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Seminário Adventista Latino-Americano de Teologia

Curso de Bacharelado em Teologia

Matéria: Missões na Janela Verde


Professor: Pr. Francisco Diassis Andrade
Alunos:_________________________________________________________
Data: ____/___/____

ETNOCENTRISMO_A EXPERIÊNCIA DE MOISÉS E ZÍPORA EM NM 12:1-3

“Na designação dos setenta anciãos, Miriã e Arão não tinham sido consultados, e
seus ciúmes despertaram-se contra Moisés. Por ocasião da visita de Jetro, enquanto os
israelitas estavam a caminho do Sinai, a pronta aceitação por parte de Moisés do conselho
de seu sogro despertou em Arão e Miriã um receio de que sua influência junto ao grande
chefe excedesse à deles.
Na organização do conselho dos anciãos, entenderam que sua posição e
autoridade haviam sido desprezadas. Miriã e Arão nunca haviam conhecido o peso dos
cuidados e responsabilidades que repousava sobre Moisés; contudo, visto que tinham sido
escolhidos para o auxiliarem, consideraram-se co-participantes seus e na mesma medida,
do cargo da liderança, e acharam desnecessária a designação de mais auxiliares.
Moisés compenetrara-se da importância da grande obra a ele confiada, como
nenhum outro jamais a sentira. Estava ciente de sua própria fraqueza, e fez de Deus o seu
Conselheiro. Arão tinha-se em mais elevada conta, e confiava menos em Deus.
Fracassara quando se lhe confiara responsabilidade, dando prova de fraqueza de caráter
pela sua vil condescendência na questão do culto idólatra no Sinai. Miriã e Arão, porém,
cegos pela inveja e ambição, perderam isto de vista. Arão fora altamente honrado por
Deus pela designação de sua família para o ofício sagrado do sacerdócio; todavia, mesmo
isto aumentava agora o desejo de exaltação própria. “Porventura falou o Senhor somente
por Moisés? não falou também por nós?” Números 12:2. Considerando-se igualmente
favorecidos por Deus, entenderam ter direito à mesma posição e autoridade.
Cedendo ao espírito de descontentamento, Miriã achou motivos de queixa nos
acontecimentos que Deus de maneira especial dirigira. O casamento de Moisés lhe fora
desagradável. O haver ele escolhido uma mulher de outra nação, em vez de tomar esposa
dentre os hebreus, foi uma ofensa à sua família e ao orgulho nacional. Zípora era tratada
com mal-disfarçado desprezo.
Embora fosse chamada “mulher cusita” (Números 12:1), era a esposa de Moisés
midianita e, assim, descendente de Abraão. Na aparência pessoal ela diferia dos hebreus,
tendo a pele de cor um pouco mais escura. Se bem não fosse israelita, Zípora era
adoradora do verdadeiro Deus. Tinha disposição tímida, acanhada, e era gentil, afetuosa,
e grandemente sensível à vista do sofrimento; e foi por esta razão que Moisés, quando a
caminho para o Egito, consentiu que ela voltasse a Midiã. Ele quis poupar-lhe a dor de
testemunhar os juízos que deveriam cair sobre os egípcios.
Quando Zípora se reuniu a seu povo no deserto, viu que os encargos dele lhe
estavam esgotando as forças, e deu a conhecer seus temores a Jetro, que sugeriu
medidas para o aliviarem. Nisso estava a principal razão da antipatia de Miriã para com
Zípora. Doendo-se muito da suposta negligência manifestada a ela e Arão, considerou a
esposa de Moisés como a causa, concluindo que sua influência o impedira de os tomar em
seus conselhos como antes fazia. Houvesse Arão permanecido firme pelo que era reto, e
poderia ter reprimido o mal; mas, em vez de mostrar a Miriã a pecaminosidade de sua
conduta, compartilhou-lhe os sentimentos, deu ouvidos às suas palavras de queixa, e
assim veio a partilhar de seus ciúmes.
Suas acusações foram suportadas por Moisés em paciente silêncio. Foi a
experiência ganha durante os anos de labuta e espera em Midiã — aquele espírito de
humildade e longanimidade ali desenvolvidos — que preparou Moisés para defrontar com
paciência a incredulidade e murmuração do povo, e o orgulho e inveja daqueles que
deveriam ser seus inabaláveis auxiliadores. Moisés era “mui manso, mais do que todos os
homens que havia sobre a Terra” (Números 12:3), e foi por isto que se lhe conferiu
sabedoria e guia divinas mais do que aos outros.”
WHITE, Ellen G. Patriarcas e Profetas, pp. 276-277.
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ETNOCENTRISMO_A EXPERIÊNCIA DE JONAS E OS NINIVITAS EM


JN 1-4

“Quando Jonas viu o propósito de Deus de poupar a cidade que, não obstante sua
impiedade, tinha sido levada a se arrepender em saco e cinzas, devia ter sido o primeiro a
se alegrar com a estupenda graça de Deus; mas ao contrário disto, ele permitiu que sua
mente se demorasse sobre a possibilidade de ser considerado um falso profeta. Cioso de
sua reputação, ele perdeu de vista o valor infinitamente maior das almas nessa cidade
infortunada. A compaixão mostrada por Deus para com os arrependidos ninivitas
desgostou “Jonas extremamente [...] e ficou todo ressentido”. “Não foi isso o que eu disse”,
argumentou ele com o Senhor, “estando ainda na minha terra? Por isso me preveni,
fugindo para Társis, pois sabia que és Deus piedoso, e misericordioso, longânimo, e
grande em benignidade, e que Te arrependes do mal”. Jonas 4:1, 2.
