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Política Social II

Política Social II
Michelle Marry Costa Campos Hora

2ª Edição

Aracaju, 2016
Jouberto Uchôa de Mendonça Lucas Cerqueira do Vale
Reitor Gerente de Tecnologias Educacionais

Amélia Maria Cerqueira Uchôa Alexandre Meneses Chagas


Vice-Reitora Supervisor

Jouberto Uchôa de Mendonça Júnior Caroline Gomes Oliveira


Superintendente Geral Designer
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Gerente de Operações Antonielle Menezes Souza
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Jane Luci Ornelas Freire Assessoras Pedagógicas
Gerente de Ensino

Ficha Catalográfica: Marcos Orestes de Santana Moraes Sampaio CRB 5/1296

Hora, Michelle Marry Costa Campos.


H811p Política social II. / Michelle Marry Costa Campos Hora. – 2.
ed.; Aracaju: UNIT, 2016.

168 p. il.; 23 cm

Inclui bibliografia.

1. Política social-Brasil. 2. Política social-cidadania. 3. Proteção


social. 4. Gestão da politica social. 5. Serviço social- atuação
profissional. I. Universidade Tiradentes. II. Educação a
Distância. III. Título.
CDU: 36: 304

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Apresentação r

Este material didático encontra-se disponível aos alunos de Serviço Social da


modalidade EAD, traz para o debate a concepção teórica e histórica, função
e modelos de políticas sociais na contemporaneidade e sua relação com o
Serviço Social no contexto da realidade Brasileira.

Na primeira parte do texto abordaremos a política social no Brasil, trazendo


uma análise de seus embates, dilemas e problemas históricos, sobretudo, de
subordinação a política econômica capitalista.

Na segunda parte do texto discutiremos sobre as políticas sociais na contem-


poraneidade, demonstrando alguns programas e projetos sociais constituídos
pós Constituição Federal de 1988. Proporciona também uma reflexão a cerca
da participação popular nos processos de elaboração destas.

Esperamos que vocês alunos (as), possam no final dessa disciplina compreender
o processo de elaboração, planejamento e execução das politicas sociais
brasileiras e sua relação intrínseca com o fazer profissional do Assistente
Social na esfera pública.

Bons estudos!
SumÁrio

Parte1:
09 Aseuspolítica social no Brasil: uma análise de
embates, dilemas e problemas históricos

Tema 1:
A política social no Brasil: uma análise de seu
11 planejamento, embates, dilemas e problemas
históricos
1.1 Política social: Aspectos evolutivos e conceituais sob a
13 ótica do planejamento governamental
1.2 A política social: Aspectos históricos de sua subordinação
20 a política econômica
1.3 A política social e os planos de desenvolvimento econômico e
29 Social na Ditadura Militar
1.4 A política Social e o planejamento econômico e gerencial
36 como centralidade da gestão governamental (1985-2001)

Tema 2:
49 Novos dimensionamentos da política Social
2.1 Desenvolvimento, empobrecimento e novas configurações
51 da questão social
2.2 As políticas sociais pós Constituição Federal de 1988:
58 Notas sobre a contrarreforma do Estado
2.3 Políticas sociais: Alguns Programas governamentais
67 (2004-2010)
2.4 Políticas sociais (2010-2014): Alguns aspectos das
75 ações das políticas sociais
Parte 2:
política SOCIAL, CIDADANIA E PROTEÇÃO
SOCIAL: HORIZONTES
85
tema 3:
Política SOCIAL, CIDADANIA E PROTEÇÃO SOCIAL:
HORIZONTES
87
3.1 Política Social: Democracia e Cidadania 89
3.2 Os conselhos de políticas sociais e o
viés da participação popular
97
3.3 A participação dos usuários nos processos de
elaboração e gestão das políticas sociais
105
3.4 O Serviço Social e adoção das práticas democráticas
das políticas sociais
113

tema 4:
A Gestão da política social no Brasil e a
atuação do Serviço Social
125
4.1 A adoção de novos modelos de Proteção social 127
4.2 Aspectos da gestão da política social
utilizados no Serviço Social
135
4.3 A atenção articulada às populações e
grupos vulneráveis : A importância do 144
Trabalho Técnico Social no Programa habitacional
4.4 O Serviço Social e as novas demandas de atuação pro-
fissional no planejamento e gestão das políticas sociais
152

ReferÊncias 162
Parte 1
A política social no
Brasil: uma análise de
seus embates, dilemas e
problemas históricos
tema1
A política social no
Brasil: uma análise
de seu planejamento,
embates, dilemas e
problemas históricos
Esse tema discute-se a experiência brasileira no to-
cante a elaboração de política planejamento esta-
tal como instrumento de gestão. Enfocaremos os
momentos históricos de construção e reconstrução
dessa experiência, observando como foram gerados
diversos planos de governo, cuja primazia teve foco
no desenvolvimento econômico, em detrimento da
alocação de recursos, planos e ações no âmbito das
políticas sociais.
1.1
POLÍTICA SOCIAL: ASPECTOS EVOLUTIVOS E CONCEITUAIS SOB
A ÓTICA DO PLANEJAMENTO GOVERNAMENTAL

No âmbito governamental, historicamente, houve uma prima-


zia do planejamento econômico em detrimento do social. O foco era o
crescimento econômico independente dos impactos que ele poderia
trazer à população e ao meio ambiente. Centrava-se no aumento do
Produto Interno Bruto (PIB), nos processos de inovação tecnológica,
na ampliação dos parques industriais, entre outros, e se deixava de
lado as preocupações com as condições objetivas do ambiente e nas
quais viviam as pessoas, ou seja, o planejamento, nesse aspecto, se
voltava sempre para o crescimento econômico do país.

Destarte que no liberalismo o mercado é responsável por


regular as relações econômicas e o foco do planejamento estatal era
manter os padrões de vida da classe média e alta, gerando assim uma
concentração de renda nas mãos de poucos. Nesse sentido, o planos
de desenvolvimento econômico focava em investimentos que regula-
va a produção voltando-se para a fabricação de bens duráveis e pro-
dutos de consumo de acordo com a necessidade dessas classes.

Em se tratando de países capitalistas a lógica do planeja-


mento governamental está mais voltado para o crescimento econô-
mico do que o social, e nesse momento histórico mais particularmen-
te falando evidencia-se a ausência de objetivos e metas elaboradas
de acordo com o diagnóstico das necessidades sociais e econômicas
do país, impactando negativamente no crescimento e no desenvolvi-
mento econômico dos países nas últimas décadas do século XX, o que
chamamos na contemporaneidade de países subdesenvolvidos.
14 Política Social II

Como alerta Holanda (1983, p.36),

[...] é nesse sentido que, nos países subdesenvolvidos,


considerável atenção tem sido dada as técnicas de
planejamento econômico, como instrumentos de ad-
ministração pública e privada que visam aumentar a
eficiência, racionalidade e segurança das decisões de
funcionários públicos e empresários particulares, na
órbita econômica, através da maximização do rendi-
mento social e privado no uso de recursos escassos.

De acordo com as análises de Kaldor (1969, p.69), “a essência


do planejamento é fazer aparecer uma estrutura de utilização de re-
cursos diferente da que surgiria do livre jogo das forças econômicas”.

Nesse sentindo, após a Segunda Guerra Mundial os países em


desenvolvimento, como é o caso do Brasil, focaram seu planejamento
econômico e social do País em planos desenvolvimentistas, objeti-
vando assim, minorar seus indicadores de pobreza.

Em se tratando de planejamento social e econômico em países


desenvolvidos. Tal subdesenvolvimento deve-se há alguns fatores.
Como destaca Hora (2014, p.27):

a) A busca contínua de novos padrões de vida que refle-


te diretamente na política social e econômica dos países
subdesenvolvidos.

b) A política econômica voltada para o sistema de pre-


ços que demonstrou que, por si só, não provoca uma
mudança estrutural de sustentabilidade econômica dos
países subdesenvolvidos que atendam as demandas e
as necessidades dos novos padrões de vida.
Tema 1
A política social no Brasil: uma análise de seu
planejamento, embates, dilemas e problemas históricos 15
c) A existência de condições sócio-históricas e conjun-
turais do capitalismo liberal, diferentes daquelas que
provocaram o crescimento nos países da Europa Oci-
dental.

Nesse sentido, podemos perceber que a elaboração das polí-


ticas sociais em países capitalistas sempre esteve atrelada ao desen-
volvimento econômico. Nesse caso o capital favorece aos interesses
da burguesia ( classes mais abastadas financeiramente) voltando a
produção para os bens de consumo mais altos.

O importante é que o planejamento da política social vol-


te-se para o diagnóstico das reais necessidades da população,
sobretudo dos menos favorecidos economicamente. Os prognós-
ticos devem assim, considerar as aspirações e os anseios da po-
pulação, ou seja, capturar as particularidades da dimensão social
e econômica em sua totalidade, nos processos de elaboração de
seus planos de desenvolvimento.

Conforme sinaliza Holanda (1983, p.40),

[...] o prognóstico, portanto, é o resultado de uma re-


visão das projeções, à luz de diretrizes de política eco-
nômica que expressam os desejos e aspirações da co-
munidade. A formulação dessas diretrizes, por sua vez,
está estreitamente associada à definição dos objetivos
e instrumentos de política econômica do país.

Diante disso, o planejamento deve voltar-se para o enfrenta-


mento das expressões da questão social a exemplo da fome, da po-
breza, do analfabetismo, do acesso à saúde, ou seja , o Estado têm
que focar as suas ações em políticas sociais planejadas de acordo as
necessidades da população, corrigindo assim as discrepâncias sociais
e econômicas.
16 Política Social II

O resultado desse processo tem sido o agravamento das desi-


gualdades sociais e consequentemente o aumento do pauperismo. A
ausência de planejamento das necessidades sociais segrega a popu-
lação em uma sociedade de classes, onde a ausência de emprego, por
exemplo, como expressão da questão social impulsiona o trabalho
informal e gera desproteção social.

Não quero dizer com isso que em um país de economia liberal,


o Estado seja fraco, pelo contrário o Estado é chamado quando existe
uma desestabilização econômica, forçando a intervir de acordo com
os interesses das classes mais abastadas financeiramente.

A necessidade de planejar as ações do Estado mediante as ne-


cessidades da população mediante a execução de políticas sociais que
garantam o padrão de vida da população e o acesso a bens e serviços
essenciais a exemplo.

O planejamento deve se preocupar com a execução de planos


de desenvolvimento que contemplem assim as necessidades da po-
pulação, conforme as análises de Friedman (1959), o planejamento
possui diferentes dimensões. Como cita Hora (2014, p.28-29):

1-A dimensão humana é aquela que representa o sujeito


como ator principal, o qual elabora e executa as ações
do planejamento.

2- A dimensão psicológica refere-se a uma ação inteli-


gente, executada por operações processuais, nas quais
são identificadas as interações entre o pensamento e a
ação.

3- A dimensão social envolve três aspectos: satisfação


das necessidades imediatas, interação entre os sujeitos
e a sistemática de ação.
Tema 1
A política social no Brasil: uma análise de seu
planejamento, embates, dilemas e problemas históricos 17
4- A dimensão política é decorrente de um processo
contínuo de tomada de decisões, seja no âmbito gover-
namental, seja na rede privada, sendo fundamental o
respeito pelos anseios e desejos dos envolvidos.

Sendo assim, tais dimensões se manifestam por meio do de-


senvolvimento de alguns aspectos humanos como os psicológicos e
sociais, que se integram numa visão de unidade. É oportuno salientar
que a participação popular vem do desdobramento da dimensão polí-
tica. A participação social ou gestão democrática surge institucional-
mente pós Constituição Federal de 1988, como veremos mais adian-
te.Segundo Barbosa (1979, p.54), a participação social nas políticas
sociais estatais:

[...] vai depender de cada modelo de desenvolvimento,


que se expressa num dado estado político organizacio-
nal e no qual se definem maiores ou menores possibili-
dades para a participação das populações no processo
de decisão. Neste processo, porém, é a forma organi-
zacional da sociedade civil que constitui a medula da
participação coletiva.

Percebe-se nesse sentindo que o planejamento estatal deve


prescindir de ações interligadas envolvendo as várias dimensões
sociais, psicológicas, políticas e humanas. O plano de governo
deve partir da primazia das necessidades da população. Na prática
o planejamento da política social se faz de forma isolada e unilate-
ral sem considerar a dimensão social e participativa. Hora (2014,
p.20) menciona que:

É importante salientar que o beneficiário - usuário, de-


mandatário da ação a ser planejada - deve ser perce-
bido pelo planejador como fundamental para o suces-
so das ações do planejamento. No planejamento mais
18 Política Social II

conservador e tradicional, este usuário, enquanto sujei-


to político e histórico, não participa do processo e ato
de planejar. Porém, na atualidade, e diante das novas
formas de gestão empreendidas pelas políticas sociais,
a partir da Constituição de 1988, a população torna-se
sujeito principal no processo de elaboração e controle
destas políticas, daí a importância de um planejamento
participativo.

Assim, é fundamental o envolvimento de diferentes segmentos


e movimentos sociais, pois, a partir da participação desses grupos,
podem ser empreendidas condições concretas no processo de ela-
boração das políticas sociais. De acordo com as análises de Batista
(2010, p. 23) é fundamental,

O movimento no sentido da socialização da política e


da incorporação permanente de novos sujeitos, com a
criação de bases para multiplicação dos mecanismos de
participação direta no processo decisório, na qual indi-
víduos e grupos ganham autonomia e representativida-
de, desligados da tutela do Estado.

A participação popular pressupõe políticas sociais planejadas


e operacionalizadas de acordo com a necessidade do usuário. Nesse
sentido Hora ( 2014, p.25), destaca que:

É importante que a operacionalização e o detalhamento


das atividades necessárias para a consolidação e efe-
tivação das decisões tomadas ocorram por meio da
elaboração de planos, programas e projetos e, poste-
riormente, haja a implantação das ações elencadas por
estes instrumentos.
Tema 1
A política social no Brasil: uma análise de seu
planejamento, embates, dilemas e problemas históricos 19
Nesse contexto, os planos governamentais devem ser pensados
nas necessidades reais da população, levando em consideração o au-
mento do padrão de vida e a redução das desigualdades sociais.

O que se percebe historicamente e que em países capitalistas a


lógica do planejamento econômico se sobrepõe ao social e com isso
têm-se por resultado políticas sociais horizontalizadas e que não pos-
sui impacto significativo na vida dos cidadãos.

Para aprofundar esse debate, falaremos a seguir sobre os as-


pectos da subordinação da política social aos interesses econômicos
do Estado capitalista.

Leitura Complementar
D ABRUCIO, F. L. Trajetória recente da gestão pública brasileira: um
balanço crítico e a renovação da agenda de reformas. Revista
Brasileira de Administração Pública, v. 1, p. 77-87, 2007.

A leitura recomendada é importante porque discute a lógica do plane-


jamento estatal econômico e social no Brasil e ainda, como as refor-
mas políticas podem impulsionar ou não o desenvolvimento do país.

D BATISTA. M.V. Planejamento social: intencionalidade e instru-


mentação. São Paulo: Veras Editora; Lisboa: CPIHTS, 2010. Capt. I.

O texto menciona a importância de como o planejamento social en-


quanto ferramenta de gestão pública, serve para impulsionar as po-
líticas sociais com vistas ao atendimento das necessidades desses
usuários.
20 Política Social II

Para Refletir

Reflita com seus colegas sobre à importância de planejar a política so-


cial de acordo com as necessidades dos cidadãos, e em seguida dis-
cuta como se dá a participação popular nos processos de elaboração
e planejamento de uma política social.

1.2
A POLÍTICA SOCIAL: ASPECTOS HISTÓRICOS DE SUA
SUBORDINAÇÃO A POLÍTICA ECONÔMICA

É oportuno dizer que para compreendermos a política social


na atualidade, sobretudo pós Constituição Federal de 1988, faz ne-
cessário comentarmos alguns estágios de desenvolvimento da so-
ciedade até os dias atuais. Sendo assim, a elaboração e execução
da política social na contemporaneidade, prescindi de diversos mo-
mentos históricos.

Mannheim (apud Barbosa, 1979, p.20-21) menciona que “não


é necessário dizer que, naturalmente, primeiro, esses estágios não
são de forma alguma exaustivos, e poderiam sofrer distinções ainda
maiores; segundo, que não julgamos que todas as sociedades passem
necessariamente por todos os mesmos estágios”.
Tema 1
A política social no Brasil: uma análise de seu
planejamento, embates, dilemas e problemas históricos 21
E ainda de acordo com suas análises existem três momentos
distintos, conforme destaca Hora (2014, p. 21),

a) O primeiro estágio se refere aos aspectos de solidariedade


moral da horda1. Tinha-se como fundamento os aspectos da vivência
em grupo, baseados nos atos voltados para a tradição e o receio, sem-
pre pautado em resultados homogêneos de comportamentos. Dentro
deste contexto, o homem ainda não possuía a consciência individual
de si mesmo, ou seja, de seus atos, concepções de mundo e convic-
ções individuais, o planejamento volta-se para o grupo, daí a homo-
geneidade de comportamento.

b) No segundo estágio2 já se manifesta a disputa pelos interes-


ses individuais de forma competitiva, surgindo, assim, a percepção
individual e a consciência de si mesmo. O homem agora passa a en-
frentar e a indagar as convenções e os comportamentos grupais. A
sociedade que se formava tinha como características o imediatismo
e o individualismo. O planejamento, neste período, não possuía uma
visão de totalidade e os homens tomavam as suas decisões de acordo
com as suas próprias convicções, de maneira individualizada.

01
Refere-se às sociedades pré-capitalistas no modo de produção feudal. Este predominou
entre os séculos XII ao XV.

02
Refere-se ao capitalismo concorrencial, os artesãos possuíam autonomia, mas o lucro
ficava nas mãos dos comerciantes. Predominou entre os séculos XVI ao XVIII.
22 Política Social II

c) O terceiro estágio3, por sua 03


vez, é uma espécie de junção des- Este estágio remete-se a fase do
capitalismo monopolista, iniciado,
tes interesses, ou seja, predomina a
em meados do século XIX, na
solidariedade grupal, mas com inte-
Inglaterra e, no século XX, dis-
resses individuais. Neste contexto, a seminado para todo o mundo.
sociedade está separada em aglome-
rados e os indivíduos cada vez mais
isolados. Nesse sentido que os interesses individuais estão subordi-
nados aos anseios da coletividade . Nesse sentindo, Hora (2014, p.21)
menciona que:

É sob a égide do mundo contemporâneo que os deten-


tores de propriedades individuais buscam outras for-
mas de combinar e concentrar capital, formando, assim,
empresas e organizações cada vez maiores, movidas
pela tecnologia.

Percebe-se, portanto, que, ao longo destes momentos conjun-


turais, o homem, enquanto ser racional começa a abdicar de seus inte-
resses individuais e grupais em prol dos sistemas econômico e social
voltados para o interesse das instituições, sejam elas de caráter priva-
do ou público. Assim, a política social surgiu a partir das necessidades
grupais e individuais dos homens em sua vivência em sociedade. A
década de 1930 marcou a passagem entre dois modos de produção no
Brasil. Antes a base da econômica do país era baseada na agricultu-
ra, estando o poder político sob o poderio das oligarquias rurais, mais
fortes nos estados de São Paulo e Minas Gerais. Com a crise do café,
mais conhecida como o crash da Bolsa de Valores de Nova Iorque, que
abalou significamente as estruturas oligárquicas do Estado brasileiro,
possibilitando a ascensão do Estado capitalista desenvolvimentista.
Tema 1
A política social no Brasil: uma análise de seu
planejamento, embates, dilemas e problemas históricos 23
Se, até então, o estado brasileiro podia ser caracterizado como li-
beral, marcada pela a ascensão de Getúlio Vargas ao poder que marcou
o inicio do modelo nacional-desenvolvimentista, que se caracteriza por
uma intervenção mais ativa do Estado no que tange os aspectos eco-
nômicos e sociais no país. Segundo as análises de Ianni (1996, p.26), :

[...] o poder político passou a funcionar mais adequada-


mente – segundo as exigências e as possibilidades es-
truturais estabelecidas pelo sistema capitalista vigente
no Brasil; isto é, pelo subsistema brasileiro do capitalis-
mo. Assim, os governantes passaram a reformular as
condições de funcionamento do mercado de fatores de
produção (ou forças produtivas), bem como as relações
internas de produção, e as relações entre a economia
brasileira e internacional [...].

E ainda de acordo com as análises de Hora (2014, p.30), diz que:

A regulamentação do mercado era uma das estraté-


gias de planejamento adotada pelo Estado. A partir
dos anos de 1930, observam-se as primeiras ten-
tativas de planejamento no Brasil, em decorrência
da nova concepção do Estado, como estimulador do
desenvolvimento nacional.

No período entre 1939 a 1945, foi denominado Plano Especial de


Obras Públicas e Aparelhamento da Defesa Nacional, verificou-se as-
sim o início do planejamento governamental no Brasil ( IANNI,1996).

O planejamento governamental se configurou como uma ino-


vação em virtude de articular o planejamento da politica econômica e
social com a alocação de recursos financeiros nas metas prioritárias.
De acordo com as análises de Ianni (1996, p.54),
24 Política Social II

analisaram-se, então, argumentos relacionados com


questões tais como as seguintes: a crescente inter-
ferência nas decisões sobre os assuntos econômico-
-financeiros; a adoção e a elaboração da política eco-
nômica governamental planificada; o papel do poder
público na criação das condições (financeiras, técnicas
e jurídicas e etc.) para a expansão e a diversificação do
setor privado na economia do país; as novas exigências
econômicas da defesa nacional.

Assim, com o advento do Estado Novo, o governo já manifestava


a necessidade de elaborar diretrizes para as resoluções dos problemas
de forma mais tecnicista, voltadas para o controle das forças produtivas
do mercado4. O poder público era direcionado a participar de mais dire-
tamente da economia , mediando as relações do capital x trabalho.

Por sua vez no governo de Juscelino Kubitscheck, em 1956, com


a elaboração do Plano Metas5, configurando-se, assim, como uma
tentativa de enfrentamento à recessão econômica do país, fruto da
situação de desgaste econômico, provocada nos países em desen-
volvimento, após a Segunda Guerra Mundial. O Brasil, nesse período,
encontrava-se em um processo de industrialização lento, no tocante à
produção de bens e demais produtos industrializados. Nesse contex-
to, Hora (2014, p.32-33) diz que:

04
Exemplo disso foi à criação, em 1937, do Conselho da Economia Nacional, responsável
pela emissão de pareceres sobre os projetos governamentais com recomendações para
as políticas públicas. Esta iniciativa oportunizou a sistematização de dados, levando o
Estado a atuar sempre nos momentos de crises econômica, trabalhista e financeira.

05
O Plano de Metas foi considerado por alguns teóricos como a primeira tentativa efeti-
va de planejamento governamental no Brasil.
Tema 1
A política social no Brasil: uma análise de seu
planejamento, embates, dilemas e problemas históricos 25
A expertise do planejamento econômico estatal estava
na concentração de esforços para o desenvolvimento do
parque industrial. Tal parque estava voltado para o atendi-
mento da demanda de consumo do país, proporcionando,
assim, a diminuição da dependência de produtos impor-
tados industrializados. Essa medida corroborou para uma
maior diversificação da produção nacional industrial, a
exemplo da produção de bebidas, vestuário, mobiliário,
para além dos produtos mais tradicionais, tendo em vista
a relíquia do modelo primário-exportador do país.

Esse período se configurou como efetivo na implementação do


planejamento no país, traduzido por um conjunto de medidas econômi-
cas voltadas para o desenvolvimento nacional interno, gerando um maior
destaque para as instituições econômicas governamentais existentes,
a exemplo do Banco Nacional do Desenvolvimento (BNDE), criado em
1952; da Carteira de Comércio Exterior do Banco do Brasil (CACEX), em
1953; da Superintendência da Moeda e do Crédito (SUMOC), em 1945, en-
tre outras instituições criadas ao longo da execução do Plano.

O plano não possibilitou um aumento da capacidade de implemen-


tação eficiente de políticas publicas, considerando sua relação com a po-
lítica econômica, começou aqui o acirramento da dívida pública estatal.

Houve um tendenciamento da desresponsabilização da política


social por parte do estado, que perdurou até os dias atuais, mes-
mo depois do advento da reforma democrática do Estado, onde as
formulações das políticas sociais não 06
reflete as reais necessidades da po- Precisa o usuário merecer para
pulação, se configurando em ações ter acesso, exemplo, estar em
6
pontuais, caritativas, meritocráticas situação de vulnerabilidade

e imediatistas sem ser planejadas. E econômica.

ainda relata Hora (2014, p.33):


26 Política Social II

Por meio do Plano de Metas, procedeu-se ao diagnóstico


dos setores que mais precisavam de uma maior interven-
ção estatal. A partir daí, foi estabelecido um conjunto de
metas e objetivos a serem impulsionados, objetivando sa-
nar pontos de estrangulamento impeditivos ao desenvolvi-
mento do país, dando-se, conforme Kon (1994), destaque
às atividades produtivas e as áreas estratégicas (energia,
transporte, alimentação, e educação – formação profissio-
nal para a indústria). Neste sentido, o Banco Nacional de
Desenvolvimento (BNDE) teve um papel fundamental no
financiamento estatal das indústrias de base (siderúrgica,
transportes e energia), considerado ousado para a época.

Em linhas gerais, o plano obteve resultado, sobretudo no cresci-


mento do parque industrial nacional, visualizado na década seguinte,
quando o Brasil, no final dos anos de 1950, já havia incorporado ao
crescimento industrial bens de consumo duráveis e bens de capital.
Segundo Hora (2014, p. 34):

É inegável que, se comparado aos planos anteriores de


governo, houve um avanço no processo de planejamen-
to do país. Entretanto, o Plano de Metas tinha a área so-
cial como investimento secundário.

Na década de 1960, destaca-se o Plano Trienal de Desenvol-


vimento Econômico e Social7 (1963/1965) que substituiu os planos
anteriores. Foi elaborado durante seis meses por uma equipe liderada
pelo economista paraibano Celso Furtado e serviu de orientação para
a política econômica do governo Goulart. Esse plano se preocupava
em materializar os anseios dos cidadãos por meio da elaboração das
metas e de objetivos econômicos e sociais.

07

Em linhas gerais, o plano procurava englobar os aspectos econômicos e sociais com


objetivos e metas bem definidos, baseado nos problemas conjunturais da época.
Tema 1
A política social no Brasil: uma análise de seu
planejamento, embates, dilemas e problemas históricos 27
Segundo Hora (2014, p.34) “Visava ainda à recuperação do rit-
mo da economia, em torno de 7% ao ano, por meio da contenção in-
flacionária; das correções no processo de distribuição de renda”. No
tocante a reforma de base, essa se constitui em administrativa, ban-
cária, fiscal e agrária, do reescalonamento da dívida externa, além da
redução das desigualdades sociais. (LAFER, 1987; HOLANDA, 1983).

Em se tratando da distribuição de renda da população, o pla-


no trazia os seguintes objetivos, conforme expressa Bierrenbach
(1987, p.55):

[...] tratava-se de um dos oito objetivos básicos fixados


no plano, o que refletia um peso significativo. Contudo,
pretendia-se alcançar este objetivo mediante manipu-
lação do salário real que tenderia a levar os benefícios
do desenvolvimento - o bem estar social - a faixas cada
vez mais amplas da população.

