
rapidez. (FURTADO, 1997, p. 8)

O governo, no final de 1963, apresentava uma instabilidade política,


vislumbrando greve geral, declarações de intenção de golpe, enfraqueci-
mento dos militares mais moderados e adesão de grande parcela da juven-
tude em assuntos políticos e ideologias de esquerda.
Os esforços de Jango para conter a crise não foram efetivos, o que desen-
cadeou mobilizações de seus opositores para a derrubada do governo, sendo
que, no dia 31 de março de 1964, as forças armadas contrárias acabaram
derrubando o governo, originando o regime militar.
Nesse período, o Serviço Social se destacou com uma significativa parti-
cipação na formulação de políticas e de planejamento, obtendo a referência
na profissão nas equipes interdisciplinares.

33
Questões para reflexão
Os militares brasileiros trazem a crença de que tiveram apoio popular
no processo de 1964 ou até que praticaram uma contrarrevolução, já
que eles acreditavam que havia uma revolução comunista em marcha.
O entendimento de golpe se refere aos que lutavam contra o regime
militar e argumentam que houve uma intervenção civil e militar. Diante
disso, questiona-se: em 1964 houve uma revolução ou um golpe? Qual
é o seu entendimento sobre esse importante momento político na vida
dos brasileiros? No que se refere ao Serviço Social, qual é a importância
desse momento histórico no seu processo de renovação?

3.2 Qualificação profissional e cenário nacional


O processo de rompimento com o Serviço Social tradicional no Brasil se
aprofundou com a ditadura militar, instaurada no final da primeira metade
da década de 1960, constituindo polêmicas e conflitos na profissão, buscando
rediscuti-la como um todo.
Nesse contexto, a renovação do Serviço Social brasileiro tomou consis-
tência a partir da busca pelo objetivo de construir um perfil profissional
crítico, vislumbrando o redirecionamento profissional, com conteúdo de
enfrentamento ao cenário nacional autoritário e centralizador, agindo em
conformidade com a mobilização das forças populares democráticas.

Para saber mais


O Conselho Federal de Serviço Social (CFESS) apresenta uma reedição
do texto de Marilda Iamamoto sobre as atribuições privativas do assis-
tente social, considerando-se a atualidade do debate sobre o tema e
sua relevância em um contexto de redefinições das políticas sociais e
do Serviço Social.

Para conhecer mais sobre essa discussão, acesse:

CONSELHO FEDERAL DE SERVIÇO SOCIAL. Atribuições privativas do/a


assistente social em questão. Brasília: CFESS, 2012.

A revisão dos conteúdos do Serviço Social ocorreu vislumbrando superar


a visão que se vinculava à adaptação do homem ao meio e de seu papel junto
à sociedade. No ano de 1965, o Seminário Latino-Americano de Porto Alegre
buscou encontrar qual era a contribuição do Serviço Social na superação

34
do subdesenvolvimento frente às conjunturas características de cada país
neste continente.
Na década de 1960, o mercado se amplia e consolida-se para o profis-
sional assistente social em benefício das novas apresentações da questão
social, e no governo de Juscelino Kubitschek, no regime militar, é que ocorre
o processo de renovação da profissão no Brasil.
No final da década de 1960 até o início da década de 1970, a prática
profissional manteve-se vinculada ao Serviço Social tradicional, conduzida
pelo empirismo e pela burocratização referencias advindas do positivismo e
do funcionalismo.
A industrialização, durante o regime militar, intensificou o processo de
produção e reprodução da questão social, alterando suas formas de manifes-
tação e expressão na sociedade.
No final da década de 1960, as políticas setoriais se movimentaram
significativamente em favor do capitalismo. Essas novas demandas profis-
sionais calharam a estabelecer para o assistente social novas competências
e capacitações.

Atividade de aprendizagem

1. O processo de renovação profissional denominado de Movimento de


Reconceituação do Serviço Social atingiu toda a América Latina, tendo
desenvolvimentos distintos de acordo com a conjuntura de cada país. A
década 1960 foi marcante para o Serviço Social e o processo de renovação
profissional.
Assinale a alternativa correta sobre essa consideração:
a. É na primeira metade da década de 1950 que se tem o Movimento de
Reconceituação, sendo este um processo singular que atinge somente
o Brasil.
b. O Movimento de Reconceituação do Serviço Social brasileiro tem
apenas duas vertentes mais significativas, sendo elas: a funcionalista
e a fenomenológica.
c. Uma das características do Movimento de Reconceituação do Serviço
Social é que ele se desenvolve de forma homogênea em toda América
Latina.

35
d. Todas as perspectivas do Movimento de Reconceituação do Serviço
Social brasileiro se apresentam de forma progressista e sustentadas
em uma teoria social assistencialista.
e. O processo de renovação profissional desencadeado na segunda
metade da década de 1960, na América Latina, foi denominado de
Movimento de Reconceituação do Serviço Social.

2. O Serviço Social caminha para avançar frente às inquietações e insatisfa-


ções deste momento histórico e direciona seus questionamentos ao Serviço
Social tradicional por meio de um amplo movimento, de um processo de
revisão teórica, metodológica, operativa e política. O questionamento ao
referencial positivista tem início no contexto de mudanças econômicas,
políticas, sociais e culturais que se difundem nos anos 1960.
Qual é o caráter que as novas configurações que caracterizam a expansão do
capitalismo mundial adquirem e atribuem à América Latina?
a. Um caráter de desenvolvimento excludente e subordinado.
b. Um caráter de desenvolvimento excludente e insubordinado.
c. Um caráter de desenvolvimento inclusivo e subestimado.
d. Um caráter de subdesenvolvimento inidôneo e subordinado.
e. Um caráter de subdesenvolvimento excludente e insubordinado.

Fique Ligado!
Você teve a oportunidade de conhecer e estudar um conteúdo importante
sobre o processo de renovação do Serviço Social, bem como os compro-
missos de profissionais que participaram ativamente dele, por meio de suas
contribuições, principalmente, de forma coletiva, oportunizando o grande
crescimento da categoria profissional.
Compreendeu as bases teóricas do Serviço Social e a reflexão sobre o
trabalho na sociedade do capital e o significado ontológico-social do trabalho
enquanto categoria que constitui o ser social, identificando o homem e a
mulher como seres reais, materiais, dinâmicos e sociais.
Também, aprendeu que eles estão inseridos em contextos sociais e trouxe
à luz a perspectiva para a construção do projeto de formação profissional em
Serviço Social.

36
Para concluir o estudo da unidade
O Movimento de Reconceituação, que teve início na década de 1960,
apresentou perspectivas distintas no Brasil, manifestando-se, primeiramente,
de uma forma que não rompeu significativamente com o conservadorismo.
O Centro Brasileiro de Cooperação e Intercâmbio de Serviço Social
(CBCISS) realizou, por meio de seminários e encontros, como os de Araxá e
Teresópolis, questionamentos da prática e metodologia, dentro da perspec-
tiva Modernizadora. Tais seminários afirmam o conservadorismo com novas
bases teóricas, aqui manifestadas no estrutural funcionalismo, e cristalizam a
intervenção adaptadora da profissão junto às políticas sociais.
Espera-se, aqui, que o aluno tenha apreendido os contornos mais signifi-
cativos dessa perspectiva, observando que os apontamentos são fundamen-
tais para uma absorção mais profunda dos conteúdos expostos.
O Seminário de Sumaré apresentou orientações da perspectiva fenome-
nológica no sentido de dar maior significado a uma individualização das
intervenções pro­fissionais, com ênfase em conteúdos psicológicos, funda-
mentada em uma teoria que enfatiza a subjetividade e a compreensão dos
fatos, enquanto recurso à subjetividade, como uma alternativa para sair do
isolamento ou da imparcialidade sustentada pela perspectiva Modernizadora.
A perspectiva de Reatualização do Conservadorismo foi à tona quando
houve o enfraquecimento da perspectiva Modernizadora, manifestada junto
ao Seminário de Sumaré. Ela não rompe definitivamente com o Serviço Social
tradicional e tem sua fundamentação teórica embasada na fenomenologia.
Vimos até esse momento que a perspectiva Modernizadora, bem
com a Reatualização do Conservadorismo, não encerram o tradiciona-
lismo profissional.
O Seminário de Araxá, realizado em 1967, e o Seminário de Teresópolis,
datado em 1970, e ainda o Seminário de Sumaré, em 1978, se configuram
como estratégias de organizações profissionais em busca de uma reconcei-
tuação da categoria. Analisá-los significa rever a história do Serviço Social
enquanto intervenção e teoria, realizando a práxis em um movimento histó-
rico. Isso nos serve para extrair os significados, caminhos e descaminhos
que o Serviço Social percorreu até encontrar-se na atual formatação, a qual
também é sujeita à temporalidade.
O Serviço Social brasileiro enfrentou um desgaste, que questionou sua
legitimidade ao longo de décadas, levando a profissão a um processo de
renovação. O cenário brasileiro, que passou por governos populistas, os quais,

37
mesmo se projetando em discursos próximos às massas, não foram capazes
de implementar mudanças significativas junto às desigualdades sociais.
Em meio a essas transformações, o Serviço Social, a partir de 1965,
lançou sua renovação no Brasil, sendo manifesta em todo o seu conjunto por
três grandes perspectivas, sendo elas: a Modernizadora, a de Reatualização
do Conservadorismo e a de Intenção de Ruptura.
Estudar momentos históricos e políticos em concomitância com o enten-
dimento da natureza do ser, do ser humano, da natureza, é enriquecedor. E
aqui, neste material, a ilustração da natureza, por meio de imagens de pedras
que ilustraram algumas reflexões, esteve presente para despertar o entendi-
mento das relações entre os homens e a natureza e o que os torna distintos.
A relação homem e natureza pode ser entendida como a relação social que se
constrói em uma condição de reprodução da própria sociedade.
O cenário político e econômico, representado pelo trabalho, pode
intervir na vida social, tendo o assistente social um espaço de atuação de
envolvimento direto na trama dessas relações em atenção às conjunturas e
mudanças da sociedade.
Convido você a continuar estudando esse processo de construção
embasado em teorias, conhecimentos, metodologias e desafios do homem
e da natureza.

Atividade de aprendizagem da unidade


1. As respostas do Estado diante de situações consideradas socialmente
problemáticas podem ser vislumbradas, pois repercutem direta ou indire-
tamente nas relações sociais. A legislação referente ao estado de bem-estar
social suscita do resultado de várias lutas e interesses de classes. O papel do
Estado é o de organizar a sociedade para responder às demandas sociais.
Como podemos vislumbrar as respostas do Estado diante de situações consi-
deradas socialmente problemáticas?
a. Com a instalação de políticas privadas que repercutem direta ou
indiretamente nas relações sociais.
b. Com a instalação de políticas públicas que repercutem direta ou
indiretamente nas relações sociais.
c. Com a modificação do sistema de financiamento de políticas públicas.
d. Com a conduta da população, que interfere indiretamente nas relações
sociais.

38
e. Com a consolidação de políticas públicas e de comercialização de
bens, que repercutem diretamente na vida das pessoas.

2. As lutas e intervenções profissionais exigem uma reconstrução do objeto


de intervenção, reprocessando a prática e a crítica na dinâmica de relações
do Estado com a sociedade e também as relações com as Organizações Não
Governamentais (ONGs), visando à solidificação da profissão e do trabalho
do profissional do Serviço Social, no processo de articulação de conheci-
mentos e de repensar e refletir o fazer profissional, enquanto referência de
um processo dialético das mediações que vislumbram o fortalecimento das
relações sociais e humanas.
Qual é o propósito desta colocação quando pensamos no objeto do Serviço Social?
a. Uma forma de verificar e repensar a relação entre educação, cultura,
habitação e meio ambiente, na busca da economia global.
b. Um processo de reviver a relação entre igreja, sociedade, comissões e
filantropia, na busca pela defesa de direitos e religiosidade.
c. Um constante repensar da relação entre sociedade, cultura, economia
e subjetividade, na busca pela defesa de direitos e autonomia.
d. Uma etapa de descontinuidade da relação entre conselho, geren-
ciamento, administração e foco, na busca pela defesa de padrões de
comportamento.
e. Uma vivência de formulação e exploração da relação entre política,
eleições, câmaras e assembleias, para atingir um pequeno grupo de
indivíduos.

3. A questão social é o resultado da relação contraditória e conflituosa entre


capital e trabalho. Expressa-se por meio das mazelas da sociedade. O surgi-
mento da questão social está condicionado ao surgimento do capitalismo, o
qual, por essência, promove a desigualdade social. Quando nos referimos à
categoria da questão social, devemos sempre utilizá-la no singular, nunca no
plural. Se quisermos falar das suas expressões, podemos dizer: manifestações
da questão social, expressões da questão social ou refrações da questão social.
Como a questão social se materializa?
a. Quando a classe empresarial se organiza e exige solução para as suas
necessidades.
b. Quando a classe trabalhadora se desmobiliza e não exige solução para
as suas necessidades.

39
c. Quando a classe burguesa se destitui e cumpre com a solução para as
suas necessidades.
d. Quando a classe trabalhadora não tem consciência e deturpa o enten-
dimento de suas necessidades.
e. Quando a classe trabalhadora se organiza e exige solução para as suas
necessidades.

4. A concepção marxista das classes sociais considera a relação que os


indivíduos estabelecem com a propriedade dos meios de produção, diante da
divisão das classes sociais, e resultam do conjunto de determinações sociais,
econômicas, políticas e culturais de um processo histórico.
Portanto, estudar a relação de forças, de poder e de organização coletiva
requer quais requisitos?
a. Desatenção e indisciplina com relação aos fatos históricos e conjun-
turais.
b. Atenção e disciplina com relação aos fatos atuais e econômicos.
c. Autuação e fiscalização com relação aos dados históricos e conjun-
turais.
d. Atenção e disciplina com relação aos dados históricos e cristãos.
e. Atenção e disciplina com relação aos fatos históricos e conjunturais.

5. Netto (2011) assegura que a pobreza não se restringia ao fenômeno


do pauperismo, pronunciando que a pobreza acentuada e generalizada no
primeiro terço do século XIX – o pauperismo – aparecia como nova precisa-
mente, porque ela se produzia pelas mesmas condições que propiciavam os
supostos, no plano imediato, da sua redução e, no limite, da sua supressão.
A pobreza ocorria frente à (ao):
a. Dificuldade de acesso às igrejas.
b. Direito da natureza frente ao econômico.
c. Exploração do comércio internacional.
d. Monopólio do trabalho rural.
e. Exploração do trabalho pelo capital.

40
Referências

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ALMEIDA, Ana Augusta de. Possibilidades e Limites da Teoria do Serviço Social. Rio de
Janeiro: Editora Francisco Alves, 1986.

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BARROCO, Maria Lucia Silva. Trabalho, ser social e ética. In: ______. Ética e Serviço Social:
fundamentos ontológicos. 4. ed. São Paulo: Cortez, 2006.

BEHRING, Elaine Rossetti. Política social: fundamentos e história. São Paulo: Cortez, 2016.

BEHRING, Elaine Rossetti; BOSCHETTI Ivanete. Política Social: fundamentos e história. São
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CENTRO BRASILEIRO DE COOPERAÇÃO E INTERCÂMBIO DE SERVIÇOS SOCIAIS.


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ceiro, trabalho e questão social. São Paulo: Cortez, 1995.

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São Paulo: Ciências Humanas, 1972.

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Paulo: Saraiva, 2016.

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MEIRELLES, Giselle Ávila Leal. Serviço Social e questão social: das origens à contemporanei-
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NETTO, José Paulo. Ditadura e serviço social: uma análise do serviço social no Brasil pós-64.
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NETTO, José Paulo; BRAZ, Marcelo. Economia Política: uma introdução crítica. São Paulo:
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RAICHELIS, Raquel. Esfera pública e conselhos de assistência social: caminhos da construção


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VÁZQUEZ, A. S. O que é a práxis. In: ______. Filosofia da práxis. 4. ed. Rio de Janeiro: Paz e
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YASBEC, Maria Carmelita. Fundamentos históricos e teóricos metodológicos do serviço


social. Serviço Social: Direitos e Competências Profissionais. Brasília: CFSS, 2009
Unidade 2

O trabalho na contemporaneidade, práxis,


objetivações humanas e construção da
subjetividade
Nesta unidade, você estudará o tema que trata da discussão ampliada
do trabalho na contemporaneidade e sua relação com a práxis no universo
profissional, que está implicitamente envolto nas relações sociais, econô-
micas e políticas.

Seção 1 | O objeto de trabalho do Serviço Social: a


Questão Social
Tendências teóricas e metodológicas na fundamentação e prática da
profissão do Serviço Social. Compreensão da profissão e o seu processo
de formação. Influências das matrizes do pensamento social crítico para o
Serviço Social.

Seção 2 | Transformações no trabalho dos assistentes sociais


O ser social e o Serviço Social e as novas demandas.

Seção 3 | Serviço Social brasileiro: breve histórico de 1975


a 1990, o Movimento de Reconceituação e a Constituição
Federal de 1988
Teoria Social e a contextualização histórica, política e econômica do
Serviço Social.

