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O que é o Inovar?

O Projeto Inovar é um sistema pedagógico participativo e


interativo de formação continuada, em serviço, que tem por objetivo:

• Qualificar os extensionistas da EMATER-MG, para atuarem


como agentes de desenvolvimento sustentável, por meio da
construção conjunta dos conceitos, da socialização dos
conhecimentos e sua incorporação planejada na ação extensionista,
considerando as características locais.
• Buscar a prática da gestão participativa na empresa e na ação
extensionista.
• Contribuir para o planejamento e para a comunicação interna.

O Inovar utiliza uma metodologia diferenciada para atingir a todos


os funcionários da Empresa. O uso de mídias diversas (vídeo
orientador, dicionário e site), as reuniões para discussão (em
núcleos) e a divisão de cada tema em três componentes (conceitual,
diagnóstico e planejamento), visam criar uma interação entre todos
os participantes com o propósito de construção e de melhoria
contínuas.

Como sistema, o Inovar é dinâmico, iniciando com uma reflexão


com base em vídeos e dicionários, promovendo o debate entre as
pessoas e criando, via instrumentos de comunicação, fóruns para a
troca de idéias e conceitos. O ciclo se completa, ao transformar
idéias e intenções em propostas de ações que, gradativamente,
irão transformar a ação extensionista e a gestão interna.
Ficha Técnica

INSTITUCIONAL
Presidente da EMATER-MG
José Silva Soares

Diretor Administrativo e Financeiro


Vicente José Gamarano

Diretor de Promoção e Articulação Institucional


Fernando José Aguiar Mendes

Diretor Técnico
Marcos Antônio Fabri

COORDENADOR DO PROJETO • Revisão de textos


Flávio Antônio Lizete Barbosa Guerra Dias
Ruth Soares Azevedo de Navarro
COMISSÃO ESTADUAL • Fotos
Álvaro de Moura Goulart Arquivo Emater-MG
Cristina Maria Linhares • Projeto Gráfico
Dario Magno de Miranda Maia Márcia de Almeida Rezende
Eunice Ferreira Santos
Feliciano Nogueira de Oliveira • Logomarca
Flávio Antônio Roberto Caio
Isabel Maria de Morais Brandão
João Ricardo Albanez VÍDEO
Marcelo Varella de Almeida • Apresentação, Direção e Edição
Maria Helena Martins C. Alves Marcelo Varella
Maria Helena Pinheiro Soares • Roteiro
Marinalva Olívia Martins Soares Oswaldo Teixeira
Mariza Flores Fernandes Peixoto Marcelo Varella
Sandra Pereira Nascimento
• Imagens
Sérgio Glicério Martins Eustáquio Teixeira
Tâmara Magali Marques Temponi
Wanderson Fabrício T. de Souza • Edição de Imagens
Wellington Dias Silveira Eustáquio Teixeira
Willy Gustavo De La Piedra Mesones Marcelo Varella
• Colaboração
INSTITUTO CULTIVA Eunice Ferreira dos Santos
Rudá Ricci
Thiago Camargo SITE
Oswaldo Teixeira • Criação
Samyr Bechelane Samyr Bechelane
• Apoio
DICIONÁRIO Flávio Rossetti de Mello
• Textos
• Manutenção
Dario Magno de Miranda Maia
Marisa Liliane Vasconcelos
Maria Auxiliadora Tavares Carvalho
Mariza Flores Fernandes Peixoto
Rudá Ricci
Sérgio Glicério Martins TIRAGEM: 2.000 unidades
Thiago Camargo
ANO 2005
Sumário

Apresentação ........................................................................................... 9

Introdução ................................................................................................ 11

Gestão Participativa, Gestão Tradicional e Gestão Burocrática ................... 12

Espaços e Formas de Participação Popular .............................................. 16

Descentralização da Gestão ...................................................................... 20

Gestão Social ........................................................................................... 24

Gestão em Rede ....................................................................................... 28

Conselhos Municipais ............................................................................... 32

Orçamento Público Participativo ................................................................ 36


Apresentação

É com muito entusiasmo que estamos apresentando mais um kit do Projeto


Inovar, acreditando sempre que é preciso investir cada vez mais na formação
de nossos recursos humanos.

O Projeto Inovar é conhecido hoje em todo o país e reafirma a capacidade


de inovação e criatividade de nossa Empresa.

Neste 3º kit, estamos trazendo para discussão o tema GESTÃO SOCIAL


que, juntamente com os temas anteriores – DESENVOLVIMENTO LOCAL
SUSTENTÁVEL e PLANEJAMENTO PARTICIPATIVO –, permite a construção
de referenciais necessários à ação extensionista nos processos de
desenvolvimento sustentável.

O aprofundamento nestes três temas possibilita a ampliação e a consolidação


dos trabalhos da EMATER–MG junto à sociedade, fortalecendo a gestão dos
Conselhos Municipais de Desenvolvimento Rural Sustentável – CMDRS e de
outras instituições locais, principalmente na discussão/negociação de políticas
públicas e na construção coletiva dos Planos Municipais de Desenvolvimento
Rural Sustentável – PMDRS.

Os textos que compõem este “Dicionário do Extensionista” permitem


visualizar os desafios da GESTÃO SOCIAL e do quanto ainda temos que avan-
çar nesta discussão para a consolidação do processo democrático no país.

Temos a convicção de que o Projeto Inovar tem contribuído, significa-


tivamente, para a reflexão do nosso papel e da importância da efetiva
participação da sociedade na construção de processos de desenvolvimento
sustentável.

José Silva Soares


Presidente

9
Introdução

O tema deste 3º kit do Projeto Inovar é GESTÃO SOCIAL. Elaborado pela


EMATER–MG, com apoio do Instituto Cultiva, ele é composto, além deste “Dicionário
do Extensionista”, de uma fita de vídeo e tem o suporte da página do Projeto na
Intranet. Este dicionário se propõe, na forma de verbetes, a abordar temas relevan-
tes para a discussão e compreensão da gestão social. Dos vários temas que envol-
vem essa discussão, selecionamos alguns para o aprofundamento conceitual:
Gestão Participativa, Gestão Tradicional e Gestão Burocrática
O texto apresenta algumas formas de gestão pública: a que enfatiza o papel do
Estado, a que enfatiza o papel do governo e a que prioriza o papel da comunidade.
Espaços e Formas de Participação Popular
A conquista da sociedade por espaços e formas de participação é significativa.
No entanto a história vem evidenciando que esses avanços só se fortalecem
efetivamente com a participação ativa dos cidadãos.
Descentralização da Gestão
Neste recente processo de descentralização da gestão pública no Brasil, o texto
evidencia alguns desafios que estão colocados para os atores sociais comprometi-
dos com a sua democratização, a sua universalidade e a sua equidade.
Gestão Social
A temática abordada ressalta a importância da gestão social das políticas públi-
cas, exercidas por instituições governamentais e da sociedade civil, na construção
dos processos locais de desenvolvimento sustentável.
Gestão em Rede
A gestão em rede, em substituição à gestão verticalizada, aprofunda o processo
de descentralização e cria uma nova forma de política e gestão públicas, calcadas
na participação e articulação dos diferentes atores sociais.
Conselhos Municipais
Por ser um espaço de participação da sociedade na construção de seu futuro, o
CMDRS é de fundamental importância na consolidação da gestão social.
Orçamento Público Participativo
Não basta que a sociedade participe apenas nas discussões e nas formulações
das políticas públicas. É necessário que estas façam parte das peças orçamentári-
as, para que possam ser viabilizadas.
Como instrumento complementar a esse processo de aprendizagem relativo ao tema
GESTÃO SOCIAL, este Dicionário traz também as questões que compõem os formulá-
rios 1 e 2 a serem respondidos, respectivamente, de forma coletiva e individual.
Esperamos que este “Dicionário do Extensionista” contribua de forma efetiva para
o seu aperfeiçoamento e formação contínua. Boa leitura!

