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Históricos, Teóricos
e Metodológicos do
Serviço Social III
Maria Angela Santini
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ISBN 978-85-522-1664-3
2020
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Sumário
Unidade 1
O significado ontológico-social do trabalho na constituição do ser
social� O trabalho enquanto atividade humano-genérica ������������������������ 5
Seção 1
O trabalho como categoria fundante do ser social
e as bases do Serviço Social ��������������������������������������������������������������� 8
Seção 2
O homem como ser social ���������������������������������������������������������������21
Seção 3
Serviço Social brasileiro: breve histórico
de 1965 e 1975 e o Movimento de Reconceituação����������������������31
Unidade 2
O trabalho na contemporaneidade, práxis, objetivações
humanas e construção da subjetividade ���������������������������������������������������43
Seção 1
O objeto de trabalho do Serviço Social: a Questão Social ����������45
Seção 2
Transformações no trabalho dos assistentes sociais ��������������������53
Seção 3
Serviço Social brasileiro: breve histórico
de 1975 a 1990, o Movimento de Reconceituação
e a Constituição Federal de 1988 ����������������������������������������������������59
Unidade 3
Trabalho alienado e sociabilidade no capitalismo ����������������������������������69
Introdução à unidade ����������������������������������������������������������������������������������69
Seção 1
Marx e as categorias trabalho e alienação �������������������������������������71
Seção 2
A privatização do Estado brasileiro a partir
da década de 1990 e a intensificação das
transformações no mundo do trabalho
dos assistentes sociais �����������������������������������������������������������������������78
Seção 3
O Serviço Social nos anos 1990, as tendências
históricas e teórico-metodológicas do debate
profissional e os desafios para o Serviço Social ����������������������������83
Unidade 4
Leitura da teoria social de Marx e pensadores vinculados à tradição marxista������������������������������ 95
Seção 1
Assistência versus ditadura versus democracia������������������������������������������������������������������������ 97
Seção 2
Regulamentação legal da profissão������������������������������������������������������������������������������������������102
Seção 3
Marx: a apropriação do Serviço Social������������������������������������������������������������������������������������107
Unidade 1
Introdução à unidade
Estudaremos e conheceremos as bases teóricas sobre o trabalho na socie-
dade do capital e o significado ontológico-social do trabalho, que apresenta
um valor mercadológico e de produção da riqueza social, suprimindo a
possibilidade de autoconstrução. Portanto, analisaremos o trabalho enquanto
categoria que constitui o ser social.
Buscaremos a reflexão e o aprofundamento a partir do estudo da
ontologia do ser social na perspectiva marxista, que vislumbra identificar o
homem e a mulher como seres reais, materiais, dinâmicos e sociais, inseridos
em contextos sociais e historicamente fundados.
Também, veremos o processo de construção do projeto de formação profis-
sional em Serviço Social, histórica e socialmente edificado, frente ao atendi-
mento das demandas em seus respectivos períodos políticos, econômicos e
sociais, por meio de um breve histórico, de 1965 a 1975, e ao Movimento de
Reconceituação, inseridos na divisão social e técnica do trabalho.
O estudo sobre trabalho, para Marx, aqui entendido como processo de
objetivação do ser social com a natureza onde se encontra subentendida a sua
própria ação, a sua práxis. A exemplo de que, ao se relacionar com a natureza,
externa-se por meio de seus membros a sua força de trabalho.
Marx analisa o ser social e o mundo entendendo o reconhecimento no
mundo quando o homem e a mulher transformam a natureza e essa passa a
ter significados. Portanto, o concreto, ou o mundo real, passa a existir quando
o ser social se reconhece no mundo por meio do trabalho.
Este conteúdo, que será trabalhado ao longo deste material, será, em
alguns momentos, representado por meio de imagens ou de palavras, para
que possamos discutir e caminhar para os entendimentos, as reflexões e os
conhecimentos necessários neste processo de ensino e aprendizagem.
Devemos considerar que os conhecimentos e as teorias do Serviço Social
se dão de um modo dinâmico e se constroem conforme o momento histórico
e social de cada período, para isso apresentaremos o material de estudo em
três seções.
A primeira seção abordará o trabalho como categoria fundante do ser
social e as bases do Serviço Social, com considerações sobre os profissionais
de Serviço Social e o processo de revisão da prática profissional, a profis-
sionalização do Serviço Social, a Reconceituação e a Fenomenologia e sua
influência no Serviço Social.
A segunda seção tratará da discussão do homem enquanto ser social,
as relações pessoais e de mercado e a categoria trabalho na constituição
do ser social.
A terceira seção fará a discussão do Serviço Social brasileiro, trazendo
um breve histórico de 1965 e 1975, e o Movimento de Reconceituação, a
contextualização histórica, política e econômica dele e a qualificação profis-
sional no cenário nacional.
Seção 1
Introdução à seção
Nesta primeira seção, estudaremos a ontologia do ser social, uma vez que
o processo de formação profissional inspira a busca por conhecimentos de
caráter histórico-social, embasados na discussão da divisão social e técnica
do trabalho. Agora, você tem esse desafio para conhecer um pouco mais
sobre a profissão que escolheu.
8
dade, homens e mulheres em suas diferentes expressões, apresentam
características que os distinguem de outros seres da natureza.
Projeto de formação
profissional
Revisão da
prática profissional
Serviço social
9
Esse processo questionador teve grande impacto em vários períodos
históricos, iniciando-se no final da segunda metade da década de 1950 no
Brasil e adquirindo foco de referência a partir da segunda metade da década
de 1960, constituindo-se por meio de uma série de transformações na
profissão e repercutindo até a atualidade.
Neste estudo, daremos mais atenção ao período pós-1965, retomando
alguns pontos, a fim de contextualizar as reflexões e entendimentos
da temática.
Na busca de compreender as origens, transformações, abordagens e
impactos do Serviço Social, propomos uma apreciação do processo de
renovação profissional que, pelo seu importante significado e proposi-
turas com questionamentos e renovações, denominou-se de Movimento
de Reconceituação.
Algumas considerações sobre a trajetória histórica do Serviço Social no
Brasil, a partir da prática assistencial; na sequência, a competência profissional
e as contribuições do Serviço Social; e, concretamente, como as intervenções
foram efetivadas ao longo dos tempos em cada momento histórico, devem
ser apreendidas para a fundamentação profissional do assistente social.
O entendimento e a análise de conjuntura sobre o enfrentamento
do Serviço Social frente à realidade nas décadas de 1930 e 1940 estavam
imbuídos de uma característica assistencial e controladora, que favorecia o
capitalismo e o desenvolvimento industrial, pois sua atuação era imediatista,
fruto da iniciativa particular de vários setores da burguesia, respaldados pela
Igreja Católica, visando garantir valores morais cristãos e, com o método
preconizado pela Ação Católica, ver, julgar e agir. Na década de 1950, em
que a metodologia consistia em ver através da constatação da realidade por
meio da observação pessoal, visando fazer alguma coisa enquanto juventude
da igreja, a comparação dos princípios evangélicos em comparação com a
realidade seria o julgar e o agir em resposta a um problema concreto com
uma solução concreta.
O Serviço Social no Brasil foi instituído para atender às necessidades
da população. Segundo Iamamoto (1995), ele passou a existir no início da
década de 1930, por meio do movimento católico, sob influência de sua
origem, com ações respaldadas pelo foco individualista, o que gerou uma
necessidade de desenvolver ações grupais. E já no final da década de 1940,
ações de organização de comunidade vislumbravam ações assistencialistas e
filantrópicas por meio da coordenação de líderes das igrejas, para beneficiar
pontualmente algumas famílias ou pessoas.
10
Nos períodos iniciais da profissão, desde as origens até os primeiros anos
da institucionalização profissional, a influência da Igreja Católica ocorreu
a partir das duas encíclicas papais: a Rerum Novarum, de Leão XIII, e a
Quadragésimo Anno, de Pio XI. Com o processo de reconceituação e no
contexto contemporâneo da profissão, a laicidade e o materialismo histórico
dialético reconfiguraram o sincretismo, que acompanhou a sua trajetória
histórica e se faz importante como destaque para a memória histórica do
Serviço Social.
O Serviço Social surge em função de restaurar áreas de influências e
prerrogativas que a igreja havia perdido, frente à crescente secularização da
sociedade e das complexas relações com o Estado e sua legitimação jurídica
no aparato estatal.
Durante cada processo que se percorreu para a construção do Serviço
Social no Brasil, houve avanços e compromissos com a população, os quais
serão discutidos para que este conhecimento possa fundamentar este estudo.
A tradição assistencialista e paternalista não deixa de considerar que
o Serviço Social no Brasil foi inovador e modernizador na área social,
como segue:
11
Neste período, grande parte da discussão era pautada pela questão social,
a posição do Estado, do empresariado e dos trabalhadores. A participação
da Igreja Católica e a reconstrução da sua hegemonia ocorreram a partir dos
desdobramentos e instrumentos criados para fortificar o Bloco Católico e as
primeiras escolas pelo processo de formação e pelas influências internacio-
nais e conjunturais.
O entendimento do Serviço Social a partir da imagem construída pelos
fundamentos históricos, teóricos e políticos que percorreram o Serviço
Social no Brasil trouxe, em sua definição e em suas particularidades, a repre-
sentação da realidade e as possibilidades de mudanças conforme a profissão
passa a andar por novos rumos e adquirir compromissos históricos com
outras disciplinas e com diferentes demandas.
O direcionamento do Serviço Social no Brasil foi constituído pelo grande
investimento intelectual, que permitiu fundamentar a perspectiva de que
ele fez parte de um procedimento de construção de uma imagem renovada,
convivendo dialeticamente com outros arranjos tradicionais e conservadores.
12
quando a profissão começa a questionar a sua intervenção e quando as técnicas
norte-americanas passaram a ser utilizadas na intervenção profissional.
No Brasil, apenas na década de 1940 foram estabelecidas as primeiras
instituições socioassistenciais como espaços de intervenção profissional, pois
as práticas institucionalizadas e as atividades desenvolvidas pelo Serviço
Social foram visíveis em função da adequação da profissão ao projeto refor-
mista conservador e aos princípios positivistas e cristãos. Para o Serviço
Social, a busca pela transformação profissional frente ao rompimento com
o conservadorismo ocorreu em alguns países da América Latina, além da
realidade brasileira.
Figura 1.2 | Movimento de alteração no Serviço Social
13
A primeira direção conforma uma perspectiva moderni
zadora para as concepções profissionais — um esforço
no sentido de adequar o Serviço Social, enquanto instru-
mento de intervenção inserido no arsenal de técnicas
sociais a ser operacionalizado no marco das estratégias de
desenvolvimento capitalista, às exigências postas pelos
processos sócio-políticos emergentes no pós-64. (NETTO,
2011, p. 154)
14
o propósito de que novas posturas pudessem legitimar os profissionais nesse
período de desenvolvimentismo, em busca de esclarecer conceitos, valores de
base e conhecimentos necessários para uma prática eficiente.