Introdução à unidade
Nesta segunda unidade, estudaremos e conheceremos os aspectos
que fundamentam o entendimento do processo de formação dos assis-
tentes sociais, destacando a importância da produção teórica na formação
e aquisição de conhecimentos teóricos e metodológicos frente à realidade
social, histórica e política da profissão e da sociedade, uma vez que funda-
mentam a prática e alimentam o processo de formação.
A primeira seção abordará o objeto de trabalho do Serviço Social e a
Questão Social, vislumbrando as tendências teóricas e metodológicas da
fundamentação e prática da profissão do Serviço Social. Oportunizará a
compreensão da profissão e o seu processo de formação, bem como as influ-
ências das matrizes do pensamento social crítico para o Serviço Social.
A segunda seção tratará da ampla temática sobre as transformações no
trabalho dos assistentes sociais e a conexão do entendimento do ser social e
do Serviço Social frente às novas demandas.
A terceira seção fará a discussão sobre o Serviço Social brasileiro, um
breve histórico do período de 1975 a 1990, o movimento de reconceituação
e a Constituição Federal de 1988, embasado pela discussão da Teoria Social e
pela contextualização histórica, política e econômica do Serviço Social.
Seção 1

O objeto de trabalho do Serviço Social: a


Questão Social

Nesta presente seção, refletiremos e estudaremos sobre o processo de


formação dos assistentes sociais, destacando a importância da produção
teórica na composição de seus conhecimentos teóricos e metodológicos, os
quais, congregados aos processos social, histórico e político da profissão,
fundamentaram a prática e a formação profissional.

1.1 Tendências teóricas e metodológicas na fundamentação e


prática da profissão do Serviço Social
Neste item da segunda unidade, caminharemos em busca do enten-
dimento das tendências teóricas e metodológicas que fundamentaram o
Serviço Social e a influência do Movimento de Reconceituação. Este, iniciado
na década de 1960, oportunizou a aproximação do Serviço Social com as
demandas da classe trabalhadora e, categoricamente, instituiu subsídios
teóricos mais densos, com o Serviço Social aprofundando na sua produção
teórica, a partir da discussão sobre a dimensão investigativa da profissão e do
exercício de uma leitura crítica da realidade.
Mesmo muito próximo de uma herança histórica do conservadorismo
da profissão, a história de inovação e renovação do Serviço Social caminhou
em busca de abdicar da teoria Positivista. Na década de 1970, a referência
principal se estabeleceu a partir da subjetividade, do vivido humano e da
perspectiva dialógica, referenciados na Fenomenologia para compreender
a realidade.
A fuga pela referência conservadora, por meio da discussão sobre a
prática científica, apontou para uma proposta como alternativa tanto ao
Positivismo quanto à Fenomenologia, surgindo a intenção de aprofundar
uma teoria social crítica.
Neste momento histórico, aparece a discussão em busca dessa ruptura,
com a crítica ao tradicionalismo e aos seus embasamentos teóricos, metodo-
lógicos e ideológicos, e que tomou consistência nas décadas seguintes, levando
à renovação da profissão, aproximando o Serviço Social das demandas da
classe trabalhadora e criando subsídios teóricos condizentes com o processo.

45
Para saber mais
O entendimento de conservadorismo refere-se à forma de pensamento
e experiência prática como resultado de um retrocesso aos avanços da
modernidade, fazendo com que se busque preservar a ordem capitalista.

Para ampliar seu conhecimento sobre a temática, acesse o texto de


Ivanete Boschetti no link a seguir:

BOSCHETT, Ivanete. Expressões do conservadorismo na formação profis-


sional. Serv. Soc. Soc., São Paulo, n. 124, p. 637-651, out./dez. 2015.

As perspectivas Modernizadora e de Reatualização do Conservadorismo


sustentaram suas características com o conservadorismo, sendo que aquela se
aloja a partir do Seminário de Araxá, período de grande repressão da ditadura
militar. Na sequência, a perspectiva de Reatualização do Conservadorismo
se expõe por meio do Seminário de Sumaré, no período em que a ditadura
militar se apresentava com fragilidades frente às desigualdades sociais. É
importante considerar que essas duas perspectivas, em momentos distintos,
surgiram com a intenção de ruptura.
Com o passar dos anos, no início de 1972, na Pontifícia Universidade
Católica de Belo Horizonte, surgiu a perspectiva de Intenção de Ruptura,
lançada nas bases universitárias para fundamentar suas teses e teorias, vindo
a se consolidar mais tarde como um eixo norteador do perfil profissional.
O Terceiro Congresso Brasileiro de Assistentes Sociais, que aconteceu
em 1979, ficou conhecido como o Congresso da Virada e apontava uma
reformulação para o Serviço Social brasileiro, ficando conhecido como o
Método BH. Proveniente dos profissionais de Belo horizonte, em ambiente
acadêmico, esse método formulou uma proposta que rompia com o tradi-
cionalismo, desde o campo teórico até o campo metodológico, alterando,
ainda, o significado da profissão e da sua formação. O objeto dele, segundo
Netto (2011, p. 279), é a “ação social da classe oprimida”, entendendo que o
objeto concebe uma teoria, sendo esta manifestada na Teoria Social de Marx,
estabelecendo a sociedade como constituída em classes opostas diante do
modo de produção e reprodução organizado na sociedade burguesa.

1.2 Compreensão da profissão e o seu processo de formação


A perspectiva de Intenção de Ruptura surge no final da ditadura, quando
o movimento operário aparece no cenário político e social e muito próximo
à discussão que existia no interior do Serviço Social, e que no Congresso
da Virada, em 1979, despontou a relação explícita entre os interesses das

46
classes sociais subalternas e sua expressão teórica na Teoria Social, na
tradição marxista.

Para saber mais


A Teoria Social constitui um conjunto explicativo ontológico, organi-
camente vinculado ao pensamento filosófico, sobre o ser social na
sociedade burguesa e o seu processo de constituição e reprodução.
Ela reproduz o real, o intelectual, que proporciona explicações aproxi-
madas da realidade e supõe uma forma de elaboração de um método.

Para saber mais, acesse o texto de Maria Cristina Piana, no link a seguir:
PIANA, Maria Cristina. O serviço social na contemporaneidade: demandas
e respostas. In: ______. A construção do perfil do assistente social no
cenário educacional. São Paulo: UNESP; Cultura Acadêmica, 2009.

No marxismo, o entendimento como filosofia de práxis compreende que


o conhecimento está relacionado aos interesses das classes sociais, portanto,
o marxismo seria a forma de consciência teórica dos interesses históricos da
classe operária em uma relação consciente entre a Teoria Social e a prática de
uma determinada classe social.
A trajetória histórica do Serviço Social envolve o conhecimento teórico-
-metodológico da profissão, uma vez que a prática profissional é sistemati-
zada a partir do conhecimento teórico em consonância com a compreensão
da realidade. O conhecimento metodológico, por sua vez, necessita de uma
apreensão maior das “[...] dimensões de universalidade, particularidade e
singularidade na análise dos fenômenos presentes no contexto da prática
profissional” (IAMAMOTO, 2004, p. 191).
O Serviço Social, enquanto profissão, materializa-se nas relações sociais
e se concretiza a partir do processo histórico da sociedade. A origem do
Serviço Social como profissão tem a marca profunda do capitalismo e do
conjunto de variáveis com ele incorporado, como a alienação, a contradição e
o antagonismo. Entretanto, é na esfera estatal a maior concentração de ações
provenientes do Serviço Social.
Os desafios da profissão surgem na prática cotidiana, quando se dá o
contato com os sujeitos e seu modo de viver. Os assistentes sociais precisam
decifrar e compreender as formas de organização dos grupos sociais, para
que possam construir um projeto profissional que atenda às necessidades dos
sujeitos, tanto na sua individualidade como na coletividade.

47
A formação profissional deve dar suporte teórico, ético e político, contri-
buindo para uma prática comprometida com a participação democrática e
cidadã, formulando propostas reais de enfrentamento da questão social e
permitindo o envolvimento dos sujeitos na condução da transformação da
sua própria realidade e da sociedade.
O termo Questão Social, muitas vezes, é utilizado de forma equivocada
em diferentes momentos e realidades, uma vez que o seu entendimento é
complexo e refere-se a situações que afetam a humanidade, como a desigual-
dade, a exploração, a pobreza, entre outras, e que podem se configurar assim
desde que entendidas, refletidas e demandadas pela população.
Por meio de um processo de entendimento, essas situações são reconhe-
cidas como legítimas e detentoras de direitos, muitas vezes, em resposta às
ameaças causadas pela pobreza e pelas lutas sociais, com a burguesia inglesa
aliando-se ao Estado e à Igreja.
A confusão semântica causa algumas situações desagradáveis e pode se
tornar um risco quando não for entendida no todo, relativizando ou atenu-
ando todo um quadro de uma ação ou política. A questão social é entendida
a partir da relação contraditória entre capital e trabalho, reconhecendo os
atores dessa relação e suas reivindicações.
Figura 2.1 | Questão Social

Relação Capital
X
Trabalho

Questões
Sociais

Atores
Sociais

Fonte: elaborada pelo autor (2019).

Os espaços históricos do exercício profissional dos assistentes sociais,


definidos a partir do pacto entre Estado, Igreja Católica e empresariado, que

48
está na base da institucionalização dessa profissão na sociedade brasileira,
mantém-se na atual correlação de forças.
As transformações nos processos pelos quais, na atualidade, são estabe-
lecidas as relações de enfrentamento da questão social, por meio da ação
estatal e da ação da sociedade civil, implicam redefinições dos espaços
tradicionais e o surgimento de novos espaços, bem como reconfiguram as
demandas profissionais e alteram as formas de inserção profissional e as
condições de trabalho nos espaços públicos e privados. A racionalização da
assistência por meio de sua ação pode afastar as ameaças que a burguesia
expressa pela incontida expansão da pobreza e pelas persistentes investidas
da classe trabalhadora.
Um destaque a se fazer é a questão do processo formativo dos assis-
tentes sociais desde o início do surgimento da profissão, quando a formação
profissional estava voltada aos conhecimentos teóricos, com influência dos
ensinamentos religiosos, e o profissional atuava de forma assistencialista e
voluntarista. Com as discussões e os avanços na profissão, outros signifi-
cados surgiram no que se refere à formação profissional e oportunizaram
uma reflexão crítica da profissão.

[...] Os rumos assumidos pelo amplo debate efetuado na


década de 1980 apontaram, ainda, para o privilégio — ainda
que não a exclusividade — de uma teoria social crítica,
desvelada dos fundamentos da produção e reprodução da
‘questão social’. Perfil este que se complementa com uma
competência técnico-política, que permita, no campo da
pesquisa e da ação, a construção de respostas profissionais
dotadas de eficácia e capazes de congregar forças sociais
em torno de rumos ético políticos voltados para uma defesa
radical da democracia. (IAMAMOTO, 2004, p.185)

Com esse novo propósito de uma prática sociopolítica é que o assistente


social constrói a história da profissão e procura, cada vez mais, se envolver
efetivamente “[...] com a construção de uma nova cidadania coletiva, capaz de
abranger as dimensões econômicas, políticas e culturais da vida dos produtores
de riqueza, do conjunto das classes subalternas” (IAMAMOTO, 2004, p. 185).
O debate contemporâneo do Serviço Social está pautado no pensamento
de Marx, por entender o ser social como um sujeito marcado pelas questões
do capitalismo, tanto na sua forma de viver quanto na forma de pensar o
mundo material e intelectualmente.

49
Nesse percurso, o Serviço Social passa por mudanças no seu fazer profis-
sional. Iamamoto (2011, p. 37) define que:

Percebe-se, a partir de então, que o Serviço Social adota


diferentes caminhos. Não rompe de fato com o conserva-
dorismo, mas, também atua na perspectiva moderniza-
dora e de ruptura. Assim esses caminhos apresentavam
novas alternativas teóricas e ideológicas ao Serviço Social
habitual. Entretanto, o fato de o Brasil estar vivenciando a
Ditadura Militar fez com que o Serviço Social se adaptasse
às necessidades do Estado e das grandes empresas
privadas, trabalhando na perspectiva funcionalista, ou seja,
apenas executava as funções delegas, sem questionar ou
expressar suas reflexões.

A ruptura com a herança conservadora expressa-se como uma procura,


uma luta por alcançar novas bases de legitimidade da ação profissional do
assistente social, o qual, reconhecendo as contradições sociais presentes
nas condições do exercício profissional, busca colocar-se, objetivamente, a
serviço dos interesses dos usuários, isto é, dos setores dominados da socie-
dade. Não se reduz a um movimento “interno” da profissão, e sim, faz parte
de um movimento social mais geral, determinado pelo confronto e pela
correlação de forças entre as classes fundamentais da sociedade, o que não
exclui a responsabilidade da categoria pelo rumo dado às suas atividades e
pela forma de conduzi-las.

1.3 Influências das matrizes do pensamento social crítico


para o Serviço Social
A corrente filosófica que fundamentou as bases históricas e teóricas da
profissão, em seu processo de desenvolvimento no Brasil, foi o Materialismo
histórico-dialético.
O Serviço Social também se expressa pela sua produção teórica, pelos
seus órgãos representativos e pelas preferências por uma corrente filosó-
fica sobre a outra em diferentes momentos históricos. Em nosso cotidiano,
empregamos a dialética algumas vezes sem saber.

50
Questões para reflexão
Qual é o seu entendimento de tese, antítese e síntese?

Para melhor entendimento, vamos citar um exemplo do nosso cotidiano:


quando tenho um conceito a respeito de algo, (tese), porém, a outra pessoa
que participa da conversa não concorda e contra-argumenta (antítese), e
depois de uma discussão, chegamos a uma conclusão (síntese).

Figura 2.2 | O pensamento social crítico

Ruptura Significado
social

Fonte: elaborada pelo autor (2019).

As demandas sociais se modificam historicamente, e a atuação do assis-


tente social ocorre nos espaços deixados pela relação capital-trabalho.
Considerando que o Serviço Social é uma profissão inserida na divisão
sociotécnica do trabalho, com característica propositiva e investigativa, deve
compreender o ser humano como um ser histórico, apreendendo o signi-
ficado social da profissão e sua inserção na divisão do trabalho como uma
referência que se relaciona e dá sentido à ação.

Atividade de aprendizagem

1. O Movimento de Reconceituação, iniciado na década de 1960, oportu-


nizou a aproximação do Serviço Social às demandas da classe trabalhadora
e, categoricamente, instituiu subsídios teóricos mais densos, com o Serviço
Social aprofundando sua produção teórica, com a discussão sobre a dimensão
investigativa da profissão e o exercício de uma leitura crítica da realidade.
Mesmo muito próxima de uma herança histórica do conservadorismo
da profissão, a história de inovação e renovação caminhou em busca de
qual objetivo?
a. Abdicar da teoria Positivista.
b. Construir planos metafísicos.
c. Elaborar um projeto de mobilização.
d. Realizar acordos entre ideologias.

51
e. Criar um método naturalista.

2. A Questão Social é o resultado da relação contraditória e conflituosa


entre capital e trabalho. Expressa-se por meio das mazelas da sociedade. O
seu surgimento está condicionado ao surgimento do capitalismo, o qual, por
essência, promove a desigualdade social. Quando nos referimos à categoria
da Questão Social, devemos sempre utilizá-la no singular, nunca no plural. Se
quisermos falar das suas expressões, podemos dizer: manifestações, expres-
sões, ou refrações da Questão Social.
Como a Questão Social se materializa?
a. Quando a classe trabalhadora se organiza e exige solução para as suas
necessidades.
b. Quando a classe empresarial se organiza e exige solução para as suas
necessidades.
c. Quando a classe trabalhadora se desmobiliza e não exige solução para
as suas necessidades.
d. Quando a classe burguesa se destitui e cumpre com a solução para as
suas necessidades.
e. Quando a classe trabalhadora não tem consciência e deturpa o enten-
dimento de suas necessidades.

52
Seção 2

Transformações no trabalho dos assistentes


sociais

O ser social é mais do que o trabalho, pois o ser humano tem uma
percepção de vida que transcende o trabalho para outras ações. O ser social
é entendido como um ser real e dialeticamente constituído na vida, que se
constitui pelas relações sociais capitalistas e pela exploração entre os seres
humanos, perante a correlação de forças e exploração do trabalho pelo capital.

2.1 O ser social


O homem se diferencia dos animais pela sua capacidade de transformar
a própria natureza e a si mesmo, desde criar condições materiais para a sua
sobrevivência até gerar novas necessidades e possibilidades. Desta forma,
estabelece-se o princípio da liberdade, estabelecendo alternativas possíveis
dentro das possibilidades concretas.
A tese de Marx propõe a fundamentação da realidade e da liberdade
humana e defende a liberdade e a relação do singular e do universal. Ao
longo de sua evolução filosófica, ele amadurece suas ideias por meio da
compreensão do trabalho enquanto categoria fundamental de concreti-
zação da liberdade humana. A ideia de trabalho do filósofo se opõe à forma
intrigante de trabalho na modernidade, o trabalho estranhado suprime a
liberdade humana e a torna sujeita ao capital. Marx, quando se objetiva,
se apropria da realidade, da essência da dialética, portanto, para ele, a
consciência humana só se produz na relação do trabalho, com a totalidade
humana e por meio da filosofia.
Em Sobre a questão judaica, Marx se refere aos direitos humanos da
seguinte forma:

No entanto o direito humano à liberdade não se baseia


na vinculação do homem com os demais homens, mas ao
contrário, na separação entre um homem e outro. Trata-se
do direito a essa separação, o direito do indivíduo limitado,
limitado a si mesmo. A aplicação pratica do direito humano
à liberdade equivale ao direito humano à propriedade
privada. (2010, p. 49)

53
Alguns conceitos e aspectos das obras de Marx buscam fundamentar
o entendimento da crítica à liberdade, aos direitos humanos, aos direitos
sociais, entre outros temas fundamentais para o entendimento e a busca da
emancipação humana.

