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INTRODUÇÃO

No actual contexto geopolítico e geoestratégico africano, e mas especificamente na


região Austral de África, a República de Angola tem vindo a desenvolver, acções que têm
afirmado cada vez mais a sua posição dentro dela. A concepção e aplicação de uma política
externa acertiva por parte do país já referido, acarretou consigo várias consequências, aliadas
aos grandes desafios permanentes desde a sua independência até ao contexto hodierno. Por
conseguinte, diante do processo político e histórico vivido por este Estado, inspirou-nos a
formular o seguinte problema:

Qual foi a eficácia da estratégia político-diplomática de Angola face aos desafios


impostos no contexto pós-independência ?

A pertinência do tema não está apenas no facto da importância de Angola na região


onde se insere, mas também e sobretudo, na estratégia da sua sua política externa que
ressultou da concepção e aplicação de uma diplomacia propícia ao contexto em que o país
atravessava, e que resultou na sua segurança, inserção e afirmação internacional, e
notadamente no quadro sub-regional, diante de um ambiente extremamente conturbado.

Deste modo, o objecto de estudo em análise consiste em compreender a eficácia da


estratégia político-diplomática de Angola entre 1975 a 2002. O objectivo geral preocupa-se
em analisar os desafios de segurança do Estado angolano no período pós – independência, até
a consolidação e afirmação no âmbito interno e internacional. Os objectivos específicos são:
descrever os aspectos fundamentais em torno da Estratégia e da Política Externa; identificar
os desafios do Estado angolano no período em análise; e avaliar a eficácia da sua estratégia
político-diplomática ante os desafios impostos naquela altura.

Assim, o trabalho encontra-se divido em três partes. Na primeira, a abordagem


centra-se numa análise sucinta em torno da Estratégia e da Política Externa. Ao passo que, na
segundo parte, faz uma incursão sobre os conceitos de Segurança. E, finalmente, na certeira e
última parte, discorre em volta dos aspectos gerais do Estado angolano, e a estratégia
diplomática empreendida pelo seu governo diante dos desafios securitários que o mesmo
ultrapassara.

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I - ENQUADRAMENTO TEÓRICO E CONCEPTUAL EM TORNO DA POLÍTICA
EXTERNA

1.1. Conceitos de Política Externa

N o campo das ciências sociais, é notável a diversidade em termos de conceitos em


várias temáticas, ou seja, cada autor tem emitido a sua contribuição sobre os factos políticos,
económicos e sociais com base a observância dos critérios científicamente aceites, bem
compo de acordo a sua realidade e capacidade. Este paradigma não é excepção quando se
trata do conceito de política externa. Sendo assim, citar-se-ão dentre vários, alguns conceitos
que permitirão melhor entendimento do tema que se abordará especificamente nas próximas
páginas. Dito isto, a Política Externa pode ser entendido como:

(...) Um conjunto de processos, decisões e acções desenvolvidas pelos Estados,


desempenhadas por órgãos próprios através da utilização de recursos e de instrumentos
pacíficos e violentos. Ou ainda, o conjunto de linhas de acção política desenvolvidas fora das
fronteiras territoriais de um Estado, e que têm como finalidade a defesa e a realização dos
seus interesses, através da concretização dos objectivos definidos num programa de governo
(Bembe, 2016, p.26)

O conjunto de linhas de acção política desenvolvidas fora das fronteiras territoriais


de um Estado, e que têm como finalidade a defesa e a realização dos seus interesses, através
da concretização dos objectivos definidos num programa de governo (Santos, 2012, p.144).

Dentre uma grande diversidade de conceitos sobre este assunto, para este trabalho,
optamos pelo conceito de Holtsi, que defende a política externa como um conjunto de acções
que o Estado traça para alcançar no meio externo e inclui um conjunto de medidas e
objectivos a serem alcançados no sistema internacional, em busca de segurança, autonomia,
bem-estar, estatuto e prestígio. (Idem). É neste prisma que Angola vai procurar, de acordo
com as suas capacidades militares, político-diplomático, levar acabo uma política externa
cada vez mais actuante a fim de alcançar os seus objectivos, pois, desde muito cedo
compreendeu que a manutenção da sua independência e da sua segurança dependia de uma
política externa actuante, principalmente com os países limítrofes.

