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Modelo de Laudo Psicológico: Tudo Que Você Precisa Incluir!

O profissional da Psicologia pode usar as diversas avaliações psicológicas


disponibilizadas pelo Conselho Federal de Psicologia (CFP) no exercício da sua
função, como forma de ajudar a firmar um diagnóstico e/ou apoiar nas intervenções
feitas ao longo do tratamento do paciente. O modelo de laudo psicológico está entre
essas avaliações.

Dessa maneira, a avaliação psicológica pode ser definida como o processo técnico-
científico de coleta de dados, estudos e interpretação de informações a respeito
dos fenômenos psicológicos, que são produto da relação do sujeito com a sociedade.

Uma vez que existem vários tipos de testes psicológicos, os resultados podem ser
configurados em diferentes modelos de laudo psicológico. É justamente sobre eles
que vamos conversar nesse texto, então continue a leitura.

O que deve ter em um modelo de laudo psicológico?


O primeiro ponto fundamental em um laudo psicológico é a boa escrita. O laudo deve
apresentar redação bem estruturada e definida, expressar o que objetiva comunicar e
apresentar ordenação que permita a compreensão do leitor.

Dessa forma, é importante que o profissional consiga respeitar os parágrafos,


frases e demais elementos linguísticos para tornar o conteúdo de fácil entendimento
para o solicitante. Tudo isso, sem abrir mão de elucidar pontos técnicos no
decorrer do texto, desde que estejam acompanhados das explicações e/ou conceituação
retiradas dos fundamentos teórico-filosóficos que os sustentam.

Tendo isso em mente, é preciso respeitar a estrutura padrão de um laudo


psicológico, que é composta por cinco elementos: identificação, descrição da
demanda, procedimentos, análise e conclusão.

1. Identificação
É a parte superior do primeiro tópico do documento com a finalidade de identificar:

a pessoa que elaborou o laudo (nome dos profissionais que realizaram a avaliação,
com os respectivos números dos registros no Conselho Regional);
o solicitante (cliente, empresas ou Justiça, por exemplo);
o assunto/finalidade (acompanhamento psicológico, prorrogação de prazo para
acompanhamento ou outras razões pertinentes a uma avaliação psicológica).
2. Descrição da demanda
Após feita a identificação, a etapa seguinte consiste na descrição das informações
referentes à demanda apresentada pelo solicitante e os motivos, razões e
expectativas por trás da solicitação do laudo.

Dessa forma, é descrita, também, a análise feita pelo profissional de Psicologia


acerca da demanda, de modo a justificar o procedimento adotado.

3. Procedimento
Essa é uma parte bem detalhada, pois é necessária descrição de todos os recursos e
instrumentos utilizados para coletar as informações. Sendo assim, é preciso ter o
número de encontros realizados, quantas pessoas foram ouvidas e tempo de duração do
teste (caso haja subtestes, é preciso detalhá-los também)

Ademais, é importante ressaltar que o procedimento adotado deve ser pertinente para
avaliar a complexidade do que está sendo demandado.

4. Análise
É a parte do documento na qual o profissional elabora uma exposição descritiva de
forma metódica, objetiva e fiel dos dados colhidos e das situações vividas
relacionados à demanda em sua complexidade.
Nessa exposição, deve-se respeitar a fundamentação teórica que sustenta o
instrumental técnico utilizado, bem como princípios éticos e as questões relativas
ao sigilo das informações.

Deve ser relatado apenas o que for necessário para o esclarecimento do


encaminhamento, como disposto no Código de Ética Profissional do Psicólogo. Dessa
forma, ainda não é o momento de fazer afirmações sem sustentação em fatos e/ou
teorias, devendo ter linguagem precisa, especialmente quando se referir a dados de
natureza subjetiva, expressando-se de maneira clara e exata.

5. Conclusão
Nesse ponto, a conclusão do documento, será exposto o resultado e/ou considerações
a respeito da investigação realizada por meio das referências que subsidiaram o
trabalho. Essa etapa representa a integração de dados da descrição da demanda e os
resultados considerados na análise.

Assim, após a narração conclusiva, o documento é encerrado, com indicação do local,


data de emissão, assinatura do psicólogo e o número de inscrição no CRP.