Mas a emancipação humana só estará plenamente realizada


quando o homem individual real tiver recuperado para si o
cidadão abstrato e se tornado ente genérico na qualidade
de homem individual na sua vida empírica, no seu trabalho
individual, nas suas relações individuais, quando o homem
tiver reconhecido suas forças próprias como forças sociais
e, em consequência, não mais separar de si mesmo a força
social na forma da força política. (MARX, 2010, p. 54)

A emancipação política inibe a emancipação humana, a qual só acontece


pela confiança, pois uma sociedade emancipada não precisa de direitos,
tornando a luta pelos direitos humanos uma falsidade pela liberdade.
Marx entende a liberdade como uma desconstrução da alienação
da razão por meio da emancipação política, e amadurece o pensamento
tratando a desalienação do fazer sem abandonar o projeto de desalienação da
razão pública, reconhecendo que razão e fazer são expressões de um mesmo
movimento, a práxis.

Para saber mais


Para estudar um pouco mais sobre a desalienação, vamos conhecer um
texto de José D’Assunção Barros, que traz a discussão de Marx sobre a
sua relação com a temática da alienação. BARROS, José D’Assunção. O
conceito de alienação no jovem Marx. Tempo Social, São Paulo, v. 23, n.
1, p. 223-245, jun. 2011.

O trabalho, na concepção marxista, é como o processo de participação


e objetivação do ser social para a vida social, como expressão da atividade
social e da produção material das condições para a sobrevivência.

54
Figura 2.3 | Participação e sobrevivência

Costumes

Linguagem Relações
humanas

Trabalho
e vida
em
sociedade

Fonte: elaborada pelo autor (2019).

O trabalho, em seu caráter universal e sócio-histórico, produz formas de


intercâmbio humano, como a linguagem, as representações e os costumes,
em um conjunto de relações humanas que produz as formas da vida
em sociedade.

Para saber mais


O que é o trabalho para Marx?
O trabalho é um processo de que participam o homem e a natureza,
processo em que o ser humano, com sua própria ação, impulsiona,
regula e controla seu intercâmbio material com a natureza (MARX,
2011). BARRADAS, Liana França Dourado. Marx e a divisão do trabalho
no capitalismo. São Paulo: Instituto Lukács, 2014.

A categoria trabalho assume a centralidade na constituição do ser social,


e o trabalho opera enquanto processo de transformação da natureza e da
matéria-prima em produto para o atendimento às necessidades dos homens
em sociedade, como atividade fundamentalmente humana.
Nessa relação, ao mesmo tempo, o homem transforma a natureza e se
transforma, e o trabalho se apresenta como fundante do ser social e sugere uma
interação no padrão da sociedade, que afeta as pessoas e a sua organização.
O desenvolvimento do ser social é apresentado como o processo de
humanização dos homens, no qual o trabalho aparece como objetivação
primária, como o afastamento das determinações naturais, enquanto o ser
social prepara a sociabilização e a interação social. A práxis é a categoria que
inclui o trabalho e as demais objetivações humanas, possibilitando captar a
riqueza do ser social desenvolvido.

55
No contexto da renovação do Serviço Social é que se insere, nas institui-
ções de ensino superior, a formação dos assistentes sociais, a qual, anterior-
mente, ocorria em escolas confessionais ou agências de formação específica.
Em 1976, o curso de Serviço Social consolidou o seu processo de renovação,
com a abertura dos programas de pós-graduação na área, a instauração
do pluralismo teórico, ideológico e político no marco profissional e a
crescente distinção das concepções profissionais, com diferentes matrizes
teórico-metodológicas.
As forças políticas que incidem nas condições e nas relações de trabalho
do assistente social envolvem uma série de mediações, as quais, por sua vez,
acontecem no processamento da ação e nos resultados projetados, tanto
individual como coletivamente, o que possibilitou, desde o período da
ditadura, a influência no desenvolvimento do Serviço Social. Já o processo de
democratização, a partir da década de 1980, acalorou na profissão a necessi-
dade de rever seu significado e sua inserção na sociedade.
Essas influências foram apuradas no Movimento de Reconceituação, que
conheceu diferentes momentos, a partir do contexto político de cada fase
do processo.

2.2 Serviço Social e novas demandas


A influência do Movimento de Reconceituação, iniciado na década de
1960, aproximou o Serviço Social das demandas da classe trabalhadora e
categoricamente instituiu elementos teóricos mais sobrecarregados, com
o Serviço Social aprofundando sua produção teórica na discussão sobre a
dimensão investigativa da profissão, na necessidade de uma leitura crítica da
realidade e na superação da fragmentação entre teoria e prática, colocando a
Questão Social como seu objeto de intervenção.
O Serviço Social amplia os campos de atuação, passando a atuar no
terceiro setor e nos conselhos de direitos, além de ocupar funções de asses-
soria, entre outras.

56
Figura 2.4 | Tendências teórico-metodológicas

REALIDADE SOCIAL
+ Ref. teórico-metodológico
+ Ref. ténico-opera�vo
+ Ref. é�co-polí�co
= AÇÃO E FORMAÇÃO
Fonte: elaborada pelo autor (2019).

Algumas tendências teórico-metodológicas se incorporaram na funda-


mentação e prática da profissão em virtude dos avanços e desafios colocados
perante a dinâmica da sociedade, envolta em aspectos sociais, políticos,
econômicos e culturais.

Questões para reflexão


Como pensar o Serviço Social no contexto de precarização das relações
trabalhistas no capitalismo moderno?

Atividade de aprendizagem
1. No contexto capitalista e demandado pelo Estado e pela burguesia,
vislumbrou-se uma nova forma de atuar para o assistente social.
Portanto, a atuação sobre as expressões da Questão Social foi direcionada a
partir de qual situação?
a. Do relacionamento contraditório entre as classes sociais na relação de
ordem entre capital versus trabalho.
b. Do relacionamento coerente entre as classes sociais na relação de
pacificação entre capital versus trabalho.
c. Do relacionamento contraditório entre as classes religiosas na relação
de conflito entre capital versus educação.
d. Do relacionamento coerente entre as classes políticas na relação de
conflito entre empresa versus trabalho.
e. Do relacionamento contraditório entre as classes sociais na relação de
conflito entre capital versus trabalho.

57
2. O desenvolvimento do ser social é apresentado como o processo de
humanização dos homens, no qual o trabalho aparece como objetivação
primária, como o afastamento das determinações naturais, enquanto o ser
social prepara a sociabilização e a interação social.
Qual é a categoria que inclui o trabalho e as demais objetivações humanas,
possibilitando captar a riqueza do ser social desenvolvido?
a. A práxis.
b. O louvor.
c. A execução.
d. O indicador.
e. A exploração.

58
Seção 3

Serviço Social brasileiro: breve histórico de 1975


a 1990, o Movimento de Reconceituação e a
Constituição Federal de 1988

Na perspectiva de contextualização histórica, política e econômica do


Movimento de Reconceituação do Serviço Social e da qualificação profis-
sional no cenário nacional, podemos, por meio do pensamento de Iamamoto
e Carvalho (1982), entender que, no início dos anos 1980, a Teoria Social de
Marx iniciou sua efetiva interlocução com a profissão.

3.1 Teoria Social e a contextualização histórica, política e


econômica do Serviço Social
Enquanto matriz teórico‐metodológica, a Teoria Social entende o ser
social a partir de mediações, como parte da posição que a natureza relacional
de ser social pode ser percebida em sua imediaticidade, quando as relações
sociais são mediatizadas por situações ou instituições, podendo revelar ou
ocultar as relações imediatas. Para essa matriz, o principal aspecto a se consi-
derar é o de aceitar os fatos e os dados como indicadores, e não como funda-
mentos de uma distância analítica.
Entendendo que o conhecimento não é manipulador, e sim, dialético
perante a realidade em movimento, movimento este contraditório em suas
relações sociais na sociedade capitalista.
A vertente marxista remete a profissão à consciência de sua inserção na
sociedade de classe, e no Brasil vai configurar‐se, inicialmente, como uma
aproximação ao marxismo sem o recurso ao pensamento de Marx.
Efetivamente, a apropriação da vertente marxista no Serviço Social brasi-
leiro e latino‐americano se caracteriza pelas abordagens reducionistas e pela
influência do cientificismo e do formalismo metodológico e estruturalista,
presente no marxismo althusseriano, o qual se apresentou no Serviço Social
como um marxismo equivocado, que recusou a via institucional e as deter-
minações sócio-históricas da profissão.
No entanto, é com esse referencial, o qual é precário em um primeiro
momento, do ponto de vista teórico, mas posicionado do ponto de vista
sociopolítico, que a profissão questiona sua prática institucional e seus

59
objetivos de adaptação social ao mesmo tempo em que se aproxima dos
movimentos sociais.
Neste período, inicia-se uma vertente comprometida com a ruptura com
o Serviço Social tradicional, na qual Netto (2011) apresentou que a profissão
ofereceu linhas diferenciadas de fundamentação teórico‐metodológica,
tendendo a acompanhar a trajetória do pensamento e da ação profissional
nos anos seguintes ao Movimento de Reconceituação.

Questões para reflexão


Como se desenvolveram, no Serviço Social brasileiro, as primeiras inter-
pretações sobre sua própria intervenção sobre a realidade social?

A atenção na questão social ultrapassa os limites do Serviço Social


tradicional para além da situação social, sem compreender a essência das
desigualdades. A questão social, frente às novas expressões na contempora-
neidade, mantém sua particularidade relacionada ao modo de produção na
sociedade capitalista e às expressões da questão social, destacando a pobreza,
a exclusão e a subalternidade perante as desigualdades.
A Questão Social é a expressão das desigualdades sociais constitutivas
do capitalismo e as suas diversas manifestações, que são indissociáveis das
relações entre as classes sociais que estruturam esse sistema. Nesse sentido, a
Questão Social se expressa também na resistência e na disputa política.
Para a categoria profissional, o objeto de intervenção da profissão é
entendido como a Questão Social. Conforme Iamamoto (2004, p. 236), “[...]
o Serviço Social não atua sobre a realidade, mas atua na realidade”.
A renovação do Serviço Social foi uma resposta à sua crise de legitimi-
dade, a funcional e a social, com a tecnificação da prática profissional, em
uma perspectiva modernizadora e no rompimento com as tradicionais insti-
tuições empregadoras dos profissionais.
O pensamento crítico dos profissionais do Serviço Social se desen-
volveu por meio de um processo durante o regime militar, principalmente
nas universidades, seguindo uma trajetória desde a emersão do Método BH
(1972-1975), a consolidação do Congresso da Virada (1979), o Currículo de
1982, implementado a partir de 1984, e o Código de Ética de 1986.
O Método BH, resultante da experiência desenvolvida na Universidade
Católica de Minas Gerais, no período de 1972 a 1975, foi uma escolha de
rompimento do tradicionalismo do Serviço Social, apontando a ação social
da classe oprimida como objeto de intervenção profissional, visando à

60
transformação da sociedade e do homem por meio da organização, capaci-
tação, mobilização e relação plena da profissão com a história da sociedade
brasileira, a partir de profissionais da vanguarda do Serviço Social envolvidos
na luta contra o regime militar.
A empregabilidade prática desse método seguiu o processo em três
momentos, sendo o sensível, o abstrato e o racional ou científico. O momento
sensível, em contato com a população; o momento abstrato, com a formação
de grupos de discussão sobre os diversos problemas identificados em uma
realidade; e o racional ou científico, como um momento de síntese dos
diversos grupos em reuniões plenárias, visando à produção de novos conhe-
cimentos, mas alcançou-se a sistematização do senso comum, não saindo
do empirismo.
A conquista do método BH foi ampliar o espaço profissional e ganhar
autonomia profissional no desenvolvimento de uma prática profissional
crítica. A partir da constante busca de um novo embasamento teórico e
metodológico, de referência marxista, estimulado pela pesquisa científica,
é que se redimensiona o significado social da profissão e a construção de
um novo projeto profissional. Essa renovação e ruptura com o conserva-
dorismo provocaram um reordenamento das entidades representativas da
categoria profissional.
Em 1979, o Serviço Social experimentou um marco histórico para a
profissão, o III Congresso Brasileiro de Assistentes Sociais (CBAS), conhe-
cido como o Congresso da Virada, por objetivar uma transformação da
práxis política e profissional do Serviço Social na sociedade brasileira. Esse
congresso representou para a história do Serviço Social no Brasil, além da
negação do conservadorismo, o reconhecimento das lutas da classe trabalha-
dora e dos movimentos sociais e de um novo significado social para o Serviço
Social, bem como a destituição da mesa oficial, composta por membros do
regime militar, e substituição por representantes das classes trabalhadoras.
Nesse período histórico, o país, por meio de movimentos sociais e sindi-
cais e partidos políticos, clamava pela redemocratização, e foi nesse contexto
político que se situou o Serviço Social brasileiro, para a construção do
projeto ético-político da profissão, indicando normas para o desempenho
dos profissionais e situando os contornos de sua relação com os usuários de
seus serviços, com outras profissões e com organizações e instituições sociais.
Com a solidificação do Congresso da Virada em 1979, o Serviço Social
assentou-se, a partir dos anos 1980, no pensamento de Antonio Gramsci e
de suas abordagens sobre o Estado, a sociedade civil, o mundo dos valores,
a ideologia, a hegemonia, a subjetividade e a cultura das classes subalternas.

61
Neste período, evidenciou-se a discussão sobre a literatura de Agnes Heller
e a sua problematização do cotidiano, que caminha para Georg Lukács e a sua
ontologia do ser social fundada no trabalho, que busca E. P. Thompson e a sua
concepção sobre as experiências humanas, além de Eric Hobsbawm, historiador
marxista, como fontes de reflexões e posicionamentos ideológicos e políticos.
Esse processo de construção da hegemonia de novos referenciais teórico‐
metodológicos e interventivos para o Serviço Social, a partir da tradição
marxista, acontece em um amplo debate em diferentes fóruns de natureza
acadêmica ou organizativa, passando pela produção intelectual, além do debate.
A questão do pluralismo, desde os anos 1980, compõe objeto de polêmicas
e reflexões do Serviço Social, pela complexidade e pelos riscos de posiciona-
mentos ecléticos.
Figura 2.5 | Tendências teórico‐metodológicas e posições ideológicas e políticas

ECLETISMO

PLURALISMO

Fonte: elaborada pelo autor (2019).

As várias tendências teórico‐metodológicas e posições ideológicas


e políticas se confrontam, sendo evidente a centralidade assumida pela
tradição marxista nesse processo.

Para saber mais


A expressão Questão Social começa a ser usada amplamente a partir
da separação positivista, no pensamento conservador, entre o econô-
mico e o social, dissociando as questões tipicamente econômicas das
questões sociais. Desse modo, social pode ser visto como algo natural,
a‑histórico, desarticulado dos fundamentos econômicos e políticos da
sociedade, portanto, dos interesses e conflitos sociais.
MONTAÑO, Carlos. Pobreza, “questão social” e seu enfrentamento.
Serv. Soc. Soc., São Paulo, n. 110, p. 270-287, abr./jun. 2012.

62
Atividade de aprendizagem

1. Enquanto matriz teórico‐metodológica, a Teoria Social entende o ser


social a partir de mediações, como parte da posição que a natureza relacional
de ser social pode ser percebida em sua imediaticidade.
Quando as relações sociais são mediatizadas por situações ou instituições,
elas acabam por gerar qual situação?
a. Podem revelar ou ocultar as relações imediatas.
b. Devem ser fundadoras da Fenomenologia.
c. Constroem dados e análises empíricos.
d. Surgem como definidoras de ação prática.
e. Compõem aspectos religiosos e partidários.

2. Para a categoria profissional, o objeto de intervenção da profissão pode


ser entendido como a Questão Social. Conforme Iamamoto (2004, p. 236),
“[...] o Serviço Social não atua sobre a realidade, mas atua na realidade”.
A renovação do Serviço Social foi uma resposta à crise de legitimidade da
profissão, a funcional e a social.
A partir de qual perspectiva foi implementada a tecnificação da prática
profissional?
a. Numa perspectiva conservadora do Serviço Social e a partir da invali-
dação com as tradicionais instituições compradoras dos materiais.
b. Numa perspectiva monarquista do Serviço Social e a partir da
construção de uma teoria fundada nas experiências religiosas.
c. Numa perspectiva que efetivou a grande discussão sobre o desenvol-
vimento urbano e tecnológico das indústrias.
d. Numa perspectiva de consumo e alienação dos povos, visando à
mudança de comportamento para aquisição de bens e materiais de
uso contínuo.
e. Numa perspectiva modernizadora do Serviço Social e a partir do
rompimento com as tradicionais instituições empregadoras dos
profissionais.

63
Fique Ligado!
Nesta segunda unidade, você estudou o conteúdo sobre a reflexão da
categoria trabalho na contemporaneidade e sua relação com a práxis no
universo profissional do assistente social, que está implicitamente submerso
nas relações sociais, econômicas e políticas.
O estudo do objeto de trabalho do Serviço Social, as tendências teóricas
e metodológicas na fundamentação e prática da profissão do Serviço Social,
a compreensão da profissão e o seu processo de formação e as influências
das matrizes do pensamento social crítico para o Serviço Social se fizeram
presentes nas discussões e na apresentação de conteúdos referentes ao enten-
dimento da Questão Social enquanto expressão das desigualdades presentes
na correlação de forças entre o capital e o trabalho.
As transformações no trabalho dos assistentes sociais, desde as movimen-
tações, reflexões, discussões, estudos e reivindicações, implicaram uma
contextualização fundamentada no entendimento do ser social e o Serviço
Social e as novas demandas.
O Serviço Social brasileiro foi contextualizado historicamente no período
de 1975 a 1990, com destaque para o Movimento de Reconceituação e a
Constituição Federal de 1988.

