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INSTITUCIONAL
Presidente da EMATER-MG
José Silva Soares
Diretor Técnico
Marcos Antônio Fabri
Apresentação ........................................................................................... 9
Introdução ................................................................................................ 11
9
Introdução
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12
Rudá Ricci (*)
Ênfase no Estado
Trata-se de uma concepção pautada pela
preponderância dos aspectos técnicos, nos quais
a burocracia e os técnicos possuem papel central,
muitas vezes, exclusivo, na elaboração e
implementação das políticas públicas. Por este
motivo, alguns a denominam de tecnocracia.
Ênfase na comunidade
Trata-se de uma concepção que privilegia os
processos de participação popular, por meio de
conselhos e mecanismos de representação direta
da sociedade.
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direção de uma escola. A forma como a muito compatíveis.
direção se organiza é a mesma forma como
a gestão escolar se organiza. Uma escola Mas existe ainda outro tipo de gestão
dirigida apenas por um diretor escolhido que envolve a sociedade civil ou uma
pelo prefeito ou governador possui uma comunidade no processo de decisão e
gestão de governo típica, porque a força gerenciamento. Podemos voltar ao exem-
política que foi eleita no município (ou plo da gestão de uma escola hipotética.
governo estadual) indica uma pessoa da Neste caso, a comunidade escolar (alunos,
confiança do governo para dirigir aquela pais, funcionários e professores) pode
instituição. eleger diretamente o diretor da instituição
de ensino. É o que se denomina gestão
Este modelo de gestão é diferente de pública participativa. Ela é chamada de
uma escola que é dirigida por um técnico participativa, porque os cidadãos podem
de carreira, um funcionário público con- escolher diretamente o dirigente da escola.
cursado para tal função. Neste caso, a Existem formas ainda mais participativas,
direção escolar é tipicamente de Estado. como escolas que são dirigidas por Conse-
lhos Escolares, nos quais o diretor governa
É muito comum que, no modelo de com representantes de funcionários, pais
gestão com ênfase no aparelho de Estado e professores.
e mesmo em vários tipos de gestão com
ênfase nas forças de governo, exista um Então podemos tirar uma primeira
tipo de gerenciamento que se denomina de conclusão. A gestão estatal e a gestão de
burocrático, ou seja, no qual o corpo governo (se em regime democrático) são
administrativo possui grande importância públicas, porque o Estado e o governo
política e é o centro de toda decisão. Além eleito nascem da vontade dos cidadãos
disso, a hierarquia é fundamentada na (dos eleitores). Mas a gestão pública
competência, existe uma divisão preesta- participativa ocorre quando os cidadãos
belecida de áreas, um alto grau de profis- escolhem diretamente os dirigentes ou
sionalização, e as regras possuem grande ainda quando governam diretamente os
estabilidade. Este é o tipo da dominação equipamentos públicos (escolas, postos de
que Weber denominou de racional-legal. saúde, parques e jardins, entre outros).
Na gestão com ênfase nas forças de A situação é ainda mais diferente quando
governo, pode ocorrer o modelo burocrático. a própria comunidade dirige a escola. As
Mas também é muito comum ocorrer o que escolas família-agrícola são um exemplo
Weber denominou de dominação tradi- desta situação. Nessas escolas que exis-
cional. Neste caso, é a relação de fideli- tem no Vale do Jequitinhonha e na Zona da
dade entre o líder e o governado que marca Mata, são as famílias dos alunos que
o cotidiano da gestão. Por este motivo, a discutem o que deve ser ensinado, que
relação interna é mais personalizada, ajudam na alimentação, discutem o que
afetiva. O governante conversa muito, ouve deve ser investido e avaliam os resultados.
e protege seus governados. Embora pare- Os pais ficam mais atentos, se envolvem
ça mais democrática, a gestão tradicional mais com a educação dos filhos. Resultado:
é muito centralizada, já que toda decisão os alunos faltam menos, fazem todos seus
concentra-se no chefe, muito habilidoso e para casa, envolvem a família toda nas
quase sempre ótimo orador. discussões do que se estudou, e a escola
gasta menos.
