Você está na página 1de 15

COLÉGIO OBJETIVO DE NATAL

DISCIPLINA: LITERATURA BRASILEIRA

MARIA ISABEL REIS ARANTE

TEMPESTADE LITERÁRIA - CECÍLIA MEIRELES: UMA


ANÁLISE DA OBRA

Natal
Abril, 2023

TEMPESTADE LITERÁRIA—CECÍLIA MEIRELES: UMA ANÁLISE DA OBRA


TEMPESTADE LITERÁRIA - CECÍLIA MEIRELES: UMA ANÁLISE DA
OBRA

Por

Maria Isabel Reis Arante

Trabalho apresentado à disciplina de


Literatura Brasileira do Colégio Objetivo de
Natal, como requisito para avaliação referente
ao 1º trimestre do ano letivo.

Orientador(es): Prof.º Adrian

Natal
Abril, 2023

TEMPESTADE LITERÁRIA—CECÍLIA MEIRELES: UMA ANÁLISE DA OBRA


Sumário
INTRODUÇÃO………………………………………………………………… Página 01
DESENVOLVIMENTO……………………………………………………..… Página 02
Primeiro poema – poema número um: Motivo ..………......….....…………... Página 06
Derradeiro poema – poema número dois: Lua Adversa…………….………. Página 08
CONCLUSÃO……….........…………………………………………………….. Página 10
REFERÊNCIAS………………………………………......................................... Página 11

TEMPESTADE LITERÁRIA—CECÍLIA MEIRELES: UMA ANÁLISE DA OBRA


TEMPESTADE LITERÁRIA—CECÍLIA MEIRELES: UMA ANÁLISE DA OBRA
Trabalho de Literatura Brasileira – MARIA ISABEL REIS ARANTE – Página 1

INTRODUÇÃO

Esse trabalho dará vazão a alguns poemas de Cecília Meireles.


Quem foi Cecília Meireles?
Cecília Meireles
Poetisa brasileira
Biografia de Cecília Meireles
Segundo Diva Frazão, Cecília Meireles (1901-1964) foi uma poetisa, professora, jornalista e
pintora brasileira.
Foi a primeira voz feminina de grande expressão na literatura brasileira, com mais de 50
obras publicadas. Dessa vinculação herdou a tendência espiritualista que percorre seus trabalhos
com frequência. Embora mais conhecida como poetisa, deixou contribuições no domínio do conto,
da crônica, da literatura infantil e do folclore.
Cecília Benevides de Carvalho Meireles nasceu no Rio de Janeiro no dia 7 de novembro de
1901. Cecília Meireles fez o curso primário na Escola Estácio de Sá, onde recebeu das mãos de
Olavo Bilac a medalha do ouro por ter feito o curso com louvor e distinção.
Em 1917 formou-se professora na Escola Normal do Rio de janeiro. Em 1919, Cecília
Meireles lançou seu primeiro livro de poemas, "Espectros" com 17 sonetos de temas históricos.
Em 1922, por ocasião da Semana de Arte Moderna ela participou do grupo da revista Festa
ao lado de Tasso da Silveira, Andrade Muricy e outros, que defendiam o universalismo e a
preservação de certos valores tradicionais da poesia. Cecília Meireles estudou literatura, folclore e
teoria educacional.
O interesse de Cecília pela educação se transformou em livros didáticos e poemas infantis.
Ainda em 1934, a convite do governo português, Cecília viajou para Portugal, onde proferiu
conferências divulgando a literatura e o folclore brasileiros.
Entre 1936 e 1938, Cecília lecionou Literatura Luso-Brasileira na Universidade Federal do
Rio de Janeiro. Em 1938, o livro de poemas “Viagem” recebeu o Prêmio de Poesia, da Academia
Brasileira de Letras. Nesse mesmo ano, Cecília lecionou Literatura e Cultura Brasileira na
Universidade do Texas.
Proferiu conferência sobre Literatura Brasileira em Lisboa e Coimbra. Publicou em Lisboa o
ensaio "Batuque, Samba e Macumba", com ilustrações de sua autoria.
Trabalho de Literatura Brasileira – MARIA ISABEL REIS ARANTE – Página 2