Para concluir o estudo da unidade


Esta unidade apresentou conteúdos que levaram a aprofundar os conhe-
cimentos sobre o objeto de trabalho do Serviço Social e a Questão Social, que
são fundamentais para que você, futuro profissional do Serviço Social, tenha
segurança e total conhecimento sobre esses temas.
Já sobre as tendências teóricas e metodológicas na fundamentação e
prática da profissão do Serviço Social, a compreensão da profissão e o seu
processo de formação, considerando os períodos históricos e conjunturais
que se apresentam com os enfoques políticos, econômicos e sociais, devem
ser balizados, para que a análise de conjuntura e o respaldo metodológico
estejam presentes na intervenção profissional.
Considerando as influências das matrizes do pensamento social crítico
para o Serviço Social, as transformações no trabalho dos profissionais do
Serviço Social, ocasionadas, principalmente, a partir dos impactos da crise
do capitalismo nas políticas sociais, com as características de um período
de políticas neoliberais, indicam para o assistente social a necessidade de
apreender sobre as mudanças que ocorrem conforme os aspectos conjuntu-
rais que se apresentam.

64
Neste período, a intervenção retrocedeu para as objetivações pretendidas
pela política economia global, para tornar mínimo o seu comprometimento
na consolidação de diretos sociais, enquanto regulador e atuante nas garan-
tias das políticas sociais, e a busca pela elaboração, gestão e execução das
políticas sociais foi restrita nesse processo.
O tema que aborda o ser social e o Serviço Social frente às novas demandas
pode ser o foco para o seu estudo a partir deste momento da leitura, para que
o aprofundamento seja efetivado e subsidie a carreira que você escolheu.

Atividade de aprendizagem da unidade

1. O que o Congresso da Virada, que aconteceu em 1979, representou para


a história do Serviço Social no Brasil?
Além da negação do _________________, referendou-se o reconheci-
mento das lutas da classe trabalhadora e dos movimentos sociais e de um
novo __________________ para o Serviço Social, bem como a destituição
da mesa oficial, composta por membros do regime _________________, e
substituição por representantes das classes trabalhadoras.
Assinale a alternativa que preenche as lacunas corretamente:
a. modernismo – significado cultural – democrático.
b. otimismo – significado educacional – marxista.
c. catolicismo – significado especial – federal.
d. patronato – significado rural – camponês.
e. conservadorismo – significado social – militar.

2. Na década de 1980, o Serviço Social procurou novas alternativas teóricas


e metodológicas para entender a profissão, com a ocorrência da elaboração
do Método BH.
Quais eram as considerações apontadas para embasamento do método de
atuação da profissão?
Assinale V, se verdadeiro, e F, se falso:
( ) Ampla mobilização dos trabalhadores pelo fim do regime democrático.
( ) Relação plena da profissão de Serviço Social com a história da sociedade
brasileira.

65
( ) Diversos profissionais da vanguarda do Serviço Social brasileiro envol-
vidos na luta contra o regime militar.
Assinale a alternativa que apresenta a sequência correta:
a. F – F – V.
b. F – V – F.
c. V – F – F.
d. F – V – V.
e. V – F – V.

3. A intervenção profissional do Serviço Social centra-se no relacionamento


contraditório entre as classes sociais na relação de conflito entre capital e
trabalho. Com o surgimento no contexto capitalista e com as demandas do
Estado e da burguesia, a categoria profissional vislumbrou atuar de uma
determinada forma.
Assinale a alternativa correta, que se refere à forma como a categoria vislum-
brou atuar:
a. Atuar sobre as expressões da Questão Social.
b. Atuar sobre as demandas do capitalismo.
c. Atuar sobre as determinações do Estado.
d. Atuar sobre as metas de custeio e produtividade.
e. Atuar sobre as incoerências do Poder Legislativo.

4. A Questão Social é a _______________ das desigualdades sociais consti-


tutivas do capitalismo, e suas diversas manifestações são indissociáveis das
relações entre as classes sociais que ________________ esse sistema, nesse
sentido, a Questão Social se expressa também na resistência e na disputa
_____________.
Assinale a alternativa que preenche as lacunas corretamente:
a. indicação – desestruturam – partidária.
b. resolução – invadem – teórica.
c. condução – dividem – revolucionária.
d. divisão – nutrem – crítica.
e. expressão – estruturam – política.

66
5. O trabalho é a categoria fundante para Marx no que se refere ao desenvol-
vimento do mundo dos homens como um campo distinto da natureza, pois é
pelo trabalho que os homens se constroem como seres diferentes da natureza.
Assinale a alternativa correta no que se refere à categoria trabalho:
a. O trabalho é relevante na vida dos homens.
b. O trabalho é central na vida dos homens.
c. O trabalho não pode ser considerado fundante para os homens.
d. O trabalho representa tão somente uma forma de exploração do
homem.
e. O trabalho deve reproduzir-se e não depender do homem.

67
Referências

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fundamentos ontológicos. 4. ed. São Paulo: Cortez, 2006.

BEHRING, Elaine Rossetti; BOSCHETTI Ivanete. Política Social: fundamentos e história. São
Paulo: Cortez, 2016.

CASTEL, Robert. As metamorfoses da questão social: uma crônica do salário. Petrópolis: Vozes, 1998.

CENTRO BRASILEIRO DE COOPERAÇÃO E INTERCÂMBIO DE SERVIÇOS SOCIAIS.


Teorização do serviço social. Rio de Janeiro: Agir, 1986.

FALEIROS, Vicente de Paula. Serviço Social: questões presentes para o futuro. Serviço Social e
Sociedade, São Paulo, n. 50, abr. 1996.

IAMAMOTO, Marilda Villela. Renovação e conservadorismo no Serviço Social. Ensaios


críticos. São Paulo: Cortez, 1992.

______. Serviço social em tempo de capital fetiche. Capitalismo financeiro, trabalho e questão
social. 2. ed. São Paulo: Cortez, 2011.

______. O serviço social na contemporaneidade: trabalho e formação profissional. São


Paulo: Cortez, 2004.

IAMAMOTO, Marilda Villela; CARVALHO, Raul de. Relações Sociais e Serviço Social no
Brasil. Esboço de uma interpretação histórico‐metodológica. São Paulo: Cortez, 1982.

LUKÁCS, György. Ontologia do ser social: os princípios ontológicos fundamentais de Marx.


São Paulo: Ciências Humanas, 1972.

MARX, Karl. A diferença entre as filosofias da natureza em Demócrito e Epicuro. São Paulo:
Global, 1979.

______. O Capital: crítica da economia política. 28. ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2011.

______. Sobre a questão Judaica. São Paulo: Boitempo, 2010.

MONTAÑO, Carlos. Pobreza, “questão social” e seu enfrentamento. Serviço Social &


Sociedade, v. 110, p. 207-287, 2012.

NETTO. José Paulo. Ditadura e serviço social: uma análise do serviço social no Brasil pós-64.
16. ed. São Paulo: Cortez, 2011.

NETTO, José Paulo; BRAZ, Marcelo. Economia Política: uma introdução crítica. São Paulo:
Cortez, 2006.

SANTOS, Leila Lima. Textos de Serviço Social. 3. ed. São Paulo: Cortez, 1985.

VÁZQUEZ, A. S. O que é a práxis. In: ______. Filosofia da práxis. 4. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1990.
Unidade 3

Trabalho alienado e sociabilidade no capitalismo

Objetivos de aprendizagem
Apresentar conteúdos relevantes que possibilitem a reflexão sobre o
trabalho alienado e a sociabilidade no capitalismo, refletindo a respeito do
mundo do trabalho do assistente social e do debate profissional frente aos
seus desafios.

Seção 1 | Marx e as categorias trabalho e alienação


Na relação trabalho e alienação, promove-se a coisificação ou reificação
do mundo, vislumbrando que a tomada de consciência de classe e a revolução
são possibilidades para a transformação social.

Seção 2 | A privatização do Estado brasileiro a partir da


década de 1990 e a intensificação das transformações no
mundo do trabalho dos assistentes sociais
Entender os limites e as possibilidades da intervenção profissional do
assistente social, considerando os aspectos sócio-históricos e políticos e as
referências éticas, políticas e metodológicas desse profissional.

Seção 3 | O Serviço Social nos anos 1990, as tendências his-


tóricas e teórico- metodológicas do debate profissional e os
desafios para o Serviço Social.
Abordar conteúdos que se referem às inovações pós-Constituição
Federal de 1988 no campo das políticas sociais, vislumbrando a assistência
social enquanto política pública, compondo o tripé da seguridade social,
enquanto espaço para a participação da sociedade civil, por meio dos conse-
lhos e do controle social.

Introdução à unidade
Nesta unidade, você estudará o conteúdo sobre a relação trabalho e
alienação. Refletiremos sobre o cotidiano e o processo de alienação e reifi-
cação da vida social e que em toda sociedade se vislumbra que a tomada de
consciência de classe e a revolução são possibilidades para a transformação
social. Na relação social entre trabalhador e capitalista, o trabalhador é
tratado como uma mercadoria, e o trabalho alienado cresce e se materializa.
Abordaremos o tema da privatização do Estado brasileiro a partir da
década de 1990, para entender sobre a intensificação das transformações no
mundo do trabalho dos assistentes sociais e as possibilidades da intervenção
profissional deles.
Também, acompanharemos os avanços da política de assistência social
enquanto política pública que compõe o tripé da seguridade social.
Seção 1

Marx e as categorias trabalho e alienação

Introdução à seção
Nesta primeira seção, evidenciaremos o tema que aborda a relação entre
trabalho e alienação e a ascensão da coisificação ou reificação do mundo,
vislumbrando que a tomada de consciência de classe e a revolução são possi-
bilidades para a transformação social.
Com o estabelecimento das relações sociais, as condições históricas do
trabalho foram criadas em cada modo de produção. O trabalho é enten-
dido como a busca do homem por meios de satisfizer suas necessidades,
ocorrendo, portanto, a produção da vida material. O trabalho é definido
por Marx enquanto atividade em que o ser humano coloca a sua força de
trabalho para produzir os meios de subsistência, visto como um processo
de transformação da natureza pelo homem e que, ao mesmo tempo, ele
também se transforma.

[...] cada elemento da riqueza material não existente na


natureza, sempre teve de ser mediada por uma atividade
especial produtiva, adequada a seu fim, que assimila
elementos específicos da natureza a necessidades humanas
específicas. Como criador de valores de uso, como trabalho
útil, é o trabalho, por isso, uma condição de existência do
homem, independente de todas as formas de sociedade,
eterna necessidade natural de mediação do metabolismo
entre homem e natureza e, portanto, da vida humana.
(MARX, 1985, p. 50)

O trabalho deve ser analisado sob o aspecto social, unido com o valor,
entendendo que o objeto de investigação de Marx é o valor enquanto forma
social do produto do trabalho. No capitalismo, o trabalhador é reduzido a
um fabricante de valor de troca, o que sugere a negação de sua existência
natural, assegurando que o trabalhador e a sua produção estão determinados
pela sociedade.
O modo de produção capitalista deve ser entendido concomitantemente
com as relações de produção entre as pessoas, na vida social, política e
intelectual, e igualmente a consciência do homem é determinada pelo seu ser
social, pela forma de organização social na qual ele convive.

71
O trabalho, conforme a perspectiva marxista, está dependente, no
sistema capitalista, à finalidade de reproduzir e expandir o domínio material
e político da classe capitalista, enquanto a maioria da população está afastada
dos meios de produção e de subsistência. O processo de trabalho enquanto
análise da atividade humana que realiza uma transformação, para um fim
objetivado que o subordina, processo esse que se finda ao chegar à conclusão
do produto, que detém um valor de uso, conforme se apresentam as necessi-
dades humanas.

O trabalho, como criador de valores de uso, como trabalho


útil, é indispensável à existência do homem – quaisquer
que sejam as formas de sociedade –, é necessidade natural
e eterna de efetivar o intercâmbio material entre o homem
e a natureza e, portanto, de manter a vida humana. (MARX,
2004, p. 64)

O trabalhador é controlado pelo capitalista, a quem pertence seu trabalho


e cuida para que não ocorra desperdício de matéria-prima, para que se gaste
o menos possível no cumprimento do dever.

Semelhante fato implica apenas que o objeto produzido


pelo trabalho, o seu produto, se lhe opõe como ser estranho,
como um poder independente do produtor. O produto
do trabalho é o trabalho que se fixou num objeto, que se
transformou em coisa física, é a objetivação do trabalho.
A realização do trabalho constitui simultaneamente a sua
objetivação. A realização do trabalho aparece na esfera da
economia política como desrealização do trabalhador, a
objetivação como perda e servidão do objeto, a apropriação
como alienação. (MARX, 1964, p. 159)

O capitalista paga um valor pela força de trabalho, como uma merca-


doria, portanto, o uso da mercadoria pertence ao comprador, e o detentor da
força de trabalho apenas abdica realmente do valor de uso que a vendeu ao
vender seu trabalho. O capitalista compra a força de trabalho e incorpora o
trabalho a essa somatória de valores, para a acumulação objetivada na explo-
ração no processo de trabalho. De acordo com Marx (1964, p. 211), “o traba-
lhador deve apenas ter o que lhe é necessário para querer viver e deve querer
viver unicamente para isso ter”.

72
O trabalho, com as consignações das relações capitalistas de produção,
torna o homem alienado, uma vez que o trabalhador tem o uso da sua força de
trabalho e sua capacidade teleológica limitadas aos interesses do capitalismo.

Para saber mais


Capacidade teleológica
Para Marx, as características teleológicas do trabalho podem ser enten-
didas como um processo da atividade humana operada para uma
determinada transformação, subordinada a um determinado fim e atua
por meio do instrumental de trabalho: “[...] o processo extingue-se ao
concluir-se o produto” (MARX, 2006, p. 214).
MARX, K. Processo de trabalho e processo de produção de mais valia.
In: _____. O Capital. Trad. J. Teixeira Martins e Vital Moreira. Coimbra:
Centelha, 1974. Disponível em: https://www.marxists.org/portugues/
marx/1867/ocapital-v1/vol1cap07.htm. Acesso em: 2 out. 2019.

O trabalho alienado compreende alguns aspectos fundamentais, sendo a


alienação do homem em relação ao produto do seu trabalho, à sua própria
atividade e aos outros homens. Ele ocorre na relação social entre trabalhador
e capitalista, na qual o trabalhador é tratado como uma mercadoria.

A alienação do trabalhador no seu produto significa não


só que o trabalho se transforma em objeto, assume uma
existência externa, mas que existe independentemente,
fora dele e a ele estranho, e se torna um poder autônomo
em oposição com ele; que a vida que deu ao objeto se torna
uma força hostil e antagônica. (MARX, 1964, p. 160)

Nos manuscritos de 1844, Marx discute o trabalho como atividade produ-


tiva fundamental ao desenvolvimento humano e enquanto categoria ontoló-
gica. O homem se aliena em sua atividade produtiva ao ser genérico e em
relação a outro homem, pois, sob as afirmações capitalistas, o trabalhador,
ao produzir mercadorias que não o pertencem, torna o objeto produzido
estranho e independente dele.
O domínio do capital se manifesta por meio da busca pela apropriação
desse objeto, na qual o trabalhador, para possuí-lo, realiza grandes esforços,
submetendo-se às mais adversas condições de trabalho. O produto do
trabalho é o trabalho que se fixou num objeto, fez-se coisa, é a objetivação
dele. O trabalhador se torna sujeito do objeto por ele produzido, que lhe é

73
estranho e exterior, e a própria produção também se mostra uma atividade
exteriorizada, fazendo com que o trabalho não pertença ao trabalhador,
assim como o produto do trabalho também não pertence a ele, tornan-
do-se obrigatória, como um meio para a produção de mercadorias e
acumulação de capital.

Questões para reflexão


Para Marx, o trabalho tem uma localização exclusiva, por ser a exteriori-
zação do ser, por ser a objetificação da essência humana e do processo
de colocar para fora a pureza da humanidade, o esforço material da
transformação do mundo e a satisfação das necessidades humanas,
com uma capacidade de modificarmos o ambiente de acordo com
nossos projetos, utilizando, fabricando ou produzindo as próprias ferra-
mentas de produção.
O que podemos dizer sobre a exteriorização do trabalho?

No trabalho alienado, o trabalhador cria as relações de reflexão, tanto em


relação à sua atividade como com o produto dessa atividade e em relação ao
outro, fazendo sua atividade produtiva se tornar o objeto da sua produção e
pertencer a outro homem, o qual detém o poder de apropriação, o capitalista.