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1.2. Objectivos da Política externa

Os objectivos da política externa são todos os fins e metas que o Estado pretende
alcançar com a delineação, implementação e materialização ou operacionalização da política
externa. Os objectivos da política externa, quanto à sua duração, podem ser: permanentes, de
médio e curto prazo. (Zeca, 2013, p.125). Passar-se-á nas linhas seguintes a abordagem em
torno dos objectivos da política externa de forma detalhada.

1.2.1. Objectivos Permanentes

Em todo o processo de formulação da política externa deve-se ter em consideração a


preservação dos objectivos fundamentais do Estado. Estes são: a sua sobrevivência, a
integridade territorial, a preservação do sistema de crença, dos valores, dos costumes e das
tradições, a protecção do sistema político e a protecção do sistema económico. (Silva, 2012.
p.136). Estes são considerados objectivos sine qua non para a sobrevivência de qualquer
Estado.

1.2.2. Objectivos a Médio Prazo

Os objectivos a médio prazo variam de importância ao longo do tempo e são de


diversa natureza: políticos, materiais, ideológicos e de prestígio. Os objectivos políticos
prendem-se fundamentalmente com relações de poder e de segurança; os objectivos materiais
são todos aqueles que dizem respeito ao crescimento e desenvolvimento económico; os
objectivos ideológicos visam a expansão do sistema de crenças (valores, sistema político e
económico); e, por fim, o líder deve reconhecer a importância do prestígio como factor de
poder internacional, mas também evitar ferir o prestígio do seu adversário. (Silva, 2012.
pp.136-137). E com base neste último elemento que a diplomacia angolana tem trabalho com
intuito de alcançar o prestígio internacional, mas sem prejudicar os seus parceiros. Esses
objectivos são mais facilmente alteráveis e não afectam os interesses vitais e supremos do
Estado. (Zeca, 2013, p.126).

Apesar desta classificação, podemos admitir que na prática existe uma grande
cumplicidade entre os objectivos enunciados acima, pois, nas relações internacionais actuais,
os Estados não se limitam apenas em garantir a integridade territorial, a soberania e o bem-
estar do seu povo, todavia, procuram também propagar e dominar; com o intuito de ganhar
honra e prestígio no Sistema Internacional. São estes os objectivos que o Estado angolano
desde a sua independência tem procurado alcançar a nível internacional e precisamente nas
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regiões e Organizações Sub-regionais onde exerce uma influência, dentre elas, destacam-se a
(SADC), Comunidade de Desenvolvimento da África Austral, a Comunidade Económica da
África Central (CEAC), e na Região dos Grandes Lagos.

1.3. Instrumentos da Política Externa

A política externa se serve de um leque de instrumentos e ferramentas para sua


materialização. Os instrumentos da política externa são os meios de acção e operacionalização
da mesma, com vista a alcançar os objectivos traçados. (Zeca, 2013, p.127). Toda e qualquer
política externa ambiciona alcançar certos objectivos previamente identificados, mas para que
tal aconteça é fundamental que se sirva de meios que permitirão concretizar os mesmos. É
neste contexto que nesta sessão as atenções estarão viradas para os instrumentos que servem
de suporte para a concretização dos objectivos da política externa.

1.3.1. Os Instrumentos Pacíficos da Política Externa

Os instrumentos da política externa de carácter pacífico estão divididos em meios


plurilaterais e unilaterais. (Magalhães, 2005, p.88). Nos meios plurilaterais, se encontram a
negociação levada a cabo directamente pelos detentores do poder político dos Estados.
(Idem). Apesar de não ser muito frequente, pelo facto de colocar frente a frente dois
soberanos que poderão defender posições heterogéneas, este tipo de negociação pode ocorrer
quando se regista uma grande intensidade nas relações diplomáticas entre dois Estados.
A diplomacia é vista como o instrumento típico e genérico da política externa,
porque ela permite o estabelecimento e o desenvolvimento de comunicações ou diálogo entre
dois actores políticos distintos, de forma pacífica, através do emprego de intermediários,
mutuamente reconhecidos pelas partes, Magalhães. E, por último, a mediação, que consiste na
intervenção de um terceiro Estado para intermediar um conflito entre dois Estados. (Idem, pp.
23-28).
Os instrumentos destacados acima são considerados como contactos plurilaterais, ou
seja, dois ou mais Estados podem recorrer a um daqueles para resolver um determinado
problema ao nível das suas relações político-diplomáticas. Para além daqueles, existem ainda
os instrumentos ou contactos unilaterais são: Propaganda, Espionagem, Intervenção
económica e Intervenção política. (Ibdem, p. 28).
1.3.2 Instrumentos Violentos da Política Externa