Muitas vezes esses dois modelos de
gestão se misturam, embora não pareçam Neste último caso, quando os pais,
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funcionários e professores se tornam
dirigentes da escola, eles passam a assumir
novas tarefas e precisam aprender novas
funções. Eles precisam entender melhor
como funciona o caixa escolar, como são
liberadas as verbas públicas para as
escolas, como funciona a merenda escolar,
quando se compra um livro didático, como
COHN, Gabriel (org.). Weber. São
se faz uma prova. Na prática, precisam ter Paulo: Editora Ática, 1979.
informação, saber elaborar propostas
para melhorar a escola, saber administrar Mc LAGAN & NEL ,Christo. A Nova
Era da Participação: o desafio de
o dinheiro e as propostas que foram eleitas emocionar e envolver as pessoas. Rio
pelo Conselho Escolar e saber fiscalizar. de Janeiro: Campus, 2000.
Quando era só eleitor, o pai não precisava SCHNEIDER, Sérgio et all. Políticas
ter conhecimento de tudo isto. Públicas e Participação Social no
Brasil Rural. Porto Alegre: UFRGS, 2004.
Por fim, podemos comparar as principais
diferenças de cada um dos modelos de
gestão aqui descritos:
15
Maria Auxiliadora Tavares Carvalho(*)
16
dos institutos de democracia
direta ou semidireta, como: o
plebiscito, o referendo, a
iniciativa popular de lei, as
tribunas populares, os conselhos
e outros canais institucionais de
participação popular1 .
A partir da Constituinte e ao
longo da década de 1990, a
criação de espaços de co-gestão
das políticas públicas constituem
a materialização das reivindica-
ções populares, além de oportu-
nizarem uma maior aproximação
entre a sociedade civil e o
Estado. Destacam-se, nesse
contexto, a emergência dos Con-
selhos Gestores, sendo os da
saúde o primeiro deles, a criação
das políticas de defesa da criança
e do adolescente e de assistência
social, resultando no Estatuto da
Criança e do Adolescente ECA,
e a Lei Orgânica de Assistência
Social - LOAS, na qual a sociedade
passa a exercer o controle social,
por meio dos movimentos sociais
e entidades profissionais. O
orçamento participativo é, na
seqüência, uma experiência
movimentos sociais que emergem com o participativa de grande relevância e se
processo constituinte se caracterizam pela destaca pela contribuição na construção da
conquista do direito a ter direitos, do direito noção de interesse público.
a participar da redefinição dos direitos e
da gestão da sociedade, culminando com O significado de participação que se
o reconhecimento na Constituição de 1988, consolida no Brasil destaca a importância
em seu artigo 1º Todo poder emana do
povo, que o exerce indiretamente, através
de seus representantes eleitos ou
(*) Pedagoga, M.Sc. em Extensão Rural,
diretamente, nos termos desta Constitui-
Coordenadora Técnica Regional da EMATER-MG.
ção. A Constituição prevê a participação
E-mail;emdtgorv@uol.com.br
direta dos cidadãos, por meio dos chama-
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do controle social sobre o Estado, a gestão municipal e envolvem atores sociais repre-
participativa, a co-gestão e os espaços de sentativos da sociedade civil organizada e
interface entre o Estado e sociedade. Para o Estado.
muitos autores que discutem o processo de
democratização no país2, o Estado brasi- Orçamentos Participativos
leiro, tradicionalmente privatizado pelos seus Constituem um processo de consulta e
vínculos com grupos oligárquicos, vai debates sobre o orçamento público muni-
lentamente cedendo espaço, tornando-se cipal. Por meio deste processo, a popula-
mais permeável a uma sociedade civil que ção de alguns municípios passa a discutir
se organiza, que se articula, que constitui os problemas urbanos que a afetam, as
espaços públicos nos quais reivindica opinar prioridades de investimento do governo
e interferir na política, e na gestão do destino municipal e a decidir o que deve ser feito,
comum da sociedade. onde e quando.
