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Artigo CBAS
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Introdução
interseccionalidade, enquanto uma ferramenta para análise das opressões que constituem a
matriz dominação1 que permeia as relações sociais no Brasil.
Dessa forma, para embasar a pesquisa, realizou-se o levantamento de dados do
IBGE (2021), acerca da realidade das mulheres racializadas no Brasil, sobretudo, no âmbito
do mercado de trabalho, de rendimentos e de colocações trabalhistas, dados esses que
explicitaram mais uma vez a constante e presente segregação racial no mercado de
trabalho brasileiro.
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Para Collins (2019, p.460) a matriz de dominação consiste na “organização geral das relações hierárquicas de
poder em dada sociedade. Qualquer matriz específica de dominação tem: (1) um arranjo particular de sistemas
interseccionais de opressão, por exemplo, raça, gênero, sexualidade, situação migratória, etnia e idade; e (2)
uma organização particular de seus domínios de poder, por exemplo, estrutural, disciplinar, hegemônico e
interpessoal”.
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espaços coletivos, e 32% fazem alterações compulsórias em sua estética para se adequar à
espaços de trabalho, bem como 41% têm a qualidade de vida alterada (sono, ansiedade,
bem estar).
Souza (2018) ao refletir sobre as desigualdades no Brasil, identifica a relação entre a
reprodução dessas desigualdades e a noção de identidade social. A identidade social de
uma sociedade é a forma como seus indivíduos percebem a si mesmos, e está fortemente
influenciada pelos poderes dominantes que constroem por meio de suas práticas, a ilusão e
o senso comum de que há liberdade e igualdade, alcançáveis por meio da meritocracia:
O racismo é uma ideologia, desde que se considere que toda ideologia só pode
subsistir se estiver ancorada em práticas sociais concretas. Mulheres negras são
consideradas pouco capazes porque existe todo um sistema econômico, político e
jurídico que perpetua essa condição de subalternidade, mantendo-as com baixos
salários, fora dos espaços de decisão, expostas a todo tipo de violência. Caso a
representação das mulheres negras não resultasse de práticas efetivas de
discriminação, toda vez que uma mulher negra fosse representada em lugares
subalternos e de pouco prestígio social haveria protestos e, outras obras artísticas
fossem, seriam categorizados como peças de fantasia. (ALMEIDA, 2018, p. 52).
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O racismo é tão identitário para o brasileiro que sequer é reconhecido como tal,
sendo relegado a um lugar de opinião pessoal ou de evento isolado que pode ser
“consertado" por um pedido de desculpas, ou uma retratação pessoal. Nesse sentido,
Kilomba (2019), refere que o racismo é visto como falha individual e não como parte de uma
estrutura de opressão, uma vez que a realidade violenta do racismo é vista como uma
simples "camada de tinta" que pode ser removida facilmente, como algo levemente
reminiscente do passado e que está localizado no outro e não no centro das relações
sociais contemporâneas.
Outra característica do racismo para autora é a perpetuação da branquitude como
ponto de referência, enxergando todas as outras pessoas não brancas como o “outro”, o
diferente, o exótico, uma noção obviamente herdada e perpetuada desde a colonização, que
permitia a classificação dos povos originários e não-europeus como primitivos e selvagens,
passíveis de serem explorados e disciplinados.
Por conseguinte, a intersecção das desigualdades se dá quando o racismo, por
exemplo, se encontra com uma disparidade, como a de gênero. Se uma pessoa for negra e
mulher, há uma intensificação da opressão, condicionada pela estrutura patriarcal da
sociedade e é ainda maior se essa mulher for pobre. Claro que cabe aqui reconhecer que
existem inúmeras outras dinâmicas de opressão, todas imbricadas em relações que podem
ser avaliadas e discutidas de muitos pontos de vista.
Quando se trata especificamente da educação da mulher negra, de acordo com
Oliveira e Gomes (2019) alguns dos desdobramentos do racismo que interferem na vida
escolar e acadêmica de mulheres e homens racializados é a violência intelectual por ações
da colonialidade:
3 CONSIDERAÇÕES FINAIS
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Referências
hooks, bell. Ensinando a transgredir: a educação como prática da liberdade. 2. ed, São
Paulo: Editora WMF Martins Fontes, 2017.
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<https://www.brasildefato.com.br/2020/02/13/artigo-por-mais-mulheres-negras-na-politica>.
Acesso em: 19 de Jul. de 2021.
OLIVEIRA, Luciana Ribeiro de; GOMES, Ana Cristina da Costa. Mulher Negra e Educação:
A Colonialidade Destrói, Valores Civilizatórios Afro-Brasileiros Reconstroem. Cadernos de
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https://www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/CESP/article/view/42066>. Acesso em: 4 de ago
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<https://www.redebrasilatual.com.br/politica/2020/09/mulheres-negras-eleicoes-prefeituras-
partidos-antirracismo/>. Acesso em: 16 de jul. de 2021.
SOUZA, Jessé. Senso comum e justificação da desigualdade. In: A ralé brasileira: quem é
e como vive. São Paulo: Editora ContraCorrente, 2018.
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WERNECK, Jurema. Mulheres Negras e Violência no Rio de Janeiro. In: CASTRO, Lúcia
Maria Xavier de; CALASANS, Myllena Calasans; REIS, Sarah. Mulheres de Brasília e do
Rio de Janeiro no Monitoramento da Política Nacional de Enfrentamento à Violência
contra as Mulheres. Rio de Janeiro, 2010.
Disponível em: <
https://www.cfemea.org.br/images/stories/publicacoes/monitoramento_politica_nacional_enfr
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