E ainda de acordo com essas análises Hora (2014, p.34)


menciona que:

A redução do custo social, que era basicamente provo-


cado pela inflação, seria feito mediante uma reforma
fiscal, quando o custo maior dos tributos cairia para a
classe de maior renda. Desejava-se, assim, a correlação
de dois fatores: salário e política fiscal, o que demons-
traria o compromisso do governo com a questão da dis-
tribuição de renda.

O plano de governo nesse sentindo, queria combater a pobreza


melhorando assim distribuição de renda do país. O referido plano não
obteve sucesso no tocante ao objetivo proposto que era de reduzir a
pobreza, com isso, o país entrou da década de 1960 com acentuados ní-
veis de vulnerabilidade social e econômica. Veremos assim, no próximo
tópico, como se configurava a política social e econômica no contexto
da ditadura militar e seus planos de desenvolvimento econômico.
28 Política Social II

Leitura Complementar

D ABRUCIO, F. L. Trajetória recente da gestão pública brasileira:


um balanço crítico e a renovação da agenda de reformas. Revista
Brasileira de Administração Pública, v. 1, p. 77-87, 2007.

O artigo permite uma maior compreensão a cerca da trajetória da ad-


ministração pública brasileira nos últimos 20 anos, analisando tanto
os principais avanços e novidades, quanto os erros de condução das
reformas e os problemas de gestão que ainda persistem na atualidade.

D BIERRENBACH, M.I. R de S. Política e planejamento social no


Brasil. São Paulo: Cortez, 1987. Capt. II.

A obra referenciada traz uma compreensão a cerca do histórico do


planejamento da política social do Brasil, mostrando a importância da
Participação social no processo de elaboração das políticas públicas.

Para Refletir
No decorrer desse tema, vimos que o Estado desenvolvimentista ten-
tou dirimir algumas discrepâncias sociais provocadas pelo Estado li-
beral. Nesse sentido, pesquise e elabore um texto pontuando quais as
principais expressões da questão social no Estado Desenvolvimentis-
ta da década de 1950? Compartilhe com os colegas.
Tema 1
A política social no Brasil: uma análise de seu
planejamento, embates, dilemas e problemas históricos 29
1.3
A POLÍTICA SOCIAL E OS PLANOS DE DESENVOLVIMENTO
ECONÔMICO E SOCIAL NA DITADURA MILITAR

No tocante ao processo de construção social do país, esse perí-


odo representou um momento de fortes violações contra os Direitos
Humanos, a própria formulação dos mecanismos institucionais con-
tendo os ideais militares, possibilitaram o acirramento de vários pro-
blemas sociais, como, por exemplo, o aumento de pessoas vivendo
nas ruas incluindo crianças e adolescentes.

A política social na década de 1960 08


foi traçada de acordo com os planos de Em linhas gerais, o plano
procurava englobar os aspec-
governo, destaca-se o Plano Trienal de
tos econômicos e sociais com
Desenvolvimento Econômico e Social8 objetivos e metas bem defini-
dos, baseado nos problemas
(1963/1965). Foi elaborado durante seis
conjunturais da época.
meses por uma equipe liderada pelo
economista paraibano Celso Furtado e
serviu de orientação para a política econômica e social do governo
Goulart.

O plano trienal da ditadura militar buscou-se legitimar os milita-


res no poder, por isso representou uma tentativa de articular o plane-
jamento econômico governamental ao social, a partir de um diagnós-
tico que privilegiasse as reais necessidades da população. Elaborou
assim as chamadas reformas de base que possuia metas estratégicas
voltadas para o desenvolvimento nacional e trazia no documento al-
guns avanços no tocante a política social naquele contexto histórico.
30 Política Social II

O plano trienal iniciado no mandado presidencial de Castello


Branco (1964-1966), tinha por metas: aumento do emprego, estabi-
lizar a inflação, melhorar as disparidades setoriais e regionais. (HO-
LANDA, 1983). Hora (2014, 35) menciona que:

Destaca-se, neste plano, o predomínio dos aspectos


econômicos sobre os sociais, em nome da estabilidade
política, econômica e da justiça social, voltadas para a
tentativa de diminuir as discrepâncias regionais, com a
forte intervenção estatal. Segundo as análises de Bier-
renbach (1987), a política de produtividade, no tocante
aos aspectos econômicos, relacionava-se com os as-
pectos sociais, subdividindo-se em algumas áreas: ha-
bitação, educação, agricultura e emprego.

E ainda no tocante a intervenção estatal nas ações das políticas


sociais, Hora (2014, p.35), menciona que:

No tocante à habitação, a casa própria estaria mais aces-


sível às camadas mais carentes, sobretudo após a cria-
ção, em 1965, do Banco Nacional de Habitação (BNH),
que objetivava monitorar e controlar o programa de ha-
bitação do país. Em relação à educação, o plano se con-
centrou nas questões de acesso da população às escolas,
no aumento do número de matrículas, trazendo como
proposta o aumento de tempo da educação primária que
passaria para seis anos, como espécie de transição para
o ensino médio. Outro aspecto relevante foi à criação do
Fundo da Educação para financiar a sua expansão.

No tocante as ações voltadas para as disparidades regionais,


o acesso á terra foi priorizado, implementou-se linhas de crédito ru-
ral voltadas para a permanência do homem no campo, bem como
possibilitou o estimulo as importações.No que diz respeito as políticas
sociais , Hora (2014, p.36), relata que:
Tema 1
A política social no Brasil: uma análise de seu
planejamento, embates, dilemas e problemas históricos 31
No tocante às políticas de emprego, evidenciaram-se al-
guns investimentos no setor industrial, como condição
para geração de emprego e renda. Na saúde, propôs-
-se a criação de centros de saúde, como complemento
às ofertas de serviços no âmbito público e privado. No
tocante ao saneamento básico, foi dada ênfase ao au-
mento da rede de abastecimento de água. Apesar dos
investimentos na área social, não houve grandes mu-
danças e melhorias na vida da população mais pobre,
uma vez que dificilmente acessavam os serviços sociais
oferecidos.

09
Ainda no governo ditatorial foi im- Instituído pelo Decreto
plantado, na gestão do Marechal Costa e presidencial nº 200, de
28 de fevereiro de 1967.
Silva, o Plano Estratégico de Desenvolvi-
mento (PED)9, no período de 1967 a 1970,
cujo objetivo geral consistia em potencializar o desenvolvimento
econômico e social do país.

O plano consistia em objetivos voltados para a melhoria da in-


fraestrutura do país ; aumento do emprego e fortalecimento do mer-
cado interno, entre outros. É importante salientar que estes objetivos
se desdobravam em dois fundamentais: a aceleração do desenvolvi-
mento e a contenção da inflação. (LAFER, 1987).

No que tange as políticas sociais foram elencadas metas volta-


das para o desenvolvimento humano e social, a exemplo das políticas
de saúde, habitação e educação. E ainda de acordo com as análises de
Hora (2014, p.37):
32 Política Social II

Eram quatro as prioridades estratégicas do plano: em


primeiro lugar, objetivava-se a revolução na educação
e no campo da saúde, cujas ações estariam voltadas
para a democratização dos serviços; em segundo lugar,
destacava-se a necessidade de se intensificar ações nas
áreas de agricultura e saneamento; em terceiro, o cres-
cimento do parque tecnológico e científico, e em quarto
lugar, o fortalecimento da indústria nacional. É impor-
tante considerar que a primazia ainda continuava sob
a lógica econômica e financeira e não social, apesar de
alguns avanços neste campo.

Em linhas gerais, o I PND tinha por objetivos: elevar o Brasil da


categoria de nação subdesenvolvida para a de uma nação desenvol-
vida; melhorar a renda per capita do país, e aumentar o PIB nacional
de 8% para 10%. Segundo Hora (2014, p.37) “O I PND tinha o planeja-
mento como instrumento de racionalidade e eficiência, o que possibi-
litou o desenvolvimento dos setores produtivos”. A expertise desse
plano constitui em impulsionar as tomadas de decisões condizentes
com os setores estratégicos, a exemplo do desenvolvimento como in-
fraestrutura, saúde, entre outros. Segundo Bierrenbach (1987, p. 70)
estavam entre as intenções mais relevantes do I PND:

1) Transferir ao trabalhador os aumentos da produtivi-


dade, mediante o salário médio real.

2) Aplicar outros investimentos, como o Programa de


Integração Social (PIS) e o Programa de Formação de
Patrimônio do Servidor Público (PASEP), que visam
a assegurar a participação do trabalhador na renda
nacional.

3) Abrir as empresas ao médio capital, como forma de


descentralizar o poder econômico.
Tema 1
A política social no Brasil: uma análise de seu
planejamento, embates, dilemas e problemas históricos 33
E ainda nesse sentido, salientamos que o plano nacional de de-
senvolvimento previa investimentos na área social, conforme destaca
Hora (2014, p.37):

Os investimentos em Educação e Habitação eram re-


alizados sem muita integração com as ações interse-
toriais, que, por sua vez, impactavam, negativamente,
nos anseios da classe trabalhadora. As medidas sociais
do plano eram projetadas muito superficialmente, sem
vinculação entre si, a não ser quando ligadas aos setores
estritamente econômicos. As ações eram fragmentadas
e pontuais sem integração entre os setores, a lógica era
voltada para a perspectiva da economia de mercado, de
forma a construir uma sociedade moderna, dinâmica e
competitiva nos moldes de produção capitalista.

Por sua vez, o segundo PND do governo Geisel (1975 a 1978),


tinha duas prerrogativas relevantes: Desenvolver o país no contexto
internacional como uma potência emergente e ainda, articular o de-
senvolvimento econômico e financeiro do país com a economia inter-
nacional, sobretudo destacando as questões de energia e petróleo.

Pode-se dizer que a consolidação do capitalismo industrial na-


cional, nesta época, já acompanhava os avanços de uma sociedade
competitiva e moderna, sobretudo na perspectiva das inovações tec-
nológicas. Contudo, a matriz econômica, Segundo Hora (2014, p.38)
era a mesma dos governos anteriores, centrada na construção de pla-
nos voltados para :

O crescimento e desenvolvimento econômico da nação,


por meio de ações de controle inflacionário, acesso ao
emprego, fortalecimento do parque industrial nacional,
estímulo à criação e fusões entre empresas, objetivan-
do o fortalecimento delas.
34 Política Social II

No âmbito do planejamento continuou a adoção de planos go-


vernamentais. O segundo PND preservou, em linhas gerais, as mes-
mas diretrizes e objetivos do primeiro PND. Pode-se destacar que, no
governo ditatorial, os recursos financeiros e orçamentários nacionais
cresceram. Mas a renda continuava a se concentrar nas mãos de uma
minoria. O II PND não possuía uma política concreta de distribuição de
renda, apesar de objetivar combater a “pobreza” do país.

Apesar disso, De acordo com as análises de Rezende (2009),


relata que “o II PND (1975 a 1979) é considerado como uma referên-
cia de planejamento governamental no que tange à implementação
de políticas de desenvolvimento econômico e social no Brasil”. No to-
cante as normativas da época, eram de responsabilidade do setor de
planejamento da Presidência da República, conforme destaca Hora
(2014, p.39):

1) A coordenação do sistema de planejamento, orça-


mento e modernização administrativa, sobretudo o
monitoramento e avaliação dos planos de desenvolvi-
mento.

2) A coordenação das políticas públicas de desenvolvi-


mento econômico e social.

3) A coordenação da política nacional de desenvolvi-


mento tecnológico e científico, principalmente no que
tange aos aspectos financeiros.

4) A coordenação de assuntos intersetoriais, quando


estes estão relacionados a mais de um ministério.

A década de 1980 já começou com dificuldades no que diz res-


peito ao desenvolvimento econômico, agravado pela crise do petróleo
(1979-1980), que atingiu não só o Brasil, mas todo o mundo. Por outro
Tema 1
A política social no Brasil: uma análise de seu
planejamento, embates, dilemas e problemas históricos 35
lado, já se evidenciam indícios de insatisfação da sociedade quanto ao
tipo de regime adotado, o que foi desencadeando várias manifesta-
ções, culminando com o processo de democratização do país.

A centralidade na perspectiva de desenvolvimento econômico


em detrimento do desenvolvimento social é percebida no acentuado
crescimento da pobreza nos núcleos urbanos, por exemplo. Veremos
no próximo tema como se configurou o planejamento nos governos
no período da redemocratização do país até os anos de 2001.

LEITURA COMPLEMENTAR
D BRASIL. Plano Trienal de Desenvolvimento Econômico e Social.
Presidência da República, 1963-1965.

O documento proporciona uma maior compressão a cerca do plane-


jamento econômico e social do país, demonstrando que foi o primeiro
documento de planejamento governamental que iniciou um debate
sobre a distribuição de renda.

D CARDOSO JUNIOR, J. C. Estado, planejamento e políticas pú-


blicas: o Brasil em desenvolvimento. Disponível em < http://
criseoportunidade.wordpress.com/2009/08/25/estado-planeja-
mento-e-politicas-publicas-o-brasil-em-desenvolvimento-jose-
-celso-cardoso-jr/ > Acesso em: 21 jul. 2015.

A obra referenciada acima permitirá ao aluno aprofundar os conteú-


dos sobre o contexto do planejamento da política social sob a égide da
Ditadura Militar.
36 Política Social II

PARA REFLETIR

No período da ditadura militar, vimos que apesar dos avanços no cam-


po do planejamento de políticas sociais, o governo não conseguiu mi-
norar as expressões da questão social que assolava o país na época, a
exemplo da fome e do desemprego. A participação social por sua vez,
não existia, ficava a elaboração do planejamento social concentrado
nas mãos de técnicos a chamada tecnocracia estatal. Nesse contexto,
elabore um texto explicitando, qual o impacto de uma política social
planejada de acordo com os recursos disponíveis, considerando as
necessidades sociais da classe trabalhadora, em seguida, compartilhe
suas reflexões com os colegas.

1.4
A POLÍTICA SOCIAL E O PLANEJAMENTO ECONÔMICO E
GERENCIAL COMO CENTRALIDADE DA GESTÃO GOVERNAMENTAL
(1985-2001)
Com a instauração da Nova República, em 1985, assume a Presi-
dência da República José Sarney. No período de 1985 a 1989, Segun-
do Hora (2014, p.41) acentua-se a crise nas relações entre: “a política
econômica e o planejamento, agravada pelas sucessivas trocas de Mi-
nistros destas pastas”. Contudo, os planos de desenvolvimento mais
uma vez deixa de lado os aspectos sociais e concentra-se no controle
da inflação por meio da estabilização econômica.
Tema 1
A política social no Brasil: uma análise de seu
planejamento, embates, dilemas e problemas históricos 37
Em março de 1986, o governo lança o Plano Cruzado na tentati-
va de enfrentar a instabilidade econômica. O plano consistia no corte
de três zeros da moeda cruzeiro, para além do congelamento de pre-
ços, que eram corrigidos anualmente ou quando a inflação atingia os
20%. Tal planejamento obteve êxito por um curto prazo de tempo, a
população começou a fiscalizar os preços, a inflação diminuiu, o poder
aquisitivo aumentou e o desempregou caiu.. Também com o objetivo
de controle inflacionário, foi lançado o Plano Cruzado II, com a mesma
lógica de congelamento de preços, mas com valores acima do valor
de mercado dos produtos. O plano fracassou, tendo em vista que a
inflação voltou com os preços ainda mais elevados.

No ano de 1987, foi lançado o Plano Bresser, com o mesmo in-


tuito dos planos anteriores, a exemplo do congelamento de preços e
salários dos trabalhadores. O último plano econômico da gestão de
Sarney foi o Plano Verão, novamente com o mesmo objetivo dos an-
teriores, ou seja, conter a inflação, agora com a criação da moeda Cru-
zado Novo. Mesmo assim, o governo não conseguiu controlar a crise
financeira do país, e os planos se constituíram como tentativas fra-
cassadas de controle da inflação.Segundo Hora ( 2014, p. 41) diz que:

Esses sucessivos fracassos contribuiriam, fortemente,


para a desconstrução do processo de planejamento,
implantado nas décadas anteriores no país.O governo
alegava que estava mais preocupado com as dimensões
sociais do que com os aspectos econômicos.

Nesse momento o país passava por vários problemas sociais,


a exemplo da favelização, pauperização e desemprego. Entretanto, o
“tudo pelo social”, slogan do governo Sarney, não conseguiu passar de
medidas paliativas e assistencialistas, que não contribuíram para mi-
nimizar os graves problemas ocasionados, muitas vezes, pela quase
ausência de planejamento na área rural ao longo dos anos, uma vez
que a maior parte dos governos focava as ações nos grandes centros
urbanos.
38 Política Social II

De acordo com as análises de Hora ( 2014, p.42) “em 1989, o


ex-diretor do IPEA, Roberto Cavalcanti de Albuquerque, apresentou
uma proposta de recuperação do planejamento governamental para
a década de 1990”.

Conforme Resende (2009, p.09), a proposta tinha os seguintes


pontos:

a) Formular um projeto nacional de desenvolvimento,


apoiado em uma discussão com a sociedade;

b) Definir o papel do Estado na implementação desse


projeto, buscando equilibrar as ações a cargo do poder
público e do setor privado;

c) Rever e modernizar a organização da Administração


Pública, dando menos ênfase à simetria e adotando téc-
nicas modernas de gestão para melhorar a eficiência e a
eficácia do Governo;

d) Conceber novos relacionamentos federativos;

e) Ampliar o controle da sociedade sobre o Estado, me-


diante representação dos interesses sociais no plane-
jamento.

f) Estabelecer uma convivência harmônica entre os


Poderes Executivo e Legislativo, que ficou prejudicada
com a instituição de um regime político híbrido, parla-
mentarista-presidencialista, em 1988, no qual o Exe-
cutivo governa, mas não decide, e o Legislativo decide,
mas não governa.
Tema 1
A política social no Brasil: uma análise de seu
planejamento, embates, dilemas e problemas históricos 39
No tocante a participação social na elaboração de políticas
sociais no Governo Sarney, Hora (2014, p. 42) destaca que:

Já se observa, portanto, a propositura de outro dese-


nho no âmbito do planejamento governamental, diante
de um novo momento vivenciado pela sociedade bra-
sileira, o qual definia novas atribuições para os entes
federativos e a possibilidade da participação da socie-
dade. No âmbito do planejamento, conforme Resende
(2009), o Estado procurava focar na sustentação do
crescimento econômico, por meio de diversos planos
de estabilização monetária.

Entretanto, os últimos anos do Governo Sarney foram marca-


dos pelo crescimento da inflação e pela desmoralização do Estado,
esta última fundamentada em denúncias de dilapidação dos recursos
públicos federais e forte corrupção, o que provocou a insatisfação da
sociedade. Nesse momento, a inflação só crescia e, consequentemen-
te, aumentava o número de brasileiros abaixo da linha de pobreza,
bem como o desemprego e a desigualdade social. Nesse cenário de
crise e de uma onda de enfrentamento e combate à corrupção, é eleito
o primeiro presidente por voto popular, Fernando Collor de Mello, que,
sob a égide do combate aos marajás, venceu Luís Inácio Lula da Silva.

O presidente eleito Fernando Collor de Mello não teve maiores


dificuldades para governar. O congresso, ainda desacreditado pela
opinião pública, não apresentou resistência à proposta do Executivo
em reformar a administração. Tal reforma objetivava: a redução do
número de ministérios; a extinção de autarquias e empresas públi-
cas; o início de um processo de privatização de empresas estatais
federais; e o aviltamento dos salários dos servidores, associado ao
corte de alguns benefícios a exemplo da venda dos apartamentos
funcionais . Segundo Hora (2014, p.42) “A justificativa da necessi-
dade da reforma se fundamentava na necessidade de flexibilizar a
máquina estatal, objetivando a eficiência da gestão pública”.
40 Política Social II

No seu governo deu continuidade à política de adoção de pla-


nos econômicos visando a conter a inflação, marcada, na história
brasileira, principalmente pelo confisco de acordo com Hora (2014,
p. 43) “ da caderneta de poupança, uma das mais arriscadas medi-
das que o país presenciou de enfrentamento inflacionário, devido aos
altos índices de inflação que vigoravam no 10
país, na época”. Foram utilizadas diversas Controle das taxas de
juros, inflação e da
medidas provisórias, convertidas na Lei nº circulação da moeda
8.024/90, que implantou o Sistema Mone-
tário e a nova moeda, o Cruzeiro, bem como
as novas regras de conversão e o tempo de circulação da antiga
moeda tudo em prol de reduzir a liquidez monetária10.

De acordo com as análises de Hora (2014, p. 44):

No âmbito administrativo e de enxugamento da máqui-


na pública, foi instituído o Programa Nacional de De-
sestatização (PND), que objetivava a transferência de
ações estatais para a iniciativa privada .

Foram efetivadas privatizações, atingindo principalmente seto-


res produtores de insumos básicos, a exemplo da siderurgia e petro-
química.

No tocante aos aspectos sociais, a década de 1990 foi marca-


da por lutas para a efetivação dos direitos constitucionais assegura-
dos em lei. O governo Collor foi responsável pelo desmonte de vários
serviços sociais na época em nome da égide do neoliberalismo que
consistia numa ordem capitalista mundial, onde tira a responsabilida-
de da execução da política pública de cunho estatal, tendo por linha
mestra as regras da lógica do mercado que são antissociais.
Tema 1
A política social no Brasil: uma análise de seu
planejamento, embates, dilemas e problemas históricos 41
As constantes denúncias de irregularidades provocaram o im-
peachment de Collor em setembro de 1992. Ao assumir a presidência,
o vice-presidente, Itamar Franco, tinha por objetivo desenvolver o
pais por meio do fortalecimento do Estado..

De acordo com as análises de Hora (2014, p.44) menciona que:


“A situação política e econômica da época não foi tão favorável” e ocor-
reram mudanças relevantes no processo de planejamento do país. E
ainda de acordo com suas análises, Hora (2014, p.44), relata que:

Todavia, o novo governo saiu em busca de estratégias


que marcassem a sua gestão. Com a crise econômica
instalada e um aumento significativo da extrema po-
breza no país, os problemas sociais se evidenciaram e
passaram a ocupar um importante espaço na gestão
Itamar. Nasce, então, o programa estratégico de Com-
bate à Fome que possuía um conjunto de ações, visan-
do, mesmo sem alcance, a diminuir o número de mais
de 50 milhões que pessoas que viviam em situação de
extrema pobreza no país.

Saliento que a participação popular começou a despontar nes-


se contexto, quando o governo passou a dialogar com a sociedade es-
tratégias de enfrentamento e combate à fome.

No governo de Itamar Franco, foi elaborado o Plano Real de


controle da inflação, idealizado pelo então Ministro da Fazenda, Fer-
nando Henrique Cardoso, e que visava a criar uma Unidade Real de
Valor (URV) para todos os produtos, desvinculada da moeda vigen-
te, o Cruzeiro Real. Sendo assim, cada URV correspondia a US$ 1, e,
posteriormente, a URV veio a ser denominada “Real”, a nova moeda
brasileira. Essas medidas foram eficazes no tocante à contenção da
inflação, que permitiu abrir caminho para o seu sucessor presidencial,
o então Ministro do Planejamento e Orçamento Fernando Henrique
Cardoso (FHC).
42 Política Social II

11
O presidente FHC fez a opção
É um conjunto de medidas
pelo receituário das privatizações, - que se compõe de dez
abertura econômica e redução dos regras básicas - formulado
em novembro de 1989 por
gastos públicos, sobretudo com políti- economistas de instituições
cas sociais impostas pelos ditames do financeiras situadas em
Washington, como o
Consenso de Washington11, deixando FMI, o Banco Mundial e o
Departamento do Tesouro
de lado os ideais desenvolvimentistas dos Estados Unidos,
do governo anterior. Segundo Hora fundamentadas num
texto do economista John
(2014, p.46) diz que: Williamson, do International
Institute for Economy, e
que se tornou a política
Iniciada com oficial do Fundo Monetário
Collor e refor- Internacional em 1990, quando
passou a ser receitado para
çada nos planos promover o ajustamento
macroeconômico dos países
de FHC, deline-
em desenvolvimento que
ava-se, no país, passavam por dificuldades.
a construção de
uma sociedade
com ideais liberalizantes, voltados para o desmonte da
máquina estatal, colocando-se o mercado no centro das
estratégias, comprometendo a participação social no
planejamento do desenvolvimento social e econômico
do país. O propósito era realizar o ajuste econômico
com a diminuição nos gastos sociais.

O governo de FHC implantou o Plano Diretor da Reforma do


Aparelho do Estado (MARE), em 1995, encabeçado pelo então Mi-
nistro da Administração e Reforma do Estado, Luiz Carlos Bresser
Pereira. Tratava-se de uma estratégia de desenvolvimento social e
econômico do país, denominada por Behring (2011) de Contrarrefor-
ma do Estado, haja vista o corte de direitos sociais em detrimento
da política de ajuste econômico da época, com vistas à efetivação do
ideário neoliberal.
Tema 1
A política social no Brasil: uma análise de seu
planejamento, embates, dilemas e problemas históricos 43
Do ponto de vista político, essa estratégia viabilizou a continui-
dade da internacionalização financeira, produtiva e comercial do país,
voltada para a valorização do mercado como elemento central de re-
gulação da produção. Dessa forma, o governo pregava a diminuição
dos gastos sociais, privatização de empresas públicas, garantia de li-
berdade do comércio e de capitais nos moldes da orientação neolibe-
ral (SOUZA FILHO, 2011).

Para Bresser Pereira, a ampliação de direitos sociais, por parte do


Estado, deveria ser vista com cautela e estruturada a partir de uma or-
dem administrativa burocrática, sob a égide da meritocracia. Seguindo
as idéias neoliberais, o bem-estar social e a proteção social deveriam
ser promovidos no âmbito da dimensão privada (família, comunidade e
mercado). Nesse sentido (Hora, 2014, p. 47) menciona que:

[...] sendo obrigação do Estado de caráter residual e


para aqueles indivíduos que não conseguissem ter as
suas necessidades 12
atendidas no campo Consiste nas ações
privado. Com isso, re- política e administra-
tiva com adequada
forçava-se a adoção distribuição política e fi-
de estratégias para o nanceira, que pressupõe
ações participativas,
desenvolvimento das democráticas, não-au-
políticas sociais, ba- toritárias e com partilha
de poderes (JOVCHELO-
seadas na focalização, VITCH, 1993).
segmentação, descen-
tralização12 e meritocra-
cia, sobretudo para o terceiro setor, com um forte apelo
para o voluntariado.

Segundo o documento que trata da reforma administrativa,


(PEREIRA, 1995), esta seria organizada nos quatro setores: no pri-
meiro, denominado de núcleo estratégico, estariam o Executivo, o
Judiciário, o Ministério Público, e outros de caráter estatal. O segundo
44 Política Social II

setor estaria voltado para a segurança pública e o seu poder de polícia.


O terceiro envolveria os serviços sociais e científicos que deveriam
ser públicos, mas não necessariamente executados pelo Estado, e, por
fim, o setor de produção de bens e serviços que não mais deveria ser
de responsabilidade do Estado.