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feministas e de juventude. metimento da sociedade com as mudanças
sociais enriquecem o debate sobre o
A importância do MST dentre os movi- desenvolvimento, permitindo que os temas
mentos sociais é destacada pela sua nele inseridos sejam tratados sob a ótica
capacidade de mobilização e influência nas da questão social, ou seja, sem desvincular
políticas de Reforma Agrária, de desen- as questões econômicas, ambientais,
volvimento rural e até mesmo de educação. políticas, culturais, do eixo central, que é a
compatibilização das necessidades
Um outro exemplo é a Pastoral da Criança básicas.
que, mesmo não participando formalmente
de programas de governo, nem se colo- A democracia, por maiores defeitos
cando explicitamente como uma proposta de que possa ter e tem, é um valor em si,
política pública, deixa muito evidente o acima dos sistemas vigentes, devendo
impacto que tem causado como paradigma impregnar em todas as suas dobras
de uma política de combate à mortalidade qualquer esforço de política social . (Pedro
infantil e à desnutrição. Demo).
19
Mariza Flores Fernandes Peixoto(*)
20
(*) Economista Doméstica, Coordenadora
Técnica Estadual da EMATER MG. E-mail:
bes@emater.mg.gov.br
21
A descentralização da
gestão que se quer construir
leva a refletir na questão da
cidadania, que pode estar
numa perspectiva de inclusão
ou de exclusão dos atores
sociais, a partir da distinção
entre cidadania passiva e
cidadania ativa
(BENEVIDES, 1999).
22
BENEVIDES, Maria Victória de
Mesquita. Cidadania e Democracia. In
Cidadania. Lua Nova n33. São Paulo:
CEDEC, 1994.
CASTRO, Maria da Consolação Gomes
de; LIMA, Jesus de Almeida e TEODÒSIO e
ARMINDO dos Santos de Souza. Construção
de Redes de Solidariedade: Uma avalia-
ção da experiência de gestão local em
Betim. Anais do VIII colóquio Internacional
Sobre Poder Local, promovido pelo NPGA/
UFBA, Salvador BA.
GOMES, Gustavo Maia e MAC DOWEL,
Maria Cristina . Os Elos Frágeis da Descen-
tralização texto oriundo do Curso de Gestão
Urbana e Municipal, promovido pela ESAF,
WBI, IPEA, CEF em Belo Horizonte MG,
2000.
GREMAUD, Amaury Patrick. Descen-
tralização, tomada de decisões fiscais em
democracias descentralizadas. texto oriundo
do Curso de Gestão Urbana e Municipal,
promovido pela ESAF, WBI, IPEA, CEF em Belo
Horizonte MG, 2000.
MARQUES, Paulo Eduardo Moruzzi e
SILVA, Marcelo Kumath. Democratização e
Políticas Públicas de Desenvolvimento
Rural In: Schneider, S; SILVA, M,K;
MARQUES, P.E.M (org). Políticas Públicas e
Participação Social no Brasil Rural. Porto
Alegre: Editora da UFRGS, 2004.
MUSSOI, Eros Marion. Estado,
Descentralização, políticas públicas e
órgãos públicos e os representantes das novas instâncias participativas: o caso da
populações, por meio de comissões, con- Agricultura em Santa Catarina in: Revista
selhos ou associações. de Ciências Humanas, Edição Especial
Temática Políticas Públicas e Democracia
Investir nos valores humanos e na auto- Institucional, Florianópolis: Editora UFSC,
estima da população. 1999.
23
24
Dario Magno de MIranda Maia(*)
Sérgio Glicério Martins(**)
Mariza Flores Fernandes Peixoto(***)
25
afora segundo o IBGE já eram 26.859 em participação de comunidades ou grupos
2001 é um sinal positivo que aponta para locais que se reuniam com regularidade,
o fato de que grupos organizados da discutiam seus problemas, refletiam sobre
sociedade civil estão buscando espaços de eles, tomavam decisões e procuravam
participação e de negociação de seus colocá-las em prática de forma conjunta e
interesses. organizada. Suas associações/conselhos
comunitários eram mais dinâmicos e
Negociação é a palavra-chave. Este é um atuantes, com as pessoas tendo cons-
dos grandes papéis dos conselhos gestores. ciência da necessidade de participar para
Quando se fala em gestão social, estamos mudar.
falando do espaço institucional que se abre
entre Governo, Mercado e Sociedade Civil Por mais descontínuo (avança, pára,
organizada para a negociação de interesses recua, avança) e diferenciado que possa ser
diferentes, às vezes, até conflitantes. este processo de participação, os estudos
apontam também que sua amplitude, sua
É um espaço de conflito, sim, mas, primor- qualidade e sua profundidade estão direta-
dialmente, um espaço de negociação, um mente ligadas ao seu capital social.
espaço de construção de um projeto coletivo.
