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ao Setor Público
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Centro Universitário Senac São Paulo – Educação Superior a Distância
Diretor Regional João Francisco Correia de Souza
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Superintendente Universitário Jussara Cristina Cubbo
e de Desenvolvimento Kamila Harumi Sakurai Simões
Luiz Carlos Dourado Katya Martinez Almeida
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Coordenador de Operação Equipe de Design Audiovisual
Educação a Distância Adriana Mitsue Matsuda
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Professor Autor Camila Lazaresko Madrid
Dênis Alves Rodrigues Carlos Eduardo Toshiaki Kokubo
Júlia Furlanetto Graeff Christian Ratajczyk Puig
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Modelos de Gestão Orientados ao Setor
Público
Aula 01
Modelos de Gestão e os Paradigmas da Administração Pública
Objetivos Específicos
• Conhecer a evolução histórica e as principais características dos diferentes
modelos de gestão pública, com ênfase na administração pública brasileira.
Temas
Introdução
1 História da ciência administração pública
2 Administração pública no Brasil
Considerações finais
Referências
Professora Autora
Júlia Furlanetto Graeff
Modelos de Gestão Orientados ao Setor Público
Introdução
A disciplina Modelos de Gestão Orientados ao Setor Público tem como objetivo apresentar
a evolução e as características das reformas do Estado e da administração pública brasileira, a
partir dos principais modelos de gestão orientados ao setor público, com ênfase nos modelos
adotados e nos resultados alcançados no Brasil.
Nesse período, nações novas, como os Estados Unidos, espelhavam-se nos modelos
europeus de constituições e em leis como fundamentos lógicos e necessários para garantir a
nova democracia, contudo os problemas administrativos demostravam que esse arcabouço de
leis e normas não era suficiente. Vale ressaltarmos que nessa época a administração pública
era vista unicamente como uma forma de ordenar o mundo democrático, pois o Estado ainda
não era visto como prestador de serviços (MOTTA, 2013).
Gerencial
Patrimonialista
Burocrático
Para que o Estado atinja sua finalidade (o “bem comum”, equivalente à segurança, à
justiça e ao bem-estar da sociedade) e para que o governo (entendido como “o Estado em
ação”) implemente suas estratégias, seus planos e suas metas e concretize os objetivos do
Estado, é necessário que a administração pública (o aparato do governo) tenha capacidade
operativa, de execução (MATIAS-PEREIRA, 2012).
O modelo patrimonial era guiado pela autoridade tradicional que, de acordo com Motta
e Vasconcelos (2002), é baseada nos costumes e nas tradições de uma cultura. No caso do
modelo patrimonialista, a legitimidade da autoridade dos governantes, como patriarcas e
anciões das sociedades antigas ou senhores feudais, era fundamentada na tradição, tanto a
religiosa quanto a com base em crenças e em costumes sociais.
A confusão entre patrimônio público e privado era a característica que definia o governo
nas sociedades da Idade Média, pois os senhores tinham tradicionalmente o direito de
gerenciar suas posses conforme julgavam melhor. Logo, era comum que os cargos públicos
fossem ocupados por parentes ou amigos próximos ou mesmo que o território fosse
compreendido como posse do Rei.
Em 1881, nos Estados Unidos da América, foi criado o primeiro curso de administração com
o intuito de superar a gestão autocrática e patriarcal. Seis anos mais tarde, Woodrow Wilson,
jurista e estudioso da administração pública que se tornou presidente dos EUA, destacou a
dicotomia – política e administração – e a introdução do estilo privado na gestão pública.
Ao se contemplar a administração pública deslocada da política, incluindo a neutralidade do
servidor, buscava-se aproximar a gestão pública da gestão privada (MOTTA, 2013).
Atualmente, acredita-se que a nomeação para cargos deva ser feita conforme critérios
previamente estabelecidos e adequados às necessidades do cargo em análise. Existem cargos
públicos por nomeação e por concurso público. E essa foi uma das grandes mudanças que o
modelo burocrático trouxe, pois ele pressupõe que as atividades devem ser bem descritas para
que as habilidades necessárias para o desenvolvimento dos cargos possam ser identificadas
nos trabalhadores.
O portal com dados oficiais do governo, conforme a Nova Gestão Pública, é uma prática
cada vez mais comum, e esta é desenvolvida ou implementada com o intuito de ampliar
a transparência das ações públicas e de estimular a participação da sociedade mediante o
monitoramento das decisões tomadas pela esfera pública.
Burocrático
Autoridade Racional-
legal Resultados
tradicional
Normas e Atender a
Público = população
privado regulamentos
Nesse sistema, a autoridade era baseada na tradição ou nos costumes. Para povoar o
território da colônia, o Brasil foi dividido em 15 capitanias hereditárias que foram cedidas a
súditos, comerciantes e pessoas próximas do rei. O objetivo era povoar a terra para que esta
não fosse roubada e para explorá-la comercialmente.
Esse sistema implantado pela corte portuguesa perdurou por muito tempo, e também
foi empregado nas fazendas onde existiam os senhores e os serviçais, e mais tarde os escravos
africanos.
A partir de 1930, sobretudo após a instauração do Estado Novo, toda a estrutura imposta
“pelo alto” desde os tempos imperiais e no correr dos tempos dos barões do café sofreu
uma crise em suas velhas formas de organização política e social. Daí em diante, as decisões
relativas às políticas públicas passaram a depender de negociações com a burocracia central
do governo, especialmente no âmbito do Departamento Administrativo do Serviço Público, o
DASP, criado em 1937. O que era gestado no microcosmo local passou a ser objeto e resultado
de uma conjunção muito mais complexa de fatores e atores sociais.
a. Crise política:
[...] a crise política teve três momentos: primeiro, a crise do regime militar – uma crise
de legitimidade; segundo a tentativa populista de voltar aos anos 50 – uma crise de
adaptação ao regime democrático; e finalmente, a crise que levou ao impeachment
de Fernando Collor de Mello – uma crise moral. (PEREIRA, 1996, p. 3).
b. Crise fiscal ou financeira: caracterizou-se pela perda do crédito público e por poupança
pública negativa;
d. Crise da forma burocrática de administrar um Estado: emergiu com toda a força depois
de 1988, antes mesmo que a própria administração pública burocrática pudesse ser
plenamente instaurada no país.
Segundo Pereira (1996), a resposta da sociedade brasileira aos quatro aspectos da crise
do Estado foi desequilibrada e ocorreu em momentos diferentes. A primeira resposta à
crise política foi em 1985, quando o país completou sua transição democrática; e, em 1988,
consolidou-a com a aprovação da nova Constituição. Já em relação aos outros três aspectos –
a crise fiscal, o esgotamento do modo de intervenção, e a crescente ineficiência do aparelho
estatal –, o processo foi lento e gradual. Somente em 1994, estabilizaram-se os preços
através do Plano Real e foi implementada uma agenda neoliberal, criando-se as condições
para a retomada do crescimento; ao mesmo tempo, empreendeu-se a reforma gerencial da
administração pública brasileira, capitaneada pelo MARE e pelo Ministro Bresser-Pereira.
Considerações finais
Nesta aula, vimos como se deu o surgimento da administração pública e as características
gerais dos principais modelos de gestão implementados desde então: patrimonialismo,
burocracia e gerencial.
Vamos, então, a partir deste estudo, refletir sobre os principais problemas que afetam a
gestão pública evidenciados atualmente na mídia e sobre as soluções propostas nos planos
e programas de governo, verificando a viabilidade de implementação? Você conhece as
propostas que estão sendo feitas recentemente para aperfeiçoar a administração pública
brasileira?
Referências
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm>. Acesso em:
14 abr. 2015.
MATIAS-PEREIRA, José. Curso de Administração Pública. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2012.
PEREIRA, Luiz Carlos Bresser. A administração pública gerencial: estratégia e estrutura para
um novo Estado. Texto para Discussão. Brasília: MARE/ENAP, 2001. Disponível em: <http://
www.enap.gov.br/documents/586010/601535/9texto.pdf/6f1673a4-be8f-4a8b-9002-
df02f779993e>. Acesso em: 28 jul. 2015.
_____. Da administração pública burocrática à gerencial. Revista do Serviço Público, ano 47, v.
120, p. 7-40, jan./abr. 1996.
Objetivos Específicos
• Conhecer a trajetória e as características do modelo patrimonialista no
mundo e no Brasil.
Temas
Introdução
1 Patrimonialismo
2 Patrimonialismo no Brasil
Considerações finais
Referências
Professora Autora
Júlia Furlanetto Graeff
Modelos de Gestão Orientados ao Setor Público
Introdução
Nesta aula, estudaremos o patrimonialismo. O nosso objetivo é conhecer a trajetória e
as características do modelo patrimonialista no mundo e no Brasil.
Nesse contexto, havia uma confusão entre o patrimônio público e o privado, pois tudo
era propriedade do rei e esse costume era aceito pela sociedade como verdade. Isso permitia
que as decisões muitas vezes fossem arbitrárias e que favorecessem algumas pessoas e que
o nepotismo e a corrupção fossem práticas inerentes à gestão.
1 Patrimonialismo
A administração patrimonialista, que caracterizou as monarquias absolutas, confundia
o patrimônio público e o privado. Isso está relacionado ao fato que o Estado era entendido
como propriedade do rei e, sendo assim, este tinha total poder sobre o território e tudo que
o compunha.
reais hierarquias dentro do Estado. Citamos como exemplo os recursos de projetos e demais
apoios financeiros que deputados e senadores fornecem aos candidatos de suas coligações.
Os financiadores, nesse caso, assumem a característica de verdadeiros patrões.
Segundo Weber (2004), cada modelo de gestão pública é legitimado por algum tipo de
autoridade, predominante em uma dada sociedade em determinada época. O patrimonialismo
tinha como autoridade legitimadora a tradicional, que seguia os costumes e valores da
sociedade monárquica predominante na Idade Média até início do século XX. Weber (2004)
definiu três tipos de dominação: a tradicional, a racional-legal e a carismática.
A dominação tradicional tem sua base nos costumes e nas tradições das sociedades
antigas, como um cacique nas sociedades indígenas, por exemplo, ou o poder do senhor
feudal, nas monarquias. Seu poder é legítimo e reconhecido por todos em decorrência de
questões religiosas, crenças ou costumes. Esse tipo de autoridade era predominante nas
sociedades medievais, quando a monarquia era o sistema de governo padrão e concretizava-
se no modelo de gestão patrimonialista.
subjugados prevalece a noção de que tal autonomia não é limitada por forças concorrentes,
o que possibilita o exercício pessoal e arbitrário do poder. Essa configuração social particular
tende a despertar relações de reciprocidade, que não se baseiam na lei e, sim, no costume.
As três formas de dominação definidas por Weber (2004) e os modelos de gestão delas
derivados, sintetizados na Figura 2, podem ser identificados nas organizações públicas ainda
hoje, de forma simultânea, embora haja a predominância de algum tipo sobre os demais.
Tradicional Patrimonialismo
Carismática Carisma
Racional-legal Burocracia
2 Patrimonialismo no Brasil
A administração pública brasileira conviveu com três grandes modelos de gestão, desde
que se iniciou o processo de colonização do país pelos portugueses até os dias atuais. Sua
evolução vai desde o sistema patrimonialista, em que os interesses pessoais confundiam-
se com os interesses públicos; passando pela reforma burocrática, iniciada na década de
1930, que buscou conferir maior impessoalidade, hierarquia e normas mais claras à atividade
estatal; e culminando na introdução de práticas gerenciais oriundas da iniciativa privada
na administração pública, buscando atingir maior agilidade e melhor direcionamento para
resultados do setor público.
O patrimonialismo teve início com o Brasil colônia, passando pelo Império, predominando
até a República Velha (1889-1930).
Na midiateca, está disponível o link com o referido trecho da carta de Pero Vaz de Caminha,
escrita ao rei de Portugal por ocasião da descoberta do Brasil em 1500.
Com a Revolução de 1930 e a ascensão de Getúlio Vargas ao poder, tem início o segundo
modelo da administração pública brasileira, marcado pela Reforma Burocrática. Esse período
estendeu-se até a década de 1990, quando ocorreu a Reforma Gerencial, em 1995. Foram
inseridos na administração pública brasileira, nesse período, elementos gerenciais da Nova
Gestão Pública. Note que, embora seja preservada, em grande medida, a estrutura burocrática
weberiana, ainda ocorrem práticas patrimonialistas típicas das oligarquias.
Esses traços culturais são tratados nas próximas seções desta aula, após um breve
relato histórico da colonização do Brasil, a fim de identificarmos os eventos que marcaram e
instituíram o modelo de gestão patrimonialista no Brasil.
possuía plenos poderes. Entre 1572 e 1578, o Rei Sebastião instituiu dois governos, um ao
norte, com sede em Salvador, e outro no Rio de Janeiro. O objetivo era tornar a administração
mais eficiente; porém, diante de resultados insatisfatórios, foi retomado o regime anterior,
mantendo única sede em Salvador, e, assim, permaneceu até 1808 quando Dom João chegou
ao Brasil (HOLLANDA, 1995).
0º
Capitania de João Barros e Aires da Cunha (MARANHÃO)
Oceano
Atlântico
30º
De acordo com Sorj (2001 apud LESCURA; FREITAS JR; PEREIRA, 2010, p. 5):
Paula (2005 apud LESCURA; FREITAS JR; PEREIRA, 2010, p. 5-6), destaca que:
trás”. Contudo, o malandro brasileiro pode se apresentar como uma figura simpática (MOTTA,
2003).
Cukier (2015, s.p.) destaca que o patrimonialismo não é um problema exclusivo do Brasil
e muito menos um desafio contemporâneo:
O termo clássico foi inclusive substituído pela sua versão moderna. Nem mesmo
os ditadores mais corruptos acreditam – como reis e sultões acreditavam – que
são literalmente donos do estado, e podem fazer tudo o que desejam. Por isso, o
patrimonialismo evoluiu para neopatrimonialismo, um estado com uma aparência
estrutural externa convencional – com instituições, sistema legal, eleições e outros –
mas internamente governado por interesses privados.
Considerações finais
Em resumo, o patrimonialismo caracteriza-se pelo caráter personalista do poder, pela
lógica subjetiva e casuística do sistema jurídico, pela irracionalidade fiscal e pela tendência à
corrupção do quadro administrativo (CAMPANTE, 2003).
Por fim, sugerimos que você reflita sobre estas questões: quais práticas patrimonialistas
podem ser verificadas, ainda hoje, ocorrendo na gestão pública brasileira? E como essas
práticas poderiam ser combatidas?
Referências
CAMINHA, Pero Vaz. Carta escrita ao rei de Portugal por ocasião da descoberta do Brasil
em 1500. Disponível em: <http://www.zaz.com.br/voltaire/500br/carta_caminha.htm>. Acesso
em: 28 jul. 2015
CUKIER, Heni Ozi. Patrimonialismo: o desafio político. Revista Exame, 26 fev. 2015.
Disponível em: <http://exame.abril.com.br/rede-de-blogs/risco-politico-global/2015/02/26/
patrimonialismo-o-desafio-politico/>. Acesso em: 28 jul. 2015.
HOLLANDA, Sérgio Buarque. Raízes do Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 1995.
PAULA, Ana Paula Paes de. Por uma nova gestão pública: limites e potencialidades da experiência
contemporânea. Rio de Janeiro: FGV, 2005.
PEREIRA, Luiz Carlos Bresser; SPINK, Peter Kevin (Org.) A reforma do estado e a administração
pública gerencial. Rio de Janeiro: FGV, 2001.
SORJ, Bernardo. A nova sociedade brasileira. 2. ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2001.
LESCURA, Carolina; FREITAS JR, Dionysio Borges; PEREIRA, Roberto. Aspectos culturais
predominantes na Administração Pública Brasileira. In: ENCONTRO MINEIRO DE ADMINISTRAÇÃO
PÚBLICA, ECONOMIA SOLIDÁRIA E GESTÃO SOCIAL II EMAPEGS, 2., Viçosa. Anais eletrônicos...
Viçosa: Universidade Federal de Viçosa, 2010. Disponível em: <http://www.emapegs.ufv.br/
docs/iiemapegsufv.pdf>. Acesso em: 28 jul. 2015.
Objetivos Específicos
• Conhecer as características do modelo burocrático weberiano, a trajetória de
sua implementação no mundo e no Brasil e compreender suas disfunções e
desafios e a convivência com os demais modelos de gestão.
Temas
Introdução
1 Modelo burocrático weberiano
2 Características do modelo burocrático
3 Trajetória do modelo burocrático
Considerações finais
Referências
Professora Autora
Júlia Furlanetto Graeff
Modelos de Gestão Orientados ao Setor Público
Introdução
Nesta aula, serão apresentadas as características, as vantagens e disfunções e a trajetória
de implementação do modelo burocrático de gestão no mundo e no Brasil.
Para Weber, a burocracia é um sistema que estabelece uma ordem estável e duradoura
entre os aspectos de uma organização de forma a garantir a cooperação de um grande
número de sujeitos, sendo que cada um, conforme as suas habilidades, desempenha uma
função específica (MOTTA; VASCONCELOS, 2002).
Tradicional:
mitos, costumes
e tradições
Processo de
modernização
Carismática:
processos Racional-Legal:
identificatórios regras, normas e
grupais, líder, direitos e deveres.
qualidades pessoais
a lei é válida e reconhecida como obrigatória pelos cidadãos dessa comunidade. Esse tipo de
autoridade é impessoal, ou seja, o indivíduo deve obedecer às regras e normas estabelecidas
pela autoridade competente, independentemente de quem seja. Nesse modelo, de acordo
com Motta e Vasconcelos (2002, p. 15), “[...] o clientelismo, os benefícios e favores com base
em relações pessoais passam a ser mal vistos dentro da lógica burocrática”. Cada sujeito deve
assumir e desempenhar as suas funções conforme sua habilidade e o conjunto de regras e
normas que compõe seu cargo.
Diretoria
Gerência média
Operacional
Tipo ideal de
Conhecimento Ação Humana Realidade
Burocracia
sistema racional,
instrumento que busca
pré-estruturada, mas
aprender objetivamente construção de organizar, de forma
não determinada.
a significação das significados estável e duradoura, a
Crenças e valores do
intenções do outro a compartilhados pelos cooperação humana
indivíduo influenciam
partir de suas condutas. atores oficiais. para o atingimento de
suas condutas.
objetivos explícitos e
formalizados.
• Existe um sistema de regras que rege os direitos e os deveres dos membros do sistema.
Análise de
processos
Evita-se o Lógica
clientelismo cientíifica
Burocracia
Isomorfismo,
Ética
expansão e
profissional
comércio
Formalização,
competências
De acordo com Pereira (1996), a administração pública burocrática clássica foi adotada
porque era uma alternativa muito superior à administração patrimonialista do Estado. Contudo,
seu ideal de excelência não se concretizou de forma satisfatória, pois não assegurava rapidez,
qualidade ou custo baixo para o serviço público. Sendo assim, na mudança do Estado Liberal
para o Estado Social entre os séculos XIX e XX, houve a necessidade de novas mudanças no
modelo de gestão pública, concretizadas com a reforma gerencial, tema de outra aula.
Motta (1991) assevera que a sociedade moderna foi formada por sociedades burocráticas
submetidas à ordem do Estado, o qual, por sua vez, também é uma organização burocrática;
sendo assim, transformou a vida em sociedade em muitos aspectos, tais como: a maior parte
da população ser assalariada, a formação de hierarquias dos cargos dentro das organizações
e o poder de compra associado ao trabalho.
Como indicação sobre o assunto, escolhemos o filme: Brazil – O Filme: aquarela burocrática,
de Terry Gilliam. A história se desenvolve a partir de uma falha de digitação (quando se trocou
a letra T pela B), fazendo com que o departamento de repressão do governo aprisionasse um
simples sapateiro, acusado de terrorismo contra o sistema.
Ao contrário do que possa parecer, “Brazil” leva esse nome, porque é embalado pela
música “Aquarela do Brasil”, de Ary Barroso, mas a trama não tem ligação direta com imagens
brasileiras, a não ser pela burocracia, que é universal. Acesse o link na midiateca para saber
mais sobre o filme.
Considerações finais
Nesta aula, compreendemos que a burocracia faz parte do estruturalismo e seu principal
objetivo foi estabelecer uma lógica de eficiência e eficácia dentro das organizações, bem
como permitir a comparação entre as organizações.