As produções do CBCISS, como o Documento de Araxá, em 1967, sob
a presidência de Helena Iracy Junqueira, sobre a teorização do Serviço
Social; o de Teresópolis, em 1970, sob a coordenação de Edith Motta, sobre
a Metodologia do Serviço Social; e o de Sumaré, em 1978, sob a coorde-
nação de Leila Maria Vieira Bugalho, sobre a cientificidade do Serviço Social,
vislumbrando a teorização do Serviço Social, provenientes de estudos profis-
sionais, resultantes de seminários que ocorrem no Brasil no período do
regime militar, buscando a superação do tradicionalismo do Serviço Social.
15
As funções do Serviço Social, a política social, o planejamento e a adminis-
tração do Serviço Social formam pontos de discussão sobre os serviços de
atendimento corretivo, preventivo e promocional.
No que se refere à metodologia de ação do Serviço Social, definiu-se que
ele tem postulados, pressupostos éticos e metafísicos e princípios operacio-
nais que orientam a atuação do agente profissional e as normas de ação de
validade universal por meio do estímulo ao exercício da livre escolha e da
responsabilidade das decisões, do respeito aos valores e dos padrões culturais.
O avanço no seminário de Araxá ocorre ao expandir o Serviço Social de
executor de políticas sociais ou tradicionais serviços para um profissional
que é formulador e gestor de políticas sociais. O documento desse seminário,
por meio da teorização operacional a partir do modelo básico de desenvolvi-
mento, tem como referencial teórico o método estrutural-funcionalista.
O seminário de Teresópolis seguiu uma pauta de três itens, sendo:
fundamentos da metodologia do Serviço Social, a concepção científica da
prática do Serviço Social e a aplicação da metodologia do Serviço Social. Ele
foi realizado em 1970 e ocorreu a partir dos seguintes critérios de interesse
pelo estudo da teoria do Serviço Social: realizações ou vivências profis-
sionais; representatividade de instituições nacionais, públicas e privadas;
tempo de formatura; e procedência regional, a partir das temáticas: Teoria
do Diagnóstico e da Intervenção Social e a Intervenção em Serviço Social;
Diagnóstico e Intervenção em Nível de Planejamento, incluindo situações
globais e problemas específicos; Diagnóstico e Intervenção em Nível de
Administração; e Diagnóstico em Nível de Prestação de Serviços Diretos a
Indivíduos, Grupos, Comunidades e Populações.
O seminário desenvolveu-se com a apresentação da proposta sobre
a Pesquisa em Serviço Social no Brasil, a análise e o debate em plenário.
Os relatórios dos grupos versaram sobre fenômenos e variáveis significa-
tivos para a prática do Serviço Social e a concepção científica da prática do
Serviço Social, apontando para uma requalificação profissional, definindo
o perfil sociotécnico da profissão e a inscrevendo no circuito da moderni-
zação conservadora.
O seminário de Sumaré, por sua vez, discutiu três temas básicos: o Serviço
Social e a cientificidade; o Serviço Social e a fenomenologia; e o Serviço
Social e a dialética. Ocorreu em 1978 e fez apontamentos de novos questio-
namentos para serem discutidos, como o Serviço Social numa perspectiva do
método científico de construção e aplicação; o Serviço Social a partir de uma
abordagem de compreensão e de interpretação fenomenológica do estudo
científico dessa área; e o Serviço Social a partir de uma abordagem dialética.
16
O tema Serviço Social e a Cientificidade se preocupou em conceituar a
cientificidade e o conhecimento da realidade em sua efetivação, e não em
seus efeitos, não entendendo como possível analisar a realidade em termos
de variáveis, defendendo que a cientificidade representa uma ideia regula-
dora, e não um modelo determinado, e que o saber científico é, ao mesmo
tempo, a aquisição de um saber, o aperfeiçoamento de uma metodologia e a
elaboração de uma norma.
Quando o foco da discussão era o objeto do Serviço Social, as preocu-
pações eram com os fenômenos, processos, fatos e ações empreendidos
enquanto situações que se dão no nível das relações sociais.
O tema Serviço Social e Fenomenologia apresentou a fenomenologia
como ciência do vivido, entendida como o ato de significar ou dar sentido a
alguma coisa, que nem todas as experiências são vividas conscientemente e
que ela é compreensiva e não explicativa.
Também, defendeu-se o pluralismo, colocando que o objeto do Serviço
Social são as situações-problema reais e que o movimento de Reconceituação
vem evidenciar as contradições do Serviço Social e a posição de uma visão
idealista e tradicional dele, o que implica a revisão teórica e metodológica
do Serviço Social, a identificação do Serviço Social como um dos aparatos
ideológicos do Estado para manutenção do sistema capitalista e uma prática
do Serviço Social ideologicamente comprometida, bem como a aprovação do
método dialético como referencial para ação e interpretação.
17
Para essa ciência, pondera-se que não há consciência pura, isolada do
mundo, ao mesmo tempo em que toda consciência é de alguma coisa que
existe no mundo. Os admiradores da Fenomenologia entendem que o mundo
da história é o mundo da mudança, do particularismo, e que a particulari-
dade do ser é que o faz se tornar compreendido.
O grande propósito da Fenomenologia é atingir a essência do vivido, do
pensado, para se encontrar os fundamentos buscados, por isso, estudá-la se
torna um grande desafio e deve ser feito com muita dedicação, para que as
perguntas mais frequentes sejam respondidas, desde o seu entendimento até
sua definição.
O entendimento da epoché fenomenológica, que significa suspender
o juízo do mundo diante do fenômeno e das crenças referentes ao mundo
natural, demonstra que o estudioso ou o pesquisador deve deixar de olhar o
fenômeno de uma forma comum, abdicando dos preconceitos em relação ao
que se questiona.
A Fenomenologia colocou uma visão existencial do trabalho social,
proporcionando a aplicação da teoria social. O Serviço Social se aproximou
dela para tentar explicar os fenômenos humanos e da sociedade, mas outras
correntes filosóficas ganharam maior peso ao longo do desenvolvimento da
categoria profissional. Já a influência no Serviço Social se realizou por meio
da intervenção social, com um procedimento sistemático de ajuda psicosso-
cial, por meio de um diálogo que possibilita mudanças a partir das experiên-
cias da pessoa, dos grupos e da comunidade.
A busca pela modernização da profissão, no cenário em que o Serviço
Social se encontrava, oportunizou a busca pela cientificidade, sem alterar
significativamente os conteúdos profissionais.
O processo de renovação profissional, conhecido como Movimento de
Reconceituação do Serviço Social no Brasil, se expressou em três perspec-
tivas, sendo elas: a Modernizadora, a Reatualização do Conservadorismo e a
Intenção de Ruptura.
A perspectiva Modernizadora procurou adequar o Serviço Social às
exigências sociopolíticas do período ditatorial, inserindo os valores e as
compreensões tradicionais em uma nova teoria e metodologia, enquanto
a perspectiva de Reatualização do Conservadorismo, embasada teórico e
metodologicamente na Fenomenologia, buscou fundamentar o exercício do
Serviço Social na ajuda psicossocial; e a perspectiva de Intenção de Ruptura
procurou romper com o pensamento conservador e com o reformismo,
atrelando-se à tradição marxista. Neste importante processo de renovação,
18
ocorreram diferentes momentos de reflexão teórico-cultural e ideológica
e política.
Atividade de aprendizagem
19
b. Despontou na década de 1960, na América Latina, buscou referencial
teórico na conjuntura funcionalista e rompeu definitivamente com o
Serviço Social tradicional.
c. Manifestou-se na década de 1970, no Brasil, com fundamentação
teórica na Fenomenologia, e não rompeu definitivamente com o
Serviço Social tradicional.
d. Mostrou-se na década de 1960, na Europa, aprofundou o conceito de
Fenomenologia e rompeu com o Serviço Social tradicional e com a
democracia.
e. Surgiu na década de 2015, no Brasil, buscou a referência teórica no
pluralismo e reforçou o Serviço Social tradicional como propósito
profissional.
20
Seção 2
Esta seção propõe o estudo do homem como ser social, neste longo
processo de construção metodológica do Serviço Social, que se configura
como uma profissão inserida na divisão social e técnica do trabalho, frente às
diferentes conjunturas sociais e políticas no Brasil. Aproveite este momento
para refletir e aprofundar conceitos e conhecimentos da profissão de assis-
tente social.
21
determinadas normas e deveres, tendo em vista a socia-
lização e a convivência social. Faz parte do processo de
socialização do indivíduo reproduzindo-se através do
hábito e expressando valores e princípios socioculturais
dominantes, numa determinada época histórica. Possibili-
tando que os indivíduos adquiram um senso moral (referido
a valores, por exemplo, a justiça), ou seja, tornem-se
conscientes de valores e princípios éticos. Ao serem inter-
nalizados, transforma se em orientação de valor para o
próprio sujeito e para juízo de valor em face dos outros e da
sociedade. (BARROCO, 2006, p. 42)
22
Considerando as particularidades do Serviço Social, diversos funda-
mentos contribuíram para a edificação da imagem da profissão, desde
a emergência do Serviço Social no Brasil, em 1930, quando se ressalta
a afirmação e o fortalecimento do projeto reformista e conservador, de
encontro com o processo de consolidação do capitalismo no Brasil.
O Serviço Social configura-se como uma das profissões em que a inserção
na divisão social e técnica do trabalho ocorreu a partir de sua premissa
orgânica, com as prerrogativas e os princípios do seu projeto.
Neste momento, a questão social passa a ser uma questão política, e os
afazeres se aproximam das ações exercidas pelos primeiros profissionais no
início do século passado.
A trajetória histórica da assistência social no Brasil aconteceu de forma
crescente, junto ao agravamento da ordem econômica, política e social,
proporcionando choques políticos e sociais entre grupos subalternizados da
sociedade, o Estado e a burguesia.
A política social surgiu e adquiriu utilidade social, desenvolvendo condi-
ções para se firmar a profissão, objetivada com as diferenças e contradições
que o sistema capitalista provocava e focando também nas situações de
vulnerabilidade pessoal e social.
A assistência social, em resposta ao Estado e às expressões da questão
social, marcou densamente a relação com a igreja, em virtude do seu pionei-
rismo, da caridade e do dom de servir ao próximo.
Na década de 1930, com a crise econômica e o agravamento das desigual-
dades sociais, o governo passou a reconhecer a existência de problemas de
grande relevância aprovando diretrizes para o atendimento a âmbitos mais
carentes e vulneráveis.
Iamamoto (1995) discute a formalização das teorias e a sua instituciona-
lização no período de 1930 frente às demandas e realidades apresentadas e
traz a discussão de que:
23
A autora lembra que é necessário interpretar o significado sócio-histórico
da profissão na sociedade, como orientador da proposta de ensino teórico e
prático em todo o seu contexto.