Segundo Hora (2014, p. 48) “no terceiro eixo estaria o deno-


minado “terceiro setor”, por meio do qual se supervalorizariam as
ações não governamentais na execução das políticas sociais”. Confi-
gurando-se como parceiro do Estado, podendo receber verbas esta-
tais. A existência desse terceiro setor impulsionou a criação de Fun-
dações Públicas, Organizações Sociais (OS), entre outras, o que vem
ocorrendo, principalmente, nas Políticas de Saúde e de Assistência
Social, sob a alegação de que o Estado não dá conta da quantidade
de serviços necessários, além do discurso da agilidade em termos de
administração destes.

Nesse sentindo o governo FHC, ao descentralizar a política de


Assistência para o terceiro Setor na tentativa de privatizar as políticas
sociais estatais e ainda colocou de lado as diretrizes da LOAS (Lei Or-
gânica da Assistência Social ), lei 8.742/1993 e da Primeira Política de
Assistência Social de 1998, que já trazia em seu conteúdo ações espe-
cíficas estatais e o foco das ações na perspectiva da consolidação dos
direitos sociais. Para além, da participação popular no planejamento e
no controle social da política de Assistência Social.

Percebemos que nesse período histórico apesar do avanço a ní-


vel da legislação social , a execução da política social ficou destinada
ao terceiro setor , e ainda, esteve subordinada a política econômica
internacional.
Tema 1
A política social no Brasil: uma análise de seu
planejamento, embates, dilemas e problemas históricos 45
Leitura Complementar

D FAGNANI, E. Política social e pactos conservadores no Brasil:


1964-92. Economia e Sociedade. Campinas,1997.p. 183-214.

A obra referenciada acima, permitirá o aluno realizar um aprofunda-


mento de conteúdo no tocante a tecnocracia estatal.

D FERRAREZI, E. Estado e setor público não estatal: perspectivas


para a gestão de novas políticas sociais. II Congresso Interame-
ricano do CLAD: reforma do Estado e da administração pública.
Isla de Margarita, Venezuela, outubro de 1997. p.104-132.

O texto referenciado acima permitirá o aluno aprofundar o conteúdo


sobre a elaboração e execução de políticas sociais sob a égide do des-
monte dos serviços estatais provocados pelo regime neoliberal.

Para Refletir
A contrarreforma do Estado restringe a universalização dos direitos
sociais, à medida que separa a formulação e execução das políticas
públicas nos níveis de governo impondo limites à descentralização
política e administrativa do país no viés monocrático e centralizador
das ações. Nesse sentido, como deve se constituir a participação po-
pular na formulação das políticas sociais? Compartilhe sua análise
com os colegas!!
46 Política Social II

Resumo

No conteúdo 1.1 discutimos a experiência a experiência brasileira no


tocante ao planejamento estatal como instrumento de gestão. Abor-
damos os aspectos evolutivos e conceituais sobre os planos de de-
senvolvimento da política econômica e social do Brasil.

No conteúdo 1.2 abordamos os aspectos evolutivos e conceituais da


política social sob a ótica do planejamento governamental, destaca-
mos a constituição da política social, no período desenvolvimentista.

No conteúdo 1.3 os planos de desenvolvimento econômico e social na


Ditadura Militar. Mas mesmo considerado o auge do planejamento so-
cial por determinados teóricos, esse período apresentou vários pro-
blemas sociais, a exemplo do desemprego.

No conteúdo 1.4 abordamos a política Social e o planejamento eco-


nômico e gerencial como centralidade da gestão governamental
(1985-2001), ou seja, falamos sob os aspectos da contra reforma do
Estado com o viés liberalizante e que restringe os direitos da classe
trabalhadora.
Anotações
tema 2
Novos dimensiona-
mentos da política
Social
Nesse tema iremos discorrer sobre os aspectos da análise
da constituição das políticas sociais, pontuando seus perí-
odos históricos. Objetiva também demonstrar alguns pro-
gramas de governo da contemporaneidade e como a políti-
ca social esta subordinada à política econômica.
2.1
DESENVOLVIMENTO, EMPOBRECIMENTO E NOVAS
CONFIGURAÇÕES DA QUESTÃO SOCIAL

Castel (1998) menciona em sua obra uma análise sócia histórica


da sociedade capitalista, que o surgimento da questão social, assim
nomeada pela primeira vez em 1830. A questão social compreende
a relação capital x trabalho, ou seja, se constitui num distanciamento
existente entre o crescimento econômico e o social tendo o seu nasce-
douro a revolução industrial na Europa. Nesse período surgem alguns
conceitos como vulnerabilidade social e econômica, trabalho infantil,
periculosidade, insalubridade, exploração do trabalho, etc.

Segundo Castel (1998, p.41) entende-se por questão social,


“uma inquietação quanto à capacidade de manter a coesão de uma
sociedade”. A ameaça de ruptura é apresentada por grupos cuja exis-
tência abala a coesão do conjunto.

É sabido que desde início no século XIX, as ações das políticas


sociais não eram de cunho estatal, ficando a cargo da filantropia a
execução de tais ações assistencialistas e pontuais. Nesse contexto,
as resposta do Estado para o enfrentamento da questão social dar-
-se-á mediante políticas sociais. De acordo com as análises de Castel
(1998, p. 31).

Assim sendo, o lugar do social é visto entre organização


política e o sistema econômico, deixando clara a neces-
sidade de construir sistemas de regulação não mer-
cantil com o objetivo de tentar preencher esse espaço.
Neste ponto, surge a questão do papel que o Estado é
chamado a desempenhar.
52 Política Social II

É importante frisar que a década de 1930 marcou a passagem do


modelo econômico baseado mais no fortalecimento da agricultura do
país , para o modelo voltado para o desenvolvimentismo nacional base-
ado na industrialização. A econômica baseada na agricultura, concen-
trava-se o poder político sob o poderio das oligarquias rurais, mais for-
tes nos estados de São Paulo e Minas Gerais. Com a crise do café, mais
conhecida como o crash da Bolsa de Valores de Nova Iorque, a estrutura
do estado oligárquico sofreu um significativo abalo, possibilitando, as-
sim, o surgimento de uma nova configuração do estado brasileiro.

Se, até então, o estado brasileiro podia ser caracterizado como


liberal, a ascensão de Getúlio Vargas ao poder marcou a transição do
antigo modelo para o modelo que propiciava uma intervenção mais
ativa na economia do país que era denominado modelo nacional-de-
senvolvimentista. Para Ianni (1996, p.26), isso significa que:

[...] o poder político passou a funcionar mais adequada-


mente – segundo as exigências e as possibilidades es-
truturais estabelecidas pelo sistema capitalista vigente
no Brasil; isto é, pelo subsistema brasileiro do capitalis-
mo. Assim, os governantes passaram a reformular as
condições de funcionamento do mercado de fatores de
produção (ou forças produtivas), bem como as relações
internas de produção, e as relações entre a economia
brasileira e internacional [...].

A regulamentação do mercado era uma das estratégias de pla-


nejamento adotada pelo Estado. Por sua vez, o planejamento econô-
mico em países capitalistas, de acordo com as análises de Ianni (1996),
Hora (2014, p.31) menciona que:

[...] refere-se a um processo de acumulação privada de


capital, que abrange alguns elementos fundamentais a
exemplo do capital, força de trabalho, tecnologia e divi-
são social do trabalho.
Tema 2
Novos dimensionamentos da
Política Social 53
Cabe destacar que as forças produtivas não se organizam, de-
senvolvem e reproduzem apenas pela ação empresarial onde operam
as dimensões econômicas. Nesse contexto, os empresários maxi-
mizam os lucros e competem entre si, o preço do produto é igual ao
custo da produção. Para tanto, os capitalistas ainda contam com a es-
fera governamental que também é indispensável para a organização
e reprodução das forças produtivas. Nesse sentido Hora (2014, p.24)
menciona que :

O que se observa é que, independente do regime ado-


tado pelos países, o planejamento estatal se constitui
como uma relevante ferramenta de gestão contribuin-
do, assim, para a construção ordenada de procedi-
mentos que visam ao alcance de objetivos que, quan-
do delineados em ações, podem levar à construção de
caminhos fundamentais para a resolução de diversas
situações.

No Brasil podemos dizer que no tocante aos aspectos do plane-


jamento estatal como ferramenta de resolução dos problemas sociais
começou a se consolidar em meados de 1940.E ainda de acordo com
as análises de Ianni (1996, p.54),

Analisaram-se, então, argumentos relacionados com


questões tais como as seguintes: a crescente inter-
ferência nas decisões sobre os assuntos econômico-
-financeiros; a adoção e a elaboração da política eco-
nômica governamental planificada; o papel do poder
público na criação das condições (financeiras, técnicas
e jurídicas e etc.) para a expansão e a diversificação do
setor privado na economia do país; as novas exigências
econômicas da defesa nacional.
54 Política Social II

Nesse sentido, o Estado se antes era tido como rural e agrícola


voltado para o comércio exterior, a economia era concentrada nas mãos
das elites rurais, pós 1930 o país voltada 13
para o desenvolvimento mais urbano, ou Exemplo disso foi à criação,
seja, podemos citar ainda o avanço da em 1937, do Conselho
da Economia Nacional,
legislação trabalhista e previdenciário responsável pela emissão
de pareceres sobre os
para a industrialização internacional. No projetos governamentais
contexto internacional Europeu o Welfa- com recomendações para
as políticas públicas. Esta
re State, denominado o Estado de Bem iniciativa oportunizou a
estar social propiciava a regulação das sistematização de dados,
levando o Estado a atuar
ações econômicas e sociais e as forças sempre nos momentos de
produtivas do mercado13. Segundo Hora crises econômica, trabalhista
e financeira.
(2014, p. 31):

O poder público era direcionado a participar de modo


mais sistemático da economia do país e aparecia como
mediador das relações entre capital e trabalho, na defesa
dos interesses nacionais.

E ainda de acordo com as análises de Bierrenbach (1987), Hora


(2014, p.32):

[...] a política de produtividade, no tocante aos aspec-


tos econômicos, relacionava-se com os aspectos so-
ciais, subdividindo-se em algumas áreas: habitação,
educação, agricultura e emprego.

No tocante à habitação, a casa própria estaria mais acessível às


camadas mais carentes, sobretudo após a criação, em 1965, do Banco
Nacional de Habitação (BNH), que objetivava monitorar e controlar o
programa de habitação do país.
Tema 2
Novos dimensionamentos da
Política Social 55
Em relação à educação, o plano se concentrou nas questões de
acesso da população às escolas, no aumento do número de matrícu-
las, trazendo como proposta o aumento de tempo da educação primá-
ria que passaria para seis anos, como espécie de transição para o ensi-
no médio. Outro aspecto relevante foi à criação do Fundo da Educação
para financiar a sua expansão. E ainda, Hora (2014, p.36) diz que:

Nos aspectos agrícolas, para além do acesso a terra, o


plano previa o crédito rural e o financiamento das im-
portações. Voltava-se para o estímulo à propriedade
privada, através da taxação de impostos fiscais, sobre-
tudo para terras improdutivas.

No tocante às políticas de emprego, evidenciaram-se alguns in-


vestimentos no setor industrial, como condição para geração de em-
prego e renda. Segundo Hora (2014, p.36) relata que:

Na saúde, propôs-se a criação de centros de saúde,


como complemento às ofertas de serviços no âmbito
público e privado. No tocante ao saneamento básico,
foi dada ênfase ao aumento da rede de abastecimento
de água.

Apesar dos investimentos do governo na área social, não hou-


ve grandes mudanças e melhorias na vida da população mais pobre.
Uma vez que os serviços ofertados pelo estado contemplava apenas
quem estava trabalhando formalmente e contribuía para a previdên-
cia social, excluindo assim uma boa parcela da população.

Sem abordar mais particularmente as causas da crise que se


instalou no início da década de 1970 no país, podemos destacar, so-
bretudo, o desemprego crescente. Aumenta-se assim a migração ur-
bana e a favelização das grandes metrópoles.
56 Política Social II

Segundo a ótica de Castel (1998), a sociedade contemporânea


encontra-se numa via de mão dupla: aceitar uma sociedade inteira-
mente submetida às exigências do mercado ou construir uma figura
do Estado social capaz de atender ao novo desafio.

A questão social começa a ter novas configurações a partir de


um cenário que apresenta novos fenômenos de exclusão social, a fa-
velização e o desemprego em massa como por exemplo.Para Rosan-
vallon, (1995, p.72):

Nossas sociedades se tornaram moralmente cada vez


mais esquizofrênicas, deixando coexistir pacificamente
a compaixão sincera frente à miséria do mundo e a de-
fesa feroz dos direito adquiridos.

Nesse sentido a eficácia das políticas sociais impõe considerar


os indivíduos na sua singularidade, e enquanto sujeito de direitos. Faz
necessário que cada cidadão tenha a oportunidade de modificar a sua
vida e que tenham as mesmas oportunidades de acesso a bens e ser-
viços sociais na perspectiva da equidade.

No próximo capítulo falaremos sobre as políticas sociais pós


Constituição Federal de 1988 no contexto da contrarreforma estatal.
Tema 2
Novos dimensionamentos da
Política Social 57
LEITURA COMPLEMENTAR

D CASTEL, Robert. Metamorfoses da questão social. Petrópolis,


Editora Vozes, 1998, p. 415 a 493

O texto referenciado acima permitirá ao aluno aprofundar o conteúdo


do referido tema, bem como perceber que a elaboração e a execução
das políticas sociais têm que fazer enfretamento as expressões da
questão social, a exemplo da fome, miséria, desemprego e etc.

D FALEIROS, Vicente de Paula. Desafios do Serviço Social na era da


globalização Revista Serviço Social e Sociedade nº 61, São Paulo,
Cortez, 1999, p.153-186.

A obra referenciada acima permitirá ao aluno aprofundar o conteúdo


do referido tema, no tocante os desafios postos a atuação do assisten-
te social frente a expressões da questão social na contemporaneidade.

PARA REFLETIR
Reflita e debata junto com os colegas, como as profundas transforma-
ções das expressões da questão social, a exemplo: do aumento da vio-
lência, do envelhecimento da população, das questões de gênero, etc.,
impactam significante na atuação do profissional de Serviço Social .
58 Política Social II

2.2
AS POLÍTICAS SOCIAIS PÓS CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988:
NOTAS SOBRE A CONTRARREFORMA DO ESTADO

A novidade trazida pela Constituição Federal de 1988 foi à con-


figuração da seguridade social brasileira como política de Estado e em
regra geral complementada com a rede privada, para além da partici-
pação social nos processos de fiscalização, acompanhamento e pla-
nejamento das políticas sociais.

Refiro-me as políticas sociais as que se constituem no bojo da


seguridade social brasileira que compreende as políticas de Assistên-
cia Social, Saúde e Previdência. As demais se configuram como polí-
ticas públicas.

Nesse sentido as políticas sociais no bojo da seguridade sociais


brasileiras trazidas na Constituição Federal (C. F). de 1988, compre-
endem as políticas de Assistência Social, Saúde e Previdência Social,
conforme disposto no art. 194 da C. F. de 1988.

Art. 194. A seguridade social compreende um conjunto


integrado de ações de iniciativa dos Poderes Públicos e
da sociedade, destinadas a assegurar os direitos relati-
vos à saúde, à previdência e à assistência social.

Parágrafo único. Compete ao Poder Público, nos ter-


mos da lei, organizar a seguridade social, com base nos
seguintes objetivos:

I - universalidade da cobertura e do atendimento;


Tema 2
Novos dimensionamentos da
Política Social 59
II - uniformidade e equivalência dos benefícios e serviços
às populações urbanas e rurais;

III - seletividade e distributividade na prestação dos be-


nefícios e serviços;

IV - irredutibilidade do valor dos benefícios;

V - eqüidade na forma de participação no custeio;

VI - diversidade da base de financiamento;

VII - caráter democrático e descentralizado da gestão


administrativa, com a participação da comunidade, em
especial de trabalhadores, empresários e aposentados.

VII - caráter democrático e descentralizado da adminis-


tração, mediante gestão quadripartite, com participa-
ção dos trabalhadores, dos empregadores, dos aposen-
tados e do Governo nos órgãos colegiados. (Redação
dada pela Emenda Constitucional nº 20, de 1998).

Apesar de a carta magna trazer a universalidade das políticas


sociais, ainda a previdência possui um caráter contributivo, ou seja,
os beneficiários para ter acesso precisam contribuir para ter acesso à
proteção social trabalhista como, por exemplo, o seguro desemprego.

A política de saúde no âmbito da seguridade social, foi a que


mais avançou no tocante a universalização do acesso aos serviços
de saúde prestados aos usuários, não estabeleceu assim, critérios
de acessibilidade. A política de Assistência Social por sua vez, im-
põe critérios de elegibilidade a população usuária, exemplo das
condições de renda. Desse modo, podemos dizer que a política de
Assistência Social condiciona o acesso a população a critérios de
60 Política Social II

14
condicionalidades, um exemplo disso são
Destinados a idosos
os benefícios sociais não contributivos de com mais de 65 anos e
pessoas com deficiência
transferência de renda como por exem- estabelecidos na LOAS
plo, o Programa Bolsa Família e o Benefí- ( Lei Orgânica da
Assistência Social).
cio de Prestação Continuada ( BPC)14).
Ler a Lei orgânica da
Assistência Social – Lei
Contudo, apresar do avanço normativo 8.742 de 7 de dezembro
de 1993.
no campo dos direitos sociais, os governos
brasileiros continuaram na lógica do desen-
volvimento econômico deixando de lado a implementação das políticas
sociais estatais.

O governo de Fernando Henrique Cardoso implementou a re-


forma do Aparelho do Estado conhecido como (MARE), em 1995, en-
cabeçado pelo então Ministro da Administração e Reforma do Estado,
Luiz Carlos Bresser Pereira. Tratava-se de uma estratégia de desen-
volvimento social e econômico do país, denominada por Behring (2011)
de Contrarreforma do Estado, E ainda de acordo com Hora ( 2014, p.
47) menciona que a contrarreforma representa: “ o corte de direitos
sociais em detrimento da política de ajuste econômico da época, com
vistas à efetivação do ideário neoliberal”.

Do ponto de vista político, essa estratégia viabilizou a conti-


nuidade da internacionalização financeira, produtiva e comercial do
país, voltada para a valorização do mercado como elemento central
de regulação da produção. Dessa forma, o governo pregava a dimi-
nuição dos gastos sociais, privatização de empresas públicas, garan-
tia de liberdade do comércio e de capitais nos moldes da orientação
neoliberal (SOUZA FILHO, 2011).

Para Bresser Pereira, a ampliação de direitos sociais, por parte


do Estado, deveria ser vista com cautela e estruturada a partir de uma
ordem administrativa burocrática, sob a égide da meritocracia.
Tema 2
Novos dimensionamentos da
Política Social 61
Seguindo as ideias neoliberais, o bem-estar social e a proteção
social deveriam ser promovidos no âmbito da dimensão privada (fa-
mília, comunidade e mercado), sendo obrigação do Estado de caráter
residual e para aqueles indivíduos que não conseguissem ter as suas
necessidades atendidas no campo privado. Com isso, reforçava-se a
adoção de estratégias para o desenvolvimento das políticas sociais,
baseadas na focalização, segmentação, 15
descentralização15 e meritocracia, sobretu- Consiste nas ações
do para o terceiro setor, com um forte apelo política e administrativa
com adequada
para o voluntariado. distribuição política
e financeira, que
pressupõe ações
Segundo o documento que trata da participativas,
democráticas, não-
reforma administrativa, (PEREIRA, 1995), autoritárias e com
esta seria organizada nos quatro setores: partilha de poderes
(JOVCHELOVITCH,
no primeiro, denominado de núcleo estra- 1993).
tégico, estariam o Executivo, o Judiciário, o
Ministério Público, e outros de caráter esta-
tal. O segundo setor estaria voltado para a segurança pública e o seu
poder de polícia. O terceiro envolveria os serviços sociais e científi-
cos que deveriam ser públicos, mas não necessariamente executados
pelo Estado, e, por fim, o setor de produção de bens e serviços que não
mais deveria ser de responsabilidade do Estado. Segundo Hora (2014,
p.47) em relação ao terceiro setor menciona que:

A existência desse terceiro setor impulsionou a criação


de Fundações Públicas, Organizações Sociais (OS), en-
tre outras, o que vem ocorrendo, principalmente, nas
Políticas de Saúde e de Assistência Social, sob a
alegação de que o Estado não dá conta da quantidade
de serviços necessários, além do discurso da agilidade
em termos de administração destes.

É oportuno salientar que apesar de alguns avanços no campo


da elaboração e execução das políticas sociais estatais, podemos
62 Política Social II

observar que a descentralização das ações para o terceiro setor ainda


permanece, remetendo aos primórdios da política social e podendo
possibilitar o retorno do conservadorismo da política social com ações
caritativas e de benemerência.

Nesse sentindo podemos perceber que no tocante ao planeja-


mento da política social, esta ainda continua subordinada a política eco-
nômica, uma vez que a descentralização das ações das políticas sociais
para o terceiro setor oportuniza ao Estado uma economia financeira no
custeio dos serviços se comparados à execução direta da política social
realizada pelo Estado. Nesse sentido, Hora (2014, p.48) destaca que:

Mesmo que no discurso estivesse contida a ideia de


agilidade do atendimento no campo social, sabe-se
que, em repetição aos modelos anteriores de planeja-
mento governamental, o foco do planejamento estava
voltado para a política de estabilização monetária, em
detrimento das políticas sociais.

Nesse contexto a gestão pública tentou adotar alternativasde


curto prazo para a estabilização da economia, na tentativa de cumprir
os ciclos orçamentários constitucionais, que foram abandonados pe-
las reformas mais estruturais e que assumiram prioridade na agenda
governamental, a exemplo das privatizações.

Podem-se destacar, por exemplo, as privatizações de empresas


públicas estatais como a Companhia Vale do Rio Doce e da Companhia
Siderúrgica Nacional, como prova do dilapidamento do patrimônio
público, entregue ao setor privado a preços irrisórios.

É oportuno salientar que o governo FHC não estava preocupado


com as políticas sociais de garantias de direitos e sim com a estabiliza-
ção monetária. investimentos nos serviços sociais. Nessa perspectiva,
volta-se, de certa forma, aos primórdios do planejamento das décadas
de trinta e quarenta: a construção de um regime orçamentário especial
Tema 2
Novos dimensionamentos da
Política Social 63
para garantir a execução de investimentos ao qual um determinado
governo atribui prioridade. (RESENDE, 2009).

Assim, observa-se um modelo gerencial que se burocratiza,


contribuindo para a centralização das decisões econômicas e sociais.
Segundo Hora (2014, p.49) diz que:

Para sua reeleição e proposta política do segundo man-


dato presidencial, FHC criou cargos de Secretários-Exe-
cutivos nos Ministérios, o que agravou, significativa-
mente, a coordenação das decisões e, principalmente, a
gestão das políticas e programas setoriais, pois havia a
subordinação a mais um núcleo decisório centralizador.
Dessa forma, utilizaram-se elementos da flexibilização
gerencial como estratégias de estruturação burocrática
que combinam monocratização e descentralização, se-
parando política da técnica e formulação da execução
das políticas sociais.

Tais ideias estão bem expressas na fala de Pereira (1995, p. 25-26),

[...] significa diminuir o tamanho do Estado, desregular


a economia, aumentar a governança e a governabilida-
de. O primeiro objetivo seria alcançado por meio de pri-
vatizações, da terceirização e da transferência de servi-
ços públicos para as organizações não governamentais
(publicização). Uma menor intervenção do Estado seria
alcançada com mecanismos de mercado. Para aumen-
tar a governança [...] seria necessário realizar o ajuste
fiscal, implantar a administração gerencial e separar a
formulação da implementação de políticas públicas. O
aumento da governabilidade [...] seria realizado para a
melhoria da democracia representativa e pela introdução
do controle social.
64 Política Social II

Assim, esse quadro de contrarreforma do Estado restringe a


universalização dos direitos, à medida que separa a formulação e exe-
cução das políticas sociais.

Percebe- se assim, que a partir da promulgação da Constituição


Federal de 1988, um novo cenário se configura no que diz respeito à
execução das políticas sociais e do papel de cada ente federativo em
sua execução. Segundo Hora (2014, p.103) diz que:

Se, anteriormente, cabia, por exemplo, ao governo fede-


ral a execução direta de determinadas políticas sociais,
com a referida Constituição e as Leis Orgânicas comple-
mentares, os municípios passaram a constituir o lócus
privilegiado para o planejamento, execução e avaliação
das políticas sociais. É importante ressaltar que os go-
vernos municipais não deixaram de lado os papéis de
coordenação, orientação, monitoramento, avaliação e
fomento oriundos dos demais poderes executivos.

No tocante ao Pacto Federativo, a Constituição de 1988 trouxe


responsabilidades específicas aos entes federados no campo da polí-
tica social, conforme salienta Hora (2014, p. 103):

Essa nova competência exige dos municípios a ado-


ção de estratégias e a reorganização de seus quadros
funcionais, a fim de suprir outras demandas, que, em
alguns casos, apesar de não serem novas, passam a
compor uma rotina maior no cotidiano municipal. Um
dos destaques, por exemplo, é a participação da so-
ciedade civil no processo de planejamento, monito-
ramento e avaliação das políticas sociais, por meio de
instâncias legítimas e representativas de segmentos da
sociedade. Essa participação exige uma nova forma de
relação governo-sociedade.
Tema 2
Novos dimensionamentos da
Política Social 65
Nesse sentido, a atuação dos assistentes sociais, pós Consti-
tuição de 1988 se posiciona para ocupar novos espaços sócio-ocu-
pacionais a exemplo da coordenação dos serviços socioassistenciais
e da elaboração e planejamento das políticas sociais. E ainda Hora
(2014, p.13) diz que:

É de se destacar o fato de esses profissionais já atuarem


na área do planejamento, como já indicava o documen-
to de Araxá16, desde o final dos anos de 1960.

Conforme aponta Iamamoto 16

(2010), a atuação do assistente so- O documento de Araxá de


1967 amplia as funções da
cial na elaboração e planejamento de profissão reconhecendo
projetos sociais têm se constituído de que ela se efetiva em dois
níveis: no micro ação e no
um espaço de trabalho de grande re- macro ação; o micro refere-
se à operacionalização
levância e ainda na contemporaneida- das políticas e o macro
de têm- se ampliado ainda a inserção compreende a integração
das funções de planejamento
de profissionais nos processos de ela- de políticas. Por sua vez, o
boração, monitoramento e avaliação de documento de Teresópolis,
datado em 1970, preocupa-
políticas públicas nos diferentes níveis se com um método de
da Federação, com destaque para aque- intervenção profissional que
aborda duas categorias: o
las que compõem o campo da segurida- diagnóstico e a intervenção
de social e para a participação junto aos planejada.

conselhos de políticas públicas.

E ainda a atuação na assessoria e consultoria no âmbito dos


conselhos de Saúde e de Assistência Social, nos Conselhos de Direi-
tos, que são órgãos também responsáveis pela formulação e monito-
ramento de políticas públicas .

