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ESTUDO DE BOBINA BIFILAR DE TESLA COMO SENSOR PARA ENGENHARIA

BIOMÉDICA

Article · January 2010

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Sérgio Francisco Pichorim

Federal University of Technology - Paraná/Brazil (UTFPR)
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ISSN 2179-3220 359

ESTUDO DE BOBINA BIFILAR DE TESLA COMO SENSOR PARA

ENGENHARIA BIOMÉDICA
S. F. Pichorim e F. A. Destefani

UTFPR – Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Curitiba, Brasil

e-mail: pichorim@utfpr.edu.br

Abstract: In 1894 Nikola Tesla patented a design of

bifilar coil, which presented high self-capacitance. Modelo Elétrico
So, the bifilar coil designed by Tesla has lower
resonance frequency when compared with a normal Normalmente a expressão “bobina de Tesla” é usada
coil with the same geometric characteristics. para o enorme transformador desenvolvido em 1899
However, the determination of Tesla´s coil resonance para gerar milhões de volts [8]. Mas, na realidade,
frequency (fo) is not direct or easy. This paper Nikola Tesla desenvolveu vários tipos de bobinas. Neste
presents a study of the behavior of this resonance
estudo, estamos interessados na sua bobina bifilar
frequency made by some theoretical analysis and
patenteada em 1894 [9]. Quando Tesla projetou essa
circuit simulations. Practical results show the
bobina, ele estava procurando um modo para cancelar a
significant reduction in fo. A discussion on the
application of this type of coil as a biomedical sensor, influência da autoindutância das bobinas nas suas
especially in passive LC, self-resonant, and/or small aplicações. Assim, ele imaginou um método para
dimension devices, is also included. enrolar bobinas onde grandes capacitâncias eram
obtidas. E, com esta alta autocapacitância, a bobina
Palavras chave: Sensor indutivo, Bobina de Tesla, poderia funcionar como uma resistência pura, na sua
Autorressonância. freqüência de ressonância.
A idéia principal é uma bobina onde primeiramente
Introdução as espiras ímpares são enroladas e depois o fio retorna
ao começo para enrolar as espiras pares. A Figura 1
OS sensores passivos mais simples são construídos mostra um exemplo de bobina bifilar de Tesla enrolada
usando apenas componentes capacitivos e indutivos em forma de panqueca com seis voltas. O procedimento
(LC) e podem ser utilizados em várias aplicações na pode também ser aplicado para bobinas solenóides.
engenharia biomédica, tais como medição de pressão,
umidade, gases, pH, tensão-elasticidade, e
monitoramento de radiação em oncologia [1]-[6]. Estes
sensores têm sua frequência de ressonância (fo)
modificadas em resposta à grandeza medida, a qual
pode ser detectada externamente por um circuito de
leitura e uma bobina [7].
Uma implementação simples de um sensor passivo
LC é um indutor autorressonante, onde o capacitor em
paralelo é eliminado [5]. Isto reduz as dimensões finais
do sensor, que é fundamental em aplicações
biomédicas [4], mas, devido aos pequenos valores de
capacitância parasita e autoindutância, altos valores de
freqüência de ressonância são obtidos. Contudo,
escolhendo uma maneira especial de enrolar este
indutor, a capacitância interna (parasita) pode ser Figura 1: Um exemplo de bobina bifilar de Nikola Tesla
aumentada consideravelmente. em forma de panqueca (6 voltas). A sequência das
Este artigo discute sobre uma solução criada e espiras é: a 1a, 3a, 5a, o fio retorna à 2a, 4a e 6a volta.
patenteada por Nikola Tesla, i.e. a bobina bifilar. Um
estudo de freqüência de autorressonância das bobinas Ressalta-se que neste artigo foram utilizadas bobinas
bifilares e suas possibilidades de uso como sensor Tesla no formato solenóide, que não foi mostrado na
biomédico, em especial para medições de deformação, figura por ser um desenho de difícil compreensão.
força ou pressão, são apresentados aqui. O argumento apresentado na descrição de Tesla de
sua invenção é que uma alta tensão está presente (ou é

