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Texto adaptado da seguinte dissertação de Mestrado: RODRIGUES, Priscilla Cardoso. Reflexão sobre a
legitimação do Estado contemporâneo. 2005. Dissertação (Mestrado em Direito). Programa de Pós-Graduação
em Direito da Faculdade de História, Direito e Serviço Social da Universidade Estadual Paulista, Franca, 2005.
2
A autora é professora do Curso de Direito e do Instituto Insikiran de Formação Superior Indígena da
Universidade Federal de Roraima.
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ENCARNAÇÃO, João Bosco da. Filosofia do Direito em Habermas: a hermenêutica. 3 ed. Lorena, SP:
Stiliano, 1999. p. 16.
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Neste momento, essa “nova” burguesia sente a necessidade de criar um espaço só para
si. Surge a esfera pública literária, um espaço tipicamente burguês, caracterizado pela
discussão de idéias e pela consolidação de novos valores, que logo são erigidos a valores
universais, de toda a sociedade – ainda que fossem valores predominantemente burgueses –,
com força suficiente para fazer frente ao próprio Estado Absolutista.
Com o fortalecimento desses valores, a burguesia consegue ampliar esse espaço de
discussão a todo o povo, por meio da propaganda de suas idéias que, no início, se realizava
pela distribuição de panfletos e leitura dos mesmos, em voz alta, nos lugares públicos.
Nesse período, não importava a hierarquia social, mesmo o povo, em sua maioria
composto por pessoas sem acesso à educação ou à cultura, era importante para a expansão do
espaço de discussão burguês.
É claro que o povo era importante naquele momento. Mas somente para o fim de
propagar e fortalecer as idéias e posições políticas burguesas, o que não significa que os
burgueses abriam a possibilidade do povo também participar das suas discussões.
Nessa primeira etapa, a esfera pública literária é apenas uma tentativa de estabelecer
novos valores sociais e culturais burgueses, não representando, ainda, uma total ruptura com a
sociedade de côrte, mas, ao contrário, uma certa continuidade, já que as côrtes serviam como
instrumento de exibição do poder social e econômico tanto da nobreza quanto da burguesia
insurgente:
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HABERMAS, Jurgen. Mudança estrutural da esfera pública: investigações quanto a uma categoria da
sociedade burguesa. tradução de Flávio R. Kothe. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1984. p. 37.
5
ELIAS, Norbert. O processo civilizador: formação do Estado e civilização. Tradução de Ruy Jungmann.
revisão, apresentação e notas de Renato Janine Ribeiro. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1993. v. 2. p. 17-18.
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encontravam membros da aristocracia e das camadas altas e médias da burguesia, com uma
forte preponderância dos burgueses com formação acadêmica. Esses ambientes eram restritos
somente às elites, onde a burguesia mantinha contato apenas com a sociedade de côrte, sem a
possibilidade de participação das camadas populares da sociedade.
Apesar de já encarnar a noção de público, a sociabilidade da esfera pública literária
ainda se mantinha restrita a uma elite social, não obstante pressupor certa igualdade:
Não que se deva crer que, com os cafés, os salões e as associações tal concepção de ‘público’
tenha sido efetivamente concretizada; mas, com eles, ela foi institucionalizada enquanto
idéia e, com isso, colocada como reivindicação objetiva e, nessa medida, ainda que não tenha
se tornado realidade, foi, no entanto, eficaz. 6
Nesse sentido, ainda que numa primeira etapa da esfera pública burguesa não
estivesse claro seu caráter ideológico-instrumental, subordinado à lógica produtiva e
existencial capitalista, logo também a noção de esfera pública se torna ideologia a favor da
evolução capitalista.
O capitalismo impõe sua lógica mercadológica a todos os aspectos da existência
humana, em especial à esfera pública burguesa, tornando seu conteúdo mera ideologia:
Assim, mesmo sem maiores pretensões políticas, a esfera pública literária logo se
transforma numa esfera de crítica ao poder do Estado, “refuncionalizando” 9 sua base de
6
HABERMAS, 1984, p. 52.
7
Idem, p. 53.
8
Idem, p. 190-191.