Uma vez mais ele se rendeu a sua inclinação de questionar e duvidar, e uma vez
mais foi oprimido com o desencorajamento. Perdendo de vista os interesses dos outros, e
sentindo como se melhor lhe fora morrer do que viver para ver a cidade poupada, em seu
descontentamento exclamou: “Ó Senhor, tira-me a minha vida, porque melhor me é morrer
do que viver”. [...].
Nínive, Jonas havia, não obstante cumprido a comissão que lhe fora dada de
advertir a grande cidade; e embora o acontecimento predito não se tivesse realizado, a
mensagem de advertência não era de ninguém menos que de Deus. E ela cumpriu o
propósito que Deus lhe designara. A glória de Sua graça fora revelada entre os pagãos.
Os que havia muito estavam assentados “nas trevas e sombra da morte, presos em aflição
e em ferro”, “clamaram ao Senhor na sua angústia, e Ele os livrou das suas necessidades.
Tirou-os das trevas e sombra da morte, e quebrou as suas prisões. [...] Enviou a Sua
palavra, e os sarou, e os livrou da sua destruição”. Salmos 107:10, 13, 14, 20.
Cristo, durante Seu ministério terrestre, referiu-Se ao bem produzido pela pregação
de Jonas em Nínive, e comparou os habitantes deste centro pagão com o professo povo
de Deus em Seus dias. “Os ninivitas”, declarou Ele, “ressurgirão no juízo com esta
geração, e a condenarão, porque se arrependeram com a pregação de Jonas. E eis que
está aqui quem é mais do que Jonas”. Mateus 12:40, 41. A um mundo ocupado, cheio do
burburinho do comércio e a altercação de transações, onde os homens estavam
procurando obter tudo para si mesmos, Cristo viera; e acima da confusão, Sua voz foi
ouvida como a trombeta de Deus: “Que aproveitaria ao homem ganhar todo o mundo e
perder a sua alma? ou que daria o homem pelo resgate da sua alma?” Marcos 8:36, 37.
Assim como a pregação de Jonas fora um sinal para os ninivitas, a pregação de
Cristo era um sinal para a Sua geração. Mas que contraste na recepção da palavra.
Embora em face de indiferença e de escárnio, o Salvador trabalhou sempre, até que
concluiu Sua missão.
A lição é para os mensageiros de Deus hoje, quando as cidades das nações
encontram-se tão verdadeiramente em necessidade do conhecimento dos atributos e
propósitos do verdadeiro Deus, como os ninivitas do passado. Os embaixadores de Cristo
devem apontar aos homens o mundo mais nobre, que tem sido em grande parte perdido
de vista. De acordo com os ensinamentos das Sagradas Escrituras, a única cidade que
permanece é aquela cujo artífice e construtor é Deus. Com os olhos da fé os homens
podem contemplar o limiar do Céu, iluminado com a glória do Deus vivo. Por intermédio de
Seus servos ministradores o Senhor Jesus está convidando os homens a que se
empenhem com santificada ambição no sentido de assegurarem a herança imortal. Apela
para eles a fim de que acumulem tesouros junto ao trono de Deus.
WHITE, Ellen G. Profetas e Reis, pp. 139-141.
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ETNOCENTRISMO_A EXPERIÊNCIA DE JESUS E A MULHER


SAMARITANA EM JO 4:1-42

“De caminho para a Galiléia, passou Jesus por Samaria. Era meio-dia quando chegou ao belo vale de
Siquém. À entrada desse vale, achava-se o poço de Jacó. Fatigado da jornada, sentou-Se ali para descansar enquanto
os discípulos iam à cidade comprar alimento. Judeus e samaritanos eram obstinados inimigos, evitando tanto quanto
possível todo trato uns com os outros. Negociar com os samaritanos, em caso de necessidade, era na verdade
reputado lícito pelos rabis; qualquer contato social com eles, porém, era condenado. Um judeu não tomava emprestado
nem recebia obséquios de um samaritano, nem mesmo um pedaço de pão ou um copo de água. Comprando comida,
os discípulos estavam agindo em harmonia com o costume da nação. Além disso não iam, entretanto. Pedir um favor
de um samaritano, ou buscar por qualquer maneira beneficiá-lo, não entrava nas cogitações nem mesmo dos
discípulos de Cristo. Ao sentar-Se à beira do poço, Jesus desfalecia de fome e de sede. Longa fora a jornada desde a
manhã, e agora dardejavam sobre Ele os raios do Sol de meio-dia. A sede era-Lhe acrescida ao pensamento da fresca
e refrigerante água ali tão perto, e todavia inacessível, para Ele; pois não tinha corda nem cântaro, e fundo era o poço.
Cabia-Lhe a sorte da humanidade, e esperou que viesse alguém para tirá-la.
Aproximou-se uma mulher de Samaria e, como inconsciente da presença dEle, encheu de água o cântaro.