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Depois da Segunda Guerra Mundial, com estabelecimento da Organização das
Nações Unidas (ONU), os Estados, de um modo geral tem apostado muito mais em
mecanismos pacíficos não apenas para a resolução dos conflitos, mas também para sua
afirmação no concerto das Nações. Apesar disso, outros acabam ainda por optar pelos
instrumentos violentos da política externa, (Magalhães, 2005, pp. 29-30), e os mesmos são: a
dissuasão, guerra económica, pressão militar, guerra.

Terminada a abordagem sucinta em volta da Política Externa, o próximo capítulo os


esforços estarão concentrados em direcção da localização geográfica da República de Angola,
e aflorar de um geral algumas questões político-administrativas que dizem respeito a ela.

II - CARACTERIZAÇÃO GEOGRÁFICA DE ANGOLA

2.1. Situação Geográfica de Angola

A República de Angola situa-se entre os paralelos 4º 22´ e 18º 02´ e os meridianos 4º


05´ e 11º 41 ao Este de Greenwich, no Hemisfério Sul, na parte Ocidental da África Austral.
Ocupa uma área de 1.246.700 Km2, tendo uma costa marítima de 1.650 Km e as suas
fronteiras terrestres num total de 4.837 Km. Está limitado a norte, pela República do Congo e
pela República Democrática do Congo, a Sul, pela Namíbia, a Leste, pela Zâmbia e a Oeste,
pelo Oceano Atlântico (Grilo, 2009, p.8). Nos termos do art. 20º da CRA, a sua capital é a
cidade de Luanda.
Em termos de demografia, o Estado possui 32.870.634 milhões de habitantes. (INE,
2020). Numa perspectiva geomorfológica, o Estado angolano está dividido por, zona
Sedimentar, zona de transição, zona montanhosa (começa no município da Humpata,
província da Huíla e segue até Kassongue, província do Kwanza Sul), zona Planáltica,
também conhecida de Zona maciça ou maciço antigo (Grilo, 2009 p.8)

2.1.2. Os Recursos Hídricos e Minerais

Angola possui uma extensa, complexa e rica rede hidrográfica, composta por grandes
Rios e Bacias. O Estado ostenta 47 Bacias hidrográficas principais e 30 sub-bacias, sendo que
as Bacias do Cunene (partilhada com a Namíbia), Cuvelai (partilhada com a Namíbia),
Cubango/Okavango (partilhada com o Botswana e a Namíbia), Zambeze (partilhada por mais
7 países da SADC) e o Zaire (partilhada por mais 10 Estados da África Central), constituem
as mais importantes ao nível internacional. Por ouro lado, do Cuanza, do Queve, do Bengo, do
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Dande, da Catumbela, Balombo, Bacia do Evale, do Lucala, do Longa, assumem a maior
influência ao nível interno. (Quintino, 2011. pp. 6-7.)
As Bacias encontram-se direccionadas para cinco vertentes principais, como: a)
Atlântico com 41% da superfície do Estado; b) Zaire (ou Congo) com 22%; c) Zambeze com
18%; 36, d) Okavango com 12% e) e o Etosha com 4%. (Idem p. 35.). O Estado possui ainda
82 Rios, tendo os principais, nomeadamente, o Rio Zaire, Kwanza, Cunene, Cassai, Cuango,
Rio Zambeze e Cubango-Okavango. Tem como maior Lago, o Lago Dilolo.
Angola é um país eminentemente rico em recursos minerais. Estima-se que o seu
subsolo alberga 35 dos 45 minerais mais importantes no comércio mundial, destacando, o gás
natural, diamante, fosfato, ferro magnésio, rochas ornamentais. Possui ainda grandes jazidas,
cobre, ouro, chumbo, zinco, manganês, volfrâmio, estanho e urânio (Santos, 2010. pp. 81-82).
Desde a sua independência, a extracção de minerais resume-se fortemente na
exploração de petróleo, nas Províncias de Zaire, Cabinda e Luanda, do diamante nas
Províncias de Lunda Norte e Sul e na extracção de mármore e granito na região Sudeste, mas
em quantidades reduzidas. (Idem). O Estado centrou-se ainda na exploração do mineiro de
ferro, nas Províncias de Malange e Bié, nas jazidas de Andulo, no Huambo, nas jazidas de
Bailundo e Kuíma, na Huíla e Cuanza Norte. Porém, as mais importantes jazidas são as de
Cassinga na Huíla, Cassala e quitungo no Cuanza Norte (Ibidem p. 83).
Feita uma breve incursão em volta da situação geográfica de Angola, o próximo
capítulo e que por sinal, é o último capítulo, faremos uma abordagem histórica da política
externa de Angola, no diz respeito as suas implicações para uma inserção e afirmação no
âmbito regional.