Comissão Estadual do Inovar

11
12
Rudá Ricci (*)

á várias formas de conceber uma gestão


pública. Uma gestão que enfatize o papel
do Estado ou o papel do governo ou que
priorize o papel da comunidade. Vejamos
as diferenças entre cada uma:

• Ênfase no Estado
Trata-se de uma concepção pautada pela
preponderância dos aspectos técnicos, nos quais
a burocracia e os técnicos possuem papel central,
muitas vezes, exclusivo, na elaboração e
implementação das políticas públicas. Por este
motivo, alguns a denominam de “tecnocracia”.

• Ênfase nas forças de Governo


Governo é a força política que dirige o Estado.
Em regimes democráticos, um governo é eleito e
pode ser alterado de eleição para eleição. A
gestão (ou administração) está diretamente
vinculada ao programa de governo da força política
eleita e aos cargos de confiança que são
preenchidos pelos eleitos.

• Ênfase na comunidade
Trata-se de uma concepção que privilegia os
processos de participação popular, por meio de
conselhos e mecanismos de representação direta
da sociedade.

Um pequeno exemplo pode deixar estas


diferenças ainda mais nítidas. Imaginemos a

(*) Sociólogo, D.Sc. em Ciências Sociais,


Professor da PUC-Minas, Diretor do Instituto Cultiva.
E-mail: ruda@inet.com.br

13
direção de uma escola. A forma como a muito compatíveis.
direção se organiza é a mesma forma como
a gestão escolar se organiza. Uma escola Mas existe ainda outro tipo de gestão
dirigida apenas por um diretor escolhido que envolve a sociedade civil ou uma
pelo prefeito ou governador possui uma comunidade no processo de decisão e
gestão de governo típica, porque a força gerenciamento. Podemos voltar ao exem-
política que foi eleita no município (ou plo da gestão de uma escola hipotética.
governo estadual) indica uma pessoa da Neste caso, a comunidade escolar (alunos,
confiança do governo para dirigir aquela pais, funcionários e professores) pode
instituição. eleger diretamente o diretor da instituição
de ensino. É o que se denomina gestão
Este modelo de gestão é diferente de pública participativa. Ela é chamada de
uma escola que é dirigida por um técnico participativa, porque os cidadãos podem
de carreira, um funcionário público con- escolher diretamente o dirigente da escola.
cursado para tal função. Neste caso, a Existem formas ainda mais participativas,
direção escolar é tipicamente de Estado. como escolas que são dirigidas por Conse-
lhos Escolares, nos quais o diretor governa
É muito comum que, no modelo de com representantes de funcionários, pais
gestão com ênfase no aparelho de Estado e professores.
e mesmo em vários tipos de gestão com
ênfase nas forças de governo, exista um Então podemos tirar uma primeira
tipo de gerenciamento que se denomina de conclusão. A gestão estatal e a gestão de
burocrático, ou seja, no qual o corpo governo (se em regime democrático) são
administrativo possui grande importância públicas, porque o Estado e o governo
política e é o centro de toda decisão. Além eleito nascem da vontade dos cidadãos
disso, a hierarquia é fundamentada na (dos eleitores). Mas a gestão pública
competência, existe uma divisão preesta- participativa ocorre quando os cidadãos
belecida de áreas, um alto grau de profis- escolhem diretamente os dirigentes ou
sionalização, e as regras possuem grande ainda quando governam diretamente os
estabilidade. Este é o tipo da dominação equipamentos públicos (escolas, postos de
que Weber denominou de racional-legal. saúde, parques e jardins, entre outros).

Na gestão com ênfase nas forças de A situação é ainda mais diferente quando
governo, pode ocorrer o modelo burocrático. a própria comunidade dirige a escola. As
Mas também é muito comum ocorrer o que escolas família-agrícola são um exemplo
Weber denominou de dominação tradi- desta situação. Nessas escolas que exis-
cional. Neste caso, é a relação de fideli- tem no Vale do Jequitinhonha e na Zona da
dade entre o líder e o governado que marca Mata, são as famílias dos alunos que
o cotidiano da gestão. Por este motivo, a discutem o que deve ser ensinado, que
relação interna é mais personalizada, ajudam na alimentação, discutem o que
afetiva. O governante conversa muito, ouve deve ser investido e avaliam os resultados.
e protege seus governados. Embora pare- Os pais ficam mais atentos, se envolvem
ça mais democrática, a gestão tradicional mais com a educação dos filhos. Resultado:
é muito centralizada, já que toda decisão os alunos faltam menos, fazem todos seus
concentra-se no chefe, muito habilidoso e “para casa”, envolvem a família toda nas
quase sempre ótimo orador. discussões do que se estudou, e a escola
gasta menos.
Muitas vezes esses dois modelos de
gestão se misturam, embora não pareçam Neste último caso, quando os pais,

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funcionários e professores se tornam
dirigentes da escola, eles passam a assumir
novas tarefas e precisam aprender novas
funções. Eles precisam entender melhor
como funciona o caixa escolar, como são
liberadas as verbas públicas para as
escolas, como funciona a merenda escolar,
quando se compra um livro didático, como
• COHN, Gabriel (org.). Weber. São
se faz uma prova. Na prática, precisam ter Paulo: Editora Ática, 1979.
informação, saber elaborar propostas
para melhorar a escola, saber administrar • Mc LAGAN & NEL ,Christo. A Nova
Era da Participação: o desafio de
o dinheiro e as propostas que foram eleitas emocionar e envolver as pessoas. Rio
pelo Conselho Escolar e saber fiscalizar. de Janeiro: Campus, 2000.
Quando era só eleitor, o pai não precisava • SCHNEIDER, Sérgio et all. Políticas
ter conhecimento de tudo isto. Públicas e Participação Social no
Brasil Rural. Porto Alegre: UFRGS, 2004.
Por fim, podemos comparar as principais
diferenças de cada um dos modelos de
gestão aqui descritos:

15
Maria Auxiliadora Tavares Carvalho(*)

ara se compreender as formas de organização e participa-


ção vividas na sociedade brasileira na atualidade, faz-se
necessário empreender uma breve incursão na nossa história,
na busca dos indicativos desse comportamento. Constata-se,
então, uma história construída no revés do movimento social
contemporâneo, ou seja, uma sociedade marcada por uma tradição
autoritária e excludente, fortemente presente na nossa história.

Entretanto é exatamente no enfrentamento das adversidades


retratadas nas experiências históricas, que se faz possível o reco-
nhecimento dos alicerces das formas democráticas de organização
social. Ou seja, leva a compreender que esse não é um comportamento
recente, ele vem sendo construído arduamente ao longo de todo o
processo de formação do povo brasileiro. Uma luta que se inicia nas
primeiras resistências indígenas e negras, perpassa pelos movimentos
camponeses, pelas lutas abolicionistas e toma corpo como “movimento
social” nas revoltas urbanas que marcam as décadas de 1930 a 1960.
As reivindicações populares ganharam força no período entre 1950 –
1960, na mobilização social organizada pelo movimento sindical e as
“Ligas Camponesas”, que tinham como foco as “Reformas de Base”.
Embora esses movimentos tenham representado grande resistência, não
conseguiram impedir a implantação da ditadura no Brasil.