Uma questão para reflexão: em sua opinião, por que a expressão “processo burocrático”
é tão comumente utilizada para descrever serviços prestados por órgãos públicos?
Referências
MOTTA, Fernando. O que é burocracia. 13. ed. São Paulo: Brasiliense, 1991.
PEREIRA, Luiz Carlos Bresser. Da Administração pública burocrática à gerencial. Revista do Serviço
Público, ano 47, v. 120, p. 7-40, jan./abr. 1996. Disponível em: <http://www.bresserpereira.org.
br/papers/1996/95.AdmPublicaBurocraticaAGerencial.pdf>. Acesso em: 6 jun. 2015.
Objetivos Específicos
• Compreender os fatores que condicionaram a crise do Estado e a necessidade
de reforma, conhecer os conceitos e as diretrizes do gerencialismo, as
características específicas da administração pública gerencial e do governo
empreendedor e a trajetória da reforma gerencial no Brasil.
Temas
Introdução
1 A reforma do Estado como questão central
2 A administração pública gerencial
3 Reformando a estrutura do Estado brasileiro
Considerações finais
Referências
Professora Autora
Júlia Furlanetto Graeff
Modelos de Gestão Orientados ao Setor Público
Introdução
Nesta aula, analisaremos os fatores que condicionaram a crise do Estado e suscitaram a
necessidade de reforma, além de compreender como se deu a reforma gerencial no Brasil,
modelo que vem sendo incrementado e aperfeiçoado até os dias de hoje.
De acordo com Pereira (1996), as demandas da população podem ser superiores aos
recursos disponíveis dos Estados. Essa era a situação a partir da década de 1970, que deu
origem às propostas da nova gestão pública, impondo mudanças estruturais no modelo de
administração burocrática e na própria democracia.
De fato, a grande crise do Estado nos anos 1980 (composta pela crise fiscal, pela crise do
modo ou das estratégias de intervenção estatal e pela crise da forma burocrática pela qual o
Estado era administrado) tornou-se um evento crítico que abriu uma “janela de oportunidade”
para a implementação de reformas do Estado no mundo e, em particular, no Brasil.
privatização. Essas medidas tinham como objetivo aproximar a forma de gestão do serviço
público à gestão do capitalismo contemporâneo, possibilitando a intervenção dos governos
para correção de falhas no mercado.
Reduzir o tamanho
Ajuste Mudança
do Estado e
estrutural promover o ajuste
fiscal
Democracia
participativa com
Democracia Mudança canais de
participação direta
3. O governo deve ter foco nos seus objetivos e flexibilizar a estrutura burocrática que
dificulta o seu desempenho;
5. O governo deve orientar-se para o cliente, ou seja, o cidadão, focando nas necessidades
deste;
Assim, a administração pública gerencial surgiu para tornar a administração pública mais
eficiente e, também, ser um instrumento de controle contra a corrupção.
O compromisso com a avaliação dos resultados foi a base essencial do movimento global
de reforma gerencial do setor público. As avaliações de desempenho procuram determinar
a eficiência com que uma agência de serviços públicos consegue alcançar seus objetivos e as
metas dos programas. Nesse contexto, torna-se clara a importância do cidadão-consumidor
que anseia por Estados melhores, menos onerosos e mais responsáveis.
cargos públicos para os dirigentes dos partidos vitoriosos, além de ocorrer em um período de
enorme crise fiscal do Estado.
Segundo Pereira (1996), essa crise definiu-se como uma crise fiscal, uma crise do modo
de intervenção do Estado, uma crise da forma burocrática pela qual o Estado é administrado,
e, em um primeiro momento, também como uma crise política:
a. Crise política:
[...] a crise política teve três momentos: primeiro, a crise do regime militar – uma crise
de legitimidade; segundo a tentativa populista de voltar aos anos 50 – uma crise de
adaptação ao regime democrático; e finalmente, a crise que levou ao impeachment
de Fernando Collor de Mello – uma crise moral. (PEREIRA, 1996, p. 3).
Ainda de acordo com o autor, a resposta da sociedade brasileira aos quatro aspectos
da crise do Estado foi desequilibrada e ocorreu em momentos diferentes. A resposta à crise
política foi a primeira: em 1985, o país completou sua transição democrática; em 1988,
consolidou-a com a aprovação da nova Constituição Federal.
Para saber mais sobre esse assunto, sugerimos a leitura do Plano Diretor da Reforma do
Estado através do link disponível na Midiateca.
Para Bresser Pereira, autor das reformas, a administração pública gerencial demandava
uma estrutura reformada, por meio da descentralização e da delegação da autoridade,
definindo claramente os setores em que o Estado opera, as competências e a modalidade
de administração mais adequadas a cada setor. Diante disso, ele distinguiu quatro setores
existentes nos Estados Modernos: o núcleo estratégico, as atividades exclusivas, os serviços
não exclusivos e a produção de bens e serviços para o mercado.
no domínio dos serviços não exclusivos, o regime seria de propriedade pública não estatal;
nesses casos, o interesse era público, mas o aparelhamento não seria do Estado, mas sim da
iniciativa privada.
Pública
Estatal Privada Burocrática Gerencial
(Não estatal)
Núcleo estratégico
Legislativo, Judiciário,
Presidência, Cúpula dos
Ministérios, Ministérios
Públicos.
Atividades Exclusivas
Regulamentação,
Fiscalização, Fomento,
Segurança Pública,
Seguridade Social Básica
Serviços Não Exclusivos
Universidades, Hospitais, Publicização
Centros de Pesquisa,
Museus
Produção para o
Mercado Privatização
Empresas Estatais
O governo FHC formulou suas ações a partir de cinco medidas orientadoras, de acordo
com Matias-Pereira (2008). A primeira medida considerava o problema da crise no Estado e
da administração burocrática. A segunda foi a construção do Estado regulador. A terceira foi o
descolamento entre planejamento e gestão, por meio de um plano de adequação do Estado
(Plano Diretor – PD) não atrelado a metas de desenvolvimento (Plano Plurianual – PPA 2000-
2003). A quarta foi o ajuste fiscal. E a quinta representa os princípios de desestatização.
Para Matias-Pereira (2008), a reforma não foi mais efetiva pelo baixo envolvimento
dos atores, PD e PPA, e também porque houve uma fragmentação na sua política de gestão
prevalecendo o ajuste fiscal.
Considerações finais
Nesta aula, analisamos os fatores que condicionaram a crise do Estado e provocaram
a necessidade de reforma, além de entendermos como aconteceu a reforma gerencial no
Brasil, a qual continua atualmente.
Referências
BRASIL. Decreto Lei nº 200, de 25 de fevereiro de 1967. Dispõe sobre a organização da
Administração Federal, estabelece diretrizes para a Reforma Administrativa e dá outras
providências. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 27 fev. 1967. Disponível em: <http://www.
planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del0200.htm>. Acesso em: 28 jul. 2015.
PEREIRA, Luiz Carlos Bresser. A administração pública gerencial: estratégia e estrutura para um
novo Estado. Texto para discussão 9. Brasília: ENAP, 2001. p. 1-22.
______. A Reforma do Estado dos anos 90: lógica e mecanismos de controle. Lua Nova, n.
45. Brasília: Ministério da Administração Federal e Reforma do Estado, 1997. Disponível em:
<http://www.bresserpereira.org.br/papers/1998/A_reforma_do_Estado_dos_anos_90.pdf>.
Acesso em: 28 jul. 2015.
Objetivos Específicos
• Aprofundar o conhecimento acerca das características da Nova Gestão
Pública e compreender os desafios da sua implementação.
Temas
Introdução
1 Nova Gestão Pública (NGP)
2 Foco no cidadão
3 Nova estrutura da gestão pública para o século XXI
Considerações finais
Referências
Professora Autora
Júlia Furlanetto Graeff
Modelos de Gestão Orientados ao Setor Público
Introdução
Nesta aula, analisaremos algumas características e alguns aspectos que norteiam a
nova gestão pública, bem como os desafios que a gestão pública brasileira enfrenta para
implementar as diretrizes dessa reforma.
No Brasil, a nova gestão pública foi iniciada com a criação do Ministério Administrativo
da Reforma do Estado (MARE) e abrangeu diferentes aspectos da gestão, por exemplo,
aspectos estruturais do governo, como a implantação de mecanismos de governança, criação
das agências executivas e reguladoras com objetivo de descentralização e a proposição de
parcerias público e privadas, por meio da criação das organizações sociais, entre outros.
A NGP buscava mitigar os efeitos indesejados do modelo burocrático e dos traços culturais
herdados do patrimonialismo. Sendo assim, essa gestão visava a ampliar a flexibilidade, dar
ênfase em resultados, atender o cidadão e desenvolver mecanismos de controle social. Assim,
também procurou se apropriar de práticas da economia privada com um aspecto de grande
diferenciação, que é a defesa dos interesses do cidadão.
Nesse modelo, o centro deixou de ser a própria estrutura do governo para passar a olhar
as necessidades dos cidadãos e a moldar a sua estrutura de forma que passasse a atender
às necessidades do público. Diante disso, teóricos da área passaram a afirmar que ela possui
um caráter mais democrático, ou nas palavras de Coutinho (2000, p. 41): “Vale notar que o
caráter mais democrático da nova gestão pública faz referência exatamente à sua orientação
ao público, além da participação dos cidadãos e controle social da gestão”.
Essa mudança do foco de atenção para o cidadão teve origem na crescente insatisfação
da população e da conscientização desta sobre a ineficiência do governo, bem como no
processo de democracia que foi educando a população para se tornar mais participativa e
exigir os seus direitos.
Para tantas novas formas de relações organizacionais que foram sendo desenvolvidas,
a Tecnologia da Informação desempenhou um papel muito importante em áreas como
transparência, prestação de contas e governança.
Pereira (2002, p. 19) traz uma afirmação que resume as ações da NGP no Brasil:
Outro ponto importante implantado a partir da NGP foi a criação de três instituições, as
quais foram as agências executivas, regulativas e as organizações sociais, com o objetivo de
descentralizar as ações do governo de forma que ele pudesse focar nas atividades estratégicas,
do Núcleo Estratégico, e que pudesse compartilhar as atividades concernentes ao setor de
atividades exclusivas e intransferíveis do governo (BRASIL, 1997).
Setor de Atividades
Núcleo Estratégico Exclusivas
Presidência,
Ministérios, Poder No qual são
Executivo e implementadas as
Legislativo e políticas públicas
Ministério Público
Nesse sentido, o ponto central era a busca por eficiência, com relação aos funcionários
e a suas responsabilidades, à definição dos objetivos organizacionais, e, por fim, a uma maior
consciência sobre os gastos públicos e as formas de controlar e avaliar a eficácia desses
investimentos.
Para que isso pudesse ser implementado, alguns instrumentos gerenciais foram
desenvolvidos, com vistas a atender aos objetivos do novo sistema. O primeiro instrumento
foi a racionalização orçamentária, que pretendia ampliar o conhecimento e o monitoramento
A primeira estratégia tinha como objetivo traçar metas para as ações das agências e
criar critérios que permitissem a avaliação dos resultados alcançados. Já a descentralização
visava à ampliação da autonomia das agências e de seus departamentos, tudo isso com o
acompanhamento do poder central. Por fim, a delegação de autoridade era uma resposta
aos processos altamente formalizados e centralizados e que pretendia transformar a cultura
da burocracia.
Abrucio (1997) aponta, ainda, como disfunções desse modelo aspectos como os critérios
de medição de eficiência tão rígidos quanto controles de processos burocráticos, que retiram
a flexibilidade dos gestores para decidir e inovar; enfatizar demasiadamente a eficiência em
detrimento da efetividade dos serviços públicos; a insuficiente separação entre política e
administração (herança do patrimonialismo); e, por fim, as dificuldades de criar indicadores
capazes de mensurar a eficiência e avaliar o desempenho da gestão pública.
Como esse modelo buscava a eficiência, levou a uma preocupação com o atendimento
dos anseios dos consumidores ou da população, elemento que estimulou o desenvolvimento
do próximo modelo, este que, entre outros aspectos, buscava a flexibilização.
1.2 Consumerism
Em um ambiente em que a população desconfiava muito dos governantes e das ações
políticas, surgiu uma estratégia que se propunha a conhecer a reação das pessoas às ações do
governo, juntamente com a introdução da perspectiva da qualidade total na gestão pública.
Em suma, seria uma perspectiva voltada à satisfação do público, intitulada paradigma do
consumidor (ABRUCIO, 1997). O autor exemplifica essa estratégia por meio do programa
Citizen´s Charter:
Diante desse cenário que buscava minimizar os efeitos do modelo burocrático, por meio
de medidas para ampliar a eficiência e a satisfação dos consumidores, foram tomadas três
medidas para tornar o poder público mais leve, ágil e competitivo.
Esse modelo contratual, conforme Abrucio (1997), tinha como dimensões: a extensão
das relações contratuais no fornecimento de serviços públicos entre o setor público, o setor
privado e o voluntário/não lucrativo, visando à competição e ao controle, à ampliação das
relações contratuais para dentro do setor público, envolvendo descentralização, delegação e
mecanismos de Quasi Market, evitando o monopólio, e a adoção de contratos de qualidade
entre os prestadores de serviços e os usuários, o que permitia a fiscalização por parte dos
consumidores.
Outro ponto foi a discussão de quem eram os consumidores. Seriam estes representados
pela população em geral ou por um grupo de interesses que pode se modificar ao longo do
tempo? Diante disso, o critério de equidade seria perdido.
do exercício dessa cidadania, e esta requer, por sua vez uma participação ativa na escolha de
dirigentes, na formulação de políticas e na avaliação dos serviços públicos, e, por fim, resgata
um espaço para o diálogo dessas questões, que é o conceito de esfera pública (domain public)
e a participação como mecanismo de transparência e proteção dos direitos coletivos. Isso,
evidentemente, é o contrário do clientelismo e do corporativismo. Nesse novo cenário, o
debate público acerca do planejamento estratégico e da formulação das políticas públicas se
torna uma condição.
O terceiro objetivo, que substitui a competição pela cooperação nas agências, está
associado à garantia da equidade e ao alcance de um melhor resultado global, voltado à
cooperação e não individualizado por unidades.
E, por fim, resgatou a ênfase em o que o setor público “deve ser além de como deve ser”.
2 Foco no cidadão
De acordo com Coutinho (2000), a partir de 1990, a nova gestão pública destacou que
os cidadãos devem ser vistos como clientes; logo, o Estado passou a ser um prestador de
serviços. Nesse sentido, os cidadãos deveriam poder participar da administração pública,
além de ter informações sobre o funcionamento, quais as limitações, como são realizados
seus controles, quem são os responsáveis pela gestão.
No seu texto, Coutinho (2000, p. 42) traz uma explicação interessante sobre por que os
cidadãos devem ser vistos como clientes:
Uma das principais razões alegadas para tratar as pessoas com a mesma atenção que
as empresas privadas dispensam à sua clientela se deve, exatamente, ao sucesso que
algumas dessas empresas obtiveram implantando um programa que valorizava as
necessidades dos clientes.
Fica evidente, nessa citação, que a lógica das empresas foi apropriada ao serviço público
e que as transformações decorrentes dessa prática fizeram com que o governo tivesse que,
em um primeiro momento, identificar quem eram os seus clientes. A partir disso, o governo
começou o atendimento conforme as suas necessidades dos cidadãos e a respeitá-los, no
sentido de permitir que participassem da tomada de decisão.
Nesse novo cenário, os governos passaram a se preocupar com a qualidade dos serviços
prestados, iniciando uma competição entre os governos; contudo, sem perder a lógica da
democracia. Nesse caso, o Estado deve ser eficiente e democrático, pois “[...] a importação
de práticas e conceitos organizacionais do setor privado não deve suplantar o objetivo maior
do Estado que é o interesse público” (COUTINHO, 2000, p. 43).
Três críticas foram feitas a esse modelo: a primeira seria o fato de que marginaliza a
cidadania, “[...] transformando os cidadãos de proprietários da coisa pública em clientes do
Governo” (COUTINHO, 2000, p. 43); a segunda por transformar o Governo em um instrumento
de consumo; a terceira por tratar a relação entre governo e cidadão de uma forma muito
simplista e ignorar as suas diferentes facetas.
Para contornar essas críticas, o autor aponta que deve ser feita uma distinção entre os
tipos de clientes, para que aqueles que devem seguir as leis do Estado, por exemplo, não
queiram se eximir por se tratarem de clientes. Ele aponta os clientes primários como indivíduo
ou grupo cujo trabalho da administração pública é desenhado exclusivamente para ajudar;
os clientes secundários, cujo trabalho da administração pública é desenhado para beneficiar
indiretamente; os terceiros grupos dos clientes, que devem se submeter à lei; e quarto tipo
de clientes são os stakeholders, aquelas pessoas que têm interesse no bom desempenho das
organizações públicas.
Qualidade
como satisfação
dos cidadãos-
usuários
Atendimento
Recursos e
ao cidadão
ações inovadoras
como diferencial
gerando soluções
de qualidade
Esta ideia de qualidade tem sido incorporada à esfera pública, na qual o cidadão
pode ser considerado como usuário, na medida em que é receptor da ação
das organizações públicas. Assim, qualidade passa a significar a satisfação das
necessidades e expectativas dos cidadãos, supondo ainda a redução dos custos e a
melhora permanente dos processos de acordo com as exigências da sociedade.
Nessa perspectiva, o cidadão não atua somente como um cliente que usufrui dos
serviços, mas também como cidadão no momento em que possui um canal de comunicação
com o Estado para que possa apontar as necessidades de mudança e as possibilidades de
aprimoramento.
Para que isso ocorra de forma efetiva, é necessária uma inovação, tanto cultural como
estrutural. Isso quer dizer que é necessário que os cidadãos se apropriem do seu papel de
colaboradores para a melhoria dos serviços prestados pelo governo, nesse contexto, havendo
uma mudança cultural. Já a mudança estrutural está relacionada aos arranjos estruturais e
espaços de diálogo entre o cidadão e o Estado, como o apoio crescente das tecnologias e
mídias sociais, que aproximam esses dois atores cada vez mais.
• Mídia mais rápida e agressiva: outro ponto destacado e relacionado com o anterior é
a influência da mídia, visto que ela se tornou enorme e com uma abrangência global,
mais rápida e ousada. E outro ponto está relacionado à qualificação dos jornalistas que
exigem que os funcionários do Estado sejam mais bem preparados para responder
às questões.
Em sua opinião, as tendências descritas por Cristopher Pollit são aplicáveis no Brasil? Qual
chamou mais a sua atenção? E por quê?
Considerações finais
Nesta aula, foram analisados os conceitos da nova gestão pública, com ênfase na
orientação para o cidadão consumidor, bem como no processo de construção desse sistema
e de mudança cultural para que isso seja alcançado.
São inúmeras as teorias e variados modelos que propõem vias alternativas para que
se implante com sucesso essa modelagem; contudo, é preciso perceber que, além de
ferramentas, são necessárias mudanças culturais em todos os níveis e no comportamento de
todos os atores envolvidos nesse cenário.
Por fim foram apontadas tendências para essa área com o intuito de permitir que seja
vislumbrado o futuro e os desafios que os administradores públicos enfrentam e enfrentarão
nos próximos anos.
Referências
ABRUCIO, Fernando Luiz. O impacto do modelo gerencial na Administração Pública: um breve
estudo sobre a experiência internacional recente. Cadernos ENAP, n. 10, 1997.
BRASIL. Reforma da Gestão Pública: documentos e trabalhos sobre a reforma gerencial do Estado
brasileiro. Cadernos MARE. Disponível em: <http://www.bresserpereira.org.br/recipient3.
asp?cat=100>. Acesso em: 10 jul. 2015.
COUTINHO, Marcelo James Vasconcelos. Administração pública voltada para o cidadão: quadro
teórico-conceitual. Revista do Serviço Público, ano 51, n. 3, p. 40-73, jul./set. 2000.
PEREIRA, Luiz Carlos Bresser. Reforma da nova gestão pública: agora na agenda da América
Latina, no entanto... Revista do Serviço Público, ano 53, n. 1, p. 5-27, 2002.