Ao voltar-se para ir embora, Jesus lhe pediu de beber. Um favor como esse nenhum oriental recusaria. No Oriente, a
água era chamada “o dom de Deus”. Dar de beber a um sedento viajante era considerado tão sagrado dever, que os
árabes do deserto se desviariam do caminho a fim de o cumprir. O ódio existente entre judeus e samaritanos impedia a
mulher de oferecer um obséquio a Jesus; o Salvador, porém, buscava a chave para esse coração, e com o tato
nascido do divino amor, pediu, não ofereceu um favor. O oferecimento de uma gentileza poderia haver sido rejeitado; a
confiança, no entanto, desperta confiança. O Rei do Céu chegou a essa desprezada pessoa, pedindo um serviço de
suas mãos. Aquele que fizera o oceano, que rege as águas do grande abismo, e abre as fontes e rios da terra,
repousou de Sua fadiga junto ao poço de Jacó, e esteve na dependência da bondade de uma estranha até quanto à
dádiva de um pouco de água. {DTN 120.4}
A mulher viu que Jesus era judeu. Em sua surpresa, esqueceu-se de satisfazer-Lhe o pedido, mas procurou
indagar a razão do mesmo. “Como é”, disse ela, “que sendo Tu judeu, me pedes de beber a mim, que sou mulher
samaritana?” Jesus respondeu: “Se tu conheceras o dom de Deus, e quem é o que te diz — Dá-Me de beber, tu Lhe
pedirias, e Ele te daria água viva”. João 4:9, 10. Tu te admiras de que te pedisse mesmo um tão pequenino favor, como
um pouco de água do poço aos nossos pés. Houvesse tu Me pedido a Mim, e Eu te haveria dado de beber da água da
vida eterna. A mulher não compreendera as palavras de Cristo, mas sentiu-lhes a solene importância. Sua atitude leve,
gracejadora, começou a mudar. Supondo que Jesus falasse do poço que lhes estava em frente, disse: “Senhor, Tu não
tens com que a tirar, e o poço é fundo; onde pois tens a água viva? És Tu maior que o nosso pai Jacó, que nos deu o
poço, bebendo ele próprio dele?” João 4:11, 12. Ela via diante de si apenas um sedento viajante, exausto e poento.
Comparou-O, em seu espírito, com o honrado patriarca Jacó. Alimentava o sentimento, tão natural, de que nenhum
outro poço poderia ser igual àquele que fora legado pelos pais. Olhava atrás, aos pais, e ao futuro, à vinda do Messias,
ao passo que a Esperança desses antepassados, o próprio Messias, estava ao seu lado, e ela O não conhecia.
Quantas pessoas sedentas se acham hoje junto à fonte viva, e olham todavia a distância, em busca das fontes da vida!
“Não digas em teu coração: Quem subirá ao Céu? (isto é, a trazer do alto a Cristo). Ou: Quem descerá ao abismo?
(isto é, tornar a trazer dentre os mortos a Cristo). [...] A Palavra está junto de ti, na tua boca e no teu coração. [...] Se
com a tua boca confessares ao Senhor Jesus, e em teu coração creres que Deus O ressuscitou dos mortos, serás
salvo”. Romanos 10:6-9. [...].
Ao falar Jesus da água viva, a mulher O olhou com atenta curiosidade. Ele lhe despertara o interesse, e
incitara o desejo de receber o dom de que falava. Percebia não ser à água do poço de Jacó que Se referia; pois dessa
usava ela continuamente, bebendo, e tendo novamente sede. “Senhor”, disse ela, “dá-me dessa água, para que não
mais tenha sede, e não venha aqui tirá-la”. João 4:15.
Jesus mudou então abruptamente a conversa. Antes que essa pessoa pudesse receber o dom que Ele
ansiava conceder-lhe, seria preciso que fosse levada a reconhecer seu pecado e seu Salvador. Disse-lhe Ele: “Vai,
chama o teu marido, e vem cá”. Ela respondeu: “Não tenho marido”. Assim esperava evitar qualquer interrogação
nesse sentido. Mas o Salvador continuou: “Disseste bem: Não tenho marido; porque tiveste cinco maridos, e o que
agora tens não é teu marido; isto disseste com verdade”. João 4:16-18. A ouvinte tremeu. Misteriosa mão estava
voltando as páginas de sua vida, apresentando aquilo que esperava manter sempre oculto. Quem era Esse que podia
ler-lhe os segredos da vida? Acudiram-lhe pensamentos da eternidade, do juízo futuro, quando tudo que é agora oculto
será revelado. A esse clarão, despertou a consciência. Não podia negar nada; mas buscou escapar a qualquer menção
de um assunto tão indesejado. Com profunda reverência, disse: “Senhor, vejo que és profeta”. João 4:19. Então,
esperando abafar a convicção, voltou-se para pontos de controvérsia religiosa. Se Este fosse profeta, certamente lhe
poderia dar instruções a respeito desses assuntos tão longamente discutidos.
Pacientemente Jesus permitiu que ela dirigisse a conversa à sua vontade. Espreitava, entretanto, o ensejo de
fazer penetrar-lhe a verdade no coração. “Nossos pais adoraram neste monte”, disse ela, “e vós dizeis que é em
Jerusalém o lugar onde se deve adorar”. João 4:20. Achava-se mesmo à vista o monte Gerizim. Seu templo estava
demolido, e só o altar restava. O lugar de culto havia sido motivo de rivalidade entre judeus e samaritanos. Alguns dos
ancestrais dos últimos pertenceram outrora a Israel; devido a seus pecados, porém, o Senhor permitira que fossem
subjugados por uma nação idólatra. Durante muitas gerações haviam estado misturados com adoradores de ídolos,
cuja religião lhes contaminara gradualmente a sua. Verdade é que afirmavam que seus ídolos se destinavam apenas a
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lembrar-lhes o Deus vivo, o Soberano do Universo; não obstante, o povo era levado a reverenciar as imagens de
escultura.
Quando o templo de Jerusalém fora reconstruído, nos dias de Esdras, os samaritanos desejaram unir-se aos
judeus nessa ereção. Este privilégio lhes foi negado, e amarga animosidade suscitou-se entre os dois povos. Os
samaritanos construíram um templo rival no monte Gerizim. Ali adoravam segundo o ritual mosaico, conquanto não
renunciassem inteiramente à idolatria. Mas sobrevieram-lhes desastres, seu templo foi destruído pelos inimigos, e
pareciam achar-se sob maldição; apegavam-se, todavia, a suas tradições e formas de culto. Não queriam reconhecer o
templo de Jerusalém como a casa de Deus, nem admitir que a religião dos judeus era superior à sua. {DTN 123.1}
Respondendo à mulher, Jesus disse: “Crê-Me que a hora vem, em que nem neste monte nem em Jerusalém
adorareis o Pai. Vós adorais o que não sabeis; nós adoramos o que sabemos, porque a salvação vem dos judeus”.