É, entretanto, na década de 1970, no seio do Estado burocrático-


autoritário estabelecido com a Ditadura Militar, que emergem novos
movimentos sociais, sinalizando as demandas de um novo contexto,
marcado pelas profundas mudanças econômicas e políticas ocorridas
nesse período. Os movimentos sociais, com a influência da “educação
popular” fundamentada nos trabalhos de Paulo Freire e da “Teologia
da Libertação”, promovida pela igreja católica, iniciam uma elaboração
crítica e coletiva da vida individual e social das classes populares. Este
período é marcado pela disseminação de uma multiplicidade de
organizações populares “de base”, que se orientam pela revisão do
conceito de desenvolvimento. Parte-se de um modelo centrado na ação
do Estado para a participação do povo como sujeito das conquistas.

Na década de 1980, com o amplo movimento de participação popular


na constituinte, essa nova cultura participativa, construída nos movi-
mentos sociais, ganha destaque e maior espaço na sociedade como
um todo, ao colocar novos temas na agenda pública. Os novos

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dos institutos de democracia
direta ou semidireta, como: o
plebiscito, o referendo, a
iniciativa popular de lei, as
tribunas populares, os conselhos
e outros canais institucionais de
participação popular1 .

A partir da Constituinte e ao
longo da década de 1990, a
criação de espaços de co-gestão
das políticas públicas constituem
a materialização das reivindica-
ções populares, além de oportu-
nizarem uma maior aproximação
entre a sociedade civil e o
Estado. Destacam-se, nesse
contexto, a emergência dos Con-
selhos Gestores, sendo os da
saúde o primeiro deles, a criação
das políticas de defesa da criança
e do adolescente e de assistência
social, resultando no Estatuto da
Criança e do Adolescente – ECA,
e a Lei Orgânica de Assistência
Social - LOAS, na qual a sociedade
passa a exercer o controle social,
por meio dos movimentos sociais
e entidades profissionais. O
orçamento participativo é, na
seqüência, uma experiência
movimentos sociais que emergem com o participativa de grande relevância e se
processo constituinte se caracterizam pela destaca pela contribuição na construção da
conquista do direito a ter direitos, do direito noção de interesse público.
a participar da redefinição dos direitos e
da gestão da sociedade, culminando com O significado de participação que se
o reconhecimento na Constituição de 1988, consolida no Brasil destaca a importância
em seu artigo 1º “Todo poder emana do
povo, que o exerce indiretamente, através
de seus representantes eleitos ou
(*) Pedagoga, M.Sc. em Extensão Rural,
diretamente, nos termos desta Constitui-
Coordenadora Técnica Regional da EMATER-MG.
ção”. A Constituição prevê a participação
E-mail;emdtgorv@uol.com.br
direta dos cidadãos, por meio dos chama-

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do controle social sobre o Estado, a gestão municipal e envolvem atores sociais repre-
participativa, a co-gestão e os espaços de sentativos da sociedade civil organizada e
interface entre o Estado e sociedade. Para o Estado.
muitos autores que discutem o processo de
democratização no país2, o Estado brasi- • Orçamentos Participativos
leiro, tradicionalmente privatizado pelos seus Constituem um processo de consulta e
vínculos com grupos oligárquicos, vai debates sobre o orçamento público muni-
lentamente “cedendo” espaço, tornando-se cipal. Por meio deste processo, a popula-
mais permeável a uma sociedade civil que ção de alguns municípios passa a discutir
se organiza, que se articula, que constitui os problemas urbanos que a afetam, as
espaços públicos nos quais reivindica opinar prioridades de investimento do governo
e interferir na política, e na gestão do destino municipal e a decidir o que deve ser feito,
comum da sociedade. onde e quando.

Essa breve retrospectiva histórica tem • Co-gestão ou Parcerias do Estado


como propósito o resgate dos conceitos e com a Sociedade
das práticas de participação social, bem São programas desenvolvidos conjunta-
como destacar a grande contribuição dos mente por governos municipais e organiza-
movimentos sociais no delineamento da ções comunitárias, que, administrando
cultura democrática hoje vivenciada no Brasil. recursos públicos, realizam atividades das
mais variadas, como, por exemplo, cursos
Alguns espaços e formas de de alfabetização, construção de casas
participação social no Brasil populares, urbanização de praças. Valori-
zam-se nesses programas o cooperati-
É na gestão pública que se verifica uma vismo, os mutirões e atividades autogestio-
maior inserção de formas inovadoras de nadas.
participação popular. Constata-se em
vários segmentos do setor público a adoção Espaços não-institucionais
de princípios da gestão participativa,
expandindo e consolidando as esferas e os • Fóruns
mecanismos de participação popular. São iniciativas da sociedade civil, que
Experimentam-se, na prática, o exercício se caracterizam pela diversidade dos
democrático e a conquista da sociedade sujeitos envolvidos, por sua estrutura leve,
por um espaço de criação e consolidação descentralizada e pouco formal. Ao con-
de direitos. Sendo uma prática “inovadora”, trário dos conselhos, não têm interlocução
traz consigo potenciais e também novas instituída com o Estado, mas convidam
exigências e grandes desafios. seus representantes para receber e enca-
minhar reivindicações sociais, o que lhes
Espaços Institucionais dá maior independência, embora, por outro
lado, esta distância diminua seu poder
• Conselhos Gestores frente aos governos.
São conselhos setoriais e constituem
espaços de planejamento e gestão partici- • Movimentos sociais
pativa. São criados nos municípios por lei Contribuem para a democratização do
Estado e também da própria sociedade,
(1) BENEVIDES, Maria Vitória. (1991) A Cidadania Ativa.
tornando públicas novas demandas e novos
São Paulo: Ática valores. Entre eles destacam-se movimen-
(2) GENRO, Tarso. O orçamento participativo e a tos cuja dimensão cultural é mais explícita,
democracia. In: CARVALHO, Maria do Carmo A. A. Participação
social no Brasil hoje. Polis, mimeo
como os movimentos raciais, étnicos,

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feministas e de juventude. metimento da sociedade com as mudanças
sociais enriquecem o debate sobre o
A importância do MST dentre os movi- desenvolvimento, permitindo que os temas
mentos sociais é destacada pela sua nele inseridos sejam tratados sob a ótica
capacidade de mobilização e influência nas da questão social, ou seja, sem desvincular
políticas de Reforma Agrária, de desen- as questões econômicas, ambientais,
volvimento rural e até mesmo de educação. políticas, culturais, do eixo central, que é a
compatibilização das necessidades
Um outro exemplo é a Pastoral da Criança básicas.
que, mesmo não participando formalmente
de programas de governo, nem se colo- “A democracia, por maiores defeitos
cando explicitamente como uma proposta de que possa ter e tem, é um valor em si,
política pública, deixa muito evidente o acima dos sistemas vigentes, devendo
impacto que tem causado como paradigma impregnar em todas as suas dobras
de uma política de combate à mortalidade qualquer esforço de política social .” (Pedro
infantil e à desnutrição. Demo).

