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Os filmes de Sylvain George são variações em torno de um tema. Sylvain parece continuar a
remontar e reconstruir seu olhar, sua “poesia”, seu mundo, consciente de que são fragmentos mutáveis,
transitórios, de que na verdade nem existe um tema, mas antes, uma necessidade de se imbrincar no
mundo, de se colocar na fronteira desse universo específico, para antes, entender a si mesmo e sua
maneira de relacionar-se.
Sylvain está sempre partindo de sua subjetividade, partindo de si para realizar seus filmes.
Nesta Mostra Retrospectiva do cineasta, que retorna ao Brasil depois de ocorrer em Goiânia no II
Fronteira – Festival Internacional do Filme Documentário e Experimental em agosto deste ano, através
do convite da Semana dos realizadores, tem-se a oportunidade de conhecer como os registros dos
encontros do cineasta com imigrantes do Porto de Calais na França por mais de 10 anos gerou uma obra
pessoal e definitiva sobre as fissuras e cicatrizes da crise mundial contemporânea e suas raízes
colonialistas.
Com curadoria de Rafael Castanheira Parrode e Toni D’Angela, a Mostra Retrospectiva Sylvain
George, teve uma série de ensaios dedicados à reflexão do conjunto de filmes exibidos. Os textos estão
no catálogo do II Fronteira (disponível em PDF no www.fronteirafestival.com), alguns deles escritos pelo
próprio cineasta.
O que torna a cinematografia de Sylvain tão interessante é sua militância política, tomada como
eixo central, abertura para uma poética do engajamento. Fortemente influenciado pelos filmes mais
políticos de Ken Jacobs e a relação com espaço, profundidade e aproximação (Capitalism: Slavery,
Capitalism: Child Labor); Gianikian e Ricci Lucchi (Trilogia da Guerra) e a reinscrição da história,
possibilidade de inventar novos sentidos, ressaltar as contadições, conferir nova plasticidade às imagens
históricas oficiais; Pasolini (La Rabbia) e a pedagogia poética e crítica de Pialat (L’Amour Existe); a
constatação cíclica do tempo, de que tudo se repete, de que tudo está supenso em Gianvito (Protif
Motif and Whispering Wind). Em todos, a idéia de encontrar beleza e poesia diante de coisas miseráveis
e contraditórias, numa tentativa de (re)humanizar o mundo.
Neste convite da Semana dos Realizadores há uma imensa felicidade pelo reencontro com a
obra e o artista. Para nós, oportunidade de contribuir com a difusão de parte significativa da
cinematografia de Sylvain, que impressiona seus espectadores, iluminada pelo olhar do mundo que
oferece.
Diretores Artísticos