João 4:21, 22. Jesus mostrara ser isento do preconceito judaico contra os samaritanos. Agora procurava derribar o
mesmo preconceito da parte desta samaritana contra os judeus. Ao mesmo tempo que aludia à corrupção da fé dos
samaritanos pela idolatria, declarou que as grandes verdades da redenção haviam sido confiadas aos judeus, e que
dentre eles devia aparecer o Messias. Nos Sagrados Escritos tinham clara apresentação do caráter de Deus e dos
princípios de Seu governo. Jesus Se colocou juntamente com os judeus, como sendo aqueles a quem o Senhor
outorgara conhecimento a Seu respeito. Era Seu desejo erguer os pensamentos de Sua ouvinte acima de questões de
formas, cerimônias e controvérsias. “A hora vem”, disse, “e agora é em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai
em espírito e em verdade; porque o Pai procura a tais que assim O adorem. Deus é Espírito, e importa que os que O
adoram O adorem em espírito e em verdade”. João 4:23, 24.[...].
Enquanto a mulher falava com Jesus, foi impressionada por Suas palavras. Nunca ouvira esses sentimentos
expressos por parte dos sacerdotes de seu povo ou dos judeus. Ao ser-lhe exposta sua vida passada, tornara-se
cônscia de sua grande necessidade. Percebera a sede de sua alma que as águas do poço de Sicar jamais poderiam
saciar. Coisa alguma de tudo com que estivera em contato até então, a despertara para mais elevada necessidade.
Jesus a convencera de que lia os segredos de sua vida; sentiu, entretanto, que Ele era seu amigo, compadecendo-Se
dela e amando-a. Se bem que a própria pureza que dEle emanava lhe condenasse o pecado, não proferia palavra
alguma de acusação, mas falara de Sua graça, que lhe podia renovar a mente. Nela se começou a formar a convicção
acerca de Seu caráter. Surgiu-lhe no espírito a indagação: “Não poderia Este ser o tão longamente esperado
Messias?” Disse-Lhe: “Eu sei que o Messias (que Se chama o Cristo) vem; quando Ele vier, nos anunciará tudo”. Jesus
respondeu: “Eu o sou, Eu que falo contigo”. João 4:25, 26. Ao ouvir a mulher estas palavras, a fé brotou-lhe no
coração. Aceitou a maravilhosa comunicação dos lábios do divino Mestre. Essa mulher encontrava-se em disposição
de espírito capaz de apreciar. Estava pronta para receber a mais excelente revelação, pois interessava-se nas
Escrituras, e o Espírito Santo lhe estivera preparando a mente para a recepção de maior luz. Estudara a promessa do
Antigo Testamento: “O Senhor teu Deus te despertará um profeta do meio de ti, e de teus irmãos, como eu; a Ele
ouvireis”. Deuteronômio 18:15. Anelava compreender esta profecia. A luz já lhe estava brilhando no espírito. A água da
vida, a vida espiritual que Cristo dá a toda alma sedenta, começara a brotar-lhe no coração. O Espírito do Senhor
trabalhava nela.
A positiva declaração de Cristo a essa mulher, não podia ter sido feita aos fariseus, cheios de justiça própria.
Era muito mais reservado quando falava com eles. Aquilo que fora retido aos judeus, e que os discípulos haviam
recebido recomendação de guardar em segredo, foi a ela revelado. Jesus viu que ela empregaria seu conhecimento
em levar outros a partilhar de Sua graça. Ao voltarem os discípulos de seu mandado, ficaram surpreendidos de
encontrar o Mestre falando com a mulher. Não tomara o refrigerante gole que desejara, nem Se deteve para comer o
alimento trazido pelos discípulos. Havendo-se retirado a mulher, insistiram em que comesse. Viram-nO silencioso,
absorto, como em meditação. O semblante irradiava-Lhe, e temeram interromper Sua comunhão com o Céu. Sabiam,
no entanto, que estava desfalecido e fatigado, e julgaram seu dever lembrar-Lhe Sua necessidade física. Jesus lhes
reconheceu o amorável interesse, e disse: “Uma comida tenho para comer, que vós não conheceis”. João 4:32.
Os discípulos cogitaram quem Lhe poderia ter trazido alimento; Ele porém, explicou: “A Minha comida é fazer
a vontade dAquele que Me enviou, e realizar a Sua obra”. João 4:34. Como Suas palavras à mulher lhe houvessem
despertado a consciência, Jesus regozijou-Se. Viu-a bebendo a água da vida, e Sua própria fome e sede foram
mitigadas. O cumprimento da missão para cujo desempenho deixara o Céu, fortalecia o Salvador para Seus labores,
sobrepondo-O às necessidades humanas. Ministrar a uma alma faminta e sedenta da verdade era-Lhe mais grato que
comer ou beber. Constituía um conforto, um refrigério para Ele. A beneficência era a vida de Sua alma. Nosso
Redentor tem sede de reconhecimento. Tem fome da simpatia e do amor daqueles que comprou com Seu próprio
sangue. Anela com inexprimível desejo que venham a Ele e tenham vida. Como a mãe espreita o sorriso de
reconhecimento de seu filhinho, o qual lhe revela o alvorecer da inteligência, assim está Cristo atento à expressão de
grato amor que revela haver começado a vida espiritual naquele ser. A mulher enchera-se de alegria ao escutar as
palavras de Cristo. A maravilhosa revelação fora quase demasiado forte para ela. Deixando o cântaro, voltou à cidade,
para levar a outros a mensagem. Jesus sabia porque ela se fora. O cântaro esquecido revelava eloquentemente o
efeito de Suas palavras. O veemente desejo de seu coração era obter a água da vida; e olvidou seu objetivo em ir ao
poço, esquecendo a sede do Salvador, que se propusera satisfazer. Coração transbordante de alegria, apressou-se
em ir comunicar a outros a preciosa luz que recebera. “Vinde e vede um Homem que me disse tudo quanto tenho
feito”, disse ela aos homens da cidade. “Porventura, não é este o Cristo?” João 4:29. Suas palavras tocaram o coração
deles. Havia em sua fisionomia expressão nova, uma transformação em todo o seu aspecto. Despertou-se-lhes o
interesse em ver a Jesus. “Saíram pois da cidade, e foram ter com Ele”. João 4:29, 30. [...].