Ainda conforme Iamamoto (2010), ao ocupar estes espaços


de planejamento e gestão de políticas sociais, o profissional poderá
contribuir para uma interlocução maior com a sociedade civil, por
meio de estratégias de democratização da coisa pública, fazendo-se
necessário contribuir com o processo de mobilização e organização
66 Política Social II

popular, integrado ao contexto da gestão e planejamento destas polí-


ticas. Assim, essa proposta tem sua importância e contribui à medida
que procura analisar a atuação profissional em outros campos de in-
tervenção, propondo o desafio de aliar a temática social aos conheci-
mentos gerenciais da Administração Pública.

No próximo tema vamos falar mais particularmente das políti-


cas sociais nos governos LULA e Dilma, como também dos seus res-
pectivos programas e projetos na área social.

LEITURA COMPLEMENTAR
D BONADÍO, V. M. R. As propostas de avaliação da política social da
região administrativa de Presidente Prudente. 2003. Disserta-
ção (Mestrado em Serviço Social), Universidade Estadual de Lon-
drina, Londrina, 2003. ( p. 150-210)

A obra mencionada acima, permitirá o aprofundamento de conte-


údo no tocante o planejamento de políticas Sociais e a importância
da avaliação das ações e dos serviços socioassistenciais prestados
a população.

D BRASIL, Plano Diretor de Reforma de Estado. Presidência da Re-


pública, 1995-1998.

O texto referenciado acima permitirá o aprofundamento de conteúdo


no tocante o entendimento sobre o reorganização econômica e social
do país, pós Constituição de 1988.
Tema 2
Novos dimensionamentos da
Política Social 67
PARA REFLETIR
Reflita e discuta com os colegas em sala de aula, se a política de As-
sistência Social mesmo se constituindo como política de direito após a
Constituição Federal de 1988, ainda executa ações de caráter pontual
e assistencial?

2.3
POLÍTICAS SOCIAIS: ALGUNS PROGRAMAS GOVERNAMENTAIS
(2004-2010)

Esse período iniciou-se com o mandato do presidente Luis Iná-


cio Lula da Silva (LULA) 2004-2010, teve como objetivo social em seu
governo combater a pobreza e as desigualdades sociais, a exemplo da
erradicação da fome e da miséria de milha- 17
res de brasileiros que se encontravam em População abaixo da
situação de extrema pobreza17, buscava ain- renda per capita de 1
(um) quarto do salário
da construir uma sociedade moderna que mínimo instituído
gerasse empregos e riquezas, sob a égide pela Lei Orgânica da
Assistência Social
da justiça social, que deveria ser consolida- (LOAS).
da por meio de políticas sociais planejadas
e sustentáveis.

Uma das diretrizes fundamentais materializadas em seu plano


de gestão era o combate à concentração da renda e da riqueza, a
exclusão social e o desemprego.
68 Política Social II

Tendo por carro chefe da política de Segurança alimentar e


nutricional o Programa Fome Zero, Sob tal programa Hora (2014, 50)
menciona que:

O programa Fome Zero se constituiu no carro chefe


do referido plano, tratado como um programa emer-
gencial que objetivava combater a extrema pobreza,
erradicar o analfabetismo, o trabalho precoce, e a
mortalidade infantil.

Nesse sentido, foi preciso que o Estado retomasse o seu papel


de condutor, formulador e executor de políticas sociais e adotasse um
modelo de desenvolvimento pautado na equidade social e na justiça
social. Segundo Castro (2004, p.1), o governo Lula tinha como priori-
dades em seu primeiro governo:

[...] evitar o caos econômico, conhecer a máquina go-


vernamental, avançar o máximo possível nas votações
das reformas previdenciária e tributária e, sobretudo,
manter o índice de aprovação popular num patamar
alto. Para isso, contribuíram a capacidade de comu-
nicação junto à sociedade, o estilo coloquial e nego-
ciador da Presidência, além da firmeza na defesa dos
interesses nacionais.

Na área social, podemos elencar, por exemplo, a unificação dos


benefícios de transferência de renda, a exemplo do Programa Bolsa
Escola, Programa Bolsa Alimentação e o Programa do Auxílio Vale-
-gás, que foram unificados no Programa Bolsa Família lançado pelo
Governo Lula, como tentativa de alavancar o planejamento da área
social, provocado pela letargia do governo nessa área.

Como instrumento de planejamento, avaliação e monitora-


mento no campo social, o governo lança o Cadastramento Único
Tema 2
Novos dimensionamentos da
Política Social 69
dos programas sociais (CADÚNICO), utilizado nas três esferas de
governo, enquanto um instrumento de planejamento que permi-
te identificar os indicadores de vulnerabilidade social e econômica,
como também as famílias que estão em descumprimento das condi-
cionalidades do Programa Bolsa Família. Tais informações deveriam
ser consideradas pela gestão como foco da tomada de decisão para
o planejamento das ações nas áreas das políticas sociais, nos três
níveis de governo. Entretanto, ainda têm sido pouco utilizadas, prin-
cipalmente no âmbito municipal, lócus privilegiado do planejamento
e gestão da política social.

Nesse processo de planejar a política social, um dos elementos


sempre presente no discurso governamental diz respeito ao planejamen-
to participativo. Um dos pontos elencados no PPA , e que serviu de base
para sua elaboração e posterior execução, diz respeito à participação po-
pular. O conteúdo PPA (2003, p.31), expressa bem essa preocupação

A participação da sociedade civil e dos governos es-


taduais e municipais não se encerra com o encami-
nhamento do PPA ao Congresso Nacional. Terá con-
tinuidade ao longo da implementação do Plano, para
aperfeiçoá-lo e acompanhar regularmente sua execu-
ção. Portanto, é um processo contínuo, que pretende
democratizar e qualificar a gestão pública, comparti-
lhando a responsabilidade pelos projetos, pela avalia-
ção e revisão participativa dos programas e do Plano.
Por isso, o processo de planejamento participativo foi
estruturado em dois ciclos: o primeiro, de elaboração
do PPA; o segundo, de acompanhamento e aperfeiço-
amento, quando da implementação.

E ainda no tocante a participação social, esse governo apensou


o viés participativo a todos os instrumentos de planejamentos da po-
lítica social, conforme menciona Hora (2014, p.51):
70 Política Social II

No decorrer desta gestão, houve diversos eventos re-


gionais e nacionais voltados para a discussão das espe-
cificidades de cada política pública, mediante processos
de mobilização social, a exemplo das conferências das
políticas setoriais, que começam no âmbito municipal,
passando pelo estadual até o federal, com o objetivo de
propor ações para as diversas políticas sociais.

Na área social os investimentos em políticas sociais volta-se


mais para os benefícios não contributivos a exemplo da Bolsa Fa-
mília que o recurso financeiro vai direto para o usuário, sem passar
pela gestão pública. No tocante ao Programa Fome Zero, esse se
constituiu em ações focais e fragmentadas na lógica de benefícios as-
sistenciais a exemplo do bolsa família.

No tocante a política econômica, esta continuo nos ditames da


lógica neoliberal, conforme menciona, Castro (2004, p.2),

O país está sendo governado, portanto, por um progra-


ma que não foi apresentado aos eleitores. A tão pro-
metida mudança de modelo de desenvolvimento foi
substituída pela continuidade e pelo aprofundamento
da política anterior. A tal implantação de um modelo
de desenvolvimento alternativo, que tem o social por
eixo, deu lugar ao aumento do superávit primário de
3,75% para 4,25% do PIB, à ênfase nas reformas cons-
titucionais vetadas anteriormente pelo PT e a um pro-
grama recessivo que adotou o ajuste fiscal para reto-
mar a confiança do mercado e conter a inflação.

Em matéria da seguridade social, o governo elaborou o proje-


to de contrarreforma da previdência social dos funcionários públicos,
encaminhado já em abril de 2003 para ser apreciado pelo Congresso
Nacional e aprovado em dezembro do mesmo ano (MARQUES; MEN-
DES, 2007). Nele, o governo retomou, significativamente, questões
que haviam sido derrotadas pela reforma do Estado promovida por
Tema 2
Novos dimensionamentos da
Política Social 71
Fernando Henrique Cardoso (1995-2002), inclusive com o apoio ativo
de deputados e senadores da base aliada do governo.

De acordo com as análises de Marques & Mendes (2007, p.3), de-


monstrou que a reforma da previdência social implementada no governo
Lula, representou uma contrarreforma dos direitos trabalhistas, a saber:

O estabelecimento de um teto para a aposentadoria dos


servidores, pondo fim ao direito à integralidade; e o iní-
cio de procedimentos que, se aprofundados, levarão à
unificação entre o Regime Geral da Previdência Social
(RGPS), dos trabalhadores do mercado formal do setor
privado da economia, e o dos funcionários públicos.

É oportuno dizer que tal reforma impactou negativamente na


vida da classe trabalhadora provocando a retirada de direitos sociais
outra conquistados, a exemplo da ampliação do tempo de serviço e a
diminuição do teto da aposentadoria.

Dessa forma, o governo inaugura um sistema paralelo à pre-


vidência pública, o sistema privatista previdenciário brasileiro, mais
conhecido como previdência complementar, estimulando o fortaleci-
mento do mercado interno com a constituição de poupança de longo
prazo para o desenvolvimento do país.

No começo do seu segundo mandato, no ano de 2007, o governo


lança o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), por meio do De-
creto 6.025/2007, com o intuito de propiciar um maior desenvolvimento
ao país. Esse programa consistia em dinamizar o crescimento econômico
do país, com o objetivo de melhorar a qualidade de vida da população,
sobretudo por meio da oferta de geração de emprego e renda.

O referido plano se propunha a aquecer a economia interna,


reduzindo custos e aumentando a produtividade. O eixo relativo às
diretrizes para o desenvolvimento social e urbano foi o que mais
recebeu investimentos financeiros, chegando a mais de 1/3 dos
investimentos previstos, e também o que apresentou um volume
72 Política Social II

considerável de projetos, sobretudo, 18


nas áreas de habitação, seja de inte- Entende-se por interesse
social as áreas de favelas e
resse social18 ou de mercado19. A execu- invasões, ou seja, são áreas
ção das ações desse eixo foi realizada com pouca ou nenhuma
infraestrutura de serviços
de forma descentralizada para os três e que ainda possuem
casas sem condições de
níveis de governo, para além de entida- habitabilidade.
des não governamentais que poderiam
pleitear recursos por meio de convênios 19 Incentivo do governo para
para a construção de unidades habita- a aquisição da casa própria
para a classe média com
cionais, sendo os órgãos intermedia- faixa de renda a partir de três
dores da gestão e financiamento dos salários mínimos.

projetos a Caixa Econômica Federal e o


20 A questão da habitação,
Ministério das Cidades20. dentre os recursos destinados
para infraestrutura, foi a que
mais recebeu financiamento,
tendo por fonte de recursos
Em 2009, o Governo Lula elabo- financeiros o Sistema
ra e executa o Programa Minha Casa, Brasileiro de Poupança e
Empréstimos (SBPE), Fundo
Minha Vida, e o agrega ao PAC, com o de Garantia do Tempo de
Serviço (FGTS), Fundo de
objetivo de estimular a aquisição da Amparo ao Trabalhador (FAT),
casa própria para famílias renda de até a própria Caixa Econômica
Federal, o Fundo Nacional de
10 (dez) salários mínimos. Mais para a Habitação de Interesse Social
(FNHIS) e convênios com
população de baixa renda o acesso a o Banco Interamericano de
casa própria, a renda varia de 0 (zero) Investimento
(BID). (AGUIAR, 2012).
a 3 (três) salários mínimos. É oportuno
salientar que mesmo sem concluir as
ações previstas no PAC 1, o governo Lula lançou o PAC 2 (dois), que
tinha os mesmos objetivos do PAC 1, e, como diferencial, um maior
montante de recursos financeiros. Esse programa financiou cons-
truções de equipamentos sociais, como unidades básicas de saúde,
creches, construção de centros de referências de assistência social,
hospitais entre outros.

O governo Lula apesar do ideário da classe trabalhadora, con-


tinuou a política neoliberal dos governos anteriores restringindo di-
reitos da classe trabalhadora, apresar da implementação de políticas
Tema 2
Novos dimensionamentos da
Política Social 73
não contributivas de cunho social. De acordo com Hora (2014, p.55)
menciona que:

Nesse sentido, a sua administração se justifica pela necessidade


de correção de possíveis deficiências sociais e de mercado, sobretudo
em países em desenvolvimento, que, comumente, possuem uma po-
lítica econômica distributiva e redistributiva injusta, sendo prejudicial
para o seu próprio crescimento.

E ainda de acordo com as análises de Holanda (1983, p.37), o


planejamento deve

[...] antecipar soluções para problemas previsíveis e es-


pecificar as medidas de política econômica necessárias
para remover os obstáculos que limitam o crescimento
da renda e a mudança estrutural da economia.

É oportuno salientar que houve alguns avanços no tocante a


elaboração e execução de políticas sociais de cunho não contributi-
vo a exemplo da política de Assistência Social e da implementação
do SUAS (Sistema único da Assistência Social) em 2004, que trouxe
como inovação diversos serviços, programas e projetos voltados so-
bretudo, para a prevenção dos vínculos familiares e afetivos e para a
superação das condições de vulnerabilidades social e econômica dos
usuários dos serviços.

Veremos no próximo tema como se configurou a política social


entre os anos de 2010-2014 no governo da presidente Dilma, no to-
cante aos avanços e desafios na elaboração e execução das políticas
sociais.
74 Política Social II

LEITURA COMPLEMENTAR

D BACKX, S. Mínimos sociais no contexto da proteção social bra-


sileira. Política de Assistência Social no Brasil: desafios para o
assistente social. II Simpósio do Serviço Social do COMAER, Rio
de Janeiro, 2007.

A obra referenciada acima, permitirá o aluno refletir sobre os aspectos


da política social de Assistência Social no tocante ao debate sobre os
mínimos necessários para a pessoa sobreviver com dignidade.

D BALERA, Wagner. Contribuições destinadas ao Custeio da Segu-


ridade Social, Revista de Direito Tributário, São Paulo: Malheiros
Editores, nº 49, pp. 118-119.

O texto elencado acima, permitirá ao aluno refletir sobre os aspectos


da política social no governo Lula , bem como perceber que apesar dos
avanços na elaboração e execução de políticas sociais com viés não
contributivo, continuou a lógica neoliberal de ajustes econômicos que
impactam negativamente da classe trabalhadora.

PARA REFLETIR
A partir do que você aprendeu neste conteúdo, reflita e discuta com
seus colegas, quais as políticas públicas que mais avançaram no
governo Lula, no tocante a garantia de direitos da classe trabalhadora?
Tema 2
Novos dimensionamentos da
Política Social 75
2.4
POLÍTICAS SOCIAIS (2010-2014): ALGUNS ASPECTOS DAS
AÇÕES DAS POLÍTICAS SOCIAIS

Inicia-se em 2010, o governo da economista Dilma Rousseff,


eleita a primeira mulher Presidente da República para o mandato de
2011 a 2014. Cumpre dizer que no tocante os aspectos sociais imple-
mentou o Plano Brasil sem Miséria que trouxe uma visão reducionista
da pobreza e da miséria, surgindo assim os extremante pobres que
são pessoas que segundo a Organização das Nacões Unidas vivem
com renda inferior a 70,00 reais ( 1,25 dólares/dia). Um total de 16
milhões de pessoas se enquadram nesses critérios e utilizam a As-
sistência Social para acessar os benefícios. Tal nomenclatura “extre-
mamente pobres” serve para tipificar a pobreza e consequentemente
diminuí-la estatisticamente.

É oportuno salientar que sua gestão no tocante a política eco-


nômica continuo a mesma lógica neoliberal dos governos anteriores.

Em se tratando de seu plano de governo, Hora (2014, p. 56)


menciona que:

O seu plano de governo intitulado Plano Mais Brasil (PPA


2012-2015), em execução, tem por objetivo, segundo Fal-
cón (2012), reestruturar o planejamento governamental.
Esse fato implicou uma redefinição de estratégias, so-
bretudo provocada pela ineficácia do gerenciamento do
Programa Aceleração do Crescimento (PAC).

No tocante a política social tinha por objetivo erradicar a mi-


séria do país conforme mencionado anteriormente, nesse sentindo
76 Política Social II

o plano mencionava duas condições, de acordo com as análises de


Falcón (2012, p.8):

[...] o bônus demográfico que o país recebe nos próxi-


mos 20 anos, e a erradicação da pobreza extrema (Pla-
no Brasil sem Miséria) com a incorporação de uma nova
classe média de mais de 40 milhões de brasileiros, dos
quais 28 milhões já ascenderam nos últimos 4 anos.
Além disso, trata-se de manter a redução progressiva
da desigualdade na distribuição da renda.

Nesse sentido o PPA propunha investimentos de ações de po-


líticas públicas voltadas, sobretudo, para qualificação profissional e
consequentemente gerar emprego e renda. Nesse ponto, envolve-se
a camada mais jovem da população, através da qualificação profis-
sional, tendo-se como referência o Programa Nacional de Acesso ao
Ensino Técnico (PRONATEC).

Tal programa está ligado ao Plano Brasil sem Miséria21 e tem


por objetivo superar a extrema pobreza, 21
como já foi dito. O governo acredita que
Instituído pelo Decreto
esse plano consiga reduzir as desigualda- nº 7. 492 de 2011.
des sociais, por meio da melhoria na distri-
buição de renda do país.

O Plano Brasil sem Miséria se organiza, prioritariamente, em


três linhas de ações estratégicas: a primeira atua na garantia de aces-
so à renda, para a população com renda mensal per capita abaixo de
R$70,00 (setenta reais), com o intuito de minorar a situação de extre-
ma pobreza do país.

No tocante a redução da desigualdades sociais o governo propôs


algumas ações e serviços voltados para a política de educação e saúde .

É importante salientar que com a regulamentação do Sistema


Único da Assistência Social (SUAS) na LOAS (Lei 8.742/1993) em
Tema 2
Novos dimensionamentos da
Política Social 77
2011, difundiu-se novos fundamentos para a gestão da Assistência e
para a política de proteção social: criando benefícios, instituindo com-
petências e, além disso, resultou na Assistência Social como direito do
cidadão e dever do Estado.

De acordo com o Art. 1º da Lei Orgânica da Assistência Social –


LOAS, a Assistência Social é:

Direito do cidadão e dever do Estado, é Politica de Se-


guridade Social não contributiva, que provê os mínimos
sociais, realizada através de um conjunto integrado de
iniciativa pública e da sociedade, para garantir o atendi-
mento às necessidades básicas (BRASIL, 1993).

No ano de 2005, surgiu o Sistema Único de Assistência Social


(SUAS), a transformação de maior impacto na história da Assistência So-
cial brasileira. Esse novo sistema instituiu um modelo associado de ges-
tão nacional e novas metodologias de trabalho com famílias em situação
de vulnerabilidade social e econômica ou que estejam em situação de
risco social e pessoal, definindo assim novos padrões de proteção social.

A Organização do SUAS se diferencia pela descentralização


político-institucional e pela gestão e planejamento de forma conju-
gada. Desde seu principio com, o co-financiamento dos serviços so-
cioassistenciais é decidido a partir de critérios técnicos, utilizando-se
indicadores claros, como a taxa de pobreza do município e o índice
populacional.

O SUAS consiste em um sistema público não contributivo,


descentralizado e participativo, que tem por função a
gestão do conteúdo especifico da assistência social no
campo da proteção social brasileira (NOB/SUAS 2005).

A PNAS é a Política Nacional de Assistência Social que jun-


tamente com as políticas setoriais, analisa as disparidades sócio
78 Política Social II

territoriais, visando à garantia dos direitos sociais, propiciando su-


porte para atender à sociedade e à universalização dos direitos so-
ciais. As pessoas atendidas por essa política são os cidadãos e grupos
que se encontram em situações de vulnerabilidade, que dela necessi-
tam, e sem contribuição prévia a provisão dessa proteção.

No campo da Assistência a ampliação dos serviços deu-se, so-


bretudo em investimentos dos serviços da Alta complexidade voltados
para a população de rua, crianças e adolescentes em situação de rua,
para além dos planos Viver sem limites voltados para a garantia de di-
reitos da pessoa com deficiência e o Plano Crack é possível vencer para
as pessoas em situação de drogadição.

No campo da educação, destacam-se a educação integral e o


Programa Segundo Tempo na Escola, cujas ações estão voltadas para
a ocupação de crianças e adolescentes com práticas esportivas e cul-
turais no contexto da escola, e ainda há a finalidade de construção de
creches para as crianças de 0 a 6 anos. Na política de Saúde, desta-
ca-se, entre outras ações, o Programa Mais Médicos, lançado em 8
de julho de 2013, com o objetivo de suprir a carência de médicos nos
municípios do interior e nas periferias das grandes cidades do país.
22
Destarte que o Governo Dilma ainda Segundo dados da
em curso, apesar de alguns avanços obser- PNAD/IBGE/2012,
a extrema pobreza
vados no enfrentamento à pobreza extre- brasileira caiu de 7,6
ma22, têm ainda um longo caminho para re- milhões de pessoas
para 6,5 milhões de
duzir e erradicar a pobreza extrema do país. pessoas, considerando
a renda per capita de
E ainda Hora (2014, p.57) relata que:
até R$ 75,00 (sete e
cinco reais mensais), de
acordo com a síntese
Além disso, ainda não de indicadores so-
foi estabelecido um ciais(SIS/2010/IBGE).

processo de articulação
entre as diferentes políticas sociais, que permita avan-
çar com estratégias que, de fato, propiciem ações de
Tema 2
Novos dimensionamentos da
Política Social 79
caráter estruturante, de forma a construir políticas di-
ferentes das praticadas pelos governos anteriores que,
historicamente, sempre apresentaram caráter frag-
mentado e pontual.

O problema da desigualdade social e econômica no Brasil é his-


tórico e com certeza precisa de mais de um tipo de enfrentamento
para resolvê-lo. A formulação e implementação de políticas públicas
pelo Estado é uma das principais modalidades de enfrentamento do
problema. Dentre essas políticas, os programas de Transferência de
Renda têm-se mostrado eficazes a curto e médio prazo.

O Bolsa Família é considerado na sua caracterização e na sua


dimensão quantitativa, o maior programa social implementado no
Brasil pela abrangência geográfica, pelo total de famílias atendidas e
pelo significativo montante de recursos orçamentários nele alocado,
considerado o maior programa de transferência de renda do mundo.

De acordo com as análises de Almeida (2004, p.6):

Os programas de transferência direta de renda impunham


contrapartidas aos beneficiários, tais como freqüência es-
colar das crianças e ida da família a postos de saúde, na
suposição de que assim se criariam condições para a sua
futura independência econômica. Na prática, porém, o
controle das contrapartidas foi de difícil execução.

Por outro lado, o estabelecimento de mecanismos au-


tomáticos de transferência de recursos para educação,
saúde e assistência social

reduziu os espaços da barganha política e do clientelis-


mo, embora não os tenha eliminado.

Neste sentido, o principal programa de transferência de renda


para a população carente é o Programa Bolsa Família (PBF), que tem
se expandido e gerado efeitos relevantes, mas ainda insuficientes sobre
80 Política Social II

os índices sociais, não estando isento de críticas e problemas. Na ver-


dade, os estudos realizados têm apontado que, apesar dos limites, o
PBF tornou-se um indicador do quanto é possível fazer com políticas
públicas. (Pequeno, 2008).

Como esse processo ainda está em curso há um debate em aberto


sobre esse tema. Preliminarmente, uma análise do PBF aponta alguns
aspectos problemáticos que necessitam de estudos aprofundados.

Os autores SILVA, YAZBEK e GIOVANNI (2007), ao elencarem


algumas questões levantaram alguns pontos que podem ser desta-
cados como: a obrigatoriedade de frequência à escola, não basta à
criança estar matriculada e frequentando a escola, o ensino precisa
ser de boa qualidade; a condicionalidade que associa à transferência
monetária a participação das famílias às questões de saúde, o que im-
plica numa ampliação e democratização dos serviços de atendimen-
to à saúde; o monitoramento e avaliação do programa necessitam de
uma maior abrangência para o seu dimensionamento dos impactos de
médio e longo prazo; por fim, a sustentabilidade expressa pela conti-
nuidade do programa evidencia a fragilidade da organização popular
enquanto força de pressão reduzindo as possibilidades de impactos
estruturantes. (Pequeno, 2008).

Mesmo assim, muito pouco tem sido realizado para combater


as causas estruturais da pobreza. A redução do déficit habitacional,
a eliminação do analfabetismo, do desemprego, da fome, do trabalho
infantil, além da garantia do acesso à educação gratuita, aos serviços
básicos de saúde e o bem-estar social continuam precisando de ações
eficientes e eficazes.

Embora se reconheça o mérito e o efeito distributivo do PBF,


a focalização das suas ações no combate à pobreza, sem integração
com outras políticas que atendam as necessidades básicas da popula-
ção e que forneçam bens e serviços públicos de qualidade, pode gerar
o enfraquecimento da consolidação da cidadania.
Tema 2
Novos dimensionamentos da
Política Social 81
Portanto, para o enfrentamento da pobreza brasileira é primor-
dial que os programas venham acompanhados de uma ativa e perma-
nente política de geração de emprego e renda e de um ambiente ma-
croeconômica favorável às políticas sociais, o que requer que se faça
um mínimo de incursão sobre o comportamento recente e as pers-
pectivas que se abrem para a economia brasileira e para as políticas
sociais (CARDOSO JUNIOR; JACCOUD, 2005).

E ainda de acordo com as análises de Almeida (2004,p.17):

Em que pese a forte associação simbólica entre o pre-


sidente Lula e seu partido, de um lado, e a reforma
social, de outro, o novo governo não mostrou ter uma
concepção clara e realista de proteção social,capaz de
guiar a sua ação pública. A julgar pelo que foi realiza-
do até agora, a política de Lula segue as das adminis-
trações anteriores, especialmente as de Cardoso. Ao
mesmo tempo, a ênfase da atividade governamental
parece ter se deslocado das políticas universalizantes e
habilitadoras, como educação e saúde, para os progra-
mas assistenciais destinados aos mais pobres, como o
Bolsa-Família.

Significa dizer que as políticas sociais quando impõe critérios


de acesso aos usuários descola do sentido mais universalizante, tra-
zendo uma visão reducionista da política Social.

Vimos nesse contexto que a elaboração e a execução da política


social muda conforme o plano de governo, tudo depende do processo
histórico e do regime político vigente e da organização da sociedade.
Nesse sentido a politica social não possui um receituário próprio ela
muda de acordo com a dinâmica da sociedade.
82 Política Social II

LEITURA COMPLEMENTAR
D CAMPELLO, Tereza; NERI, Marcelo Côrtes. Programa Bolsa Família:
uma década de inclusão e cidadania. Brasília: IPEA, 2013. p. 25-46.

A obra oportuniza o aluno a refletir sobre a constituição dos progra-


mas de transferência de renda do país, abordando mais particular-
mente o Programa Bolsa Família.

D JACCOUD, Luciana. Pobres, pobreza e cidadania: os desafios re-


centes da proteção social. In: FAGNANI, Eduardo; WILNÊS, Henri-
que; LÚCIO, Clemente. (Org.). Previdência Social: como incluir os
excluídos? Uma agenda voltada para o desenvolvimento econô-
mico com distribuição de renda. São Paulo: 2008, p. 563-579.

O texto elencado acima permitirá ao aluno refletir, mais particular-


mente sobre a política social na contemporaneidade. Faz menção so-
bre o conceito de Proteção Social e Cidadania, oportunizando o aluno
uma maior reflexão sobre o tema.