Por último, cita-se a Ação da Cidadania


Contra a Fome e pela Vida, desencadeada
pelo Hebert de Souza, o Betinho. Esse mo-
vimento enfatiza fortemente o voluntariado
e a construção de vínculos cidadãos inter-
classistas. A Ação da Cidadania teve gran-
de impacto na ampliação de uma cultura • BROSE, Markus (org). Metodo-
democrática, na medida em que colocou a logia participativa – uma introdução
a 29 instrumentos. Porto Alegre, Tomo
“fome” na agenda pública, e a sociedade Editorial, 2001.
começou a deixar de vê-la como questão
restrita ao mundo privado da caridade e da • CARVALHO, Maria do Carmo A. A
Participação social no Brasil. Instituto
filantropia, construindo também vínculos de Polis.
responsabilidade cidadã, fazendo da fome
objeto de política pública e construindo o • DEMO, Pedro. Participação é con-
quista: noções de política social
conceito de segurança alimentar como participativa. 5ª ed. São Paulo, Cortêz,
direito de todos e dever do Estado. 2001.
• DOWBOR, Ladislau. A reprodução
Trazendo esse tema para a ação exten- social participativa. Volume I: Tecno-
sionista, vale destacar que o processo de logia, globalização e governabilidade.
conscientização antecede a participação Petrópolis, Vozes, 2002.
popular e suas formas de representação. • FREIRE, Paulo. Educação e
É somente a partir da conscientização que mudança. 19ª ed. Rio de Janeiro, Paz e
se criam as condições para a construção Terra, 1993.
da cidadania. • ___________ Pedagogia do
oprimido. Rio de Janeiro, Paz e Terra,
Fazer parte de espaços públicos, cons- 1974.
truídos coletivamente, é, fundamentalmente, • SANTOS, Milton. Espaço, ciência
oportunizar a formulação de um projeto e técnica. 5ª ed. São Paulo, Hucitec, 1995.
comum, no qual, em fórum, a sociedade • SINGER, P & BRANT, V. C. (org).
possa propor e socializar alternativas de São Paulo: o povo em movimento.
mudança e de descentralização das Petrópolis, Vozes, 1980.
decisões. O envolvimento e o compro-

19
Mariza Flores Fernandes Peixoto(*)

o Brasil, o movimento de transferência do poder político


do Governo federal aos estados e municípios coincide,
em suas origens, com o fim do Regime Militar e
especialmente com a promulgação da Constituição de 1988. A
descentralização e a participação se colocam então como
instrumentos centrais na democratização das relações entre o
Estado e a Sociedade Civil.

Em que pese a crítica que se faz à descentralização, no que


se refere à viabilidade fiscal e tributária, principalmente dos
pequenos municípios (GOMES e MAC DOWEL, 2000), bem
como aos desequilíbrios gerados pela falta de um planejamento
racional do processo (GREMAUD, 2000), a descentralização
da gestão, em particular nos municípios, abre espaço para
inovações gerenciais na condução de políticas públicas,
aprimorando o processo de participação popular e o controle
social sobre a gestão pública (CASTRO, LIMA e TEODÓSIO,
1999).

Mais próximas do cidadão e dos problemas concretos da


população, as esferas locais são agora reinterpretadas à luz de
novos paradigmas. Contrariamente à visão tradicional que as
identificava como espaço privilegiado de reprodução dos vícios
da sociedade brasileira, são agora potenciais centros de
inovação institucional e de geração de respostas efetivas para
as demandas e interesses sociais.

Contudo é preciso lembrar que o deslocamento do poder das


esferas centrais para as locais nem sempre garante que o poder
estará imune a algum tipo de dominação por facções e grupos
de interesse específicos, que o clientelismo não faça parte das
práticas políticas ou que não haverá corrupção. No nível municipal,
as relações de clientelismo convivem sem maiores obstáculos
com os princípios burocráticos, aparentemente impessoais. É
nesse caldo cultural que se assenta a pouca transparência do
poder executivo municipal, sobretudo das pequenas cidades
brasileiras, nas quais o prefeito é o símbolo por excelência do
mandonismo (MARQUES e SILVA, 2004).

20
(*) Economista Doméstica, Coordenadora
Técnica Estadual da EMATER MG. E-mail:
bes@emater.mg.gov.br

21
A descentralização da
gestão que se quer construir
leva a refletir na questão da
cidadania, que pode estar
numa perspectiva de inclusão
ou de exclusão dos atores
sociais, a partir da distinção
entre cidadania passiva e
cidadania ativa
(BENEVIDES, 1999).

A cidadania ativa institui o


cidadão não só como portador
de direitos e deveres, mas
essencialmente como criador
de direitos para abrir novos
espaços de participação
política, com possibilidade de
participação direta do cidadão
no processo das decisões de
interesse público (MUSSOI,
1999). Por outro lado, a
cidadania passiva é aquela
outorgada pelo Estado, com a
idéia moral de favor e de tutela,
dentro de um modelo de
serviço público, que busca a
incorporação de técnicas
privadas de gestão no espaço
das políticas públicas. Daí
resulta a visão do cidadão
como consumidor e cliente, e
o serviço público passa a ser
medido apenas com
parâmetros de rentabilidade,
produtividade, qualidade e
instâncias de participação popular, como
competitividade (CASTRO, LIMA e
conselhos setoriais e fóruns de orçamento
TEODÓSIO,1999).
e planejamento participativos.
Nesta perspectiva alguns desafios estão • Propiciar oportunidades para que a
colocados para aqueles gestores população reflita na política social que ela
comprometidos com a democratização da está usufruindo, descobrindo os limites e
gestão, com a universalidade e com a as implicações desta política, assim como
equidade, conforme relata CASTRO, LIMA outros níveis de participação.
e TEODÓSIO (1999): • Respeitar as múltiplas identidades,
necessidades, interesses e formas de
• Fomentar a inserção do cidadão na organização da sociedade.
dinâmica dos processos decisórios, por
meio da criação e do fortalecimento de • Estimular a aproximação entre os

22
• BENEVIDES, Maria Victória de
Mesquita. Cidadania e Democracia. In
Cidadania. Lua Nova n33. São Paulo:
CEDEC, 1994.
• CASTRO, Maria da Consolação Gomes
de; LIMA, Jesus de Almeida e TEODÒSIO e
ARMINDO dos Santos de Souza. Construção
de Redes de Solidariedade: Uma avalia-
ção da experiência de gestão local em
Betim. Anais do VIII colóquio Internacional
Sobre Poder Local, promovido pelo NPGA/
UFBA, Salvador – BA.
• GOMES, Gustavo Maia e MAC DOWEL,
Maria Cristina . Os Elos Frágeis da Descen-
tralização – texto oriundo do Curso de Gestão
Urbana e Municipal, promovido pela ESAF,
WBI, IPEA, CEF em Belo Horizonte MG,
2000.
• GREMAUD, Amaury Patrick. Descen-
tralização, tomada de decisões fiscais em
democracias descentralizadas. texto oriundo
do Curso de Gestão Urbana e Municipal,
promovido pela ESAF, WBI, IPEA, CEF em Belo
Horizonte MG, 2000.
• MARQUES, Paulo Eduardo Moruzzi e
SILVA, Marcelo Kumath. “Democratização e
Políticas Públicas de Desenvolvimento
Rural” In: Schneider, S; SILVA, M,K;
MARQUES, P.E.M (org). Políticas Públicas e
Participação Social no Brasil Rural. Porto
Alegre: Editora da UFRGS, 2004.
• MUSSOI, Eros Marion. “Estado,
Descentralização, políticas públicas e
órgãos públicos e os representantes das novas instâncias participativas: o caso da
populações, por meio de comissões, con- Agricultura em Santa Catarina” in: Revista
selhos ou associações. de Ciências Humanas, Edição Especial
Temática Políticas Públicas e Democracia
• Investir nos valores humanos e na auto- Institucional, Florianópolis: Editora UFSC,
estima da população. 1999.

Para tanto, é necessário que prevaleça


no governo local a lógica do Serviço Público
envolvido com a construção da cidadania
e ampliação da democracia, com a
transparência e o controle público sobre a
máquina estatal.