Nas palavras dirigidas à mulher à borda do poço, fora lançada boa semente, e quão rapidamente se obteve a
colheita! Os samaritanos vieram a ouvir Jesus, e nEle creram. Aglomerando-se ali em torno dEle, assediaram-nO com
perguntas, recebendo ansiosamente Suas explicações de muitas coisas que para eles haviam sido obscuras.
Escutando-O, suas perplexidades se começaram a desvanecer. Eram como um povo em meio de grande treva,
seguindo um súbito raio de luz, até chegarem à claridade do dia. Mas não se satisfizeram com essa breve entrevista.
Ansiavam ouvir mais, e dar a seus amigos também oportunidade de ouvir esse maravilhoso Mestre. Convidaram-nO a
ir a sua cidade, pedindo-Lhe que ficasse com eles. Durante dois dias deteve-Se em Samaria, e muitos mais creram
nEle.
Os fariseus desprezavam a simplicidade de Jesus. Passavam-Lhe por alto os milagres, e pediam-Lhe um
sinal de que era o Filho de Deus. Os samaritanos, porém, não pediram sinal, e Jesus não operou nenhum milagre
entre eles, a não ser a revelação dos segredos da vida da mulher, junto ao poço. Entretanto, muitos O receberam. Em
sua nova alegria, disseram à mulher: “Já não é pelo teu dito que nós cremos, porque nós mesmos O temos ouvido, e
sabemos que este é verdadeiramente o Cristo, o Salvador do mundo”. João 4:42.
Os samaritanos criam que o Messias havia de vir como o Redentor não só dos judeus, mas do mundo. O
Espírito Santo dEle predissera, por meio de Moisés, como um profeta enviado por Deus. Por intermédio de Jacó fora
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declarado que a Ele se congregariam os povos; e de Abraão, que nEle seriam benditas todas as nações da Terra.
Nessas escrituras baseavam os samaritanos sua fé no Messias. O fato de haverem os judeus interpretado mal os
últimos profetas, atribuindo ao primeiro advento a glória da segunda vinda de Cristo, levara os samaritanos a desprezar
todos os sagrados escritos, com exceção dos que foram dados por meio de Moisés. Ao demolir, porém, o Salvador,
essas falsas interpretações, muitos aceitaram as últimas profecias e as palavras do próprio Cristo com relação ao reino
de Deus. Jesus começara a derrubar a parede de separação entre os judeus e os gentios, e a pregar salvação a todo o
mundo. Conquanto judeu, misturava-Se sem restrições com os samaritanos, anulando os costumes farisaicos de Sua
nação. Apesar de seus preconceitos, aceitou a hospitalidade desse povo desprezado. Dormiu sob seu teto, comeu com
eles à mesa — partilhando do alimento preparado e servido por suas mãos — ensinou em suas ruas, e tratou-os com a
máxima bondade e cortesia.
No templo de Jerusalém havia apenas uma baixa parede divisória entre o pátio exterior e as outras
dependências do sagrado edifício. Viam-se nessa parede inscrições em diferentes línguas, declarando que ninguém, a
não ser os judeus, podia ultrapassar esses limites. Houvesse um gentio ousado penetrar no interior, teria profanado o
templo, e o pagaria com a vida. Mas Jesus, o originador do templo e de seu serviço, atraía a Si os gentios pelo laço da
simpatia humana, ao passo que Sua divina graça lhes trazia a salvação que os judeus rejeitavam. A permanência de
Jesus em Samaria destinava-se a ser uma bênção para os discípulos, ainda sob a influência do fanatismo judaico.
Julgavam que, para serem leais a sua nação, era preciso que nutrissem inimizade contra os samaritanos. Admiravam-
se da conduta de Jesus. Não se podiam recusar a seguir-Lhe o exemplo, e durante os dois dias passados em Samaria,
a fidelidade para com Ele lhes manteve em sujeição os preconceitos; todavia, no coração, continuavam irreconciliados.
Foram tardios em aprender que seu desprezo e ódio devia dar lugar à piedade e à simpatia. Após a ascensão do
Senhor, porém, Suas lições foram recordadas por eles, assumindo novo significado. Depois do derramamento do
Espírito Santo, relembraram o olhar do Salvador, Suas palavras, o respeito e a ternura de Seu trato para com esses
desprezados estrangeiros. Quando Pedro foi pregar em Samaria, pôs em seu trabalho o mesmo espírito. Quando João
foi chamado a Éfeso e a Esmirna, lembrou-se do incidente de Siquém, e encheu-se de gratidão para com o divino
Mestre, que prevendo as dificuldades que haviam de enfrentar, lhes proporcionara auxílio com Seu próprio exemplo.
O Salvador continua ainda a fazer a mesma obra que realizou quando ofereceu água da vida à mulher de
Samaria. Os que se chamam Seus seguidores, podem desprezar e evitar os excluídos da sociedade; circunstância
alguma de nascimento ou nacionalidade, porém, nenhuma condição de vida, pode desviar Seu amor dos filhos dos
homens. A toda pessoa, embora pecadora, Jesus diz: Se Me pedisses, Eu te daria água viva. O convite evangélico não
deve ser amesquinhado, e apresentado apenas a uns poucos escolhidos, que, supomos, nos farão honra caso o
aceitem. A mensagem deve ser dada a todos. Onde quer que haja corações abertos para receber a verdade, Cristo
está pronto a instruí-los. Revela-lhes o Pai, e o culto aceitável Àquele que lê os corações. Para esses não emprega
nenhuma parábola. Como à mulher junto ao poço, Ele lhe diz: “Eu sou, Eu que falo contigo”. João 4:26.