PARA REFLETIR

Reflita e discuta com seus colegas, se o programa Bolsa Família opor-


tuniza ou não a superação das condições de pobreza da população
menos favorecida.
Tema 2
Novos dimensionamentos da
Política Social 83
RESUMO

No conteúdo 2.1, falamos sobre o desenvolvimento, empobrecimento


e novas configurações da questão social, no bojo da revolução indus-
trial de 1930.

No conteúdo 2.2, o presente tema abordou os aspectos da constitui-


ção das políticas sociais no Brasil sob a égide da constituição Federal de
1988. Reflete também sobre o acentuado quadro de contrarreforma do
Estado restringe a universalização dos direitos, à medida que separa a
formulação e execução das políticas sociais nos níveis de governo.

No conteúdo 2.3 falamos sobre a constituição das políticas sociais no


período entre (2004-2010), mais particularmente no governo Lula,
demonstrou que apesar de alguns avanços da política social, o gover-
no continuo com a lógica neoliberal de restrição de direitos da classe
trabalhadora.

No conteúdo 2.4, discutimos a política social no período entre 2010-


2014), que compreende o governo Dilma e discorremos sobre o plano
de governo voltado para o enfrentamento da extrema pobreza no Brasil.
Parte 2
Política SOCIAL,
CIDADANIA E PROTEÇÃO
SOCIAL: HORIZONTES
tema 3
Estado, democracia
e cidadania: conside-
rações sobre os re-
sultados da política
social na cidadania
do brasileiro
Abordaremos neste tema, a participação dos usuá-
rios nas políticas sociais no tocante ao estabeleci-
mento de novas relações entre os gestores, traba-
lhadores e usuários, abordando os mecanismos de
controle social das políticas sociais após a Consti-
tuição Federal de 1988.

Além disso, discutiremos também como se dá a par-


ticipação social no âmbito dos conselhos das políti-
cas sociais que se constituem como mecanismos de
planejamento e fiscalização das ações das políticas
públicas.
3.1
POLÍTICA SOCIAL: DEMOCRACIA E CIDADANIA

A gestão democrática e participativa tem por objetivo romper


com o processo de planejamento vertical e tecnicista existente nas
organizações governamentais. Abrem-se, de tal modo, canais de dis-
cussão e participação mais horizontalizados e compartilhados, por
vezes, sob a forma de colegiado como é o caso dos conselhos de polí-
ticas sociais. Sendo assim, a gestão democrática se materializa como
um processo discursivo que objetiva orientar a gestão pública a tomar
decisões voltadas para as necessidades da população sob a forma de
políticas públicas.

A Constituição de 1988 pode ser considerada como o marco do


movimento de redemocratização do país, pós-ditadura militar. Em seu
teor consta a participação da população através de entidades repre-
sentativas, na formulação, planejamento, gestão, execução e avalia-
ção das ações das políticas públicas.

A atitude cidadã de querer e poder governar ao lado dos seus


representantes legais é uma possibilidade que existe na ordem demo-
crática representativa. Nesse sentindo, é só no governo democrático
sobre os seus mais fortes pilares da participação popular, que pode-se
imaginar o cidadão atuando ao lado do seu representante, no tocante
a elaboração de políticas públicas (BOBBIO, 1996).

A cidadania aparece no texto constitucional de 1988 em dife-


rentes partes e situações, em evidente esforço de recriar a figura do
cidadão e dar a ele um papel protagonista. Logo no artigo 1º vê-se a
cidadania como segundo fundamento da República, após a soberania,
sob pena de não existir o Estado democrático (BRASIL, 1988).
90 Política Social II

De acordo com as análises de Gurgel (2008, p. 8):

Nos Direitos e Garantias Fundamentais, a partir do arti-


go 5º da CF de 1988, seguem-se várias afirmações civis
e políticas, da igualdade entre os sexos à livre manifes-
tação do pensamento e crença, do direito de organiza-
ção, de associação coletiva, bem como o direito de indi-
vidualmente ser governo, pela via da ação popular, para
anular atos lesivos ao patrimônio público, à moralidade,
ao meio ambiente e outras dimensões da vida pública.

A Constituição Federal de 1988, por meio da descentralização


política e administrativa, e ainda com seus marcos regulatórios e jurí-
dicos, impulsionou novas demandas para o planejamento, formulação
e gestão de políticas sociais para as três esferas de governo. De acor-
do com a descentralização política e administrativa, o governo federal
ficou responsável pela coordenação nacional das políticas sociais, o
Estado pela coordenação estadual, cabendo ao município assumir a
maior parte da responsabilidade na execução e gestão de suas polí-
ticas. Além disso, o Governo Federal e os Estados descentralizaram
suas verbas, por meio de cofinanciamento, para os serviços e progra-
mas sociais municipais e, por meio de convênio, quando se tratam de
ações pontuais, específicas e transitórias.

A participação popular na sociedade brasileira não é nova. Além


das referências operárias do início do século e das comissões de fábri-
ca estimuladas pelas oposições sindicais, foi o crescimento dos mo-
vimentos sociais, durante os anos de 1980, e sua complexa relação
com o Estado na luta contra o autoritarismo, que trouxe a temática
dos conselhos populares e comunitários para a esfera da reprodução
social (GONH, 1990; WANDERLEY, 1991).

A participação na elaboração das políticas sociais requer a


tomada de decisões, sejam elas políticas, econômicas e sociais, de
Tema 3
Estado, democracia e cidadania: considerações sobre os
resultados da política social na cidadania do brasileiro 91
forma compartilhada, direta ou indiretamente. A forma indireta
ocorre por meio da democracia representativa, na qual o povo elege
os seus representantes que compõem as Assembléias Legislativas
e as Câmaras de Vereadores, delegando aos parlamentares a defe-
sa de seus interesses. A forma direta se materializa no âmbito dos
sindicatos, conselhos, conferências, etc. Nesse contexto, o cidadão
participa efetivamente das discussões e deliberações das ações das
políticas sociais.

A participação da sociedade civil na gestão pública vem se ob-


jetivando a partir da implementação de inúmeros Conselhos de po-
líticas públicas, da presença em plebiscitos, referendos, audiências.
Além desse tipo de participação, há os instrumentos de planejamen-
to: orçamentos participativos e Planos Plurianuais, Planos Diretores,
entre outros. Nesse sentindo a participação social pressupõe políticas
sociais planejadas de acordo com as necessidades da população usu-
ária, se constituindo assim um campo de lutas sociais.

As demandas por ações de políticas sociais trazidas pelos usu-


ários devem ser priorizadas pelos gestores, uma vez que oportuniza
uma melhor execução das políticas sociais as quais atendam efetiva-
mente os anseios da população.

A municipalização dos serviços demanda um trabalho de ges-


tão, para que a prestação dos mesmos seja bem feita. Como os go-
vernos existem para o povo, é interessante que este se envolva nas
questões políticas e sociais. Assim sendo, a participação popular é
de suma relevância, seja através do voto ou da participação direta na
gestão municipal.

Dentre os diversos espaços de exercício da participação direta


estão os Conselhos de políticas sociais, que, no planejamento e gestão
dessas políticas, exercem um papel fundamental de luta e articulação.
O Conselho, seja ele comunitário ou de políticas públicas, constitui-se
92 Política Social II

em uma forma de participação popular no âmbito da gestão pública


democrática, sendo um espaço de ocupação privilegiado, sobretu-
do dos movimentos sociais organizados. Por meio deles se exercita
a participação social, cuja luta tem sua base na universalização dos
direitos (CARVALHO, 1995).

Os conselhos comunitários são geralmente formados por asso-


ciações de classe, entidades, movimentos religiosos e associações de
bairro, entre outros, voltados para os direitos humanos e cidadania.

Assim os Conselhos são construções criadas para expressar a


opinião popular em seu exercício de cidadania, além de servir como
fiscalização das ações dos governos locais por parte da sociedade civil
organizada. São formas de controle social, nas quais a sociedade exerce
sua cidadania, colaborando com informações acerca da realidade que
vivencia, observando como são solucionadas as demandas sociais.

Desta forma, os Conselhos municipais representam o lócus pri-


vilegiado de identificação das demandas da população, que precisam
ser atendidas para que possam dar maior visibilidade à gestão pública.

Segundo Hora (2014, p. 68):

Assim, os Conselhos tanto podem ensejar políticas so-


ciais, como podem contribuir com as já existentes, no
sentido de fiscalizá-las, servindo de suporte no desen-
volvimento de suas atividades.

Os Conselhos de políticas sociais possuem caráter deliberati-


vo e consultivo, são espaços de negociação, com decisões partilha-
das, que contam com a presença de representações da sociedade e
do Estado. O caráter paritário permite a participação da população,
através de entidades representativas, que interferem na formulação
das políticas sociais, planejamento, gestão, execução e avaliação das
ações dessas políticas nas três esferas estatais.
Tema 3
Estado, democracia e cidadania: considerações sobre os
resultados da política social na cidadania do brasileiro 93
Hora (2014, p 68 ) menciona que:

Apesar do caráter deliberativo formalmente atribuído


aos Conselhos, deve-se indagar se suas decisões se
sintonizam com os interesses da maioria da população,
sobretudo dos setores excluídos, ou se apenas refe-
rendam as decisões do Poder Executivo e dos grupos
que lhe dão suporte. É preciso também analisar de que
modo se efetiva o processo decisório, bem como o pa-
pel de cada representação na discussão e na iniciativa
de proposições.

E ainda Hora (2014, p. 68) diz que:

Para que o Conselho possa ter maior visibilidade na socie-


dade é preciso examinar seu grau de articulação com os
diversos segmentos sociais. Assim, é possível analisar em
que medida os seus componentes discutem previamente
com suas entidades as pautas e proposições das reuniões,
e como dão a elas conhecimento de suas relações.

Em se tratando da escolha dos representantes, as entidades


competem de acordo com o mesmo segmento, como, por exemplo, re-
presentantes da sociedade civil organizada, colocam a disponibilidade
em participar do conselho e os mais votados ganham, repetindo-se
as mesmas pessoas em outros espaços de participação, a exemplo de
congressos e conferências.

De acordo com as análises de Hora (2014, p.69):

Convém pontuar o papel de controle social a ser exerci-


do pelo Conselho, entendido não apenas como mera fis-
calização dos atos do Executivo, mas também enquanto
instâncias propositivas de políticas públicas.
94 Política Social II

Uma das suas atribuições, por exemplo, consiste em fiscalizar


os gastos públicos, avaliar os demonstrativos financeiros, os relató-
rios de gestão, a execução das políticas públicas em prol da melhoria
dos serviços sociais prestados a população..

No tocante ao planejamento orçamentário da gestão pública, a


participação do conselho é primordial na discussão para onde serão
alocados os recursos financeiros das políticas públicas. Conforme Tei-
xeira (2010, p.20), a participação popular está presente em todas as
fases do processo orçamentário das políticas públicas:

a) Na fase de preparação e conexão com o planejamento, cujos


produtos são o PPA e a LDO, em que as bases para a elaboração
das peças orçamentárias são estabelecidas.

b) Na fase de elaboração do orçamento, na qual se estabelece a


previsão de receita e despesa.

c) Na fase de tramitação legislativa, quando o orçamento é


transformado em projeto de lei, momento em que é submeti-
do à análise das comissões/votação de emendas e finalmen-
te deliberação.

d) Na fase da execução orçamentária, quando o orçamento é


posto em prática.

É fundamental que aconteça a avaliação do orçamento público


em uma sociedade democrática. Entretanto, é preciso que haja uma
maior visibilidade e transparência das ações e dos atos do governo,
práticas pouco comuns em nossa tradição político-administrativa.

Para tanto, faz-se necessária uma maior organização e partici-


pação da sociedade, na gestão pública, seja por meio de espaços ins-
titucionalizados, seja por mecanismos não institucionais, a exemplo
Tema 3
Estado, democracia e cidadania: considerações sobre os
resultados da política social na cidadania do brasileiro 95
dos fóruns, comissões, assembléias, comitês, entre outros espaços.
Tais espaços devem contribuir para um maior debate com os gesto-
res públicos no tocante à elaboração, à execução e à condução das
políticas sociais.

Hora (2014, p. 83) diz que:

As demandas emergenciais, neste contexto, podem


impossibilitar o planejamento coletivo em detrimento de
demandas mais particularizadas impostas pelos gestores
das pastas.

23
Essas ações emergenciais, presentes
A totalidade aqui é
no cotidiano profissional, caso não sejam entendida , quando se
trabalhadas com uma compreensão crítica considera um processo
de reflexão conjunta
da realidade nos processos de planejamen- entre as demandas
to de políticas sociais, numa perspectiva de sociais manifestadas
pela sociedade civil e
totalidade23, podem levar a ações que não as demandas da gestão
atendam efetivamente as demandas so- pública.

ciais, ficando no plano do imediatismo.

Ao mesmo tempo, pode-se perceber que ações pontuais e frag-


mentadas das políticas sociais podem impactar, significativamente,
no processo de execução das políticas sociais, comprometendo o que
anteriormente foi programado e pensado pelos usuários e pela socie-
dade Civil no âmbito dos conselhos municipais.

Nesse sentindo iremos abordar mais particularmente no pró-


ximo conteúdo a participação social no âmbito dos conselhos de po-
líticas sociais, principais atribuições e competências na elaboração e
gestão da política pública..
96 Política Social II

LEITURA COMPLEMENTAR

D SILVA, M. L. L. Um novo fazer profissional. In: Capacitação em


Serviço Social e Política Social. O trabalho do assistente social e
as políticas sociais. Brasília, DF: CEAD/UnB, 2000. p. 111-124.

A referida obra permite ao aluno conhecer melhor o trabalho do as-


sistente social nas políticas sociais, sobretudo as suas atribuições e
competências profissionais.

D TEIXEIRA, J. B. Formulação, administração e execução de políti-


cas públicas. In: Serviço Social: direitos sociais e competências
profissionais. Brasília: CFESS/ABEPSS, 2010.

O texto elencado acima, permitirá ao aluno aprofundar o conteúdo


sobre a participação popular no âmbito dos conselhos das políticas
sociais, bem como entender mais particularmente sobre a atuação do
Serviço Social nesses espaços de construção de cidadania.

PARA REFLETIR
É oportuno salientar que o serviço social possui inúmeros espaços
sócio-ocupacionais no âmbito da política social, entre eles podemos
destacar a assessoria aos conselhos de políticas sociais. Nesse sentin-
do elabore um texto explicitando quais as competências profissionais
exigidas ao profissional de Serviço Social atuando no âmbito dos con-
selhos de políticas sociais? Em seguida Compartilhe com os colegas?
Tema 3
Estado, democracia e cidadania: considerações sobre os
resultados da política social na cidadania do brasileiro 97
3.2
OS CONSELHOS DE POLÍTICAS SOCIAIS E O
VIÉS DA PARTICIPAÇÃO POPULAR
O Controle social da política pública se faz mediante a partici-
pação popular no âmbito dos conselhos de políticas públicas que pos-
sibilita o fortalecimento da sociedade civil nesses espaços de pactu-
ação e deliberação. Mas a atuação indiscriminada em conselhos, sem
ancoragem na mobilização social, com a única preocupação de ocupar
espaços, pode levar à reprodução de práticas clientelistas e burocráti-
cas (RAICHELIS, 2002).

Como afirma Yasbek (2008, p.119),

[...] há que se fortalecer o protagonismo dos usuários na


representação política no âmbito dos conselhos rom-
pendo-se com as relações clientelistas e paternalistas e
alcançando assim os principais beneficiários da política
à condição de sujeitos coletivos, sujeitos políticos e co-
-gestores dos serviços sócio-assistenciais.

Hora (2014, p. 70) menciona que:

A problemática a ser enfrentada pelos Conselhos e pela


sociedade organizada é por demais complexa, requer
uma maior qualificação da participação em processos
de formação técnica e política de caráter continuado,
além da priorização de certos espaços que ofereçam
maiores potencialidades de transformação das relações
sociedade-Estado. Podem-se citar como exemplos
desses espaços seminários e audiências comunitárias,
desde que proporcionem debates sobre as políticas pú-
blicas com seus beneficiários.
98 Política Social II

A sociedade civil organizada, além de participar dos Conselhos


de políticas setoriais, passa a participar diretamente da elaboração e
fiscalização das políticas sociais.

Atualmente as experiências quanto à composição dos Conse-


lhos estão presentes nas diferentes políticas sociais, como por exem-
plo: assistência social, saúde, educação, habitação, desenvolvimento
urbano, cultura entre outras áreas. Essa presença representa uma re-
cente arquitetura da gestão pública, sobretudo na relação da socieda-
de civil e do Estado.

A paridade formada pelo poder estatal e pelo povo dá vida aos


Conselhos de políticas sociais, refletindo a importância da participa-
ção popular nas diversas expressões da questão social. Diante deste
contexto, Rua (2009, p. 35) afirma: “[...] nesses novos arranjos há uma
corresponsabilização pela política pública e seus resultados, ainda
que cada participante possa vir a ter papéis diferenciados na imple-
mentação das políticas”.

O Conselho, assim, torna-se um instrumento da gestão pública


fazendo parte do chamado “CPF” (Conselho, Plano e Fundo) e a sua
constituição é condicionante para o repasse das verbas em qualquer
instância de governo.

Além dos Conselhos, outro importante instrumento de partici-


pação popular no planejamento das políticas sociais é o orçamento
participativo. Através dele a população tem a chance de manifestar
quais investimentos em obras e ou em serviços merecem priorida-
des, dentro dos limites orçamentários. Tem sido um meio de debate
de novas estratégias para reduzir a descrença da população acerca da
legitimidade do sistema de representação política convencional, con-
figurando-se como uma importante forma de planejamento e gestão
democrática.
Tema 3
Estado, democracia e cidadania: considerações sobre os
resultados da política social na cidadania do brasileiro 99
Faz-se importante destacar outros mecanismos de controle so-
cial da gestão publica, a exemplo do Ministério Público e do Tribunal
de Contas, os quais têm suas atribuições de fiscalização financeira,
contábil e orçamentária instituídas na Constituição do país.

Os Tribunais de Contas da União e dos Estados emitem um pa-


recer prévio anual sobre as contas públicas. Enquanto isso, o Ministé-
rio Público é uma instituição permanente e essencial que tem, dentre
outras funções, a de fiscalizar os serviços sociais prestados pelas po-
líticas públicas e zelar pelo patrimônio público e social.

Com o objetivo de facilitar o acesso do cidadão às informações


dos órgãos públicos, foi editada a Lei 12.527, de 18 de Novembro de
2011 (Lei da Transparência Social). Essa Lei se configura como um im-
portante instrumento de controle social, já que incentiva o exercício
da cidadania estipulando prazos para a liberação de informações e im-
pondo sanções pelo não fornecimento ou pelo atraso delas.

De acordo com o art.3o dessa lei, uma de suas diretrizes é o de-


senvolvimento do controle social da administração pública.

O controle social, neste contexto, é um instrumento de organi-


zação social e política da administração pública, que pressupõe a parti-
cipação da população, através de entidades representativas, no plane-
jamento, gestão, execução e avaliação das ações das políticas sociais.

O processo de institucionalização da participação social direta


em colegiados de políticas sociais se constitui em campos de lutas.
Esses campos antes emergiam no bojo do movimento dos trabalha-
dores e até mesmo na sociedade civil, mas passaram, na atualidade,
para o espaço das políticas sociais, com a inclusão do poder público.

A sociedade civil organizada, além de participar dos Conselhos


de políticas setoriais, passa a participar diretamente da elaboração e
100 Política Social II

fiscalização das políticas sociais. Isso representa, por um lado, a con-


quista de direitos outrora reivindicados pela sociedade civil organiza-
da, fundamentados em práticas da gestão pública.

Por outro lado, a forma como têm sido implementadas as políti-


cas sociais, ancoradas no pragmatismo tecnocrático, tem colocado em
cheque a participação social no planejamento e gestão das políticas
sociais no Brasil.

Todas essas instâncias de participação contribuem para a cons-


trução de uma gestão democrática, e, como afirma Teixeira (2010,
p.17), é importante porque modifica:

[...] o panorama da relação entre os cidadãos e as ins-


tâncias de decisão e de poder. Isso porque o conceito de
exclusão/excludente não se refere somente a condições
materiais de existência, refere-se também ao exercício
das decisões de políticas globais e setoriais e ao exer-
cício da soberania coletiva. É uma questão de poder, à
qual é preciso a sociedade estar atenta.

Contudo, a gestão democrática, hoje muito difundida, necessi-


ta de uma maior análise no que diz respeito à participação comuni-
tária, pois percebemos ainda a existência de pouca participação dos
usuários da política, seja nos conselhos e conferências, seja nos or-
çamentos participativos, etc. Dados presentes nos relatórios finais de
conferências nos três níveis federados, por exemplo, mostram que a
participação tem sido mais efetiva por parte dos técnicos que são res-
ponsáveis pela execução das políticas públicas.

Podemos assim dizer que a participação social na gestão pú-


blica vem se consolidando, sobretudo, a partir da implementação de
inúmeros Conselhos de políticas públicas. No entanto, a pulverização
e a multiplicação desses espaços democráticos traz uma exigência de
um debate mais amplo frente à fragmentação das demandas sociais.
Tema 3
Estado, democracia e cidadania: considerações sobre os
resultados da política social na cidadania do brasileiro 101
A formulação e gestão de políticas sociais, na contemporanei-
dade, pressupõe uma democratização do espaço estatal público, tor-
nando-se um espaço de discussão da sociedade civil nos processos
decisórios da gestão pública.

Hora (2014, p. 73) menciona que:

Cabe, portanto, aos elaboradores e planejadores da


política, ou seja, aos gestores e técnicos, entre eles os
assistentes sociais, processarem teórica, política e eti-
camente as demandas sociais, dando-lhes vazão e con-
teúdo no processo de planejamento e gestão, orientan-
do sua formatação e execução.

Para tanto, essa participação social não pode se dar de qualquer


maneira. Portanto, faz-se necessária a criação de espaços reflexivos
para a população como seminários, fóruns, grupos de discussão, que
oportunizem esclarecimentos e fomentem proposituras por meio de
uma participação mais crítica.

É importante salientar que não estamos falando de uma partici-


pação tecnicista nos processos de elaboração e gestão de políticas so-
ciais, mas de uma participação que se configure em instrumentos de
lutas por direitos dos usuários e de toda a classe trabalhadora, visando
a um efetivo projeto democrático de sociedade. Sendo assim, a pers-
pectiva da luta aqui discutida se configura como a viabilidade de políti-
cas sociais universalizantes, de responsabilidade do Estado na sua con-
dução e de direito de cidadania, por meio de uma participação popular.

Muito embora, mesmo o Estado adotando um discurso de parti-


cipação social e tendo estabelecido diversos espaços de diálogo social
(sobretudo através dos conselhos e conferências), tenha-se optado
por uma prática de governabilidade que conservou os padrões tradi-
cionais clientelistas da política brasileira.
102 Política Social II

A participação social no âmbito do planejamento de políticas


sociais pode ser direta e/ou indireta (BARBOSA,1979). A primeira se
configuraria como a sua atuação frente ao usuário em qualquer di-
mensão, seja individual, grupal e ou comunitária, ou ainda populacio-
nal, institucional ou organizacional. Já a prática indireta seria aquela
quando o assistente social estivesse atuando ao nível de planejamento
da política social.

As políticas sociais nesse sentindo, devem ser elaboradas de


maneira que contemplem os interesses da coletividade, seja ela pen-
sada no âmbito Federal, Estadual e Municipal..

Por outro lado para efetivação dos direitos sociais, têm-se vários
desafios para sua implementação sob a égide do ideário neoliberal, a
exemplo:

1. Os profissionais executores das políticas sociais, têm que se


comprometerem em romper com as práticas paternalistas,
clientelistas e de tutela do Estado.

2. O governo deve proporcionar os usuários espaços de par-


ticipação social a exemplo de conselhos locais e ouvidorias
públicas.

3. A gestão pública ao elaborar seu orçamento anual, compro-


mete-se em materializar nos instrumentos de planejamen-
to orçamentário, ações que contemplem as demandas dos
usuários.

4. A execução da política esteja em consonância com as nor-


mativas da política pública e não da política partidária.

5. Os espaços de controle social possibilitem de fato as lutas


coletivas em detrimento de lutas individuais.
Tema 3
Estado, democracia e cidadania: considerações sobre os
resultados da política social na cidadania do brasileiro 103
Nesse sentindo ressalto a importância da participação dos usu-
ários na elaboração, fiscalização e gestão das políticas públicas, para
que estas possam se efetivar como política de direito. Contudo, são
necessárias ações que favoreçam e fortaleçam a participação social,
com vistas à universalização de direitos e à imediata melhoria das
condições de vida dos usuários.

Corroborando os resultados de outros estudos e de observa-


ções práticas cotidianas no exercício profissional, pode-se afirmar
que a participação popular, sobretudo dos usuários nos Conselhos de
políticas sociais, tem incidido mais nas ações de implementação das
políticas, ou seja, com atribuições mais de fiscalização do que de ela-
boração e planejamento das mesmas.

A participação dos usuários tem se restringido, basicamente, aos


espaços dos Conselhos das políticas sociais. As experiências na gestão
democrática e participativa não podem ser relegadas apenas ao âmbito
dos Conselhos. É fundamental que outros espaços sejam mais utiliza-
dos (audiências públicas, fóruns, conferências), de forma a legitimar o
planejamento e gestão das políticas sociais de forma mais ampla.

No próximo conteúdo abordaremos mais particularmente a


participação dos usuários no âmbito do Conselhos Municipais, de-
monstrando a importância desse segmento na elaboração e fiscali-
zação das políticas sociais.
104 Política Social II

LEITURA COMPLEMENTA

D CAMPOS, E. B; MACIEL, C. A. B. Conselhos paritários: o enigma


da participação e da construção democrática. Serviço Social &
Sociedade, São Paulo, n. 55, p.143-155.

O artigo proporcionará uma maior compreensão a cerca da constitui-


ção dos conselhos de políticas públicas e ainda como se dá a partici-
pação social nesse colegiado.

D BRAVO, M. I. S.; PEREIRA, P. A. P. Política social e democracia. 2.


ed. São Paulo: Cortez, 2002.

O texto referenciado acima, permitirá ao aluno aprofundar os conteúdos


discutidos no presente tema, com vistas a proporcionar um maior en-
tendimento sobre a participação social no âmbito das políticas sociais.

PARA REFLETIR
Reflita e debata com os colegas como se dá a prática do Assistente
Social no âmbito dos Conselhos Municipais de políticas sociais.
Tema 3
Estado, democracia e cidadania: considerações sobre os
resultados da política social na cidadania do brasileiro 105
3.3
A PARTICIPAÇÃO DOS USUÁRIOS NOS PROCESSOS DE
ELABORAÇÃO E GESTÃO DAS POLÍTICAS SOCIAIS

A participação da sociedade civil na gestão pública vem se con-


solidando a partir da implementação de inúmeros Conselhos de po-
líticas sociais, sobretudo após a Constituição Federal de 1988. A Lei
Maior traz no seu parágrafo único do artigo 1º: “[...] todo poder emana
do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou direta-
mente, nos termos dessa constituição”.