Em 1942, Cecília tornou-se sócia honorária do Real Gabinete Português de Leitura do Rio
de Janeiro. Realizou várias viagens aos Estados Unidos, Europa, Ásia e África, fazendo
conferências sobre Literatura, Educação e Folclore.
Características da obra de Cecília Meireles
A rigor, Cecília Meireles nunca esteve filiada a nenhum movimento literário.
Sua poesia, de modo geral, filia-se às "tradições da lírica luso-brasileira".
-Não sou alegre nem sou triste: O uso frequente de elementos como o vento, a água, o mar,
o ar, o tempo, o espaço, a solidão e a música confirmam a inclinação neossimbolista, como no
verso: no vento que não retorna, e, em tão rápida existência, somente com o livro Viagem (1939) é
que Cecília Meireles ingressou no espírito poético da escola modernista.
A poetisa foi cuidadosa com a seleção vocabular e teve forte inclinação para a musicalidade
(traço associado ao Simbolismo), para o verso curto e para os paralelismos, a exemplo dos versos da
poesia medieval portuguesa:
"Noite perdida
Não te lamento:
embarco a vida
No pensamento,
busco a alvorada
do sonho isento,
Puro e sem nada,
- rosa encarnada,
intacta, ao vento.
Noite perdida,
noite encontrada,
morta, vivida." (…)
Poesia Reflexiva
Cecília Meireles cultivou uma poesia reflexiva, de fundo filosófico, que abordou temas
como a transitoriedade da vida, o tempo, o amor, o infinito e a natureza. Cecília foi uma escritora
intuitiva, que sempre procurou questionar e compreender o mundo a partir das próprias
experiências. Uma série de cinco poemas, todos intitulados Motivo da Rosa, da obra “Mar
Absoluto”, abordam o tema da efemeridade do tempo:
Trabalho de Literatura Brasileira – MARIA ISABEL REIS ARANTE – Página 3

1.º Motivo da Rosa
"Vejo-te em seda e nácar,
e tão de orvalho trêmula,
que penso ver, efêmera,
toda a Beleza em lágrimas
por ser bela e ser frágil." (…)
Poesia Histórica
A obra máxima de Cecília Meireles foi o poema épico-lírico Romanceiro da
Inconfidência, no qual se encontram os maiores valores de sua poética. Trata-se de uma narrativa
rimada, escrita em homenagem aos heróis que lutaram e morreram pela Pátria:
Romanceiro da Inconfidência
"Atrás de portas fechadas,
à luz de velas acesas,
entre sigilo e espionagem
acontece a Inconfidência.
E diz o vigário ao Poeta:
“Escreva-me aquela letra
do versinho de Virgílio…”
E dá-lhe o papel e a pena.
E diz o Poeta ao Vigário,
Com dramática prudência:
“Tenha meus dedos cortados,
antes que tal verso escrevam…”
Liberdade, Ainda que Tarde.". (…)
Trabalho de Literatura Brasileira – MARIA ISABEL REIS ARANTE – Página 4

Cecília Meireles faleceu no Rio de Janeiro, no dia 9 de novembro de 1964. Seu corpo foi
velado no Ministério da Educação e Cultura.
Em 1989, Cecília Meireles foi homenageada pelo Banco Central com sua foto estampada na
cédula de cem cruzados novos.

Frases de Cecília Meireles


“Aprendi com as primaveras a deixar-me cortar e a voltar sempre inteira.”
“Se em um instante se nasce e um instante se morre, um instante é o bastante para a vida
inteira.”
“Eu canto porque o instante existe e a minha vida está completa. Não sou alegre nem sou
triste: sou poeta.”
“Meu coração tombou na vida, tal qual uma estrela ferida pela flecha de um caçador.”
"O vento do meu espírito soprou sobre a vida e só ficaste tu que és eterno."
Obras de Cecília Meireles
➢ Espectros, poesia (1919)
➢ Nunca Mais... e Poema dos Poemas (1923)
➢ Baladas Para El-Rei, poesia (1925)
➢ Viagem, poesia (1925)
➢ Viagem, poesia (1939)
➢ Vaga Música, poesia (1942)
➢ Mar Absoluto, poesia (1945)
➢ Evocação Lírica de Lisboa, prosa (1948)
➢ Retrato Natural, poesia (1949)
Trabalho de Literatura Brasileira – MARIA ISABEL REIS ARANTE – Página 5

➢ Doze Noturnos de Holanda, poesia (1952)


➢ Romanceiro da Inconfidência, poesia (1953)
➢ Pequeno Oratório de Santa Clara, poesia (1955)
➢ Pístóia, Cemitério Militar Brasileiro, poesia (1955)
➢ Canção, poesia (1956)
➢ Giroflê, Giroflá, prosa (1956)
➢ Romance de Santa Cecília, poesia (1957)
➢ A Rosa, poesia (1957)
➢ Eternidade em Israel, prosa (1959)
➢ Metal Rosicler, poesia (1960)
➢ Poemas Escritos Na Índia (1962)
➢ Antologia Poética, poesia (1963)
➢ Ou Isto Ou Aquilo, poesia (1965)
➢ Escolha o Seu Sonho, crônica (1964)
Trabalho de Literatura Brasileira – MARIA ISABEL REIS ARANTE – Página 6

DESENVOLVIMENTO
Já sabemos quem é a autora e, doravante, passar-se-á à missão precípua desse opúsculo que
é analisar dois dos poemas dessa renomada poetisa.