RSP. Cristopher Pollit analisa a nova estrutura da gestão pública para o século XXI. Revista Do
Serviço Público, n. 61, p. 117-124, jan./mar. 2010.
Objetivos Específicos
• Compreender o conceito de governança aplicado à gestão pública e conhecer
o mecanismo de governança na gestão pública brasileira. Identificar boas
práticas de governança pública em outros países e compreender o papel
dos órgãos de fiscalização e controle para garantir a governança na gestão
pública.
Temas
Introdução
1 Conceito de governança aplicado à gestão pública
2 Mecanismos de governança na gestão pública brasileira
Considerações finais
Referências
Professora Autora
Júlia Furlanetto Graeff
Modelos de Gestão Orientados ao Setor Público
Introdução
Nesta aula, estudaremos o conceito de governança e mais especificamente a governança
pública.
A globalização dos mercados, apontada como uma das razões para a implementação
das práticas de governança corporativa e pública, propiciou a interação entre diferentes
Estados e economias internacionais, demandando a criação de um sistema que minimizasse
as diferenças e garantisse o cumprimento dos direitos e deveres entre esses múltiplos atores.
No documento que analisa o estado da arte e propõe princípios para a boa governança,
a IFAC (2013) recomenda:
O Banco Mundial, a partir de 1992, traçou quatro dimensões para a boa governança:
Sociedade Atividades
e Estado intraorganizacionais
Para o TCU (2014, p. 22), a Sociedade e o Estado devem definir “[...] as regras e os
princípios que orientam a atuação dos agentes públicos e privados regidos pela Constituição
e cria as condições estruturais de administração e controle do Estado”. Já os entes federativos,
esferas de poder e políticas públicas têm suas ações relacionadas às “[...] políticas públicas
e com as relações entre estruturas e setores, incluindo diferentes esferas, poderes, níveis
de governo e representantes da sociedade civil organizada”. Os órgãos e as entidades, como
o TCU, devem garantir o cumprimento dos papéis de cada ator envolvido, e as atividades
intraorganizacionais devem buscar reduzir os riscos, otimizar os resultados e agregar valor
aos órgãos ou às entidades.
Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados 4
Modelos de Gestão Orientados ao Setor Público
Resta saber como funciona esse sistema de governança no setor público e quais são as
esferas que compõem essa complexa ferramenta. De acordo com a análise feita pelo TCU
(2014), esse sistema é composto pelas estruturas administrativas (instâncias), os processos
de trabalho, os instrumentos (ferramentas, documentos etc.), o fluxo de informações
e o comportamento de pessoas envolvidas, direta ou indiretamente, na avaliação, no
direcionamento e no monitoramento da organização.
Sociedade
Instâncias externas
Organizações
de governança (Responsáveis
superiores
pelo controle e regulamentação)
Instâncias internas
de governança
Gestão tática
(dirigentes)
Gestão operacional
(gerentes)
GESTÃO
Essas funções precisam ser complementadas por outras três, as quais têm como
princípio subjacente a necessidade de coordenar a diversidade dos atores, bem como alinhar
o direcionamento do trabalho. Para tanto, os teóricos apresentaram três mecanismos de
governança: liderança, estratégia e controle.
Por fim, fechando o ciclo que deverá estar permanentemente em análise e revisão, são
fundamentais a criação e a implantação de controles que têm por finalidade a prestação de
contas das ações e a responsabilização das ações. Esses mecanismos devem ocorrer dentro
do sistema de governança, mas também internamente dentro das instituições que compõem
o arranjo institucional e que atendem à governança.
Já na ênfase aos controles dos resultados, esse segue sendo um assunto delicado de
mensurar, tanto os insumos necessários, como os resultados a serem alcançados, por mais
que estes estejam estabelecidos em contratos. Essa é uma questão cultural muito forte no
Brasil, visto que não se espera que os políticos cumpram aquilo que foi acordado.
Há a estratégia que vai ao encontro dos dois últimos itens que são muito necessários para
o desempenho do país. A questão da articulação entre atores e da centralidade do Estado é
muito importante no sentido de envolver e conscientizar os atores sobre seus papéis e sua
importância.
Considerações finais
Nesta aula, entendemos que a governança é um tema que será discutido, cada vez
mais, pelos teóricos, empresários, administradores públicos e cidadãos, pois é um tema que
impacta diretamente na vida de todos.
Referências
ANAO. Australian National Audit Office. Public sector governance: better practice guide.
Framework, processes and practices. Australia, 2014. Disponível em: <http://www.anao.gov.
au/~/media/Files/Better%20Practice%20Guides/2013%202014/ANAO%20-%20BPG%20
Public%20Sector%20Governance.pdf>. Acesso em: 10 jun. 2015.
IFAC. Good Governance in the Public Setor: consultation draft for na internal framework.
CIPFA, IFAC, jun. 2013. Disponível em: <http://www.ifac.org/system/files/publications/files/
Good-Governance-in-the-Public-Sector.pdf>. Acesso em: 10 jun. 2015.
KISSLER, Leo; HEIDEMANN, Francisco G. Governança pública: novo modelo regulatório para
as relações entre Estado, mercado e sociedade? Revista de Administração Pública, Rio de
Janeiro, v. 40, n. 3, p. 479-499, maio/jun. 2006. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.
php?script=sci_arttext&pid=S0034-76122006000300008>. Acesso em: 10 jun. 2015.
PIERANTI, Octávio Penna; RODRIGUES, Silvia; PECI, Alketa. Governança e New Public
Management: Convergências e Contradições no Contexto Brasileiro. In: ENCONTRO ANPAd, 31.,
2007, Rio de Janeiro. Anais eletrônicos... Rio de Janeiro, 2007. Disponível em: <http://www.
anpad.org.br/admin/pdf/APS-B392.pdf>. Acesso em: 10 jun. 2015.
Objetivos Específicos
• Analisar comparativamente os modelos de gestão, compreender quais as
principais vantagens e desvantagens de um modelo de gestão em relação ao
outro e entender quais fatores históricos influenciaram para a emergência e
queda de cada modelo de gestão.
Temas
Introdução
1 Os modelos de gestão pública
2 Análise comparativa dos modelos
Considerações finais
Referências
Professor Autor
Dênis Alves Rodrigues
Modelos de Gestão Orientados ao Setor Público
Introdução
Nesta aula, vamos conhecer os modelos de administração utilizados pelas organizações
públicas, com foco no caso brasileiro. Para tal, utilizaremos a contextualização e a diferenciação
entre eles, ou seja, é importante fazermos uma análise comparada, procurando compreender
quais os motivos que levaram determinado modelo a ser utilizado (e em que contexto) ou
que o levou a ser substituído.
Por último, temos o modelo de Governança Pública (GP), que procurou estabelecer
novos parâmetros que não eram objeto de análise nos modelos anteriores. Nesse quadro,
a administração pública é chamada a promover maior transparência e trabalhar de forma
articulada e responsável junto com a sociedade civil para melhorar o desempenho dos
governos e responsabilizá-los mais pelas suas ações e pelos seus resultados.
Assim, um passo importante para o início da análise dos modelos de gestão é entendermos
o que é possível aproveitar e utilizar, ou analisarmos uma dada realidade e verificar se a teoria
está encontrando respaldo na prática, ou, ainda, se encontramos dentro das organizações
públicas traços desses modelos.
Portanto, para que possamos fazer uma comparação entre os modelos, iremos explicitá-
los e contextualizá-los nos próximos tópicos.
É mais fácil compreender a lógica desse modelo dentro de um contexto com forte hierarquia
e baixa democracia, como as monarquias, até porque ele foi utilizado, principalmente, nas
situações onde temos a possibilidade de o Rei tomar para si “a coisa pública” e não ter (ou ter
baixa) possibilidade de ser repreendido.
Nessa não distinção entre bens públicos e particulares apareciam algumas práticas que
não se coadunam com as democracias. E entre essas práticas, temos o clientelismo, ou seja,
a utilização de seu cargo e de sua função (públicos) para favorecer determinadas empresas
ou pessoas em troca de vantagens pessoais.
1 Fluxograma é a abstração de um processo, ou seja, é o desenho (por meio de um diagrama) representado por figuras que significam os seus
passos, incluindo pontos de decisão, trâmite de documentos, entre outros.
Figura 1 – Fluxograma
Por outro lado, a impessoalidade impõe que a hierarquia dentro das organizações
públicas esteja vinculada aos cargos, como os de chefia e direção, e não à pessoa que ocupa
o cargo. Essa distinção é fundamental para que se entenda que a pessoa, em si, não possui
poderes dentro da organização pública e que seus objetivos e suas ações precisam estar
vinculados estritamente aos interesses públicos e especificamente com os da organização
pública na qual trabalha, e não aos seus interesses particulares.
Uma das maneiras mais fáceis de visualizarmos a hierarquia dentro de uma organização
é pelo seu organograma. Na Figura 2, podemos depreender a ligação hierárquica entre as
“caixinhas”, que são exemplos dos departamentos (Diretorias, gerências etc.) dentro de uma
organização. Para cada um desses departamentos, existe um cargo que é o seu responsável
(chefe ou diretor, por exemplo).
O DASP não foi apenas a primeira reforma administrativa do Estado brasileiro, mas
também foi a primeira vez que se procurou implantar o modelo weberiano com o reforço dos
princípios centralizadores e hierárquicos da burocracia clássica (PEREIRA, 2001a). A questão
da centralização procura demonstrar a necessidade de um controle maior das ações, a partir
do momento em que não mais se permitiu a descentralização decisória.
Outra questão foi levantada no período: o excesso de controle procedimental. Ele tornava
moroso e ineficiente os processos, tornando-se um problema para Estado, que começava a
ser cobrado pela sociedade por melhores prestações de serviços e por respostas melhores e
mais rápidas.
Outra crítica é que o modelo burocrático era autorreferido, dentro de uma ideia de
sistema fechado, ou seja, seu foco estava na própria burocracia, em seus procedimentos, e
não no cidadão que recebia os serviços. Isso acabou permitindo um deslocamento (inclusive
de interesses) entre a administração pública e a sociedade, o que não é bom para as
democracias.
É importante pontuarmos que alguns estudiosos entendem que os problemas que surgem
no modelo burocrático (disfunções burocráticas) são causados pela não implementação
correta do modelo clássico, ou seja, sua implementação sofreu mudanças e adaptações e
essas teriam gerado alguns problemas.
Como podemos verificar, o modelo burocrático não resolveu todos os problemas que
propôs, havendo, ainda, práticas patrimonialistas. Assim,
[...] nos países em desenvolvimento – nos quais emergiu, neste século, um Estado
desenvolvimentista em substituição ao Estado de Bem-Estar Social – a situação era
muito pior: os direitos civis e sociais continuavam quase sempre sem proteção;
o nepotismo e a corrupção conviviam com a burocracia, que era beneficiária de
privilégios e convivia com excessos de quadros. (PEREIRA, 2001a, p. 27).
Para Pollitt e Bouckaert (2000 apud SALOOJEE; MOLEKETI, 2010, p. 493), após analisarem
12 países, os principais motivos para iniciar reformas foram: reduzir os gastos públicos,
melhorar a qualidade dos serviços, tornar as operações do governo mais eficientes e melhorar
a efetividade da seleção e da implementação de políticas.
Abrucio (2001) cita os modelos ingleses que seriam respostas ao respectivo modelo
burocrático. No seguinte quadro, é possível identificá-los e entender seu foco e a visão que
esses modelos tinham do cidadão.
Modelos
Análise
Public service
Gerencialismo puro Consumerism
orientation
Economia/eficiência
Foco Efetividade/qualidade Accountability/equidade
(produtividade)
Tax payers
População como: Clientes/consumidores Cidadãos
(contribuintes)
Todavia, é preciso esclarecer que o modelo gerencialista que foi implantado no Brasil
procurou a descentralização política (transferência de recursos e atribuições) para os
níveis locais e regionais (característica do federalismo); a descentralização administrativa
(procurando agilizar a resolução de problemas); a diminuição dos níveis hierárquicos das
organizações públicas; o pressuposto da confiança limitada; o controle dos resultados; e o
foco nas necessidades do cidadão (prestação de serviços eficientes) (PEREIRA, 2001b).
Dentro dessa nova perspectiva, podemos perceber que existe uma grande mudança de
foco em relação ao modelo burocrático, com ideais de eficiência, controle dos resultados
e flexibilidade que passam a ser orientadores da administração pública, contrapondo-se à
centralização, ao controle procedimental e à visão Estadocêntrica do modelo burocrático.
Nesse momento começa a existir uma maior permeabilidade da administração pública, em
relação à sociedade.
Secchi (2009, p. 358) reforça que as teorias do desenvolvimento “[...] tratam a governança
como um conjunto adequado de práticas democráticas e de gestão que ajudam os países a
melhorar suas condições de desenvolvimento econômico e social”.
Mas, quais foram os fatores que incitaram essa nova forma de gerir a coisa pública?
Outro ponto que está por trás desse modelo são os valores neoliberais que assumiriam o
pressuposto de que os Governos são incapazes de lidar com todos os problemas, precisando
da participação de outros atores, como empresas e organizações mundiais (FMI – Fundo
Monetário Internacional, por exemplo), conforme Secchi (2009).
A GP precisa, portanto, que o Estado trabalhe em rede com a sociedade civil para ter
desempenho e resultados melhores. Como exemplo dessa prática, de acordo com Secchi
(2009), temos as parcerias público-privada (PPP).
O ponto inicial dessa análise são as monarquias que confundiam os bens públicos e
particulares, e o poder era centralizado no rei, que escolhia, segundo seu interesse, as pessoas
(ocorrendo muitas vezes o nepotismo) que ocupariam cargos em suas administrações. Além
disso, as decisões tomadas em nome do Estado poderiam ser mais do interesse particular do
rei do que da população.
A partir do momento em que surgiu uma nova forma de governo, de caráter democrático,
houve a necessidade de separar, de forma clara, a “coisa pública” da “coisa privada”. E o Estado
precisava de uma nova forma de organização para cuidar de suas atividades. Então, ocorreu
uma centralização, uma hierarquização e um controle procedimental, procurando criar um
tratamento equânime entre os administrados. Assim, o modelo burocrático weberiano foi
implantado, a partir de 1930, no Brasil. Todavia, isso não significou que todas as práticas
patrimonialistas deixaram de existir, nem que, em nosso país, o novo modelo foi implantado
totalmente em todas as suas áreas.
Regimes monárquicos
Centralização do poder no rei
Patrimonialismo Nepotismo
Não distinção da “coisa pública” e da “coisa privada”
Regimes democráticos
Centralização
Burocrático Formalidade
Impessoalidade (hierarquia)
Profissionalismo
Distinção clara entre “a coisa pública” e a “coisa privada”
Continuando a análise da evolução, destacamos que, mais para o final do século XX,
os valores do gerencialismo começam a ser colocados em prática na administração pública
brasileira. Um marco importante foi o Plano Diretor de Reforma do Aparelho de Estado,
lançado pelo Ministério da Administração e Reforma do Estado (MARE) em 1995.
Assim, podemos perceber que existe uma distinção em relação à transição anterior
(modelo patrimonialista para o burocrático), uma vez que, naquele momento, pretendeu-se
um rompimento quase que total com o modelo anterior. Todavia, na atualidade, notamos
que alguns valores do modelo burocrático precisam ser mantidos, por serem necessários e
contribuírem para a eficiência e o controle do Estado; assim, paralelamente, realiza-se um
upgrade com novas orientações e técnicas do modelo gerencialista.
Descentralização política;
Descentralização administrativa;
Gerencialismo Controle nos resultados;
Foco no cidadão;
Foco na eficiência;
Trabalhar em rede;
Governança
Participação de atores não estatais;
Pública
Estado como coordenador.
Considerações finais
Após as análises efetuadas, temos dois pontos que precisamos reforçar nesta aula: o
primeiro ponto a reforçar são as características principais de cada modelo e sua relação com
os problemas que queriam combater ou aprimorar do modelo anterior, considerando um novo
contexto. Então, quando se trazia o formalismo e a impessoalidade do modelo burocrático,
por exemplo, objetivava-se combater o clientelismo e a falta de distinção entre o público e
privado do modelo patrimonialista, mas em um novo contexto histórico.
O outro ponto importante é percebemos que nas transições entre os modelos (no Brasil)
não há um completo rompimento com o modelo anterior, com exceção da transição entre
o modelo patrimonialista e o burocrático, visto que é mais nítida a intenção de rompimento
total. Entretanto, para as demais transições, fica evidenciada uma tentativa de melhorar o
desempenho do modelo anterior e adequá-lo a uma nova realidade ou a novos valores ou
orientações, inclusive não há uma forma etapista, ou seja, uma completa implementação de
um modelo para que, a partir de então, seja efetivado o novo modelo; assim, as transições
vão seguindo uma lógica de melhorias incrementais, dentro das necessidades de cada época.
Referências
ABRUCIO, Fernando Luiz. Desafios contemporâneos para a reforma da administração pública
brasileira. In: PETER, Guy B.; PIERRE, Jon (Org.). Administração pública: coletânea. São Paulo:
UNESP; Brasília: ENAP, 2010. p. 537-548.
FAORO, Raymundo. A aventura liberal numa ordem patrimonialista. Revista Usp, n. 17, p. 14-
29, 1993. Disponível em: <http://www.revistas.usp.br/revusp/article/view/25950>. Acesso em:
22 set. 2015.
MARE. Plano Diretor da Reforma do Aparelho do Estado. Brasil. 1995. Disponível em: <http://
www.bresserpereira.org.br/documents/mare/planodiretor/planodiretor.pdf>. Acesso em: 22
set. 2015.
PEREIRA. Luis Carlos B. Da administração pública à gerencial. In: PEREIRA, L. C B.; SPINK, P. K.
(Org.). A reforma do estado e a administração pública gerencial. Rio de Janeiro: FGV, 2001a.
p. 237-270.
______. Gestão do setor público: estratégia e estrutura para um novo Estado. In: PEREIRA, L. C
B.; SPINK, P. K. (Org.). A reforma do estado e a administração pública gerencial. Rio de Janeiro:
FGV, 2001b. p. 21-38.
PEREIRA, Luis Carlos B.; SPINK, P. K. (Org.). A reforma do estado e a administração pública
gerencial. Rio de Janeiro: FGV, 2001.
PETER, Guy B.; PIERRE, Jon (Org.). Administração pública: coletânea. São Paulo: UNESP; Brasília:
ENAP, 2010.
Objetivos Específicos
• Conhecer os instrumentos de gestão intergovernamental.
Temas
Introdução
1 Gestão Intergovernamental: contextualização
2 Os instrumentos das relações intergovernamentais
3 Os exemplos de intergovernabilidade e os seus instrumentos
Considerações finais
Referências
Professor Autor
Dênis Alves Rodrigues
Modelos de Gestão Orientados ao Setor Público
Introdução
Nesta aula, conheceremos os instrumentos de gestão intergovernamental. A intenção é
compreender o que é, como surgiu e como funciona essa relação entre governos (inclusive
subnacionais) e entre países.
Evidentemente, essa mudança de paradigma traz novos desafios para os gestores públicos,
que precisarão de mais competências e habilidades para conseguir conduzir os processos ou
as políticas públicas dentro desse novo cenário. Nessa circunstância, os gestores públicos
precisarão funcionar como catalisadores dentro de um processo de constante mudança e
transformação. E, ainda, dentro de um grupo com atores com interesses e visões de mundo
diferentes, precisarão procurar a sinergia e levar adiante os seus projetos, o que não é fácil.
[...] emergência turbulenta de uma sociedade cada vez mais global, plural e complexa,
interdependente e dinâmica, cujos desafios e oportunidades em nada se parecem
aos que visavam a responder às ideologias e instituições geradas pela Revolução
Industrial. (CATALÁ, 2006, p. 271).
5. Ampliação da noção de esfera pública: o Estado torna-se cada vez menos monopolista
na definição de políticas e provisão de serviços públicos (ABRUCIO et al., 2009).
Dessa forma, esse novo contexto exigiu maior flexibilidade e interação com a sociedade,
o que fez os governos procurarem novas formas de relacionamento e de conduzir seus
programas.
Embora muitas das causas levantadas anteriormente sejam comuns a muitos países, o
desenvolvimento das ferramentas de gestão intergovernamental não se moldou de forma
igualitária, pois até o grau de desenvolvimento da democracia e da economia de um país irá
influenciar as formas de sua organização.