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armazenada) entre espiras vizinhas [9]. Contudo,
certamente, as capacitâncias entre as espiras são iguais
àquelas de bobinas com enrolamento comum. O que
Tesla obteve foi um arranjo especial das capacitâncias e
indutâncias distribuídas que geraram uma baixa
freqüência de ressonância da bobina.
Capacitâncias e indutâncias distribuídas da bobina
são representadas, nesta análise, como capacitâncias
entre voltas e indutância por volta (Ct e Lt,
respectivamente). E, como pode ser visto na Figura 2,
estes elementos estão dispostos diferentemente da
bobina bifilar de Tesla (b) comparada com uma bobina
convencional (a).
Figura 2: A rede de capacitância distribuída volta-a-
volta (Ct) e a de indutância (Lt), para uma bobina
solenóide normal (a) e para a bobina de Tesla (b).
A capacitância interna (parasita) total (Cs) pode ser
determinada por uma rede de elementos de capacitância
distribuída (apresentados por Yu e Holmes [10]) e é
composta por capacitâncias entre espiras adjacentes e
não-adjacentes. Estas capacitâncias podem ser
determinadas pelo método de elementos finitos [10] ou
por equações específicas [11]. A capacitância entre
voltas (Ct), usada nesta simulação, é uma parte de Cs
em uma volta e pode ser calculada por
Ct = Cs.N (1)
onde N é o número de espiras.
Indutância por número de espiras (Lt) é composta
pela autoindutância de uma volta (determinada pelo seu
raio e pelo raio do condutor) [12] adicionando as
indutâncias mútuas de todas as outras espiras. Esta
indutância pode ser determinada por
Lt = Lcoil / N (2)
onde Lcoil é a autoindutância total da bobina. Várias
fórmulas empíricas podem ser encontradas na literatura
para calcular a indutância total [13].
A Figura 3 é a representação clássica do circuito
equivalente de um indutor, o qual é composto por uma
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autoindutância (Lcoil), capacitância interna (Cs) e uma
resistência interna R (perdas). Como estamos
analisando apenas o comportamento da frequência de
ressonância (fo), R será desconsiderada nesta análise.
Este modelo computa a autoindutância total para baixas
frequências (onde as reatâncias capacitivas são
desconsideradas) e a autocapacitância para altas
frequências (onde a indutância é desconsiderada) [11].
Como pode ser observado na Figura 2, os modelos de
bobinas Tesla e normais se encaixam perfeitamente ao
equivalente elétrico, porém estas bobinas apresentam
freqüências de ressonâncias distintas.
Como será visto na próxima seção, o circuito elétrico
equivalente da bobina (Figura 3) não pode ser utilizado
para a determinação da freqüência de ressonância da
bobina bifilar de Tesla.
Figura 3: O circuito elétrico equivalente de uma bobina
genérica. Este modelo, como discutido neste artigo, não
pode ser aplicável à determinação de freqüência de
ressonância da bobina de Tesla.
Simulação
Depois de definir os valores de Ct e Lt, uma
simulação do circuito pode ser feita para determinar a
frequência de autorressonância (fo) desta bobina. A
Figura 4 mostra um exemplo de circuito elétrico de uma
bobina bifilar de Tesla (N=9) para simulação. Nove
espiras são divididas entre nove elementos de Lt e Ct.
As capacitâncias Ct estão conectadas entre voltas
adjacentes (0 à 1, 1 à 2, etc) e as indutâncias Lt são
colocadas entre voltas ímpares (1 à 3, 3 à 5, etc) e entre
as voltas pares (0 à 2, 2 à 4, etc). A indutância Lt5 está
relacionada ao fio de retorno.
É importante ser lembrado que a indutância total
(Lcoil) para baixas frequências (reatâncias capacitivas
tendendo ao infinito) é calculada por
N
Lcoil = ∑ Lti (3)
i =1
que está de acordo com a equação (2) para as mesmas
indutâncias por espiras (Lt). E, para altas frequências
(reatâncias indutivas tendendo ao infinito) [11], a
capacitância parasita da bobina (Cs) é composta por
cada capacitância Ct, resultando
N
1 1
=∑ (4)
Cs i =1 Cti
Para capacitâncias Ct iguais, a equação (4) está de
acordo com a equação (1).
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Figura 4: O modelo de circuito equivalente para bobina de Tesla de 9 voltas utilizado para determinar a freqüência de
autorressonância (fo). Lt e Ct são as indutâncias e capacitâncias totais para cada volta, respectivamente.
Utilizando um software para simulação de circuitos
(e.g. Electronics Workbench, EWB), a curva de
impedância da bobina (módulo) em função da
freqüência para uma bobina de Tesla solenoidal (como
visto nas Figuras 2b e 4). Uma bobina solenoidal
convencional (como visto na Figura 2a) com o mesmo
número de voltas (N=9), indutância por espira
(Lt=100 µH), e capacitância entre espiras (Ct=10 pF)
também foi simulado. Embora os parâmetros Ct e Lt não
sejam exatamente valores reais, eles podem ser
utilizados perfeitamente para as considerações teóricas.
A Figura 5 mostra o resultado destas simulações,
onde pode ser observado que fo da bobina de Tesla
(933 kHz) é 5,4 vezes menor que a fo de uma bobina
normal (5,03 MHz). Como proposto por Massarini e
Kazimierczuk [11], ambas possuem a mesma
capacitância para altas frequências (Cs=1,11 pF na