23
24
Dario Magno de MIranda Maia(*)
Sérgio Glicério Martins(**)
Mariza Flores Fernandes Peixoto(***)

estão social é uma forma de


gestão de políticas públicas (fede-
rais, estaduais ou municipais),
exercida por instituições governa-
mentais e da sociedade civil, ba-
seada na mobilização das comunidades; na
democracia interna de seus processos
decisórios; na transparência de suas
decisões e ações e na criação de canais de
participação que a tornem efetivamente
representativa do querer local.

O conceito de Gestão Social, assim


como o de Desenvolvimento Sustentável, é
fruto do mesmo processo de crescente
conquista de espaços políticos e de partici-
pação da sociedade nas decisões do
Poder Público.

Ao criar os conselhos paritários ges-


tores para a administração de recursos de
transferências constitucionais (recursos da
saúde, inicialmente), a Constituição de
1988 transforma esta conquista em um
direito.

A multiplicação geográfica e temática


destes conselhos gestores pelo Brasil

(*) Economista, Assessor de Planejamento da


EMATER-MG. E-mail: dariomaia@emater.mg.gov.br
(**) Médico Veterinário, Coordenador Técnico
Regional da EMATER-MG.
E-mail: emdtptmi@netsite.com.br
(***) Economista Doméstica, Coordenadora
Técnica Estadual da EMATER-MG.
E-mail: bes@emater.mg.gov.br

25
afora – segundo o IBGE já eram 26.859 em participação de comunidades ou grupos
2001 – é um sinal positivo que aponta para locais que se reuniam com regularidade,
o fato de que grupos organizados da discutiam seus problemas, refletiam sobre
sociedade civil estão buscando espaços de eles, tomavam decisões e procuravam
participação e de negociação de seus colocá-las em prática de forma conjunta e
interesses. organizada. Suas associações/conselhos
comunitários eram mais dinâmicos e
Negociação é a palavra-chave. Este é um atuantes, com as pessoas tendo cons-
dos grandes papéis dos conselhos gestores. ciência da necessidade de participar para
Quando se fala em gestão social, estamos mudar.
falando do espaço institucional que se abre
entre Governo, Mercado e Sociedade Civil Por mais descontínuo (avança, pára,
organizada para a negociação de interesses recua, avança) e diferenciado que possa ser
diferentes, às vezes, até conflitantes. este processo de participação, os estudos
apontam também que sua amplitude, sua
É um espaço de conflito, sim, mas, primor- qualidade e sua profundidade estão direta-
dialmente, um espaço de negociação, um mente ligadas ao seu capital social.
espaço de construção de um projeto coletivo.
Como já vimos no Dicionário do
Estudos realizados sobre a atuação dos Extensionista – vol. 1, capital social é o
conselhos gestores apontam para duas “grau de unidade e coesão social que a
grandes direções: uma ressalta a impor- população de um determinado território
tância que eles assumiram, nacionalmente, apresenta a partir da confiança na sua
ao levar aos municípios a possibilidade real capacidade de gerar desenvolvimento e
e efetiva de suas populações discutirem e superar obstáculos”.
participarem da formulação das políticas
públicas locais. Em muitos casos, levam Com isso, as comunidades que apre-
aos municípios políticas públicas até então sentam um estádio avançado de capital
inexistentes, como as de desenvolvimento social têm mais facilidade de trabalhar de
rural e ambiental. forma organizada, planejada, integrada e
em rede. Politicamente, este grupo social
Noutra direção, salienta-se a dificuldade construirá institucionalidades capazes de
ainda encontrada pelos conselhos em se atuarem como negociadoras junto às
tornarem efetivamente representativos dos esferas de poder local, porque serão mais
interesses da comunidade e se libertarem participativas, mais representativas, mais
do poder dos prefeitos, que os transformam fortes.
apenas em espaços de legitimação de
seus atos. É fácil, portanto, perceber que, quanto
mais avançado for o capital social, maior
No caso dos CMDRS, a experiência tem será o espaço de negociação que ele ocupa-
demonstrado que, nos municípios onde rá neste intrincado jogo de forças entre a
estes conselhos têm avançado na direção Sociedade Civil organizada, o Estado e o
da autonomia política, foi possível adequar Mercado.
as ações da Prefeitura às prioridades
definidas pelas próprias comunidades. No entanto, existem diferentes entendi-
mentos sobre o que é uma sociedade civil
Nesses municípios, há algumas organizada. Muitos acreditam que basta criar
características que sempre se repetem. instituições para que a sociedade esteja
Todos eles possuem uma história de organizada. Daí, partem para a criação de

26
associações comunitárias e conselhos, • Controle social
muitas vezes de forma verticalizada, em- Conforme ANDRADE (2004), a gestão
bora com um discurso participativo. com controle social “está diretamente
vinculada à idéia de constituição de uma
O resultado são instituições fracas, sem esfera pública democrática, que possa
canais de participação, sem projetos pró- viabilizar o controle dos governantes pela
prios e com dificuldades de operacionalizar sociedade. A idéia básica reside na
os programas e projetos que lhes são possibilidade de os grupos organizados
demandados. influírem e decidirem sobre o tipo de socie-
dade e de ação governamental necessárias
É preciso entender que o processo de ao bem-estar da coletividade, além de
evolução do capital social tem um ritmo manter mecanismos de avaliação das
próprio, particular, todo seu. Locais com ações governamentais. Isso supõe a institu-
capital social mais evoluído terão a amplitude, cionalização de instrumentos de controle do
a qualidade e a profundidade da participação setor público pela sociedade, garantindo
aceleradas. Locais com capital social menos não-somente a fiscalização do orçamento,
evoluído demorarão mais tempo para construir mas também a definição de prioridades,
o seu caminho. Toda vez que atropelarmos estratégias de ação e localização dos
este processo, passando por cima da capa- serviços”.
cidade local de avançar, estamos tornando
mais difícil este caminhar.
• Respeito às pessoas e aos
processos
Assim, a construção da gestão social está Respeitar as pessoas e as instituições
diretamente relacionada a princípios como: tem a ver com a compreensão de que elas
têm um tempo de amadurecimento das
• Democracia e participação consciências e dos processos que
precisam ser considerados.
Uma gestão democrática é aquela que
abre canais de participação desde os níveis
Portanto construir processos locais de
mais elementares – grupos de esporte nas
desenvolvimento sustentável pressupõe o
comunidades rurais, por exemplo – até os
conhecimento, o entendimento e a prática
de maior responsabilidade, como os
destes princípios da Gestão Social.
conselhos gestores; vai até as pessoas e
estabelece com elas uma relação aberta,
positiva e dialógica; as pessoas têm o direito
de opinar, serem ouvidas e respeitadas; as
decisões são abertas e não restritas a um
pequeno grupo; os critérios de decisão são • ANDRADE, I.A.L. Conselho de Desen-
construídos em conjunto, conhecidos e volvimento Rural: um espaço adequado
assumidos por todos. para pensar o desenvolvimento local? In:
SCHNEIDER,S., SILVA, M.K.; MARQUES,
• Transparência P.E.M. (org.). Políticas públicas e
Uma instituição com gestão transparente participação social no Brasil rural. Porto
é aquela que cria canais de comunicação Alegre: Editora da UFRGS, 2004.
regulares e permanentes, informando as
pessoas e as comunidades dos atos, das • CARVALHO, M. E. C. de. Gestão Social:
negociações, das decisões, dos critérios, Alguns apontamentos para o debate. In:
dos resultados, dos ganhos, das perdas e, RICO, E. M. e RAICHELIS, R. (orgs.). Gestão
principalmente, da gestão financeira sob sua Social – Uma questão em debate. Ed. EDUC/
PUC-SP.
responsabilidade, em linguagem acessível.