Os Conselhos fazem parte do novo desenho da política so-


cial no país e de seus eixos estruturantes de gestão (Conselho, Plano e
Fundo). Do ponto de vista histórico da sociedade brasileira é bom res-
saltar que os 26 anos que marcaram a criação e implementação dos
Conselhos de gestão pública . De acordo com as análises de Pontual
(2007, p.2) trata-se de:

[...] período relativamente pequeno face à tradição pro-


fundamente elitista e autoritária que sempre marcou a
relação do Estado com a sociedade no Brasil e que tem
no clientelismo o seu fenômeno mais expressivo.

Com o advento da participação popular nos canais de elabora-


ção e gestão das políticas, os Conselhos de políticas sociais passam
a ser os de maior expressão numérica e capilaridade social. Destar-
te, estes meios de participação institucionalizados tornaram-se mais
evidentes a partir dos anos 1990 até a contemporaneidade. Essa ex-
pressividade dos Conselhos, de certo modo, caminhou e caminha na
contramão do que preconiza o ideário neoliberal.
106 Política Social II

Conforme retrata Raichelis (2002, p. 41):

Enquanto no Brasil estávamos aprovando uma Cons-


tituição que incorpora mecanismos democratizadores
e descentralizadores das políticas sociais, que amplia
direitos sociais, fortalecendo a responsabilidade social
do Estado, os modelos de Estado Social entram em
crise no plano internacional, tanto os Estados de Bem
Estar Social quanto o Estado Socialista. E deste proces-
so emerge uma crise mais ampla, que desemboca no
chamado projeto neoliberal e nas propostas de redução
do estado e do seu papel social. Isto vai ter um impacto
muito grande na nossa experiência de democratização
das políticas sociais.

Com a nova gestão intergovernamental entre os três entes fe-


derados e a sociedade civil, criam-se condições objetivas de partici-
pação social, sobretudo dos usuários, no planejamento das políticas
sociais. De acordo com os relatos das entrevistas, a participação dos
usuários tem acontecido por meio das suas presenças nos Conselhos
das políticas.

Tal participação, expressa nos relatos das entrevistas, reforça


o que defende Pinheiro (2008, p.57):

Os Conselhos são formas de participação da sociedade


que diferem de outras, como sindicatos, associações,
movimentos sociais e etc. Diferem na sua forma e con-
cepção, pois apresentam relação mais imbricada à ges-
tão da política, sendo regulamentados por legislação
específica (nacional, estaduais, distrital e municipais),
apresentando portanto institucionalidade diferenciada.
Tema 3
Estado, democracia e cidadania: considerações sobre os
resultados da política social na cidadania do brasileiro 107
Os Conselhos de políticas sociais têm se apresentado como a
principal forma de participação no planejamento e gestão das políticas
em que atuam. Entretanto, sabe-se que estes não se configuram como
o único espaço que permite a efetiva participação social. É importante
que se criem outros canais de participação social na gestão pública,
com vistas ao levantamento de demandas sociais, necessárias para a
sua formulação. Ademais, esses espaços servirão para avaliar e moni-
torar a execução das ações dessas políticas, a exemplo dos fóruns de
discussão da política social, debates e audiências públicas.

Para tanto, essa participação social não pode se dar de qualquer


maneira. Portanto, faz-se necessária a criação de espaços reflexivos
para a população como seminários, fóruns, grupos de discussão, que
oportunizem esclarecimentos e fomentem proposituras por meio de
uma participação mais crítica.

Nesse sentido, a Constituição Federal de 1988 pressupôs não


apenas um repasse de novas responsabilidades para a União, Esta-
dos e Municípios, mas também um aporte estrutural necessário para
a gestão da política social. Esse aporte necessita, portanto, de uma
estrutura financeira, gerencial e de recursos humanos, tendo em vis-
ta que tem por finalidade criar condições objetivas para as suas no-
vas funções. O modelo de planejamento participativo proposto para o
novo desenho da política social deve se pautar na criação de canais de
negociação e pactuação contínua com os usuários, visando ao exercí-
cio do efetivo controle social.

Raichelis (1998 apud PONTUAL, 2007, p.3) apresenta cinco


categorias que, na sua concepção, devem orientar a análise de uma
esfera pública tal como são os conselhos:

a) visibilidade social, na qual as ações e os discursos dos sujeitos


devem expressar-se com transparência não apenas para os
diretamente envolvidos, mas também para aqueles implicados
nas decisões políticas;
108 Política Social II

b) controle social que significa acesso aos processos que in-


formam as decisões no âmbito da sociedade política, o qual
possibilita a participação da sociedade civil organizada na
formulação e na revisão das regras que conduzem as nego-
ciações e a arbitragem sobre os interesses em jogo, além do
acompanhamento da implementação daquelas decisões, se-
gundo critérios pactuados;

c) representação de interesses coletivos, que implica a consti-


tuição de sujeitos sociais ativos, que se apresentam na cena
pública a partir da qualificação de demandas coletivas, em
relação às quais exercem papel de mediadores;

d) democratização, que implica a dialética entre conflito e con-


senso, de modo que os diferentes e múltiplos interesses pos-
sam ser qualificados e confrontados, daí resultando a inter-
locução pública capaz de gerar acordos e entendimentos que
orientem decisões coletivas;

e) cultura política que implica o enfrentamento do autoritarismo


social e da “cultura privatista” de apropriação do público pelo
privado, remetendo à construção de mediações sócio-políti-
cas dos interesses dos sujeitos sociais a serem reconhecidos,
representados e negociados na cena visível da esfera pública.

Para complementar essas informações apresentamos o que Ta-


tagiba e Teixeira (2007, p. 63) argumentam:

[...] os conselhos passam por fases ou momentos dis-


tintos no decorrer de sua trajetória, que se transformam
ao longo do tempo, e [...] esse processo tem implicações
na construção de sua identidade política.
Tema 3
Estado, democracia e cidadania: considerações sobre os
resultados da política social na cidadania do brasileiro 109
Tal argumento nos mostra que o processo da participação po-
pular na gestão pública, sobretudo nos espaços dos Conselhos de po-
líticas sociais, deve levar em consideração o grau de mobilização e or-
ganização dos atores da sociedade civil ali representados. Foi por isso
que as leis posteriores, concebidas após a CF de 1988, impulsionaram
a participação popular nos espaços de planejamento e gestão das po-
líticas sociais (Lei orgânica da Saúde e da Lei Orgânica da Assistência
Social, por exemplo), criando oportunidades de cogestão destas polí-
ticas por meio da participação da sociedade civil.

É importante salientar que é imprescindível planejar as políticas


sociais de acordo com as reais necessidades dos usuários, possibili-
tando assim a formulação, execução e gestão de políticas sociais, que
efetivamente atendam as suas demandas.

É imprescindível a participação dos usuários no âmbito do pla-


nejamento e gestão das políticas sociais, sobretudo no efetivo atendi-
mento das demandas apresentadas por estes. Entretanto, essa parti-
cipação se resume, preponderantemente, ao âmbito dos Conselhos de
políticas sociais. A participação popular deve ser entendida não ape-
nas no âmbito do Conselho, mas deve expressar uma relação entre
trabalhadores, usuários e gestores, tendo em vista uma maior demo-
cratização da política social. Deve fomentar ainda a criação de espaços
democráticos nos serviços socioassistenciais, criando a oportunidade
de os usuários proporem e avaliarem os serviços prestados.

As metodologias participativas no âmbito da elaboração e ges-


tão de uma política social, enfatizam a importância do envolvimento
dos usuários, que podem e devem ensejar direitos universalizantes.
De acordo com as análises de Souza Filho (2011, p.100):

O controle social aqui evocado refere-se à possibilidade


e à capacidade da sociedade civil de participar (lutar por
um determinado projeto social) do processo de formu-
lação, deliberação e fiscalização das políticas públicas,
numa perspectiva democrática.
110 Política Social II

É importante salientar que não estamos falando de uma parti-


cipação tecnicista nos processos de elaboração e gestão de políticas
sociais, mas de uma participação que se configure em instrumentos
de lutas por direitos dos usuários e de toda a classe trabalhadora, vi-
sando a um efetivo projeto democrático de sociedade. Sendo assim,
a perspectiva da luta aqui discutida se configura como a viabilidade
de políticas sociais universalizantes, de responsabilidade do Estado
na sua condução e de direito de cidadania, por meio de uma partici-
pação popular.

Muito embora, mesmo o Estado adotando um discurso de parti-


cipação social e tendo estabelecido diversos espaços de diálogo social
(sobretudo através dos conselhos e conferências), Alguns gestores
optam por uma prática de governabilidade que conserva os padrões
tradicionais clientelistas da política brasileira, a exemplo do planeja-
mento tecnicista sem levar em consideração os anseios da população,
transformando o conselho em um mero instrumento constitucional.

Corroborando os resultados de outros estudos e de observa-


ções práticas cotidianas no exercício profissional, pode-se afirmar
que a participação popular, sobretudo dos usuários nos Conselhos de
políticas sociais, tem incidido mais nas ações de implementação das
políticas, ou seja, com atribuições mais de fiscalização do que de ela-
boração e planejamento das mesmas.

Contudo, são necessárias ações que favoreçam e fortaleçam a


participação social, com vistas à universalização de direitos e à ime-
diata melhoria das condições de vida dos usuários.

Para o profissional de serviço Social faz necessária a apreen-


são de novas habilidades e competências profissionais no âmbito
do planejamento e gestão, para além da necessidade de articulação
intersetorial com as demais políticas sociais nos processos de pla-
nejamento estatal.
Tema 3
Estado, democracia e cidadania: considerações sobre os
resultados da política social na cidadania do brasileiro 111
Surge aqui a necessidade de o profissional entender sobre orça-
mentos públicos e sobre o seu processo de construção e elaboração,
objetivando a alocação de recursos de acordo com o que foi pactuado
e planejado em conjunto com as Secretarias e com os Conselhos de
políticas sociais.

Essa fala da entrevistada corrobora com as análises de Mioto


(2001, p.42), quando mostra que:

[...] esse processo dá visibilidade às ações desenvol-


vidas que há muito são consideradas mera burocracia
institucional, mas que contribuem com a qualidade e
efetivação dos serviços, influenciando as instâncias de-
cisórias e as de gestão e o planejamento das políticas
públicas e das instituições.

Outra habilidade exigida ao profissional de Serviço Social diz


respeito ao conhecimento de processos e sistemas informatizados.
Cabe salientar que atualmente quase todos os processos são informa-
tizados, desde a elaboração da política social, passando pela avaliação
e monitoramento. Os projetos e programas são elaborados e lançados
no Sistema Nacional de Convênios (SICONV) quando se trata, sobre-
tudo, de verbas da União. Essa sistematicidade exige dos profissio-
nais a compreensão destes mecanismos, incorporando, é claro, os co-
nhecimentos adquiridos ao longo do exercício profissional.

Nessa perspectiva, esse espaço sócio-ocupacional pressupõe


uma interlocução com as outras áreas do saber e com outras políticas
sociais. Esse contato é imprescindível, sobretudo, nos processos de
elaboração dos planos, programas e projetos, bem como no acompa-
nhamento dos processos orçamentários. Um exemplo disso é o Plano
Plurianual que agrega o planejamento das diversas políticas públicas,
com metas traçadas para quatro anos, o que pressupõe uma alocação
maior de recursos financeiros.
112 Política Social II

É oportuno lembrar que mesmo que as políticas sociais tenham


um discurso voltado para a garantia de direitos, não podemos esque-
cer-nos da conjuntura atual. Isto é, atualmente, vê-se uma redução do
papel do Estado, sobretudo, no que tange a área social. Isso implica
dizer que o Estado, por vezes, coloca obstáculos na conquista dos di-
reitos sociais, prejudicando uma efetiva participação social no âmbito
do planejamento e gestão de políticas sociais.

Nesse sentindo, abordaremos mais particularmente como se dá


historicamente a relação do Serviço Social com as práticas democrá-
ticas da gestão pública.

LEITURA COMPLEMENTAR
D FARIA, C. F.; SILVA, V. P.; LINS, I. L. Participação e deliberação
nas conferências de saúde: do local ao nacional. In: Conferências
Nacionais: atores, dinâmicas participativas e efetividade. Brasil:
IPEA, 2013.

A obra referenciada acima, permitirá ao aluno refletir sobre os processos


de conferências municipais das políticas sociais.

D GURGEL, C. Gestão Pública Democrática. Revista da Gestão


Pública, Escola de Governo de Estado, Paraná, 2008.

O artigo proporcionará uma maior compreensão a cerca da partici-


pação popular nos processos de planejamento e gestão das políticas
sociais.
Tema 3
Estado, democracia e cidadania: considerações sobre os
resultados da política social na cidadania do brasileiro 113
PARA REFLETIR
As políticas sociais, a exemplo da Política de Assistência Social, só re-
cebem recursos financeiros se tiverem constituídos os conselhos, os
fundos orçamentários e os Planos de ação. Nesse Contexto pesquise
em seu município se existe o plano municipal de Assistência Social,
em seguida elabore um texto contemplando as ações principais que
você identificou no documento. Compartilhe os resultados da pesqui-
sa com os colegas !!!

3.4
O SERVIÇO SOCIAL E ADOÇÃO DAS PRÁTICAS
DEMOCRÁTICAS DAS POLÍTICAS SOCIAIS

Foi a partir de meados da década de 30, durante o governo do


Presidente Getúlio Vargas, que o Brasil adotou o sistema do Estado
de Bem-Estar Social, marcado pela atuação notadamente paternalista
do Poder Público. No referido sistema de governo, o Estado assumiu
um “[...] compromisso com os direitos sociais, a justiça distributiva e
a cidadania”, cabendo-lhe garantir a prestação de serviços públicos e
proteção à população de forma direta.

Como já vimos anteriormente, a adoção do ideário neoliberal,


nos anos de 1990, vários obstáculos foram aparecendo na efetivação
dos direitos conquistados constitucionalmente, sobretudo no que diz
respeito à universalidade do acesso.
114 Política Social II

A política de saúde foi à única que se imbuiu efetivamente do


caráter de universalidade. Já a política de assistência social atribuiu
critérios de elegibilidade e a política da previdência social é contribu-
tiva para o acesso. Nesse sentido possuímos um sistema de proteção
social misto contributivo e não contributivo, que não garante todos
os direitos sociais de forma universal, como estão garantidos pela
Constituição Federal de 1988. De acordo com as análises de Rodrigues
(2007, p.21), nosso sistema de proteção social:

Ainda que limitado às políticas de saúde, assistência


social e previdência, é marcado pela tensão entre uma
lógica contributiva (a do seguro) e uma lógica da cida-
dania (a da assistência), o conceito de seguridade as-
segurado pela Carta Magna previa a construção de um
sistema de proteção social – de caráter público, com
gestão democrática e descentralizada e universalizada
da cobertura e do atendimento – capaz de ampliar os
direitos sociais.

Mesmo neste contexto avesso à consolidação de direitos, o


Serviço Social tenta desenvolver suas ações na defesa de direitos e
na perspectiva da possibilidade da constituição efetiva da seguri-
dade social brasileira pública. Assim, encontra-se na contracorrente
da contemporaneidade, que privilegia, sobretudo, a participação dos
usuários nos processos de formulação de políticas sociais.

Raichelis (2002, p.46) pontua como desafio a efetivação dos di-


reitos da seguinte forma:

[...] uma grande tarefa é pensar estratégias de integra-


ção e articulação entre os conselhos, criar agendas co-
muns e fóruns mais amplos que contribuam para supe-
rar a segmentação das políticas sociais.
Tema 3
Estado, democracia e cidadania: considerações sobre os
resultados da política social na cidadania do brasileiro 115
Também se observa que tais desafios de acordo com Pontual
(2007, p.20) supõem:

[...] uma ampla reforma política que possa aperfeiçoar


os mecanismos da democracia direta e participativa,
mas também introduzir profundas mudanças no siste-
ma político-partidário e eleitoral capazes de remodelar
o exercício da democracia representativa na direção de
práticas republicanas e voltadas no sentido de respon-
der aos legítimos interesses da sociedade fundados nos
princípios da equidade e justiça social e no aprofunda-
mento da construção democrática.

É importante destacar que aqui se quer defender uma segurida-


de social pública que seja universal, democrática, na qual as políticas
sociais se efetivem enquanto garantidoras de direitos de cidadania.
Para Behring e Bosquetti (2011), nesta direção, a cidadania, muito mais
do que um conjunto de direitos materializados pelas políticas sociais,
é um caminho fértil para a construção de uma nova ordem social, com
vistas à formação de uma consciência crítica da classe trabalhadora
que possa lutar contra as desigualdades de classe e em favor de direi-
tos efetivos de cidadania.

Todavia, as conquistas de direitos constitucionalmente adquiri-


dos são frutos de todo o processo de redemocratização do país a par-
tir dos anos de 1980. Essas conquistas contaram com a participação
direta de vários segmentos da sociedade, que hoje estão ameaçados
diante das idéias neoliberais, materializadas no espírito reformista do
Estado, especialmente no campo das políticas sociais.

Dessa forma, como afirma Behring (2007), tais ideais trazem,


na verdade, um caráter conservador, que ela denomina de contrar-
reforma, uma vez que, diferentemente de qualquer proposta revolu-
cionária em seus princípios, tem se preocupado, nos governos Collor,
116 Política Social II

Fernando Henrique Cardoso e Lula, com a adoção e/ou permanência


da política neoliberal. Tal política, voltada para os ajustes fiscais e
mercadológicos, diminui o papel do Estado, imprimindo, neste con-
texto, um distanciamento entre a formulação e a execução da política
social de caráter participativo. Assim, priorizam-se, muitas vezes, seu
planejamento de maneira tecnicista sem envolvimento dos trabalha-
dores em nome da eficácia da gestão pública.

No entanto, o Serviço Social, em seu fazer profissional no âmbi-


to do planejamento, gestão e execução de políticas sociais, deve insti-
gar a participação do usuário como posicionamento político, reconhe-
cendo-os enquanto sujeitos de direitos, oportunizando espaços em
que os usuários possam se expressar e participar dos processos de
elaboração de políticas sociais, ou seja, o assistente social deve buscar
fortalecer o protagonismo dos usuários para que eles possam reivin-
dicar seus direitos.

Diante de um cenário neoliberal, são grandes os desafios pre-


sentes no cotidiano dos profissionais envolvidos no planejamento e
gestão das políticas sociais com vista à participação do usuário. Re-
ferenciadas por um projeto ético-político, que indica o compromisso
com os usuários dos serviços, as falas das entrevistadas demonstram
que há uma preocupação, no seu exercício profissional, com a efetiva-
ção desse compromisso, na medida em que partem da realidade dos
usuários para realizar o planejamento das ações.

Percebe-se que as ações da política social deve está de acordo


com as necessidades dos usuários, mencionando que tais ações se di-
ferenciam de acordo com a localidade. Essas ações materializam-se
sob a forma de serviços, programas e projetos.

Sendo assim, o projeto ético-político dos profissionais de Servi-


ço Social, diante do cenário neoliberal e, consequentemente, as ações
do assistente social no planejamento devem estar voltadas para o
Tema 3
Estado, democracia e cidadania: considerações sobre os
resultados da política social na cidadania do brasileiro 117
compromisso ético com os direitos democráticos e de participação
popular, ou seja, comprometidos com os anseios da classe trabalha-
dora. E, ainda nesse sentido, os parâmetros de atuação profissional
dos assistentes sociais na política de assistência social, CFESS (2013,
p.34) menciona que a atuação do assistente social deve:

Contribuir para o fortalecimento do protagonismo dos/


as usuários/as, portanto exige compromisso político e
profissional com a classe trabalhadora e com as trans-
formações radicais que tenham como projeto a sociali-
zação da riqueza socialmente construída, ao contrário
do que acontece na sociedade atual, com a apropriação
privada da riqueza. Só por esse caminho os/as usuá-
rios/as realmente serão protagonistas de uma história
a favor da classe trabalhadora.

Nesse sentido, percebe-se, que, apesar de os profissionais de


Serviço Social destacarem a importância da participação dos usuários
no âmbito do planejamento e gestão das políticas sociais, esta parti-
cipação só se realiza no âmbito dos Conselhos institucionais. Sendo
assim, tem-se por desafio, para além dos processos de conferências
municipais, a criação de estratégias legítimas de participação social, a
exemplo de audiências públicas comunitárias, fóruns locais nos equi-
pamentos sociais. Em resumo, faz-se necessário que sejam oportuni-
zados outros espaços em que o usuário possa efetivamente reivindi-
car seus direitos.

Os usuários têm o direito de planejar o futuro das políticas so-


ciais de acordo com suas reais necessidades e cabe ao profissional
de Serviço Social contribuir para que sua participação se efetive. A
democratização da coisa pública é condição indispensável para avan-
çarmos nas conquistas que fundamentam a cidadania e que possam
incorporar contingentes cada vez maiores de pessoas no exercício de
uma cidadania real.
118 Política Social II

É importante destacar que os processos de monitoramento


e avaliação das políticas sociais são fatores preponderantes para
um planejamento eficaz, tendo em vista que só se planeja o que se
conhece, ou seja, são os indicadores sociais que retroalimentam o
diagnóstico, seja das condições de vida da população, seja da qua-
lidade da execução dos serviços prestados pelas políticas sociais. O
comprometimento deste setor impacta, significamente, no processo
do planejamento, gerando por consequência, “o apagar fogo”, me-
diante demandas imediatizadas, que por vezes não refletem os anseios
dos usuários.

Nesse sentido todo profissional pode atuar no planejamento e


execução das políticas públicas, como por exemplo um diretor de saú-
de, se não fizer planejamento articulado com as demandas da comu-
nidade, cai por terra tudo que foi programado .

Da mesma forma, os parâmetros que orientam a atuação do as-


sistente social na área da Assistência Social (CFESS, 2013, p.21) indi-
cam as suas atribuições:

[...] elaborar, executar e avaliar os planos municipais,


estaduais e nacional de Assistência Social, buscando
a interlocução com as diversas políticas públicas, com
especial destaque para as políticas de Seguridade
Social [...].

Além disso, os parâmetros indicam a necessidade de que esse


fazer seja realizado com base na análise crítica da realidade na qual
se propõe intervir. Em uma das falas, notamos uma das entrevista-
das demonstrar a necessidade de o profissional de Serviço Social ter
o entendimento sobre planejamento estratégico, uma das formas de
envolvimento direto da população no planejamento e gestão das po-
líticas sociais.
Tema 3
Estado, democracia e cidadania: considerações sobre os
resultados da política social na cidadania do brasileiro 119
Nesse sentido, as competências exigidas do profissional de Ser-
viço Social, no âmbito do planejamento de políticas sociais na con-
temporaneidade, pressupõem o abandono de ações departamentali-
zadas e imediatistas. Isso requer uma compreensão mais totalizante
de determinada estrutura, ou seja, consiste em elaborar políticas so-
ciais de acordo com as necessidades dos usuários, numa perspectiva
reflexiva e dialética. Para que o profissional de Serviço Social possa
assim formular políticas sociais, com vistas a uma transformação da
realidade social, é necessário conhecer o todo social por meio de um
raciocínio crítico e analítico.

Assim, a prática do planejamento para o Serviço Social é uma


de suas competências profissionais. Essa competência deve ser utili-
zada ao se colocar o usuário como sujeito de sua ação, passando-se a
definir ações estratégicas de políticas sociais, que se materializem por
meio de serviços, programas e projetos.

Podemos assim dizer que a atuação do assistente social pressu-


põe ações articuladas aos anseios da sociedade civil, tais ações ense-
jam alguns desafios no campo sócio-ocupacional.

Abordaremos mais particularmente alguns desafios da prática


profissional atuando nos serviços, programas e projetos de políticas
sociais.

a) Identificar as manifestações da questão social advindas das


condições de vida da população usuária como foco do plane-
jamento da política social.

b) Agregar as áreas técnicas, os usuários nos processos de pla-


nejamento e a gestão da política social.

c) Sensibilizar os gestores no tocante à estruturação física e hu-


mana do setor de planejamento e gestão da política social,
demonstrando a sua importância.
120 Política Social II

Essas diversas dificuldades impulsionam o setor do planeja-


mento a traçar estratégias de ações, para que aquilo que foi inicial-
mente proposto não seja inviabilizado.

Cria-se, dessa maneira, uma nova exigência para o profissional


inserido na gestão democrática das políticas sociais, impondo, assim,
a apropriação de conceitos e procedimentos para a atuação profissio-
nal, a exemplo das leituras sobre orçamentos públicos, processos de
licitação entre outros instrumentos de gestão. Isso faz com que o pro-
fissional busque se apropriar de conhecimentos de outras áreas do
conhecimento, a exemplo da Economia e da Administração.

Sendo assim, este campo profissional se mostra interessante,


pois o profissional tem a possibilidade de vislumbrar o impacto de
toda e qualquer ação transformadora no campo social, ou seja, a pos-
sibilidade de gerenciamento da ação do seu inicio até o fim, agregando
a dimensão técnica, operativa e profissional, ético, política e teórico-
-metodológica do Serviço Social. Veremos mais particularmente no
tema seguinte como se dá a gestão da política social no brasil , abor-
dando os aspectos dos indicadores sociais , bem como a atuação do
Serviço Social na gestão das políticas sociais.

LEITURA COMPLEMENTAR
D SILVA, M. L. L. Um novo fazer profissional. In: Capacitação em
Serviço Social e Política Social. O trabalho do assistente social e
as políticas sociais. Brasília, DF: CEAD/UnB, 2000. p. 111-124.

A obra referenciada acima, permitirá ao aluno refletir sobre o trabalho


do assistente social nas políticas sociais, no tocante as suas atribui-
ções e competências profissionais.
Tema 3
Estado, democracia e cidadania: considerações sobre os
resultados da política social na cidadania do brasileiro 121
D BRAVO. M. I. S. O Trabalho do Assistente Social nas Instancias
Públicas de Controle Democrático. In: Serviço Social, Direitos
Sociais e Competências Profissionais. Brasília: CFESS/ABEPSS,
2009.

O texto referenciado acima, permitirá ao aluno aprofundar os conteú-


dos discutidos no presente tema, com vistas a proporcionar um maior
entendimento sobre a atuação do Assistente Social no âmbito das po-
líticas sociais, e sobretudo no planejamento, gestão e execução destas.

PARA REFLETIR
Vimos neste conteúdo à importância da atuação do assistente social
nas instâncias de controle social. Nesse sentindo elabore um texto
explicitando, como o assistente social que atua no âmbito do Con-
selho Municipal de políticas sociais pode possibilitar uma maior par-
ticipação da população nesses espaços de elaboração, gestão e fis-
calização da política social. Em seguida compartilhe suas reflexões
com os Colegas!!
122 Política Social II

RESUMO

No conteúdo 3.1, discutimos sobre a Política Social em seus aspectos


democráticos voltados para a consolidação da cidadania. Nesse sen-
tindo demonstramos que abriu-se canais de discussão e participação
mais horizontalizados e compartilhados, por vezes, sob a forma de co-
legiado como é o caso dos conselhos de políticas sociais.

No conteúdo 3.2 abordamos como se dá a participação popular no âm-


bito dos conselhos de políticas sociais e a importância de envolver a
sociedade civil organizada na elaboração e gestão da política pública.

No conteúdo 3.3 discutiu-se a participação da sociedade civil na ges-


tão pública, e como esta vem se consolidando a partir da implemen-
tação de inúmeros Conselhos de políticas sociais, sobretudo após a
Constituição Federal de 1988.