região C da Figura 5) e a mesma indutância para baixas
frequências (Lcoil=900 µH na região L da Figura 5).
Figura 5: Impedância das bobinas em função da
frequência (curva sólida para bobina de Tesla e
pontilhada para bobina normal). Para baixas frequências
(região L) as bobinas possuem a mesma indutância.
Para altas frequências (região C) as bobinas possuem a
mesma capacitância parasita.
Devido ao arranjo complexo da rede de indutâncias e
capacitâncias, a bobina de Tesla possui 9 frequências de
ressonância paralelas e série (número igual ao das
espiras). Neste estudo, porém, estamos interessados na
primeira delas. Esta análise confirma o argumento de
Nikola Tesla, não obstante, uma solução analítica para
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determinação de fo no circuito da bobina (Figura 4) é
relativamente complexo e depende do número de
espiras (N). A tabela 1 apresenta resultados da redução
de fo (r) para outras simulações, onde os parâmetros Ct
e Lt foram mantidos constantes.
Tabela 1: Redução r na frequência de autorressonância.
Número de fo Normal
r=
espiras (N) fo Tesla
5 3,09
9 5,40
11 6,47
15 8,80
Resultados
Os experimentos práticos foram guiados para
comparar e validar o uso da bobina de Tesla como
sensor passivo autorressonante. Primeiramente, duas
bobinas (solenóide) helicoidais com núcleo de ar e com
45 espiras (diâmetro de 32 mm, comprimento de 25 mm
e fio de cobre de 24 AWG) foram construídas, uma com
enrolamento normal e outra com o procedimento de
Tesla. A primeira frequência de ressonância destas
bobinas foi medida pelo analisador de impedâncias
Agilent 4294A. Frequências de ressonância de
36,35 MHz e 4,80 MHz foram obtidas para a bobina
normal e para a bobina de Tesla, respectivamente. Com
isso, uma redução de 7,57 vezes na fo foi conseguida.
Para estas bobinas, a autoindutância (Lcoil) de 51,02 µH
e a capacitância parasita (Cs) de 0,32 pF foram
calculadas [13], [11]. Estes valores levam a uma fo
teórica de 39,38 MHz, valor próximo à fo medida da
bobina normal.
É importante mostrar que, devido a esta grande
redução de fo, a bobina de Tesla se comportou como se
possuísse uma capacitância interna aproximadamente 57
vezes maior. E como apresentado anteriormente, esta
redução da fo é fruto de um arranjo diferente das
capacitâncias distribuídas.
Um segundo teste foi conduzido para investigar o uso
de bobina Tesla como sensor de deslocamento [4]. Duas
bobinas solenóides de 18 espiras com núcleo de ferrite
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(diâmetro de 10 mm, comprimento do núcleo 20 mm,
comprimento do enrolamento 14 mm e fio de cobre de
22 AWG) foram feitas, novamente, no método normal e
no de Tesla. Um núcleo de ferrite móvel (10 mm ×
20 mm) foi colocado próximo das bobinas em distâncias
diferentes (faixa de 0 a 3 mm). Assim, as frequências de
autorressonância das bobinas foram moduladas pela
distância. A construção deste sensor segue o modelo
apresentado em [4]. A Figura 6 mostra os valores de fo,
para ambas a bobinas, em função da distância. Nesta
construção, a bobina de Tesla apresentou uma redução
de aproximadamente 2 vezes na fo. Esta baixa redução
da fo pode ser explicada pela presença de capacitâncias
(entre as espiras e núcleo [10]) no solenóide normal, que
não foram consideradas no modelo.
Figura 6: Frequências de autorressonância da bobina
simples (círculos) e da bobina de Tesla (triângulos) em
função do deslocamento do núcleo de ferrite móvel. A
indutância (Lcoil) medida para ambas foi de 12,60 µH.
Conclusão
A bobina bifilar proposta por Nikola Tesla apresenta
uma redução significante na sua freqüência de
ressonância, confirmada por simulações e medições
práticas. Este efeito é resultado do arranjo diferente de
capacitâncias e indutâncias internas da bobina,
resultando em um circuito elétrico equivalente muito
mais complexo.
O circuito equivalente proposto para bobina de Tesla
para simulação não incluiu todas as capacitâncias
distribuídas que existem no indutor, especialmente
aquelas entre espiras não-adjacentes e entre as espiras e
núcleo e/ou outros condutores próximos. Esta
simplificação pode causar diferenças entre as reduções
prática e simulada da fo. Talvez um circuito equivalente
mais complexo possa ser investigado para simulação.
Apesar da redução em fo na prática ser menor que na
simulação, a bobina de Tesla apresenta efeitos mais
significativos na autorressonância quando comparado
com bobinas de enrolamento normal.
O uso da bobina de Tesla como um sensor indutivo
(e.g., deslocamento), especialmente em dispositivos
autorressonantes, de dimensões pequenas, e/ou passivos,
para aplicações em engenharia biomédica, foram
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apresentados.
Agradecimentos
Gostaríamos de agradecer ao CNPq pelo apoio
financeiro, ao Sr. Marcos Santos Hara por apresentar-
nos os trabalhos de Nikola Tesla e ao Sr. Wolfgang
Vollmann em sua ajuda em análise de circuitos.
Referências
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[7] Pichorim, S. F. & Abatti, P. J. (2008), “A Novel
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