III - ANGOLA FACE AOS DESAFIOS DA SUA INSERÇÃO E AFIRMAÇÃO


REGIONAL

Antes de mais, é importante diferenciar os conceitos de regionalismo e de


regionalização. Enquanto o segundo expressa mais a dimensão económica, o primeiro enfatiza
aspectos políticos de cooperação entre os estados. Assim, o conceito de regionalismo,
acentua-se uma dimensão de intencionalidade política e diplomática. Na mesma tradição do
carácter político do conceito de regionalismo, abordando-o como uma resposta ao amplo
processo de globalização e reconhecendo a diversidade e especificidade desta resposta. Assim
sendo, o regionalismo é o produto de acções formatadas, dum lado, pela dinâmica regional

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interna, e do outro, pelas pressões externas, tais como a globalização, a instabilidade, e a
segurança (Moma, 2012, p.111).
Ao debruçar-se em torno dos desafios da República de Angola face a sua inserção e
afirmação na região Austral de África, não devemos deixar de parte a sua política externa,
pois, é através dela que um Estado pode ou não garantir a sua sobrevivência, sua a segurança
e a integridade física do seu território. É desta forma que nesta última parte do presente
trabalho, dedica-se uma especial atenção para analisar e avaliar a eficácia do Estado angolano,
no diz respeito a sua política virada ao exterior.

3.1. Política Externa de Angola

O exercício da política externa no cenário internacional é, no sentido restrito, uma


prerrogativa dos Estados soberanos. Assim, a política externa de Angola passa a existir como
tal, e no verdadeiro sentido da palavra, a partir da formação do novo Estado, da aquisição da
soberania, isto é, a partir da independência do país, a 11 de Novembro de 1975 (Conceição,
1999).

Não se pretende fazer um estudo detalhado ou de forma minuciosa sobre a política


externa de Angola, mas para uma melhor compreensão do tema em análise é necessário
fazermos uma divisão da política externa, com destaca alguns pontos altos que marcaram a
sua trajectória. Assim sendo, a mesma pode ser dividida nas seguintes fases são:

 A Primeira de 1975 a 1989;


 A Segunda de 1989 a 2022;
 A Terceira de 2022 a 2014;

3.1.1. A política Externa de Angola entre 1975 e 1989

Alguns autores consideram que um dos grandes lances que aconteceu na política
externa angolana foi a viagem de Agostinho Neto ao Zaire, realizada a 29 de Junho de 1978,
tendo como objectivo principal, fazer as pazes com o Presidente Mobutu Sesse Seko. A visita
do Presidente Agostinho Neto ao Zaire, culmina com a assinatura de um acordo de paz entre
Angola e o Zaire, em Agosto de 1978 e a partir deste momento foi reduzido o seu espaço de
manobra a FNLA (Francisco, 2013 p.74).

Após ter sido resolvido o diferendo com Zaire, o momento era oportuno para
resolver o problema com a África do Sul e consequentemente, a independência da Namíbia. É
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neste contexto que o Presidente da RPA, proclamou que ‘‘ na Namíbia, no Zimbabwe e na
África do Sul está a continuação da nossa luta’’(Neto, 1976, pp. 6-7)

Neto sempre deixou bem claro que havia possibilidades de boas relações futuras com
os EUA, sendo apenas uma questão de tempo, e que tudo não dependia apenas dele, mas
também de uma mudança de atitude por parte dos EUA (Francisco, 2013 p.76). No que diz
respeito às relações entre Luanda e Moscovo, foram pouco pacíficas e marcadas por muitos
incidentes. Exemplo deste facto, foram as inúmeras acusações feitas por parte de alguns
membros do Comité Central do MPLA, que a URSS havia apoiado directamente o grupo de
Nito Alves, no 27 de Maio de 1977, obrigava o serviço de espionagem soviético estabelecer
relações com os outros movimentos, de formas a definir a sua política para com Angola
(Idem, p.77).