No conteúdo 3.4 apresentamos como se dá a atuação do Assistente


Social no âmbito do conselho das políticas sociais.
Anotações
tema 4
A Gestão da política
social no Brasil e a
atuação do Serviço
Social
Falaremos nesse tema sobre os novos modelos de
proteção social brasileira , os aspectos do gerencia-
mento das políticas sociais e o desafio da atuação
profissional nas múltiplas manifestações da expres-
são da questão social.

Este tema aborda também a realidade da política so-


cial, descrevendo suas características peculiares no
âmbito tanto da seguridade social, como das políticas
setoriais, sem perder de vista seus condicionantes
histórico-crítico.
4.1
A ADOÇÃO DE NOVOS MODELOS DE
PROTEÇÃO SOCIAL

As políticas sociais estão subordinadas ao ditames da política


econômica, sobretudo em se tratando de países capitalistas , de acor-
do com Chiachio (2006, p.13):

As teorias explicativas sobre a política social não dis-


sociam em sua análise a forma como se constitui a
sociedade capitalista e os conflitos e contradições que
decorrem do processo de acumulação, nem as formas
pelas as quais as sociedades organizam respostas para
enfrentar as questões geradas pelas desigualdades so-
ciais, econômicas, políticas e culturais.

Nos países de economia socialista, em vez de o mercado regular


a economia, quem o faz é o governo. Dessa forma, por meio de uma
programação linear, determinava-se a estrutura e a oferta de bens e
serviços, predominando os interesses da coletividade e a centraliza-
ção das decisões.

Por sua vez, o planejamento econômico em países capitalistas,


de acordo com as análises de Ianni (1996), refere-se a um processo de
acumulação privada de capital, que abrange alguns elementos funda-
mentais a exemplo do capital, força de trabalho, tecnologia e divisão
social do trabalho. Cabe destacar que as forças produtivas não se or-
ganizam, desenvolvem e reproduzem apenas pela ação empresarial
onde operam as dimensões econômicas. Nesse contexto, os empre-
sários maximizam os lucros e competem entre si, o preço do produto
é igual ao custo da produção. Para tanto, os capitalistas ainda contam
128 Política Social II

com a esfera governamental que também é indispensável para a


organização e reprodução das forças produtivas.

Para Behring e Boschetti (2011), os liberais defendiam que o Es-


tado não deveria intervir na regulação das relações de trabalho nem
deveriam se preocupar com as necessidades sociais. Mas age firme-
mente na constituição de um mercado livre na sociedade civil, garan-
tindo assim os ideais liberais do modo de produção capitalista. E ainda
de acordo com as análises de Behring e Boschetti (2011, p. 78):

a) O predomínio do individualismo. Devido os liberais não con-


sidera os sujeitos coletivos e sim os individuais como prota-
gonistas de seus direitos, os direitos civis foram reconhecidos
primeiramente do que até mesmos os direitos políticos e so-
ciais, atendendo assim, aos objetivos liberais, que se caracte-
riza pela não interferência do Estado nas relações comerciais,
fazendo com que surgisse assim a sociedade de classes.

b) O bem estar individual maximiza o bem-estar coletivo. Cada


indivíduo deve buscar o bem-estar para si e sua família por
meio da sua força de trabalho para o mercado.

c) Predomínio da Liberdade e da Competitividade. Entendida


como uma autonomia do sujeito em participar ou não de lu-
tas sociais .

d) Naturalização da miséria. A miséria é entendida como resul-


tado da moral humana e não como resultado do acesso desi-
gual à riqueza socialmente produzida.

e) Predomínio da lei da necessidade. Dentro deste contexto os


liberais defendem a permanência da miséria baseada nas
obras malthusianas, ou seja, as necessidades básicas huma-
nas não devem ser totalmente atendidas.
Tema 4
A Gestão da política social no Brasil
e a atuação do Serviço Social 129
f) As políticas sociais estimulam o ócio e o desperdício. Para os
liberais, o Estado não deve garantir políticas sociais, pois os
auxílios sociais contribuem para reproduzir a miséria, deses-
timulam o interesse pelo trabalhado e gera acomodação, o
que poderia ser um risco para a sociedade de mercado.

g) A Política Social deve ser um paliativo. A pobreza para os li-


berais deve ser minorada pela caridade privada.

No contexto brasileiro até meados do século XX, Draibe


(2000), nos relata que a construção do sistema de proteção social
se constituiu num incompleto e frágil processo que foi incapaz de
reduzir os indicadores de desigualdades sociais e econômicas, ins-
taurando assim uma das mais desiguais estruturas sociais em todos
os aspectos da vida social.

Nesta perspectiva é que se desenrolam várias lutas sociais que


objetivam a intervenção no Estado na prestação de serviços básicos
a população e o atendimento de suas necessidades por meio de polí-
ticas sociais, que são expressões resultantes do processo estrutural
desigual do capitalismo.

O impulso das lutas, segundo Montaño e Durigueto (2011), adi-


vinha das péssimas condições da classe trabalhadora, com jornadas
de trabalho limites, sem descanso semanal remunerado, aposenta-
doria, férias, salário mínimo, condições de moradia para os operários
entre outros.

De acordo com as análises de Montaño e Durigueto, (2011), as


reivindicações giravam em torno de lutas por bens e equipamentos
coletivos necessários à reprodução da força de trabalho e se desen-
volveram no Brasil desde as primeiras décadas do século XX.

Contudo, as políticas sociais públicas deveriam ser pensa-


das, elaboradas e executadas no âmbito do Estado, como resposta
130 Política Social II

a questão social e suas expressões, a exemplo da fome, miséria, de-


semprego entre outros. Sendo assim a questão social se expressa
por situações de desigualdades sociais desenvolvidas pelas relações
sociais do capitalismo contemporâneo. E suas expressões são mani-
festações das relações de disputa pela riqueza social constituída em
nossa sociedade.

Para Jaccoud (2008, p.3),

As políticas sociais fazem parte de um conjunto de


iniciativas públicas, com o objetivo de realizar, fora da
esfera privada, o acesso a bens, serviços e renda. Seus
objetivos são amplos e complexos, podendo organi-
zar-se não apenas para a cobertura dos riscos sociais,
mais também para a equalização de oportunidades, o
enfrentamento das situações de destituição e pobreza,
o combate às desigualdades sociais e a melhoria das
condições de vida da população.

Com a adoção do ideário neoliberal, nos anos de 1990, vários


obstáculos foram aparecendo na efetivação dos direitos conquistados
constitucionalmente, sobretudo no que diz respeito à universalidade
do acesso. A política de saúde foi à única que se imbuiu efetivamente
do caráter de universalidade.

Já a política de assistência social atribuiu critérios de ele-


gibilidade e a política da previdência social é contributiva para o
acesso. Nesse sentido possuímos um sistema de proteção social
misto contributivo e não contributivo, que não garante todos os direi-
tos sociais de forma universal, como estão garantidos pela Constitui-
ção Federal de 1988. De acordo com as análises de Rodrigues (2007,
p.21), nosso sistema de proteção social:
Tema 4
A Gestão da política social no Brasil
e a atuação do Serviço Social 131
Ainda que limitado às políticas de saúde, assistência so-
cial e previdência, é marcado pela tensão entre uma lógi-
ca contributiva (a do seguro) e uma lógica da cidadania
(a da assistência), o conceito de seguridade assegurado
pela Carta Magna previa a construção de um sistema de
proteção social – de caráter público, com gestão demo-
crática e descentralizada e universalizada da cobertura e
do atendimento – capaz de ampliar os direitos sociais.

Mesmo neste contexto avesso à consolidação de direitos, o


Serviço Social tenta desenvolver suas ações na defesa de direitos e
na perspectiva da possibilidade da constituição efetiva da seguri-
dade social brasileira pública. Assim, encontra-se na contracorrente
da contemporaneidade, que privilegia, sobretudo, a participação dos
usuários nos processos de formulação de políticas sociais.

Raichelis (2002, p.46) pontua como desafio a efetivação dos di-


reitos da seguinte forma:

[...] uma grande tarefa é pensar estratégias de integra-


ção e articulação entre os conselhos, criar agendas co-
muns e fóruns mais amplos que contribuam para supe-
rar a segmentação das políticas sociais.

Também se observa que tais desafios de acordo com Pontual


(2007, p.20) supõem:

[...] uma ampla reforma política que possa aperfeiçoar


os mecanismos da democracia direta e participativa,
mas também introduzir profundas mudanças no siste-
ma político-partidário e eleitoral capazes de remodelar
o exercício da democracia representativa na direção de
práticas republicanas e voltadas no sentido de respon-
der aos legítimos interesses da sociedade fundados nos
princípios da equidade e justiça social e no aprofunda-
mento da construção democrática.
132 Política Social II

É importante destacar que aqui se quer defender uma segurida-


de social pública que seja universal, democrática, na qual as políticas
sociais se efetivem enquanto garantidoras de direitos de cidadania.
Para Behring e Bosquetti (2011), nesta direção, a cidadania, muito mais
do que um conjunto de direitos materializados pelas políticas sociais,
é um caminho fértil para a construção de uma nova ordem social, com
vistas à formação de uma consciência crítica da classe trabalhadora
que possa lutar contra as desigualdades de classe e em favor de direi-
tos efetivos de cidadania.

Todavia, as conquistas de direitos constitucionalmente adquiri-


dos são frutos de todo o processo de redemocratização do país a par-
tir dos anos de 1980. Essas conquistas contaram com a participação
direta de vários segmentos da sociedade, que hoje estão ameaçados
diante das idéias neoliberais, materializadas no espírito reformista do
Estado, especialmente no campo das políticas sociais.

Dessa forma, como afirma Behring (2007), os ideais neoliberais


trazem, na verdade, um caráter conservador na elaboração e execução
das políticas sociais, que ela denomina de contrarreforma, estando
presente como vimos anteriormente, nos governos Collor, Fernando
Henrique Cardoso , Lula e Dilma.

A politica neoliberal, volta-se para os ajustes fiscais e merca-


dológicos, diminui o papel do Estado, imprimindo, neste contexto, um
distanciamento entre a formulação e a execução da política social. .

No âmbito governamental, historicamente, houve uma prima-


zia do planejamento econômico em detrimento do social. O foco era o
crescimento econômico independente dos impactos que ele poderia
trazer à população e ao meio ambiente. Centrava-se no aumento do
Produto Interno Bruto (PIB), nos processos de inovação tecnológica,
na ampliação dos parques industriais, entre outros, e se deixava de
lado as preocupações com as condições objetivas do ambiente e nas
Tema 4
A Gestão da política social no Brasil
e a atuação do Serviço Social 133
quais viviam as pessoas, ou seja, o planejamento, nesse aspecto, se
voltava sempre para o crescimento econômico do país.

Em determinados períodos históricos essa questão é ainda


mais acentuada, como bem lembra Fonseca (2006). No período de Li-
beralismo Econômico, por exemplo, no qual se defendia como órgão
regulador do planejamento o mercado, o foco do crescimento dava a
tônica da política voltada, quase sempre, para o padrão de vida das
classes mais altas, com investimentos em produtos de consumo e
bens duráveis para o benefício dessa classe.

Veremos no conteúdo seguinte, como ocorre a gestão da política


social baseadas em indicadores sociais.

LEITURA COMPLEMENTAR
D ALVES, A. A. F. Os atuais processos de avaliação da política de
assistência social no Brasil. Dissertação de Mestrado. Programa
de Pós-Graduação em Serviço Social, Universidade Federal do Rio
de janeiro, Rio de Janeiro. 2007.

O texto referenciado acima permitirá ao aluno o aprofundamen-


to de conteúdo no tocante a configuração dos novos padrões da
política social, sobretudo, a partir dos anos de 1980, com a rede-
mocratização do país e com a adoção do ideário neoliberal pelos
governos democráticos.

D ARANHA, M. L. et. al. Transformações contemporâneas e o traba-


lho do assistente social em Sergipe. Cadernos UFS- Serviço Social,
São Cristóvão, v. 5, n. 4, 2003.
134 Política Social II

O texto mencionado acima, oportuniza ao aluno conhecer os diversos


espaços de trabalho do Assistente Social no Estado de Sergipe , pos-
sibilitando assim traçar um comparativo com a atualidade.

PARA REFLETIR
Reflita e debata junto com os colegas como o Serviço Social, em seu
fazer profissional no âmbito do planejamento e gestão de políticas so-
ciais, deve instigar a participação do usuário nos processos elaboração
de políticas sociais.
Tema 4
A Gestão da política social no Brasil
e a atuação do Serviço Social 135
4.2
ASPECTOS DA GESTÃO DA
POLÍTICA SOCIAL

A Gestão Social de uma política social deve ser entendida como


uma ação gerencial que se desenvolve por meio da pactuação e in-
teração entre a sociedade civil e o poder público nas três esferas de
governo, sobretudo no âmbito dos conselhos das políticas setoriais.
Pressupõe ainda uma gestão compartilhada entre os usuários, as
entidades não governamentais e o poder público.

Entende-se por gestão social, de acordo com as análises de


Carvalho (1999 apud Maia, 2005, p.10), uma ação que:

Relaciona gestão social à gestão das ações públicas,


viabilizadas a partir das necessidades e demandas
apontadas pela população, através de projetos, progra-
mas e políticas públicas, que assegurem respostas efe-
tivas à realidade das minorias.

Entretanto, a efetividade destas ações depende, sobretudo, do


órgão público no tocante ao aumento da capacidade técnica, à criação
de sistemas de monitoramento e à avaliação de políticas, diagnósticos
em fim, tudo isto se manifesta na capacidade da gestão, na captação e
mobilização de recursos financeiros e humanos.

De acordo com as análises de Tenório (1998 apud Maia, 2005,


p.9), gestão social significa:

Conjunto de processos sociais desenvolvidos pela ação


gerencial, em vista da articulação entre suas necessida-
136 Política Social II

des administrativas e políticas postas pelas exigências


da democracia e cidadania para a potencialização do saber
e competência técnica e o poder político da população.

Contudo, não podemos cair no reducionismo que a gestão social


é um simples gerenciamento das ações das políticas públicas, deve-se
ser apresentada de uma forma mais ampla que contemplem a dimen-
são econômica, política e social, requerendo conhecimentos técnicos
e administrativos.

Sendo assim, é importante levar em consideração que as polí-


ticas sociais se apresentam de maneira dinâmica e seus fenômenos
não são estáticos, mas se caracterizam por processos históricos em
constante transformação.

Deste modo, a gestão social, refere-se a uma ação continuada,


envolvendo ações de planejamento, execução, avaliação e monitora-
mento das políticas sociais, objetivando o atendimento das necessi-
dades demandas para a população (ROMERA, 2008).

O planejamento estatal se constitui como uma relevante ferra-


menta de gestão contribuindo, assim, para a construção ordenada de
procedimentos que visam ao alcance de objetivos que, quando deline-
ados em ações, podem levar à construção de caminhos fundamentais
para a resolução de diversas situações.

Barbosa (1979, p.30-31), ao elencar alguns elementos, faz uma


síntese interessante sobre a importância do planejamento:

I) atividade sistematizada, ou aquela que supõe certos


tipos de procedimentos que quando ordenados ga-
rantem um dado método ou caminho metodológico,
guardando sua identificação com um comportamento
científico.
Tema 4
A Gestão da política social no Brasil
e a atuação do Serviço Social 137
II) reflexão crítica que significa não um simples levan-
tar e tabular dados, mas envolve uma análise cuidadosa
dos mesmos, estabelecendo as inter-relações causais.

III) caminhos e alternativas, o que pressupõe que o


planejamento não determina, mas levanta pistas, exa-
mina-as, estudando suas implicações para oferecer o
elenco de opções que vai facilitar a decisão acerca da-
quela alternativa que vier a ser escolhida.

Para Baptista (2010), a atividade de planejar é eminentemente


dialética, uma vez que ela permite que se procurem respostas por meio
de uma ação reflexiva de uma determina situação. Para tanto, é funda-
mental que se estabeleça, em primeiro lugar, a constituição de um diag-
nóstico da realidade; em segundo, a escolha de objetivos e metas a al-
cançar; e, em terceiro, a materialização das ações, numa visão espiral e
processual que corrobora com um processo de reflexão, decisão e ação.

Assim, a visão de totalidade permeia todo o processo do plane-


jamento, pois se trata de possibilitar a transformação de uma realida-
de, cujos problemas existentes refletem, diretamente, na coletividade.
Mesmo quando se tratar de um planejamento mais setorizado ou lo-
cal, a visão do todo tem que ser preservada. Nesse sentido, é funda-
mental o envolvimento de todos os atores na ação.

O planejamento, por ser processual, possui etapas que são in-


terdependentes e correlacionadas, sempre voltadas para o alcance
dos objetivos propostos. Possui características flexíveis, ou seja, o pro-
cesso pode ser revisto de acordo com a necessidade da realidade. Bar-
bosa (1979, p.32-33) mostra as etapas/fases do processo de planejar:

i) Conhecimento da realidade: expressa o processo sin-


crético, analítico e de síntese de conhecer a realidade
social, econômica ou territorial em apreço.
138 Política Social II

ii) Decisão: por certo que o processo de conhecimento


da realidade exige, nos seus mais variados momentos,
decisões.

iii) Ação: entendemos a implantação ou efetivação das


“decisões” tomadas tendo em vista transformar alguma
situação em apreço.

iv) Crítica: sob este rótulo se compreenderá todo o


conjunto de processos ou sub-processos de acompa-
nhamento, controle e avaliação do desempenho de de-
terminadas operações objetivando “realimentar o pro-
cesso decisório tendo em vista a correção dos desvios
ou distorções do processo executivo (ação) na consecução
dos objetivos estabelecidos”.

No processo de planejamento é fundamental conhecer a realida-


de, ou seja, mapear os principais indicadores explicativos da situação
que se deseja transformar, ter o diagnóstico ou cenário da realidade.
Os indicadores podem ser levantados por meio de dados quantitati-
vos, a exemplo das taxas de nascidos vivos, e dos dados qualitativos
coletados com os atores envolvidos no processo.

Além disso, as políticas sociais devem ser desenhadas, levando


em consideração os indicadores sociais de monitoramento e avaliação
social de uma determinada realidade.

Assim, os indicadores sociais servem para traduzir as proble-


máticas sociais da realidade, Possibilitando assim, apontar os cami-
nhos a ser seguidos pelas políticas sociais, ou seja, devem ser consi-
derados na elaboração de objetivos e metas que possibilitem minorar
as expressões da questão social.
Tema 4
A Gestão da política social no Brasil
e a atuação do Serviço Social 139
E ainda de acordo com as análises de Bonadío (2003, p.129) “
[...] compõem a agenda da política social como um referencial indis-
pensável para a definição de prioridades e alocação de recursos”.

Os indicadores merecem a atenção pois, têm a função de pro-


porcionar uma leitura diagnóstica da realidade, que dá sustentabili-
dade aos processos de gestão social. Segundo Jannuzzi (2004, p.11),

Os indicadores sociais passaram a integrar o vocabu-


lário corrente dos agentes políticos responsáveis pela
definição das prioridades das políticas sociais e aloca-
ção de recursos públicos, ganhando relevância na arena
política de discussão.

A utilização dos indicadores sociais pressupõe uma compres-


são maior da dinâmica da realidade, de maneira mais totalizante, ou
seja, expressam as mazelas da sociedade que deverão ser o foco de
elaboração das políticas sociais.

Segundo Jannuzi (2004, p.15),

Os indicadores auxiliam os processos de planejamento,


execução e gestão ( monitoramento e avaliação), sendo
um instrumento operacional para monitoramento da
realidade social para fins de formulação e reformulação
de políticas públicas.

É importante salientar que o monitoramento e a avaliação ten-


do por bases os indicadores, sobretudo socioeconômicos, fazem parte
dos eixos estruturantes das diversas políticas socais, materializam-se
na elaboração e implementação de planos de monitoramento e ava-
liação nos três entes federados como no caso das políticas de Saúde e
Assistência Social, e ainda pela criação de sistemas oficiais de gestão
da informação que possibilitem a mensuração da eficiência e da eficá-
cia das ações prevista nos Planos.
140 Política Social II

Na verdade o que se propõe de fato é que as políticas sociais


sejam avaliadas processualmente, por meio dos sistemas de informa-
ção, monitoramento e avaliação que realmente promovam novos pa-
tamares de desenvolvimento social no Brasil, das ações realizadas e
da utilização de recursos, favorecendo a participação, o controle social
e uma gestão efetiva da política.

O Sistema de Informação, Monitoramento e Avaliação, torna-se


uma ferramenta obrigatória na gestão governamental e caminho ne-
cessário para o acompanhamento, a avaliação e o aperfeiçoamento
dos planos, programas e projetos existentes.

A gestão de políticas públicas correspondem assim, uma ação


que objetiva, de forma sistematizada, mudanças de uma determinada
realidade social. Quero dizer com isso que as políticas públicas não
conseguem ao mesmo tempo intervir ou resolver todas as suas pro-
blemáticas no âmbito da capacidade governamental, por isso tentam
resolver seus problemas por meio da elaboração de planos, progra-
mas e projetos setoriais.

Segundo Cohen (2013, p.86), o plano significa:

A soma de programas que procuram objetivos comuns,


ordena objetivos gerais e os desagrega em objetivos
específicos, que constituíram por sua vez os objetivos
gerais dos programas. Determina o modelo de alocação
de recursos resultantes da decisão política. O plano dis-
põe as ações programáticas em uma seqüência tempo-
ral de acordo com a racionalidade técnica das mesmas e
as prioridades de atendimento.

Entende-se conceitualmente por programa um instrumento


que articula um conjunto de ações (orçamentárias e não-orçamentá-
rias) suficientes para enfrentar um problema, devendo seu desempe-
Tema 4
A Gestão da política social no Brasil
e a atuação do Serviço Social 141
nho ser passível de aferição por indicadores coerentes com o objetivo
estabelecido (BRASIL, 2008-2011, p.43). Por sua vez, “O projeto se
constitui como um empreendimento planejado que consiste em um
conjunto de atividades inter-relacionadas e coordenadas, para alcan-
çar objetivos” segundo a ONU (1984 apud COHEN, 2013, p.85).

Sendo assim, as políticas sociais ganham vida, no tocante a sua


execução por meio da elaboração dos planos, programas e projetos no
âmbito da gestão pública e que necessitam dos processos de geren-
ciamento por meio de ações de monitoramento e avaliação.

O monitoramento consiste em uma ação contínua de verifica-


ção do processo e/ou do resultado de atividades, serviços, projetos e
programas visando suprir as necessidades para o processo avaliativo
e de decisão operacional, gerencial e estratégico. Trata-se de uma prá-
tica que, para além da gestão, constitui-se uma ação que visa garantir
uma maior transparência nas ações das políticas sociais, contribuído,
assim, para uma maior eficácia nos gastos públicos. Nesse sentido, é
um instrumento de planejamento no âmbito das políticas sociais que
potencializa a efetividade, ou seja, o alcance dos resultados das ações
desenvolvidas na medida em que estimula a capacidade de gestão
das ações e o seu acompanhamento direto. O monitoramento tem
como pressuposto a capacidade de avaliar o desempenho dos planos,
programas, projetos e as atividades relacionadas às políticas sociais.

Todavia, a gestão social deve acompanhar a implementação


dos programas, projetos e tem que ser planejada junto com as ações.
Esses dois termos não são sinônimos, cada um tem particularidade
de sentido, metodologias e estratégias que possibilitam medir efetivi-
dade as intervenções de programas e/ou projetos e os serviços, auxi-
liando na tomada de decisões políticas e gerencias.

Neste sentindo, podemos dizer que a avaliação é um conceito mais


amplo e engloba o monitoramento. Para avaliar é preciso monitorar. A
142 Política Social II

palavra avaliação já traz um significado em si mesmo, implica na atri-


buição de um valor ou no julgamento de determinada ação, programa,
projeto e política pública que nos leva tomar posições, formular e re-
formular os programas e projetos.

Para o aprimoramento da gestão, torna-se necessária a padro-


nização dos registros no âmbito dos serviços socioassistenciais, a fim
de que dados nacionais sobre incidência de situações de vulnerabili-
dade e risco possam ser melhores visualizados.

Sendo assim, a sistemática de monitoramento, avaliação e in-


formação proporciona uma maior transparência das ações governa-
mentais e contribui para o aprimoramento das ações de formulação e
execução das políticas públicas.

Veremos mais adiante, como se dá a execução das políticas so-


ciais voltadas para os grupos mais vulneráveis, abordando mais par-
ticularmente a política de habitação..

LEITURA COMPLEMENTAR
D JACCOUD, L. Proteção social no Brasil: Debates e Desafios.
Brasília: IPEA, 2008.

O artigo mencionado possibilitar o aluno refletir sobre a configuração


da proteção social brasileira, identificando as possibilidades e desa-
fios da execução da política social no bojo do sistema capitalista.

D JANNUZZI, P. de M. Indicadores sociais no Brasil: conceitos, fontes


de dados e aplicações. Campinas: Editora Alínea, 2004. p.75-94.
Tema 4
A Gestão da política social no Brasil
e a atuação do Serviço Social 143
O texto referenciado acima permitirá ao aluno compreender mais pro-
fundamente os aspectos da gestão da política social como ferramenta
que possibilita planejar a política social de acordo com as necessida-
des dos usuários.

PARA REFLETIR
Os indicadores sociais servem para embasar a elaboração de diag-
nósticos sociais, refletindo a realidade das condições de vida da po-
pulação brasileira. Nesse sentido elabore um texto respondendo o
seguinte questionamento: Qual a importância dos indicadores sociais
na elaboração e gerenciamento da política pública, no tocante ao en-
frentamento as expressões da questão social? Em seguida comparti-
lhe com os colegas !!! .
144 Política Social II

4.3
A ATENÇÃO ARTICULADA ÀS POPULAÇÕES E GRUPOS
VULNERÁVEIS : A IMPORTÂNCIA DO TRABALHO TÉCNICO
SOCIAL NO PROGRAMA HABITACIONAL

A elaboração e execução do Trabalho Técnico Social passaram


a ser exigência da Caixa na década de 90, a partir daí foi criado o car-
go Técnico Social para os profissionais habilitados para atuar nessa
párea, como os assistentes sociais, sociólogos e pedagogos. Por ter
o assistente social uma formação generalista, e conforme pesquisas,
este profissional tem maior incidência na execução do Trabalho So-
cial. Para Iamamoto, (1997, p. 14), o objeto do Serviço Social está bali-
zado nos seguintes termos:

Os assistentes sociais trabalham com a questão social nas


suas mais variadas expressões quotidianas, tais como os
indivíduos as experimentam no trabalho, na família, na
área habitacional, na saúde, na assistência social pública,
etc. [...] a questão social, cujas múltiplas expressões são o
objeto do trabalho cotidiano do assistente social.

A questão social não é apenas objeto específico do Serviço


Social, o que sendo, destituiria da Questão Social sua abrangência
e magnitude, onde este profissional seria o único a dar respostas
para mudanças e /ou transformações da sociedade. O Assistente
Social na perspectiva analítica da ABESS/CEDEPSS (1995) con-
vive cotidianamente com as mais amplas expressões da questão
social, matéria prima de seu trabalho.