[...] uma vez que o trabalho alienado 1) aliena a natureza


do homem, 2) aliena o homem de si mesmo, a sua função
ativa, a sua atividade vital, aliena igualmente o homem a
respeito da espécie; transforma a vida genérica em meio
de vida individual. Em primeiro lugar, aliena a vida genérica
e a vida individual; em seguida, muda esta última na sua
abstração em objetivo da primeira, portanto, na sua forma
abstrata e alienada. (MARX, 1964, p. 164)

Marx contextualiza a alienação no que se refere ao produto do trabalho,


no processo de produção, em relação à existência do indivíduo enquanto
membro do gênero humano e aos outros indivíduos.
A alienação em relação ao produto do trabalho é entendida quando não se
reconhece que um produto tem dentro de si a essência do trabalhador, como
a pobreza, que é gerada ao trabalhador enquanto se gera a riqueza do capitalista.
Quando o produto passa a existir, o trabalhador recebe um salário no
mês, após cumprimento de sua rotina e produção em escala ou linha de
produção, porém, o trabalhador não se reconhece no produto final e nem

74
mesmo sabe o destino do que produziu e não lhe pertence, pois cabe ao
empregador realizar a venda.
A alienação no processo de produção ou alienação ativa acontece quando
o trabalhador está alienado em relação ao produto de seu trabalho e estava
presente no próprio processo produtivo, transformando o trabalho em sofri-
mento, forçado, como algo apenas para sobreviver e manter os interesses
daqueles que exercem poder sobre ele.
O cotidiano comprova a alienação no trabalho, este considerado como
um peso para o trabalhador em busca da sobrevivência quando explora e
aliena o homem.
O trabalho também se apresenta como individualizante, pois o traba-
lhador só reconhece sua vida neste papel, e não enquanto humano, pois
deixa de cuidar de sua própria existência. E a alienação em relação aos outros
homens pode ser entendida como a consequência dessa individualização.
O homem alienado não consegue perceber a possibilidade de uma
mudança, pois está em processo de destituição, encontrando dificuldades
para as responsabilidades da vida, das relações e da sociedade.
Portanto, entende-se que o trabalho alienado é identificado quando
o trabalhador produz um objeto e não pode possuí-lo, pois o produto do
seu trabalho é apropriado por outro homem, o capitalista. Se o homem está
alienado de si mesmo e não se reconhece enquanto humano no processo de
produção, não encontrará humanidade nos outros homens, se vê e aos outros
homens, na condição de estar alienado consigo mesmo.

A alienação do homem e, acima de tudo, a relação em que o


homem se encontra consigo mesmo, realiza-se e exprime-se
primeiramente na relação do homem aos outros homens.
Assim, na relação do trabalho alienado, cada homem olha
os outros homens segundo o padrão e a relação em que
ele próprio, enquanto trabalhador, se encontra. (MARX,
1964, p. 166)

75
Figura 3.1 | Trabalho alienado

Produto da
produção do
TRABALHO trabalhador
ALIENADO apropriado
pelo
capitalista

Fonte: elaborada pelo autor.

O entendimento de que a alienação do trabalhador em relação à sua


própria atividade produtiva ocorre quando o objeto produzido pelo traba-
lhador não é reconhecido por ele, pois não o pertence. Essa exteriorização
pode ser entendida como o sentimento de pertencimento alienado ao mundo
social e do trabalho.

Atividade de aprendizagem

1. O capitalismo vê a força de trabalho como mercadoria, e esta é capaz de


gerar valor, pois mesmo produzindo-a, o trabalhador é obrigado a sobreviver
da sua força de trabalho, muitas vezes sem nem ao menos poder ter acesso
ao que produz.
Segundo Karl Marx, a força de trabalho é comprada por meio do quê?
a. Salário.
b. Mais-valia.
c. Lucro.
d. Alienação.
e. Relações políticas.

76
2. No capitalismo, os trabalhadores produzem os objetos existentes no
mercado, e a força de trabalho é comprada por intermédio de um salário.
Os proprietários dos meios de produção vendem as mercadorias aos comer-
ciantes, que as colocam no mercado de consumo, e os trabalhadores ou
produtores dessas mercadorias, quando vão ao mercado de consumo, muitas
vezes, não conseguem comprá-las.
Conforme os conteúdos sobre capitalismo e trabalho, qual afirmação a seguir
é coerente com o pensamento de Marx?
a. A consciência de classe para os trabalhadores resulta da vontade
de cada capitalista em superar a situação de exploração em que se
encontra sob o capitalismo.
b. O processo de não identificação do trabalhador com o produto de seu
trabalho é o que se chama alienação, ocultando as relações sociais que
estruturam a sociedade.
c. É no mercado que a exploração do trabalhador se torna explícita,
favorecendo a formação da ideologia de classe.
d. A produção capitalista constitui-se de imagens e ideias que levam os
indivíduos a compreenderem a essência das relações sociais de produção.
e. As mercadorias apresentam-se de forma a explicitar as relações de
classe e o vínculo entre o trabalhador e o produto realizado.

77
Seção 2

A privatização do Estado brasileiro a partir


da década de 1990 e a intensificação das
transformações no mundo do trabalho dos
assistentes sociais
Introdução à seção
Nesta seção, abordaremos o tema da privatização do Estado brasileiro
a partir da década de 1990, bem como a intensificação das transformações
no mundo do trabalho dos assistentes sociais. Também, entenderemos os
limites e as possibilidades da intervenção profissional do assistente social,
considerando os aspectos sócio-históricos e políticos e as referências éticas,
políticas e metodológicas.
O procedimento de profissionalização do Serviço Social no Brasil, desde
as primeiras considerações históricas que o configurou como uma profissão
de ajuda aos necessitados, avançou progressivamente, conquistando seu
espaço com discussões teóricas e metodológicas para o desenvolvimento de
suas ações.
Consolidou-se enquanto profissão, cujo objeto de intervenção é a questão
social, por meio das relações que os indivíduos estabelecem na sociedade e
as suas expressões. Os limites e as possibilidades da intervenção profissional
são de aspectos sócio históricos, em que se exerce a profissão contando com
as referências éticas, políticas e metodológicas do assistente social.

Para saber mais


A privatização do Estado Brasileiro
Estude e reflita sobre as mudanças que ocorreram nas políticas estatais,
consagradas na Constituição Federal de 1988, quando o terceiro setor
assume responsabilidades em executar a prestação de serviços
públicos à população.
http://www4.pucsp.br/neils/downloads/v7_ilse_gomes.pdf, em
30/10/2019.

O trabalho na sociedade capitalista está relacionado ao modo de produção


e como ocorrem as relações sociais frente ao contexto social, de acordo com
as condições econômicas, culturais, políticas e sociais apresentadas. O assis-
tente social teve como seu maior empregador as instituições ou empresas,

78
mesmo considerando que a profissão foi regulamentada como liberal,
portanto, o assistente social tem autonomia no atendimento junto à população.
Quanto à análise do Serviço Social no capitalismo monopolista, Netto
(2005, p. 71) entende que esse processo é:

[...] que o deslocamento altera visceralmente, concreti-


zando a ruptura, é, objetivamente, a condição do agente e o
significado social de sua ação; o agente passa a inscrever-se
numa relação de assalariamento e a significação social de
seu fazer passa a ter um sentido novo na malha da repro-
dução das relações sociais. Em síntese: é com esse giro que
o Serviço Social se constitui como profissão, inserindo-se
no mercado de trabalho, com todas as consequências daí
derivadas (principalmente com o seu agente tornando-se
vendedor da sua força de trabalho).

A profissionalização do Serviço Social neste processo se fixa em ativi-


dades interventivas, sendo que a dinâmica e a organização ocorrem sem a
possibilidade de deter o seu controle por estar presente e inserido na divisão
social e técnica do trabalho, considerando as condições por meio das quais
a profissão é demandada e legitimada para a execução de suas atribuições
profissionais, conforme se apresenta no período histórico.

Questões para reflexão


O Serviço Social foi transformando sua prática, assumindo uma postura
crítica de ação pautada em questões teóricas e metodológicas para sua
atuação. Com o movimento de reconceituação do Serviço Social no
Brasil, a profissão assume uma nova concepção, voltada à dimensão
técnico-científica da sua atuação. Em que resultou todo esse processo?

O trabalho e os elementos do processo de trabalho do assistente social são


entendidos como o alcance da proteção social frente à correlação de forças,
considerando que o objeto da profissão deve ser construído e reconstruído
no cotidiano profissional, por meio do olhar do profissional sobre a reali-
dade e da sua capacidade de decifrar e identificar criticamente o que surge
enquanto demanda.
Essa construção depende da finalidade que o profissional tem para seu
trabalho e da direção social que se encontra embutida na sua ação interventiva.

79
Figura 3.2 | Campo teórico de interesse da profissão - proteção social e correlação de forças

Correlação
de forças

Intervenção
profissional
Fonte: elaborada pelo autor.

O assistente social, em sua profissão, transforma-se em um trabalhador


assalariado que vende sua força de trabalho, atendendo aos objetivos e às
políticas estabelecidas pelo seu empregador. Mediante essa consideração,
é necessário entender que o profissional deve fazer a análise da realidade
social, somando-a aos conhecimentos teóricos, técnicos, metodológicos,
éticos e políticos da profissão.
A profissão tem o compromisso político e ideológico com a sociedade.
Iamamoto (2007, p. 421) apresenta a discussão sobre a dimensão do trabalho
do assistente social como um trabalhador assalariado, que vende sua força de
trabalho em troca de um salário, sendo:

[...] o caráter social desse trabalho assume uma dupla


dimensão: a) enquanto trabalho útil atende a necessidades
sociais (que justificam a reprodução da própria profissão) e
efetiva-se através de relações com outros homens, incorpo-
rando o legado material e intelectual de gerações passadas,
ao tempo em que se beneficia das conquistas atuais das
ciências sociais e humanas; b) mas só pode atender às
necessidades sociais se seu trabalho puder ser igualado a
qualquer outro enquanto trabalho abstrato - mero coágulo
de tempo do trabalho social médio -, possibilitando que
esse trabalho privado adquira um caráter social.

O Serviço Social segue com o foco no processo de transformação perante


o respeito aos aspectos social, econômico e político, vislumbrando os
princípios para construção de estratégias de enfrentamento à acumulação
capitalista. Atuando na perspectiva modernizadora e de ruptura, buscou
novas alternativas teóricas e ideológicas ao Serviço Social clássico e, com

80
o rompimento do regime militar, mesmo o Serviço Social se adaptando às
necessidades do Estado e das grandes empresas privadas, buscou formas de
avançar. Nos anos 1980, o referencial da teoria social de Marx se apresenta
efetivamente como interlocução com a profissão enquanto matriz teórico-
-metodológica, vislumbrando o ser social e buscando entender dialetica-
mente a realidade em seu movimento contraditório frente às relações sociais
que configuram a sociedade capitalista.

Atividade de aprendizagem

1. A crítica ao papel do Serviço Social na reprodução das relações sociais


deve partir do entendimento de que a apreensão do significado histórico da
profissão só é possível com a sua inserção na sociedade, pois o Serviço Social se
assegura como instituição característica na e a partir da divisão social do trabalho.
O que esta concepção identifica como princípio que conduz a estruturação
das relações sociais na sociedade?
a. Contradição de classes.
b. Reflexologia.
c. Subjetividade.
d. Liderança.
e. Indicadores.

2. O trabalho profissional do assistente social, as relações em que se realiza


o exercício profissional e a vida da população usuária dos serviços sociais
requerem um diagnóstico sobre os processos sociais e a profissão neles
inscrita. Os limites e as possibilidades da intervenção profissional são de
aspectos sócio-históricos.
Como podemos identificar os limites e como se exerce a profissão do
assistente social?
a. O contexto sociocultural traz os elementos necessários para o profis-
sional categorizar os problemas sociais e os vulnerabilizados, priori-
zando as ações para a definição das estratégias de intervenção.
b. Nas questões sociopúblicas, que os problemas sociais se configuram
como pessoais e delimitam os elementos teórico-metodológicos que
norteiam a profissão.

81
c. A prática profissional é uma relação singular entre o assistente
social e a iniciativa privada e as estratégias profissionais, como uma
profissão do escutar.
d. A prática profissional não interfere diretamente no cotidiano da
população, razão pela qual o cotidiano alcança uma grande distância
da atenção profissional.
e. Os limites e as possibilidades da intervenção estão impressos no
terreno sócio-histórico em que se exerce a profissão e nas referências
éticas, políticas e metodológicas do assistente social.

82
Seção 3

O Serviço Social nos anos 1990, as tendências


históricas e teórico­-metodológicas do debate
profissional e os desafios para o Serviço Social

Introdução à seção
Nesta seção, abordaremos os conteúdos que se referem às inovações
pós-Constituição Federal de 1988, pois o avanço foi considerável no campo
das políticas sociais, vislumbrando a assistência social enquanto política
pública que compõe o tripé da seguridade social, oportunizando espaços
para a participação da sociedade civil, por meio dos conselhos e exercendo
o controle social.
O desafio para a profissão frente ao capitalismo, principalmente em
relação às mudanças no mundo do trabalho, às normas de proteção social e à
política social, se destaca em meados da década de 1990 frente às demandas
e manifestações das expressões da questão social.
Após a Constituição Federal de 1988, novos temas se colocaram para o
Serviço Social, seja referentes à intervenção profissional ou ao processo da
construção teórico-metodológica.
A seguridade social, que chegou junto à Constituição Federal de 1988,
assegura o direito dos brasileiros na esfera das políticas de saúde, previdência
social e assistência social.
Figura 3.3 | Proteção social
SEGURIDADE SOCIAL

Saúde

Assistência
social

Previdência

Fonte: elaborada pelo autor.

83
A assistência social, vislumbrada como política pública de proteção
social, se tornou fonte de estudos e pesquisas em todas as áreas de atuação
e de discussão com a sociedade. A municipalização e a descentralização das
políticas sociais foram de fundamental importância no campo da gestão das
políticas sociais. Referente ao tripé da seguridade social, em seus artigos 203
e 204, a Constituição Federal define que é de direito a quem dela necessitar,
sob responsabilidade do Estado e concomitantemente de toda a sociedade.
O art. 203 estabelece que:
Art. 203. A assistência social será prestada a quem dela
necessitar, independentemente de contribuição à seguri-
dade social, e tem por objetivos:
I - a proteção à família, à maternidade, à infância, à adoles-
cência e à velhice;
II - o amparo às crianças e adolescentes carentes;
III - a promoção da integração ao mercado de trabalho;
IV - a habilitação e reabilitação das pessoas portadoras de
deficiência e a promoção de sua integração à vida comunitária;
V - a garantia de um salário mínimo de benefício mensal à
pessoa portadora de deficiência e ao idoso que comprovem
não possuir meios de prover à própria manutenção ou de
tê-la provida por sua família, conforme dispuser a lei.

Outras leis surgiram no decorrer dos anos, contemplando a assistência


social, como a Lei Orgânica de Assistência Social (LOAS), em 1993; a Política
Nacional de Assistência Social (PNAS), em 2004; as Normas Operacionais
Básicas do Sistema Único da Assistência Social (NOB-SUAS), em 2005;
NOB-RH SUAS, em 2006; NOB-SUAS, em 2012; e a Tipificação Nacional
dos Serviços Socioassistenciais, em 2009. Quanto aos subsídios normativos
e políticos da Política de Assistência Social, a PNAS e o SUAS aparecem
como referenciais para esta consolidação, com a implantação dos Centros
de Referência da Assistência Social (CRASS), para ofertar serviços e ações de
proteção básica, gestão territorial da rede de assistência social básica, organi-
zação e articulação das unidades a ele referenciadas e gerenciamento dos
processos nele envolvidos.
Os Centros de Referência Especializados da Assistência Social (CRESS)
surgiram para ofertar serviços especializados e continuados para as famílias
e os indivíduos em situação de ameaça ou violação de direitos (violência
física, psicológica, sexual, tráfico de pessoas, cumprimento de medidas
socioeducativas em meio aberto), através do SUAS, um sistema público não

84
contributivo, participativo e descentralizado, o qual, por meio das suas ações
tem como objetivo a sua implementação e municipalização.
No primeiro governo da presidente Dilma Rousseff, a Política de
Assistência Social foi alvo de mais um avanço, uma vez que houve a aprovação
da lei que instituiu legalmente o SUAS, que ainda se encontrava sem respaldo
legal. A partir de 1988, proveniente da mobilização dos movimentos sociais
na década anterior, a cidadania se destaca com o foco na sociabilidade, com
uma gestão participativa, inserindo a população nas instituições políticas,
nos fóruns e nos conselhos.

Questões para reflexão


A Constituição Federal de 1988 prevê, em seus artigos 203 e 204, a
assistência social a quem dela necessitar, independentemente de
contribuição à seguridade social.
A Lei nº 8.742/93 foi elaborada com base no entendimento de que a
assistência social é direito do cidadão e dever do Estado enquanto
política pública.
Você sabia que a política de assistência social é uma política pública, e
não uma opção de governo?

A criação da LOAS, em 1993, sancionada pelo Presidente Itamar Franco,


estabelece o Conselho Nacional de Assistência Social, com composição
paritária, deliberativo e controlador da política de assistência social.
A organização da assistência social prevê intervenções, as quais podem
ser caracterizadas como serviços, programas, projetos e benefícios. Entre os
benefícios ofertados pela LOAS, surgiu o Benefício de Prestação Continuada
(BPC), que é a garantia de um salário mínimo mensal à pessoa com defici-
ência e ao idoso com 65 anos ou mais, que comprovem não possuir meios de
prover a própria manutenção nem de tê-la provida por sua família.
O SUAS objetivou promover maior efetividade de suas ações, concreti-
zando o conteúdo da LOAS, cumprindo as exigências legais e consolidando
os direitos de cidadania. Nele, os serviços, programas, projetos e benefí-
cios da assistência social são reorganizados por níveis de proteção, como
a Proteção Social Básica e a Proteção Social Especial, e objetivam enfocar
a atenção às famílias, aos seus membros e a toda a população, bem como
ter o território como base de organização. Eles passam a ser definidos pelas
funções que desempenham, pelo número de pessoas que deles necessitam e
pela sua complexidade.

