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Produção de Sementes de
Foto: Carolina Terra Borges
Quinoa no Sul do
Rio Grande do Sul
Originária dos Andes, a quinoa (Chenopodium presente em mais de 70 países, sendo Bolívia, Peru
quinoa Willd.) pertence à família Amaranthaceae e Estados Unidos os principais produtores (FAO,
(originalmente, Chenopodiaceae) e é considerada 2013).
uma espécie halófita facultativa, apresentando
A espécie é reconhecida como um dos alimentos
ampla variabilidade genética e alta capacidade de
vegetais mais nutritivos e de elevado valor
adaptação ao clima, sendo cultivada em diferentes
biológico, apresentando composição de
locais, desde o nível do mar até altas altitudes
aminoácidos mais equilibrada, relativamente aos
(JACOBSEN et al., 2012).
cereais e leguminosas tradicionalmente utilizados
A área cultivada com quinoa na Bolívia, Peru na dieta humana. Além disso, seus grãos são livres
e Equador praticamente duplicou no período de glúten e colesterol, constituindo excelente
compreendido entre 1992 e 2010, e a cultura opção para a diversificação alimentar, inclusive
encontra-se em expansão pelo mundo, estando como substituto da carne. Essas características
1
Engenheira-agrônoma, D.Sc. em Ciência e Tecnologia de Sementes, pós-doutoranda do Programa de Pós-Graduação em
Ciência e Tecnologia de Sementes, Universidade Federal de Pelotas, RS.
2
Engenheira-agrônoma, D.Sc. em Ciência e Tecnologia de Sementes.
3
Engenheira-agrônoma, doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Ciência e Tecnologia de Sementes, Universidade
Federal de Pelotas, RS.
4
Engenheira agrícola, D.Sc. em Ciência e Tecnologia de Sementes, professora da Faculdade de Engenharia Agrícola da
Universidade Federal de Pelotas, RS.
5
Engenheira-agrônoma, D. Sc. em Ciência e Tecnologia de Sementes, pesquisadora da Embrapa Clima Temperado,
Pelotas, RS.
6
Engenheiro agrícola, D.Sc. em Fitotecnia, professor do Departamento de Fitotecnia da Universidade Federal de Pelotas, RS.
7
Engenheira-agrônoma, D.Sc. em Agronomia, professora do Departamento de Fitotecnia da Universidade Federal de
Pelotas, RS.
8
Estudante de Agronomia da Universidade Federal de Pelotas, RS.
2 Produção de Sementes de Quinoa no Sul do Rio Grande do Sul
têm conquistado progressivamente o mercado condições do Brasil Central, o ciclo da quinoa varia
consumidor (ASCHERI et al., 2002; BRAGA; de 80 a 150 dias e a estatura das plantas pode
MENDONÇA, 2010; SPEHAR; SOUZA, 1993). chegar a 1,90 m.
Dada a importância da espécie, o ano de 2013 foi O sistema radicular das plantas de quinoa é
declarado, pela Organização das Nações Unidas pivotante, vigoroso e profundo, podendo chegar
para Alimentação e Agricultura (FAO), o Ano a 1,80 m, sendo ainda bastante ramificado e
Internacional da Quinoa. fibroso, conferindo resistência à seca e estabilidade
à planta. A coloração do caule pode variar do
Quanto às características das plantas de quinoa,
verde ao roxo e apresentar estrias. A deposição
destacam-se as flores, que são pequenas,
de grânulos de oxalato de cálcio nas folhas e
incompletas, sésseis, e podem ser hermafroditas,
inflorescências é bastante evidente (Figura 2) e
pistiladas ou macho-estéreis; os estames têm
benéfica, favorecendo a regulação da temperatura
filamentos curtos, terminando em anteras basifixas;
foliar e retenção da umidade, além de refletir os
o pistilo tem dois ou três estigmas alados (MUJICA-
raios solares (SPEHAR; SANTOS, 2002).
