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O que é a filosofia?
Thomas Nagel

As nossas capacidades analíticas estão muitas vezes já altamente


desenvolvidas antes de termos aprendido muita coisa acerca do
mundo, e por volta dos catorze anos muitas pessoas começam a
pensar por si próprias em problemas filosóficos — sobre o que
realmente existe, se nós podemos saber alguma coisa, se alguma
coisa é realmente correcta ou errada, se a vida faz sentido, se a
morte é o fim. Escreve-se acerca destes problemas desde há
milhares de anos, mas a matéria-prima filosófica vem directamente
do mundo e da nossa relação com ele, e não de escritos do passado.
É por isso que continuam a surgir uma e outra vez na cabeça de
pessoas que não leram nada acerca deles.

[...] Não discutirei os grandes escritos filosóficos do passado nem o


contexto cultural desses escritos. O núcleo da filosofia reside em
certas questões que o espírito reflexivo humano acha naturalmente
enigmáticas, e a melhor maneira de começar o estudo da filosofia é pensar directamente
sobre elas. Uma vez feito isso, encontramo-nos numa posição melhor para apreciar o trabalho
de outras pessoas que tentaram solucionar os mesmos problemas.

A filosofia é diferente da ciência e da matemática. Ao contrário da ciência, não assenta em


experimentações nem na observação, mas apenas no pensamento. E ao contrário da
matemática não tem métodos formais de prova. A filosofia faz-se colocando questões,
argumentando, ensaiando ideias e pensando em argumentos possíveis contra elas, e
procurando saber como funcionam realmente os nossos conceitos.

A preocupação fundamental da filosofia é questionar e compreender ideias muito comuns que


usamos todos os dias sem pensar nelas. Um historiador pode perguntar o que aconteceu em
determinado momento do passado, mas um filósofo perguntará: «O que é o tempo?» Um
matemático pode investigar as relações entre os números, mas um filósofo perguntará: «O
que é um número?» Um físico perguntará o que constitui os átomos ou o que explica a
gravidade, mas um filósofo irá perguntar como podemos saber que existe qualquer coisa fora
das nossas mentes. Um psicólogo pode investigar como as crianças aprendem uma linguagem,
mas um filósofo perguntará: «Que faz uma palavra significar qualquer coisa?» Qualquer pessoa
pode perguntar se entrar num cinema sem pagar está errado, mas um filósofo perguntará: «O
que torna uma acção boa ou má?»

Não poderíamos viver sem tomar como garantidas as ideias de tempo, número, conhecimento,
linguagem, bem e mal, a maior parte do tempo; mas em filosofia investigamos essas mesmas
coisas. O objectivo é levar o conhecimento do mundo e de nós um pouco mais longe. É óbvio
que não é fácil. Quanto mais básicas são as ideias que tentamos investigar, menos
instrumentos temos para nos ajudar. Não há muitas coisas que possamos assumir como
verdadeiras ou tomar como garantidas. Por isso, a filosofia é uma actividade de certa forma
vertiginosa, e poucos dos seus resultados ficam por desafiar por muito tempo.

NAGEL, Thomas (1997). Que quer dizer tudo isto? Lisboa: Gradiva, páginas 7 – 9
1. Selecciona problemas/questões filosóficas.

2. Distingue a filosofia da ciência e da matemática.

3. Selecciona a melhor alínea e reconstrói as restantes para que se tornem válidas.

A matéria-prima da filosofia provém:

a) dos escritos do passado.


b) do mundo e da nossa relação com ele.
c) de ideias muito comuns que usamos todos os dias.

4. Ensaia a tua resposta a uma das questões filosóficas do texto.


1. Constituem problemas filosóficos saber o que realmente existe, se nós podemos
saber alguma coisa, se alguma coisa é realmente correcta ou errada, se a vida faz
sentido ou se a morte é o fim.
Eis algumas questões filosóficas. O que é o tempo? O que é um número? Como
podemos saber que existe qualquer coisa fora das nossas mentes? Que faz uma
palavra significar qualquer coisa? O que torna uma acção boa ou má?

2. A preocupação fundamental da filosofia é questionar e compreender ideias muito


comuns que usamos todos os dias (tempo, número, conhecimento, linguagem, bem
e mal) e tomamos como garantidas sem pensar nelas, mas que o espírito reflexivo
humano acha naturalmente enigmáticas e que constituem o núcleo da filosofia.
A filosofia faz-se colocando questões, ensaiando ideias e pensando em argumentos
possíveis, para saber como funcionam realmente os nossos conceitos. Uma vez
feito isso, encontramo-nos numa posição melhor para apreciar o trabalho de outras
pessoas que tentaram solucionar os mesmos problemas. Ao contrário da ciência, a
filosofia não assenta em experimentações nem na observação, mas apenas no
pensamento e, ao contrário da matemática, não tem métodos formais ou dedutivos
de prova, pois implica a argumentação.

3. b) A matéria-prima da filosofia provém do mundo e da nossa relação com ele.

a) A matéria-prima da filosofia provém das questões que o espírito reflexivo


humano acha naturalmente enigmáticas e às quais procura responder, após o que se
encontra numa posição melhor para apreciar o trabalho, nos escritos do passado, de
outras pessoas que tentaram solucionar os mesmos problemas.
c) A matéria-prima da filosofia provém de questionar e compreender ideias muito
comuns que usamos todos os dias, isto é, da sua investigação.

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