Modelo de laudo psicológico


Existem laudos que são solicitados especificamente para fins jurídicos, que, muitas
vezes, abordam questões relativas ao grau de comprometimento devido à
lesão/disfunção cerebral e prognóstico.

Por isso, eles podem ter objetivo de analisar a custódia de crianças, as


competências cognitivas e socioemocionais, dentre outras. Da mesma forma, as
autoridades podem solicitar esse tipo de avaliação para analisar a possibilidade de
diminuição da responsabilidade criminal, de acordo com Hebben & Milberg (2010).

Ademais, existe o laudo neuropsicológico no contexto hospitalar, que deve


apresentar as mesmas seções do laudo clínico, porém com particularidades relativas
ao contexto, como a maior demanda de brevidade e de conclusão focal ante a demanda.

Assim, outra possibilidade é a elaboração de laudo para fins escolares, que pode
estar concentrada em dois objetivos: i) laudo neuropsicológico clínico para
hipóteses diagnósticas cognitivas quanto à aprendizagem escolar ou ii) laudo
originado de uma triagem escolar.

Independentemente do fim para que o laudo será destinado, ele deve sempre seguir as
diretrizes mencionadas no tópico anterior. Ao seguí-las, o laudo ficará semelhante
ao modelo a seguir:

(Modelo retirado do livro “Elaboração de Laudos Psicológicos: Um guia


descomplicado” do autor Robson Costa)

Autor: Rockson Costa Pessoa – CRP 20/03665

Interessada: Beatriz Assunção Venâncio

Idade: 40 anos

RG: 134376764-4

Estado civil: Solteira

Escolaridade: Ensino médio completo

Profissão: Auxiliar Administrativa


Assunto: Avaliação psicológica relacionada à queixa no comportamento mnemónico

1. Descrição de demanda

No dia 12 de fevereiro de 2015, a paciente B. A. V, 40 anos, solteira e residente


na cidade de Manaus, procurou atendimento psicológico em virtude de estar
apresentando, nos últimos quatro meses, agravo no componente mnemónico. No referido
atendimento, observou-se que a paciente aparentava estar visivelmente extenuada e
muito desatenta. Na realização da entrevista clínica e coleta de itens da anamnese,
sendo considerado o estabelecimento de rapport, alguns dados importantes foram
verificados.

Informou que nos últimos cinco meses tem estado muito preocupada por conta de
problemas relacionados ao campo de trabalho e que, por mais que não faça uso de
medicamentos, apresenta sono reduzido nesse período. Outro dado que merece destaque
é o fato de a provanda afirmar que sempre apresentou muita ansiedade, a ponto de
ter baixo rendimento nas provas mesmo quando sabia o assunto.

Dessa forma, no tocante à sua história pregressa, não foram observados elementos
que corroboram sem a queixa atual, nem há, no histórico indícios clínicos que
predissesse a dificuldade de memória.

Por isso, com base nessas informações, optou-se pela escolha dos testes Inventário
de Ansiedade (BAI), Teste Dígitos-WAIS III, Figura Complexa de Rey (FCR),.Teste de
Atenção Dividida (TEADI), Teste de Atenção Alternada (TEALT e Teste de Atenção
Concentrada (TEACO-FF).

2. Procedimentos

Antes do início da avaliação psicológica, que ocorreu em uma única sessão, foi
averiguado se a provada estava a submeter-se aos instrumentos psicológicos, uma vez
que foi considerada competente para realizá-la. Iniciou-se a avaliação com
aplicação do instrumento BAI, sendo empregados sete minutos para sua execução. Em
seguida, aplicou-se o teste dígitos, em que foi despendido um tempo de dez minutos
(compreendendo ordem direta e inversa do instrumento).

Dando prosseguimento, foi empregada a Figura Complexa de Rey padrão cópia e, após
ser considerado o tempo limite de três minutos do instrumento, aplicou-se o padrão
memória. Para a realização desses dois momentos em FCR, foi utilizado um tempo de
nove minutos pela provanda. Em seguida foram aplicados os testes TEADI e TEALT
(sendo respeitados os tempos limites de cinco minutos e dois minutos e 30 segundos,
respectivamente). O último instrumento foi o TEACO-FF, levando 8 minutos para
realizar a tarefa.