9
Esse termo é utilizado por Habermas para demonstrar a transformação dos institutos da esfera pública literária,
como se pode observar no seguinte trecho: “O processo ao longo do qual o público constituído pelos indivíduos
6
discussão e fazendo surgir uma esfera pública política, não como meio institucionalizado de
poder político, mas como espaço de discussão política.
A esfera pública passa, então, a ser o espaço no qual a sociedade civil delibera
publicamente sobre suas necessidades políticas e econômicas, com o intuito de estabelecer
uma nova regulamentação das relações sociais autônoma à regulação estatal, já que as
condições impostas pelo Estado Absolutista se demonstravam extremamente prejudiciais ao
desenvolvimento capitalista.
A origem da politicidade da esfera pública se deu, portanto, por necessidades
econômicas, pela contradição entre a regulamentação estatal e os anseios burgueses, no
sentido de possibilitar uma autorregulamentação de seus negócios e favorecer sua
emancipação política.
Definida por Habermas,
A esfera pública burguesa pode ser entendida inicialmente como a esfera das pessoas
privadas reunidas em um público; elas reivindicam esta esfera pública
regulamentada pela autoridade, mas diretamente contra a própria autoridade, a fim
de discutir com ela as leis gerais da troca na esfera fundamentalmente privada, mas
publicamente relevante, as leis do intercâmbio de mercadorias e do trabalho social.
O meio dessa discussão política não tem, de modo peculiar e histórico, um modelo
anterior: a racionalização pública. 10
conscientizados se apropria da esfera pública controlada pela autoridade e a transforma numa esfera em que a
crítica se exerce contra o poder do Estado realiza-se como refuncionalização (umfunktionierung) da esfera
pública literária, que já era dotada de um público possuidor de suas próprias instituições e plataformas de
discussão.” (Cf. HABERMAS, 1984, p. 68).
10
HABERMAS, 1984, p. 42.
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Para garantir a racionalização das leis burguesas era fundamental garantir sua
publicidade, o que não ocorria no período absolutista. Ao estabelecer a publicidade como
fundamento da elaboração legislativa, a burguesia erige a esfera pública à única fonte legítima
da legalidade:
Nesse primeiro momento, o Estado de Direito era dominado pela ideologia liberal, o
que restringia a esfera pública burguesa ao domínio dos burgueses, proprietários, únicos
detentores da racionalidade moderna e da capacidade de fazer política. Quanto mais o Estado
se burocratizava, mais a esfera pública se elitizava, tornando-se cada vez mais restrita aos
burgueses, detentores do poder.
Por esse motivo, a burguesia elege a democracia como mecanismo de legitimação do
Estado, tornando a esfera pública política elemento de criação e legitimação da política, na
medida em que permite a intermediação entre a sociedade civil e o poder público estatal.
11
ENCARNAÇÃO, op. cit., p. 18.
12
Idem, p. 19.
8
século XIX, quando a própria burguesia enfraquece sua função política por se sentir ameaçada
por sua própria invenção.
Enquanto a burguesia manteve o capitalismo na sua forma liberal, a esfera pública
manteve-se atuante como espaço social de discussão política, fundando-se na igualdade e na
legalidade como mecanismos legitimadores de sua dominação política. A esfera pública
mantinha-se firme em seus princípios, garantindo a publicidade das leis e a participação
política por meio da opinião pública:
13
HABERMAS, 1984, p. 104.
14
Idem, p. 105.
15
Segundo Habermas, tais condições são determinadas pelos próprios princípios da Economia Clássica, quais
sejam: “[...] o primeiro pressuposto é econômico: a garantia da livre concorrência. O segundo deriva deste, o de
que todas as mercadorias são trocadas por sei ‘valor’; este, por sua vez, deve ser medido de acordo com o
quantum de trabalho necessário á sua produção. Nisso, são consideradas mercadorias igualmente os bens
produzidos e a força de trabalho produtora. [...] O terceiro pressuposto é teórico [...]: havendo completa
mobilidade de produtores, produtos e capital, em decorrência oferta e procura sempre se compensarão entre si.