Cabe destacarmos que outros fatores também influenciam a utilização e o sucesso das
ferramentas de gestão intergovernamental, como a forma de Estado, ou seja, se utiliza o
Unitarismo ou o Federalismo (SILVA, 2010), pois essas formas alteram principalmente o
relacionamento dentro de cada Estado.
Um fator que tem contribuído para esses novos formatos organizacionais tem sido o
debate sobre a forma como a população e o próprio governo percebem suas responsabilidades,
ou seja, o seu papel. Estudos mostram que as estruturas burocráticas têm recebido críticas e
não estão respondendo de forma adequada a essas novas demandas; logo, surge um debate
sobre o tamanho do Estado e sobre quais são as atividades que devem ser mantidas por ele.
Nessa linha, vários movimentos integram esse debate; afinal, como apresenta Radin (2010,
p. 599), a
Após desenharmos esse mapa, com as origens, o contexto e algumas questões sobre
o movimento intergovernamental, passaremos a detalhá-lo, conhecendo os instrumentos
utilizados para esse objetivo e analisando o contexto internacional. Por fim, dedicaremos
uma parte à análise específica do Brasil.
Isto também tem ocorrido pelo fato da complexidade dos problemas enfrentados, visto
que acontecem geralmente de forma transversal em termos de matéria e em termos de nível
federativo ou, ainda, dentro de um mesmo nível de governo. Esse debate, mais atual para o
“campo das políticas públicas” significa que os problemas, como os das áreas sociais, estão
ultrapassando a fronteira da competência de um único ente federativo (União, estados e
municípios), entre os problemas que assim são, por exemplo, referentes a drogas, a crimes e
à assistência social (RADIN, 2010).
Dessa forma, para um governo trabalhar a questão criminal, por exemplo, ele não poderá
analisar a situação tão somente sob o viés da segurança pública. Será necessário considerar
questões como as econômicas, que a influenciam sobremaneira. E, em muitos casos, para
enfrentar um problema como esse, precisará alinhar o trabalho da União, do estado e dos
municípios envolvidos. Essa questão transversal é um dos pontos que tem funcionado como
um impulsionador para o relacionamento intergovernamental.
Para compreender essas transformações e as novas relações, três pontos são importantes,
conforme Radin (2010, p. 598):
Isso significa refletir acerca das cooperações internacionais, ou melhor, que nos
relacionamentos entre países, em determinados casos, encontraremos instrumentos de
gestão intergovernamental, inclusive a formação de blocos como a União Europeia ou o
MERCOSUL. Embora cada um tenha sua forma, relação e grau de sucesso, ilustram esse novo
paradigma de instrumentos utilizados para gerir programas que ultrapassam as fronteiras de
países e procuram a sinergia entre eles.
1. Estrutural;
2. Programáticos;
4. Comportamental.
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Neste sentido, o Tratado citado “[...] definiu diretrizes para a introdução da união
monetária europeia, concedeu maiores poderes ao parlamento europeu, criou uma comissão
europeia das regiões e introduziu a noção de cidadania europeia” (SMTH, 2010, p. 624).
O êxito desse modelo pode ser verificado, por exemplo, pela continuidade do bloco e pela
criação de uma moeda comum, o Euro.
instituição com poderes sobre alguns países, possuindo regras, autonomia e parlamento,
fazendo com que esses Estados, evidentemente, percam um pouco de sua autonomia. Isso
se configura um trade-off, ou seja, não é possível dar poder e autonomia para um bloco
internacional e, ao mesmo tempo, manter os mesmos poderes e autonomia de cada Estado
participante do bloco. É um beco sem saída (BORZEL, 1997 apud SMITH, 2010, p. 627).
Integração dos Estados Partes por meio da livre circulação de bens, serviços e fatores
produtivos, do estabelecimento de uma Tarifa Externa Comum (TEC), da adoção de
uma política comercial comum, da coordenação de políticas macroeconômicas e
setoriais, e da harmonização de legislações nas áreas pertinentes. (MERCOSUL, s.d.).
Situação País
Argentina, Brasil, Paraguai, Uruguai (desde 26 de
Estados Partes março de 1991) e Venezuela (desde 12 de agosto de
2012).
Estado Parte em Processo de Adesão Bolívia (desde 7 de dezembro de 2012).
Chile (desde 1996), Peru (desde 2003), Colômbia,
Estados Associados Equador (desde 2004), Guiana e Suriname (ambos
desde 2013).
Federal, subsidiariamente
Trânsito Estados e municípios (1) Estados e municípios
Estados e municípios
Nota: (1) No caso da política de trânsito, também é importante ressaltar a participação do setor privado.
Fonte: Adaptação e complementação com base no desenvolvido por Rodrigues e Santos (2015), que foi efetuado com
base no Quadro 1. Distribuição intergovernamental de funções em políticas selecionadas - Brasil, elaborado por Arretche
(2012, p. 169).
Considerações finais
Nesta aula, entendemos como ocorreram as relações intergovernamentais, e que elas
surgiram em um contexto de globalização e inovações tecnológicas muito fortes, o que
impulsionou para que, cada vez mais, haja uma interação entre países, estados e municípios.
Também constatamos, com base na teoria, que existem alguns instrumentos que são
utilizados nesses processos, ora se preocupando com sua institucionalização e em outros
momentos mais relacionados com o seu desempenho e suas atividades.
Outro ponto importante foi verificar as realidades diversas entre algumas relações
intergovernamentais, com exemplos mais institucionalizados, como o da União Europeia e
outros menos, como o caso do MERCOSUL.
Para esta última análise, verificamos que a realidade dos países latino-americanos se coloca
como um empecilho para que consigam maior coesão em trabalhos intergovernamentais.
Aprofundando o tema, chegamos ao caso brasileiro, cuja realidade, baseada no federalismo,
possui alguns exemplos exitosos e outros com maiores dificuldades de implantação e
funcionamento, compreendendo que os resultados estão vinculados aos instrumentos de
relação intergovernamental utilizados e que se encontram à disposição.
Referências
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Guy B.; PIERRE, Jon (Org.). Administração pública: coletânea. São Paulo: UNESP; Brasília: ENAP,
2010. p. 619-635.
Objetivos Específicos
• Conhecer reformas promovidas ou modelos alternativos de gestão pública
implementados pelos governos subnacionais brasileiros (estados e municípios).
Temas
Introdução
1 A realidade da administração pública
2 O impacto das reformas na esfera subnacional: princípios e ferramentas
Considerações finais
Referências
Professor Autor
Dênis Alves Rodrigues
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Introdução
Os Estados têm passado por várias mudanças de modelos de administrações públicas.
Em determinado momento, tínhamos o modelo Patrimonialista, depois o Burocrático,
passamos em meados da década de 1990 pelo modelo Gerencialista e, por último, o de
Governança Pública. Dentro desse contexto, os governos precisaram se adaptar para atender
às novas demandas da sociedade e responder de forma mais rápida aos problemas que se
apresentaram.
Há um ponto que merece maior atenção e precisa ser aprofundado: como essas
mudanças impactam o cotidiano dos governos subnacionais? Não é adequado supor que os
novos valores, objetivos e ferramentas sejam transplantados automaticamente para os demais
entes federativos, pois cada estado e município tem uma realidade e a relação federativa e
interorganizacional é mais um dos desafios na implementação das mudanças derivadas do
aperfeiçoamento dos modelos de gestão nas esferas subnacionais.
Boa leitura!
Com isto, vários modelos se apresentaram para atender, cada um a seu tempo, às
necessidades que se fizeram presentes. Assim, tivemos modelos como o Patrimonialista, o
Burocrático, o Gerencialista (Nova Administração Pública) e o de Governança Pública. Esses
modelos fizeram-se sentir em todos os níveis da administração pública, mas não de forma
equânime, pois fatores regionais ou locais interferiram nesse processo.
Ações reformistas como estas não ocorreram apenas no Brasil. Um exemplo internacional
que podemos citar é o caso do governo britânico cujas ações visavam à satisfação dos
consumidores (cidadãos), tendo por base a descentralização, por entender que, quanto
mais perto o serviço público estiver da sociedade, mais fiscalizado ele será pelos cidadãos
(ABRUCIO, 2006, p. 187).
Dentro desse contexto, podemos perceber que um dos pontos principais é a participação
dos governos subnacionais nesse processo (reforma administrativa). Encontrando-se mais
próximos da população, os governos subnacionais são capazes de diagnosticar, melhorar
e identificar os problemas e anseios, além de possuir melhores condições de desenhar
as políticas públicas capazes de resolver as questões que são colocadas e, assim, levar
adiante os projetos de reforma do Estado. Este é um dos mecanismos utilizados, chamado
descentralização de poder para governos subnacionais (KETLL, 2006, p. 78; GLADE, 2006, p.
125; ABRUCIO, 2006, p. 175-174; ARRETCHE, 1996).
É importante salientar que, embora tenhamos várias ações sob a etiqueta de reforma
da administração pública, as reformas não possuem uma única forma adotada por todos
os países (ABRUCIO, 2006, p. 174). Além disto, há peculiaridades da administração pública,
que a difere da administração empresarial, como valores de equidade e justiça, os quais não
podem ser avaliados por intermédio dos conceitos de gerencialismo puro (MAYORDOMO,
1990, p. 278-80 apud ABRUCIO, 2006, p. 185).
Figura 2 – Municípios
Os municípios têm como chefe do Executivo o Prefeito, que também conta com secretários
(administração direta) e outros órgãos (administração indireta), para levarem adiante seus
projetos e programas, além de administrar a “coisa pública”. Por outro lado, o seu Legislativo
é composto pela Câmara dos Vereadores e não possui Judiciário.
Para melhor compreender o impacto das reformas adminsitrativas nos entes subnacionais,
destacaremos os princípios, ou seja, os valores que permeiam os programas, projetos e ações,
assim como os Instrumentos1 , que referem-se às ferramentas utilizadas para se atender aos
princípios ou aos objetivos pretendidos pelas reformas da gestão pública.
2.1 Princípios
O Brasil possui extensões continentais, além disso, possui grandes diferenças culturais,
econômicas, políticas e sociais entre as suas regiões, o que torna a sua administração mais
complexa. Por outro lado, as novas teorias sobre as reformas da administração pública têm
colocado os demais entes federados (estados e municípios) como centrais nesse processo
de melhoria de desempenho do Estado frente ao constante aumento da complexidade de
demandas da sociedade. Assim, historicamente, temos que a “[...] discussão da eficácia da
gestão das políticas sociais tem privilegiado, a partir da década de 80, a descentralização
como a possibilidade de tomar o poder mais transparente e suscetível ao controle social”
(JUNQUEIRA, 1998, p. 12).
1 Embora essa divisão tenha sido proposta por Rodrigues (2015), algumas categorias aqui descritas se diferem da proposta pelo referido autor.
Outro ponto relevante, que não foi devidamente resolvido, é a forma como o governo
federal delega responsabilidades para os demais entes federados e ainda é capaz de manter
a responsabilização pelos resultados (FAIRBROTHER, 1994, p. 36-7 apud KETTL, 2006, p. 109).
Quanto aos demais serviços prestados pelos entes federativos, temos, de acordo com
Queiroz (2009, apud BRUDEKI; BERNARDI, 2013, p. 75), que os de interesses gerais são:
abastecimento de água; esgotamento sanitário; transporte coletivo, aéreo e aquaviário;
distribuição de gás; telecomunicações e energia elétrica.
Os serviços públicos também podem ser divididos de acordo com a forma que serão
prestados. A figura a seguir pretende demonstrar tal categorização.
régie direta
Centralizada
régie indireta
Direta
autarquia
Descentralizada (outorga) empresa pública
soc. econ. mista
fundação
Prestação Indireta
licitação contrato de concessão
de Serviço (delegação)
Público
A figura apresentada revela que os entes subnacionais possuem vários modelos e formas
de prestarem os serviços para a população, não necessitando centralizar sua execução na
administração direta ou nos demais órgãos da administração pública (administração indireta),
sendo certo e possível que efetue contratações (licitações), parcerias (como as parcerias
público-privada), entre outros, para atender às necessidades da população, escolhendo em
cada caso concreto a melhor forma de prestar os serviços.
Como desmembramento das práticas gerencialistas, o foco nos resultados tem sido,
também, um dos balizadores das ações dos governos, inclusive na esfera subnacional
(POLLITT; BOUCKAERT 2011, p. 106 apud RODRIGUES, 2015, p. 43). Esse preceito faz com
que a administração pública deixe de enfatizar os processos (modelo burocrático), focando
a eficiência e efetividade das ações. Todavia, eles têm apresentado problemas, pois podem
priorizar o curto prazo em detrimento do longo prazo; desta forma, políticas imediatistas
podem ser levadas adiante sob o prejuízo de políticas estruturantes cujos resultados seriam
melhor sentidos no médio ou longo prazo (BOUCKAERT, 1993, p. 403 apud HEINRICH, 2010,
p. 62).
2.2 Instrumentos
Uma questão relevante é a utilização de ferramentas no processo de melhoria e
desenvolvimento de programas e projetos, como as de Tecnologia da Informação e
Comunicação (TIC). Quanto a isto Cunha e Miranda (2013) fazem uma divisão do termo
e-governo, que sugere as formas de aplicação de TIC na administração pública da seguinte
forma: e-administração pública, e-serviços públicos e a e-democracia.
Dentro desse escopo, percebe-se que a TIC, através de sistemas informatizados ou novos
equipamentos, tem permitido melhoras significativas no desempenho das administrações
públicas
Como exemplo da aplicação das ferramentas de TIC na área de compras públicas, temos
a Bolsa Eletrônica de Compras (BEC) do estado de São Paulo. Para conhecer melhor esta
ferramenta, acesse o link disponível na Midiateca da disciplina.
Outro ponto que merece observação é a estrutura de cada organização pública cujo
funcionamento é afetado pela Nova Administração Pública em diferentes dimensões, quais
sejam: Especialização, Coordenação, Centralização/Descentralização (quais funções devem
ser centralizadas e quais devem ser descentralizadas) e Escala (qual é o melhor tamanho para
as organizações públicas?) (POLLITT; BOUCKAERT, 2011, p. 97 apud RODRIGUES, 2015, p. 42).
órgão, pois, dependendo da situação, temos que múltiplas funções podem dificultar a boa
execução delas. Por outro lado, a especialização pode gerar a criação de muitos órgãos
públicos, o que dificultará a coordenação. A forma de coordenação, pensando nos níveis
e quantidades de órgãos, deve ser analisada visando compor quais atividades devem ser
descentralizadas (para órgãos da administração indireta ou para o setor privado) e quais
devem ficar centralizadas na administração direta.
Por último temos a escala, que traduz a reflexão sobre qual deve ser o tamanho ideal
para as organizações, pensando em departamentos, possibilidade de divisão em regionais,
funcionários, entre outros. Assim, podemos ter organogramas mais achatados (poucos níveis)
ou alongados (muito níveis hierárquicos).
Outro fator que tem tomado a atenção das administrações públicas é a forma como
se relacionam com os funcionários, ou seja, a gestão dos recursos humanos. Em algumas
situações, até por conta de restrições orçamentárias e financeiras do Estado, os governos
têm procurado diminuir os gastos com pessoal através de downsizing (diminuição do quadro
de funcionários), de corte de benefícios ou aumento da idade para aposentadoria (POLLITT;
BOUCKAERT, 2011 apud RODRIGUES, 2015, p. 40).
Dentro desse contexto, nós temos que as experiências procuram “[...] aproximar o governo
do cidadão na região onde ele vive; reconhecer o cidadão como sujeito de direitos - não
como objeto de atuação; identificar os problemas e dar soluções integradas a necessidades e
expectativas do cidadão” (JUNQUEIRA, 1998, p. 15).
Para facilitar a compreensão dos principais pontos que foram debatidos nesta aula,
formulamos o quadro-síntese abaixo.
Quadro 1 – Princípios e instrumentos das reformas da gestão pública para os níveis subnacionais
PRINCÍPIOS:
• DESCENTRALIZAÇÃO (para os níveis subnacionais);
• EFICIÊNCIA;
• PARTICIPAÇÃO SOCIAL;
• QUALIDADE DOS SERVIÇOS (FOCO NO CIDADÃO);
• FOCO NO RESULTADO;
• TRANSPARÊNCIA E RESPONSABILIZAÇÃO.
INSTRUMENTOS
• TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO;
• GESTÃO DE RECURSOS HUMANOS;
• ESTRUTURA ORGANIZACIONAL.
Considerações finais
Nesta aula procuramos compreender as novas orientações para a administração pública
brasileira, com foco nos níveis subnacionais decorrentes das reformas que ocorreram
ao longo das últimas décadas, principalmente relacionadas às práticas gerencialistas e de
governança. Assim, foi possível verificar que, primeiramente, houve uma descentralização,
com o empoderamento dos níveis subnacionais, e, a partir de então, novos valores foram
colocados como importantes nesse processo de reforma.
Referências
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brasileira. In: PETERS, Guy B.; PIERRE, Jon (Orgs.). Administração pública: coletânea. São Paulo:
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para a ciência, tecnologia e inovação na política do MCT (1995-2002). Revista de Administração
Pública, Rio de Janeiro 40(1): 107-25, jan./fev., 2006.
Objetivos Específicos
• Conhecer o programa GESPÚBLICA, avaliando os limites, desafios e
potencialidades do Modelo de Excelência em Gestão Pública.
• Conhecer a estrutura do Sistema de Organização e Inovação Institucional do
Governo Federal e as funcionalidades do sistema.
Temas
Introdução
1 Contexto
2 O GESPÚBLICA
3 SIORG
Considerações finais
Referências
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Introdução
Conhecendo as teorias que envolveram a administração pública nos níveis federais,
estaduais e municipais, focaremos, nesta a aula, o processo de implementação e as
características do Programa GESPÚBLICA, destacando as principais práticas inovadoras e seu
impacto na melhoria da gestão das organizações públicas.
1 Contexto
Nas últimas décadas, a administração pública tem recebido uma atenção muito grande
pelo mundo. Apareceram modelos, e suas variações nacionais, procurando contribuir para
que os governos tenham melhores desempenhos. Essas correntes ficaram conhecidas como
Nova Administração Pública e Governança Pública (SECCHI, 2009) e, embora não sejam
unanimidades, várias de suas práticas e metodologias são utilizadas pelos governos em todo
o mundo.
Especificamente no Brasil, estamos vivendo uma reforma que teve início em meados
da década de 1990, cujo escopo era a transformação dos modelos de administração pública
dos governos, passando do modelo burocrático para o gerencial (BRESSER-PEREIRA, 2006).
Dentro disto, pensou-se em várias ações que pudessem fazer com que os órgãos públicos
apresentassem melhor desempenho, por meio da desburocratização, maior eficiência,
planejamento e foco no cidadão, que foram e são estratégicas nesse processo.
Essas mudanças trouxeram vários impactos para os governos, pois muitos conceitos e
ferramentas das empresas privadas foram trazidos para o seio da organização pública, como
o foco em eficiência, reengenharia de processos, programas de qualidade e monitoramento
de resultados, que também foram uma das novas diretrizes e ferramentas utilizadas.
2 O GESPÚBLICA
Dentro desse contexto de efervescência da administração pública, temos a criação
do Programa Nacional de Gestão Pública e Desburocratização (GESPÚBLICA), que é um
programa do governo federal vinculado à Secretaria de Gestão Pública (SEGEP), do Ministério
do Planejamento, Orçamento e Gestão, o qual procura ser referência em sua área e apoiar os
demais órgãos públicos da esfera federal e dos governos subnacionais a serem inovadores e
auxiliarem na implantação de boas práticas de gestão pública e, por conseguinte, atingirem
melhores resultados.
O GESPÚBLICA tem uma preocupação com alguns valores, entre eles a qualidade. No
âmbito da administração, ou administração pública, podemos definir a qualidade como a
procura pelo modo certo, o que está vinculado ao processo (como fazer a coisa certa) e ao
resultado (LIMA, 2007).
Guia ‘D’ Simplificação Administrativa foi elaborado para auxiliar qualquer organização
pública interessada em simplificar seus processos e normas, eliminando exigências
de rotinas que geram fluxos desconexos na tramitação de documentos que não
agregam valor ao serviço prestado pela organização e, por consequência, pelo Estado.