24
Figura 1.3 | Relações e condições de vida e de trabalho
Mercado
de trabalho
Mundo
do trabalho
Consciência
de ser social
25
Esse movimento de renovação que aparece no Serviço Social na sociedade
latino-americana coloca aos assistentes sociais a necessidade de construção
de um novo projeto empenhado com as demandas das classes menos favore-
cidas economicamente e em suas mobilizações. Por meio desse movimento,
de questionamentos à profissão, que ocorre de forma diferenciada de acordo
com as realidades de cada país, a interlocução com o marxismo se configurou
para o Serviço Social latino-americano, como a apropriação da matriz teórica
da teoria social de Marx.
Esse movimento de Reconceituação e seus desdobramentos se definem
de forma mais clara nas tendências voltadas à fundamentação do exercício e
nos posicionamentos teóricos do Serviço Social.
As ditaduras que tiveram vigência no continente deixaram suas marcas
nas Ciências Sociais e no Serviço Social, o qual, no período de 1960 a 1970,
permaneceu em inércia.
Na década de 1970, a formação e o exercício profissional no país modifi-
caram-se como desenvolvimento do debate e da produção intelectual do
Serviço Social brasileiro, procedendo na explicitação das vertentes moderni-
zadora e na vertente guiada pela fenomenologia.
No entanto, é com esse referencial, ambíguo em um primeiro momento,
do ponto de vista teórico, mas posicionado do ponto de vista sociopolí-
tico, que a profissão questiona sua prática institucional e seus objetivos de
adaptação social, ao mesmo tempo em que se aproxima dos movimentos sociais.
Essas tendências, que configuram linhas diferenciadas de fundamen-
tação teórico-metodológica para a profissão, acompanharam a trajetória do
pensamento e da ação profissional nos anos subsequentes ao Movimento de
Reconceituação e se conservaram presentes até os anos recentes, apesar de
seus movimentos, de suas redefinições e da emergência de novos referenciais
nesta passagem de milênio.
A compreensão do Serviço Social, a partir do conceito construído pelos
fundamentos históricos, teóricos e políticos que percorreram o Serviço Social
no Brasil, traz em seu significado e nas suas particularidades a representação
da realidade e as possibilidades de mudanças à medida que a profissão passa
a trilhar novos rumos e a assumir compromissos históricos com outras disci-
plinas e com diferentes demandas, por meio de relações interdisciplinares
com as diferentes políticas públicas e com os profissionais de especificidades
diversas, que em uma somatória oferecem condições de leituras e análises
ampliadas, como o caso da Psicologia, Pedagogia, Economia, entre outras.
26
A trajetória do Serviço Social no Brasil é constituída pelo grande inves-
timento intelectual, o que permite fundamentar a perspectiva de que ele faz
parte de um processo de construção de uma imagem renovada, convivendo
dialeticamente com arranjos tradicionais e conservadores.
O conservadorismo da Igreja Católica e a teoria social positivista formam
as primeiras matrizes do conhecimento e da ação do Serviço Social brasi-
leiro. A relação da profissão com o ideário do pensamento social da Igreja
Católica se constitui numa relação que imprime o caráter apostolado, conce-
bendo a questão social como problema moral e atribuindo intervenções para
a priorização da família e do indivíduo enquanto solução dos problemas
sociais, materiais e morais. O Serviço Social surge para atuar sobre os valores
e comportamentos das pessoas, a partir do referencial moral da igreja.
Almeida apresenta três sínteses da memória do Serviço Social:
27
consolidação do sistema econômico capitalista, que contou com a interfe-
rência do Estado nos processos de regulação social.
Esse processo teve início na década de 1930, quando o governo do
Presidente Getúlio Vargas, por meio da Consolidação das Leis do Trabalho,
do salário mínimo, entre outros aspectos, reconhece a questão social no
âmbito das relações do capital e do trabalho.
A questão social foi transformada em problema de administração
pública, sendo o Estado responsável pela criação e pelo desenvolvimento de
políticas para a regulação da questão social nos mais diversos setores da vida
da população a nível nacional.
A criação do Serviço Social enquanto profissão responde a determina-
ções históricas e sociais, nas quais, muitas vezes, o assistente social é reconhe-
cido como o profissional da ajuda, do auxílio, da gestão dos serviços sociais,
orientando e esclarecendo a população quanto aos seus direitos, serviços e
benefícios disponíveis.
28
e as contradições são expressadas e o entendimento sobre o significado das
relações de poder extrapola o conceito de poder propriamente dito para um
conceito que está em constante transformação e enquanto realização de uma
prática social.
O Serviço Social, no processo de reprodução material e social da força
de trabalho, por meio dos serviços sociais previstos em programas desenvol-
vidos em diversas áreas, como na assistência social, na saúde, na educação,
entre outras, interfere na reprodução da força de trabalho, portanto, é tido
como socialmente necessário. Por várias décadas, a profissão vivenciou um
processo de renovação, com importantes redefinições teóricas e metodoló-
gicas, como também éticas e políticas.
A fundamentação teórica da relação do Serviço Social com o trabalho
é uma discussão necessária e constante para fortalecer os elementos inova-
dores para crítica e apreensão da profissão.
Atividade de aprendizagem
29
homem; no trabalho, ele também se perde se aliena”. No entendimento sobre
as relações entre objetos materiais, a autora afirma que há uma relação oculta
das coisas frente às relações sociais, nas quais as representações e as contra-
dições são expressas.
Como a autora define o entendimento sobre o significado das relações de
poder que extrapola o conceito de poder propriamente dito para um conceito
que está em constante transformação e enquanto realização de uma prática social?
a. Exteriorização.
b. Rompimentos.
c. Antecipação.
d. Coisificação.
e. Meditação.
30
Seção 3
31
desempenho do Estado no que se refere ao incremento do
processo industrial, a partir das facilidades que abre para a
penetração das corporações multinacionais.
32
Figura 1.4 | Momento econômico e político e suas repercussões
Interferência
no processo
Ações de renovação
governamentais profissional
Repercussão
econômica e
polí�ca
33
Questões para reflexão
Os militares brasileiros trazem a crença de que tiveram apoio popular
no processo de 1964 ou até que praticaram uma contrarrevolução, já
que eles acreditavam que havia uma revolução comunista em marcha.
O entendimento de golpe se refere aos que lutavam contra o regime
militar e argumentam que houve uma intervenção civil e militar. Diante
disso, questiona-se: em 1964 houve uma revolução ou um golpe? Qual
é o seu entendimento sobre esse importante momento político na vida
dos brasileiros? No que se refere ao Serviço Social, qual é a importância
desse momento histórico no seu processo de renovação?
34
do subdesenvolvimento frente às conjunturas características de cada país
neste continente.
Na década de 1960, o mercado se amplia e consolida-se para o profis-
sional assistente social em benefício das novas apresentações da questão
social, e no governo de Juscelino Kubitschek, no regime militar, é que ocorre
o processo de renovação da profissão no Brasil.
No final da década de 1960 até o início da década de 1970, a prática
profissional manteve-se vinculada ao Serviço Social tradicional, conduzida
pelo empirismo e pela burocratização referencias advindas do positivismo e
do funcionalismo.
A industrialização, durante o regime militar, intensificou o processo de
produção e reprodução da questão social, alterando suas formas de manifes-
tação e expressão na sociedade.
No final da década de 1960, as políticas setoriais se movimentaram
significativamente em favor do capitalismo. Essas novas demandas profis-
sionais calharam a estabelecer para o assistente social novas competências
e capacitações.
Atividade de aprendizagem
35
d. Todas as perspectivas do Movimento de Reconceituação do Serviço
Social brasileiro se apresentam de forma progressista e sustentadas
em uma teoria social assistencialista.
e. O processo de renovação profissional desencadeado na segunda
metade da década de 1960, na América Latina, foi denominado de
Movimento de Reconceituação do Serviço Social.
Fique Ligado!
Você teve a oportunidade de conhecer e estudar um conteúdo importante
sobre o processo de renovação do Serviço Social, bem como os compro-
missos de profissionais que participaram ativamente dele, por meio de suas
contribuições, principalmente, de forma coletiva, oportunizando o grande
crescimento da categoria profissional.
Compreendeu as bases teóricas do Serviço Social e a reflexão sobre o
trabalho na sociedade do capital e o significado ontológico-social do trabalho
enquanto categoria que constitui o ser social, identificando o homem e a
mulher como seres reais, materiais, dinâmicos e sociais.
Também, aprendeu que eles estão inseridos em contextos sociais e trouxe
à luz a perspectiva para a construção do projeto de formação profissional em
Serviço Social.
36
Para concluir o estudo da unidade
O Movimento de Reconceituação, que teve início na década de 1960,
apresentou perspectivas distintas no Brasil, manifestando-se, primeiramente,
de uma forma que não rompeu significativamente com o conservadorismo.
O Centro Brasileiro de Cooperação e Intercâmbio de Serviço Social
(CBCISS) realizou, por meio de seminários e encontros, como os de Araxá e
Teresópolis, questionamentos da prática e metodologia, dentro da perspec-
tiva Modernizadora. Tais seminários afirmam o conservadorismo com novas
bases teóricas, aqui manifestadas no estrutural funcionalismo, e cristalizam a
intervenção adaptadora da profissão junto às políticas sociais.
Espera-se, aqui, que o aluno tenha apreendido os contornos mais signifi-
cativos dessa perspectiva, observando que os apontamentos são fundamen-
tais para uma absorção mais profunda dos conteúdos expostos.
O Seminário de Sumaré apresentou orientações da perspectiva fenome-
nológica no sentido de dar maior significado a uma individualização das
intervenções profissionais, com ênfase em conteúdos psicológicos, funda-
mentada em uma teoria que enfatiza a subjetividade e a compreensão dos
fatos, enquanto recurso à subjetividade, como uma alternativa para sair do
isolamento ou da imparcialidade sustentada pela perspectiva Modernizadora.
A perspectiva de Reatualização do Conservadorismo foi à tona quando
houve o enfraquecimento da perspectiva Modernizadora, manifestada junto
ao Seminário de Sumaré. Ela não rompe definitivamente com o Serviço Social
tradicional e tem sua fundamentação teórica embasada na fenomenologia.
Vimos até esse momento que a perspectiva Modernizadora, bem
com a Reatualização do Conservadorismo, não encerram o tradiciona-
lismo profissional.
O Seminário de Araxá, realizado em 1967, e o Seminário de Teresópolis,
datado em 1970, e ainda o Seminário de Sumaré, em 1978, se configuram
como estratégias de organizações profissionais em busca de uma reconcei-
tuação da categoria. Analisá-los significa rever a história do Serviço Social
enquanto intervenção e teoria, realizando a práxis em um movimento histó-
rico. Isso nos serve para extrair os significados, caminhos e descaminhos
que o Serviço Social percorreu até encontrar-se na atual formatação, a qual
também é sujeita à temporalidade.