85
Para saber mais
Serviços socioassistenciais
É um conjunto de serviços destinados à superação de situação de vulne-
rabilidade social decorrente da pobreza ou da falta de acesso a serviços
públicos e a direitos sociais.
No link a seguir, pesquise maiores informações sobre o tema:
BRASIL. Ministério da Cidadania. Serviços Socioassistenciais. Brasília:
Secretaria Especial do Desenvolvimento Social, 2015. Disponível em:
http://mds.gov.br/assuntos/cadastro-unico/o-que-e-e-para-que-serve/
servicos-socioassistenciais. Acesso em: 6 jun. 2019.

As NOB-SUAS definem a rede socioassistencial como um conjunto


integrado de ações de iniciativa pública e da sociedade civil, que ofertam
e operam benefícios, serviços, programas e projetos, o que supõe a articu-
lação entre todas as unidades de provisão de proteção social, sob a divisão de
básica e especial e por níveis de complexidade, e define que a rede socioassis-
tencial se organize a partir dos alguns parâmetros.
A organização se apresenta como a oferta integrada de serviços,
programas e benefícios de proteção social; caráter público de corresponsa-
bilidade e complementaridade entre as ações governamentais e não-gover-
namentais de assistência social; hierarquização da rede pela complexidade
dos serviços e pela abrangência territorial de sua capacidade em face da
demanda; porta de entrada unificada dos serviços para a rede de proteção
social básica e para a rede de proteção especial; territorialização da rede de
assistência social, baseada na lógica da proximidade do cotidiano de vida do
cidadão; caráter contínuo e sistemático, planejado com recursos garantidos
em orçamento público, bem como com recursos próprios da rede não-gover-
namental; referência unitária em todo território nacional de nomenclatura,
conteúdo, padrão de funcionamento, indicadores de resultados da rede de
serviços, estratégias e medidas de prevenção quanto à presença ou ao agrava-
mento e superação de vitimizações, riscos e vulnerabilidades sociais.
A tipificação nacional de serviços socioassistenciais, do ano de 2009,
denomina os tipos de serviços, objetivos e provisões essenciais para o desen-
volvimento dos serviços da assistência social e a avaliação de seus impactos.

86
Atividade de aprendizagem

1. As transformações sociais, políticas e econômicas estabelecem, para


os assistentes sociais, intervenções que respondam às demandas das novas
configurações societárias, por meio da apropriação do conhecimento, do
planejamento social e dos métodos e técnicas eficazes.
O planejamento social, para o assistente social, deve ser considerado como:
a. Uma instância estratégica da intervenção profissional na realidade
social, alinhada com a dinâmica da realidade e das necessidades e
demandas sociais.
b. Supor a construção de uma ação intencional e conservadora da reali-
dade social, reforçando as ações casuísticas.
c. A descrição e a interpretação dos dados não permitem apreender as
prioridades relacionadas ao objeto.
d. Ação preventiva para as mudanças ilegais, privativas e administrativas
para a viabilidade do pacto.
e. Uma tarefa da implementação e criação de condições desfavoráveis à
implantação de um plano.

2. O processo de descentralização das políticas sociais públicas, com


ênfase na sua municipalização, requer dos assistentes sociais novas funções
e competências, ampliando seu espaço ocupacional para atividades relacio-
nadas ao controle social, à implantação e orientação de conselhos e políticas
públicas, à capacitação de conselheiros, à elaboração de planos e projetos
sociais e ao acompanhamento e avaliação de políticas, programas e projetos.
Qual deve ser o perfil do assistente social na contemporaneidade?
a. Desenvolver capacidade de negociação, conhecimento e know-how na área
de recursos hídricos e relações nas comunidades empresariais e religiosas.
b. Fazer leitura e análise dos orçamentos públicos, identificando seus
alvos e compromissos, assim como os recursos disponíveis para
projetar ações.
c. Decifrar as situações particulares com que se defronta o assistente
social no seu trabalho, de modo a conectá-las aos processos sociais
microscópicos que as geram e as modificam.
d. Localizar-se na linha de frente das relações entre população e insti-
tuição, sendo executor terminal de políticas sociais.

87
e. Realizar assembleias do Poder Executivo em separado dos poderes
Judiciário e Legislativo, o que pode distanciar as relações entre eles.

Fique ligado!
A reflexão e o entendimento sobre o cotidiano e o processo de alienação
e reificação da vida social, que oportuniza a tomada de consciência de classe,
podem ser consideradas grandes possibilidades para a transformação social.
A realidade capitalista, que considera o trabalhador como uma merca-
doria, faz com que o trabalho alienado cresça e se materialize.
A Constituição de 1988 e os direitos sociais, numa perspectiva de valores
éticos, participação democrática e garantia da proteção social universal sob a
responsabilidade do Estado, ampliaram os espaços para a intervenção profis-
sional direcionada para a implementação das políticas nacionais.
O reordenamento das práticas profissionais foi emergente para uma
perspectiva condizente com a realidade e a legislação que surgiram no país.
Embasados na teoria crítica, os cursos de Serviço Social, em 1982, discu-
tiram o currículo de formação, e em 1985, implantaram-se adequações frente
às antigas práticas, a partir de um novo eixo para as intervenções profissio-
nais, com referencial teórico-metodológico crítico e coerente com o novo
modelo de proteção social brasileira.
A referência do trabalho desenvolvido pelos profissionais nas esferas de
formulação, gestão e execução da política social foi necessária para a insti-
tucionalização das políticas públicas, vislumbrando a garantia dos direitos
sociais e a consolidação do projeto ético-político da profissão.
Com a privatização do Estado brasileiro a partir da década de 1990, com
a intensificação das transformações no mundo do trabalho dos assistentes
sociais e as possibilidades da intervenção desse profissional, as propostas
de análise e crítica no decorrer das ações profissionais foram presentes e
constantes na categoria, pois os reflexos da conjuntura ocorreram direta-
mente neste espaço.
O referencial da teoria social de Marx foi considerado uma interlocução
com a profissão enquanto matriz teórico-metodológica, vislumbrando o ser
social pertencente dialeticamente à sua realidade em seu movimento contra-
ditório frente às relações sociais que configuram a sociedade capitalista.

88
Para concluir o estudo da unidade
A discussão apresentada no decorrer do conteúdo desta produção vislum-
brou o despertar para o aprofundamento de conhecimento e reflexão para a
prática interventiva do Serviço Social.
O tema do trabalho, entendido como uma atividade desenvolvida pelo
homem como forma para satisfazer suas necessidades e produzir riquezas,
tornou-se uma categoria que se refere ao modo de ser dele e da sociedade.
O trabalho faz do homem um ser social enquanto transforma a natureza
e, por meio dessa transformação, desenvolve as relações de produção que
subordinam o trabalho a algumas relações sociais.
O trabalhador se tornou subordinado aos interesses do capital, tornan-
do-o alienado, pois, enquanto produz, afasta-se da sua produção por não
poder possuir o que produz, tornando-se dependente do seu trabalho.

O fundamento da prática social é, pois, o trabalho social, o


trabalho coletivo: atividade criadora por excelência, através
da qual o homem se objetiva exteriorizando as suas forças
genéricas na relação com outros homens. Todavia, na socie-
dade em que vivemos, o trabalho não só cria o homem; no
trabalho, ele também se perde, se aliena. O conteúdo do seu
trabalho, atividade potencialmente criativa, adquire a forma
social necessária – a forma mercantil -, que dissimula as
relações sociais, coisificando-as. (IAMAMOTO, 1995, p. 177)

Conforme Iamamoto (1995), alienação é uma ação ou um estado pela


qual o trabalhador se apresenta alheio em relação ao que produz, a si próprio
e às relações sociais que estabelece na sociedade.
A prática profissional como trabalho e exercício profissional do assistente
social, enquanto trabalhador assalariado, que está inserido na divisão socio
técnica do trabalho, torna-o subordinado às mesmas obrigações da população
trabalhadora, em benefício da qual desempenha a sua ação profissional.
Vários períodos históricos, lutas, amadurecimentos, transformações e
renovações ocorreram no âmbito da categoria profissional, o que fortalece as
discussões e os cenários de conquistas adquiridas por décadas.
Que as considerações e despertares destes conhecimentos estudados nesta
unidade possam representar um pensar e repensar da pratica profissional,

89
vislumbrando o entendimento da necessidade de atendimento ao projeto
ético político profissional.

Atividade de aprendizagem

1. Para Marx, o capital era o principal ponto a ser investigado para que fosse
possível entender as mudanças sociais que surgem em um dado momento.
O que podemos entender por capital a partir de Marx?
a. O trabalho dignifica e aconselha o homem.
b. A mais-valia absoluta.
c. Qualquer bem que possa ser investido para gerar mais lucro.
d. O sistema econômico que surgia naquele momento.
e. O sistema de exploração do homem pelo homem.

2. Marx afirma que os trabalhadores, isolados em suas tarefas no processo


produtivo, não percebem seus colaboradores na mesma obra nem tem ideia
dessa obra comum.
Esse conceito pode ser explicado de que forma?
a. Ideologia.
b. Alienação.
c. Estratificação.
d. Anomia social.
e. Identidade social.

3. A inclusão da assistência social na Constituição Federal de 1988 signi-


ficou a ampliação no campo dos direitos humanos e sociais.
Quais foram as consequências que ocorreram neste período?
a. Introduziu a exigência de atendimento a determinadas necessidades
de proteção social, efetivando a seguridade social contributiva.
b. Responsabilidade mútua entre Estado e sociedade Civil, caracterizan-
do-se como nova ação, com atividades e atendimentos eventuais.
c. Naturalização do princípio da subsidiariedade, pelo qual a ação da
família e da sociedade deve anteceder a do Estado.

90
d. Concepção hegemônica de que é uma política de atenção aos pobres,
necessitados sociais, frágeis e carentes.
e. Seguridade social, que está sendo tratada como bem público e social
do estatuto de uma sociedade para alcançar todos os seus membros.

4. A política de assistência social, após a promulgação da Carta Constitu-


cional de 1988, elevou-se da antiga condição de ação subsidiária do Estado, de
caráter discricionário e compensatório, à condição de política, com mesmo
grau de importância que as demais políticas de seguridade, assumindo a
condição de direito de todo cidadão. A seguridade social representou um
marco na conquista de direitos sociais no Brasil.
A seguridade social instituiu a responsabilidade do Estado sobre um conjunto
de necessidades, as quais, antes da sua materialização, eram consideradas de
qual âmbito?
a. Individual
b. Filantrópico.
c. Assistencial.
d. Trabalhista.
e. Familiar.

5. A análise do significado social do Serviço Social no processo de repro-


dução das relações sociais destaca o caráter contraditório da profissão. Ela
reproduz, pela mesma atividade, interesses contrapostos que convivem em
tensão pelas demandas do capital e do trabalho e só pode fortalecer um ou
outro extremo pela mediação de seu oposto.
De que decorre esse caráter contraditório da atuação profissional?
a. Intencionalidade do assistente social.
b. Condução da atuação profissional.
c. Pressão dos empregadores.
d. Demandas dos usuários.
e. Relação de classes.

91
Referências

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Brasília, DF: Presidência da República, [2019]. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/
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IAMAMOTO, Marilda Villela. O serviço social na contemporaneidade: trabalho e formação


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IAMAMOTO, Marilda Villela. Renovação e conservadorismo no serviço social. São Paulo:


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IAMAMOTO, Marilda Villela. O serviço social na contemporaneidade: trabalho e formação


profissional. 16. ed. São Paulo: Cortez, 2007.

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PEREIRA, Potyara Amazoneida. Necessidades humanas: subsídios à crítica dos mínimos


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SILVA, Maria Ozanira. A formação profissional do assistente social: inserção na realidade


social e na dinâmica da profissão. 2. ed. São Paulo: Cortez, 1995.
Unidade 4

Leitura da teoria social de Marx e pensadores


vinculados à tradição marxista

Objetivos de aprendizagem da unidade


Apresentar conteúdos que oportunizem ao futuro profissional do Serviço
Social o conhecimento que embasa a fundamentação teórica e metodológica
da profissão, contextualizado a partir de referências clássicas e de autores
contemporâneos que contribuíram no processo de avanço da categoria junto
à realidade enfrentada pela população em distintos momentos da conjun-
tura brasileira.

Seção 1 | Assistência versus ditadura versus democracia


Após o Regime Militar, aconteceu a Democracia, e nos anos 1980, o
Serviço Social seguiu no processo de transformação social, política e econô-
mica, frente aos desafios das novas demandas e exigências impostas pelo
mercado de trabalho.

Seção 2 | Regulamentação legal da profissão


Com a regulamentação legal da profissão, por meio da Lei nº 8.662/93,
decretou-se a Lei nº 8.742/93, que criou a Lei Orgânica da Assistência
(LOAS), configurando-se como uma nova perspectiva de assistência
social no Brasil.

Seção 3 | Marx: a apropriação do Serviço Social


A concepção de trabalho presente no projeto de formação profissional
do Serviço Social está fundamentada no entendimento de que a ação e a
organização do trabalho foram constituídas historicamente nas condições de
existência e reprodução social da população.

Introdução à unidade
Nesta unidade, será apresentado o conteúdo sobre o período pós-regime
militar, quando foi vislumbrada a Democracia. Paralelo ao período histórico
e político, a profissão do Serviço Social, nos anos 1980, avançou no processo
de transformação social, política e econômica, frente aos desafios das novas
demandas e exigências impostas pelo mercado de trabalho e sentidas no
cotidiano da população tanto urbana como rural.
A profissão passou por processos de discussão crítica, releituras e avanços
e foi necessária à sua regulamentação legal por meio da Lei nº 8.662/93. Neste
momento, também se decretou a Lei nº 8.742/93, que criou a Lei Orgânica da
Assistência (LOAS), configurando-se como uma nova perspectiva de assis-
tência social no Brasil, que oportunizou a instalação do Sistema Único de
Assistência Social (SUAS), entendido como uma política pública.
A concepção de trabalho presente no projeto de formação profissional
do Serviço Social está fundamentada no entendimento de que a ação e a
organização do trabalho foram constituídas historicamente nas condições de
existência e reprodução social da população.
Os diferentes autores críticos, bem como os clássicos pensadores,
embasaram este crescimento teórico e metodológico da categoria, possibili-
tando que os assistentes sociais se assegurassem quanto à intervenção profis-
sional, construindo seu projeto ético e político profissional.
Bom estudo!
Seção 1

Assistência versus ditadura versus democracia

Introdução à seção
Após o Regime Militar aconteceu a Democracia e, nos anos 1980, o
Serviço Social seguiu no processo de transformação social, política e econô-
mica, frente aos desafios das novas demandas e exigências impostas pelo
mercado de trabalho.
O modelo de assistência implantado pela ditadura militar expandiu
o mercado de trabalho dos assistentes sociais, com alterações no perfil de
formação, direcionando-os para a racionalização técnica, frente à proposta
centralizada, burocrática e autoritária das políticas assistenciais da época.
O Estado desenvolveu funções, como a efetivação de uma política expan-
siva, a garantia dos serviços públicos, o investimento em infraestrutura e a
consumação de redistribuição a partir de ações sociais, sob a forma de direitos.
O formato funcionalista do Serviço Social não mais atendia às propostas
que o período da ditadura exigia, e o Serviço Social precisou repensar
sua extensão política e sua atuação profissional frente à conjuntura insta-
lada. Com a renovação do Serviço Social nos anos 1970, o Serviço Social
direcionou sua intervenção para as situações próprias da realidade viven-
ciada pela sociedade e para a crise do capitalismo democrático, de domínio
do próprio capital, e reforçou a ideia da necessidade de redimensionamento
das políticas sociais.
Como afirma Netto (2007, p. 66):

(...) não é frequente colocar-se de manifesto que a crise do


Welfare State explicita o fracasso do único ordenamento
sociopolítico que, na ordem do capital, visou expressa-
mente compatibilizar a dinâmica da acumulação e da
valorização capitalista com a garantia de direitos políticos
e sociais mínimos.