27
Thiago Camargo (*)

A Crise e a
Reforma do Estado

a Segunda Guerra Mundial até o final


dos anos 60, os países capitalistas
desenvolvidos apresentaram uma
espantosa melhora na qualidade de
vida. O crescimento econômico era constante, o
emprego quase pleno, e os serviços públicos foram
ampliados. O Estado aumenta, se complexifica e
passa a atuar, cada vez mais, em diferentes áreas,
inclusive na economia e na produção. Consolida-se,
assim, o modelo de Estado, conhecido como Estado
de Bem-estar Social, cujo paradigma seriam os
estados europeus nórdicos (Suécia e Dinamarca).

Na década de 1970, inúmeras mudanças ocorrem


na economia em escala mundial1, com influências
fortíssimas no modelo de Estado. O Estado de Bem-
estar Social entra em crise e surgem inúmeras
proposições para a reformulação da estrutura do
Estado e das políticas públicas. Inicia-se um
importante debate a respeito da “reforma do
Estado”.

Na década de 1980, ganham força as concepções


neoliberais que defendiam o Estado Mínimo. Além
disso, surge um novo modelo de gestão pública –
Nova Administração Pública (no Brasil ficou
conhecida como Estado Gerencial) –, cujo principal
defensor era o ministro da Administração e Reforma

(1) Desregulamentação do capital financeiro, aumentos sucessivos do


preço do barril do petróleo, aumento dos juros e déficits públicos crescentes.

28
do Estado do governo FHC, Bresser A maioria delas, embora com poucos
Pereira. Essas duas grandes vertentes – pontos de contato entre si, caracteriza-se
Estado Mínimo e Estado Gerencial – tinham por ser dotadas de princípios participa-
em comum a idéia de implantar o modelo cionistas. Em outras palavras, as principais
de administração empresarial nas
atividades do Estado.

Na década de 1990, diferentes con- (*) Advogado, Especialista em Políticas Públicas


cepções vão surgindo, todas elas bas- pela UFMG e Diretor do Instituto Cultiva.
tantes críticas às duas vertentes anteriores. E-mail:camargo@uol.com.br

29
idéias e concepções críticas às reformas território na gestão do Estado.
do Estado, implantadas nas últimas duas Podem-se apontar como princípios
décadas, tinham como base a idéia de que norteadores da gestão em rede:
a população deve governar e participar da
sua gestão. • construção de uma identidade comum
entre os atores sociais envolvidos;
• participação democrática;
A Gestão em • estrutura flexível e horizontal (sem
Rede hierarquia);
• descentralização, capilaridade e
dinamismo.
A gestão em rede se vincula a essa
proposição e apresenta-se como capaz de
superar o modelo burocrático de gestão
do Estado. Mas, afinal, o que é a gestão A EMATER-MG,
em rede?
os CMDRS e a Gestão
A palavra “rede” vem do latim retis e em Rede
significa entrelaçamento de fios com
aberturas regulares que formam uma
espécie de tecido. A partir deste signi- A EMATER–MG, tanto na sua gestão
ficado, há muito tempo, a idéia de rede foi interna quanto nas atividades externas,
usada em várias áreas do conhecimento, pode adotar os princípios da gestão em
como a física e a biologia. Nos últimos rede. Internamente, pode-se aprofundar o
anos, os movimentos sociais e a admi- processo de descentralização, compar-
nistração pública passam a discutir a idéia tilhando o poder de decisão entre os
de gestão em rede. Passa-se a conceber funcionários e os diferentes setores da
Instituição. Externamente, por meio da
a gestão em rede, não só como um
gestão em rede, pode contribuir para
sistema organizacional, mas também
consolidação dos CMDRS – Conselhos
como um mecanismo de gestão em torno
Municipais de Desenvolvimento Rural
de objetivos e identidades próprias, capaz Sustentável, fortalecendo a integração
de criar uma nova forma de política e entre as instituições e os projetos.
gestão públicas, calcadas na participação
e articulação dos diferentes atores sociais A gestão em rede se torna ainda mais
de um território. necessária, à medida que a experiência e
os relatos têm demonstrado que a
A gestão em rede objetiva, sobretudo, implementação de qualquer política
superar as características das gestões pública esbarra na fragmentação dos
tradicionais do Estado, calcadas nos órgãos públicos e na burocracia estatal.
princípios da hierarquia, da fragmentação Neste sentido, os conselhos potenciali-
de ações (seja no momento da elaboração, zariam sua atuação, enquanto espaços
da execução ou do monitoramento de uma públicos de articulação dos diversos atores
política pública) e da divisão de compe- envolvidos, tanto estatais, quanto da
tências (especialização de acordo com a sociedade civil, viabilizando a gestão local
capacidade técnica do gestor). Além disso, e contribuindo para a formação de uma
a gestão em rede potencializa a partici- cultura democrático-participativa, podendo,
pação dos diversos atores sociais de um ainda, constituírem-se em instâncias

30
efetivas de gestão do Estado.

Assim, a gestão em rede, bem como


todos os processos que privilegiam a
participação dos diversos atores sociais,
pode auxiliar na melhoria da gestão
pública e do desenvolvimento local sus- • MARQUES, Eduardo César. “Esta-
tentável. Mais do que isto. Pode, por um do e Redes Sociais. Permeabilidade
e coesão nas políticas urbanas no Rio
lado, instituir uma nova cultura institucional de Janeiro”. Editora Renavan. Rio de
nas próprias atividades internas da Janeiro, 2000.
EMATER–MG e, por outro, atuar como um
• PEREIRA, Luiz Carlos Bresser. “A
importante apoio à emancipação e à Reforma do Estado para a Cidadania.
organização associativa e popular, criando A Reforma Gerencial Brasileira na
condições efetivas para a participação e o Perspectiva Internacional”. ENAP.
exercício da cidadania. Brasília, 1998.
• RICCI, Rudá e outros. “Gestão
Participativa em Rede. Descentra-
lização e Participação Popular em
Gestão Municipal”. IPESE. Belo
Horizonte, 2000. Disponível no www.
emater.mg.gov.br/intranet.
• SANTOS, Boaventura de Sousa. A
Reinvenção Solidária e Participação
do Estado. Brasília: Ministério da Admi-
nistração e Reforma do Estado, 1998.
Paper apresentado no seminário Socie-
dade e Reforma do Estado, ocorrido em
São Paulo, entre 26 e 29 de março de
1998.
• TOURAINE, Alan. “O Pós-Socia-
lismo”. São Paulo: Brasiliense, 1998.
• VILLASANTE, Tomás. R. “Redes e
Alternativas. Estratégias e Estilos
Criativos na Complexidade Social”.
Editora Vozes. Petrópolis, 2002.
• www.rits.org.br
O site da Rede de Informação do
Terceiro Setor disponibiliza uma série de
artigos a respeito de redes, contando,
inclusive, com exemplos de entidades e
projetos que se organizam, atualmente,
em redes participativas.

31
32
Sérgio Glicério Martins (*)

os anos 90 a gestão pública


no Brasil foi marcada pelo
surgimento dos conselhos
gestores, de caráter interinstitucional,
com o papel de serem instrumentos
mediadores na relação entre a socie-
dade e o Estado (GOHN, 2001), tendo
como princípio geral o fortalecimento da
cidadania. Estes conselhos são frutos
das lutas, das demandas populares e das
pressões da sociedade civil pela
redemocratização do país e por maior
participação da sociedade.