O Serviço Social brasileiro enfrentou um desgaste, que questionou sua
legitimidade ao longo de décadas, levando a profissão a um processo de
renovação. O cenário brasileiro, que passou por governos populistas, os quais,
37
mesmo se projetando em discursos próximos às massas, não foram capazes
de implementar mudanças significativas junto às desigualdades sociais.
Em meio a essas transformações, o Serviço Social, a partir de 1965,
lançou sua renovação no Brasil, sendo manifesta em todo o seu conjunto por
três grandes perspectivas, sendo elas: a Modernizadora, a de Reatualização
do Conservadorismo e a de Intenção de Ruptura.
Estudar momentos históricos e políticos em concomitância com o enten-
dimento da natureza do ser, do ser humano, da natureza, é enriquecedor. E
aqui, neste material, a ilustração da natureza, por meio de imagens de pedras
que ilustraram algumas reflexões, esteve presente para despertar o entendi-
mento das relações entre os homens e a natureza e o que os torna distintos.
A relação homem e natureza pode ser entendida como a relação social que se
constrói em uma condição de reprodução da própria sociedade.
O cenário político e econômico, representado pelo trabalho, pode
intervir na vida social, tendo o assistente social um espaço de atuação de
envolvimento direto na trama dessas relações em atenção às conjunturas e
mudanças da sociedade.
Convido você a continuar estudando esse processo de construção
embasado em teorias, conhecimentos, metodologias e desafios do homem
e da natureza.
38
e. Com a consolidação de políticas públicas e de comercialização de
bens, que repercutem diretamente na vida das pessoas.
39
c. Quando a classe burguesa se destitui e cumpre com a solução para as
suas necessidades.
d. Quando a classe trabalhadora não tem consciência e deturpa o enten-
dimento de suas necessidades.
e. Quando a classe trabalhadora se organiza e exige solução para as suas
necessidades.
40
Referências
AGUIAR, Antonio Geraldo de. Serviço Social e Filosofia: das origens à Araxá. 5. ed. São Paulo:
Cortez, 1995.
ALMEIDA, Ana Augusta de. Possibilidades e Limites da Teoria do Serviço Social. Rio de
Janeiro: Editora Francisco Alves, 1986.
BARROCO, Maria Lucia Silva. O código de ética do(a) assistente social comentado. São Paulo:
Cortez, 2013.
BARROCO, Maria Lucia Silva. Trabalho, ser social e ética. In: ______. Ética e Serviço Social:
fundamentos ontológicos. 4. ed. São Paulo: Cortez, 2006.
BEHRING, Elaine Rossetti. Política social: fundamentos e história. São Paulo: Cortez, 2016.
BEHRING, Elaine Rossetti; BOSCHETTI Ivanete. Política Social: fundamentos e história. São
Paulo: Cortez, 2007.
IAMAMOTO, Marilda Villela. Serviço social em tempo de capital fetiche. Capitalismo finan-
ceiro, trabalho e questão social. São Paulo: Cortez, 1995.
LUNA, Francisco Vidal. História econômica e social do Brasil: o Brasil desde a República. São
Paulo: Saraiva, 2016.
MARX, Karl. O Capital: crítica da economia política. 28. ed. Rio de Janeiro: Civilização
Brasileira, 2011.
MEIRELLES, Giselle Ávila Leal. Serviço Social e questão social: das origens à contemporanei-
dade. Curitiba: InterSaberes, 2018.
NETTO, José Paulo. Ditadura e serviço social: uma análise do serviço social no Brasil pós-64.
16. ed. São Paulo: Cortez, 2011.
NETTO, Introdução ao método da teoria social. In: _______. Serviço Social: direitos sociais e
competências profissionais. Brasília: CFESS/ABEPSS, 2009.
NETTO, José Paulo; BRAZ, Marcelo. Economia Política: uma introdução crítica. São Paulo:
Cortez, 2006.
VÁZQUEZ, A. S. O que é a práxis. In: ______. Filosofia da práxis. 4. ed. Rio de Janeiro: Paz e
Terra, 1990.
Introdução à unidade
Nesta segunda unidade, estudaremos e conheceremos os aspectos
que fundamentam o entendimento do processo de formação dos assis-
tentes sociais, destacando a importância da produção teórica na formação
e aquisição de conhecimentos teóricos e metodológicos frente à realidade
social, histórica e política da profissão e da sociedade, uma vez que funda-
mentam a prática e alimentam o processo de formação.
A primeira seção abordará o objeto de trabalho do Serviço Social e a
Questão Social, vislumbrando as tendências teóricas e metodológicas da
fundamentação e prática da profissão do Serviço Social. Oportunizará a
compreensão da profissão e o seu processo de formação, bem como as influ-
ências das matrizes do pensamento social crítico para o Serviço Social.
A segunda seção tratará da ampla temática sobre as transformações no
trabalho dos assistentes sociais e a conexão do entendimento do ser social e
do Serviço Social frente às novas demandas.
A terceira seção fará a discussão sobre o Serviço Social brasileiro, um
breve histórico do período de 1975 a 1990, o movimento de reconceituação
e a Constituição Federal de 1988, embasado pela discussão da Teoria Social e
pela contextualização histórica, política e econômica do Serviço Social.
Seção 1
45
Para saber mais
O entendimento de conservadorismo refere-se à forma de pensamento
e experiência prática como resultado de um retrocesso aos avanços da
modernidade, fazendo com que se busque preservar a ordem capitalista.
46
classes sociais subalternas e sua expressão teórica na Teoria Social, na
tradição marxista.
Para saber mais, acesse o texto de Maria Cristina Piana, no link a seguir:
PIANA, Maria Cristina. O serviço social na contemporaneidade: demandas
e respostas. In: ______. A construção do perfil do assistente social no
cenário educacional. São Paulo: UNESP; Cultura Acadêmica, 2009.
47
A formação profissional deve dar suporte teórico, ético e político, contri-
buindo para uma prática comprometida com a participação democrática e
cidadã, formulando propostas reais de enfrentamento da questão social e
permitindo o envolvimento dos sujeitos na condução da transformação da
sua própria realidade e da sociedade.
O termo Questão Social, muitas vezes, é utilizado de forma equivocada
em diferentes momentos e realidades, uma vez que o seu entendimento é
complexo e refere-se a situações que afetam a humanidade, como a desigual-
dade, a exploração, a pobreza, entre outras, e que podem se configurar assim
desde que entendidas, refletidas e demandadas pela população.
Por meio de um processo de entendimento, essas situações são reconhe-
cidas como legítimas e detentoras de direitos, muitas vezes, em resposta às
ameaças causadas pela pobreza e pelas lutas sociais, com a burguesia inglesa
aliando-se ao Estado e à Igreja.
A confusão semântica causa algumas situações desagradáveis e pode se
tornar um risco quando não for entendida no todo, relativizando ou atenu-
ando todo um quadro de uma ação ou política. A questão social é entendida
a partir da relação contraditória entre capital e trabalho, reconhecendo os
atores dessa relação e suas reivindicações.
Figura 2.1 | Questão Social
Relação Capital
X
Trabalho
Questões
Sociais
Atores
Sociais
48
está na base da institucionalização dessa profissão na sociedade brasileira,
mantém-se na atual correlação de forças.
As transformações nos processos pelos quais, na atualidade, são estabe-
lecidas as relações de enfrentamento da questão social, por meio da ação
estatal e da ação da sociedade civil, implicam redefinições dos espaços
tradicionais e o surgimento de novos espaços, bem como reconfiguram as
demandas profissionais e alteram as formas de inserção profissional e as
condições de trabalho nos espaços públicos e privados. A racionalização da
assistência por meio de sua ação pode afastar as ameaças que a burguesia
expressa pela incontida expansão da pobreza e pelas persistentes investidas
da classe trabalhadora.
Um destaque a se fazer é a questão do processo formativo dos assis-
tentes sociais desde o início do surgimento da profissão, quando a formação
profissional estava voltada aos conhecimentos teóricos, com influência dos
ensinamentos religiosos, e o profissional atuava de forma assistencialista e
voluntarista. Com as discussões e os avanços na profissão, outros signifi-
cados surgiram no que se refere à formação profissional e oportunizaram
uma reflexão crítica da profissão.
49
Nesse percurso, o Serviço Social passa por mudanças no seu fazer profis-
sional. Iamamoto (2011, p. 37) define que:
50
Questões para reflexão
Qual é o seu entendimento de tese, antítese e síntese?
Ruptura Significado
social
Atividade de aprendizagem
51
e. Criar um método naturalista.
52
Seção 2
O ser social é mais do que o trabalho, pois o ser humano tem uma
percepção de vida que transcende o trabalho para outras ações. O ser social
é entendido como um ser real e dialeticamente constituído na vida, que se
constitui pelas relações sociais capitalistas e pela exploração entre os seres
humanos, perante a correlação de forças e exploração do trabalho pelo capital.
53
Alguns conceitos e aspectos das obras de Marx buscam fundamentar
o entendimento da crítica à liberdade, aos direitos humanos, aos direitos
sociais, entre outros temas fundamentais para o entendimento e a busca da
emancipação humana.
54
Figura 2.3 | Participação e sobrevivência
Costumes
Linguagem Relações
humanas
Trabalho
e vida
em
sociedade
55
No contexto da renovação do Serviço Social é que se insere, nas institui-
ções de ensino superior, a formação dos assistentes sociais, a qual, anterior-
mente, ocorria em escolas confessionais ou agências de formação específica.
Em 1976, o curso de Serviço Social consolidou o seu processo de renovação,
com a abertura dos programas de pós-graduação na área, a instauração
do pluralismo teórico, ideológico e político no marco profissional e a
crescente distinção das concepções profissionais, com diferentes matrizes
teórico-metodológicas.
As forças políticas que incidem nas condições e nas relações de trabalho
do assistente social envolvem uma série de mediações, as quais, por sua vez,
acontecem no processamento da ação e nos resultados projetados, tanto
individual como coletivamente, o que possibilitou, desde o período da
ditadura, a influência no desenvolvimento do Serviço Social. Já o processo de
democratização, a partir da década de 1980, acalorou na profissão a necessi-
dade de rever seu significado e sua inserção na sociedade.
Essas influências foram apuradas no Movimento de Reconceituação, que
conheceu diferentes momentos, a partir do contexto político de cada fase
do processo.
56
Figura 2.4 | Tendências teórico-metodológicas
REALIDADE SOCIAL
+ Ref. teórico-metodológico
+ Ref. ténico-opera�vo
+ Ref. é�co-polí�co
= AÇÃO E FORMAÇÃO
Fonte: elaborada pelo autor (2019).
Atividade de aprendizagem
1. No contexto capitalista e demandado pelo Estado e pela burguesia,
vislumbrou-se uma nova forma de atuar para o assistente social.