Com isso as capacidades sempre serão utilizadas ao máximo, as reservas de força de trabalho esgotadas e o
sistema, em princípio, sempre será mantido livre de crises, ficando em equilíbrio num alto nível, correspondente
cada vez ao grau de desenvolvimento das forças produtivas.” (Cf. HABERMAS, 1984, p. 106-107).
9
para alcançar o status de “cidadão”. Com isso, a burguesia conseguia garantir a aceitação pela
sociedade de sua vontade política, como sendo fruto da vontade de todos:
16
HABERMAS, 1984, p. 108.
17
HEGEL apud HABERMAS, 1984, p. 143.
18
HABERMAS, 1984, p. 146.
10
Marx vai mais fundo em sua análise sobre a esfera pública burguesa, pois além de
identificar suas intenções manipulativas, identifica também a sistemática despolitização social
realizada por ela: “Marx denuncia a opinião pública como falsa consciência: ela esconde de si
mesma o seu verdadeiro caráter de máscara do interesse de classe burguês.” 20
Marx critica a idéia burguesa de igualdade de oportunidades a todos, possibilitando a
ascensão dos não-proprietários em proprietários, já que a própria economia capitalista se
funda na exploração de sua força de trabalho. Por isso, nunca existiria a possibilidade do
proletário, por sorte ou esforço próprio, se inserir na esfera pública burguesa.
A árdua realidade da desigualdade social capitalista, na qual as condições de
miserabilidade da classe trabalhadora se opõem à luxuosa vida burguesa, por si só já contraria
os anseios universalistas da burguesia em relação à esfera pública.
Não é possível conceber um Estado universal, representante dos interesses de toda a
sociedade, se esta sociedade é completamente antagônica. Ao contrário, nessas condições, o
capitalismo só poderia continuar se desenvolvendo se a burguesia continuasse mantendo sua
intensa dominação política.
É nesse sentido que Marx concebe o Estado como o instrumento de dominação de
classe, o qual, em sua forma racional e democrática, se coloca, perfeitamente, como o
instrumento da dominação burguesa sobre a classe trabalhadora.
Por isso, ao utilizar a esfera pública como elemento de legitimação do Estado e do
direito, o que a burguesia faz é apenas garantir a sua dominação política:
19
HABERMAS, 1984, p. 147.
20
Idem, p. 149.
21
Idem, p. 151.
11
Ocorre que,
O que a burguesia não conseguiu prever, portanto, foi a organização social da classe
trabalhadora tomando também o espaço de discussão da esfera pública, inchando-a com redes
de comunicação diversas, como as associações de trabalhadores, sindicatos, partidos etc.
Em pouco tempo, os trabalhadores, enquanto maioria na sociedade, conseguem ganhar
predominância na esfera pública, com força, inclusive, de discussão política em nível
parlamentar, retirando o caráter exclusivamente burguês da esfera pública política, e
tornando-a um espaço de cunho social.
Entretanto, apesar da predominância proletária, a esfera pública política, o direito, o
Estado, enfim todos os mecanismos criados em favor da dominação política burguesa
continuaram mantendo a mesma estrutura e, conseqüentemente, a mesma finalidade. Uma
transformação social em favor do proletariado só seria possível com uma total transformação
dessas estruturas sociais, ou seja, somente através de uma revolução socialista.
Demonstração dessa hipótese é a própria realidade histórica. Para tentar despolitizar a
esfera pública tomada pelo proletariado, a burguesia, em nome do Estado, passa a negociar
com os trabalhadores seus direitos políticos e sociais, numa espécie de compensação dos
anseios proletários pela não participação no parlamento.
22
HABERMAS, 1984, p. 159.
Idem, p.152.
12
Aos poucos, a esfera pública vai rompendo com seus princípios fundamentais. A idéia
de possibilidade de participação nas discussões políticas de todo aquele que conseguisse a ela
galgar por sorte ou merecimento próprio, passa a ser negada, pois permitiria a inserção
também da classe proletária na esfera pública.
Outro fundamento repugnado foi o da publicidade, através do qual as decisões
políticas deveriam ser submetidas ao controle do público, reunido na esfera pública. A partir
do momento em que a esfera pública se expande e esse público passa a ser ocupado por
trabalhadores sem cultura e sem propriedade, esvazia-se também a idéia de publicidade.
