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ENSAIO CRÍTICO - FESTIVAL IMPULSO 2022

Ao debruçar-me sobre o tema do meu ensaio crítico, procurei cingir-me a algo local, a uma

programação que amplifica a potência cultural de Portugal fora de Lisboa e do Porto. Após uma breve

pesquisa, deparei-me com o festival Impulso, que se dá no Parque D. Carlos I, situado nas Caldas da

Rainha, no distrito de Leiria.

O festival Impulso é um festival que ocorre anualmente, porém, após os eventos

desencadeados pela pandemia da COVID-19, em 2020, foi adiado e recompensado na Season

Impulso, um ciclo de concertos programados entre 2021 e 2022.

Este festival é coordenado pela Associação Impulso, colaborando com o Município das

Caldas da Rainha e contanto com a presença e auxílio da Escola Superior de Artes e Design das

Caldas da Rainha. Conta também com o apoio de várias curadoras culturais, destacando-se a Rimas e

Batidas, uma revista digital focada no hip hop e na música eletrónica; a Comunidade Cultura e Arte,

que se exprime também numa plataforma digital; e a célebre estação de rádio Antena 3.

Garantindo uma enorme diversidade musical, complementam esta diversidade também

noutros campos artísticos, nomeadamente a arte do cinema. Surge nesta área o DocLisboa, o festival

de cinema mais antigo de Portugal, aprimorado nos documentários e colaborando com o Centro

Cultural e de Congressos, uma estrutura vocacionada para a realização de múltiplos tipos de

atividades culturais.

Neste ensaio, irei-me focar na programação da edição de 2022 do festival Impulso, que conta

com uma panóplia de artistas de vários pontos do mundo e que se inserem numa variedade imensa de

géneros musicais.

No parâmetro musical, vê-se esta variedade diretamente, com cerca de 41 artistas no cartaz

oficial, na qual se salientam 8.

Antigo membro dos ilustres Buraka Som Sistema, oriundo da Amadora na margem sul de

Lisboa, Branko é um dos nomes que se pode encontrar destacado no cartaz. Também de Portugal se

juntam os Conjunto Corona, oriundos do Porto, conhecidos pela sua música que se compreende no

género do hip-hop alternativo. Mão Morta é também outra banda portuguesa, de Braga, especializada
no punk experimental. De Odivelas surge também a aclamada e eletrificante Nídia, uma das figuras

principais da distribuidora Príncipe Discos, e produtora de tarraxinha e batida. Inesperadamente, vê-se

também a banda Pluto, formada em 2002 por Manel Cruz e Peixe, que anunciam o seu regresso

através da sua performance neste festival. Fora de Portugal, vemos também a artista de Madrid

conhecida pelo seu neo perreo provocador e extremamente sexual Virgen María, como também

vemos a DJ e produtora escocesa TAAHLIAH.

Neste ensaio, irei abordar então o aspeto da mesclagem de artistas distintos, analisando não só

os seus géneros musicais e a sua relevância para a indústria musical, como também irei abordar a

inclusão social através da agregação de artistas de várias nacionalidades e de várias minorias. Irei

também expor e aprofundar no espaço em que o evento se decorre e também a acessibilidade de tal.

2. Desenvolvimento

2.1 Sobre a Questão da Variedade Musical

Quando se executa uma programação cultural, é necessário considerar, inicialmente, a sua

prioridade. Se o seu propósito circula à volta da execução de atividades de criação - como workshops

ou oficinas artísticas - ou se circula à volta de divulgação - como concertos, instalações ou

conferências -. No caso do festival Impulso, denota-se uma prioridade para com a divulgação dos

intérpretes, omitindo um bocado a conceptualidade do projeto.

O festival Impulso procura então divulgar uma vasta série de artistas, com uma grande

receptibilidade quando chega à sua produção musical que permite então uma dissolução de barreiras

entre artistas de vários géneros, permitindo não só uma vasta difusão de artistas únicos, como também

permitindo aos observadores uma absorção mais eficaz de vários panoramas musicais diferentes. Isto

permite uma relação simbiótica entre os artistas e os consumidores: o artista recebe mais atenção e

conhecimento, e o consumidor, ao estar atento ao artista, é exposto a novas formas de pensar, novas

formas de criar e de se exprimir.

Com o recurso a artistas menos conhecidos, é facilmente retirada a possibilidade da

programação ter como âmbito a angariação de dinheiro, tratando os artistas como comodidades de

modo a os vender a cultura de massa. Isto garante então uma constante originalidade tanto no cartaz e
no conceito do festival, permitindo uma renovação constante do festival e, simultaneamente, uma

possibilidade constante para novos artistas demonstrarem os seus talentos

2.2 Sobre a Questão da Inclusão Social na Programação

No aspeto da inclusão social, tem havido, no panorama geral das atividades culturais, uma

maior atenção a inclusão de minorias étnicas, de pessoas que se encontram num espetro não-

heterossexual ou não-cisgénero, com o âmbito de incluir a maior quantidade de pessoas possíveis e

permitir nesta atividade um ambiente variado e dinâmico.