(GESPÚBLICA, 2015).
1. Planejamento da Simplificação;
2. Mapeamento do Processo;
Simplificação Administrativa
da simplificação
Planejamento
Pré-requisitos da
Elaboração do Mapeamento
simplificação
plano de trabalho do Processo
administrativa
Mapeamento
do processo
Sistema de
Análise e
melhoria
Proposta de Implementação
Fim
simplificação no novo processo
Painel de Bordo
- Resultados: Equipe “d” formada e capacitada para a implementação do Guia e Órgão mobilizado
Como uma das formas de contribuir para a melhoria dos desempenhos das organizações
públicas, o programa GESPÚBLICA oferece cursos, alguns deles disponíveis na modalidade
EAD e que podem ser acessados por qualquer cidadão. Para acompanhar os vídeos, acesse a
Midiateca da disciplina.
Embora a revisão de processos seja muito importante, os órgãos públicos precisam fazer
o monitoramento de suas atividades e, para tal, é relevante a criação de uma metodologia
de mensuração a partir da constituição de indicadores, para que ela realmente permita que
surtam os efeitos desejados.
Nesse sentido, o Programa apoia as organizações dentro do escopo que concebe como
adequado e inovador, que vai, portanto, auxiliar as demais organizações públicas a melhorarem
seus resultados, acompanhando o respectivo desempenho. Veja a figura a seguir.
1 2 3 4 5
6 7 8 9 10
Ponderação e validação
Geração de sistema Mensuração do Análise e interpretação Comunicação do
final dos indicadores
de coleta de dados desempenho dos indicadores desempenho
com as partes
De maneira geral, essa metodologia prevê a definição sobre o que deve ser mensurado
dentro da organização, após isto, devem ser estabelecidos os indicadores e sua validação com
as áreas e setores interessados. Depois, é necessário esclarecer melhor o indicador, definindo
forma de cálculo e as metas que serão buscadas pela organização. Também é necessário
estabelecer os gestores responsáveis pelos indicadores e a forma que será efetuada a coleta
de dados (sistemas, datas, períodos, regras, entre outros).
Será possível, então, ao gestor, estabelecer metas factíveis e reconhecidas por toda a
organização, o que facilita sua implantação e reconhecimento pelos colaboradores, que irão
contribuir para o atingimento das metas.
Outra ação importante que foi realizada pelo GESPÚBLICA é o apoio para que os estados
possam elaborar o respectivo orçamento e que este esteja vinculado a um planejamento,
com base no diagnóstico de cada realidade e cujo material encontra-se disponível no site
eletrônico do GESPÚBLICA.
3 SIORG
O SIORG é o Sistema de Informações Organizacionais do governo federal e está vinculado
ao Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão. Seus principais objetivos são (SIORG,
2015):
Para atingir esses objetivos, o SIORG disponibiliza informações do Governo federal, como
o organograma dos órgãos públicos, a lista de órgãos e estruturas, bem como a tabela de
remuneração de cargos comissionados.
Embora seja um modelo incipiente de dados abertos, mostra uma pré-disposição nesse
sentido.
Considerações finais
Nesta aula verificamos como, na prática, os governos têm procurado se adaptar aos
novos modelos de administração pública, como o modelo Gerencialista.
Por outro lado, o sistema SIORG tem uma proposta mais focada, e nem por isso menos
importante, de facilitar o acesso dos cidadãos às suas estruturas, organogramas e tabelas de
remuneração, que visam melhorar a transparência do governo federal e também permitir
maior controle pela população.
Referências
ABRUCIO, Luiz Fernando. Desafios contemporâneos para a reforma da administração pública
brasileira. In: PETERS, Guy B.; PIERRE, Jon (Orgs.). Administração pública: coletânea. São Paulo:
UNESP; Brasília, DF: ENAP, 2010. p. 537-548.
BRESSER-PEREIRA. Luis Carlos. Da administração pública à gerencial. In: PEREIRA, L. C. B.; SPINK,
P. K. (Orgs.). Reforma do estado e a administração pública gerencial. Rio de Janeiro: FGV, 2006.
p. 237-270.
KETTL, Donald F. A revolução global: reforma da administração do setor público. In: PEREIRA,
L. C. B.; SPINK, P. K. (Orgs.). Reforma do estado e a administração pública gerencial. Rio de
Janeiro: FGV, 2006. p. 75-121.
PETERS, Guy B.; PIERRE, Jon (Orgs.). Administração pública: coletânea. São Paulo: UNESP;
Brasília, DF: ENAP,2010.
RODRIGUES, Dênis Alves. A nova agenda da gestão pública brasileira: estudo de caso do
Detran-SP. 2015. 121 f. Dissertação (Mestrado em Gestão de Políticas Públicas) – Programa de
Pós-Graduação de Gestão de Políticas Públicas, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2015.
Disponível em: <http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/100/100138/tde-31032015-
131712/pt-br.php>. Acesso em: 29 out. 2015.
Objetivos Específicos
• Conhecer o formato organizacional e normas que regem as Organizações
Sociais e as OSCIPs; e principalmente, suas potencialidades e limites para a
gestão pública brasileira, por meio da análise de casos concretos.
Temas
Introdução
1 A reforma gerencial e a criação das OSs e OSCIPs
2 Descentralizando as atividades estatais: OS e OSCIP
3 Utilização dos modelos de OS e OSCIP pelos estados brasileiros
Considerações finais
Referências
Professor Autor
Dênis Alves Rodrigues
Modelos de Gestão Orientados ao Setor Público
Introdução
Nesta aula, vamos conversar sobre as Organizações Sociais (OS) e as Organizações
da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP). Estas estruturas estão alinhadas com as
mudanças que foram propostas a partir de 1995, cujo marco foi o Plano Diretor da Reforma
do Estado do MARE, proposto pelo, então ministro, Bresser-Pereira.
O contexto desta implantação nos remete ao momento em que o Estado estava focado
em diminuir os gastos públicos e, assim, tentando equilibrar as contas fiscais para que, em um
segundo momento, pudesse voltar a aumentar seus investimentos.
Além disto, estas ações estavam amparadas pelo modelo que então se tornava
preponderante, pelo menos enquanto foco de mudanças e ação, que era a Nova Administração
Pública ou modelo Gerencialista, como ficou mais conhecido no Brasil.
Dentro deste contexto, as OSs e OSCIPs aparecem como uma forma de descentralizar
alguns serviços, repassando sua execução para organizações da sociedade civil, procurando,
por um lado, dar maior agilidade na resposta às demandas públicas, pelo fato de tais
organizações não estarem vinculadas totalmente à burocracia e, por outro, um ajuste de
contas por não precisar contratar (concurso público) funcionários para efetivar estes serviços,
inclusive com uma visão de futuro pensando na economia em termos de previdência do
funcionalismo público.
Estas propostas ainda são utilizadas e trazem impactos interessantes e, ainda hoje, são
objeto de pesquisa procurando melhorar o controle e entender seu funcionamento de forma
setorial. Boa leitura!
Assim, um modelo que já estava em discussão em outros países (New Public Management),
como nos EUA (OSBORE; GAEBLER, 1998 apud RODRIGUES, 2015), passa a ser pensado
também no Brasil, abrindo espaço para um novo modelo que ficou conhecido como modelo
Gerencialista.
O novo modelo propunha, em linhas gerais, tornar o Estado mais gerenciável, trazendo
práticas da administração de empresas, que deveriam ser adaptadas, e procurando
descentralizar e terceirizar (para o mercado privado ou para organizações da sociedade civil)
parte de suas atividades. Estas ideias, que recebem muitas críticas dado à sua ideologia
neoliberal, procuravam “desinchar” o Estado (SCHMIDT, 2007). Ou seja, procuravam, entre
outras práticas, repassar parte de suas atividades para o mercado privado e, a partir de
então, caberia ao Estado monitorar as empresas ou instituições privadas que recebessem a
incumbência de executar determinado serviço público.
Dentro deste contexto nascem as formas jurídicas das Organizações Sociais (OS) e as
Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP), integrantes do terceiro setor,
entre outros motivos, por não visarem ao lucro e por terem como objetivo o interesse público,
passando a receber do Estado a responsabilidade pela prestação de determinado serviço à
população dentro de um contexto de descentralização de serviços e diminuição do tamanho
do Estado, evidentemente mediante pagamento pelos contratantes (os governos).
Sociedade
Estado
(Burocrático)
Considerando todo o contexto de reforma, como será que esta ideia de descentralização
via OS e OSCIP foi recebida? A sua utilização se deu da mesma forma por todos os estados, por
exemplo?
É possível supor que o julgamento do STF tenha sido influenciado pela disseminação
e resultados positivos das OSs nos estados brasileiros, havendo relativo sucesso, desde sua
criação em 1995 até a decisão proferida em abril de 2015.
Assim, compreendendo os motivos que levaram a criação destas novas formas jurídicas
e os principais questionamentos que apareceram, é importante destacar que as OSs
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Modelos de Gestão Orientados ao Setor Público
possibilitaram novas formas de relacionamento com a sociedade civil e com o setor privado
(FARAH, 2001, p. 9 apud FERRAREZI, 2007, p. 63), não se tratando de mera terceirização dos
serviços públicos deslocados para entes privados. Desta forma, passaremos a debater mais
detalhadamente esta nova relação.
Estas organizações são chamadas a ocupar um espaço, uma lacuna, que o Estado não
estava mais conseguindo ocupar de forma adequada. A sobrecarga de demandas e funções
atribuídas ao Estado pode ser explicada, em parte, pela promulgação da Constituição Federal
de 1988, que expandiu o rol de direitos e garantias sociais, especialmente nas áreas da cultura,
saúde, educação, assistência social, dentre outras.
Desta forma, o Estado poderia repassar verbas para instituições privadas, sem fins
lucrativos, e estas, que são mais flexíveis em termos administrativos e gerenciais, deveriam
dar respostas mais rápidas e efetivas às demandas sociais da população.
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Modelos de Gestão Orientados ao Setor Público
Dentro deste contexto, em 1997, o governo federal criou nove OSs, através da Medida
Provisória nº 1.591, de 9 de outubro de 1997, que posteriormente foi regulamentada na Lei
nº 9.637/1998.
Em seu artigo primeiro, a referida lei delimita o escopo de atuação e explicita que as
referidas OSs não podem ter fins lucrativos.
Art. 1º O Poder Executivo poderá qualificar como organizações sociais pessoas jurídicas
de direito privado, sem fins lucrativos, cujas atividades sejam dirigidas ao ensino, à
pesquisa científica, ao desenvolvimento tecnológico, à proteção e preservação do
meio ambiente, à cultura e à saúde, atendidos aos requisitos previstos nesta Lei.
(BRASIL, 1998, grifo do autor).
A lei em questão pretendeu limitar a área de atuação das OSs, por um lado, evitando
um total esvaziamento do Estado, com um possível excesso da utilização desta modalidade e,
por outro, privilegiando as áreas que não precisam, necessariamente, serem executadas pelo
Estado, mas que, ao mesmo tempo, têm uma relevância social.
A lei traz consigo a necessidade de regulamentação pelos entes federados que se utilizam
desta modalidade de parceria, ao informar que precisarão qualificar determinada instituição
como OS, a partir do cumprimento de determinados requisitos.
Como podemos perceber, o escopo de atuação das OSCIPs é maior do que as inicialmente
previstas para as OSs, o que pode mostrar uma necessidade do Estado de utilizar este tipo de
parceria em outras áreas.
Outra distinção é que no caso das OSCIPs o instrumento utilizado para que sejam
firmadas parcerias com o poder público é o “termo de parceria”, o qual deverá delimitar os
direitos, as responsabilidades e as obrigações das partes que estejam firmando a parceria.
Neste caso, também deverá ser ouvido um órgão técnico (Conselho de Políticas Públicas)
da área, procurando alinhar os objetivos e ações da OSCIP com os do órgão público ou da
respectiva área de política pública.
A lei também prevê a criação de uma comissão que deve analisar e avaliar o desempenho
das OSCIPs, com base nos termos de parcerias firmados, verificando o cumprimento dos
itens acordados entre as partes, bem como a observância dos princípios que regem o acordo
durante a execução das ações, projetos ou programas.
É desejável que o Estado procure novas formas de prestar os serviços públicos que sejam
mais eficientes, efetivas e eficazes, podendo, quando for o caso, se utilizar de parcerias com
órgãos não estatais. Porém, como os governos podem garantir que os recursos colocados à
disposição sejam bem empregados e realmente contribuam para a solução das demandas ou
melhoria da realidade social que deve ser promovida?
Uma questão muito importante é a forma como se dá o controle das OSs e OSCIPs, pois,
embora o Estado repasse a atribuição de determinado serviço ou atividade para o terceiro
setor, ainda é responsável pela correta e adequada aplicação dos recursos públicos, tais como
os financeiros, imobiliários e equipamentos.
Tal controle é viabilizado pelo contrato firmado entre Estado e organização social
respectiva (Contrato de Gestão, no caso das OSs, e Termo de Parceria, no caso das OSCIPs),
no qual são estabelecidas as responsabilidades de cada parte.
As OSs e OSCIPs também estão sujeitas ao controle social, realizado por meio de
Comissões de Avaliações compostas por representantes da sociedade civil (a exemplo de
membros do Conselho Estadual da Saúde, no caso do governo do Estado de São Paulo).
O controle das OSs e OSCIPs é fundamental por uma série de razões, dentre as quais
destacam-se: diagnosticar equívocos da entidade ou do próprio desenho da política;
responsabilização e punição dos atores responsáveis; aprendizado sobre a gestão e políticas
públicas pela própria sociedade e pelos policymakers (gestores públicos, sejam políticos
ou burocratas); desconcentrar o poder e gerar alarmes de incêndios, para que os gestores
revejam posições e redirecionem as políticas públicas.
Para consultar a lei das OSs paulistas, acesse o link disponível na Midiateca da disciplina.
Este modelo de Minas Gerais inova e difere-se dos demais, principalmente, por unificar
OS e OSCIP em um único modelo de parceria, facilitando o controle de cada contrato.
Todavia, o modelo tem limites, pois acaba não dando conta das diferentes especificidades
e demandas de cada área-fim objeto de parceria. Em 2010, contabilizavam-se 16 Termos de
Parceria vigentes, firmados entre OSCIPS e órgãos do estado de Minas Gerais (ALCOFORADO,
2010, p. 55).
Considerações finais
Nesta aula conversamos sobre novas formas de relacionamento do Estado com a
sociedade civil, qual seja, o Contrato de Gestão firmados com Organizações Sociais (OSs) e
os Termos de Parceria com as Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIPs).
Este processo ficou conhecido como New Public Management, no mundo, e como
Reforma Gerencial, no Brasil. Um marco importante deste movimento no Brasil foi o Plano
Diretor da Reforma do Estado desenvolvido pelo MARE.
Um dos recursos gerenciais adotados foi a regulamentação de parcerias com as OSs e com
as OSCIPs, por meio das quais o Estado passou a delegar a responsabilidade pela prestação
de determinados serviços públicos (de áreas específicas), transferindo o gerenciamento
de equipamentos para organizações da sociedade civil, através de termos de parcerias ou
contratos de gestão, em cada caso, conforme regulamentações federal e estaduais.
O novo modelo foi mais bem-sucedido no plano subnacional com crescente utilização
deste novo formato em algumas áreas, tais como: saúde, cultura, esporte e educação. Dentre
os resultados positivos da adoção das OSs e OSCIPs, destacam-se a melhora do desempenho
administrativo (eficiência: mais atendimentos, com menores custos); da gestão de pessoas
(CLT x regime jurídico único), da abrangência dos serviços oferecidos e da transparência.
Se de um lado, OSs e OSCIPs são mais eficientes por não estarem atreladas a todas as
legislações sobre compras e contratações (inclusive de funcionários) que o Estado está e,
para além desta questão, temos o fato de que pode ocorrer uma economia a longo prazo pelo
fato de os governos não ficarem com o ônus das previdências dos funcionários que executam
as atividades pelas OSs e OSCIPs, por exemplo, de outra parte é necessário atentar-se às
formas de monitoramento, controle social e garantia do atingimento das metas previamente
estabelecidas.
Referências
ALCOFORADO, Flávio Carneiro Guedes. OS e OSCIP: uma análise da abrangência dos serviços
públicos e do perfil das entidades parceiras em Minas Gerais, São Paulo e Espírito Santo. Revista
ADM. MADE, ano 10, v. 14, n. 3, p. 47-65, out./dez. 2010.
BRASIL. Lei nº 1.095, de 18 de setembro de 2009. Dispõe sobre a qualificação como organizações
sociais das fundações e das entidades que especifica, e dá outras providências. Presidência da
República [Casa Civil]. Brasília, DF.
_______. Lei nº 8.666, de 21 de junho de 1993. Regulamenta o art. 37, inciso XXI, da
Constituição Federal, institui normas para licitações e contratos da Administração Pública e dá
outras providências. Presidência da República [Casa Civil]. Brasília, DF.
______. Lei nº 9.637, de 15 de maio de 1998. Dispõe sobre a qualificação de entidades como
organizações sociais, a criação do Programa Nacional de Publicização, a extinção dos órgãos e
entidades que menciona e a absorção de suas atividades por organizações sociais, e dá outras
providências. Presidência da República [Casa Civil]. Brasília, DF.
FERRAREZI, E. R. A reforma do marco legal do terceiro setor no Brasil: a criação da lei das OSCIP
(9.790/99). 2007. Tese (Doutorado em Sociologia), Departamento de Sociologia, Universidade
de Brasília, mar. 2007.
RODRIGUES, Dênis Alves. A nova agenda da gestão pública brasileira: estudo de caso do
Detran-SP. 2015. Dissertação de Mestrado, Universidade de São Paulo, 2015. Disponível em:
<http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/100/100138/tde-31032015-131712/pt-br.php>.
Acesso em: 30 ago. 2015.
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Modelos de Gestão Orientados ao Setor Público
Objetivos Específicos
• Conhecer o formato organizacional e normas que regem as agências
executivas e reguladoras; e principalmente, suas potencialidades e limites
para a gestão pública brasileira; por meio da análise de casos concretos.
Temas
Introdução
1 As agências e o contexto brasileiro
2 Estudos de caso: ANEEL e Ancine
Considerações finais
Referências
Professor Autor
Dênis Alves Rodrigues
Modelos de Gestão Orientados ao Setor Público
Introdução
A proposta desta aula é entender mais um processo desencadeado a partir das reformas
propostas no Brasil em meados de 1995, conhecido como Gerencialista. Entre outros pontos,
a citada reforma procurou deixar o Estado mais ágil e, também, diminuir o seu tamanho.
Palavras como eficiência ecoavam dentro da administração pública como um novo objetivo
a ser buscado nas várias dimensões, assim, tantos os processos precisaram ser revistos e
“desburocratizados” como as políticas públicas também precisavam ser mais efetivas.
Essas agências tiveram, ao longo dos anos, várias experiências, recebendo elogios e
críticas pelos respectivos sucessos e fracassos que auferiram na prática.
Desta forma, torna-se importante a análise destas agências, procurando entender o que
são, como funcionam e os resultados que conquistaram em suas áreas de atuação.
Estas ações reformistas, no Brasil, foram levadas adiante pelo Ministério da Administração
Federal e Reforma do Estado (MARE), o qual desenvolveu o Plano Diretor da Reforma do
Aparelho do Estado (PDRAE), que dentre outras inovações previa a criação de agências mais
autônomas que pudessem atingir melhor os seus resultados, mantendo a coordenação no
governo federal (PACHECO, 2006).
É importante salientar que este processo de reforma não rompeu totalmente com as
práticas burocráticas, portanto, elas continuam fazendo parte da administração pública
brasileira e pode ser percebido em várias áreas e órgãos públicos, como nas descrições dos
procedimentos licitatórios.
Portanto, esta tentativa de emancipação do modelo vigente, burocrático, não foi total,
mas houve uma tentativa de maior flexibilidade e de focar os resultados. Para tal, muitas
atividades foram descentralizadas e, a fim de que o governo central (federal) não perdesse o
controle das atividades, inclusive considerando as dimensões continentais do país, uma das
formas de controle foi a criação das citadas agências (reguladoras e executivas), que no Brasil
“[...] teve outros fundamentos além da necessidade de delegação do Executivo para criar
credibilidade regulatória; as razões para criação de algumas agências parecem envolver a
tentativa de escapar à rigidez do modelo burocrático consagrado pela Constituição de 1988”
(PACHECO, 2006, p. 525).