SANCHEZ, 1994). Suas inflorescências podem ser
do tipo amarantiforme ou glomerulada (Figura 1). A espécie apresenta elevada capacidade adaptativa
Os grãos são, na verdade, frutos do tipo aquênio às mais variadas condições ecológicas. Devido
(conforme os do arroz), pequenos e achatados à sua grande variabilidade genética, pode ser
(GANDARILLAS, 1967; WAHLI, 1990). cultivada em diferentes ambientes e constituir
alternativa de utilização em sistemas rotacionais
Fotos: Carolina T. Borges
O objetivo deste comunicado é reunir as Figura 3. Plantas de quinoa em diferentes estádios de maturação
informações disponíveis sobre a produção de das sementes.
sementes de quinoa, no município de Pelotas –
RS, decorrentes de ações de pesquisa conduzidas Na quarta época de semeadura, no entanto, a
no âmbito do projeto “Produção e avaliação da variabilidade das plantas quanto à altura foi menor,
qualidade fisiológica de sementes de quinoa e houve maior uniformidade na maturação das
(Chenopodium quinoa Willd.) no Rio Grande do sementes, comparativamente às demais épocas,
Sul”, executado na Embrapa Clima Temperado, em porém, o crescimento e o desenvolvimento das
parceria com a Universidade Federal de Pelotas. plantas foram muito influenciados pelo fotoperíodo.
Apesar de apresentarem período de maturação
Adaptação de plantas de quinoa em mais prolongado, as plantas provenientes das
Pelotas, RS primeiras épocas de semeadura cresceram e
ramificaram-se mais, e, consequentemente,
Visando avaliar a adaptação de plantas de quinoa
produziram maior quantidade de sementes,
na região de Pelotas, RS, foram instalados
havendo indício de que o cultivo de quinoa, para
experimentos na Embrapa Clima Temperado,
produção de sementes nessa região, seja favorecido
em delineamento de blocos ao acaso, com três
pela semeadura na primavera.
repetições, empregando-se sementes da cultivar
BRS Piabiru, semeadas em intervalos de 45 dias, De acordo com os dados apresentados na Tabela
entre os meses de outubro a abril, totalizando 1, o diâmetro do caule variou de 0,1 cm a 1,2 cm,
quatro épocas de semeadura e densidade de 12 com coeficiente de variação de 60,59%. O número
plantas/m2. Em cada bloco, foram avaliadas 50 de hastes secundárias variou de 0 até 48 por
plantas. As plantas foram avaliadas quanto ao planta, com média de 17 hastes secundárias por
crescimento (diâmetro do caule, altura, número planta, provavelmente em razão das variações na
de hastes secundárias), morfologia (coloração do arquitetura das plantas, pois algumas formaram
caule, presença de estrias, tipo de inflorescências) e apenas haste primária e outras ramificaram-se
componentes de rendimento (massa das panículas mais, formando hastes secundárias. O menor
das hastes primárias e secundárias). coeficiente de variação foi observado para a
4 Produção de Sementes de Quinoa no Sul do Rio Grande do Sul
variável altura das plantas (25,97%), com valor panículas das hastes secundárias, cujos valores
mínimo de 38 cm e máximo de 142 cm. Em relação variaram entre 0,0171 g e 2,4200 g. Por outro lado,
aos caracteres produtivos, observou-se que as a massa média das panículas provenientes das
plantas apresentaram maior variação (coeficiente hastes principais variou de 0,9998 g a 25,8300 g,
de variação de 93,85%) para a variável massa das com média de 6,6796 g por panícula.
Tabela 1. Diâmetro do caule (cm), altura das plantas (cm), número de hastes secundárias, massa das panículas da
haste primária (g), massa média das panículas das hastes secundárias (g) de plantas de quinoa, cultivar BRS Piabiru,
cultivadas em Pelotas, RS.
Variáveis/ Diâmetro do Altura das Nº de hastes Massa das panículas da Massa das panículas das
Parâmetros caule plantas secundárias haste primária hastes secundárias
Mínimo 0,1 38 0 0,9998 0,0171
Máximo 1,2 142 48 25,8300 2,4200
Desvio-padrão 0,2631 22,2674 8,4373 3,7000 0,4101
CV (%) 60,59 25,97 50,00 55,47 93,85
Variância 0,0718 495,8353 71,1889 13,7275 0,1682
Média 0,43 85,7 17 6,6796 0,4371
sementes foram semeadas sobre papel e mantidas de sementes de diversas espécies apontam o
em câmara regulada a 5 °C por sete dias. Após esse ponto de máximo conteúdo de matéria seca
período, foram submetidas ao teste de germinação, como o melhor e mais seguro indicativo de que
conduzido a 20 °C, por cinco dias, conforme as sementes atingiram a maturidade fisiológica.