Como já vimos no Dicionário do
Estudos realizados sobre a atuação dos Extensionista vol. 1, capital social é o
conselhos gestores apontam para duas grau de unidade e coesão social que a
grandes direções: uma ressalta a impor- população de um determinado território
tância que eles assumiram, nacionalmente, apresenta a partir da confiança na sua
ao levar aos municípios a possibilidade real capacidade de gerar desenvolvimento e
e efetiva de suas populações discutirem e superar obstáculos.
participarem da formulação das políticas
públicas locais. Em muitos casos, levam Com isso, as comunidades que apre-
aos municípios políticas públicas até então sentam um estádio avançado de capital
inexistentes, como as de desenvolvimento social têm mais facilidade de trabalhar de
rural e ambiental. forma organizada, planejada, integrada e
em rede. Politicamente, este grupo social
Noutra direção, salienta-se a dificuldade construirá institucionalidades capazes de
ainda encontrada pelos conselhos em se atuarem como negociadoras junto às
tornarem efetivamente representativos dos esferas de poder local, porque serão mais
interesses da comunidade e se libertarem participativas, mais representativas, mais
do poder dos prefeitos, que os transformam fortes.
apenas em espaços de legitimação de
seus atos. É fácil, portanto, perceber que, quanto
mais avançado for o capital social, maior
No caso dos CMDRS, a experiência tem será o espaço de negociação que ele ocupa-
demonstrado que, nos municípios onde rá neste intrincado jogo de forças entre a
estes conselhos têm avançado na direção Sociedade Civil organizada, o Estado e o
da autonomia política, foi possível adequar Mercado.
as ações da Prefeitura às prioridades
definidas pelas próprias comunidades. No entanto, existem diferentes entendi-
mentos sobre o que é uma sociedade civil
Nesses municípios, há algumas organizada. Muitos acreditam que basta criar
características que sempre se repetem. instituições para que a sociedade esteja
Todos eles possuem uma história de organizada. Daí, partem para a criação de
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associações comunitárias e conselhos, Controle social
muitas vezes de forma verticalizada, em- Conforme ANDRADE (2004), a gestão
bora com um discurso participativo. com controle social está diretamente
vinculada à idéia de constituição de uma
O resultado são instituições fracas, sem esfera pública democrática, que possa
canais de participação, sem projetos pró- viabilizar o controle dos governantes pela
prios e com dificuldades de operacionalizar sociedade. A idéia básica reside na
os programas e projetos que lhes são possibilidade de os grupos organizados
demandados. influírem e decidirem sobre o tipo de socie-
dade e de ação governamental necessárias
É preciso entender que o processo de ao bem-estar da coletividade, além de
evolução do capital social tem um ritmo manter mecanismos de avaliação das
próprio, particular, todo seu. Locais com ações governamentais. Isso supõe a institu-
capital social mais evoluído terão a amplitude, cionalização de instrumentos de controle do
a qualidade e a profundidade da participação setor público pela sociedade, garantindo
aceleradas. Locais com capital social menos não-somente a fiscalização do orçamento,
evoluído demorarão mais tempo para construir mas também a definição de prioridades,
o seu caminho. Toda vez que atropelarmos estratégias de ação e localização dos
este processo, passando por cima da capa- serviços.
cidade local de avançar, estamos tornando
mais difícil este caminhar.
Respeito às pessoas e aos
processos
Assim, a construção da gestão social está Respeitar as pessoas e as instituições
diretamente relacionada a princípios como: tem a ver com a compreensão de que elas
têm um tempo de amadurecimento das
Democracia e participação consciências e dos processos que
precisam ser considerados.