No Brasil, durante os anos de 1990, os meios de comunicação e o meio


político e intelectual propagaram uma campanha a favor das reformas
neoliberais, com suas características de uma modernização conservadora.
Alguns aspectos desse ideário tinham a proposta de desregulamentação da

97
economia, a qual defendia a abolição da regulação do Estado sobre os preços
da economia em geral e sobre as relações capital-trabalho.
Além do ponto de vista econômico, o Estado mínimo também apresentou
consequências no âmbito político, configurando a democracia como adver-
sária da liberdade do mercado. Tratavam-se de intervenções antidemocrá-
ticas de empresas transnacionais em determinadas questões do país. Dessa
forma, a não participação do Estado na livre economia de mercado tomou
proporções maiores, atingindo tanto o nível econômico quanto o político e
deixando consequências drásticas para toda a sociedade.
Configurou-se o Estado mínimo nos direitos trabalhistas, no controle dos
preços de produtos e na não regulação das remunerações ou qualquer outra
intervenção que atingisse diretamente ao livre mercado. O neoliberalismo,
junto ao modelo toyotista de produção, desencadeou profundas alterações nas
relações trabalhistas, na organização dos trabalhadores e na automação das
empresas, o que possibilitou ao mercado uma maior competitividade entre as
indústrias e, em contrapartida, uma maior margem de lucro aos gestores.
Houve, ainda, um consequente aumento do desemprego estrutural com
a substituição da mão de obra por máquinas ou por trabalhadores terceiri-
zados, e os contratos de trabalho se tornaram mais flexíveis.
Com o Estado mínimo, a garantia dos direitos sociais e trabalhistas e a
qualidade de vida digna quase não existiam.
Behring e Boschetti (2007, p. 152) destacam que:

[...] Mandel, em fins dos anos 1960, já identificava alguns


elementos em desenvolvimentos e que aparecem hoje
de forma mais clara e intensa, que são essenciais para
desvendar os anos 80 e 90 do século XX, no que se refere
à extração da mais-valia e ao mundo do trabalho: o forte
deslocamento do trabalho vivo pelo trabalho morto; a perda
ainda maior da importância do trabalho individual a partir
de um amplo processo de integração da capacidade social
de trabalho; a mudança da proporção de funções desem-
penhadas pela força de trabalho no processo de valori-
zação do capital, quais sejam de criar e preservar valor; as
mudanças nas proporções entre criação de mais-valia na
própria empresa e aquela gerada em outras empresas; o
aumento no investimento em equipamentos; a diminuição
do período de rotação do capital; a aceleração da inovação
tecnológica com fortes investimentos em pesquisa; e por

98
fim, uma vida útil mais curta do capital fixo e a consequente
tendência ao planejamento.

A precarização, incorporada à redução da presença do Estado na inter-


mediação entre capital e trabalho e no desenvolvimento das políticas sociais
básicas, contribuiu para a exclusão social de uma grande parcela da sociedade.
O neoliberalismo estabeleceu uma dinâmica expressa pela terceirização,
pelo desemprego, pela flexibilização das relações de trabalho e pela redução
dos direitos sociais, isso tudo articulado diretamente com as políticas de
ajuste ditadas pelo Fundo Monetário Internacional e pelo Banco Mundial
para países mais pobres, reduzindo os gastos sociais com políticas básicas de
atenção à população.
Essa situação gerou uma nova pobreza, com total desconhecimento de
cidadania e modernidade e sem a mínima interpretação da regulação pelo
mercado, pois quanto mais inclusivo fosse o alcance da educação básica e dos
serviços de saúde, maior seria a probabilidade de que até mesmo os poten-
cialmente pobres tivessem uma chance maior de superar a crise.
O Serviço Social, considerando a rigidez técnica e científica desse período,
assumiu uma postura assistencialista, servindo as classes dominantes,
assumindo a execução das políticas sociais paternalistas que começaram a se
ampliar no período de maior coerção do regime, convergindo com este para
a eliminação de empecilhos para o crescimento econômico do Brasil.
No final da década de 1970, o país passou por uma retração econômica
e pela volta da inflação. Assim, esperou-se pelo fim do regime ditatorial, o
que foi acontecendo, movido pela pressão de vários elementos, dentre eles, a
população, os meios sindicais, os movimentos sociais, os partidos políticos,
o operariado e as instituições da sociedade civil, e como tática de sobrevi-
vência, o próprio regime.
Nessa conjuntura, pode-se afirmar que o Serviço Social, no Brasil,
começou a adotar de fato a probabilidade dialética de reconceituação, com as
ideias se elevando por meio do diálogo.
Iamamoto (2011, p. 37) nos apresenta que:

Nos anos 80 acirra-se nos meios acadêmicos a discussão


acerca da complexidade do Serviço Social. Assim, conside-
rando a intenção das relações capitalistas de produção, o
aspecto funcional da profissão é colocado à luz da reflexão
para a categoria profissional.

99
Para saber mais
Acesse o endereço a seguir e conheça a história dos CFESS-CRESS.
Disponível em: http://www.cfess.org.br/. Acesso em: 4 out. 2019.

Os profissionais buscaram legitimar a profissão na perspectiva de defesa


da classe trabalhadora, procurando superar a história herdada e exigindo
uma nova ética, baseada nos valores universais e acima dos interesses de
classe. Desse modo, surge um novo código de ética do assistente social.
Figura 4.1 | Conjuntura social, econômica e política
Ditadura Democracia Assistência

BUROCRACIA E AUTORITARISMO PROJETO ÉTICO-PROFISSIONAL RECONCEITUAÇÃO DIALÉTICA

Fonte: elaborada pelo autor.

O Conselho Regional de Serviço Social (CRESS) e o Conselho Federal


de Serviço Social (CFESS), acautelados quanto ao novo posicionamento da
categoria profissional, começaram a despertar para debates, visando alterar o
Código de Ética que estava vigente desde 1975.

Questões para reflexão


O CFESS e o CRESS surgiram nos anos 1950. No início, essas entidades
tinham apenas a função de controle e fiscalização, porém, hoje, atuam
também na perspectiva de ser um espaço de interlocução entre os
profissionais de Serviço Social.

Após o esclarecimento de Iamamoto (2011), você conseguiu compre-


ender o significado do movimento de reconceituação ou renovação do
Serviço Social?

O Código de Ética com alterações foi aprovado em 1986 e suplantou


a base tradicional conservadora da profissionalização do Serviço Social,
repercutindo com conquistas e com o surgimento de um profissional
competente, teórico, técnico e politicamente, com a prática do assistente
social passando a ser analisada a partir das implicações políticas do seu
papel e de um projeto de classe.
Na contemporaneidade, a inserção dos profissionais diante dos novos
contornos da questão social exigiu um projeto profissional frente a um projeto

100
democrático, direcionando o Serviço Social para a defesa da população
trabalhadora.
O fortalecimento desse projeto profissional culminou em outras importantes
alterações na sociedade brasileira, sendo uma delas a Constituição de 1988.

Atividade de aprendizagem da seção

1. A profissão do Serviço Social brasileiro na redemocratização, no


momento da Constituinte de 87/88, focalizou alguns pontos estratégicos,
para viabilizar alterações nas condições de vida.
Quais são as principais referências neste período histórico? Assinale a alter-
nativa correta:
a. Parceria privada e movimentos sociais.
b. Luta por direitos de diferentes segmentos.
c. Desmobilização dos movimentos sociais.
d. Luta por direitos apenas dos trabalhadores.
e. Conquistas advindas de organizações internacionais.

2. Referente ao debate teórico do Serviço Social nas décadas de 1980 a 1990,


objetivando a intervenção profissional e considerando um novo direciona-
mento para o Serviço Social, ocorreram manifestações.
A partir de qual posicionamento os profissionais se expressaram para que
as propostas de avanço pudessem prosseguir? Assinale a alternativa correta:
a. Visão de uma profissão distante da divisão social e técnica do trabalho.
b. Atuação voltada a maximizar os efeitos das expressões da questão
social.
c. Abertura para os aspectos tradicionais e conservadores.
d. Levantamento de dados apenas regionais, desconsiderando a reali-
dade do país.
e. Ruptura com o tradicionalismo e o conservadorismo.

101
Seção 2

Regulamentação legal da profissão

Introdução à seção
Com a regulamentação legal da profissão, por meio da Lei nº 8.662/93,
decretou-se a Lei nº 8.742/93, que criou a Lei Orgânica da Assistência
Social (LOAS), configurando-se como uma nova perspectiva de assistência
social no Brasil.
O Código de Ética de 1986, no sentido de fundamentar e instrumenta-
lizar a prática do assistente social, foi revisado, e por meio do Código de 1993,
foram apregoadas as pretensões coletivas dos assistentes sociais brasileiros.
Com a regulamentação legal da profissão, por meio da Lei nº 8.662/93,
decretou-se a Lei nº 8.742/93, que criou a Lei Orgânica da Assistência (LOAS),
configurando-se como uma nova perspectiva de assistência social no Brasil.
Ela passa a assumir o papel de política pública social e tem nos assistentes
sociais seus aliados para a implementação e efetivação das ações para assegurar
os serviços e benefícios à população em situação de vulnerabilidade social.
O Serviço Social tem sua área de atuação voltada ao atendimento das
necessidades sociais da população, visando valorizar o ser humano, por meio
do compromisso ético-político, na construção de uma sociedade mais justa,
com menos desigualdade e injustiça social.

Questões para reflexão


Quais são os desafios para a consolidação do projeto ético-político do
Serviço Social?

A atividade do assistente social deve estar entrelaçada com o conheci-


mento da realidade, para que ele possa apreender as mais variadas expressões
da sociedade e desenvolver intervenções e mediações, identificando limites e
possibilidades concretas de intervenção, visando promover ações que forta-
leçam a conquista por direitos, vislumbrando a transformação da realidade.

[...] o exercício da profissão é mais do que isso. É uma


ação de um sujeito profissional que tem competência para
propor, para negociar com a instituição os seus projetos,
para defender o seu campo de trabalho, suas qualifica-
ções e funções profissionais. Requer, pois, ir além das

102
rotinas institucionais e buscar apreender o movimento da
realidade para detectar tendências e possibilidades nela
presentes passíveis de serem impulsionadas pelo profis-
sional. (IAMAMOTO, 1992, p. 21)

A prática profissional ocorre no campo das relações estabelecidas entre o


poder do Estado e a sociedade em suas diferentes configurações e demandas,
considerando o aspecto histórico vivenciado.
Para Iamamoto (2004, p. 151),

[...] desvendar a prática profissional cotidiana supõe


inseri-la no quadro das relações sociais fundamentais da
sociedade, ou seja, entendê-la no jogo tenso das relações
entre as classes sociais, suas frações e das relações destas
com o Estado brasileiro.

Outra condição específica que podemos considerar é o modo como se


dá a relação de produção social, com todas as nuances próprias das relações
estabelecidas pelo sistema capitalista, pautada na dominação, exploração e
exclusão social e dos bens de consumo.
O assistente social atua nessa realidade do mundo capitalista, devendo
compreender os processos de transformação da sociedade e privilegiar todos
os movimentos históricos e sociais, para que possa desempenhar com quali-
dade sua profissão.
Figura 4.2 | Direção social da profissão

Regulamentação
da profissão/93

Diretrizes
curriculares/96

Código de
é�ca/93

Classes
subalternas

Fonte: elaborada pelo autor.

103
A direção social que orienta este projeto de profissão tem como referência a
relação orgânica com o projeto das classes subalternas, reafirmado pelo Código
de Ética de 1993, pelas Diretrizes Curriculares de 1996 e pela legislação que
regulamenta o exercício profissional (Lei nº 8.662, de 7 de junho de 1993).
O desafio colocado à profissão ao longo de toda a década de 1990 foi
a consolidação do projeto ético-político, teórico-metodológico e operativo,
sob a influência da tradição marxista.

[...] mas incorporando valores auridos noutras fontes e


vertentes e, pois sem vincos estreitos ou sectários, aquelas
matrizes estão diretamente conectadas ao ideal de socia-
bilidade posto pelo programa da modernidade - neste
sentido, tais matrizes não são ‘marxistas’ nem dizem
respeito apenas aos marxistas, mas remetem a um largo
rol de conquistas civilizatórias e, do ponto de vista profis-
sional, concretizam um avanço que é pertinente a todos
os profissionais que, na luta contra o conservadorismo,
não abrem mão daquilo que o velho Lukács chamava de
‘herança cultural’. (NETTO, 1996, p. 117)

O Serviço Social desenvolve a prática profissional no âmbito das relações


que se estabelecem entre o poder do Estado e a sociedade. Para Iamamoto
(2004, p. 151),

[...] o exercício da profissão é mais do que isso. É uma


ação de um sujeito profissional que tem competência para
propor, para negociar com a instituição os seus projetos,
para defender o seu campo de trabalho, suas qualificações
e funções profissionais. Requer, pois, ir além das rotinas
institucionais e buscar apreender o movimento da realidade
para detectar tendências e possibilidades nela presentes
passíveis de serem impulsionadas pelo profissional.

As discussões sobre o projeto ético-político da profissão do Serviço Social


e como se dá a atuação do profissional em uma sociedade constituída de
conflitos de classes e expressões da questão social ocorrem visando elaborar
propostas para contribuir com a efetivação das políticas públicas nas mais
variadas áreas: habitação, educação, saúde, assistência social, emprego e
geração de renda.

104
A questão social apresenta um conjunto de desigualdades derivadas do
sistema capitalista e da contradição entre o trabalho coletivo e a apropriação
privada, portanto, nesse panorama, temos as organizações da classe trabalha-
dora, que fazem frente à exploração e lutam por direitos.

Para saber mais


Acesse um estudo sobre a proposta de reforma do Estado brasileiro
e suas implicações no orçamento público e nas políticas sociais, que
aprofundou o conflito redistributivo nas décadas de 1980 e 1990,
acentuando a exclusão social.
GUILHERME, R. C.; NOGUEIRA, V. M. R. A reforma do Estado e suas impli-
cações nas políticas sociais. R. Pol. Públ., São Luís, v. 14, n. 2, p. 329-337,
jul./dez. 2010. Disponível em: http://www.periodicoseletronicos.ufma.
br/index.php/rppublica/article/view/444/835. Acesso em: 4 out. 2019.

A forma particular de exploração no capitalismo traz consequências


marcadas pelos antagonismos, em que a questão social é resultado de uma
sociabilidade criada a partir do comando do capital e suas contradições, e
as características mais particulares de suas expressões estão relacionadas
às características históricas, à economia e à política do país, além de que a
compreensão de suas múltiplas refrações cristalizadas na cena contempo-
rânea deve ir além da visão de pobreza.
De acordo com Iamamoto (2001, p. 17), “as manifestações da questão
social expressam disparidades econômicas, políticas e culturais das classes
sociais, mediatizadas por relações de gênero, características étnico-raciais e
formações regionais”.
Desigualdade social e exclusão são conceitos que andam juntos, uma vez
que esta leva à vivência da privação, da recusa, do abandono e da expulsão,
inclusive, com violência, de uma parcela significativa da população. Por isso,
não se trata de um processo individual, embora atinja pessoas, mas de uma
lógica que está presente nas várias formas de relações econômicas, sociais,
culturais e políticas da sociedade, de uma situação de privação coletiva.

Atividade de aprendizagem da seção

1. A institucionalização do Serviço Social como profissão na sociedade


capitalista se explica no contexto contraditório de um conjunto de processos
sociais, políticos e econômicos, que caracteriza as relações entre as classes
sociais na consolidação do capitalismo monopolista.

105
Embora o Serviço Social tenha sido regulamentado como profissão liberal
por portaria do Ministério do Trabalho em 1949, a inserção dos assistentes
sociais em agências estatais, operadoras de políticas sociais, desde a sua
gênese no Brasil, configura uma relação de:
a. Assalariamento.
b. Voluntariado.
c. Cumplicidade.
d. Status.
e. Regras.

2. Sobre o profissional do Serviço Social, Iamamoto (2004) enfatiza que a


prestação de serviços socioassistenciais nas organizações públicas e privadas
interfere nas relações sociais no atendimento às mais variadas expressões da
questão social vividas pelos indivíduos sociais: no trabalho, na família, na
luta pela moradia e pela terra, na saúde, na assistência pública, entre outras.
O assistente social, na atualidade, de acordo com o projeto ético-político da
profissão, considera dois elementos predominantes. Quais são eles? Assinale
a alternativa correta:
a. A questão social, como base de fundação sócio-histórica do Serviço
Social, e a prática profissional como trabalho, cujo objeto são as múlti-
plas expressões da questão social.
b. A Constituição Federal, como base de aceleração sócio-histórica do
Serviço Social, e as políticas sociais, como objeto de trabalho.
c. A prática profissional como trabalho, cujo objeto são as múltiplas
expressões da questão social e as divisões críticas de pensamento em
relação à natureza e educação.
d. As propostas econômicas como base de fundação socioeconômica do
Serviço Social e a visão populista como objeto de trabalho.
e. As políticas econômicas, como base de fundação sócio-histórica do
Serviço Social, e a questão cultural, como objeto de trabalho.

106
Seção 3

Marx: a apropriação do Serviço Social

Introdução à seção
A concepção de trabalho presente no projeto de formação profissional do
Serviço Social está fundamentada por meio do entendimento de que a ação e
a organização do trabalho foram constituídas historicamente nas condições
de existência e reprodução social da população.
O conceito de trabalho presente nas diretrizes curriculares (ABESS,
1996; BRASIL, 1999) para o Curso de Serviço Social, especificamente no
que se refere ao Núcleo de Fundamentos do Trabalho Profissional, destaca
a extensão ontológica do trabalho frente à constituição do ser social e da
sociabilidade humana, destacando o exercício profissional como trabalho
referenciado na teoria do valor-trabalho de Marx.
O trabalho alicerça as sociedades com valores de uso para alcance das
necessidades humanas e produção das formas de interação dos homens com
a natureza e dos homens entre si.
O trabalho, entendido como atividade vital humana, distingue o homem
das atividades desempenhadas por outros animais ao ser considerado uma
dinâmica que destaca as capacidades físicas e intelectuais dos homens.
Caracteriza-se por ser uma relação mediada e consciente entre sujeito
e objeto, requerendo a utilização de meios e a fixação de objetivos para o
alcance de um resultado.
Iamamoto (2011) apresenta que o significado social da profissão ocorre
com a apreensão do Serviço Social como especialização do trabalho coletivo
e participante do processo de produção e reprodução das relações sociais
enquanto trabalho concreto. Porém, o conteúdo qualitativo do trabalho
se torna escasso para compreender a natureza do exercício profissional na
sociedade capitalista, uma vez que o trabalho do assistente social reúne uma
unidade contraditória, caracterizado como concreto e, também, abstrato,
uma vez que seu exercício profissional especializado e que se realiza por
meio do trabalho assalariado, na relação de compra e venda de sua força de
trabalho, está sujeito às determinações da alienação e exploração.