Portanto, a atuação sobre as expressões da Questão Social foi direcionada a
partir de qual situação?
a. Do relacionamento contraditório entre as classes sociais na relação de
ordem entre capital versus trabalho.
b. Do relacionamento coerente entre as classes sociais na relação de
pacificação entre capital versus trabalho.
c. Do relacionamento contraditório entre as classes religiosas na relação
de conflito entre capital versus educação.
d. Do relacionamento coerente entre as classes políticas na relação de
conflito entre empresa versus trabalho.
e. Do relacionamento contraditório entre as classes sociais na relação de
conflito entre capital versus trabalho.
57
2. O desenvolvimento do ser social é apresentado como o processo de
humanização dos homens, no qual o trabalho aparece como objetivação
primária, como o afastamento das determinações naturais, enquanto o ser
social prepara a sociabilização e a interação social.
Qual é a categoria que inclui o trabalho e as demais objetivações humanas,
possibilitando captar a riqueza do ser social desenvolvido?
a. A práxis.
b. O louvor.
c. A execução.
d. O indicador.
e. A exploração.
58
Seção 3
59
objetivos de adaptação social ao mesmo tempo em que se aproxima dos
movimentos sociais.
Neste período, inicia-se uma vertente comprometida com a ruptura com
o Serviço Social tradicional, na qual Netto (2011) apresentou que a profissão
ofereceu linhas diferenciadas de fundamentação teórico‐metodológica,
tendendo a acompanhar a trajetória do pensamento e da ação profissional
nos anos seguintes ao Movimento de Reconceituação.
60
transformação da sociedade e do homem por meio da organização, capaci-
tação, mobilização e relação plena da profissão com a história da sociedade
brasileira, a partir de profissionais da vanguarda do Serviço Social envolvidos
na luta contra o regime militar.
A empregabilidade prática desse método seguiu o processo em três
momentos, sendo o sensível, o abstrato e o racional ou científico. O momento
sensível, em contato com a população; o momento abstrato, com a formação
de grupos de discussão sobre os diversos problemas identificados em uma
realidade; e o racional ou científico, como um momento de síntese dos
diversos grupos em reuniões plenárias, visando à produção de novos conhe-
cimentos, mas alcançou-se a sistematização do senso comum, não saindo
do empirismo.
A conquista do método BH foi ampliar o espaço profissional e ganhar
autonomia profissional no desenvolvimento de uma prática profissional
crítica. A partir da constante busca de um novo embasamento teórico e
metodológico, de referência marxista, estimulado pela pesquisa científica,
é que se redimensiona o significado social da profissão e a construção de
um novo projeto profissional. Essa renovação e ruptura com o conserva-
dorismo provocaram um reordenamento das entidades representativas da
categoria profissional.
Em 1979, o Serviço Social experimentou um marco histórico para a
profissão, o III Congresso Brasileiro de Assistentes Sociais (CBAS), conhe-
cido como o Congresso da Virada, por objetivar uma transformação da
práxis política e profissional do Serviço Social na sociedade brasileira. Esse
congresso representou para a história do Serviço Social no Brasil, além da
negação do conservadorismo, o reconhecimento das lutas da classe trabalha-
dora e dos movimentos sociais e de um novo significado social para o Serviço
Social, bem como a destituição da mesa oficial, composta por membros do
regime militar, e substituição por representantes das classes trabalhadoras.
Nesse período histórico, o país, por meio de movimentos sociais e sindi-
cais e partidos políticos, clamava pela redemocratização, e foi nesse contexto
político que se situou o Serviço Social brasileiro, para a construção do
projeto ético-político da profissão, indicando normas para o desempenho
dos profissionais e situando os contornos de sua relação com os usuários de
seus serviços, com outras profissões e com organizações e instituições sociais.
Com a solidificação do Congresso da Virada em 1979, o Serviço Social
assentou-se, a partir dos anos 1980, no pensamento de Antonio Gramsci e
de suas abordagens sobre o Estado, a sociedade civil, o mundo dos valores,
a ideologia, a hegemonia, a subjetividade e a cultura das classes subalternas.
61
Neste período, evidenciou-se a discussão sobre a literatura de Agnes Heller
e a sua problematização do cotidiano, que caminha para Georg Lukács e a sua
ontologia do ser social fundada no trabalho, que busca E. P. Thompson e a sua
concepção sobre as experiências humanas, além de Eric Hobsbawm, historiador
marxista, como fontes de reflexões e posicionamentos ideológicos e políticos.
Esse processo de construção da hegemonia de novos referenciais teórico‐
metodológicos e interventivos para o Serviço Social, a partir da tradição
marxista, acontece em um amplo debate em diferentes fóruns de natureza
acadêmica ou organizativa, passando pela produção intelectual, além do debate.
A questão do pluralismo, desde os anos 1980, compõe objeto de polêmicas
e reflexões do Serviço Social, pela complexidade e pelos riscos de posiciona-
mentos ecléticos.
Figura 2.5 | Tendências teórico‐metodológicas e posições ideológicas e políticas
ECLETISMO
PLURALISMO
62
Atividade de aprendizagem
63
Fique Ligado!
Nesta segunda unidade, você estudou o conteúdo sobre a reflexão da
categoria trabalho na contemporaneidade e sua relação com a práxis no
universo profissional do assistente social, que está implicitamente submerso
nas relações sociais, econômicas e políticas.
O estudo do objeto de trabalho do Serviço Social, as tendências teóricas
e metodológicas na fundamentação e prática da profissão do Serviço Social,
a compreensão da profissão e o seu processo de formação e as influências
das matrizes do pensamento social crítico para o Serviço Social se fizeram
presentes nas discussões e na apresentação de conteúdos referentes ao enten-
dimento da Questão Social enquanto expressão das desigualdades presentes
na correlação de forças entre o capital e o trabalho.
As transformações no trabalho dos assistentes sociais, desde as movimen-
tações, reflexões, discussões, estudos e reivindicações, implicaram uma
contextualização fundamentada no entendimento do ser social e o Serviço
Social e as novas demandas.
O Serviço Social brasileiro foi contextualizado historicamente no período
de 1975 a 1990, com destaque para o Movimento de Reconceituação e a
Constituição Federal de 1988.
64
Neste período, a intervenção retrocedeu para as objetivações pretendidas
pela política economia global, para tornar mínimo o seu comprometimento
na consolidação de diretos sociais, enquanto regulador e atuante nas garan-
tias das políticas sociais, e a busca pela elaboração, gestão e execução das
políticas sociais foi restrita nesse processo.
O tema que aborda o ser social e o Serviço Social frente às novas demandas
pode ser o foco para o seu estudo a partir deste momento da leitura, para que
o aprofundamento seja efetivado e subsidie a carreira que você escolheu.
65
( ) Diversos profissionais da vanguarda do Serviço Social brasileiro envol-
vidos na luta contra o regime militar.
Assinale a alternativa que apresenta a sequência correta:
a. F – F – V.
b. F – V – F.
c. V – F – F.
d. F – V – V.
e. V – F – V.
66
5. O trabalho é a categoria fundante para Marx no que se refere ao desenvol-
vimento do mundo dos homens como um campo distinto da natureza, pois é
pelo trabalho que os homens se constroem como seres diferentes da natureza.
Assinale a alternativa correta no que se refere à categoria trabalho:
a. O trabalho é relevante na vida dos homens.
b. O trabalho é central na vida dos homens.
c. O trabalho não pode ser considerado fundante para os homens.
d. O trabalho representa tão somente uma forma de exploração do
homem.
e. O trabalho deve reproduzir-se e não depender do homem.
67
Referências
BARROCO, Maria Lucia Silva. Trabalho, ser social e ética. In: _______. Ética e Serviço Social:
fundamentos ontológicos. 4. ed. São Paulo: Cortez, 2006.
BEHRING, Elaine Rossetti; BOSCHETTI Ivanete. Política Social: fundamentos e história. São
Paulo: Cortez, 2016.
CASTEL, Robert. As metamorfoses da questão social: uma crônica do salário. Petrópolis: Vozes, 1998.
FALEIROS, Vicente de Paula. Serviço Social: questões presentes para o futuro. Serviço Social e
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social. 2. ed. São Paulo: Cortez, 2011.
IAMAMOTO, Marilda Villela; CARVALHO, Raul de. Relações Sociais e Serviço Social no
Brasil. Esboço de uma interpretação histórico‐metodológica. São Paulo: Cortez, 1982.
MARX, Karl. A diferença entre as filosofias da natureza em Demócrito e Epicuro. São Paulo:
Global, 1979.
______. O Capital: crítica da economia política. 28. ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2011.
NETTO. José Paulo. Ditadura e serviço social: uma análise do serviço social no Brasil pós-64.
16. ed. São Paulo: Cortez, 2011.
NETTO, José Paulo; BRAZ, Marcelo. Economia Política: uma introdução crítica. São Paulo:
Cortez, 2006.
SANTOS, Leila Lima. Textos de Serviço Social. 3. ed. São Paulo: Cortez, 1985.
VÁZQUEZ, A. S. O que é a práxis. In: ______. Filosofia da práxis. 4. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1990.
Unidade 3
Objetivos de aprendizagem
Apresentar conteúdos relevantes que possibilitem a reflexão sobre o
trabalho alienado e a sociabilidade no capitalismo, refletindo a respeito do
mundo do trabalho do assistente social e do debate profissional frente aos
seus desafios.
Introdução à unidade
Nesta unidade, você estudará o conteúdo sobre a relação trabalho e
alienação. Refletiremos sobre o cotidiano e o processo de alienação e reifi-
cação da vida social e que em toda sociedade se vislumbra que a tomada de
consciência de classe e a revolução são possibilidades para a transformação
social. Na relação social entre trabalhador e capitalista, o trabalhador é
tratado como uma mercadoria, e o trabalho alienado cresce e se materializa.
Abordaremos o tema da privatização do Estado brasileiro a partir da
década de 1990, para entender sobre a intensificação das transformações no
mundo do trabalho dos assistentes sociais e as possibilidades da intervenção
profissional deles.
Também, acompanharemos os avanços da política de assistência social
enquanto política pública que compõe o tripé da seguridade social.
Seção 1
Introdução à seção
Nesta primeira seção, evidenciaremos o tema que aborda a relação entre
trabalho e alienação e a ascensão da coisificação ou reificação do mundo,
vislumbrando que a tomada de consciência de classe e a revolução são possi-
bilidades para a transformação social.
Com o estabelecimento das relações sociais, as condições históricas do
trabalho foram criadas em cada modo de produção. O trabalho é enten-
dido como a busca do homem por meios de satisfizer suas necessidades,
ocorrendo, portanto, a produção da vida material. O trabalho é definido
por Marx enquanto atividade em que o ser humano coloca a sua força de
trabalho para produzir os meios de subsistência, visto como um processo
de transformação da natureza pelo homem e que, ao mesmo tempo, ele
também se transforma.