3. Análise

Dessa forma, com base na apreciação dos dados obtidos com a avaliação, é prudente
afirmar que a provanda apresenta grau moderado de ansiedade e considerável déficit
atencional. Em contrapartida, seu desempenho mnemônico, que foi a queixa
desencadeadora desse processo, foi satisfatório. No instrumento BAI, alcançou
pontuação de 26 pontos, o que lhe atribui classificação moderada de ansiedade.

Na avaliação do componente atenção, observa-se que a paciente apresentou


significativo comprometimento. Na atenção concentrada, avaliada pelo instrumento
TEACO-FFe, na atenção alternada, pelo instrumento TEALT, a provanda obteve
respectivamente, percentil 20 e 10, o que lhe conferiu classificação inferior no
desempenho dos referidos componentes atencionais.
Já na atenção dividida, mensurada pelo teste TEADI, obteve percentil 20, o que lhe
atribui classificação média inferior. No teste dígitos (ordem direta e inversa),
obteve percentil 16, que lhe confere classificação média inferior, o que endossa o
comprometimento atencional, bem como o comprometimento na memória de trabalho.
Entretanto, apresentou excelente desempenho na memória imediata e visual, obtendo
percentil 80 e classificação superior.

4. Conclusão

É muito comum os pacientes informarem que têm comprometimento de memória quando, na


verdade, o déficit está no funcionamento da atenção, conforme observado no
deficiente desempenho de sua atenção. Para consolidação da memória, é necessário
que o comportamento atencional esteja adequado, pois, quando apresenta
comprometimento, impede a consolidação de novas informações, o que gera a falsa
impressão de memória prejudicada. Uma vez que seu desempenho mnemônico foi
satisfatório.

Dessa maneira, no caso em questão, a ansiedade demonstra ser fator preponderante


para esse prejuízo no campo atencional. A classificação de ansiedade moderada
atribuída pelo instrumento BAI reforça essa afirmação, uma vez que estudos sugerem
que a ansiedade interfere na atenção (MASCELLA et al., 2014;COSTA;BORUCHOVITCH,
2004).

Ainda em relação à ansiedade, é importante salientar que estudos demonstram que


mulheres no climatério são mais suscetíveis à ansiedade (PEREIRA, SCHMITT;
BUCHALLA, 2009), do mesmo modo que pesquisas demonstram ser as mulheres as maiores
vítimas da ansiedade (FREEMAN; FREEMAN, 2014).

Por isso, considera-se necessário acompanhamento médico e psicológico para a


resolução ou atenuação dos comportamentos desadaptados.

Indicação: acompanhamento psicológico

Encaminhamento: médico ginecologista

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Referências
COSTA, E.D.; BORUCHOVITCH, E. Compreendendo relações entre estratégias de
aprendizagem e a ansiedade de alunos do ensino fundamental de Campinas. Psicologia:
Reflexão e Crítica, v. 17, n.1, p. 15-24, 2004.

FREEMAN, D; FREEMAN,J. Ansiedade. São Paulo: L&PM Editores, 2014.

MASCELLA, V et al. Stress, sintomas de ansiedade e depressão em mulheres com dor de


cabeça. Boletim Academia Paulista de Psicologia, v. 34, n. 87, p. 407-428, 2014. 63
Rockson Cose
PEREIRA, W. M. P. et al. Ansiedade na infância e fatores associados. Revista
brasileira de crescimento humano, v. 19, n. 1, p. 89-97, 2009.

Manaus, 17 de fevereiro de 2015

Rockson Costa Pessoa Psicólogo – CRP 20/0376789

O laudo psicológico é direcionador


O laudo psicológico é um documento extremamente importante para a prática clínica,
pois é uma ferramenta fundamental para tomada de decisão, seja no sentido de
direcionamento a uma abordagem de tratamento ou para decisões jurídicas e/ou
escolares.

Contudo, para que consiga exercer sua função de forma total e realmente eficaz,
precisa seguir uma série de diretrizes, que vão desde a forma da escrita, quanto à
disposição em que as informações serão distribuídas.

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