metodologia estabelecida por Borges et al. (2016). Assim, a maturidade fisiológica pode ser
A cada colheita, as sementes foram caracterizadas caracterizada como aquele ponto a partir do qual
quanto à coloração do perigônio e firmeza das a semente não recebe mais nutrientes da planta-
sementes. mãe, cessando a conexão planta-semente. A partir
desse momento, a semente permanece ligada à
Não foi possível avaliar as sementes colhidas planta apenas fisicamente (DIAS, 2001). O teor
nas primeiras cinco semanas após a antese, pois de água de sementes ortodoxas, ao atingirem a
as mesmas continham alto teor de água, o que maturidade fisiológica, geralmente, encontra-se
impossibilitou a retirada do perigônio (estrutura na faixa de 30% a 50% (CARVALHO; NAKAGAWA,
oriunda do cálice, que envolve o fruto) para a 2012), estando compatível com os resultados
realização das avaliações, sem que ocorresse obtidos. Experimentos conduzidos no Brasil
o esmagamento das sementes. A presença do Central com o objetivo de estudar o processo de
perigônio poderia interferir na determinação do maturação de sementes de quinoa resultaram em
teor de água e na germinação das sementes. máximo acúmulo de matéria seca aos 49 DAA, com
teor de água próximo a 30% (SOUZA, 2017), em
A partir dos 35 dias após a antese (DAA), foi
contraposição aos resultados obtidos no âmbito
possível realizar as avaliações das sementes
do presente projeto, no município de Pelotas,
conforme descrito, pois o teor de água das
RS, no qual o máximo acúmulo de matéria seca
sementes estava próximo a 55%, sendo viável
foi atingido posteriormente, aos 63 DAA, o que
sua manipulação. O teor de água das sementes
pode ser explicado pela influência das condições
durante o período avaliado apresentou pequenas
ambientais sobre o ciclo da cultura, representando
oscilações, influenciado pela ocorrência de
um possível alongamento da fase vegetativa das
chuvas no período. No entanto, a tendência foi de
plantas.
decréscimo até aos 77 DAA, quando as avaliações
foram encerradas. Os resultados de germinação estão demonstrados
na Figura 7. As sementes de quinoa apresentaram
a mesma tendência de comportamento,
independentemente se o teste foi montado logo
após a colheita, com aplicação de método para
superação da dormência, ou 45 dias após a
colheita.
Figura 9. Percentual de plântulas normais no teste de frio Roxo em transição Presença de sementes que
em sementes de quinoa, cultivar BRS Piabiru, colhidas para o verde- se desmancham e outras
em diferentes épocas de maturação. O teste foi conduzido 49 escuro; rosa em que ficam marcadas com a
logo após a colheita e 45 dias após. Pelotas, RS, 2016. transição para o pressão das unhas.
amarelo.
Verde-escuro; As mais claras partem-se
Ao longo do período de maturação das sementes,
verde-claro; facilmente se pression-
também foi possível identificar modificações
56 amarelo-claro e do adas. As mais escuras
perceptíveis nos caracteres morfológicos cor do
amarelo-escuro; ficam marcadas se pres-
perigônio e firmeza das sementes, descritos na
marrom sionadas com as unhas.
Tabela 2.
Verde-escuro; As sementes esverdeadas
Souza (2017) descreveu os estádios fenológicos da verde-claro; ficam marcadas com a
quinoa adotando uma codificação universalmente 63 amarelo; marrom. pressão das unhas. Semen-
aceita, descrevendo o ciclo total das plantas em Sementes brancas tes firmes, mas ainda se
nove fases principais, a partir de plantas cultivadas expostas. marcam, sob pressão.
na região do Brasil Central, no bioma Cerrado. Para Verde-claro com Não se partem e para fica-
a fase de maturação do fruto, a autora menciona 70 todas as sementes rem marcadas é necessária
como principal evento o intenso acúmulo de expostas. muita pressão.
reservas nos frutos, cujo conteúdo deixa a fase Amarelo-claro e Firmes, não ficam mais
leitosa e adquire consistência pastosa, sendo que, 77 amarelo-palha. marcadas, mesmo se pres-
no início, os frutos são caracteristicamente macios sionadas com muita força.
e, ao serem pressionados com a unha, a impressão *DAA= dias após a antese.