Porém, estas características não garantem segurança, não prometem a estas pessoas - vítimas

de violência na sociedade - que não serão sujeitas a crimes de ódio. Logo, é absolutamente crucial

que, num evento que promete um ambiente que inclui pessoas LGBTQIA+ e minorias étnicas, exista

também uma supervisão geral e um órgão dedicado à segurança e ao conforto dos consumidores.

No caso do festival Impulso, não existem quaisquer queixas face à segurança do evento, e

existe certamente uma inclusão para com minorias no cartaz oficial. Não só pessoas da comunidade

LGBTQIA+ , como a DJ lisboeta Odete, como também artistas de várias nacionalidades, como o

cabo-verdiano Scúru Fitchádu.

É com a presença de artistas de diversas origens e de diversas comunidades e a presença de

corpos administrativos que se dedicam à segurança do evento que se promete um ambiente seguro

para todo o público independente das suas diferenças. Com o festival Impulso, vê-se então uma

aplicação destes dois aspetos e as suas repercussões: um ambiente seguro, capaz de estabelecer uma

forte comunicação entre os artistas e o público.

2.3 Sobre o Espaço em que se Decorre o Evento

No que toca a escolher o espaço na qual se decorrerá um evento, tem de ser escolhido

deliberadamente de acordo com o propósito do evento (se este espaço deve ser escolhido a volta do

conforto do público; se este espaço deve conciliar o conforto das periferias em que se insere com a

maior agregação de consumidores possível; se este espaço deverá refletir o património cultural da

região em que se insere…).


O festival Impulso decorre no emblemático Parque D. Carlos I, um parque com jardim

romântico e com um hospital termal Rainha D. Leonor, do reinado de D. João V, que foi sujeito a

remodelação por volta de 1948.

Aliás, uma das propostas da edição de 2022 é a comunicação entre a cidade, a música e as

comunidades artísticas que lá se inserem, permitindo então uma maior exposição ao património

cultural. Não só, também são expostos trabalhos e obras dos alunos da ESAD.CR (Escola Superior de

Artes e Design das Caldas da Rainha), que garante não só um conhecimento e exposição do

património cultural e do que a cidade é composta, como também apoia o futuro da arte e do

património da cidade.

3. Conclusão

Neste ensaio, são brevemente analisadas as componentes do festival Impulso, um festival

leiriense que se foca na amplificação de artistas vanguardistas de vários estilos, não só artistas

portugueses como também artistas de vários lados do mundo. Este festival é também multidisciplinar

e exprime se também no ramo do cinema, como também procura explorar e acentuar o panorama

artístico da Escola Superior de Artes e Design das Caldas da Rainha.

Ao longo do ensaio, estabelece-se que este festival é realmente um festival dedicado a

ampliação da cultura, pegando não só no passado histórico da cidade - com a sua localização num dos

espaços mais conhecidos das Caldas da Rainha - como também no futuro, com o recurso a artistas que

se compreendem numa variedade de estilos. Este ambiente diverso e culturalmente enriquecido é

reforçado pela inclusão de minorias sociais, tanto no público com uma supervisão minuciosa do

espaço de modo a prevenir ódio e agressões, como no cartaz oficial que mostra uma grande

diversidade de artistas.

Resumidamente, o festival Impulso demonstra um modelo exemplar de uma atividade

dedicada à divulgação, permitindo uma prioridade na representação de vários polos culturais e

remetendo para segundo plano o lucro, evitando assim que os artistas sejam comodidades. É

realmente uma programação de vertente mais alternativa, com um grande pendor cultural que ajuda

também a perceber a vida cultural fora dos dois centros de Portugal (Lisboa e Porto). É uma prova de
que o panorama cultural português, apesar de ser parcialmente omitido por atividades com fins

lucrativos com maior reconhecimento, tem um grande potencial e uma grande riqueza, com

articulações entre associações e organizações que permitem programações coerentes e bem

estruturadas.

Isto demonstra que, apesar da predominância pela programação que visa angariar o máximo

de fundos e vender a maior quantidade de produtos - algo que deteriora e sintetiza a cultura - ,

existem ainda organizações que preservam o património cultural e, concomitantemente, procuram

novos talentos e novas formas de expressão artística que permitem a construção de um arquétipo

cultural mais estável e mais relevante para os tempos em que nos inserimos.

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