Uma gestão democrática é aquela que
abre canais de participação desde os níveis
Portanto construir processos locais de
mais elementares grupos de esporte nas
desenvolvimento sustentável pressupõe o
comunidades rurais, por exemplo até os
conhecimento, o entendimento e a prática
de maior responsabilidade, como os
destes princípios da Gestão Social.
conselhos gestores; vai até as pessoas e
estabelece com elas uma relação aberta,
positiva e dialógica; as pessoas têm o direito
de opinar, serem ouvidas e respeitadas; as
decisões são abertas e não restritas a um
pequeno grupo; os critérios de decisão são ANDRADE, I.A.L. Conselho de Desen-
construídos em conjunto, conhecidos e volvimento Rural: um espaço adequado
assumidos por todos. para pensar o desenvolvimento local? In:
SCHNEIDER,S., SILVA, M.K.; MARQUES,
Transparência P.E.M. (org.). Políticas públicas e
Uma instituição com gestão transparente participação social no Brasil rural. Porto
é aquela que cria canais de comunicação Alegre: Editora da UFRGS, 2004.
regulares e permanentes, informando as
pessoas e as comunidades dos atos, das CARVALHO, M. E. C. de. Gestão Social:
negociações, das decisões, dos critérios, Alguns apontamentos para o debate. In:
dos resultados, dos ganhos, das perdas e, RICO, E. M. e RAICHELIS, R. (orgs.). Gestão
principalmente, da gestão financeira sob sua Social Uma questão em debate. Ed. EDUC/
PUC-SP.
responsabilidade, em linguagem acessível.
27
Thiago Camargo (*)
A Crise e a
Reforma do Estado
28
do Estado do governo FHC, Bresser A maioria delas, embora com poucos
Pereira. Essas duas grandes vertentes pontos de contato entre si, caracteriza-se
Estado Mínimo e Estado Gerencial tinham por ser dotadas de princípios participa-
em comum a idéia de implantar o modelo cionistas. Em outras palavras, as principais
de administração empresarial nas
atividades do Estado.
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idéias e concepções críticas às reformas território na gestão do Estado.
do Estado, implantadas nas últimas duas Podem-se apontar como princípios
décadas, tinham como base a idéia de que norteadores da gestão em rede:
a população deve governar e participar da
sua gestão. construção de uma identidade comum
entre os atores sociais envolvidos;
participação democrática;
A Gestão em estrutura flexível e horizontal (sem
Rede hierarquia);
descentralização, capilaridade e
dinamismo.
A gestão em rede se vincula a essa
proposição e apresenta-se como capaz de
superar o modelo burocrático de gestão
do Estado. Mas, afinal, o que é a gestão A EMATER-MG,
em rede?
os CMDRS e a Gestão
A palavra rede vem do latim retis e em Rede
significa entrelaçamento de fios com
aberturas regulares que formam uma
espécie de tecido. A partir deste signi- A EMATERMG, tanto na sua gestão
ficado, há muito tempo, a idéia de rede foi interna quanto nas atividades externas,
usada em várias áreas do conhecimento, pode adotar os princípios da gestão em
como a física e a biologia. Nos últimos rede. Internamente, pode-se aprofundar o
anos, os movimentos sociais e a admi- processo de descentralização, compar-
nistração pública passam a discutir a idéia tilhando o poder de decisão entre os
de gestão em rede. Passa-se a conceber funcionários e os diferentes setores da
Instituição. Externamente, por meio da
a gestão em rede, não só como um
gestão em rede, pode contribuir para
sistema organizacional, mas também
consolidação dos CMDRS Conselhos
como um mecanismo de gestão em torno
Municipais de Desenvolvimento Rural
de objetivos e identidades próprias, capaz Sustentável, fortalecendo a integração
de criar uma nova forma de política e entre as instituições e os projetos.
gestão públicas, calcadas na participação
e articulação dos diferentes atores sociais A gestão em rede se torna ainda mais
de um território. necessária, à medida que a experiência e
os relatos têm demonstrado que a
A gestão em rede objetiva, sobretudo, implementação de qualquer política
superar as características das gestões pública esbarra na fragmentação dos
tradicionais do Estado, calcadas nos órgãos públicos e na burocracia estatal.
princípios da hierarquia, da fragmentação Neste sentido, os conselhos potenciali-
de ações (seja no momento da elaboração, zariam sua atuação, enquanto espaços
da execução ou do monitoramento de uma públicos de articulação dos diversos atores
política pública) e da divisão de compe- envolvidos, tanto estatais, quanto da
tências (especialização de acordo com a sociedade civil, viabilizando a gestão local
capacidade técnica do gestor). Além disso, e contribuindo para a formação de uma
a gestão em rede potencializa a partici- cultura democrático-participativa, podendo,
pação dos diversos atores sociais de um ainda, constituírem-se em instâncias
30
efetivas de gestão do Estado.