Para conhecer as agências e áreas para as quais foram criadas as agências reguladoras,
acesse o link disponível na Midiateca da disciplina.
Este processo procurava dar maior autonomia para os entes da administração pública
que conseguissem tal designação, para que pudessem atender de forma melhor e mais ágil
às necessidades da área-fim à qual estavam vinculados, e promovendo melhores resultados.
Como foi possível identificar na explicação acima, esta nova designação não é extensível
a todos os setores ou áreas de atuação do Estado, pois focam atividades exclusivas do
Estado: “[...] em nível estratégico, que é a de formular e avaliar diretrizes e políticas públicas,
garantindo que sua implementação se dê em benefício de todos os cidadãos; a segunda,
em nível executivo, que é a de implementar as políticas formuladas, com observância das
diretrizes definidas” (BRASIL, 1997, p. 8).
Isto mostra uma tendência de manter dentro do Estado apenas atividades ditas como
exclusivas, repassando para outros entes ou terceirizando para o setor privado (como nos
famosos casos das privatizações) atividades que não atendam a esta peculiaridade. Estas
ações estavam vinculadas a uma necessidade de fortalecer o núcleo estratégico do Estado,
para que ele pudesse atender melhor às suas demandas.
Desta forma, após muito debate no Poder Legislativo, surge a primeira agência, no final
de 1996, com autonomia decisória e financeira, mandatos fixos para seus dirigentes e não
coincidentes com os do chefe do Executivo (PACHECO, 2006, p. 529).
Isto mostra uma evolução neste processo de descentralização com aporte de autonomia
para que as agências pudessem encaminhar seus projetos com foco técnico e com diminuída
pressão política, uma vez que seus mandatos passam a ser fixos.
Estas informações nos permitem entender que esta agência reguladora foi criada com o
objetivo de regulamentar o mercado privado da área de energia elétrica e tentar compatibilizar
os interesses dos atores envolvidos, tais como empresas distribuidoras dos serviços e
consumidores finais (cidadãos e demais empresas e comércios, por exemplo). É importante
destacar que estes atores podem estar de lados opostos, uma vez que as distribuidoras
trabalham em função do lucro, sendo responsáveis pelo adequado fornecimento de energia
elétrica, enquanto os cidadãos, por exemplo, têm o interesse de ter os mesmos serviços (com
a maior qualidade possível), porém, pagando o menor preço possível. Além disto, o preço da
energia elétrica afeta a economia, tal como a inflação.
De acordo com a lei que a criou (Lei nº 9.427, de 26 de dezembro de 1996), a ANEEL
é uma autarquia (administração indireta) sob o regime especial (maior autonomia) e tem
por finalidade regular e fiscalizar a produção, transmissão, distribuição e comercialização de
energia elétrica, em conformidade com as políticas e diretrizes do governo federal.
Podemos depreender que outra atividade que cabe à ANEEL é a fiscalização deste
processo, principalmente quanto à atividade das empresas distribuidoras.
Para dar maior voz aos consumidores destes serviços, a ANEEL possui um conselho de
consumidores, o qual é regulamentado pela Resolução ANEEL nº 451/2011, que participam
no estabelecimento de diretrizes de trabalho.
A ANEEL também promove audiências públicas para debater alguns temas. Nestas
ocasiões, a sociedade civil pode participar e contribuir para o desenvolvimento de
regulamentações, por exemplo, isto é importante dentro de uma linha de aproximação do
Estado para com a sociedade civil (Governança Púbica), que é quem receberá o serviço e terá
que se adequar às suas demandas.
Ainda, dentro do escopo de suas atribuições, cabe à ANEEL cuidar dos processos de
concessão dos serviços vinculados à área de energia elétrica, conversar com os estados e
Distrito Federal para melhor adequação das normas e trabalhar em conjunto com outras
áreas para pensar na adequada utilização dos recursos hídricos para fins de geração de
energia elétrica, entre outros.
Estas regras dão maior legitimidade aos diretores, por terem sido aprovados por parte
do legislativo (Senado Federal) e dão maior autonomia, inclusive política, por garantir o
mandato, fazendo com que não coincida com os mandatos dos presidentes, o que poderia
fazer com que estes diretores fossem capturados por interesses ilegítimos (patrimonialistas).
Isto nos remete a um ciclo onde se verifica, na prática, que a maior autonomia em
termos orçamentários e de gestão está vinculada a instrumentos políticos e técnicos para
o devido acompanhamento do atingimento dos resultados que os órgãos envolvidos se
comprometeram.
Para conhecer a citada Medida provisória que cria a agência reguladora Ancine, acesse o
link disponível na Midiateca da disciplina.
se, no limite, com isto que há maior controle político, por parte do Executivo Federal, quanto
a estas políticas, diminuindo a autonomia de atuação da agência reguladora Ancine.
Da mesma forma que o caso anterior, os diretores da Ancine deverão ser aprovados pelo
Senado Federal, após indicação do Presidente e por ele nomeado, além disto, também terão
mandato de quatro anos não coincidentes.
Considerações finais
Nesta aula conhecemos novas estruturas criadas no seio das reformas gerenciais
promovidas pelo MARE da década de 1990, que visavam a tornar o Estado mais ágil, flexível e
efetivo, dentro das concepções do modelo gerencialista de administração pública.
Os pressupostos desta mudança eram os de tornar o Estado capaz de gerir melhor suas
atribuições estratégicas, delegando a prestação de serviços para entes privados ou para
Assim, uma diferença entre os dois tipos de agências é que as reguladoras, por
interferirem diretamente no mercado privado, podem se chocar com interesses empresariais
e de políticos, precisando, portanto, de autonomia política para exercer de forma adequada
suas atividades e, desta forma, foram concebidas com mandatos fixos de quatro anos, não
coincidentes com o mandato do Presidente da República, para seus diretores e, por outro
lado, os nomes sugeridos pelo executivo são avaliados pelo Senado Federal, o que dá maior
legitimidade ao nomeado.
Além disto, procurando vincular a autonomia dada com os resultados, foi criado o
contrato de gestão, pelo qual as agências reguladoras e executivas se comprometem com
o atingimento de determinados resultados que eram acompanhados, por exemplo, pelo
Tribunal de Contas da União e pelo ministério ao qual está vinculado.
Por último, analisamos dois casos: um deles mais se aproxima da área de infraestrutura
(Aneel) e outro da área social (Ancine), onde foi possível constatar muitas semelhanças e
algumas diferenças entre os modelos implantados, o que contribuiu para a compreensão
para além da teoria, de como na prática estes instrumentos estão sendo utilizados, com base
no governo federal. Espero que tenha compreendido bem o tema e bons estudos!
Referências
BRASIL. Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL). Página inicial. Disponível em: <http://
www.aneel.gov.br/>. Acesso em: 28 jul. 2015.
______. Agência Nacional do Cinema (Ancine). Página inicial. Disponível em: <http://www.
ancine.gov.br/>. Acesso em: 28 jul. 2015.
PACHECO, Regina Silvia. Regulação no Brasil: desenho das agências e formas de controle.
Revista de Administração Pública, v. 40, n. 4, p. 523-543, 2006.
PEREIRA. Luis Carlos B. Da administração pública à gerencial. In: PEREIRA, L. C. B.; SPINK, P. K.
(Org.) Reforma do estado e a administração pública gerencial. Rio de Janeiro: FGV, 2006. p.
237-270.
Objetivos Específicos
• Conhecer o formato organizacional e normas que regem as PPPs; e
principalmente, suas potencialidades e limites para a gestão pública brasileira,
por meio da análise de casos concretos.
Temas
Introdução
1 Contextualização
2 As parcerias público-privadas (PPP)
3 As parcerias público-privadas no Brasil
Considerações finais
Referências
Professor Autor
Dênis Alves Rodrigues
Modelos de Gestão Orientados ao Setor Público
Introdução
Nesta aula, vamos conversar sobre uma modalidade de relacionamento entre o Estado e
a sociedade civil chamada de Parceria Público-Privada (PPP). Este instrumento, que está sendo
utilizado internacionalmente, prevê uma nova forma de contratação de serviços públicos por
parte dos governos.
Mas, não podemos confundir esta modalidade com outras já existentes, como as
licitações. Esta nova modalidade está relacionada a grandes e complexos empreendimentos,
os quais o Estado, sozinho, teria grandes dificuldades de executar.
Este modelo parte do pressuposto de que o Estado não consegue gerir todas as suas
demandas, pelo menos não de forma adequada e eficiente, e que as empresas do setor privado
podem contribuir bastante neste processo, até pelo conhecimento em áreas específicas.
Dentro deste contexto, temos então as PPPs (parcerias público-privadas), que se tornam
um novo instrumento à disposição dos governos em busca de melhores formas para atingir
seus resultados. Boa leitura!
1 Contextualização
O Estado brasileiro tem passado por reformas no modelo de gestão pública, as mais
recentes ocorreram a partir da década de 1990, principalmente no âmbito administrativo
(PEREIRA, 2006, p. 21). Estas mudanças têm permitido que a gestão pública brasileira consiga
melhores resultados, inclusive nas áreas setoriais, quer seja quanto à infraestrutura ou em
áreas sociais e econômicas.
Estas relações não prejudicam o modelo burocrático vigente, uma vez que não há (e
não deve haver) uma apropriação da “res publica” por interesses pessoais (particulares),
quer seja dos governantes ou das empresas, e sim uma relação saudável onde prevalece o
interesse público, os princípios constitucionais da administração pública, principalmente os
da moralidade, eficiência e impessoalidade.
Este pensamento parte dos pressupostos de que os governos não conseguem atender
às demandas da população de forma ágil e com a devida qualidade, quer seja pelo aumento
de suas atribuições, quer seja por conta de inovações tecnológicas e da globalização ou
interconexão entre países e, especificamente, entre economias.
Como veremos adiante, este tipo de parceria difere-se de outros modelos, como os
contratos previstos na lei de licitações.
Este novo complexo formato de relacionamento entre Estado e empresas privadas foi
criado no Brasil?
Este novo arranjo institucional e jurídico se define pela necessidade de uma grande
negociação entre governos e empresas para atenderem aos requisitos para a construção de
uma PPP. Assim,
Esta definição já nos permite fazer algumas análises. Primeiro, a relação dever ser do tipo
cooperação, na qual exista pelo menos um ator público e um ator, ou mais, privado, sugerindo
que os projetos a serem construídos por este novo tipo de parceria devam ser complexos,
pois, permitem a união de níveis de governo (União, estados e municípios), bem como por
Outro ponto que demonstra que as PPPs devam ser usadas em situações complexas
pode ser depreendido do fato de sugerirem relações duradouras, ou seja, não devem ser
desenvolvidas PPPs para projetos que precisem de pouco tempo para serem desenvolvidos
ou finalizados.
Outra dimensão que aparece nesta definição, que é importante para compreender as
diferenças de outras formas de contratação por parte da administração pública de serviços,
é que, no caso da PPP, pode haver partilha de recursos, benefícios e riscos. Isto traz uma
inovação, também, para este tipo de relacionamento, pois a complexidade dos projetos
sugere riscos e responsabilidades que deverão ser compartilhados tanto pelo ente público
quanto pela empresa privada.
As PPPs podem ser utilizadas em várias áreas, não existindo, inicialmente, uma limitação
setorial para sua aplicação, embora elas venham sendo mais utilizadas em “[...] prestação de
um bem ou de um serviço aos cidadãos, ou o desenho, a construção, a gestão ou a exploração
de uma infraestrutura” (FIRMINO, 2011, p. 399).
Ainda, quanto ao momento e à situação de aplicação das PPPs, temos que elas costumam
ser precedidas de estudos financeiros quanto à sua aplicação e retorno aos empresários, pois,
como existe a possibilidade de compartilhamento de riscos, o Estado pode precisar repassar
verbas para suprir eventuais déficits ou prejuízos que as empresas parceiras nas PPPs venham
a ter com determinado projeto, implantação ou prestação de serviço.
Todavia, a literatura também reforça que não se pode utilizar tão somente análises
econômicas e financeiras para escolher ou optar por projetos, ou ainda, por projetos que
serão alvos de PPPs, devendo os gestores públicos se preocuparem com a finalidade e o
interesse público, pois, embora o princípio da eficiência seja importante, não se pode deixar
que o Estado se desvie do interesse público na aplicação de seus recursos.
Neste contexto, podemos perceber que o modelo traz tanto vantagens como desvantagens
em sua aplicação. Como vantagem podemos citar o fato de a parceria gerar sinergia entre
diversos atores, otimizando a aplicação de recursos e permitindo que o Estado consiga levar
adiante muitos e importantes projetos de forma paralela, pois como parte do financiamento
do projeto ocorrerá pela iniciativa privada, isto significa que os recursos públicos poderão ser
investidos ou utilizados em outros programas.
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Modelos de Gestão Orientados ao Setor Público
Outro ponto importante levantado por Firmino (2011) é que a parceria, quando bem
gerida, pode levar a trocas de experiências e expertise, além da gestão do conhecimento, o
que pode ajudar a inovar os projetos, trazendo melhores resultados, aumentando a eficiência,
eficácia e efetividade das ações. Isso é extremamente importante, uma vez que os governos
são cada vez mais chamados a dar respostas em diferentes áreas que podem, inclusive,
apresentar intersecções com outras, dando maior complexidade ao projeto, dificultando
sua administração, problema este que pode ser minimizado com a parceria com empresas
privadas que já atuam na referida área.
Desta forma o caso brasileiro está alinhado à orientação internacional, havendo previsão
de que, caso os projetos objetos de PPP tragam prejuízos aos parceiros da área privada, ou
seja, que as formas de remunerações previstas em contrato não sejam suficientes para que
as empresas lucrem com o projeto, o Governo pode intervir e compensar financeiramente os
parceiros privados.
Outra atenção que a lei exige é que foi definido como valor contratual mínimo o montante
de R$ 20 milhões, o que demonstra que este tipo de parceria deve ser utilizado para grandes
(e complexos) projetos e, por outro lado, que a norma também procurou se utilizar dos
princípios da eficiência, ao fazer com que o pagamento pelas execuções dos projetos ocorra
por conta da respectiva disponibilidade dos serviços.
A Figura 2 nos remete a um caso típico para utilização das PPPs, que é a construção de
grandes complexos viários como rodovias, em que pelo menos parte da remuneração virá dos
pedágios. Até por conta da complexidade destes projetos e parcerias, bem como pela grande
incerteza (riscos) a elas vinculadas, foi estabelecido que
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Modelos de Gestão Orientados ao Setor Público
Para conhecer um pouco mais sobre das medidas adotadas para controle fiscal e
orçamentários dos entes governamentais, acesse o link disponível na Midiateca da disciplina.
Outros pontos importantes, de acordo com a Lei das PPPs (GRILO; ALVES, 2011, p. 12-
13), são:
Assim, percebemos que foram estipulados garantias e deveres para os dois lados da
parceria, ou seja, para o ente público e para o ente privado, principalmente em projetos
com possibilidades de riscos financeiros. Além disto, procurando maior transparência e
legitimidade dos projetos, em alguns casos, os poderes legislativos dos níveis de governo
envolvidos deverão se pronunciar e autorizar estes projetos. Isto é, haverá uma forma de
regramento, buscando um sistema de freios e contrapesos (controles), criados entre os
poderes (Executivo, Legislativo e Judiciário), que evitam desvios e reforçam preocupações
democráticas.
Um último ponto que é importante neste processo, até por conta da sua inovação, é
a utilização de arbitragem como forma de solucionar controvérsias entre os parceiros. A
opção de solução de conflitos por meio da cláusula de arbitragem é a forma de resolução de
controvérsias através do Tribunal de Arbitragem, que busca meios de conciliação, ajudando a
solução das desavenças entre as próprias partes, a fim de evitar que demandas cheguem ao
poder judiciário e demorem anos para serem resolvidas. Isto também pode ser uma forma de
incentivar que empresas privadas fiquem mais estimuladas a participar deste tipo de parceria
por ver nesta forma de resolução de conflito como mais ágil e segura.
Analisando os resultados deste tipo de parceria, de uma forma geral temos que a
[...] experiência internacional indica que as parcerias podem contribuir para a redução
de alguns aspectos negativos associados à execução de obras e ao fornecimento
de serviços no âmbito governamental, como atrasos, sobrecustos, deterioração
prematura, superdimensionamento, subutilização de infraestruturas, carência de
manutenção, custos de operação elevados, carência de flexibilidade operacional,
ausência de estruturas de incentivos, baixa qualidade e descontinuidade dos serviços.
(GRILO; ALVES, 2011, p. 17).
Estes contextos podem permitir que, especificamente o Brasil, possa ter uma melhora
no desempenho de suas atividades a partir da utilização destes novos mecanismos, embora
isto não signifique que ocorra necessariamente. Mas a utilização do conhecimento de outras
empresas participantes no processo pode agregar valor ao que está sendo construído ou ao
serviço que será prestado, até por conta do conhecimento que estas empresas possuem em
suas áreas de atuação e, além disto, a parceria com empresas privadas traz maior flexibilidade
para o projeto, principalmente quanto à contratação de mão de obra e quanto às compras de
uma forma geral, o que pode influir muito no cronograma do projeto, contribuindo para uma
maior agilidade na execução das decisões.
Também, por outro lado, os instrumentos de controle são muito importantes para evitar
No nível federal existe uma estrutura para analisar, monitorar e controlar as PPPs (por
determinação legal), com um Comitê Gestor de Parceria Público-Privada Federal, que é
organizado da seguinte forma:
Comitê
Gestor
Lei 11.079/04, art. 14
• Complexo Datacenter;
• Arsenal da Marinha;
• Fuzil-Imbel;
• Pontal de Irrigação;
• Esplanada Sustentável;
• BR 116-324;
• Ferrovia Norte-Sul.
Esta relação nos mostra que, pelo menos no nível federal, as PPPs estão sendo utilizadas
de forma intensiva e em várias áreas, indo de áreas como infraestrutura de transportes à
criação de datacenters (área da Tecnologia da Informação e Comunicação –TIC), entre outras.
O que nos leva a crer em um aparente sucesso desta nova forma de gerir, embora seja muito
complexa e envolva muito dinheiro para sua consecução.
Considerações finais
Nesta aula tivemos a oportunidade de conversar sobre uma nova forma de relacionamento
entre Estado e sociedade civil. Esta nova modalidade chamada de Parceria Público-Privada
(PPP) procura auxiliar o Estado no encaminhamento de projetos complexos, viabilizando que
os governos consigam gerir e dar prosseguimento a vários projetos de forma paralela. Ela está
alinhada às novas orientações para a administração pública, tanto do modelo Gerencialista,
como mais especificamente o modelo de Governança Pública.
Esta nova modalidade está regulamentada por lei e prevê vários controles, não só
financeiros, mas também administrativos e jurídicos, explicitando obrigações e proteções
para ambas as partes da parceria, ainda, prevendo que as PPP pudessem ser feitas por mais
de um órgão público e por mais de uma empresa privada ao mesmo tempo, uma vez que os
projetos que se enquadram como PPP são complexos e precisam de muitos investimentos e
de conhecimento técnico específico.
Para a opção por esta modalidade, vários estudos financeiros de viabilidade do projeto
precisam ser realizados, mas, por outro lado, questões como interesse público não podem
deixar de ser analisadas, também.
Assim, percebe-se que o modelo implantado no Brasil está alinhado com o que vem
sendo desenvolvido internacionalmente e, como pode ser visto, está sendo utilizado de forma
intensa, pelo menos pelo governo federal.
Referências
ABRUCIO, Luiz Fernando. Desafios contemporâneos para a reforma da administração pública
brasileira. In: PETER, Guy B.; PIERRE, Jon (Org.). Administração pública: coletânea. São Paulo:
UNESP, 2010. p. 537-548.
BRASIL. Lei nº 8.666, de 21 de junho de 1993. Regulamenta o art. 37, inciso XXI, da Constituição
Federal, institui normas para licitações e contratos da Administração Pública e dá outras
providências. Presidência da República [Casa Civil]. Brasília, DF, 1993.
