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Como centro dos meus interesses que é o estudo da História das Artes na Bahia,
abordamos, neste texto, aspectos da formação profissional dos serralheiros e ferreiros
que produziram as diversas grades de ferro presentes em Salvador no século XIX,
momento em que elas estiveram no seu apogeu.
A presença e diversidade das grades de ferro na cidade do Salvador foi uma constante
ao longo do século XIX, período inclusive que pode ser considerado como fase de
apogeu no qual elas abundam como elementos decorativos em várias edificações.
Essa presença é marcada pelas transformações sociais e culturais ocorridas nesse
período, já que as grades de ferro se desenvolveram e acompanharam as tendências
do neoclassicismo e ecletismo na arquitetura, conforme ilustram os exemplos da
Figura 1 e Figura 2.
É possível também que as influências dos ingleses que habitavam Salvador tenham
contribuído na difusão de novos processos técnicos e artísticos na cultura local,
principalmente na arquitetura. Portanto, nesse período, a difusão do ofício do artesão
especializado na cultura artesanal do ferro, na qual a forja teve seu destaque se fez de
modo marcante quando se vê que alguns deles, dada essa habilidade específica,
realizaram muitos trabalhos na cidade e, segundo registros de fonte documental, parte
deles prosperou deixando bens imóveis e escravos para seus familiares.
operários, que se ocuparam da construção civil comandada pelo mestre de obras Luís
Dias que declarou haver, num grupo de 101 artífices, a presença de ferreiros (CEAB,
1998, p. 22). Por tratar de obras iniciais para a construção de uma cidade,
subentende-se que a utilização do ferro atendia basicamente a construção civil em seu
uso mais ordinário, como arames para amarrações de colunas, pregos, barras e a
confecção de algumas ferramentas rudimentares.
É possível que tenha vindo da Inglaterra grades prontas, juntamente com o ferro na
sua forma bruta para atender à produção siderúrgica local. Haviam casas
especializadas na comercialização do ferro, nas quais ingleses e escoceses não
pouparam o uso dos recursos e das potencialidades plásticas desse material. Pelo fato
Para melhor atender às vendas dessas importações, supomos, ainda tendo por base
fontes documentais que aqui chegavam catálogos mostrando uma variada tipologia
de produtos da arquitetura pré-moldada, como também de objetos de uso doméstico e
hospitalar. Esses catálogos estiveram presentes em Salvador por todo o século XIX, o
que denota, portanto, a capacidade de organização comercial conseguida pelas
empresas inglesas e escocesas, das quais a Macfarlane teve ampla atuação na
América Latina (SILVA, 1988, p. 51). É possível que, alguns catálogos, circulassem
entre os serralheiros e ferreiros baianos, e tenham servido como fonte de inspiração
nas composições das grades, mesmo que os desenhos nele contidos sejam
específicos para a fundição, diferentes pois dos da forja. Um modelo de grade que
pode ter sido importado - e ainda pode ser apreciado - é aquele que se encontra
colocado na janela de um sobrado localizado na Ladeira de São Bento nº. 28, Centro
- Salvador-Ba [Figura 4]. Apesar de não encontrarmos documentação que ateste a
sua origem, constatamos em uma publicação que o seu padrão ornamental coincide
exatamente com o padrão da grade existente na Catedral de Puy, Alto Loire, França,
datada do século XIII [Figura 5] (SUBES, 1928, p. 20). Essa grade em Salvador é
um caso raro quando comparada a outras.
op.cit: 19). Mais adiante diz o autor: "Antigamente a arquitetura e as outras Belas
Artes não se estudavam em escolas públicas, senão nas oficinas dos mestres"
(LEITE: op. cit: 41).
para a referida admissão, estes eram lavrados num contrato constando diversas
cláusulas.
Acreditamos que tal formação profissional sofreu alterações com novas propostas de
formação educacional. Ainda no século XIX, foram criadas instituições de ensino
como o Lyceu de Artes e Ofícios em 1873, e a Academia de Belas Artes da Bahia em
1877, que em 1881 após passar por reforma de ensino passou a chamar-se Escola de
Belas Artes. Essas duas instituições apresentaram novas propostas de ensino. A
primeira voltada para a qualificação do operariado, e a segunda, com uma proposta
mais arrojada de realizar um ensino baseado nas Academias de arte francesas, muito
semelhante a já instalada em 1836 no Rio de Janeiro, Academia Imperial de Belas
Artes do Rio de Janeiro que inaugurava o ensino artístico no Brasil.
Sistema profissional
Mas são as Posturas Municipais, que nos trazem detalhadas informações para
compreender o ofício e produção dos ferreiros e serralheiros, após a fundação da
www.dezenovevinte.net/arte decorativa/da_gradil.htm 6/8
14/04/2023, 16:34 19&20 - Subsídios sobre a formação do serralheiro e ferreiro e seu sistema profissional na Bahia oitocentista, por Dilberto d…
Referências bibliográficas
TAVARES, Luís Henrique Dias. História da Bahia. São Paulo: UNESP: Salvador:
EDUFBA, 2001. 542 p. il.
* Mestre em Artes Visuais - PPGMAV - EBAUFBA, professor da EBADE - Escola Bahiana de Arte e
Decoração - ilberascis@yahoo.com.br
[2] Antigo seminário de São Damaso, Rua do Bispo - Centro; Palácio Arquiepiscopal, Sé - Centro;
Lateral da Igreja da Santa Casa de Misericórdia, Sé - Centro; Casa dos 7 Candeeiros, Rua São Francisco -
Centro e Solar do Ferrão Rua Gregório de Matos, Pelourinho - Centro.
[3] Técnica considerada como paramédica, pela qual o praticante fazia pequenos cortes em determinadas
partes do corpo humano. Acreditava-se que, com essa prática, haveria renovação e fortificação do
sangue, além do expurgo das doenças. Segundo o viajante Wetherel naquela época era prática comum
quando ele cita: " Sangria - pequenos cortes de navalha nas costas do doente sobre as quais colocam-se
pequenos cornos vendando-lhes para que aconteça a sucção, operação que dura cerca de 10 min."
(WETHEREL, 1972, p.17).
[4] Esta citação aplicava-se ao caso português. Como as estruturas do ensino oficinal no Brasil
baseavam-se nos moldes lusitanos, é provável que entre nós seguiu-se o mesmo sistema.
[5] Relatório apresentado à Mesa e Junta, por ocasião da Posse do Barão de Guahy - Livro de Atas da
Mesa (1884-1891), f. 37. ASCMB.
[6] Livro de contratos alterações e distratos e ss/aa 1.016-1.048. ano 1891. documento 01 AJCB.