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32
Sérgio Glicério Martins (*)
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Com relação ao meio rural, a criação apoio às organizações comunitárias
do Programa Nacional de Fortalecimento rurais na gestão de seus projetos locais, os
da Agricultura Familiar PRONAF no quais devem estar articulados ao projeto do
ano de 1996 (Decreto Presidencial n.º município, de seu plano de desenvolvi-
1946, de 28/07/96), formulado como mento;
resposta às pressões do movimento sindi-
cal dos trabalhadores rurais, representou construção de canais democráticos e
o reconhecimento e a legitimação do representativos de participação das comu-
Estado em relação às especificidades nidades rurais no Conselho e em suas
desta categoria social os agricultores câmaras técnicas;
familiares. Em função disso, surgem os
Conselhos Municipais de Desen- envolvimento dos jovens e das mu-
volvimento Rural (CMDR), em sua quase lheres nos processos de discussão e
totalidade por demanda do PRONAF Infra- gestão das instituições e dos planos de
estrutura, com o pressuposto básico de desenvolvimento;
envolvimento das comunidades rurais e
dos agricultores familiares na concepção, definição de prioridades do município,
gestão e fiscalização das políticas públicas por meio de um plano municipal de desen-
(CAZELLA 2004). volvimento, construído de forma parti-
cipativa, a partir dos diagnósticos das
Com a ampliação da discussão, quanto comunidades rurais, abrangendo todas as
à incorporação do conceito de susten- dimensões do desenvolvimento sustentável
e com projetos de curto, médio e longo
tabilidade ao processo de desenvolvimento
prazo;
rural, os conselhos passaram a ser chama-
dos Conselhos Municipais de Desen-
construção de parcerias e redes que
volvimento Rural Sustentável CMDRS. possibilitam não apenas uma melhor
gestão dos planos, mas também e princi-
Criado por meio de lei municipal ou por palmente maior poder de negociação junto
decreto aprovado na Câmara de Verea- ao Executivo local;
dores, o CMDRS é uma instituição de
caráter deliberativo, consultivo e de fisca- criação de canais de comunicação
lização, sendo um dos responsáveis pela regulares e permanentes com a população
gestão das políticas públicas para o desen- em geral e com as comunidades rurais, em
volvimento rural sustentável do município. particular, permitindo maior transparência,
Deve possuir identidade própria e não construindo maior representatividade e
deve estar subordinado ao poder público, abrindo espaço para maior integração
garantindo, assim, sua liberdade de social da comunidade local.
expressão, representação e participação.
À medida que conseguem avançar na
Nos municípios que mais avançaram na direção de um processo mais participativo,
gestão social, a partir dos CMDRS, podem- mais democrático, mais transparente e se
se destacar algumas características transformam em espaço de negociação, os
comuns: conselhos municipais se tornam cada vez
mais decisivos para aglutinar os interesses
envolvimento das comunidades rurais, locais na construção dos projetos de desen-
reforçando a organização das associações/ volvimento sustentável.
conselhos comunitários na discussão e
definição dos projetos locais; Mesmo com todas as dificuldades
34
encontradas, os conselhos têm se revelado
importantes instrumentos para se criar uma
FAO/DESER. A relação entre as
nova mentalidade de gestão das políticas reformas de descentralização e o
públicas, uma nova cultura de participação, desempenho dos serviços públicos no
uma nova maneira de encarar o município setor agropecuário o caso do Sul do
e seus problemas. A sua existência traz Brasil. Curitiba,2002.
para a pauta de discussões locais temas GOHN, M.G. Conselhos gestores e
que até então costumavam ser tratados e participação sociopolítica / Maria da
resolvidos apenas dentro dos gabinetes, Glória Gohn. São Paulo, Cortez,2001.
como o orçamento municipal. Ministério do Desenvolvimento Agrário
(MDA), Secretaria de Agricultura Familiar
(SAF), Grupo de Trabalho ATER. Política
Nacional de Assistência Técnica e
Extensão Rural: Versão Final: 25/05/2004.