Quando Jesus Se sentou para descansar à beira do poço de Jacó, havia chegado da Judéia, onde Seu
ministério pouco fruto produzira. Fora rejeitado pelos sacerdotes e rabis, e os próprios que professavam ser Seus
discípulos, deixaram de perceber-Lhe o divino caráter. Achava-Se desfalecido e fatigado; não negligenciou, no entanto,
a oportunidade de falar a uma única mulher, conquanto fosse uma estranha, inimiga de Israel, e vivendo abertamente
em pecado. [...]. Essa mulher representa a operação de uma fé prática em Cristo. Todo verdadeiro discípulo nasce no
reino de Deus como missionário. Aquele que bebe da água viva, faz-se fonte de vida. O depositário torna-se doador. A
graça de Cristo no coração é uma vertente no deserto, fluindo para refrigério de todos, e tornando os que estão quase
a perecer, ansiosos de beber da água da vida.”
WHITE, Ellen G. O Desejado de Todas as Nações, pp. 120-128.
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ETNOCENTRISMO_A EXPERIÊNCIA DE PEDRO E CORNÉLIO


EM ATOS 10:1-48
Foi enquanto Pedro ainda se encontrava em Jope, que ele foi chamado por Deus para levar o evangelho a
Cornélio, em Cesaréia. Cornélio era centurião romano. Era homem rico e de nobre nascimento, e seu cargo era de
confiança e honra. Gentio de nascimento, ensino e educação, pelo contato com os judeus adquirira o conhecimento de
Deus, e O adorava com coração verdadeiro, mostrando a sinceridade de sua fé pela compaixão para com os pobres.
Era conhecido longe e perto pela sua beneficência, e sua vida reta o fazia de boa reputação entre judeus e gentios.
Sua influência era uma bênção a todos os que com ele entravam em contato. O relato inspirado descreve-o como um
homem “piedoso e temente a Deus, com toda a sua casa, o qual fazia muitas esmolas ao povo, e de contínuo orava a
Deus” (At 10:2).
Crendo em Deus como o Criador do Céu e da Terra, Cornélio O reverenciava, reconhecia Sua autoridade e
procurava Seu conselho em todos os negócios da vida. Era fiel a Jeová em sua vida doméstica e em seus deveres
oficiais. Erguera em seu lar o altar de Deus, pois não ousava efetuar seus planos ou encarar suas responsabilidades
sem o auxílio divino. Posto que Cornélio cresse nas profecias e estivesse a esperar pela vinda do Messias, não tinha
conhecimento do evangelho como foi revelado na vida e morte de Cristo. Não era membro da igreja judaica e teria sido
considerado pelos rabinos como um gentio e imundo. Mas o mesmo santo Vigia que dissera de Abraão: “Eu o tenho
conhecido” (Gn 18:19), conhecia também Cornélio, e lhe enviou uma mensagem direta do Céu.
O anjo apareceu a Cornélio quando este se achava em oração. Ouvindo o centurião alguém a ele dirigir-se
pelo nome, ficou atemorizado; todavia compreendeu que o mensageiro viera de Deus, e disse: “Que é, Senhor?” (At
10:4). O anjo respondeu: “As tuas orações e as tuas esmolas têm subido para memória diante de Deus. Agora, pois,
envia homens a Jope, e manda chamar a Simão, que tem por sobrenome Pedro. Esse está com um certo Simão
curtidor, que tem a sua casa junto ao mar” (At 10:32).
As minúcias destas informações, nas quais se mencionava até a ocupação do homem em cuja casa Pedro
se encontrava, mostram que o Céu está a par da história e ocupação dos homens de todas as condições de vida. Deus
está familiarizado com a experiência e afazeres do humilde trabalhador, bem como os do rei em seu trono.“Envia
homens a Jope, e manda chamar a Simão.” Assim Deus deu prova de Sua atenção para com o ministério evangélico e
Sua igreja organizada. O anjo não foi incumbido de contar a Cornélio a história da cruz. Um homem sujeito a
fragilidades e tentações humanas, como o centurião mesmo, deveria ser aquele que lhe contaria a respeito do
Salvador crucificado e ressuscitado. Deus não escolhe como Seus representantes entre os homens anjos que jamais
caíram, mas seres humanos, homens de paixões idênticas às daqueles a quem buscam salvar. Cristo Se revestiu da
forma humana para que pudesse alcançar a humanidade. Um Salvador divino humano era necessário para trazer a
salvação ao mundo. E a homens e mulheres foi entregue a sagrada tarefa de tornar conhecidas “as riquezas
incompreensíveis de Cristo” (Ef 3:8).
Em Sua sabedoria o Senhor põe os que estão à procura da verdade em contato com seus semelhantes que
a conhecem. É plano do Céu que os que receberam a luz a comuniquem aos que se acham em trevas. A humanidade,
tirando sua eficiência da grande Fonte da sabedoria, torna-se o instrumento, a agência operadora por meio da qual o
evangelho exerce seu poder transformador sobre o espírito e o coração. Cornélio foi, com alegria, obediente à visão.
Tendo-se retirado o anjo, o centurião “chamou dois de seus criados, e a um piedoso soldado dos que estavam ao seu
serviço. E, havendo-lhes contado tudo, os enviou a Jope” (At 10:8).