Primeiro poema – poema número um:


Motivo
Eu canto porque o instante existe
e a minha vida está completa.
Não sou alegre nem sou triste:
sou poeta. Irmão das coisas fugidias,
não sinto gozo nem tormento.
Atravesso noites e dias
no vento.
Se desmorono ou se edifico,
se permaneço ou me desfaço,
— não sei, não sei. Não sei se fico
ou passo.
Sei que canto. E a canção é tudo.
Tem sangue eterno a asa ritmada.
E um dia sei que estarei mudo:
— mais nada.
* Resposta ao poema Motivo
Escrevo
porque o sentimento existe
e minha vida não está bem certa
eu sou alegre e sou triste
também sou poeta
Trabalho de Literatura Brasileira – MARIA ISABEL REIS ARANTE – Página 7

Análise
O poema é um convite a viver o agora "Cape Diem1", "o instante existe", por isso existe o
canto, um convite a esquecer o passado e futuro (tempos fora do presente do indicativo). E por ora,
Cecília Meireles compreende sua vida como completa, como se escrever poemas fosse suficiente
para sua vida.
É como uma resposta à sociedade, que cobra a satisfação e a felicidade humana, a poetisa se
despoja desses conceitos, como se o poeta fosse uma espécie de "fingidor" como diria Fernando
Pessoa: um ator que empresta suas habilidades de escrever versos à Palavra, seja ela alegre ou triste,
não importa, é um estado amortecido dos sentimentos.
Assim como todas as outras coisas, se acaba “irmão das coisas fugidias” o poeta existe
naquele instante. Cecília não está bem certa se seus versos são para edificação de quem lê ou para a
destruição, viver ou morrer já é indiferente, contanto que ela escreva.
Sua canção é absoluta, é o fim de todas as coisas, o único motivo válido; sua vida ou seus
sentimentos já não necessitam ser descritos. O poema vai permanecer eternamente e a poeta não,
assim ela relata a fugacidade da vida, a única certeza é a morte, se vivermos o hoje teremos a
sensação que nossa vida está completa.
* Fagner - Motivo - Eu Canto – 1978 (Youtube)2
https://www.youtube.com/watch?v=-xyOd2n6c2s

1 Carpe diem é parte da frase latina carpe diem quam minimum credula postero (literalmente: 'aproveita o dia e confia
o mínimo possível no amanhã'), extraída de uma das Odes, de Horácio (65 a.C. - 8 a.C.), e tem numerosas traduções
possíveis: "colhe o dia" (tradução literal), "desfruta o presente", "vive este dia", "aproveita o dia" ou "aproveita o
momento". O poeta latino exorta sua interlocutora, Leucônoe, a desfrutar do prazer que a vida oferece, a cada momento.
No contexto da decadência do Império Romano, a frase resumia o ideal horaciano, de origem estoico-epicurista, de
aproveitar o que há de bom em cada instante, já que o futuro é incerto. Entretanto a frase é frequentemente repetida,
com um sentido (inexato) de convite ao viver alegre e despreocupado. (Wikipédia)

2 YOUTUBE. Fagner - Motivo - Eu Canto – 1978. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=-


xyOd2n6c2s. Acesso em 09 abr. 2023.
Trabalho de Literatura Brasileira – MARIA ISABEL REIS ARANTE – Página 8

Derradeiro poema – poema número dois:


Lua Adversa
Tenho fases, como a lua,
Fases de andar escondida,
fases de vir para a rua…
Perdição da minha vida!
Perdição da vida minha!
Tenho fases de ser tua,
tenho outras de ser sozinha.
Fases que vão e que vêm,
no secreto calendário
que um astrólogo arbitrário
inventou para meu uso.
E roda a melancolia
seu interminável fuso!
Não me encontro com ninguém
(tenho fases, como a lua…).
No dia de alguém ser meu
não é dia de eu ser sua…
E, quando chega esse dia,
o outro desapareceu…
Vaga música (1942)
No canal https://www.youtube.com/@Versoqueseescreve há uma leitura desse poema3.