Na realidade, com as novas condições, ocorre verdadeira mudança estrutural da esfera
pública, gerando a conseqüente transformação do Estado, enquanto instituição política
burguesa por excelência, o qual, apesar de continuar mantendo sua estrutura de Estado
Democrático de Direito, adota nova roupagem para conseguir realizar suas funções.
Para conseguir fragmentar a esfera pública, mediante a despolitização de suas
discussões, o Estado teve passou a assumir os diversos anseios sociais como funções
institucionais do Estado Democrático de Direito – o que, é claro, não se deu sem ônus à classe
trabalhadora - retirando, com isso, a sua deliberação do âmbito da esfera pública, num
verdadeiro esvaziamento da função política da mesma.
A primeira mudança nas funções estatais ocorreu em relação à função legislativa,
principal atingida pela inserção dos trabalhadores na esfera pública. Quando o proletariado
alcança o Parlamento, passa a também ter o poder de legislar, o que coloca em risco a
manutenção da burguesia no poder.
Com isso, a burguesia retira a importância do Parlamento, esvaziando a função
legislativa, e a transfere para o Executivo, que adota uma postura paternalista e
intervencionista, quebrando a harmonia da “divisão de poderes” do Estado Democrático do
primeiro momento, criada justamente para impedir a centralização do poder, como ocorria no
Absolutismo Monárquico.
O Estado assume as despesas sociais com saúde, educação, auxílios contra o
desemprego, acidentes ou velhice, despesas que, anteriormente, eram suportadas pela família,
a qual, a partir do fortalecimento do Estado, perde até a sua finalidade social.
24
HABERMAS, 1984, p. 232.
13
Para manter essa fragmentação, os indivíduos passam a ser considerados massa, com
forte caráter mercadológico. A cultura se transforma em bem de consumo. A educação erudita
mantém-se como privilégio dos mais abastados, mas os bens culturais e de lazer, de um modo
geral, popularizam-se e massificam-se cada vez mais.
O público passa a ter amplo acesso aos bens culturais, facilitado pelo próprio mercado,
tanto econômica quanto psicologicamente, barateando-os e simplificando seu conteúdo.
Com a mercantilização da cultura e da política e a imposição de uma nova
racionalidade, a sociedade, que havia tomado as rédeas da esfera pública, se desmobiliza e a
nova esfera pública burguesa passa a se identificar pelo consumo, sua principal característica:
25
BAHRDT apud HABERMAS, 1984, p. 188.
26
ENCARNAÇÃO, op. cit., p. 23.
14
27
HABERMAS, 1984, p. 255.
28
Idem, p. 252.
29
Idem, p. 228-229.
15
30
ENCARNAÇÃO, op. cit., p. 26-27.
31
HABERMAS, 1984, p. 116.
32
HEGEL apud HABERMAS, 1984, p. 142.
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33
BENETTI, Liliane. O fundamento da legitimidade do direito na teoria de Jürgen Habermas. São Paulo:
USP, 2002. Dissertação (Mestrado em Filosofia do Direito), Faculdade de Direito, Universidade de São Paulo,
2002. p. 87.
34
Idem, ibidem.
17
É nesse sentido que Habermas afirma não existir Estado de Direito sem democracia,
especialmente a democracia deliberativa, enquanto procedimento efetivo de participação
política, a qual, ao mesmo tempo, é criada e legitimada por processos discursivos de formação
da opinião pública e, conseqüentemente, de uma vontade política coletiva.
Entretanto, Habermas se ilude com a plausibilidade prática desse tipo de democracia,
uma vez que um procedimento como este pressupõe uma sociedade civil livre e igualitária, na
qual seja possível a igualdade tanto de participação quanto de acesso às informações
necessárias ao debate político.
Seria pré-condição de uma democracia deliberativa, fundada no agir comunicativo,
assegurar a toda sociedade, sem qualquer diferenciação social, condições mínimas de
comunicação que assegurassem efetivamente a formação de uma vontade coletiva fundada no
acordo consensual. Tal proposta seria, portanto, utópica em sociedades menos desenvolvidas,
como a sociedade brasileira 35, ou pensando em termos mais amplos, até mesmo em qualquer
sociedade de classes.