O trabalho deve ser analisado sob o aspecto social, unido com o valor,
entendendo que o objeto de investigação de Marx é o valor enquanto forma
social do produto do trabalho. No capitalismo, o trabalhador é reduzido a
um fabricante de valor de troca, o que sugere a negação de sua existência
natural, assegurando que o trabalhador e a sua produção estão determinados
pela sociedade.
O modo de produção capitalista deve ser entendido concomitantemente
com as relações de produção entre as pessoas, na vida social, política e
intelectual, e igualmente a consciência do homem é determinada pelo seu ser
social, pela forma de organização social na qual ele convive.
71
O trabalho, conforme a perspectiva marxista, está dependente, no
sistema capitalista, à finalidade de reproduzir e expandir o domínio material
e político da classe capitalista, enquanto a maioria da população está afastada
dos meios de produção e de subsistência. O processo de trabalho enquanto
análise da atividade humana que realiza uma transformação, para um fim
objetivado que o subordina, processo esse que se finda ao chegar à conclusão
do produto, que detém um valor de uso, conforme se apresentam as necessi-
dades humanas.
72
O trabalho, com as consignações das relações capitalistas de produção,
torna o homem alienado, uma vez que o trabalhador tem o uso da sua força de
trabalho e sua capacidade teleológica limitadas aos interesses do capitalismo.
73
estranho e exterior, e a própria produção também se mostra uma atividade
exteriorizada, fazendo com que o trabalho não pertença ao trabalhador,
assim como o produto do trabalho também não pertence a ele, tornan-
do-se obrigatória, como um meio para a produção de mercadorias e
acumulação de capital.
74
mesmo sabe o destino do que produziu e não lhe pertence, pois cabe ao
empregador realizar a venda.
A alienação no processo de produção ou alienação ativa acontece quando
o trabalhador está alienado em relação ao produto de seu trabalho e estava
presente no próprio processo produtivo, transformando o trabalho em sofri-
mento, forçado, como algo apenas para sobreviver e manter os interesses
daqueles que exercem poder sobre ele.
O cotidiano comprova a alienação no trabalho, este considerado como
um peso para o trabalhador em busca da sobrevivência quando explora e
aliena o homem.
O trabalho também se apresenta como individualizante, pois o traba-
lhador só reconhece sua vida neste papel, e não enquanto humano, pois
deixa de cuidar de sua própria existência. E a alienação em relação aos outros
homens pode ser entendida como a consequência dessa individualização.
O homem alienado não consegue perceber a possibilidade de uma
mudança, pois está em processo de destituição, encontrando dificuldades
para as responsabilidades da vida, das relações e da sociedade.
Portanto, entende-se que o trabalho alienado é identificado quando
o trabalhador produz um objeto e não pode possuí-lo, pois o produto do
seu trabalho é apropriado por outro homem, o capitalista. Se o homem está
alienado de si mesmo e não se reconhece enquanto humano no processo de
produção, não encontrará humanidade nos outros homens, se vê e aos outros
homens, na condição de estar alienado consigo mesmo.
75
Figura 3.1 | Trabalho alienado
Produto da
produção do
TRABALHO trabalhador
ALIENADO apropriado
pelo
capitalista
Atividade de aprendizagem
76
2. No capitalismo, os trabalhadores produzem os objetos existentes no
mercado, e a força de trabalho é comprada por intermédio de um salário.
Os proprietários dos meios de produção vendem as mercadorias aos comer-
ciantes, que as colocam no mercado de consumo, e os trabalhadores ou
produtores dessas mercadorias, quando vão ao mercado de consumo, muitas
vezes, não conseguem comprá-las.
Conforme os conteúdos sobre capitalismo e trabalho, qual afirmação a seguir
é coerente com o pensamento de Marx?
a. A consciência de classe para os trabalhadores resulta da vontade
de cada capitalista em superar a situação de exploração em que se
encontra sob o capitalismo.
b. O processo de não identificação do trabalhador com o produto de seu
trabalho é o que se chama alienação, ocultando as relações sociais que
estruturam a sociedade.
c. É no mercado que a exploração do trabalhador se torna explícita,
favorecendo a formação da ideologia de classe.
d. A produção capitalista constitui-se de imagens e ideias que levam os
indivíduos a compreenderem a essência das relações sociais de produção.
e. As mercadorias apresentam-se de forma a explicitar as relações de
classe e o vínculo entre o trabalhador e o produto realizado.
77
Seção 2
78
mesmo considerando que a profissão foi regulamentada como liberal,
portanto, o assistente social tem autonomia no atendimento junto à população.
Quanto à análise do Serviço Social no capitalismo monopolista, Netto
(2005, p. 71) entende que esse processo é:
79
Figura 3.2 | Campo teórico de interesse da profissão - proteção social e correlação de forças
Correlação
de forças
Intervenção
profissional
Fonte: elaborada pelo autor.
80
o rompimento do regime militar, mesmo o Serviço Social se adaptando às
necessidades do Estado e das grandes empresas privadas, buscou formas de
avançar. Nos anos 1980, o referencial da teoria social de Marx se apresenta
efetivamente como interlocução com a profissão enquanto matriz teórico-
-metodológica, vislumbrando o ser social e buscando entender dialetica-
mente a realidade em seu movimento contraditório frente às relações sociais
que configuram a sociedade capitalista.
Atividade de aprendizagem
81
c. A prática profissional é uma relação singular entre o assistente
social e a iniciativa privada e as estratégias profissionais, como uma
profissão do escutar.
d. A prática profissional não interfere diretamente no cotidiano da
população, razão pela qual o cotidiano alcança uma grande distância
da atenção profissional.
e. Os limites e as possibilidades da intervenção estão impressos no
terreno sócio-histórico em que se exerce a profissão e nas referências
éticas, políticas e metodológicas do assistente social.
82
Seção 3
Introdução à seção
Nesta seção, abordaremos os conteúdos que se referem às inovações
pós-Constituição Federal de 1988, pois o avanço foi considerável no campo
das políticas sociais, vislumbrando a assistência social enquanto política
pública que compõe o tripé da seguridade social, oportunizando espaços
para a participação da sociedade civil, por meio dos conselhos e exercendo
o controle social.
O desafio para a profissão frente ao capitalismo, principalmente em
relação às mudanças no mundo do trabalho, às normas de proteção social e à
política social, se destaca em meados da década de 1990 frente às demandas
e manifestações das expressões da questão social.
Após a Constituição Federal de 1988, novos temas se colocaram para o
Serviço Social, seja referentes à intervenção profissional ou ao processo da
construção teórico-metodológica.
A seguridade social, que chegou junto à Constituição Federal de 1988,
assegura o direito dos brasileiros na esfera das políticas de saúde, previdência
social e assistência social.
Figura 3.3 | Proteção social
SEGURIDADE SOCIAL
Saúde
Assistência
social
Previdência
83
A assistência social, vislumbrada como política pública de proteção
social, se tornou fonte de estudos e pesquisas em todas as áreas de atuação
e de discussão com a sociedade. A municipalização e a descentralização das
políticas sociais foram de fundamental importância no campo da gestão das
políticas sociais. Referente ao tripé da seguridade social, em seus artigos 203
e 204, a Constituição Federal define que é de direito a quem dela necessitar,
sob responsabilidade do Estado e concomitantemente de toda a sociedade.
O art. 203 estabelece que:
Art. 203. A assistência social será prestada a quem dela
necessitar, independentemente de contribuição à seguri-
dade social, e tem por objetivos:
I - a proteção à família, à maternidade, à infância, à adoles-
cência e à velhice;
II - o amparo às crianças e adolescentes carentes;
III - a promoção da integração ao mercado de trabalho;
IV - a habilitação e reabilitação das pessoas portadoras de
deficiência e a promoção de sua integração à vida comunitária;
V - a garantia de um salário mínimo de benefício mensal à
pessoa portadora de deficiência e ao idoso que comprovem
não possuir meios de prover à própria manutenção ou de
tê-la provida por sua família, conforme dispuser a lei.
84
contributivo, participativo e descentralizado, o qual, por meio das suas ações
tem como objetivo a sua implementação e municipalização.
No primeiro governo da presidente Dilma Rousseff, a Política de
Assistência Social foi alvo de mais um avanço, uma vez que houve a aprovação
da lei que instituiu legalmente o SUAS, que ainda se encontrava sem respaldo
legal. A partir de 1988, proveniente da mobilização dos movimentos sociais
na década anterior, a cidadania se destaca com o foco na sociabilidade, com
uma gestão participativa, inserindo a população nas instituições políticas,
nos fóruns e nos conselhos.
85
Para saber mais
Serviços socioassistenciais
É um conjunto de serviços destinados à superação de situação de vulne-
rabilidade social decorrente da pobreza ou da falta de acesso a serviços
públicos e a direitos sociais.
No link a seguir, pesquise maiores informações sobre o tema:
BRASIL. Ministério da Cidadania. Serviços Socioassistenciais. Brasília:
Secretaria Especial do Desenvolvimento Social, 2015. Disponível em:
http://mds.gov.br/assuntos/cadastro-unico/o-que-e-e-para-que-serve/
servicos-socioassistenciais. Acesso em: 6 jun. 2019.
86
Atividade de aprendizagem
87
e. Realizar assembleias do Poder Executivo em separado dos poderes
Judiciário e Legislativo, o que pode distanciar as relações entre eles.
Fique ligado!
A reflexão e o entendimento sobre o cotidiano e o processo de alienação
e reificação da vida social, que oportuniza a tomada de consciência de classe,
podem ser consideradas grandes possibilidades para a transformação social.
A realidade capitalista, que considera o trabalhador como uma merca-
doria, faz com que o trabalho alienado cresça e se materialize.
A Constituição de 1988 e os direitos sociais, numa perspectiva de valores
éticos, participação democrática e garantia da proteção social universal sob a
responsabilidade do Estado, ampliaram os espaços para a intervenção profis-
sional direcionada para a implementação das políticas nacionais.
O reordenamento das práticas profissionais foi emergente para uma
perspectiva condizente com a realidade e a legislação que surgiram no país.
Embasados na teoria crítica, os cursos de Serviço Social, em 1982, discu-
tiram o currículo de formação, e em 1985, implantaram-se adequações frente
às antigas práticas, a partir de um novo eixo para as intervenções profissio-
nais, com referencial teórico-metodológico crítico e coerente com o novo
modelo de proteção social brasileira.
A referência do trabalho desenvolvido pelos profissionais nas esferas de
formulação, gestão e execução da política social foi necessária para a insti-
tucionalização das políticas públicas, vislumbrando a garantia dos direitos
sociais e a consolidação do projeto ético-político da profissão.