O anjo, depois de sua entrevista com Cornélio, foi a Pedro em Jope. Na ocasião Pedro estava a orar no
terraço da casa em que se achava, e lemos que, “tendo fome, quis comer; e, enquanto lho preparavam, sobreveio-lhe
um arrebatamento de sentidos” (At 11:5). Não era unicamente do pão material que Pedro tinha fome. Ao ver do terraço
a cidade de Jope e o território circunvizinho, teve fome de salvação para os seus patrícios. Tinha intenso desejo de
indicar-lhes as profecias das Escrituras relativas ao sofrimento e morte de Cristo. Na visão, viu Pedro “o céu aberto, e
que descia um vaso, como se fosse um grande lençol atado pelas quatro pontas, e vindo para a terra, no qual havia de
todos os animais quadrúpedes e répteis da terra, e aves do céu. E foi-lhe dirigida uma voz: Levanta-te, Pedro, mata e
come. Mas Pedro disse: De modo nenhum, Senhor, porque nunca comi coisa alguma comum e imunda. E segunda vez
lhe disse a voz: Não faças tu comum ao que Deus purificou. E aconteceu isto por três vezes; e o vaso tornou a
recolher-se no céu” (At 10:11-16). Esta visão tanto serviu para repreender a Pedro como para instruí-lo. Revelou-lhe o
propósito divino - de que pela morte de Cristo os gentios deviam tornar-se co-herdeiros dos judeus nas bênçãos da
salvação. Até então nenhum dos discípulos pregara o evangelho aos gentios. Em seu pensamento, o muro de
separação posto abaixo pela morte de Cristo ainda existia, e seus trabalhos limitavam-se aos judeus, pois tinham
considerado os gentios excluídos das bênçãos do evangelho. O Senhor buscava então ensinar a Pedro a extensão
universal do plano divino. Muitos dos gentios tinham sido ouvintes interessados da pregação de Pedro e dos outros
apóstolos, e muitos dos judeus gregos se tinham tornado crentes em Cristo, mas a conversão de Cornélio seria a
primeira de importância entre os gentios.
Era chegado o tempo para ser introduzida pela igreja de Cristo uma fase de trabalho inteiramente nova. A
porta que muitos dos judeus conversos haviam fechado aos gentios devia agora ser aberta de par em par. E os gentios
que aceitassem o evangelho deviam ser tidos no mesmo pé de igualdade com os discípulos judeus, sem a
necessidade de observar o rito da circuncisão. Quão cuidadosamente agiu o Senhor para vencer o preconceito contra
os gentios, que tão firmemente se fixara na mente de Pedro pela sua educação judaica! Pela visão do lençol e seu
conteúdo, procurou Ele despir o espírito do apóstolo deste preconceito, e ensinar a importante verdade de que no Céu
não há acepção de pessoas; que judeus e gentios são igualmente preciosos à vista de Deus; que por meio de Cristo os
pagãos podem ser participantes das bênçãos e privilégios do evangelho. [...].Para Pedro esta era uma ordem probante,
e foi com relutância em cada passo que assumiu o dever que lhe fora imposto; mas não ousou desobedecer.
“Descendo Pedro para junto dos varões que foram enviados por Cornélio, disse: Sou eu a quem procurais; qual é a
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causa porque estais aqui?” (At 10:21). Eles lhe falaram a respeito de sua singular incumbência, dizendo: “Cornélio, o
centurião, varão justo e temente a Deus, e que tem bom testemunho de toda a nação dos judeus, foi avisado por um
santo anjo para que te chamasse a sua casa, e ouvisse as tuas palavras” (At 10:22). Em obediência às instruções que
acabava de receber de Deus, o apóstolo prometeu ir com eles. Na manhã seguinte partiu para Cesaréia, acompanhado
por seis de seus irmãos. Estes deveriam ser testemunhas de tudo o que ele dissesse ou fizesse enquanto em visita
aos gentios; pois Pedro sabia que seria chamado a dar contas de uma violação tão direta dos ensinos judaicos.
Entrando Pedro na casa do gentio, Cornélio não o saudou como a um visitante comum, mas como a alguém
honrado pelo Céu, a ele enviado por Deus. É costume oriental curvar-se perante um príncipe ou qualquer alto
dignitário, e curvarem-se as crianças perante seus pais; mas Cornélio, tomado pela reverência por aquele que fora
enviado por Deus para o ensinar, caiu aos pés do apóstolo e o adorou. Pedro foi presa de horror e levantou o
centurião, dizendo: “Levanta-te, que eu também sou homem” (At 10:26). Enquanto os mensageiros de Cornélio
desempenhavam a sua incumbência, o centurião havia “já convidado seus parentes e amigos mais íntimos” (At 10:24),
para que, como ele, pudessem ouvir a pregação do evangelho. Quando Pedro chegou, encontrou um grande grupo
avidamente a espera para ouvir suas palavras. {AA 75.3}
Aos que estavam reunidos, Pedro falou em primeiro lugar do costume dos judeus, dizendo que lhes era
considerado ilícito misturarem-se socialmente com os gentios, e que fazer isto implicava contaminação cerimonial. “Vós
bem sabeis”, disse ele, “que não é lícito a um varão judeu ajuntar-se ou chegar-se a estrangeiros; mas Deus mostrou-
me que a nenhum homem chame comum ou imundo. Pelo que, sendo chamado, vim sem contradizer. Pergunto, pois,
por que razão mandastes chamar-me?” (At 10:28, 29). Cornélio então relatou sua experiência e as palavras do anjo,
dizendo em conclusão: “Logo mandei chamar-te, e bem fizeste em vir. Agora, pois, estamos todos presentes diante de
Deus, para ouvir tudo quanto por Deus te é mandado.” {AA 75.5}
Disse Pedro: “Reconheço por verdade que Deus não faz acepção de pessoas; mas que Lhe é agradável
aquele que, em qualquer nação, O teme e obra o que é justo” (At 10:34, 35). Então àquele atento grupo de ouvintes o
apóstolo pregou a Cristo - Sua vida, Seus milagres, Sua traição e crucificação, Sua ressurreição e ascensão, e Sua
obra no Céu como representante e advogado do homem. Ao indicar Jesus aos presentes como a única esperança do
pecador, Pedro, ele próprio, compreendeu mais perfeitamente o sentido da visão que tivera, e o coração ardeu-lhe com
o espírito da verdade que estava apresentando. Subitamente o discurso foi interrompido pela descida do Espírito
Santo. “Dizendo Pedro ainda estas palavras, caiu o Espírito Santo sobre todos os que ouviam a palavra. E os fiéis que
eram da circuncisão, todos quantos tinham vindo com Pedro, maravilharam-se de que o dom do Espírito Santo se
derramasse também sobre os gentios. Porque os ouviam falar línguas, e magnificar a Deus.