Inicialmente, os conselhos foram


criados apenas para a gestão de
recursos provindos do Governo federal
para a área de saúde, sendo estendidos,
posteriormente, por grupos de interesse
da sociedade civil e do próprio poder
público, a outras áreas (meio ambiente,
assistência social, criança e adoles-
cente, merenda escolar, entre outros).

O resultado tem sido a criação de


muitos conselhos no município, sendo
que algumas pessoas participam de
quase todos eles, com um número
elevado de reuniões, com pouco poder
político, sendo obrigadas, na maioria
das vezes, a acatarem decisões já
tomadas pelo Executivo local (DESER
– 2003).

(*) Médico Veterinário, Coordenador Técnico


Regional da EMATER-MG.
E-mail: emdtptmi@netsite.com.br

33
Com relação ao meio rural, a criação • apoio às organizações comunitárias
do Programa Nacional de Fortalecimento rurais na gestão de seus projetos locais, os
da Agricultura Familiar – PRONAF no quais devem estar articulados ao projeto do
ano de 1996 (Decreto Presidencial n.º município, de seu plano de desenvolvi-
1946, de 28/07/96), formulado como mento;
resposta às pressões do movimento sindi-
cal dos trabalhadores rurais, representou • construção de canais democráticos e
o reconhecimento e a legitimação do representativos de participação das comu-
Estado em relação às especificidades nidades rurais no Conselho e em suas
desta categoria social – os agricultores câmaras técnicas;
familiares. Em função disso, surgem os
Conselhos Municipais de Desen- • envolvimento dos jovens e das mu-
volvimento Rural (CMDR), em sua quase lheres nos processos de discussão e
totalidade por demanda do PRONAF Infra- gestão das instituições e dos planos de
estrutura, com o pressuposto básico de desenvolvimento;
envolvimento das comunidades rurais e
dos agricultores familiares na concepção, • definição de prioridades do município,
gestão e fiscalização das políticas públicas por meio de um plano municipal de desen-
(CAZELLA 2004). volvimento, construído de forma parti-
cipativa, a partir dos diagnósticos das
Com a ampliação da discussão, quanto comunidades rurais, abrangendo todas as
à incorporação do conceito de susten- dimensões do desenvolvimento sustentável
e com projetos de curto, médio e longo
tabilidade ao processo de desenvolvimento
prazo;
rural, os conselhos passaram a ser chama-
dos Conselhos Municipais de Desen-
• construção de parcerias e redes que
volvimento Rural Sustentável – CMDRS. possibilitam não apenas uma melhor
gestão dos planos, mas também e princi-
Criado por meio de lei municipal ou por palmente maior poder de negociação junto
decreto aprovado na Câmara de Verea- ao Executivo local;
dores, o CMDRS é uma instituição de
caráter deliberativo, consultivo e de fisca- • criação de canais de comunicação
lização, sendo um dos responsáveis pela regulares e permanentes com a população
gestão das políticas públicas para o desen- em geral e com as comunidades rurais, em
volvimento rural sustentável do município. particular, permitindo maior transparência,
Deve possuir identidade própria e não construindo maior representatividade e
deve estar subordinado ao poder público, abrindo espaço para maior integração
garantindo, assim, sua liberdade de social da comunidade local.
expressão, representação e participação.
À medida que conseguem avançar na
Nos municípios que mais avançaram na direção de um processo mais participativo,
gestão social, a partir dos CMDRS, podem- mais democrático, mais transparente e se
se destacar algumas características transformam em espaço de negociação, os
comuns: conselhos municipais se tornam cada vez
mais decisivos para aglutinar os interesses
• envolvimento das comunidades rurais, locais na construção dos projetos de desen-
reforçando a organização das associações/ volvimento sustentável.
conselhos comunitários na discussão e
definição dos projetos locais; Mesmo com todas as dificuldades

34
encontradas, os conselhos têm se revelado
importantes instrumentos para se criar uma
• FAO/DESER. A relação entre as
nova mentalidade de gestão das políticas reformas de descentralização e o
públicas, uma nova cultura de participação, desempenho dos serviços públicos no
uma nova maneira de encarar o município setor agropecuário – o caso do Sul do
e seus problemas. A sua existência traz Brasil. Curitiba,2002.
para a pauta de discussões locais temas • GOHN, M.G. Conselhos gestores e
que até então costumavam ser tratados e participação sociopolítica / Maria da
resolvidos apenas dentro dos gabinetes, Glória Gohn. – São Paulo, Cortez,2001.
como o orçamento municipal. Ministério do Desenvolvimento Agrário
(MDA), Secretaria de Agricultura Familiar
(SAF), Grupo de Trabalho ATER. “Política
Nacional de Assistência Técnica e
Extensão Rural: Versão Final: 25/05/2004”.
• Políticas públicas e participação
social no Brasil rural/organizado por
Sérgio Schneider, Marcelo K. Silva e Paulo
E. Moruzzi Marques; Ademir Antonio
Cazella... [et. al.]. – Porto Alegre: Editora
da UFRGS, 2004.
• ABRAMOVAY, R. Conselhos além
dos limites. Brasília: CMDRS, 2001. • PLURAL Cooperativa/IICA/MDA.
Políticas públicas, participação social
• ANDRADE, I. A. L. Conselhos de
e as instituições para o desenvol-
Desenvolvimento Rural: um espaço
vimento rural sustentável – uma
adequado para pensar o desen-
avaliação dos Conselhos Municipais de
volvimento local? In: Schneider, S;
Desenvolvimento Rural. Relatório final de
SILVA, M, K; MARQUES, P. E. M (org).
pesquisa, Arilson Favareto & Diogo
Políticas Públicas e Participação Social
Demarco(orgs). São Paulo/Brasília,2002.
no Brasil Rural. Porto Alegre: Editora da
UFRGS, 2004.
• BAPTISTA, N. e DIAS, W.
Capacitação em gestão Social para o
desenvolvimento local. Bahia, Feira de
Santana: MOC, 2000
• BRASIL, Constituição Federal da
República. 1988.
• CARVALHO & TEIXEIRA (org).
Conselhos Gestores de políticas
públicas. Instituto Polis, 2000.
• DESER. Gestão de Políticas
Públicas: Os conselhos como
mecanismos de gestão e controle
social .Boletim DESER – No 128 –
Fevereiro/2003

35
Rudá Ricci (*)

palavra orçamento tem origem na palavra orzare, que


significa calcular ou estimar. O orçamento público, segundo
Pires (1999), pode ser definido como:

• um conjunto organizado de informações financeiras em que se


estima a receita e se prevêem as despesas de uma unidade de
governo para um período futuro;
• um instrumento de planejamento e controle do recurso financeiro
de governos;
• um ato legal, uma lei que prevê e autoriza gasto do Legislativo,
Executivo e Judiciário, das autarquias e empresas públicas, definido
em rubricas e valores;
• conjunto de decisões políticas em torno da arrecadação e
aplicação de recursos.

Pela legislação brasileira, o processo de elaboração do orçamento


público é constituído por:

Plano Plurianual (PPA)


Lei que estabelece as diretrizes, as metas e os objetivos da
administração pública (municipal, estadual e federal) para o segundo
ano do governo eleito até o primeiro ano do governo subseqüente.
O Plano Plurianual é enviado pelo Executivo ao Poder Legislativo
correspondente (Câmara de Vereadores, Assembléia Legislativa
ou Congresso Nacional), para ser apreciado e votado. Embora não
defina obras, norteia os gastos que serão estabelecidos na Lei de
Diretrizes Orçamentárias – LDO de cada ano de governo.