Com a privatização do Estado brasileiro a partir da década de 1990, com
a intensificação das transformações no mundo do trabalho dos assistentes
sociais e as possibilidades da intervenção desse profissional, as propostas
de análise e crítica no decorrer das ações profissionais foram presentes e
constantes na categoria, pois os reflexos da conjuntura ocorreram direta-
mente neste espaço.
O referencial da teoria social de Marx foi considerado uma interlocução
com a profissão enquanto matriz teórico-metodológica, vislumbrando o ser
social pertencente dialeticamente à sua realidade em seu movimento contra-
ditório frente às relações sociais que configuram a sociedade capitalista.
88
Para concluir o estudo da unidade
A discussão apresentada no decorrer do conteúdo desta produção vislum-
brou o despertar para o aprofundamento de conhecimento e reflexão para a
prática interventiva do Serviço Social.
O tema do trabalho, entendido como uma atividade desenvolvida pelo
homem como forma para satisfazer suas necessidades e produzir riquezas,
tornou-se uma categoria que se refere ao modo de ser dele e da sociedade.
O trabalho faz do homem um ser social enquanto transforma a natureza
e, por meio dessa transformação, desenvolve as relações de produção que
subordinam o trabalho a algumas relações sociais.
O trabalhador se tornou subordinado aos interesses do capital, tornan-
do-o alienado, pois, enquanto produz, afasta-se da sua produção por não
poder possuir o que produz, tornando-se dependente do seu trabalho.
89
vislumbrando o entendimento da necessidade de atendimento ao projeto
ético político profissional.
Atividade de aprendizagem
1. Para Marx, o capital era o principal ponto a ser investigado para que fosse
possível entender as mudanças sociais que surgem em um dado momento.
O que podemos entender por capital a partir de Marx?
a. O trabalho dignifica e aconselha o homem.
b. A mais-valia absoluta.
c. Qualquer bem que possa ser investido para gerar mais lucro.
d. O sistema econômico que surgia naquele momento.
e. O sistema de exploração do homem pelo homem.
90
d. Concepção hegemônica de que é uma política de atenção aos pobres,
necessitados sociais, frágeis e carentes.
e. Seguridade social, que está sendo tratada como bem público e social
do estatuto de uma sociedade para alcançar todos os seus membros.
91
Referências
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Francisco Alves, 1986.
ARAÚJO, N. M. S. O serviço social como trabalho: alguns apontamentos sobre o debate. Revista
Serviço Social & Sociedade, São Paulo, ano XXIX, n. 93, p. 5-28, mar. 2008.
BEHRING, Elaine Rossetti; BOSCHETTI, Ivanete. Política Social: fundamentos e história. São
Paulo: Cortez, 2007.
FISCHER, Ernest. O que Marx realmente disse. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1970.
IAMAMOTO, Marilda Villela. Serviço Social em tempo de capital fetiche: capital financeiro,
trabalho e questão social. São Paulo: Cortez, 2010.
IAMAMOTO, Marilda Villela; CARVALHO, Raul de. Relações sociais e serviço social no
Brasil: esboço de uma interpretação histórico-metodológica. 5. ed. São Paulo: Cortez, 2009.
LESSA, Sérgio; TONET, Ivo. Introdução à Filosofia de Marx. São Paulo: Expressão
Popular, 2008.
MARX, K. Contribuição à Crítica da Economia Política. 2. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2004.
MOTA, Ana Elizabeth. Trabalho e Serviço Social: considerações sobre o conteúdo dos compo-
nentes curriculares. Temporalis, Brasília, ano VII, n. 14, p. 56-86, jul./dez. 2007.
NETTO, José Paulo. Capitalismo monopolista e serviço social. São Paulo: Cortez, 2005.
NETTO, José Paulo; BRAZ, Marcelo. Economia política: uma introdução crítica. São Paulo:
Cortez, 2006.
NETTO, José Paulo. Ditadura e serviço social: uma análise do serviço social no Brasil pós-64.
16. ed. São Paulo: Cortez, 2011.
Introdução à unidade
Nesta unidade, será apresentado o conteúdo sobre o período pós-regime
militar, quando foi vislumbrada a Democracia. Paralelo ao período histórico
e político, a profissão do Serviço Social, nos anos 1980, avançou no processo
de transformação social, política e econômica, frente aos desafios das novas
demandas e exigências impostas pelo mercado de trabalho e sentidas no
cotidiano da população tanto urbana como rural.
A profissão passou por processos de discussão crítica, releituras e avanços
e foi necessária à sua regulamentação legal por meio da Lei nº 8.662/93. Neste
momento, também se decretou a Lei nº 8.742/93, que criou a Lei Orgânica da
Assistência (LOAS), configurando-se como uma nova perspectiva de assis-
tência social no Brasil, que oportunizou a instalação do Sistema Único de
Assistência Social (SUAS), entendido como uma política pública.
A concepção de trabalho presente no projeto de formação profissional
do Serviço Social está fundamentada no entendimento de que a ação e a
organização do trabalho foram constituídas historicamente nas condições de
existência e reprodução social da população.
Os diferentes autores críticos, bem como os clássicos pensadores,
embasaram este crescimento teórico e metodológico da categoria, possibili-
tando que os assistentes sociais se assegurassem quanto à intervenção profis-
sional, construindo seu projeto ético e político profissional.
Bom estudo!
Seção 1
Introdução à seção
Após o Regime Militar aconteceu a Democracia e, nos anos 1980, o
Serviço Social seguiu no processo de transformação social, política e econô-
mica, frente aos desafios das novas demandas e exigências impostas pelo
mercado de trabalho.
O modelo de assistência implantado pela ditadura militar expandiu
o mercado de trabalho dos assistentes sociais, com alterações no perfil de
formação, direcionando-os para a racionalização técnica, frente à proposta
centralizada, burocrática e autoritária das políticas assistenciais da época.
O Estado desenvolveu funções, como a efetivação de uma política expan-
siva, a garantia dos serviços públicos, o investimento em infraestrutura e a
consumação de redistribuição a partir de ações sociais, sob a forma de direitos.
O formato funcionalista do Serviço Social não mais atendia às propostas
que o período da ditadura exigia, e o Serviço Social precisou repensar
sua extensão política e sua atuação profissional frente à conjuntura insta-
lada. Com a renovação do Serviço Social nos anos 1970, o Serviço Social
direcionou sua intervenção para as situações próprias da realidade viven-
ciada pela sociedade e para a crise do capitalismo democrático, de domínio
do próprio capital, e reforçou a ideia da necessidade de redimensionamento
das políticas sociais.
Como afirma Netto (2007, p. 66):
97
economia, a qual defendia a abolição da regulação do Estado sobre os preços
da economia em geral e sobre as relações capital-trabalho.
Além do ponto de vista econômico, o Estado mínimo também apresentou
consequências no âmbito político, configurando a democracia como adver-
sária da liberdade do mercado. Tratavam-se de intervenções antidemocrá-
ticas de empresas transnacionais em determinadas questões do país. Dessa
forma, a não participação do Estado na livre economia de mercado tomou
proporções maiores, atingindo tanto o nível econômico quanto o político e
deixando consequências drásticas para toda a sociedade.
Configurou-se o Estado mínimo nos direitos trabalhistas, no controle dos
preços de produtos e na não regulação das remunerações ou qualquer outra
intervenção que atingisse diretamente ao livre mercado. O neoliberalismo,
junto ao modelo toyotista de produção, desencadeou profundas alterações nas
relações trabalhistas, na organização dos trabalhadores e na automação das
empresas, o que possibilitou ao mercado uma maior competitividade entre as
indústrias e, em contrapartida, uma maior margem de lucro aos gestores.
Houve, ainda, um consequente aumento do desemprego estrutural com
a substituição da mão de obra por máquinas ou por trabalhadores terceiri-
zados, e os contratos de trabalho se tornaram mais flexíveis.
Com o Estado mínimo, a garantia dos direitos sociais e trabalhistas e a
qualidade de vida digna quase não existiam.
Behring e Boschetti (2007, p. 152) destacam que:
98
fim, uma vida útil mais curta do capital fixo e a consequente
tendência ao planejamento.
99
Para saber mais
Acesse o endereço a seguir e conheça a história dos CFESS-CRESS.
Disponível em: http://www.cfess.org.br/. Acesso em: 4 out. 2019.
100
democrático, direcionando o Serviço Social para a defesa da população
trabalhadora.
O fortalecimento desse projeto profissional culminou em outras importantes
alterações na sociedade brasileira, sendo uma delas a Constituição de 1988.
101
Seção 2
Introdução à seção
Com a regulamentação legal da profissão, por meio da Lei nº 8.662/93,
decretou-se a Lei nº 8.742/93, que criou a Lei Orgânica da Assistência
Social (LOAS), configurando-se como uma nova perspectiva de assistência
social no Brasil.
O Código de Ética de 1986, no sentido de fundamentar e instrumenta-
lizar a prática do assistente social, foi revisado, e por meio do Código de 1993,
foram apregoadas as pretensões coletivas dos assistentes sociais brasileiros.
Com a regulamentação legal da profissão, por meio da Lei nº 8.662/93,
decretou-se a Lei nº 8.742/93, que criou a Lei Orgânica da Assistência (LOAS),
configurando-se como uma nova perspectiva de assistência social no Brasil.
Ela passa a assumir o papel de política pública social e tem nos assistentes
sociais seus aliados para a implementação e efetivação das ações para assegurar
os serviços e benefícios à população em situação de vulnerabilidade social.
O Serviço Social tem sua área de atuação voltada ao atendimento das
necessidades sociais da população, visando valorizar o ser humano, por meio
do compromisso ético-político, na construção de uma sociedade mais justa,
com menos desigualdade e injustiça social.
102
rotinas institucionais e buscar apreender o movimento da
realidade para detectar tendências e possibilidades nela
presentes passíveis de serem impulsionadas pelo profis-
sional. (IAMAMOTO, 1992, p. 21)
Regulamentação
da profissão/93
Diretrizes
curriculares/96
Código de
é�ca/93
Classes
subalternas
103
A direção social que orienta este projeto de profissão tem como referência a
relação orgânica com o projeto das classes subalternas, reafirmado pelo Código
de Ética de 1993, pelas Diretrizes Curriculares de 1996 e pela legislação que
regulamenta o exercício profissional (Lei nº 8.662, de 7 de junho de 1993).
O desafio colocado à profissão ao longo de toda a década de 1990 foi
a consolidação do projeto ético-político, teórico-metodológico e operativo,
sob a influência da tradição marxista.
104
A questão social apresenta um conjunto de desigualdades derivadas do
sistema capitalista e da contradição entre o trabalho coletivo e a apropriação
privada, portanto, nesse panorama, temos as organizações da classe trabalha-
dora, que fazem frente à exploração e lutam por direitos.
105
Embora o Serviço Social tenha sido regulamentado como profissão liberal
por portaria do Ministério do Trabalho em 1949, a inserção dos assistentes
sociais em agências estatais, operadoras de políticas sociais, desde a sua
gênese no Brasil, configura uma relação de:
a. Assalariamento.
b. Voluntariado.
c. Cumplicidade.
d. Status.
e. Regras.