“Respondeu então Pedro: Pode alguém porventura recusar a água, para que não sejam batizados estes, que
também receberam como nós o Espírito Santo? E mandou que fossem batizados em nome do Senhor” (At 10:47, 48).
Assim foi o evangelho levado àqueles que tinham sido estranhos e forasteiros, tornando-os concidadãos dos santos e
membros da família de Deus. A conversão de Cornélio e sua casa não foi senão o início de uma preciosa colheita.
Dessa família estendeu-se uma vasta obra de graça naquela cidade gentílica. Deus está hoje buscando almas entre os
grandes bem como entre os humildes. Há muitos como Cornélio, homens a quem o Senhor deseja pôr em contato com
Sua obra na Terra. Suas simpatias estão com o povo do Senhor, mas os laços que os retêm ao mundo, mantêm-nos
firmemente seguros. Requer-se força moral para que tomem posição ao lado de Cristo. Devem ser feitos esforços
especiais por essas almas em tão grande perigo, por causa de suas responsabilidades e associações.
Deus chama obreiros humildes e fervorosos, que desejem levar o evangelho às mais altas classes. Há
milagres a serem operados em conversões genuínas - milagres que não são agora discernidos. Os maiores homens
deste mundo não estão além do poder de um Deus que opera maravilhas. Se todos os que são Seus coobreiros se
dispuserem a ser homens de oportunidade, cumprindo brava e fielmente o dever, Deus converterá homens que
ocupam posições de responsabilidade, homens de intelecto e de influência. Pelo poder do Espírito Santo muitos
aceitarão os princípios divinos. Convertidos à verdade, tornar-se-ão instrumentos na mão de Deus, para comunicar luz.
Sentirão especial responsabilidade por outras almas desta classe negligenciada. Consagrarão tempo e dinheiro à obra
do Senhor, e uma nova eficiência e poder serão adicionados à igreja.
Porque estivesse Cornélio vivendo em harmonia com toda a instrução que havia recebido, Deus de tal
maneira encaminhou os acontecimentos que lhe foi dada mais verdade. Um mensageiro das cortes celestes foi
enviado ao oficial romano e a Pedro, para que Cornélio pudesse ser posto em contato com quem poderia guiá-lo a
maior luz. Há em nosso mundo muitos que estão mais próximos do reino de Deus do que supomos. Neste tenebroso
mundo de pecado, o Senhor tem muitas jóias preciosas a quem Ele guiará Seus mensageiros. Há em toda parte os
que assumirão sua atitude ao lado de Cristo. Muitos darão mais apreço à sabedoria de Deus do que a qualquer
vantagem terrestre, e se tornarão fiéis portadores de luz. Constrangidos pelo amor de Cristo, constrangerão outros a vir
a Ele.
Quando os irmãos na Judéia ouviram que Pedro havia entrado na casa de um gentio e pregara aos que ali
estavam reunidos, ficaram surpresos e escandalizados. Receavam que tal conduta, que a eles parecia presunçosa,
tivesse como resultado contrariar seu próprio ensino. Quando a seguir viram Pedro, defrontaram-no com severa
censura, dizendo: “Entraste em casa de varões incircuncisos, e comeste com eles” (At 11:3).
Pedro lhes expôs toda a questão. Relatou sua experiência, com referência à visão, e alegou que isto o
advertia a não mais observar a distinção cerimonial da circuncisão e incircuncisão, bem como a não considerar os
gentios imundos. Contou-lhes acerca da ordem que lhe fora dada para ir aos gentios, da vinda dos mensageiros, de
sua viagem para Cesaréia e do encontro com Cornélio. Relatou a substância de sua entrevista com o centurião, na
qual este lhe contara a visão que lhe determinava mandasse chamar Pedro. “Quando comecei a falar”, disse ele,
relatando sua experiência, “caiu sobre eles o Espírito Santo, como também sobre nós ao princípio. E lembrei-me do
dito do Senhor, quando disse: João certamente batizou com água; mas vós sereis batizados com o Espírito Santo.
Portanto, se Deus lhes deu o mesmo dom que a nós, quando havemos crido no Senhor Jesus Cristo, quem era então
eu, para que pudesse resistir a Deus?” (At 11:15-17).
Ouvindo este relato, os irmãos ficaram em silêncio. Convictos de que a conduta de Pedro estava em direto
cumprimento ao plano de Deus, e que seus preconceitos e exclusivismo eram inteiramente contrários ao espírito do
evangelho, glorificaram a Deus, dizendo: “Na verdade até aos gentios deu Deus o arrependimento para a vida” (At
11:18). Assim, sem controvérsias, derribou-se o preconceito, abandonou-se o exclusivismo estabelecido pelo costume
dos séculos, e abriu-se o caminho para que o evangelho fosse proclamado aos gentios.
WHITE, Ellen G. Atos dos Apóstolos, pp. 73-77

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