_____. Lei nº 11.079, de 30 de dezembro de 2004. Institui normas gerais para licitação e
contratação de parceria público-privada no âmbito da administração pública. Presidência da
República [Casa Civil]. Brasília, DF, 2004.
FIRMINO, Sandra. Os novos arranjos institucionais na governança pública: o caso das parcerias
público-privadas. Estudo comparativo entre o Sul e o Norte da Europa. Revista da associação
Portuguesa de Sociologia, online, p. 389-422, 2011.
GRILO, L. M.; ALVES, R. T. Guia prático de análise do value for money em projetos de PPP. São
Paulo, 2011.
PEREIRA, Luis Carlos B. Gestão do setor público: estratégia e estrutura para um novo Estado. In:
PEREIRA, L. C B.; SPINK, P. K. (Org.). Reforma do estado e a administração pública gerencial.
Rio de Janeiro: FGV, 2006. p. 21-38.
Objetivos Específicos
• Compreender o papel, limites e potencialidades da gestão social e da
regulação entre público e privado, bem como a intersecção entre o terceiro
setor e a gestão pública.
Temas
Introdução
1 A administração pública
2 O modelo societal
3 O terceiro setor
Considerações finais
Referências
Professor Autor
Dênis Alves Rodrigues
Modelos de Gestão Orientados ao Setor Público
Introdução
Nesta aula, vamos analisar a administração pública, com foco no caso brasileiro, sobre a
perspectiva do terceiro setor.
A administração pública tem passado por reformas que procuraram melhorar seu
desempenho, nesse contexto, aparece o modelo Gerencialista que se difere do modelo
Burocrata até então vigente.
Esta passagem, no Brasil, não foi total, mas trouxe novas perspectivas procurando tornar
o Estado mais flexível e eficiente. Com isto, várias práticas e ferramentas foram implantadas
a partir do setor privado, presumidas como melhores e mais eficientes.
Por outro lado, críticas aparecem ao modelo Gerencialista, muitas vinculadas à sua
preocupação com eficiência, sem atentar às questões sociais importantes, como transparência
e participação social. Para suprir tais lacunas, aparecem modelos como a gestão social e uma
tendência dos governos trabalharem em colaboração com o terceiro setor.
É nesta área que a aula de hoje se desenvolverá, procurando entender melhor este
debate, com seus limites, propostas e desafios. Boa leitura!
1 A administração pública
A administração pública teve vários modelos de gestão implantados, com orientações
ao seu funcionamento, prescrevendo, muitas vezes, a forma de agir, planejar e gerir a coisa
pública, sendo que cada um dos modelos pretendeu responder aos interesses dos políticos
ou da classe dominante à sua época de implementação.
Podemos, como ponto inicial, falar do modelo Patrimonialista, no qual o público e privado
eram misturados, principalmente na imagem do rei, que geria a coisa pública como sua, onde
práticas como o nepotismo eram comuns, além disto, a sociedade tinha pouca participação
nas decisões, assim, seu papel, quando não inexistente, era marginal.
Embora o novo modelo tenha chegado ao Brasil, onde suas práticas iniciais remontam
à década de 1930, ele nunca foi implantado totalmente, como a teoria o descrevia. Por
outro lado, embora não seja possível negar as melhorias conseguidas com o novo modelo,
problemas aparecem relacionados às suas práticas, por ser cara, autorreferida e pouco
voltada às demandas da sociedade (PEREIRA, 2006, p. 241).
Mais uma vez, o novo modelo, independentemente do seu grau de implantação no Brasil,
não atendia completamente às necessidades dos governos e da sociedade, aparecendo um
novo modelo, que no Brasil ficou conhecido como Gerencialista. Este novo modelo procurava
mudar a concepção da gestão pública para torná-la mais flexível e eficiente, procurando
manter sob o controle direto do Estado apenas as atividades estratégicas.
Críticas surgem a este modelo, pois havia o entendimento de “[...] que colocariam em
prática ideias e ferramentas de gestão utilizadas no setor privado, ‘criticamente’ adaptadas ao
setor público, tais como os programas de qualidade e a reengenharia organizacional” (PAULA,
2005, p. 38).
Embora o modelo Gerencialista tenha vindo para tornar o Estado menos autorreferido, ou
seja, deslocar-se do modelo weberiano que presumidamente fecha os governos em si mesmo e,
portanto, não abertos à sociedade, ele recebe algumas críticas por, também presumidamente,
não incentivar a participação social. Considerando neste contexto as críticas ao modelo
Gerencialista, quais seriam as orientações e práticas indutoras mais adequadas para atender a
essas novas demandas ou a essas necessidades?
As críticas ao modelo gerencial sugerem que o Estado ainda estaria pouco permeável à
sociedade civil, e assim, esta ainda teria pouca participação nos governos. Neste processo,
apresentam-se modelos como o da administração pública societal (PAULA, 2005), o qual
iremos conhecer mais detalhadamente a seguir.
2 O modelo societal
Especificamente no Brasil, as ações que lutavam contra a ditadura e o apoio da igreja
católica em questões sociais estimularam “[...] a articulação de alguns grupos em torno de
questões que afetavam substancialmente a qualidade de vida individual e coletiva, originando
reivindicações populares junto ao poder público” (PAULA, 2006, p. 39). Com isto, iniciava-se
uma cultura de luta por direitos sociais e cobrança sobre os governos para resolverem estas
questões que se apresentavam.
Figura 1 – Manifestações
Este novo modelo (embora estejamos chamando-o assim por uma questão didática),
embora muitas vezes não pareça um corpo único de modelo que possa atender a todas as
demandas do Estado atual, trabalhando de forma mais pontual a questão da participação
social, formando uma crítica a outros modelos, como o Gerencialista, onde procura apresentar
novas propostas ou uma outra orientação para a administração pública, fugindo um pouco
de uma vertente “puramente Gerencialista”, pois esta “[...] visão alternativa tenta ir além dos
problemas administrativos e gerenciais, por considerar a reforma um projeto político e de
desenvolvimento nacional” (PAULA, 2005, p. 39).
As palavras acima demonstram que o foco real não é um rompimento com o processo
Gerencialista, ou com outro modelo de administração pública, e sim uma crítica para que
outras perspectivas, que não aparecem tão delineadas ou de forma objetiva nestes modelos,
sejam tratadas como prioridades.
Nesta linha, críticas são direcionadas, por exemplo, ao setor público não estatal, onde
novos formatos organizacionais ou institucionais precisariam ser criados para que houvesse
maior participação da sociedade civil, e que esta não ocorresse apenas nas decisões pontuais
e sim durante o processo de escolha de alternativas para os problemas públicos, inclusive
quais deveriam ser as prioridades dos governos.
Para Paula (2005, p. 40), três dimensões são importantes para compreender e comparar
os modelos de Administração Societal e o Gerencialista, sendo elas:
1. A dimensão econômico-financeira;
2. A dimensão institucional-administrativa;
3. A dimensão sociopolítica.
Por último, temos a dimensão sociopolítica, que pela divisão efetuada pela autora citada,
está relacionada às questões políticas como direitos sociais e cidadania, além disto, temos a
análise da participação da sociedade civil nas decisões e nos processos dos governos, visando
a maior transparência e responsabilidade.
O quadro a seguir nos permitirá compreender melhor as diferenças entre os dois modelos
que estamos debatendo, suas propostas e diferenças.
O primeiro ponto a debater é que o quadro simplifica o debate que gira em torno das
duas visões de modelos para a administração pública e, com certeza, ele também traz consigo
uma carga ideológica de quem o construiu.
A partir disto, focando nas dimensões elencadas acima, percebe-se que o modelo societal
não apresenta orientações ou ferramentas que sejam utilizadas em todas elas ou em cada uma
delas. Este é um dos motivos que dificulta a denominação do modelo como administração
societal, pois, de forma resumida, ela procura enfatizar a necessidade de maior participação
popular na administração da coisa pública.
Por outro lado, esse modelo não traz repostas para outras questões, como na área
financeira, ficando evidente que a preocupação na participação social deva ocorrer em todas
as esferas governamentais (inclusive em todos os níveis dos entes federados) e em todas as
dimensões da administração pública.
Assim, duas questões iniciais aparecem: uma primeira vinculada à vontade política
dos governantes em lidar com este problema como primordial dentro de uma sociedade
democrática e o segundo, que está relacionado à forma de criar sinergia entre as diferentes
opiniões (dentro da sociedade) e conduzir um processo para que haja de fato a participação
social. Para esta situação temos o advento da Lei de Transparência que procura deixar a
administração pública mais acessível à população, o que fornece elementos inclusive para
qualificar os debates que aparecem. Uma das formas possíveis se dá através das redes
sociais e da internet como um todo, utilizando-se, portanto, de ferramentas de Tecnologia da
Informação e Comunicação (TIC), podendo ser um importante aporte neste processo.
Portanto, para além do debate de escolhas entre modelos de aplicação, ou mesmo sobre
problemas encontrados em cada uma ou mesmo críticas que existam para cada um deles,
percebe-se a necessidade de participação maior da sociedade civil no debate, e uma das
formas para que isso ocorra é através das organizações do terceiro setor, ou seja, não estão
definidas dentro do conceito de pertencentes ao Estado, todavia, também não possuem fins
lucrativos, o que demonstra uma maior preocupação social em suas ações.
Assim, procuraremos entender melhor como funciona este tipo de organização e sua
decorrente relação com o poder público.
3 O terceiro setor
Inicialmente, temos o Estado como autoridade responsável, no Brasil, por várias áreas
sociais, sendo responsável por gerir a coisa pública, o que lhe transfere a denominação de
primeiro setor. Na sequência, temos os entes que possuem como finalidade o lucro e são
orientados e regulados pelo Estado através de leis e regulamentações, são formados pelas
empresas privadas, bancos, comércios, prestadores de serviços, entre outras instituições que
visam ao lucro.
Por fim, temos as organizações classificadas como terceiro setor, que são constituídas
pelas instituições sem fins lucrativos, com objetivo de melhorias sociais e trabalham, portanto,
no interesse coletivo. É importante ressaltar que estas estruturas não estão diretamente
vinculadas ao Estado (primeiro setor), muitas vezes estas organizações são formadas como
fundações (privada), associações, entre outras.
direta com o Estado, mas prestando serviços de alta relevância social e podendo contar com
pessoas trabalhando como voluntárias e com financiamento de empresas privadas, as quais
muitas vezes colaboram com estes tipos de instituições.
É importante neste ponto que seja feita uma consideração: dentro do âmbito da
administração pública (administração indireta) existe a figura das fundações públicas,
que possuem personalidade jurídica própria e existem para fins específicos, possuem
orçamento, bens e pessoal públicos. No entanto, elas não se confundem com as
fundações privadas que estamos tratando neste capítulo. Como exemplo de fundações
públicas temos a Fundação Nacional de Artes-FUNARTE (Governo Federal) e a Fundação
Procon-SP (Governo do Estado de São Paulo).
Quanto às associações e sociedade civis, embora elas sejam parecidas, temos que as
primeiras não têm finalidade lucrativa (BOCCI, 2013, p. 38).
[...] nas primeiras há uma reunião de bens direcionados a um fim. Nessas últimas,
não há associados nem assembleia de associados, há, sim, curadores e conselhos de
curadores, sendo a ingerência da lei muito maior. Por essa razão, a maioria das ONGs
resolve assumir a configuração de uma associação, devido à necessidade de maior
liberdade de atuação. (BOCCI, 2013, p. 39).
Agora iremos mostrar os principais modelos (ou formas) que os entes do terceiro setor
usam, com foco em suas atividades.
Outro formato incluído como de terceiro setor são os Serviços Sociais Autônomos. São
entes paraestatais que cooperam com o poder público, criados por lei, com personalidade de
direito privado, sem finalidade lucrativa, podendo ser mantidos por dotação orçamentária ou
por contribuições parafiscais (BOCCHI, 2013).
Como exemplos destes serviços, há os vinculados ao Sistema “S”, entre os quais temos o
Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI) e o Serviço Social do Comércio (SESC).
Nesta modalidade, os entes possuem autonomia na destinação de seus orçamentos, na
delimitação de seus quadros de funcionários e na contratação de funcionários, por exemplo.
Estas características permitem que eles ajam com maior flexibilidade e agilidade, frente às
suas necessidades.
Considerações finais
Hoje analisamos um novo modelo, ou melhor, novas orientações ao setor público.
Estas orientações que se configuram como modelo societal aparecem dentro de críticas que
são feitas ao modelo Gerencialista de administração pública, por entender que este último
não preconizava, de forma afirmativa, ações em busca de uma melhor condição social ou
participação da sociedade nas decisões e nos processos da administração pública.
Neste contexto, o modelo societal mostrou uma grande preocupação com o fortalecimento
do Estado com instrumentos que sejam utilizados para uma maior aproximação da sociedade,
e, com isto, que esta possa participar ativamente das decisões e definições, sugerindo que os
governos criem fóruns de debates e desenvolvam formas de majorar a voz dos cidadãos, para
que estes definam os rumos da administração pública.
Embora este novo modelo tenha uma percepção importante de caminhos que precisam
ser trilhados para a melhoria do desempenho dos governos, ele não preenche as lacunas
(dimensões) necessárias para se firmar como um modelo capaz de substituir os anteriores,
e sim, figura como novos preceitos e orientações que precisam permear todo o Estado,
quer seja quanto a questões financeiras, administrativas (gestão) ou no âmbito das decisões
políticas.
Referências
ALCOFORADO, Flávio Carneiro Guedes. OS e OSCIP: uma Análise da Abrangência dos Serviços
Públicos e do Perfil das Entidades Parceiras em Minas Gerais, São Paulo e Espírito Santo. Revista
ADM. MADE, ano 10, v. 14, n. 3, p. 47-65, out. /dez. 2010.
BOCCHI, Olsen H. O terceiro setor: uma visão estratégica para projetos de interesse público.
Curitiba: Intersaberes, 2013.
PAULA, Ana Paula Paes de. Administração pública brasileira entre o gerencialismo e a gestão
social. RAE, v. 45, n. 1, jan. /mar. 2005.
PEREIRA, Luis Carlos Bresser. Da administração pública à gerencial. In: PEREIRA, L. C. B.; SPINK,
P. K. (Org.). Reforma do estado e a administração pública gerencial. Rio de Janeiro: FGV, 2006.
p. 237-270.
Objetivos Específicos
• Analisar criticamente as vantagens e os limites das inovações recentes, bem
como refletir sobre caminhos alternativos para aperfeiçoamento da gestão
pública brasileira.
Temas
Introdução
1 O processo de redemocratização
2 O projeto gerencialista
3 Novos desafios e oportunidades
Considerações finais
Referências
Professor Autor
Dênis Alves Rodrigues
Modelos de Gestão Orientados ao Setor Público
Introdução
Nesta aula, teremos uma abordagem diferente sobre os caminhos trilhados pela
administração pública, pois é comum estudarmos de forma separada as reformas
administrativas que ocorreram ao longo dos anos na administração pública brasileira.
Neste contexto, dentro das propostas gerencialistas, várias ações e arranjos institucionais
foram criados, tais como: as organizações sociais, as parcerias público-privadas, as agências
reguladoras e as agências executivas.
É importante lembrar que nestes mais recentes processos de mudanças, muitas ações já
eram propostas por outros modelos, que reforçavam a importância do trabalho em rede entre
Estado e sociedade civil (Governança Pública) ou a necessidade de melhorar a participação
do cidadão dentro dos governos (modelo societal). Boa leitura!
1 O processo de redemocratização
Para compreendermos de forma adequada como evoluiu a administração pública brasileira,
é necessária a análise da evolução dos modelos implementados e, a partir daí, entender quais
foram de fato as conquistas, os desafios e os equívocos neste processo. É importante o estudo
dentro de um contexto político-social estabelecido, inclusive compreendo-o historicamente.
Começaremos a nossa análise focando no processo de redemocratização, que foi um dos
norteadores de muitas mudanças para as reformas de Estado que ocorreram posteriormente,
principalmente a partir de 1995.
– ou melhor, resolver – as demandas que eram propostas, pois podemos observar que
grandes problemas por ele combatidos continuavam presentes no país, como a não completa
diferenciação entre patrimônio público e patrimônio privado. Além disto, para atender
às novas propostas trazidas pela nova Constituição Federal, seria importante desenvolver
novas formas de gerir a coisa pública, para que pudessem atender melhor aos interesses da
população, sendo, inclusive, mais efetivos em suas políticas, por um lado, e evitando desvios
e práticas patrimonialistas de forma geral, por outro.
Outra questão importante que devemos entender neste processo de mudança é que
restou uma forma de federalismo no Brasil, com maior autonomia para os municípios (SILVA,
2010). Este novo arranjo impactou no desenho das políticas públicas e, evidentemente, no
relacionamento entre os entes federados (União, estados e municípios), pois incentivou a
cooperação entre eles, e mais que isto, gerou uma interdependência entre planejamento e
implantação das políticas públicas.
Estes dois pontos estavam intimamente interligados, pois o conceito de marajás levou a
uma percepção equivocada de que todos os funcionários públicos não exerciam suas funções
de forma adequada e que representariam mais problemas para a administração pública do
que soluções, e que o Estado deveria ter o menor tamanho possível. Por este entendimento,
o foco deveria ser a diminuição da quantidade de funcionários para que o Estado tivesse o
tamanho ideal, e limitadas condições de agir, tornando-se pouco interventor, principalmente
no que se refere ao mercado privado.
2 O projeto gerencialista
No governo do Presidente Fernando Henrique Cardoso é desenvolvido pelo Ministério da
Administração Federal e Reforma do Estado (MARE) o Plano Diretor da Reforma do Aparelho
do Estado (Pdrae), que foi o alicerce das ações reformistas conhecidas como Gerencialistas,
que, entre outras coisas, propuseram a descentralização política (transferência de recursos e
atribuições) para os níveis locais e regionais (característica do federalismo); a descentralização
administrativa (procurando agilizar a resolução de problemas); diminuição dos níveis
hierárquicos das organizações públicas; pressuposto da confiança limitada; controle dos
resultados e foco nas necessidades do cidadão (prestação de serviços eficientes) (PEREIRA,
2006).
Mas, a proposta feita pelo Plano Diretor da Reforma do Aparelho do Estado (Pdrae–MARE)
tinha alguns pressupostos equivocados, pois o plano se baseava em uma visão etapista, onde
a reforma gerencialista viria depois da burocrática (ABRUCIO, 2007).
Esta enunciação postulava que teríamos que ter o modelo burocrático estabelecido e que
ele seria suplantado pelo modelo Gerencialista, com suas novas orientações e paradigmas.
Na prática, entretanto, o que ocorreu foi que o modelo gerencialista se acomodou sobre
o modelo burocrático existente. Um exemplo desta afirmação de apropriação de práticas
burocráticas é que “[...] o ideal meritocrático contido no chamado modelo weberiano não foi
abandonado pelo Mare; ao contrário, foi aperfeiçoado” (ABRUCIO, 2007, p. 71).
Este processo se mostra como uma “[...] fuga da situação de ineficiência (que) é a que se
apresenta com o chamado insulamento burocrático, tentativa de isolar os laços que o aparelho
burocrático mantém com o ambiente externo, de forma resistir às pressões clientelísticas e
construir um “núcleo duro”, capaz de garantir a governança” (ARAGÃO, 1997, p. 113).
Dentro deste contexto, nós temos um deslocamento de foco para o resultado, mas é
importante reforçar que não houve um rompimento com o modelo burocrático e o controle
procedimental ainda é muito presente na administração pública brasileira.
[...] visão economicista estreita da equipe econômica (que) barrou várias inovações
institucionais, como a maior autonomia às agências, dado que havia o medo de perder
o controle sobre as despesas dos órgãos. Mas havia outras resistências políticas,
vindas primordialmente do Congresso. Os parlamentares temiam a implantação de
um modelo administrativo mais transparente e voltado ao desempenho, pois isso
diminuiria a capacidade de a classe política influenciar a gestão dos órgãos públicos,
pela via da manipulação de cargos e verbas. (ABRUCIO, 2007, p. 73).