Contudo, apesar do contexto da Guerra-Fria que se desenrolava na altura dentro do


sistema internacional, a política externa de Angola soube sempre se adaptar à realidade e
enfrentar os desafios que a mesma encarava no decorrer do seu percurso.

3.1.2. A Política Externa de Angola de 1989 a 2002


No contexto das transformações ocorridas após a Guerra Fria, impulsionou com que
em Dezembro de 1990, o Congresso do partido no poder em Angola, renunciou formalmente
ao marxismo-leninismo e consolidou, em Maio de 1991, uma reforma constitucional que
promulgou um Estado democrático e multipartidário (José, 2015, p.8 ).
As alterações à Lei Constitucional introduzidas em Março de 1991, através da Lei n.º
12/91 se destinaram principalmente à criação das premissas constitucionais necessárias a
implementação da democracia pluripartidária, a ampliação do reconhecimento e garantias dos
direitos e liberdades fundamentais dos cidadãos, assim como a consagração constitucional dos
princípios basilares da economia de mercado (R.A, 1992, lei de revisão constitucional).
No mesmo mês, uma nova revisão constitucional foi aprovada, estabelecendo
mecanismos de descentralização governamental. Concomitantemente, o nome do país foi
alterado da República Popular de Angola, para República de Angola.
Neste período, Angola viveu também o processo de paz que culminou com os
Acordos de Bicesse, a 30 de Maio de 1991, sob os auspícios da troika de observadores, com a
mediação portuguesa, através do seu Ministro dos Negócios Estrangeiros, a União das
Repúblicas Socialistas Soviéticas, e os Estados Unidos da América, que constituiu um marco
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histórico importante para Angola. O acordo foi firmado entre o presidente da então República
Popular de Angola, José Eduardo dos Santos, e o presidente da União Nacional para a
Independência Total de Angola, Jonas Malheiros Savimbi. Dentre vários assuntos, foram
marcadas de 20 a 30 de Setembro de 1992 as primeiras eleições gerais e livres na história
desse país, na qual foram vencidas pelo MPLA. A falta de confiança em torno da lisura da
eleição e do apuramento do resultado fez com que se retomasse a guerra civil (Chimanda,
2010, p.37).
A retirada do apoio americano e sul-africano no início dos anos 1990 obrigou a
UNITA a se apoiar ainda mais na renda proveniente dos diamantes e a reanalisar sua
estratégia militar. O grupo possuía praticamente o monopólio da exploração dos diamantes no
país e entre 1992 e 2000 obteve cerca de 3 a 4 bilhões de dólares em produção (Worlpress,
2010, pdf).
Para por termo a situação, mais um protocolo de paz foi assinado em Novembro
de 1994, na cidade de Lusaka, na Zâmbia, entre a UNITA e o Governo de Angola  (MPLA).
Mas, o acordo acabou por fracassar e o país voltou ao conflito em 1998 (Idem).
A paz tornou-se uma realidade em Angola, desde 2002, quando terminou a sangrenta
guerra civil que durou quase três décadas, a partir deste feito, a política externa de Angola,
tem ganhado cada vez mais visibilidade a nível internacional, em particular no continente
africano.

3.1.3. A Política Externa de Angola 2002 a 2014

Após a conquista da paz efectiva estabelecida com a assinatura do Memorando de


Entendimento de Luena de 30 de Março de 2002, que conduziu até ao acordo de paz assinado
em Luanda, a 4 de Abril de 2002, em que as partes em conflitos, puseram termo à guerra
(Campos, 2014, p.13). Após este feito, a política externa de Angola passou a ganhar cada vez
mais destaque no sistema internacional.
No domínio da exploração de recursos naturais, Angola segue uma estratégia que
tem estado a servir de modelo para outros países africanos. (Campos, 2014, p.13). Esta
estratégia baseia-se no princípio da soberania do Estado sobre os recursos naturais e na
apropriação efectiva dos resultados patrimoniais e fiscais em benefício do crescimento da
economia e do bem-estar da colectividade. É neste contexto que o governo de Angola se
tornou num pólo de estabilidade para os Estados próximos a sua fronteira e não só.