106
Seção 3
Introdução à seção
A concepção de trabalho presente no projeto de formação profissional do
Serviço Social está fundamentada por meio do entendimento de que a ação e
a organização do trabalho foram constituídas historicamente nas condições
de existência e reprodução social da população.
O conceito de trabalho presente nas diretrizes curriculares (ABESS,
1996; BRASIL, 1999) para o Curso de Serviço Social, especificamente no
que se refere ao Núcleo de Fundamentos do Trabalho Profissional, destaca
a extensão ontológica do trabalho frente à constituição do ser social e da
sociabilidade humana, destacando o exercício profissional como trabalho
referenciado na teoria do valor-trabalho de Marx.
O trabalho alicerça as sociedades com valores de uso para alcance das
necessidades humanas e produção das formas de interação dos homens com
a natureza e dos homens entre si.
O trabalho, entendido como atividade vital humana, distingue o homem
das atividades desempenhadas por outros animais ao ser considerado uma
dinâmica que destaca as capacidades físicas e intelectuais dos homens.
Caracteriza-se por ser uma relação mediada e consciente entre sujeito
e objeto, requerendo a utilização de meios e a fixação de objetivos para o
alcance de um resultado.
Iamamoto (2011) apresenta que o significado social da profissão ocorre
com a apreensão do Serviço Social como especialização do trabalho coletivo
e participante do processo de produção e reprodução das relações sociais
enquanto trabalho concreto. Porém, o conteúdo qualitativo do trabalho
se torna escasso para compreender a natureza do exercício profissional na
sociedade capitalista, uma vez que o trabalho do assistente social reúne uma
unidade contraditória, caracterizado como concreto e, também, abstrato,
uma vez que seu exercício profissional especializado e que se realiza por
meio do trabalho assalariado, na relação de compra e venda de sua força de
trabalho, está sujeito às determinações da alienação e exploração.
107
Figura 4.3 | Pensadores
Pensamento
social
Michel Tradicionalismo
Foucault filosófico
Hannah �ca
Arendt neotomista
Humanismo
Maquiavel cristão
108
se fazem presentes. Toda profissão tem um objeto, e este é o foco da inter-
venção profissional.
A questão social é o resultado da relação contraditória e conflituosa entre
capital e trabalho e se expressa por meio das mazelas da sociedade. O surgi-
mento da questão social está condicionado ao surgimento do capitalismo, o
qual, por essência, promove a desigualdade social.
Quando nos referimos à categoria da questão social, devemos sempre
utilizá-la no singular, nunca no plural. Se quisermos falar das suas expressões,
podemos citar as manifestações, expressões ou refrações da questão social.
A questão social se materializa quando a classe trabalhadora se organiza e
exige solução para as suas necessidades. De acordo com a perspectiva grams-
ciana, o tipo de dominação ideológica de uma classe social sobre outra, parti-
cularmente, da burguesia sobre o proletariado e outras classes de trabalha-
dores, é a hegemonia.
O papel regulador do Estado na esfera social e, em seu âmbito, nas ações
da profissão de Serviço Social, se estabelece e se modifica em face da corre-
lação de forças sociais em diferentes conjunturas históricas. As formula-
ções de Marx implicam não apenas compreender o capitalismo como uma
categoria histórica, um período histórico, ou mesmo uma dada ordem
econômica distinta, mas considerá-lo em sua condição de categoria, em seus
múltiplos aspectos – histórico, social e econômico –, como um modo de
produção vinculado a um sistema de ideias e a uma fase histórica. Ou seja,
compreender o significado do capitalismo enquanto um modo de produção
e de relações sociais específicas.
O conceito de contradição foi apreendido por Marx da obra de Hegel e
apresenta-se, ainda, de uma forma filosófica imatura em relação ao enten-
dimento materialista e histórico que lhe foi atribuído até o fim de sua obra,
como em O capital (MARX, 2011). A tese é um exercício de Marx no sentido
de negar e superar o pensamento hegeliano e, mesmo que ainda não desse
conta de ultrapassar muitas das categorias que utilizou, abriu significativos
horizontes metodológicos, pelos quais, mais tarde, trilharam seus grandes
achados teóricos.
Para Hegel (2001), a razão governa a história, mas Marx, já naquele
momento, intuiu que a produção histórica da materialidade é determinante
na relação dialética com a razão.
O reconhecimento do tempo permite um entendimento de que tudo
muda a todo instante, que a forma fenomênica é apenas a casca de uma cobra,
que se configura de determinada forma em um determinado momento, mas
não é propriamente a cobra. A imagem da realidade social na Alemanha, no
109
tempo de Marx, o levava à busca de uma concepção filosófica que funda-
mentasse a transformação social, enquanto Hegel concebia um Estado e um
direito que justificavam a permanência de características feudais.
Como mediador entre o homem e a natureza, o trabalho é o fundamento
de toda atividade humana, entendido como um processo histórico pelo qual
o homem se transformou em ser social.
O trabalho, sob as determinações das relações capitalistas de produção,
aos poucos deixa de ser livre e sinônimo de atividade vital do homem para
tornar-se alienado, uma vez que o trabalhador tem o uso da sua força de
trabalho e sua capacidade teleológica limitados aos interesses da (re)
produção desse sistema ao se adequar às novas formas de organização da
produção e, principalmente, ao vender sua força de trabalho para sobreviver.
Quando o trabalhador é tratado como uma mercadoria e está sujeito aos
interesses dos proprietários dos meios de produção, o trabalho alienado se
desenvolve e se concretiza.
O conceito de alienação, tratado por Karl Marx nos manuscritos econô-
mico-filosóficos de 1844, tem aspectos que se destacam, como a alienação
do homem em relação ao produto do seu trabalho, isto é, o homem está
alienado à sua atividade produtiva e ao ser genérico, e a alienação do homem
em relação a outro homem.
Portanto, o trabalho alienado está relacionado ao fato de o trabalhador
produzir um dado objeto e não poder possuí-lo, pois o produto da sua
produção é apropriado por outro homem, o capitalista. Essa apropriação
torna tanto o produto do trabalho quanto a própria atividade produtiva
estranhos ao trabalhador.
No início do milênio, o Serviço Social brasileiro enfrentou a difícil
herança do final do século anterior, com seus processos de globalização em
andamento e sua valorização do capital financeiro, configurando um novo
perfil para a questão social. Trata-se de um contexto que interpela a profissão
sob vários aspectos: das novas manifestações e expressões da questão social
aos processos de redefinição dos sistemas de proteção social e da política
social em geral, que emergem nesse contexto.
110
apropriação privada dos frutos do trabalho e, para sua atuação, geral-
mente, elabora registros dos atendimentos que realiza, redige relató-
rios e preenche fichas e formulários.
111
Questões para reflexão
Quais foram as tendências mais relevantes do Serviço Social nos anos 1980,
considerando a produção de conhecimentos e o exercício profissional?
112
b. A educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o trans-
porte, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à materni-
dade e à infância e a assistência aos desamparados.
c. A educação, a saúde, o trabalho, a inviolabilidade do direito à vida,
à liberdade e à propriedade e a proteção à maternidade e à infância.
d. A inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à
segurança e à propriedade.
e. Igualdade de direitos entre homens e mulheres e a prestação de assis-
tência religiosa nas entidades civis e militares de internação coletiva.
Fique Ligado!
Considerando o aumento significativo das expressões da questão social,
o assistente social tem a profissão reconhecida e legitimada, consolidando-se
nas relações sociais e no processo dinâmico da sociedade.
A prática profissional também assume um caráter político e ideológico,
e é necessário que se faça uma análise crítica da realidade para atuar junto à
população, oferecendo-lhe qualidade no atendimento e a garantia de ter seus
direitos respeitados, com dignidade e em atendimento ao que está preconi-
zado no Código de Ética do assistente social.
113
Com a regulamentação legal da profissão (Lei nº 8.662/93), decreta-se a
Lei nº 8.742/93, que cria a Lei Orgânica da Assistência (LOAS), configuran-
do-se como uma nova perspectiva de “olhar” a assistência social no Brasil.
A partir disso, a assistência social passa a assumir o papel de política
pública social e tem os assistentes sociais como aliados para a implementação
e efetivação das ações sociais, assegurando serviços e benefícios à população
em maior situação de vulnerabilidade social. Isso quer dizer que o Serviço
Social tem sua área de atuação voltada ao atendimento das necessidades
sociais da população, com vista a valorizar a dignidade humana.
O profissional de Serviço Social se ocupa e tem como objeto do seu
trabalho a questão social, que está presente nas formas de relações dos indiví-
duos na sociedade, em um processo que envolve lutas e conflitos perante as
desigualdades sociais.
114
2. O projeto ético-profissional, constituído por meio da Lei de Regulamen-
tação da Profissão de Assistente Social (Lei nº 8.662/1993), que determina as
competências e atribuições privativas do assistente social, nos artigos 4 e 5, e
dispõe sobre o exercício profissional.
No Código de Ética dos assistentes sociais, são apresentados os princípios
fundamentais da profissão. Assinale a alternativa que não corresponde a
esses princípios:
a. Desrespeito à diversidade.
b. Liberdade como valor ético central.
c. Defesa intransigente dos Direitos Humanos.
d. Equidade e justiça social.
e. Eliminação de todas as formas de preconceito.
115
d. Monopólios.
e. Parceiros.
116
d. Por meio da consolidação de políticas públicas e de comercialização
de bens que repercutem diretamente na vida das pessoas.
e. Por meio da instalação de políticas públicas que repercutem direta ou
indiretamente nas relações sociais.
117
Referências
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desafios. São Paulo: Cortez, 1996.
AGUIAR, A. G. Serviço social e filosofia: das origens a Araxá. 5. ed. São Paulo: Cortez, 1995.
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Serviço Social & Sociedade, São Paulo, ano XXIX, n. 93, p. 5-28, mar. 2008.
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fundamentos ontológicos. 4. ed. São Paulo: Cortez, 2006.
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MARX, K. O Capital: crítica da economia política. 28. ed. Rio de Janeiro: Civilização
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NETTO, J. P. Transformações Societárias e Serviço Social ‐ notas para uma análise prospectiva
da profissão no Brasil. In: Serviço Social e Sociedade n. 50. São Paulo, Cortez, abril, 1996.
NETTO, J. P. Capitalismo monopolista e Serviço Social. 5. ed. São Paulo: Cortez, 2007.
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NETTO, J. P.; BRAZ, M. Economia Política: uma introdução crítica. São Paulo: Cortez, 2006.
VÁZQUEZ, A. S. O que é a práxis. In: VÁZQUEZ, A. S. Filosofia das práxis. 4. ed. Rio de
Janeiro: Paz e Terra, 1990.