Lei de Diretrizes Orçamentárias


É a lei que estabelece as diretrizes dos gastos do governo para
o ano seguinte e que é discutida e votada pelo legislativo
correspondente. Ele precede a Lei Orçamentária Anual – LOA.

Lei Orçamentária Anual


Lei elaborada pelo Poder Executivo que estima receita e fixa a

36
despesa da administração pública. É O Orçamento
elaborada num ano e aplicada no outro,
após ser discutida e aprovada pelo Poder Participativo
Legislativo. É acompanhada por uma
mensagem do Poder Executivo, sumário
geral das receitas (por fonte), sumário A proposta de Orçamento Participativo
geral das despesas e sumário geral da – OP surge, formalmente, no cenário
despesa por função de governo. Também nacional nas eleições de 1982 e ganha
são apresentados vários quadros, como:
demonstrativo da despesa, demonstrativo
do programa anual de trabalho do (*) Sociólogo, D.Sc. em Ciências Sociais,
governo (obras e prestação de serviços Professor da PUC-Minas, Diretor do Instituto Cultiva.
previstos). E-mail: ruda@inet.com.br

37
projeção a partir de 1988. Somente a partir • Conselho Municipal de Orçamento
da Constituição de 1988 foram forma- Participativo
lizados vários dispositivos legais, também Terminadas as rodadas de plenárias, os
inscritos nas Leis Orgânicas Municipais, conselheiros eleitos tomam posse e
que fundamentaram esta proposta. Em articulam as obras e serviços mais votados
1996, na 2 a Conferência das Nações numa peça orçamentária, que é enviada ao
Unidas para os Assentamentos Urbanos órgão governamental responsável pela
(Habitat II, ocorrida em Istambul), esta elaboração final da proposta orçamentária,
proposta foi referendada internacio- que será enviada ao Legislativo. Ao longo
nalmente como uma das quarenta melhores deste processo, são realizadas muitas reu-
práticas do mundo. niões de negociação e discussão. Em
alguns casos, como em Porto Alegre, o
De uma maneira geral, o orçamento governo não possui representantes no
participativo segue o seguinte itinerário: Conselho Municipal de Orçamento Participa-
tivo, portanto não tem direito a voto. Assim,
• preparação para que uma obra que o governo considera
As diretrizes são definidas no PPA e prioritária seja inserida no orçamento, terá
LDO, que condicionam o orçamento anual. que ser discutida nas plenárias e precisará
Nesta fase os órgãos governamentais convencer os conselheiros de sua
(secretarias e coordenadorias) fazem pertinência;
estudos e definem algumas prioridades no
que tange à manutenção dos órgãos • envio para o Legislativo
públicos e alguns investimentos. Quase Montada a peça orçamentária, essa é
sempre, as secretarias de governo elabo- enviada, pelo Executivo, ao Legislativo,
ram suas previsões e as enviam a um órgão
central, normalmente a Secretaria de
Planejamento e ou uma coordenadoria
especial do orçamento participativo, que
promove reuniões internas e estabelece
arranjos. Em seguida, o governo organiza
o que alguns municípios denominam de
“fase de devolução”, quando se faz a
prestação de contas do que se realizou
durante aquele ano, e são apresentadas as
prioridades que as secretarias sugerem;

• elaboração
Numa primeira rodada de reuniões
públicas ou plenárias, os órgãos de
governo apresentam seu balanço e
sugestões de investimento à população.
Neste momento, ocorrem debates, e é
discutida a performance do governo. Em
alguns casos, já são discutidas e votadas
algumas obras e serviços prioritários, e
eleitos os primeiros delegados que estarão
compondo o Conselho Municipal de
Orçamento;

38
onde normalmente é discutida e aprovada o OP tem sido implantado em cidades de
até final de outubro. Aprovada, vira lei e diferentes dimensões (32% possuem entre
será aplicada no ano seguinte; 20 mil e 100 mil habitantes e outros 30%
até 20 mil habitantes) e administradas por
• fiscalização e acompanhamento diferentes partidos (ainda que com uma
A partir daí, o Conselho Municipal de Or- predominância do Partido dos Traba-
çamento Participativo passa a acompanhar lhadores, com 52 %).
a execução do orçamento aprovado,
pressionando quando existe algum corte Os organizadores da pesquisa procu-
orçamentário ou atraso em obras e serviços raram saber também quais organizações
aprovados. participam mais efetivamente do processo
de elaboração do OP. As organizações de
No Brasil, são poucas as pesquisas bairro e as comunitárias são citadas em 55%
sobre a quantidade e os modelos de dos casos. Em seguida, aparecem organi-
orçamento participativo existentes. Uma zações e entidades religiosas (citadas em
pesquisa organizada pelo Fórum Nacional 34% dos casos). Finalmente, 28% das
de Participação Popular e concluída em prefeituras pesquisadas citaram os sindica-
2000 revelou que menos de 2% dos tos como organizações atuantes em todo
municípios brasileiros (103 no total) processo de OP.
desenvolvem a experiência do OP, sendo
47 casos na região sudeste, 39 na região
Sul, 14 na região Nordeste e 3 na região
Norte do país. A pesquisa apresenta ainda
dados sobre o perfil dos municípios que
implantaram o OP. Segundo esses dados,
• GENRO, Tarso & SOUZA, Ubiratan.
Orçamento Participativo: a experiên-
cia de Porto Alegre. São Paulo: Editora
Fundação Perseu Abramo, 1997. Neste
livreto, os autores descrevem o histórico
da experiência, sua organização e o
conceito teórico que fundamenta a iniciativa
de Porto Alegra, uma das mais reco-
nhecidas no âmbito do OP.
• PIRES, Valdemira. Orçamento
Participativo: o que é, para que serve,
como se faz. Piracicaba: Edição do
Autor, 1999. Como o título promete, este
livro trabalha os aspectos operacionais da
execução do orçamento participativo.
• RIBEIRO, Ana Clara & GRAZIA,
Grazia de (orgs.). Experiências de
Orçamento Participativo no Brasil
(1997-2000). Rio de Janeiro: Vozes/Fórum
Nacional de Participação Popular, 2003.
Estudo sistemático da experiência de
orçamento participativo existentes no
Brasil. Analisa o perfil dos participantes,
a dinâmica das reuniões, divulgação,
institucionalização, controle da execução
orçamentária, entre outros temas.

39
Para reflexão:
FORMULÁRIO 1
(Responder coletivamente)

1. Na opinião de vocês, o que define um processo de gestão so-


cial?

2. Quais os pontos observados no trabalho apresentado que o


caracteriza como um processo de gestão social?

3. Identifique os fatores favoráveis e desfavoráveis ao processo


de gestão social apresentado no trabalho?

4. Qual o papel desempenhado pela EMATER-MG no processo


da Gestão Social apresentado?

5. Como vocês relacionam a experiência sobre gestão social com


o conceito de desenvolvimento local sustentável?

6. O que, para vocês, continua vago sobre este tema, após ler o
dicionário, assistir e discutir o vídeo?

FORMULÁRIO 2
(Responder individualmente)

Faça uma reflexão de sua prática extensionista e responda


individualmente as questões abaixo:

1. Quais as dificuldades pessoais, institucionais e do ambiente


encontradas por você para trabalhar com agricultores familiares na
perspectiva da gestão social?

2. E quais são as facilidades?

3. Partindo de sua experiência de vida, da realidade de seu


município, das questões levantadas nesta reunião, como você pode
utilizar os conhecimentos aqui discutidos? E que tipo de apoio você
necessita para desenvolver este trabalho?

40

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