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CONCLUSÃO

Desde a conquista da independência pelo Movimento Popular de Independência de


Angola (MPLA), uma série de iniciativas e de acções foram levadas a cabo através da política
externa do Governo da República de Angola, liderado pelo partido já referido, que permitiu
materializar uma série de directrizes explícitas ou implícitas. A política externa de Angola,
embora recém-nascida tem ganhado uma boa visibilidade a nível internacional, e sobretudo
regional, que foi o foco deste trabalho, principalmente nas últimas duas décadas. Esta nova
fase da história de Angola, deve-se principalmente com o fim do da guerra civil e ao
crescimento económico que o mesmo registou até ao ano de 2014.
Foi desde muito cedo, isto é, a partir da sua independência em 1975, a política
externa soube e tem sabido usar um dos seus instrumentos pacíficos, que é a diplomacia, para
ultrapassar as crises, e priorizar a defesa da sua soberania, consolidando deste modo a sua
independência face as agressões externas da qual foi e pode ainda ser alvo.
A política externa de Angola, embora recém nascida tem tido uma boa visibilidade a
nível internacional, em particular no continente africano. Isto deve-se principalmente pelo fim
do da guerra civil que foi reforçada pelo crescimento económico que o mesmo registou até ao
ano de 2014. A partir de uma situação que envolvia questões de paz e de segurança, comércio
legal e ilegal de um produto específico, se arquitectou o mecanismo que envolveu actores
interessados em por um lado, combater os efeitos negativos do comércio ilegal promovidos
por grupos rebeldes em conflitos contra governos legítimos e, por outro, preservar o comércio
legal importante para vários países e grupos empresariais.
Portanto, apesar do contexto da Guerra-Fria que se desenrolava na altura dentro do
sistema internacional, a política externa de Angola soube sempre se adaptar à realidade e
enfrentar os desafios que a mesma encarava no decorrer do seu percurso. A mesma continuou
a mostrar seu dinamismo quando se deu o início de uma nova fase que transformou o
ambiente internacional, com o fim da Guerra-Fria.

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Contudo, após as pesquisas efectuadas no intuito de responder a pergunta de partida,
podemos concluir que a política externa de Angola, no período em análise, foi eficaz, e dentre
várias razões citamos as seguintes:

1. Na sua capacidade de manter a segurança e integridade territorial;


2. Na sua habilidade de manter um clima de paz com os Estados limítrofes;
3. Capacidade de apoio a conquista pela independência dos países oprimidos;
4. Capacidade de adaptação a ordem internacional;
5. Desde a conquista da paz em Fevereiro de 2022, o Governo angolana, através da
sua diplomacia, ganhou um prestígio no cenário internacional e sobretudo nos
organismos internacionais, assumindo grandes responsabilidades de carácter
externo, com destaque a membro Não-Permanente do Conselho de Segurança, das
Nações Unidas, Presidente da Conferência sobre a Região dos Grandes Lagos,
Presidente do Processo Kimberley, entre outras instituições em que Angola se
afirma cada vez mais como um Estado importante e que tem uma palavra a dizer
dentro das regiões geopolíticas e geoestrágia em que se insere.
Portanto, o tema não se esgota por aqui, apenas marcamos um passo para dar início a novas
pesquisas, em torno do mesmo.

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BIBLIOGRAFIA

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Internacionais v.4, n.7, Jan./Jun. 2015.P. 142.

Sites Consultados:

http://www.buala.org/pt/a-ler/a-transicao-de-neto-a-dos-santos-os-discursos-presidenciais-
sobre-as-relacoes-internacionais-d .Pesquisa efectuada aos 06/12/021 as 17:46.

http://www.buala.org/pt/a-ler/a-transicao-de-neto-a-dos-santos-os-discursos-presidenciais-
sobre-as-relacoes-internacionais-d .Pesquisa efectuada aos 06/02/17 as 17:46.

http://suicaangola.blospot.com/2009/05/relevp-da-angola-html. Acedida no dia 14 de


Dezembro de 2021, as 16:00.
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