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I - ENQUADRAMENTO TEÓRICO E CONCEPTUAL EM TORNO DA POLÍTICA
EXTERNA
Dentre uma grande diversidade de conceitos sobre este assunto, para este trabalho,
optamos pelo conceito de Holtsi, que defende a política externa como um conjunto de acções
que o Estado traça para alcançar no meio externo e inclui um conjunto de medidas e
objectivos a serem alcançados no sistema internacional, em busca de segurança, autonomia,
bem-estar, estatuto e prestígio. (Idem). É neste prisma que Angola vai procurar, de acordo
com as suas capacidades militares, político-diplomático, levar acabo uma política externa
cada vez mais actuante a fim de alcançar os seus objectivos, pois, desde muito cedo
compreendeu que a manutenção da sua independência e da sua segurança dependia de uma
política externa actuante, principalmente com os países limítrofes.
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1.2. Objectivos da Política externa
Os objectivos da política externa são todos os fins e metas que o Estado pretende
alcançar com a delineação, implementação e materialização ou operacionalização da política
externa. Os objectivos da política externa, quanto à sua duração, podem ser: permanentes, de
médio e curto prazo. (Zeca, 2013, p.125). Passar-se-á nas linhas seguintes a abordagem em
torno dos objectivos da política externa de forma detalhada.
Apesar desta classificação, podemos admitir que na prática existe uma grande
cumplicidade entre os objectivos enunciados acima, pois, nas relações internacionais actuais,
os Estados não se limitam apenas em garantir a integridade territorial, a soberania e o bem-
estar do seu povo, todavia, procuram também propagar e dominar; com o intuito de ganhar
honra e prestígio no Sistema Internacional. São estes os objectivos que o Estado angolano
desde a sua independência tem procurado alcançar a nível internacional e precisamente nas
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regiões e Organizações Sub-regionais onde exerce uma influência, dentre elas, destacam-se a
(SADC), Comunidade de Desenvolvimento da África Austral, a Comunidade Económica da
África Central (CEAC), e na Região dos Grandes Lagos.
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Depois da Segunda Guerra Mundial, com estabelecimento da Organização das
Nações Unidas (ONU), os Estados, de um modo geral tem apostado muito mais em
mecanismos pacíficos não apenas para a resolução dos conflitos, mas também para sua
afirmação no concerto das Nações. Apesar disso, outros acabam ainda por optar pelos
instrumentos violentos da política externa, (Magalhães, 2005, pp. 29-30), e os mesmos são: a
dissuasão, guerra económica, pressão militar, guerra.
Angola possui uma extensa, complexa e rica rede hidrográfica, composta por grandes
Rios e Bacias. O Estado ostenta 47 Bacias hidrográficas principais e 30 sub-bacias, sendo que
as Bacias do Cunene (partilhada com a Namíbia), Cuvelai (partilhada com a Namíbia),
Cubango/Okavango (partilhada com o Botswana e a Namíbia), Zambeze (partilhada por mais
7 países da SADC) e o Zaire (partilhada por mais 10 Estados da África Central), constituem
as mais importantes ao nível internacional. Por ouro lado, do Cuanza, do Queve, do Bengo, do
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Dande, da Catumbela, Balombo, Bacia do Evale, do Lucala, do Longa, assumem a maior
influência ao nível interno. (Quintino, 2011. pp. 6-7.)
As Bacias encontram-se direccionadas para cinco vertentes principais, como: a)
Atlântico com 41% da superfície do Estado; b) Zaire (ou Congo) com 22%; c) Zambeze com
18%; 36, d) Okavango com 12% e) e o Etosha com 4%. (Idem p. 35.). O Estado possui ainda
82 Rios, tendo os principais, nomeadamente, o Rio Zaire, Kwanza, Cunene, Cassai, Cuango,
Rio Zambeze e Cubango-Okavango. Tem como maior Lago, o Lago Dilolo.
Angola é um país eminentemente rico em recursos minerais. Estima-se que o seu
subsolo alberga 35 dos 45 minerais mais importantes no comércio mundial, destacando, o gás
natural, diamante, fosfato, ferro magnésio, rochas ornamentais. Possui ainda grandes jazidas,
cobre, ouro, chumbo, zinco, manganês, volfrâmio, estanho e urânio (Santos, 2010. pp. 81-82).
Desde a sua independência, a extracção de minerais resume-se fortemente na
exploração de petróleo, nas Províncias de Zaire, Cabinda e Luanda, do diamante nas
Províncias de Lunda Norte e Sul e na extracção de mármore e granito na região Sudeste, mas
em quantidades reduzidas. (Idem). O Estado centrou-se ainda na exploração do mineiro de
ferro, nas Províncias de Malange e Bié, nas jazidas de Andulo, no Huambo, nas jazidas de
Bailundo e Kuíma, na Huíla e Cuanza Norte. Porém, as mais importantes jazidas são as de
Cassinga na Huíla, Cassala e quitungo no Cuanza Norte (Ibidem p. 83).
Feita uma breve incursão em volta da situação geográfica de Angola, o próximo
capítulo e que por sinal, é o último capítulo, faremos uma abordagem histórica da política
externa de Angola, no diz respeito as suas implicações para uma inserção e afirmação no
âmbito regional.
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interna, e do outro, pelas pressões externas, tais como a globalização, a instabilidade, e a
segurança (Moma, 2012, p.111).