3 YOUTUBE. Poema de Cecília Meireles - Lua Adversa 🌙 (Poesia falada) | Verso que se escreve. Disponível em:
https://www.youtube.com/watch?v=kmvSAEWgkss. Acesso em: 09 abr. 2023.
Trabalho de Literatura Brasileira – MARIA ISABEL REIS ARANTE – Página 9

Análise
O eu lírico ("Eu lírico, eu poético ou sujeito lírico são nomenclaturas utilizadas para indicar
a voz que enuncia o poema". Veja mais sobre "Eu lírico" em:
https://brasilescola.uol.com.br/literatura/eu-lirico.htm)4) fica recluso assim como a lua em sua fase
minguante e depois aparece totalmente como a lua cheia. Portanto, diante do poema far-se-á a arte
do desencontro entre o estar só e o querer estar junto, é a ilusão de que o amor é uma forma
de estar sozinho com o outro.
Esse desencontro, discrepância gera tristeza, por não conseguir ser inteiramente de alguém
mesmo nas fases que se “vem para rua”, a pessoa não encontra mais quem ela deixou para trás na
sua fase de estar sozinha.
O poema “Lua Adversa” de Cecília Meireles é modernista e portanto apresenta versos
livres, (versos Livres, também chamados de versos irregulares ou heterométricos, são aqueles que
não seguem um padrão de métrica definido) liberdade na escolha de palavras, síntese na linguagem,
parágrafos curtos e busca da linguagem brasileira.
O poema escrito por Cecília Meireles compara as fases do amor com as fases da lua,
mostrando que o encontro só se sustenta pelo desejo de estar junto mesmo com as arestas que
existem.
Adverso quer dizer contrário, logo “Lua Adversa” é um paradoxo entre estar só e ao mesmo
tempo desejar a companhia de alguém, ou seja, a pessoa que se encontra inversa à pessoa amada,
poderá ser encontrada nos avessos da vida em algum momento, pois todo avesso tem o seu lado
direito.
Esse descompasso entre o estar só e ter ao mesmo tempo desejo por uma companhia,
constitui a contradição do amor para criar as relações amorosas.

4 BRASIL ESCOLA. Eu Lírico. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/literatura/eu-lirico.htm. Acesso em


09 abr. 2023.
Trabalho de Literatura Brasileira – MARIA ISABEL REIS ARANTE – Página 10

CONCLUSÃO

Dado o exposto vimos que a poetisa Cecília Meireles que, em se tratar de escola literária,
pertence à Segunda Geração Modernista. Entretanto, é possível encontrar em sua obra influências
da poesia medieval, romântica, parnasiana e simbolista, como o uso de formas fixas, especialmente
o soneto, técnicas tradicionais de versificação, temas filosóficos e espirituais e linguagem elevada,
que tornam a sua obra singular no contexto histórico em que é desenvolvida.
Poetisa intimista, próxima à abstração da música, ao sentimento religioso e à fluidez do
sonho, seus temas recorrentes são o amor, a morte, o tempo e a eternidade, o que se evidencia já a
partir dos títulos de seus livros, como Vaga Música e Mar Absoluto.
Trabalho de Literatura Brasileira – MARIA ISABEL REIS ARANTE – Página 11

REFERÊNCIAS
BRASIL ESCOLA. Eu Lírico. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/literatura/eu-
lirico.htm. Acesso em 09 abr. 2023.
LEITE, Carlos William. Os 10 melhores poemas de Cecília Meireles. Disponível em:
https://www.revistabula.com/7668-os-melhores-poemas-de-cecilia-meireles/. Acesso em: 08 abr.
2023.
RECANTO DAS LETRAS. MOTIVO. Disponível em:
https://www.recantodasletras.com.br/analise-de-obras/5452397.Acesso em 09 abr. 2023.
UFPEL. Lua Adversa [Cecília Meireles]. Disponível em:
https://wp.ufpel.edu.br/aulusmm/2020/03/25/lua-adversa-cecilia-meireles/. Acesso em: 08 abr.
2023.
WIKIPÉDIA, A ENCICLOPÉDIA LIVRE. Carpe diem. Disponível em:
https://pt.wikipedia.org/wiki/Carpe_diem. Acesso em 09 abr. 2023.
YOUTUBE. Fagner - Motivo - Eu Canto – 1978. Disponível em:

🌙
https://www.youtube.com/watch?v=-xyOd2n6c2s. Acesso em 09 abr. 2023.
___________.Poema de Cecília Meireles - Lua Adversa (Poesia falada) | Verso que se escreve.
Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=kmvSAEWgkss. Acesso em: 09 abr. 2023.

Você também pode gostar