O trabalho técnico Social – TTS na habitação é um componen-


te da Política habitacional, onde se desenvolve como um processo de
Tema 4
A Gestão da política social no Brasil
e a atuação do Serviço Social 145
intervenção em territórios pré determinados, através de ações en-
viesadas em valores subjetivos da democracia e justiça social. Visa a
Transformação Social do referido cenário, bem como a viabilidade da
garantia de direitos sociais, principalmente o direito a moradia, com-
preendido para além da Unidade Habitacional.

Sendo assim, O projeto técnico social fomenta a interlocução da


Política Habitacional com as demais políticas setoriais, o que oportu-
niza um impacto significativo na população beneficiária das unidades
habitacionais.

Um dos programas que executam o TTS é o Minha Casa Minha


Vida, que objetiva garantir pelo menos um dos direitos sociais, o direito
a moradia. Este deve ser compreendido muito mais do que o ganho da
unidade habitacional, mais como meio de garantir proteção social as fa-
mílias e indivíduos que por vezes, que tem a rua como meio de moradia.

Dentre as principais ações deste Projeto Social o acompanha-


mento sistemático dos participantes através de atendimento indivi-
dual e familiar, reuniões de carater informativo e educativo, bem como
ações que visem a concentização de ações acerca dos diferentes direi-
tos sociais e temáticos vivenciados no seu cotidiano .

A população mais vulnerabilizada economicamente e social-


mente são abordados temas relevantes às questões voltadas, por
exemplo: moradia; meio ambiente; segurança alimentar; autoestima;
embelezamento e conservação da propriedade; transporte; seguran-
ça; políticas públicas, entre outros.

Entre seus objetivos estão à promoção das atividades socio


educativas de carater informativo visando o desenvolvimento comu-
nitário, estimular a participação dos mesmos nas ações empreendi-
das com o propósito de assegurar e a melhoria da qualidade de vida
dos benficiários atendidos pelo programa minha casa minha vida.
146 Política Social II

Reforçar o debate acerca dos direitos e deveres do beneficiários com


relação ao empreendimento; Promover as ações sobre educação am-
biental visando o desenvolvimento sustentável da area; Estimular ativi-
dades que promovam educação sanitária, gestão dos residuos sólidos,
saúde preventiva e saúde da família; Promover ações sócio-educativas
voltadas para as violações de direitos e para o fortalecimento dos vín-
culos familiares e afetivos e o processo de organização social.

A sustentabilidade do Trabalho Social está relacionada à capa-


cidade do Gestor Social quando da condução das ações e /ou ativi-
dades do Projeto. A articulação com outros atores sejam eles muni-
cipais, estaduais ou da sociedade civil é de suma importância para o
fortalecimento da comunidade em estreitar os vínculos, onde a mes-
ma continuará se relacionado com as políticas públicas.

Todas as estratégias de ação do projeto devem estar voltadas ao


desenvolvimento comunitário de forma integrada, onde os temas são
relacionados em consonância com os objetivos propostos, e com uma
metodologia baseada na diretriz do desenvolvimento comunitário, de
forma pactuada com a comunidade beneficiária.

A reurbanização de favelas e/ou assentamentos precários não


garantem por si só a resolução do problema que é estrutural. A reali-
dade é bastante complexa e dinâmica, cada iniciativa e ou ação reali-
zada pode produzir resultados diferenciados.

O diagnóstico é linha de base para implementação de políticas


públicas para a comunidade, pretende-se inserir as famílias partici-
pantes nos programas e projetos existentes na rede de serviços so-
cioassistenciais, estratégia de suma importância para viabilidade de
direitos pautados em:

D Foco nas famílias beneficiárias considerando a obrigatorie-


dade do cadastramento dos beneficiários nos programas
sociais do Governo Federal – CadÚnico;
Tema 4
A Gestão da política social no Brasil
e a atuação do Serviço Social 147
D Ter como elemento norteador do Projeto o desenvolvimento
da autonomia da comunidade estimulando a cidadania ple-
na, contemplando direitos e deveres numa perspectiva de
construção da ação pacífica;

D Ter o território como instância articuladora de todo o pro-


cesso a ser desenvolvido;

D Buscar estabelecer o maior número possível de parcerias;

D Alinhar as ações do Projeto com o atingimento dos Objetivos


de Desenvolvimento do Milênio – ODM, focando ações volta-
das ao 3º ODM– Igualdade entre sexo e valorização da Mulher,
e ODM 7 – Qualidade de vida e respeito ao Meio Ambiente.

Falar da atuação do Assistente Social requer avaliar o aspecto


político desta prática, diante disso faz-se necessário analisar as rela-
ções de Estado e Sociedade, para que se possa entender sua totalidade.

Nesse sentido Iamamoto (1997, p. 94) menciona que:

[...] o Serviço Social, como profissão inscrita na divisão


social do trabalho, situa-se no processo da reprodução
das relações sociais, fundamentalmente como uma
atividade auxiliar e subsidiária no exercício do contro-
le social e na difusão da ideologia da classe dominante
junto à classe trabalhadora.

Sendo assim, para compreender o exercício profissional é ne-


cessário considerar as relações entre patrão e empregado, buscando
analisar seus aspectos políticos, econômicos e culturais, concomitan-
te, as dimensões do Serviço Social, sendo esta uma profissão atuante
na intervenção social e técnica do trabalho.
148 Política Social II

É mister considerar que o profissional de Serviço Social têm em


sua ação profissional elementos que preservam os interesses do capi-
tal, mais ao mesmo tempo cria mecanismos de transformação social,
por meio de ações planejadas que impactem positivamente na vida da
classe trabalhadora. Nesse sentido podemos dizer que tal relação “[...]
é essencialmente contraditória e na qual o mesmo movimento que
permite a reprodução e a continuidade da sociedade de classes cria as
possibilidades de sua transformação” (YAZBEK, 2009, p. 128).

Contudo, o trabalho do assistente social deve ser pautado, com


vistas, a garantia de direitos sociais, em que a assistência à população
mais vulnerabilizada socialmente e economicamente, se constituem
como foco principal de sua atuação profissional:

[...] Assim sendo, a prática profissional tem caráter es-


sencialmente político: surge das próprias relações de
poder presentes na sociedade. Esse caráter não deriva
de uma intenção do Assistente Social, não deriva exclu-
sivamente da atuação individual do profissional ou de
seu “compromisso”. Ele se configura na medida em que
sua atuação é polarizada por estratégias de classes vol-
tadas para o conjunto da sociedade que se corporificam
através do Estado, de outros organismos da sociedade
civil, e expressão nas políticas sociais publicas e priva-
das e nos organismos institucionais nos quais trabalha-
mos com Assistentes Sociais (TONDO, 2008, p. 36-37
apud IAMAMOTO, 1997, p. 122).
24
De acordo com a Cartilha 200724, o Cartilha Parâmetros
Serviço Social como profissão vem am- para a Atuação de
Assistentes Sociais
pliando as suas áreas ocupacionais em e Psicólogos (as) na
vários espaços que englobe a questão Política de Assistência
Social. Brasília: CFESS,
social, garantindo a todos os cidadãos 2007.
os seus direitos, a citar: idosos, crianças e
Tema 4
A Gestão da política social no Brasil
e a atuação do Serviço Social 149
adolescentes, grupos étnicos, de gênero que permeiam na sociedade
carregada de preconceitos, dentre outras violações de direitos. Nesse
sentido, as competências e atribuições do assistente social devem es-
tar pautadas nos direitos e deveres previstos no código de ética pro-
fissional e na lei de regulamentação da profissão sendo respeitados
por profissionais e instituições empregadoras, estando estes embasados
através dos seus conhecimentos teóricos e metodológicos.

Concomitante, o Código de Ética, (CFESS, 2013, art. 3º)


apresenta como deveres do assistente social:

Desempenhar suas atividades profissionais, com efici-


ência e responsabilidade, observando a Legislação em
vigor; utilizar seu número de registro no Conselho Re-
gional no exercício da profissão; abster-se, no exercício
da profissão, de praticas que caracterizam a censura,
o cerceamento da liberdade, o policiamento dos com-
portamentos, denunciando sua ocorrência aos órgãos
competentes.

Nesse contexto, o assistente social que atua no planejamento,


gestão e execução da política social, deve romper com as abordagens
tradicionais e conservadoras, pautando o seu trabalho na consolida-
ção dos direitos sociais da classe trabalhadora.

É oportuno salientar a dimensão ética no trabalho social com as


famílias em situação de vulnerabilidade social e econômica, uma vez
que deve ser considerado os interesses coletivos, atendendo assim os
interesses da população, capturando assim as mediações existentes
no cotidiano das famílias beneficiárias dos projetos habitacionais.

De acordo com as análises de Iamamoto (2010), menciona que


no campo setorial da política social a atuação profissional se parti-
culariza, saindo assim das necessidades mais gerais da população,
chegando às demandas mais particularizadas dos usuários.
150 Política Social II

Nesse sentindo afirmam Wellen e Carli (2010, p. 127) ser “pecu-


liar ao marxismo que cada circunstância concreta demande uma mo-
dalidade de análise particular”. Portanto, compreender como o objeto
de intervenção profissional significa que o profissional deve capturar
as mediações necessárias no âmbito da formulação e execução das
políticas sociais em seus diferentes contextos.

Segundo Iamamoto (IAMAMOTO, 2010, p. 9):

(a) a existência de um campo de mediações que neces-


sita ser considerado para realizar o trânsito da análise
da profissão ao seu exercício efetivo na diversidade dos
espaços ocupacionais em que ele se inscreve; (b) a exi-
gência de ruptura de análises unilaterais, que enfatizam
um dos pólos daquela tensão transversal ao trabalho
do assistente social, destituindo as relações sociais de
suas contradições.

É Condição indispensável para, por um lado, que o profissional


se desvincule de práticas assistencialistas e unilaterais na execução
das políticas sociais, atendendo as demandas coletivas e que reflitam
os interesses da classe trabalhadora. De acordo com as análises de
Mota; Amaral ( 1998), faz-se necessário que o assistente social atu-
ando no campo das políticas sociais exercite sua autonomia “ relativa”
teórica, política , técnica e ética, para que não se torne nos termos de
Aquin (2009, p. 156), a “mero braço instrumental”da política social.

Conforme afirma Netto, (1996, p. 124)

[...] no quadro das transformações societárias típicas do


capitalismo tardio, das demandas do mercado de traba-
lho e da cultura profissional, coloca-se a necessidade de
se elaborar respostas mais qualificadas (do
Tema 4
A Gestão da política social no Brasil
e a atuação do Serviço Social 151
ponto de vista operativo) e mais legitimadas (do pon-
to de vista sociopolítico) para as questões que caem no
seu âmbito de intervenção institucional.

Sendo assim o profissional atuando seja na política habitacional


ou demais políticas devem abdicar em seu cotidiano profissional de
práticas imediatizadas de cunho assistencialista, que permita ressig-
nificar a prática profissional e que esta reflita os reais interesses da
classe trabalhadora.

Tal ressignificação da prática profissional, será abordada no


próximo conteúdo, demonstrando como se dá a atuação do profissio-
nal de serviço Social no âmbito do Planejamento e Gestão de Políticas
sociais.

LEITURA COMPLEMENTAR
D CFESS. Parâmetros para a atuação dos assistentes na política
de assistência social. CFESS, 2013.

O documento elencado acima contribuirá para um maior aprofunda-


mento de conteúdo no tocante a atuação profissional do assistente
social, com vistas à garantia dos direitos da classe trabalhadora.

D COHEN, E. Avaliação de projetos sociais. 11. ed. Petrópolis, RJ: Vo-


zes, 2013. Cap. II.

O texto elencado acima contribuirá para um maior aprofundamento de


conteúdo no tocante a avaliação de projetos sociais, destacando como
a avaliação é importante para ressignicar as ações dos projetos sociais.
152 Política Social II

PARA REFLETIR

Ao ocupar os espaços de elaboração e execução de projetos, a exem-


plo do Projeto técnico social, o profissional poderá contribuir para
uma interlocução maior com a sociedade civil, por meio de estratégias
de democratização da coisa pública, fazendo-se necessário contribuir
com o processo de mobilização e organização popular. Nesse sentido
elabore um texto respondendo os seguinte questionamento: Quais as
ferramentas de mobilização e organização social são utilizadas pelo
profissional de Serviço Social atuando na execução de projetos de po-
líticas sociais? Compartilhe com os colegas suas reflexões !!

4.4
O SERVIÇO SOCIAL E AS NOVAS DEMANDAS DE
ATUAÇÃO PROFISSIONAL NO PLANEJAMENTO E
GESTÃO DAS POLÍTICAS SOCIAIS

As três últimas décadas do século XX foram marcadas por pro-


fundas transformações de ordem econômica e social. Conforme men-
ciona Aranha et al. (2003, p.3):

Uma nova ordem mundial, globalização, reestruturação


produtiva, financeirização da economia, acumulação
flexível, novas tecnologias, nova divisão internacional
do trabalho, mutações nos processos, relações e formas
de gestão do trabalho, novas qualificações, novo perfil
do trabalhador [...].
Tema 4
A Gestão da política social no Brasil
e a atuação do Serviço Social 153
No contexto da gestão e organização do trabalho, tem-se um
conjunto de mudanças desencadeadas sob diferentes denominações
(Toytismo, Pós–Fordismo, Neo-Fordismo), cujos reflexos são vistos
no mercado de trabalho internacional e nacional. Flexibilizam-se rela-
ções de trabalho, colocam-se em questionamento e em risco conquis-
tas históricas da classe trabalhadora, intensificam-se processos de
terceirização, ocorre uma instabilidade geral nos postos de trabalho,
tanto pela diminuição destes, fruto de avanços tecnológicos, quanto
pelas novas exigências de qualificação, dentre outros.

No âmbito das relações entre capitais se observa uma rápida


comunicação entre empresas e as bolsas de valores, novas plantas
de fábricas com produção enxuta, baixos estoques, vinculação entre
produção e demanda, ou seja, mudanças estruturais em empresas e
serviços prestados.

Na concepção do papel do Estado, tem-se um ideário reformu-


lado, sob o comando do neoliberalismo que defende o afastamento do
Estado da execução direta de determinados serviços, antes estatais.
Assim, ocorre a diminuição dos gastos públicos em políticas sociais,
enxugamento da máquina pública, adoção de planos econômicos para
conter a inflação, dentre outros.

O Brasil também sofre os efeitos das mudanças mundiais e


mesmo tendo suas particularidades, no geral, acaba adotando as
orientações do ideário neoliberal. Tal ideário impulsiona à diminuição
do Estado no tocante à redução de investimentos em políticas sociais,
estando estas relegadas ao segundo plano, subordinada ao desenvol-
vimento econômico.

Como todo trabalhador, os assistentes sociais sofrem os reba-


timentos dessas mudanças no que tange à precarização, flexibilização
e novas exigências de qualificação e competências, diante da necessi-
dade de inserção e permanência no mercado de trabalho. Nesta pers-
pectiva Iamamoto (1998, p.49) informa que:
154 Política Social II

Alteram-se os requisitos dos processos seletivos para


os postos de trabalho valorizados pelo mercado, acom-
panhado pela globalização. No campo do Serviço So-
cial hoje se exige, por exemplo, um técnico versado em
computação, capaz de acessar as redes de comunicação
on-line, com domínio fluente de inglês etc. [...] Exige-se
um profissional qualificado, que se reforce e amplie a
sua competência crítica, não só no executivo, mas que
pensa, analisa pesquisa e decifra a realidade. Alimenta-
do por uma atitude investigativa, o exercício profissio-
nal cotidiano tem ampliadas as possibilidades de vis-
lumbrar novas alternativas de trabalho nesse momento
de profundas alterações na vida em sociedade.

Essa estudiosa quer mostrar que as alterações verificadas nos


espaços socio-ocupacionais do assistente social têm raízes nesses
processos sociais, historicamente datados. Expressam-se em tais
processos tanto a dinâmica da acumulação, sob a prevalência de inte-
resses rentistas, quanto à composição do poder político e a correlação
de forças no seu âmbito, amarrando os Estados Nacionais, com resul-
tados que denotam retrocesso no âmbito da conquista e usufruto dos
direitos para o universo dos trabalhadores (IAMAMOTO, 2010).

Além disso, como esse profissional atua diretamente na execu-


ção de políticas sociais, ele vai perceber os reflexos das mudanças em
seu cotidiano profissional. Surgem novas exigências e demandas para
o profissional de Serviço Social, na medida em que é chamado para
assumir cargos de gestor público, bem como de planejador de polí-
ticas sociais, para além de agente executor de programas e serviços
sociais. De acordo com as análises de Raichelis (2002, p.5),

O assistente social é convocado a realizar as mais va-


riadas atividades na administração de recursos e imple-
mentação de serviços, considerando a tendência cada
Tema 4
A Gestão da política social no Brasil
e a atuação do Serviço Social 155
vez maior de setorização da política social e a capila-
ridade que os serviços sociais assistenciais assumem
para gerir as demandas do capital e das massas traba-
lhadoras.

O mercado de trabalho do assistente social vem crescendo nos


últimos anos, exigindo do profissional habilidades para a atuação não
exclusivamente na execução das políticas sociais, mas também na
elaboração, planejamento e gestão destas. Podemos destacar algu-
mas áreas de atuação nas quais este profissional vem se inserindo
nos setores de planejamento, em nível macro: assistência social, saú-
de, educação, habitação e gestão de pessoas.

O cenário atual da gestão pública tem contribuído para o aumen-


to da demanda de profissionais de Serviço Social no âmbito da gestão
e planejamento. É perceptível, por exemplo, que os recursos públicos,
especialmente destinados à área social, escasseiam e as demandas por
profissionais que elaborem projetos sociais aumentam. O assistente
social é então acionado para elaborar projetos e programas que auxi-
liem na captação de recursos, de forma a complementar as fontes de
financiamento das políticas sociais existentes já definidos por lei.

Essas demandas geram outras que conduzem para a necessida-


de de uma gestão “eficaz, eficiente e efetiva”, o que leva os assistentes
sociais que atuam no planejamento ao desenvolvimento de diagnósti-
cos, avaliações e monitoramento das ações planejadas. Em todo esse
processo, novas competências são exigidas ao profissional de Serviço
Social, a exemplo da habilidade para realizar leituras de orçamentos
públicos, elaboração de metas, planejamento público, a exemplo do
Plano Plurianual (PPA), Orçamentos Participativos, diagnósticos so-
cioeconômicos, entres outros instrumentos de gestão.

As agências financiadoras têm se voltado para a efetividade


das ações e não apenas para a eficiência e eficácia no cumprimento das
156 Política Social II

metas. O que importa atualmente não é só a utilização de recursos de


maneira adequada, mas se as ações contribuem para uma mudança
na vida das pessoas atendidas. Dessa forma, a área de planejamento,
na qual passar a ser inserido o assistente social, deve se voltar para
a análise diagnóstica da ação financiada, verificando se os objetivos
foram atendidos e se os resultados foram atingidos.

É necessário, portanto, muito mais do que o “achismo”, para o


trabalho realizado pelo assistente social em qualquer espaço sócio-o-
cupacional e na gestão e planejamento de políticas sociais em espe-
cial. É exigida a competência técnica para propor, conduzir e avaliar
intervenções no campo social.

Como afirma Teixeira (2010, p.1),

[...] requisições inéditas são inauguradas nos marcos


da divisão intelectual do trabalho, novas interpelações
são postas, novas respostas profissionais são exigidas,
tanto no campo investigativo quanto no da intervenção,
quer redefinindo funções predominantes nos espa-
ços profissionais consolidados do Serviço Social, quer
abrindo novos espaços no mercado.

E ainda Teixeira (2010, p.2) aduz que,

[...] temos hoje uma grande demanda municipal, esta-


dual e federal em todo o país para o planejamento, a
gestão e formulação de políticas públicas nos marcos
jurídico-políticos da Constituição de 1988, que avançou
na concepção de direitos sociais (no que toca à política
de Seguridade Social com seu tripé: Saúde, Previdência
e Assistência Social).
Tema 4
A Gestão da política social no Brasil
e a atuação do Serviço Social 157
Assim, abrem-se novas possibilidades de trabalho no campo da
formulação, gestão e avaliação de políticas sociais, na elaboração dos
instrumentos de gestão pública, a exemplo da formulação de planos,
programas e projetos sociais. Novas atribuições são requeridas para o
profissional inserido no âmbito do planejamento e gestão de políticas so-
ciais, exigindo assim a apropriação de conceitos e procedimentos para a
atuação profissional, como leituras sobre orçamentos públicos, proces-
sos de licitação e outros instrumentos de gestão. Tudo isso faz com que
o profissional busque outras literaturas das ciências sociais, para além do
Serviço Social, a exemplo das teorias da Economia e da Administração.

Convém destacar que o Serviço Social vem alcançando funções


de comando no âmbito do planejamento e gestão de políticas sociais,
sendo responsável pela elaboração de planos, programas e projetos,
para além da gestão dos serviços e benefícios.

É importante salientar, inclusive, a existência de outros espaços


de trabalho nos processos de planejamento municipal. Entre exem-
plos desses novos espaços da atuação do assistente social, pode-se
citar: a elaboração dos planos diretores de desenvolvimento urbano,
dos fundos municipais, a assessoria e o planejamento das ações dos
conselhos municipais.

A formulação e gestão de políticas sociais, na contemporaneida-


de, pressupõe uma democratização do espaço estatal público, tornan-
do-se um espaço de discussão da sociedade civil nos processos decisó-
rios da gestão pública. Cabe, portanto, aos elaboradores e planejadores
da política, ou seja, aos gestores e técnicos, entre eles os assistentes
sociais, processarem teórica, política e eticamente as demandas sociais,
dando-lhes vazão e conteúdo no processo de planejamento e gestão,
orientando sua formatação e execução (TEXEIRA, 2010).

É oportuno salientar que as necessidades do planejamento go-


vernamental em países subdesenvolvidos se devem a alguns fatores:
158 Política Social II

a) A busca contínua de novos padrões de vida que reflete dire-


tamente na política social e econômica dos países subdesen-
volvidos.

b) A política econômica voltada para o sistema de preços que


demonstrou que, por si só, não provoca uma mudança estru-
tural de sustentabilidade econômica dos países subdesen-
volvidos que atendam as demandas e as necessidades dos
novos padrões de vida.

c) A existência de condições sócio-históricas e conjunturais do


capitalismo liberal, diferentes daquelas que provocaram o
crescimento nos países da Europa Ocidental.

Conforme menciona Kaldor (1969, p.69), “a essência do plane-


jamento é fazer aparecer uma estrutura de utilização de recursos di-
ferente da que surgiria do livre jogo das forças econômicas”. Em meio
a esse contexto é que, após a Segunda Guerra Mundial, os países em
desenvolvimento focaram nos planos desenvolvimentistas, visando a
diminuir seus indicadores de pobreza.

Diante disso, em se tratando de Administração Pública, o plane-


jamento se justifica pela necessidade de correção de possíveis deficiên-
cias sociais e de mercado, sobretudo em países em desenvolvimento,
que, comumente, possuem uma política econômica distributiva e redis-
tributiva injusta, sendo prejudicial para o seu próprio crescimento.

Como afirma Holanda (1983, p.37), o planejamento deve:

[...] antecipar soluções para problemas previsíveis e es-


pecificar as medidas de política econômica necessárias
para remover os obstáculos que limitam o crescimento
da renda e a mudança estrutural da economia.
Tema 4
A Gestão da política social no Brasil
e a atuação do Serviço Social 159
Para tanto, faz-se necessária à existência de uma estrutura or-
ganizacional que seja responsável pela formulação, execução, contro-
le e monitoramento das ações do planejamento e que acompanhe a
máquina administrativa provocando, assim, uma transformação cul-
tural na filosofia do planejamento de Estado.

O governo, neste aspecto, deverá promover as condições ne-


cessárias que possibilitem uma ruptura com os aspectos burocráticos
tradicionais e assegurem uma consecução de objetivos comuns que
proporcionem o desenvolvimento.

Para essa finalidade, é fundamental ter pessoal capacitado e


qualificado para que possa ser realizado um bom diagnóstico, pauta-
do em elementos da realidade social e conjuntural, de forma que sub-
sidie a elaboração de planos de desenvolvimento. Tais planos devem
projetar para o futuro as possibilidades de crescimento de um país,
não só nos aspectos econômicos, mas também sociais.

Nesse contexto, consolida-se um campo sócio-ocupacional que,


apesar de não ser novo, toma novos contornos, a partir das mudan-
ças no planejamento e gestão pública nos três níveis de governo pós-
1988. Daí a importância de, ao atuar na gestão e planejamento das
políticas sociais, o assistente social estimular o exercício do controle e
participação sociais no processo de planejamento estatal. É importan-
te ainda salientar que o controle social propicia uma maior eficiência
e eficácia na tomada de decisões e formulação das políticas públicas.

Nesse sentido, a presente obra procurou abordar a política so-


cial considerando sua dimensão histórica e social articulada aos as-
pectos evolutivos ao longo dos anos. Procurou também refletir criti-
camente como se dá a elaboração, planejamento e o controle social
de uma política social, destacando a importância do atendimento as
necessidades da classe trabalhadora, com vistas a garantia de seus
direitos.
160 Política Social II

LEITURA COMPLEMENTAR

D ARANHA, M. L. et. al. Transformações contemporâneas e o traba-


lho do assistente social em Sergipe. Cadernos UFS- Serviço So-
cial, São Cristóvão, n. 4, v. 5, 2003.

O texto mencionado acima, oportuniza ao aluno conhecer os diversos


espaços de trabalho do Assistente Social no Estado de Sergipe , pos-
sibilitando assim traçar um comparativo com a atualidade.

D ARANHA, M. L. et. al. Serviço Social na contemporaneidade: uma


análise do mercado de trabalho do assistente social em Sergipe.
Caderno UFS- Serviço Social, São Cristóvão, n. 4, v. 5, 2008.

O texto elencado acima proporcionará uma maior reflexão a cerca da


atuação do assistente social no planejamento e gestão das políticas so-
ciais se configurando como um novo espaço de atuação profissional.

PARA REFLETIR
A partir da Constituição Federal de 1988, novos espaços de atuação
profissional no âmbito das políticas sociais foram surgindo, entre
esses espaços o de planejamento e gestão da política social. Nesse
sentido, elabore um texto respondendo o seguinte questionamento:
Quais as atribuições e competências profissionais do assistente social
no âmbito do planejamento e gestão da política social? Compartilhe
com os colegas !!!
Tema 4
A Gestão da política social no Brasil
e a atuação do Serviço Social 161
RESUMO

No conteúdo 4.1 Falamos sobre adoção de novos modelos de Proteção


social, sobretudo pós Constituição Federal de 1988, demonstrando os
aspectos da Contrarreforma do Estado no tocante à refração de direi-
tos da classe trabalhadora.

No conteúdo 4.2 Abordamos os aspectos da gestão da política social,


sobretudo mencionamos a importância da participação popular nos
processos de gerenciamento.

No conteúdo 4.3 Mencionamos como se dá a atuação profissional a


grupos vulneráveis, enfocando a importância do Trabalho Técnico
Social, mais particularmente na política de habitação.

No conteúdo 4.4 abordamos a atuação do profissional de Serviço


Social nos processos de planejamento e gestão das políticas sociais,
como um novo espaço sócio ocupacional.
162 Política Social II

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Anotações
Anotações

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