desta não se mantém, sendo possível dividi-lo em
duas partes. Posteriormente, os frutos adquirem
consistência pastosa dura, ainda sendo possível Relacionando os caracteres morfológicos com os
dividi-los em duas partes, porém, com maior resultados de matéria seca, germinação e vigor,
dificuldade, sendo que, nessa fase, a impressão pode-se afirmar que a maturidade de sementes de
da unha se mantém. Quando o fruto atinge a quinoa, produzidas a partir de plantas semeadas
maturação completa, ele se apresenta duro, em outubro, na região de Pelotas, RS, ocorreu
sendo difícil a sua divisão em duas partes, sendo aproximadamente aos 70 DAA. Sementes colhidas
facilmente soltos da inflorescência, por fricção. As nessa época apresentaram maior percentual de
modificações observadas na firmeza dos frutos de germinação e maior vigor, além de estarem muito
quinoa provenientes de plantas cultivadas na região próximas do ponto de máximo acúmulo de matéria
de Pelotas, RS foram perfeitamente contempladas seca (63 DAA). Os caracteres morfológicos que
na descrição proporcionada por Souza (2017), a indicariam o ponto de maturidade fisiológica das
despeito das diferenças entre as regiões de cultivo sementes de quinoa seriam a coloração verde-clara
e entre genótipos utilizados, indicando que tais do perigônio, com todas as sementes expostas,
firmes, que não se partem ao serem pressionadas,
Produção de Sementes de Quinoa no Sul do Rio Grande do Sul 9
ficando marcadas apenas se forem pressionadas banks in soil. Field Crops Research, v. 67, n. 2,
com muita força. Essas informações podem ser p. 105–122, 2000.
úteis na identificação do momento mais adequado
para realização da colheita de sementes de quinoa. BORGES, C. T.; COSTA, C. J.; SOARES, V. N.;
MENEGHELLO, G. E.; GADOTTI, G. I.; VILLELA, F.
Os resultados obtidos no âmbito do projeto A.; DEUNER, C.; TROYJACK, C. Germinação de
“Produção e avaliação da qualidade fisiológica de sementes de quinoa submetidas a diferentes
sementes de quinoa (Chenopodium quinoa Willd.) temperaturas. Pelotas: Embrapa Clima Temperado,
no Rio Grande do Sul” evidenciaram a necessidade 2016. 18 p. (Embrapa Clima Temperado. Boletim de
de esforços que possibilitem a seleção de genótipos Pesquisa e Desenvolvimento, 245).
de quinoa mais adaptados ao cultivo na região
Sul do Brasil, dada a grande desuniformidade BRAGA, E. O.; MENDONÇA, L. G. Discussão do
e heterogeneidade apresentada em todos os uso racional da ração humana, com enfoque para
cultivos a campo realizados com a cultivar BRS os seus principais constituintes: linhaça e quinoa.
Piabiru, ressaltando a importância de programas Perspectivas da Ciência e Tecnologia, Rio de Janeiro,
de melhoramento genético voltados para a v. 2, n. 1/2, p. 32-43, 2010.
espécie. Verificou-se a possibilidade de produção
de sementes de quinoa na região, com qualidade CARVALHO, N. M.; NAKAGAWA, J. Sementes:
fisiológica satisfatória. Todavia, estudos futuros na ciência, tecnologia e produção. 5. ed. Jaboticabal:
área de Ciência e Tecnologia de Sementes devem FUNEP, 2012. 590 p.
aprofundar o conhecimento dos mecanismos
CECCATO, D. Efecto de las condiciones
de desenvolvimento e superação da dormência
ambientales durante el desarrollo, maduración y
nas sementes, assim como o estabelecimento de
almacenamiento sobre la dormición em semillas
condições adequadas ao seu armazenamento a
de quinoa (Chenopodium quinoa Willd.) com
longo prazo.
tolerancia potencial al brotado pre-cosecha. 2011.
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Comunicado Exemplares desta edição podem ser adquiridos na: Comitê de Presidente: Ana Cristina Richter Krolow
Técnico, 348 Embrapa Clima Temperado Publicações Vice-Presidente: Enio Egon Sosinski Júnior
Endereço: BR 392, Km 78, Caixa Postal 403 Secretária-Executiva: Bárbara Chevallier Cosenza
Pelotas, RS - CEP 96010-971 Membros: Ana Luiza Barragana Viegas, Fernando
Fone: (53)3275-8100 Jackson, Marilaine Schaun Pelufê, Sonia Desimon
www.embrapa.br/clima-temperado
www.embrapa.br/fale-conosco/sac
Expediente Revisão do texto: Bárbara C. Cosenza
Normalização bibliográfica: Marilaine Schaun Pelufê
1ª edição
Editoração eletrônica: Nathália Coelho (estagiária)
Obra digitalizada (2017)
CGPE 14151