Estas considerações são importantes por mostrarem que havia uma pressão dentro do
próprio Poder Executivo federal, que se preocupava mais com a questão orçamentária, e por
outro lado, que parece menos legítimo, que é a preocupação dos políticos (Poder Legislativo)
que vinham no andamento das reformas, reforçando a necessidade da manutenção de
Estes problemas, somados às questões de visão etapista e de que uma etapa (modelo)
substitui totalmente a outra (Burocrático x Gerencialista), criaram dificuldades, inclusive com
a burocracia dos governos (funcionários públicos), pois trouxeram mais um problema a ser
enfrentando que não era o foco no momento, pois havia questões mais importantes a serem
desenvolvidas e mais cruciais para a melhoria do desempenho dos governos.
Em nível local e regional, temos que os respectivos governos “[...] introduziram diversas
novidades no campo das políticas públicas: maior participação social, ações mais ágeis, e,
no caso específico dos estados, a expansão dos centros de atendimento integrado, uma das
maiores revoluções na administração pública brasileira contemporânea” (ABRUCIO, 2007,
p. 76).
Com estas considerações feitas, é possível identificar alguns pontos importantes sobre
a análise da reforma administrativa que ocorreu em 1995. O modelo Gerencialista procurou,
através de seus idealizadores, romper com o modelo burocrático, suplantando-o totalmente.
Assim, a intenção era a de que houvesse maior eficiência para a administração pública, já
em um novo contexto de globalização e rápidas evoluções de tecnologias, o que fazia com
que os preceitos burocráticos de controle procedimental e hierarquização se tornassem
ultrapassados. Isto, por si, já tornava necessário um novo modelo que fosse capaz de responder
de forma rápida às novas demandas que apareciam. Para tal, eram necessárias burocracias
mais ágeis, voltadas para o resultado. Estas mudanças não eram simples, a legislação brasileira
foi construída dentro de uma lógica burocrática de desconfiança sobre os gestores públicos, o
que levava a reforçar os controles sobre processos e procedimentos. Além disto, os problemas
econômicos e de financiamento do Estado que se vivia (principalmente durante as décadas
de 1980 e 1990) acabaram fazendo com que muitos esforços fossem voltados para esta área,
em detrimento de tantas outras importantes áreas.
Mas não se ficou na inércia, mudanças até na Constituição Federal foram promovidas
para tentar articular novos arranjos e formas de administrar a coisa pública. E logo foi visto
que a mudança total de paradigma não seria possível, até por conta de interesses políticos
diversos. Desta forma, os próprios governos foram adequando as mudanças às suas realidades
e às regras burocráticas existentes, o que limitou o seu alcance e a tornou mais morosa.
Outro ponto que é importante considerarmos é que as reformas não atingiram igualmente
todas as esferas federais, pois elas ocorreram “[...] fundamentalmente no âmbito federal, e
pouca influência exerceu [exerceram] na administração pública de nível subnacional (estados
e municípios) ” (RODRIGUES, 2015, p. 14).
Assim, embora não se tenha dúvida acerca das mudanças ocorridas, muito ainda precisa
ser feito para a melhoria da capacidade dos governos em termos de gestão e de democracia.
Embora tenha ocorrido um esforço muito grande para melhorar a eficiência do Estado,
não foi possível atingir todos os objetivos esperados. Os sucessos auferidos de forma isolada
são suficientes para termos um Estado mais justo e democrático? Por mais que as ações
reformistas em termos gerenciais tivessem sido inseridas na administração pública com alto
grau de sucesso, os problemas sociais e políticos do Brasil teriam sido resolvidos?
Reflexos destes debates foram expressados, também, por Paula (2005), no desenho do
modelo societal, que foca muito na necessidade dos governos de criarem mais espaços para
que a população possa participar das decisões do governo. Além disto, reforçam a necessidade
dos governos abrirem seus dados e suas informações para a população, aproximando o
Estado da população, dando-lhe maiores condições de participar dos debates de forma mais
qualificada.
Novamente, não se pretende falar em visão etapista ou uma visão totalmente antagônica
do modelo Gerencialista, mas sim, novas formas e ideais que sejam buscadas pelos políticos e
gestores públicos procurando aumentar a governabilidade democrática. Para Catalá (2006, p.
272) a “governabilidade democrática” é “[...] a capacidade de um sistema democrático para se
autogovernar e enfrentar positivamente os desafios e as oportunidades [...]”, evidentemente
as ações precisam estar, sempre, permeadas de democracia.
Quanto à questão da pobreza, cabe aos governos desenvolver projetos que ao mesmo
tempo façam com que haja crescimento econômico, além de fazer com que ocorra a
distribuição das melhorias auferidas por toda a população, culminando no sentimento de
melhoria de vida mesmo entre as pessoas em situações de maior pobreza.
Por outro lado, modelos aparecem com outro foco, consideram que o Estado, sozinho,
não será capaz de realizar as mudanças necessárias e com a rapidez desejada, tornando
fundamental a participação da sociedade civil em parceria com os governos, procurando
otimizar a utilização dos recursos e prover melhores serviços, estas ideias foram unidas
dentro do modelo de governança pública. Dentre as ações vinculadas a este modelo, temos
as parcerias público-privadas (PPP) para projetos de grande vulto em quais são necessárias
grandes somas de dinheiro para financiá-los. Os governos podem fazer parcerias com
empresas privadas, dividindo riscos e garantindo retorno para o setor privado, realizando
conjuntamente estes projetos. Espera-se que muitos projetos importantes, muitas vezes da
área de infraestrutura e que ficariam engavetados, sejam levados adiante.
• Os grandes consensos que as reformas institucionais exigem não podem ser obtidos
a partir da lideração exclusiva do presidente; passa a ser indispensável fortalecer a
instituição e o aparelho organizacional dos legislativos nacionais;
Portanto, para além das questões de eficiência do Estado e parcerias para melhores
resultados, temos grandes preocupações em torno de objetivos sociais importantes a serem
perseguidos, independentemente de modelo de gestão pública que esteja prevalecendo em
determinado momento. Para além de problemas quanto à “otimização” de processo, foco
no resultado, utilização de ferramentas administrativas importadas das empresas privadas, é
necessário que problemas sociais complexos sejam combatidos, como a pobreza e o acesso a
serviços essenciais, como saúde, que precisam ser universalizados.
Para conhecer um pouco mais das críticas sobre as dificuldades de se lidar com a burocracia
e a necessidade de melhorias sociais, sugerimos o filme: Saneamento básico, o filme (comédia).
O pano de fundo é uma demanda social, na área de saneamento, mas questões burocráticas
vão sendo colocadas como empecilhos, sendo necessária a criatividade para superá-los.
Assim, algumas lições são importantes, pois não podemos destituir dos debates sobre a
administração pública a visão política, o que nos remete a uma necessidade de composição
e participação da sociedade em favor da melhoria da gestão pública, pois, muitas vezes, os
interessem dos políticos e dos burocratas podem não ser o interesse público e sim interesses
particularistas ou corporativistas.
Além disto, as propostas que são levadas ao debate costumam estar permeadas por
ideias, e é preciso compreendê-las para saber quais são realmente as possibilidades de
sucesso e quais os benefícios realmente serão trazidos para a população ou em qual medida
as ações atendem a interesses particularistas ou de uma minoria.
Considerações finais
Nesta aula analisamos, de forma crítica, o processo mais recente de reformas
administrativas pelas quais o Estado brasileiro passou. Identificamos os modelos que se
apresentaram como o gerencialista, o societal e o de governança pública.
Também foi possível verificar que todos eles possuem melhorias significativas, ao mesmo
tempo em que há lacunas e disfunções ou até premissas equivocadas.
De outra parte, a gestão pública, sendo permeada por diversos interesses, implica
dificuldades e desafios extras na implementação das propostas de cada modelo, situação que
muitas vezes vai de encontro aos interesses já estabelecidos. O que ressalta a importância da
participação social para que este quadro possa mudar e fazer com que importantes mudanças
sejam feitas e que estas estejam alinhadas ao interesse público.
Por último, podemos comparar as reformas em democracias, que podem ser mais lentas
por haver maior debate entre os poderes do Estado (Executivo, Legislativo e Judiciário) e
com a sociedade civil, organizada ou não, como um todo. Este arranjo mais complexo acaba
por deixar mais morosa, além de complexa, a implantação de mudanças drásticas, assim,
normalmente são feitas alterações de forma incremental.
Referências
ABRUCIO, Fernando Luiz. Trajetória recente da gestão pública brasileira: um balanço crítico e a
renovação da agenda de reformas. Rev. Adm. Pública, Rio de Janeiro, v. 41, n. especial, p. 67-
86, 2007.
ANDION, C. Por uma nova interpretação das mudanças de paradigmas na administração pública.
Cadernos EBAPE.BR, Rio de Janeiro, v. 10, n. 1, mar. 2012.
CATALÁ, Joan, P. Governabiliade democrática na América Latina no final do século XX. In:
PEREIRA, L. C B.; SPINK, P. K. (Org.). Reforma do estado e a administração pública gerencial.
Rio de Janeiro: FGV, 2006. p. 271-314.
PAULA, Ana Paula Paes de. Administração pública brasileira entre o gerencialismo e a gestão
social. RAE, v. 45, n. 1, 2005.
PEREIRA. Luis Carlos B. Gestão do setor público: estratégia e estrutura para um novo Estado. In:
PEREIRA, L. C B.; SPINK, P. K. (Org.). Reforma do Estado e a administração pública gerencial.
Rio de Janeiro: FGV, 2006. p. 21-38.
RODRIGUES, Dênis Alves. A nova agenda da gestão pública brasileira: estudo de caso do Detran-
SP. 2015. Dissertação de Mestrado, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2015. Disponível em:
<http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/100/100138/tde-31032015-131712/pt-br.php>.
Acesso em: 10 ago. 2015.
SILVA, Virgílio A. Federalismo e articulação de competências no Brasil. In: PETER, Guy B.; PIERRE,
Jon (Org.). Administração pública: coletânea. São Paulo: UNESP, 2010. p. 549-570.
Objetivos Específicos
• Conhecer os instrumentos de avaliação de desempenho e efetividade do
setor público
Temas
Introdução
1 Contextualização
2 Avaliação de desempenho e de efetividade
3 Desafios para avaliar e mensurar resultados no setor público
4 Indicadores para as áreas sociais
Considerações finais
Referências
Professor Autor
Dênis Alves Rodrigues
Modelos de Gestão Orientados ao Setor Público
Introdução
Nesta aula, vamos entender sobre a administração pública e seu grande desenvolvimento
nas questões gerenciais da última década. A busca pela mudança de mentalidade, passando
por uma visão burocrática e compartimentalizada das políticas públicas para uma forma mais
gerencial, democrática e colaborativa de se administrar a coisa pública.
Neste contexto, são desenvolvidos novos modelos de gestão pública, como o New Public
Management (NPM), como ficou conhecido no mundo, e teve expoentes como Osborne
e Gaebler (1998) nos Estados Unidos da América ou o modelo Gerencialista, como ficou
conhecida a reforma no Brasil, ocorrida a partir da década de 1995.
Um dos marcos desta nova visão da administração pública era o foco no resultado, que se
contrapunha ao modelo burocrático, cujo foco se fixava no controle dos processos. Com estas
novas orientações, um dos pontos a serem trabalhados era a mensuração do desempenho e
da efetividade da administração pública.
Embora a prática fosse muito mais disseminada na área empresarial há mais tempo,
isto se mostrou um novo desafio para os gestores públicos, pela complexidade das ações
colocadas em prática e a dificuldade de vincular alguns resultados às ações executadas.
1 Contextualização
As orientações para a administração pública sofreram mudanças durante o final do
século passado. Havia uma preocupação generalizada com a melhoria de desempenho das
organizações públicas. O novo contexto mundial de globalização, as inovações tecnológicas
e uma interdependência entre países obrigaram as administrações públicas pelo mundo a
serem mais ágeis e efetivas na execução de suas atividades, pois era necessário dar respostas
às demandas sociais que se apresentavam.
Este foco que passava para os resultados possuía um dos pontos que o diferenciava
do modelo burocrático, que tinha uma grande preocupação com o controle dos processos,
passando, em decorrência disto, a precisar de um monitoramento das ações e da avaliação
do desempenho do setor público.
Radin expõe o clamor pelo controle por desempenho que marcou as reformas gerenciais
(2000, p. 168 apud HEINRICH, 2010, p. 53): “[...] se há um único tema que caracterize o
setor público na década de 1990, é a demanda por desempenho. Um mantra, que demanda
o registro do desempenho e dos resultados explícitos da ação governamental surgiu nessa
década, ouvido em todos os níveis de governo”.
Dentro deste contexto as administrações públicas são compelidas, muitas vezes através
de regulamentações legais, a prestarem mais informações sobre seu desempenho para a
sociedade (transparência e accountability). Por outro lado, são efetuados contratos de gestão,
pelos quais os órgãos públicos ou entes por eles contratados se responsabilizam por atingir
determinados objetivos.
No Brasil, boa parte deste controle financeiro está previsto em lei e, mesmo assim, não
podemos dizer que isto garante a efetividade das políticas públicas. Outros aspectos ligados
ao foco de cada área setorial, programa ou projeto implantado precisam ser considerados
neste processo de monitoramento das ações dos órgãos públicos ou da avaliação de sua
efetividade, garantindo melhores resultados. Uma nova cultura de gestão foi estabelecida.
Outro ponto importante é o controle externo, feito por órgãos não vinculados ao mesmo
poder, por exemplo. Este tipo de controle se configura quando o Poder Executivo presta
informações ao Poder Legislativo.
Quanto aos tipos de dados que podem ser coletados e colocados à disposição, temos,
conforme Kamenski (1993 apud HEINRICH, 2010, p. 54) e Hatry (1999 apud HEINRICH, 2010,
p. 54):
• Dados de impacto.
Mas, a tipificação dos dados não significa que a sua utilização seja garantida ou mesmo
fácil de ser aplicada, pois os gestores públicos ainda têm dificuldades em fazer este quadro
funcionar bem (HEINRICH, 2010, p. 61).
Por outro lado, ainda reforçou que a falta de informações gerenciais e a ausência de
sistemas informatizados responsáveis pelo levantamento destas informações impediam o
acompanhamento dos resultados, como nas áreas de habilitação de condutores, fiscalização
e educação do trânsito.
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Modelos de Gestão Orientados ao Setor Público
Esta análise é importante para que se tenha um quadro da realidade das organizações
públicas em contraste com a teoria.
Uma das saídas nestes casos que empobrecem e dificultam a evolução desta área é a
criação de metas vagas, irrelevantes ou que são atingidas facilmente (HEINRICH, 2010, p.
61). A adoção destas medidas permite diminuir o grau de conflitos e de comprometimento
entre as áreas dentro da organização, pois, como os indicadores são vagos e pouco claros ou
objetivos, os gestores dificilmente serão responsabilizados ou cobrados pelos resultados, pois,
provavelmente, atingirão as metas. Esta opção não colabora para melhorar o desempenho ou
para desenvolver o monitoramento dos resultados nas organizações públicas.
Assim, “[...] se as metas de desempenho de mais curto prazo e seus indicadores forem
correlacionados com firmeza aos objetivos e impactos dos programas de longo prazo os
gestores públicos poderão evitar este dilema” (HEINRICH, 2010, p. 62).
Desta forma, além de criar indicadores, estes precisam estar alinhados com os
objetivos estratégicos da organização e do governo, para que não haja distorções, podendo
o monitoramento das ações contribuir para uma análise mais complexa entre as ações
efetuadas e os resultados obtidos.
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Modelos de Gestão Orientados ao Setor Público
Quanto às questões sociais, muitas são as variáveis que podem influenciar os resultados,
o que tem orientado os governos a trabalharem de forma intersetorial.
Por outro lado, temos que as ações dos governos podem depender de ações de
entidades que não fazem parte da estrutura direta do Estado, como as Organizações Sociais
ou as empresas com as quais foram feitas parcerias público-privadas (PPP). E se para a
população esta divisão não é tão clara ou importante, para os gestores públicos que podem
não ter como influenciar nestas organizações que comprometem diretamente os seus
resultados é importante, pois ele será cobrado pelos resultados sobre os quais não tem total
governabilidade, cujos instrumentos ligados à execução da política ou do projeto, ou mesmo
sobre os recursos financeiros e sua utilização.
Também, ainda no exemplo acima, podemos citar o controle da qualidade dos materiais
utilizados, os sucessos na recuperação dos pacientes. Enfim, cabe aos gestores públicos
pensar sobre várias dimensões para monitoramento dos programas, procurando otimizar os
recursos disponíveis e trazendo mais benefícios para a população.
Para ajudar na compreensão das diferenças entre os tipos de indicadores que podem ser
utilizados pelos gestores públicos para acompanhamento de projetos ou programas, na área
social, temos a figura a seguir:
Figura 2 – Indicadores
Por conta da descentralização de muitas políticas para os governos municipais, estes têm
procurado cada vez mais definir indicadores a serem utilizados em vários casos. Dentre eles,
Jannuzzi (2002, p. 52) ressalta:
Assim, podemos verificar que os municípios, por diversos motivos, precisam desenvolver
indicadores que traduzam as necessidades de melhorias necessárias à implantação ou para a
obtenção da liberação de verba federal para implantação de determinados projetos.
Além disto, nos casos em que a lei prevê alguma obrigatoriedade de prestação de serviço
ou de melhoria, os municípios precisam justificar que eles foram feitos, e isto pode ocorrer a
partir da comprovação através de indicadores.
Agora, vamos procurar definir melhor o conceito de indicador social, que, de acordo com
Jannuzzi (2002, p. 55), é:
[...] uma medida em geral quantitativa, dotada de significado social substantivo, usado
para substituir, quantificar ou operacionalizar um conceito social abstrato, de interesse
teórico (para pesquisa acadêmica) ou programático (para a formulação de políticas).
É um recurso metodológico, empiricamente referido, que informa algo sobre um
aspecto da realidade social ou sobre mudanças que estão ocorrendo na mesma.
Assim, temos que os indicadores sociais podem ser utilizados por gestores públicos para
acompanhar o desenvolvimento de um programa ou para monitorar uma realidade, podendo
ser utilizado como instrumento de transparência e accountability para com a sociedade. Estes
indicadores procuram “simplificar” a realidade e permitir, até, a comparação de desempenho
ou de situação entre órgãos públicos ou entre municípios, por exemplo.
Por outro lado, indicadores sociais também são utilizados pela academia (pesquisadores)
para avaliar os programas, ações ou a realidade social, de forma não vinculada à prefeitura,
com maior autonomia, realizando pesquisas que analisem os diversos problemas sociais.
Acompanhe a figura a seguir.
relevância para validar os dados e dar confiabilidade às informações geradas e utilizadas pela
administração pública.
Considerações finais
Nesta aula, debatemos uma importante ferramenta que compõe as ações propostas
pelo modelo de nova administração pública ou modelo Gerencialista. Dentro deste escopo,
a mudança de foco dos processos para os resultados é uma das questões mais importantes
a se considerar.
Mas, mesmo com as dificuldades que podem ser encontradas, é importante que os
gestores públicos definam indicadores e metas para que seja possível o monitoramento de
suas ações, bem como aumentar a transparência e accountability dos governos.
Também compreendemos que é preciso pensar qual tipo de indicador é mais adequado
para cada situação, pois é possível mensurar as organizações públicas por várias dimensões
(como os insumos, processo, resultados e impactos) e como cada um dos tipos de indicadores
pode contribuir para a completa análise dos programas, inclusive permitindo aos gestores, e
à população, melhor avaliar o seu desempenho e as suas escolhas.
Referências
HEINRICH, Carolyn. Como avaliar o desempenho e a efetividade do setor público. In: PETERS,
Guy; PIERRE, Jon (Org.). Administração pública: coletânea. São Paulo: Unesp, 2010.
JANNUZZI, Paulo de Martino. Considerações sobre o uso, mau uso e abuso dos indicadores
sociais na formulação e avaliação de políticas públicas municipais. RAP, Rio de Janeiro, v. 36,
n. 1, p. 51-72, jan./fev. 2002. Disponível em: <http://bibliotecadigital.fgv.br/ojs/index.php/rap/
article/view/6427>. Acesso em: 3 nov. 2015.
RODRIGUES, Dênis Alves. A nova agenda da gestão pública brasileira: estudo de caso do Detran-
SP. 2015. Dissertação de Mestrado, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2015. Disponível em:
<http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/100/100138/tde-31032015-131712/pt-br.php>.
Acesso em: 3 nov. 2015.