Políticas públicas e participação
social no Brasil rural/organizado por
Sérgio Schneider, Marcelo K. Silva e Paulo
E. Moruzzi Marques; Ademir Antonio
Cazella... [et. al.]. Porto Alegre: Editora
da UFRGS, 2004.
ABRAMOVAY, R. Conselhos além
dos limites. Brasília: CMDRS, 2001. PLURAL Cooperativa/IICA/MDA.
Políticas públicas, participação social
ANDRADE, I. A. L. Conselhos de
e as instituições para o desenvol-
Desenvolvimento Rural: um espaço
vimento rural sustentável uma
adequado para pensar o desen-
avaliação dos Conselhos Municipais de
volvimento local? In: Schneider, S;
Desenvolvimento Rural. Relatório final de
SILVA, M, K; MARQUES, P. E. M (org).
pesquisa, Arilson Favareto & Diogo
Políticas Públicas e Participação Social
Demarco(orgs). São Paulo/Brasília,2002.
no Brasil Rural. Porto Alegre: Editora da
UFRGS, 2004.
BAPTISTA, N. e DIAS, W.
Capacitação em gestão Social para o
desenvolvimento local. Bahia, Feira de
Santana: MOC, 2000
BRASIL, Constituição Federal da
República. 1988.
CARVALHO & TEIXEIRA (org).
Conselhos Gestores de políticas
públicas. Instituto Polis, 2000.
DESER. Gestão de Políticas
Públicas: Os conselhos como
mecanismos de gestão e controle
social .Boletim DESER No 128
Fevereiro/2003
35
Rudá Ricci (*)
36
despesa da administração pública. É O Orçamento
elaborada num ano e aplicada no outro,
após ser discutida e aprovada pelo Poder Participativo
Legislativo. É acompanhada por uma
mensagem do Poder Executivo, sumário
geral das receitas (por fonte), sumário A proposta de Orçamento Participativo
geral das despesas e sumário geral da OP surge, formalmente, no cenário
despesa por função de governo. Também nacional nas eleições de 1982 e ganha
são apresentados vários quadros, como:
demonstrativo da despesa, demonstrativo
do programa anual de trabalho do (*) Sociólogo, D.Sc. em Ciências Sociais,
governo (obras e prestação de serviços Professor da PUC-Minas, Diretor do Instituto Cultiva.
previstos). E-mail: ruda@inet.com.br
37
projeção a partir de 1988. Somente a partir Conselho Municipal de Orçamento
da Constituição de 1988 foram forma- Participativo
lizados vários dispositivos legais, também Terminadas as rodadas de plenárias, os
inscritos nas Leis Orgânicas Municipais, conselheiros eleitos tomam posse e
que fundamentaram esta proposta. Em articulam as obras e serviços mais votados
1996, na 2 a Conferência das Nações numa peça orçamentária, que é enviada ao
Unidas para os Assentamentos Urbanos órgão governamental responsável pela
(Habitat II, ocorrida em Istambul), esta elaboração final da proposta orçamentária,
proposta foi referendada internacio- que será enviada ao Legislativo. Ao longo
nalmente como uma das quarenta melhores deste processo, são realizadas muitas reu-
práticas do mundo. niões de negociação e discussão. Em
alguns casos, como em Porto Alegre, o
De uma maneira geral, o orçamento governo não possui representantes no
participativo segue o seguinte itinerário: Conselho Municipal de Orçamento Participa-
tivo, portanto não tem direito a voto. Assim,
preparação para que uma obra que o governo considera
As diretrizes são definidas no PPA e prioritária seja inserida no orçamento, terá
LDO, que condicionam o orçamento anual. que ser discutida nas plenárias e precisará
Nesta fase os órgãos governamentais convencer os conselheiros de sua
(secretarias e coordenadorias) fazem pertinência;
estudos e definem algumas prioridades no
que tange à manutenção dos órgãos envio para o Legislativo
públicos e alguns investimentos. Quase Montada a peça orçamentária, essa é
sempre, as secretarias de governo elabo- enviada, pelo Executivo, ao Legislativo,
ram suas previsões e as enviam a um órgão
central, normalmente a Secretaria de
Planejamento e ou uma coordenadoria
especial do orçamento participativo, que
promove reuniões internas e estabelece
arranjos. Em seguida, o governo organiza
o que alguns municípios denominam de
fase de devolução, quando se faz a
prestação de contas do que se realizou
durante aquele ano, e são apresentadas as
prioridades que as secretarias sugerem;
elaboração
Numa primeira rodada de reuniões
públicas ou plenárias, os órgãos de
governo apresentam seu balanço e
sugestões de investimento à população.