Ao debruçar-se em torno dos desafios da República de Angola face a sua inserção e
afirmação na região Austral de África, não devemos deixar de parte a sua política externa,
pois, é através dela que um Estado pode ou não garantir a sua sobrevivência, sua a segurança
e a integridade física do seu território. É desta forma que nesta última parte do presente
trabalho, dedica-se uma especial atenção para analisar e avaliar a eficácia do Estado angolano,
no diz respeito a sua política virada ao exterior.
Alguns autores consideram que um dos grandes lances que aconteceu na política
externa angolana foi a viagem de Agostinho Neto ao Zaire, realizada a 29 de Junho de 1978,
tendo como objectivo principal, fazer as pazes com o Presidente Mobutu Sesse Seko. A visita
do Presidente Agostinho Neto ao Zaire, culmina com a assinatura de um acordo de paz entre
Angola e o Zaire, em Agosto de 1978 e a partir deste momento foi reduzido o seu espaço de
manobra a FNLA (Francisco, 2013 p.74).
Após ter sido resolvido o diferendo com Zaire, o momento era oportuno para
resolver o problema com a África do Sul e consequentemente, a independência da Namíbia. É
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neste contexto que o Presidente da RPA, proclamou que ‘‘ na Namíbia, no Zimbabwe e na
África do Sul está a continuação da nossa luta’’(Neto, 1976, pp. 6-7)
Neto sempre deixou bem claro que havia possibilidades de boas relações futuras com
os EUA, sendo apenas uma questão de tempo, e que tudo não dependia apenas dele, mas
também de uma mudança de atitude por parte dos EUA (Francisco, 2013 p.76). No que diz
respeito às relações entre Luanda e Moscovo, foram pouco pacíficas e marcadas por muitos
incidentes. Exemplo deste facto, foram as inúmeras acusações feitas por parte de alguns
membros do Comité Central do MPLA, que a URSS havia apoiado directamente o grupo de
Nito Alves, no 27 de Maio de 1977, obrigava o serviço de espionagem soviético estabelecer
relações com os outros movimentos, de formas a definir a sua política para com Angola
(Idem, p.77).
No contexto das transformações ocorridas após a Guerra Fria, impulsionou com que
em Dezembro de 1990, o Congresso do partido no poder em Angola, renunciou formalmente
ao marxismo-leninismo e consolidou, em Maio de 1991, uma reforma constitucional que
promulgou um Estado democrático e multipartidário (José, 2015, p.8 ).
As alterações à Lei Constitucional introduzidas em Março de 1991, através da Lei n.º
12/91 se destinaram principalmente à criação das premissas constitucionais necessárias a
implementação da democracia pluripartidária, a ampliação do reconhecimento e garantias dos
direitos e liberdades fundamentais dos cidadãos, assim como a consagração constitucional dos
princípios basilares da economia de mercado (R.A, 1992, lei de revisão constitucional).
No mesmo mês, uma nova revisão constitucional foi aprovada, estabelecendo
mecanismos de descentralização governamental. Concomitantemente, o nome do país foi
alterado da República Popular de Angola, para República de Angola.
Neste período, Angola viveu também o processo de paz que culminou com os
Acordos de Bicesse, a 30 de Maio de 1991, sob os auspícios da troika de observadores, com a
mediação portuguesa, através do seu Ministro dos Negócios Estrangeiros, a União das
Repúblicas Socialistas Soviéticas, e os Estados Unidos da América, que constituiu um marco
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histórico importante para Angola. O acordo foi firmado entre o presidente da então República
Popular de Angola, José Eduardo dos Santos, e o presidente da União Nacional para a
Independência Total de Angola, Jonas Malheiros Savimbi. Dentre vários assuntos, foram
marcadas de 20 a 30 de Setembro de 1992 as primeiras eleições gerais e livres na história
desse país, na qual foram vencidas pelo MPLA. A falta de confiança em torno da lisura da
eleição e do apuramento do resultado fez com que se retomasse a guerra civil (Chimanda,
2010, p.37).
A retirada do apoio americano e sul-africano no início dos anos 1990 obrigou a
UNITA a se apoiar ainda mais na renda proveniente dos diamantes e a reanalisar sua
estratégia militar. O grupo possuía praticamente o monopólio da exploração dos diamantes no
país e entre 1992 e 2000 obteve cerca de 3 a 4 bilhões de dólares em produção (Worlpress,
2010, pdf).
Para por termo a situação, mais um protocolo de paz foi assinado em Novembro
de 1994, na cidade de Lusaka, na Zâmbia, entre a UNITA e o Governo de Angola (MPLA).
Mas, o acordo acabou por fracassar e o país voltou ao conflito em 1998 (Idem).
A paz tornou-se uma realidade em Angola, desde 2002, quando terminou a sangrenta
guerra civil que durou quase três décadas, a partir deste feito, a política externa de Angola,
tem ganhado cada vez mais visibilidade a nível internacional, em particular no continente
africano.
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CONCLUSÃO
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Contudo, após as pesquisas efectuadas no intuito de responder a pergunta de partida,
podemos concluir que a política externa de Angola, no período em análise, foi eficaz, e dentre
várias razões citamos as seguintes:
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BIBLIOGRAFIA
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Sites Consultados:
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sobre-as-relacoes-internacionais-d .Pesquisa efectuada aos 06/12/021 as 17:46.
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sobre-as-relacoes-internacionais-d .Pesquisa efectuada aos 06/02/17 as 17:46.