107
Figura 4.3 | Pensadores

Pensamento
social

Michel Tradicionalismo
Foucault filosófico

Hannah �ca
Arendt neotomista

Humanismo
Maquiavel cristão

Fonte: elaborada pelo autor.

A discussão do Tradicionalismo filosófico, fundado na Ética neotomista


e no Humanismo cristão se apresenta aos avanços teóricos, por meio do
pensamento de Maquiavel e da ética política, do pensamento político de
Hannah Arendt, de Michel Foucault e a relação de poder, do conhecimento
histórico, das práticas sociais, das relações de poder e do surgimento das
ciências sociais.
Nos séculos XII e XIII, a organização de assistência aos pobres estava
voltada para aqueles que não tinham condições para o trabalho, portanto
apenas os inválidos teriam garantida a sua sobrevivência pela comuni-
dade, assim como os velhos indigentes, as crianças sem pais e os deficientes
também teriam amparo, enquanto os aptos para o trabalho deveriam buscar
uma ocupação.
Com as mudanças decorrentes da caminhada profissional e do referencial
teórico-crítico, na contemporaneidade, o objeto do Serviço Social é vislum-
brado enquanto a questão social.
Podemos observar que, quando falamos da categoria questão social,
precisamos considerar o contexto social, histórico, cultural, político e econô-
mico com todas as suas contradições.
O cotidiano é outra categoria importantíssima para o assistente social,
pois é no dia a dia da classe operária que as manifestações da questão social

108
se fazem presentes. Toda profissão tem um objeto, e este é o foco da inter-
venção profissional.
A questão social é o resultado da relação contraditória e conflituosa entre
capital e trabalho e se expressa por meio das mazelas da sociedade. O surgi-
mento da questão social está condicionado ao surgimento do capitalismo, o
qual, por essência, promove a desigualdade social.
Quando nos referimos à categoria da questão social, devemos sempre
utilizá-la no singular, nunca no plural. Se quisermos falar das suas expressões,
podemos citar as manifestações, expressões ou refrações da questão social.
A questão social se materializa quando a classe trabalhadora se organiza e
exige solução para as suas necessidades. De acordo com a perspectiva grams-
ciana, o tipo de dominação ideológica de uma classe social sobre outra, parti-
cularmente, da burguesia sobre o proletariado e outras classes de trabalha-
dores, é a hegemonia.
O papel regulador do Estado na esfera social e, em seu âmbito, nas ações
da profissão de Serviço Social, se estabelece e se modifica em face da corre-
lação de forças sociais em diferentes conjunturas históricas. As formula-
ções de Marx implicam não apenas compreender o capitalismo como uma
categoria histórica, um período histórico, ou mesmo uma dada ordem
econômica distinta, mas considerá-lo em sua condição de categoria, em seus
múltiplos aspectos – histórico, social e econômico –, como um modo de
produção vinculado a um sistema de ideias e a uma fase histórica. Ou seja,
compreender o significado do capitalismo enquanto um modo de produção
e de relações sociais específicas.
O conceito de contradição foi apreendido por Marx da obra de Hegel e
apresenta-se, ainda, de uma forma filosófica imatura em relação ao enten-
dimento materialista e histórico que lhe foi atribuído até o fim de sua obra,
como em O capital (MARX, 2011). A tese é um exercício de Marx no sentido
de negar e superar o pensamento hegeliano e, mesmo que ainda não desse
conta de ultrapassar muitas das categorias que utilizou, abriu significativos
horizontes metodológicos, pelos quais, mais tarde, trilharam seus grandes
achados teóricos.
Para Hegel (2001), a razão governa a história, mas Marx, já naquele
momento, intuiu que a produção histórica da materialidade é determinante
na relação dialética com a razão.
O reconhecimento do tempo permite um entendimento de que tudo
muda a todo instante, que a forma fenomênica é apenas a casca de uma cobra,
que se configura de determinada forma em um determinado momento, mas
não é propriamente a cobra. A imagem da realidade social na Alemanha, no

109
tempo de Marx, o levava à busca de uma concepção filosófica que funda-
mentasse a transformação social, enquanto Hegel concebia um Estado e um
direito que justificavam a permanência de características feudais.
Como mediador entre o homem e a natureza, o trabalho é o fundamento
de toda atividade humana, entendido como um processo histórico pelo qual
o homem se transformou em ser social.
O trabalho, sob as determinações das relações capitalistas de produção,
aos poucos deixa de ser livre e sinônimo de atividade vital do homem para
tornar-se alienado, uma vez que o trabalhador tem o uso da sua força de
trabalho e sua capacidade teleológica limitados aos interesses da (re)
produção desse sistema ao se adequar às novas formas de organização da
produção e, principalmente, ao vender sua força de trabalho para sobreviver.
Quando o trabalhador é tratado como uma mercadoria e está sujeito aos
interesses dos proprietários dos meios de produção, o trabalho alienado se
desenvolve e se concretiza.
O conceito de alienação, tratado por Karl Marx nos manuscritos econô-
mico-filosóficos de 1844, tem aspectos que se destacam, como a alienação
do homem em relação ao produto do seu trabalho, isto é, o homem está
alienado à sua atividade produtiva e ao ser genérico, e a alienação do homem
em relação a outro homem.
Portanto, o trabalho alienado está relacionado ao fato de o trabalhador
produzir um dado objeto e não poder possuí-lo, pois o produto da sua
produção é apropriado por outro homem, o capitalista. Essa apropriação
torna tanto o produto do trabalho quanto a própria atividade produtiva
estranhos ao trabalhador.
No início do milênio, o Serviço Social brasileiro enfrentou a difícil
herança do final do século anterior, com seus processos de globalização em
andamento e sua valorização do capital financeiro, configurando um novo
perfil para a questão social. Trata-se de um contexto que interpela a profissão
sob vários aspectos: das novas manifestações e expressões da questão social
aos processos de redefinição dos sistemas de proteção social e da política
social em geral, que emergem nesse contexto.

Para saber mais


O Serviço Social é uma profissão de caráter sociopolítico, crítico e
interventivo, que se utiliza do instrumental científico multidisciplinar
das Ciências Humanas e Sociais para análise e intervenção nas diversas
refrações da “questão social”, isto é, no conjunto de desigualdades
que se originam do antagonismo entre a socialização da produção e a

110
apropriação privada dos frutos do trabalho e, para sua atuação, geral-
mente, elabora registros dos atendimentos que realiza, redige relató-
rios e preenche fichas e formulários.

Para saber mais, acesse a obra a seguir:

GARCIA, M. L. T.; RAIZER, E. C. (Orgs). A questão social e as políticas


sociais no contexto latino-americano. Vitória, ES: EDUFES, 2013. Dispo-
nível em: http://repositorio.ufes.br/bitstream/10/825/1/livro%20
edufes%20A%20quest%c3%a3o%20social%20e%20as%20pol%c3%ad-
ticas%20sociais%20no%20contexto%20latino-americano.pdf. Acesso
em: 27 nov. 2019.

Faz-se necessário assinalar que a reafirmação das bases teóricas do projeto


ético-político, teórico-metodológico e operativo, centrada na tradição
marxista, não pode implicar a ausência de diálogo com outras matrizes de
pensamento social, nem significa que as respostas profissionais aos desafios
desse novo cenário de transformações possam ou devam ser homogêneas,
embora possam e devam ser criativas e competentes.
A formação da política de assistência social passou por vários processos
e períodos históricos até chegar ao patamar da esfera estatal. Historicamente,
baseada na filantropia e benemerência, ganhou institucionalidade como
política pública de direito do cidadão e dever do Estado, com a promulgação
da Constituição Federal de 1988.
A educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o transporte, o
lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância
e a assistência aos desamparados são definidos enquanto direitos sociais,
conforme o art. 6º, da Constituição de 1988.
Apesar dos grandes avanços advindos do período constitucional, a assis-
tência social enfrentou sérios entraves para a sua consolidação, principalmente,
no tocante à contribuição na efetivação da cidadania dos sujeitos sociais.
A hegemonia liberal-democrática, presente no primeiro momento da
Constituição, não se estendeu por longo período, uma vez que o advento do
neoliberalismo trouxe novas imposições à política brasileira, as quais tiveram
impacto significativo sobre a forma de organização e gerenciamento desta
política e na relação entre assistência social e cidadania, fazendo com que a
contribuição da primeira na concretização da segunda se tornasse complexa.

111
Questões para reflexão
Quais foram as tendências mais relevantes do Serviço Social nos anos 1980,
considerando a produção de conhecimentos e o exercício profissional?

Atividade de aprendizagem da seção

1. A tradição marxista nas análises das políticas sociais e a adoção de novos


interlocutores dessa tradição, a exemplo de Gramsci e da constatação da neces-
sidade de qualificar o debate sobre cidadania e Estado, compreendendo melhor
a articulação público/privado ou Estado/sociedade civil no campo da política
social no período da década de 1980, ocasionaram algumas mudanças.
Quais foram as mudanças que ocorreram no decorrer do processo histórico,
considerando os grandes pensadores? Assinale a alternativa correta:
a. No Serviço Social, ocorreu um desmonte no debate e nas produções
teóricas sobre política social.
b. No Serviço Social, ocorreu um amadurecimento no debate e nas
produções teóricas sobre política social.
c. Na política, ocorreu um amadurecimento no debate e nas produções
teóricas sobre política social.
d. Nas relações econômicas, ocorreu um amadurecimento no debate e
nas produções teóricas sobre política social.
e. No pensamento religioso, ocorreu um amadurecimento no debate e
nas produções teóricas sobre política social.

2. No Brasil, os direitos sociais são uma garantia constante na Constituição


Federal de 1988 e são definidos como direitos e garantias fundamentais, pois
são parte essencial daquilo que o Estado deve garantir à população.
Quais são os direitos sociais garantidos, conforme o art. 6º, constante na
Constituição de 1988? Assinale a alternativa correta:
a. A educação, a saúde, o trabalho, a liberdade, a segurança, a previ-
dência social, a proteção à maternidade e à infância e a assistência aos
desamparados.

112
b. A educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o trans-
porte, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à materni-
dade e à infância e a assistência aos desamparados.
c. A educação, a saúde, o trabalho, a inviolabilidade do direito à vida,
à liberdade e à propriedade e a proteção à maternidade e à infância.
d. A inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à
segurança e à propriedade.
e. Igualdade de direitos entre homens e mulheres e a prestação de assis-
tência religiosa nas entidades civis e militares de internação coletiva.

Fique Ligado!
Considerando o aumento significativo das expressões da questão social,
o assistente social tem a profissão reconhecida e legitimada, consolidando-se
nas relações sociais e no processo dinâmico da sociedade.
A prática profissional também assume um caráter político e ideológico,
e é necessário que se faça uma análise crítica da realidade para atuar junto à
população, oferecendo-lhe qualidade no atendimento e a garantia de ter seus
direitos respeitados, com dignidade e em atendimento ao que está preconi-
zado no Código de Ética do assistente social.

Para concluir o estudo da unidade


Entendido como uma atividade desenvolvida pelo homem, como um
meio para satisfazer suas necessidades, o trabalho torna-se uma categoria
que, além de indispensável para a compreensão da atividade econômica, faz
referência ao próprio modo de ser dos homens e da sociedade.
Ele faz do homem um ser social, na medida em que modifica a natureza
e, por meio disso, produz a base material da sociedade. O homem faz a sua
própria história, transformando a realidade por meio do trabalho e desenvol-
vendo as relações de produção e sociais.
O Serviço Social, enquanto profissão legitimada, tem sua atuação profis-
sional relacionada aos processos de relações e reprodução social estabelecidos
na sociedade, como resultado dos processos históricos, sociais, políticos e
econômicos que identificam e caracterizam cada período.
Assim, é possível compreender que o Serviço Social como profissão está
relacionado ao contexto social e aos movimentos originários das relações que
se concretizam no cotidiano.

113
Com a regulamentação legal da profissão (Lei nº 8.662/93), decreta-se a
Lei nº 8.742/93, que cria a Lei Orgânica da Assistência (LOAS), configuran-
do-se como uma nova perspectiva de “olhar” a assistência social no Brasil.
A partir disso, a assistência social passa a assumir o papel de política
pública social e tem os assistentes sociais como aliados para a implementação
e efetivação das ações sociais, assegurando serviços e benefícios à população
em maior situação de vulnerabilidade social. Isso quer dizer que o Serviço
Social tem sua área de atuação voltada ao atendimento das necessidades
sociais da população, com vista a valorizar a dignidade humana.
O profissional de Serviço Social se ocupa e tem como objeto do seu
trabalho a questão social, que está presente nas formas de relações dos indiví-
duos na sociedade, em um processo que envolve lutas e conflitos perante as
desigualdades sociais.

Atividade de aprendizagem da unidade

1. Conjuntos de programas, ações e decisões tomadas pelos governos


federal, estadual ou municipal, para toda a população, independentemente
de escolaridade, sexo, cor, religião ou classe social, e devem ser instalados em
toda a sociedade.
Com os direitos sociais ampliados e assegurados legalmente no Brasil, após
a Constituição de 1988, instituíram-se a elaboração de planos, programas
e projetos, bem como um conjunto de medidas, visando à necessidade
da estruturação de benefícios e serviços por meio de qual entendimento?
Assinale a alternativa correta:
a. Capitalização de políticas.
b. Grupos econômicos e políticos.
c. Sistemas de políticas públicas.
d. Complexos de saúde e esporte.
e. Predominância de riquezas naturais.

114
2. O projeto ético-profissional, constituído por meio da Lei de Regulamen-
tação da Profissão de Assistente Social (Lei nº 8.662/1993), que determina as
competências e atribuições privativas do assistente social, nos artigos 4 e 5, e
dispõe sobre o exercício profissional.
No Código de Ética dos assistentes sociais, são apresentados os princípios
fundamentais da profissão. Assinale a alternativa que não corresponde a
esses princípios:
a. Desrespeito à diversidade.
b. Liberdade como valor ético central.
c. Defesa intransigente dos Direitos Humanos.
d. Equidade e justiça social.
e. Eliminação de todas as formas de preconceito.

3. Conforme o pensamento de Anderson (1995, p. 11),

[...] manter um Estado forte, sim, em sua capacidade de


romper o poder dos sindicatos e no controle do dinheiro,
mas parco em todos os gastos sociais e nas intervenções
econômicas. A estabilidade monetária deveria ser a meta
suprema de qualquer governo, como resolutividade para
uma crise generalizada das economias de mercado.No
Código de Ética dos assistentes sociais, são apresentados os
princípios fundamentais da profissão. Assinale a alternativa
que não corresponde a esses princípios:

Em 1990, em um contexto neoliberal, houve uma série de efeitos da


globalização da economia, como reestruturação produtiva e desregulamen-
tação das funções sociais do Estado e das privatizações das empresas estatais.
Para isso, foi necessária uma disciplina orçamentária, com a contenção dos
gastos com bem-estar, e a restauração da taxa “natural” de desemprego, ou
seja, a criação de um exército de reserva de trabalho para quebrar o quê?
Assinale a alternativa correta:
a. Sindicatos.
b. Paradigmas.
c. Controles.

115
d. Monopólios.
e. Parceiros.

4. As lutas e intervenções profissionais exigem uma reconstrução do objeto


de intervenção, reprocessando a prática e a crítica na dinâmica de relações
do Estado com a sociedade e também as relações com as Organizações Não
Governamentais (ONG), visando à solidificação da profissão e do trabalho
do profissional do Serviço Social no processo de articulação de conheci-
mentos e de repensar e refletir o fazer profissional.
Enquanto referência de um processo dialético e de fortalecimento das
relações sociais e humanas, como o assistente social deve ter como entendi-
mento desta realidade? Assinale a alternativa correta:
a. Um constante repensar da relação entre educação, cultura, habitação
e meio ambiente, na busca pela defesa de direitos e autonomia.
b. Um constante repensar da relação entre sociedade, cultura, economia
e subjetividade, na busca pela defesa de direitos e autonomia.
c. Um constante repensar da relação entre igreja, sociedade, comissões e
filantropia, na busca pela defesa de direitos e autonomia.
d. Um constante repensar da relação entre conselho, gerenciamento,
administração e foco, na busca pela defesa de direitos e autonomia.
e. Um constante repensar da relação entre política, eleições, câmaras e
assembleias, na busca pela defesa de direitos e autonomia.

5. No panorama atual das políticas públicas, as definições e conceituações


apresentam-se bastante diversas, mas é possível afirmar que falar de política
pública é falar de Estado.
Partindo do princípio de que o papel do Estado é o de organizar a sociedade
para responder às demandas sociais, como podemos vislumbrar as respostas
dele diante de situações consideradas socialmente problemáticas? Assinale a
alternativa correta:
a. Por meio da instalação de políticas privadas que repercutem direta ou
indiretamente nas relações sociais.
b. Por meio da modificação do sistema de financiamento de políticas
públicas.
c. Por meio da conduta da população que interfere indiretamente nas
relações sociais.

116
d. Por meio da consolidação de políticas públicas e de comercialização
de bens que repercutem diretamente na vida das pessoas.
e. Por meio da instalação de políticas públicas que repercutem direta ou
indiretamente nas relações sociais.

117
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