Neste momento, ocorrem debates, e é
discutida a performance do governo. Em
alguns casos, já são discutidas e votadas
algumas obras e serviços prioritários, e
eleitos os primeiros delegados que estarão
compondo o Conselho Municipal de
Orçamento;
38
onde normalmente é discutida e aprovada o OP tem sido implantado em cidades de
até final de outubro. Aprovada, vira lei e diferentes dimensões (32% possuem entre
será aplicada no ano seguinte; 20 mil e 100 mil habitantes e outros 30%
até 20 mil habitantes) e administradas por
fiscalização e acompanhamento diferentes partidos (ainda que com uma
A partir daí, o Conselho Municipal de Or- predominância do Partido dos Traba-
çamento Participativo passa a acompanhar lhadores, com 52 %).
a execução do orçamento aprovado,
pressionando quando existe algum corte Os organizadores da pesquisa procu-
orçamentário ou atraso em obras e serviços raram saber também quais organizações
aprovados. participam mais efetivamente do processo
de elaboração do OP. As organizações de
No Brasil, são poucas as pesquisas bairro e as comunitárias são citadas em 55%
sobre a quantidade e os modelos de dos casos. Em seguida, aparecem organi-
orçamento participativo existentes. Uma zações e entidades religiosas (citadas em
pesquisa organizada pelo Fórum Nacional 34% dos casos). Finalmente, 28% das
de Participação Popular e concluída em prefeituras pesquisadas citaram os sindica-
2000 revelou que menos de 2% dos tos como organizações atuantes em todo
municípios brasileiros (103 no total) processo de OP.
desenvolvem a experiência do OP, sendo
47 casos na região sudeste, 39 na região
Sul, 14 na região Nordeste e 3 na região
Norte do país. A pesquisa apresenta ainda
dados sobre o perfil dos municípios que
implantaram o OP. Segundo esses dados,
GENRO, Tarso & SOUZA, Ubiratan.
Orçamento Participativo: a experiên-
cia de Porto Alegre. São Paulo: Editora
Fundação Perseu Abramo, 1997. Neste
livreto, os autores descrevem o histórico
da experiência, sua organização e o
conceito teórico que fundamenta a iniciativa
de Porto Alegra, uma das mais reco-
nhecidas no âmbito do OP.
PIRES, Valdemira. Orçamento
Participativo: o que é, para que serve,
como se faz. Piracicaba: Edição do
Autor, 1999. Como o título promete, este
livro trabalha os aspectos operacionais da
execução do orçamento participativo.
RIBEIRO, Ana Clara & GRAZIA,
Grazia de (orgs.). Experiências de
Orçamento Participativo no Brasil
(1997-2000). Rio de Janeiro: Vozes/Fórum
Nacional de Participação Popular, 2003.
Estudo sistemático da experiência de
orçamento participativo existentes no
Brasil. Analisa o perfil dos participantes,
a dinâmica das reuniões, divulgação,
institucionalização, controle da execução
orçamentária, entre outros temas.
39
Para reflexão:
FORMULÁRIO 1
(Responder coletivamente)
6. O que, para vocês, continua vago sobre este tema, após ler o
dicionário, assistir e discutir o vídeo?
FORMULÁRIO 2
(Responder individualmente)
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