Ou então o que Habermas deseja é justamente manter a legitimidade da dominação
burguesa, já que a esta se restringe a possibilidade de participação no procedimento
democrático, tanto o acesso à atividade deliberativa quanto a participação política nas
instituições democráticas, o que se coaduna com sua afirmativa de impossibilidade de
existência do Estado de Direito sem a democracia com os objetivos práticos da democracia
deliberativa.
Partindo da concepção do Estado de Direito como a instituição criada pela burguesia
para possibilitar o exercício de seus anseios políticos e econômicos e manter a legitimidade de
sua dominação política, observa-se a veracidade de sua afirmativa, eis que a democracia, em
nossa sociedade, tem como objetivo justamente restringir todo o procedimento de participação
política à própria burguesia, o que faz com que qualquer decisão política burguesa se legitime
automaticamente.
Através da elaboração da teoria do agir comunicativo, o que Habermas pretende,
portanto, é tão-somente reafirmar a democracia burguesa, garantindo a essência da esfera
pública, enquanto arena de formação da vontade burguesa e não de uma vontade realmente
pública e emancipada. É um espaço de debate da burguesia através do qual é possível manter
o processo democrático e a legitimidade política restritos a ela. É, portanto, fenômeno
essencialmente moderno, totalmente racionalizado e arraigado de valores burgueses.
35
Importante salientar que toda a teoria habermasiana concentra sua análise na sociedade européia, restringindo,
portanto, sua abordagem histórica aos modelos europeus de esfera pública vigentes a partir do século XVIII.
18
Para Habermas, ainda hoje a esfera pública é o espaço social no qual se realiza a ação
comunicativa, onde os atores sociais podem erigir suas diversas experiências pessoais a
verdadeiros fatos políticos, comunicando-se como entes racionais e erigindo seus valores a
normas, mantendo, assim, seu caráter emancipador ainda nos dias de hoje.
Ao mesmo tempo, Habermas critica a teoria marxista como uma utopia distante da
realidade:
Entretanto, o que ele faz é criar uma teoria legitimadora da apatia social vivida
atualmente, na medida em que, com sua teoria sobre o agir comunicativo, substitui a práxis
transformadora pela argumentação pura e simples, rompendo de vez com a vertente
emancipatória da primeira geração da Escola de Frankfurt.
Assim, não obstante Habermas ainda ser considerado o mais importante filósofo da
segunda geração da Escola de Frankfurt, muito pouco sobrou da “Teoria Crítica da
Sociedade” e sua ruptura com o pensamento iluminista enquanto racionalidade típica da
modernidade.
Os primeiros frankfurtianos, como Adorno e Horkheimer não acreditavam na
possibilidade de superação dialética da razão instrumental; perderam a confiança na razão
iluminista, restando-lhes apenas uma “Dialética Negativa”, na tentativa de explicar as razões
dessa impossibilidade de libertação do homem pela razão. Adorno e Horkheimer,
36
ENCARNAÇÃO, op. cit., p. 120.
37
Idem, p. 119.
19
Ou seja, num contexto de crítica à metafísica, em pleno século XX, Habermas resolve
construir uma nova percepção, ainda mais ampliada, da racionalidade iluminista, sustentando
que, para se chegar a um consenso comunicativo, além do equilíbrio entre os diversos
interesses particulares, devem-se também respeitar as regras procedimentais relativas ao
discurso, ou seja, princípios universais que são ligados à própria lógica do discurso prático. 40
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
38
BENETTI, op. cit., p. 7.
39
HABERMAS, Jürgen. Modernidade: um projeto inacabado. In. ARANTES, Otília e Paulo. Um ponto cego no
projeto moderno de Jürgen Habermas. São Paulo: Brasiliense, 1992. p. 110-111.
40
CADERMATORI, Sérgio. Estado de direito e legitimidade: uma abordagem garantista. Porto Alegre: Livraria
do Advogado, 1999. p. 121, nota 269.
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