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Métodos de Cálculos das Necessidades de

Energia e Nutrientes para o Atleta mais


Exercícios Práticos

APRESENTAÇÃO

A preocupação dos atletas com a alimentação, visando a um desempenho melhor em suas


atividades, é um dado comum há bastante tempo. Entretanto, muitos atletas desconhecem que
suas necessidades nutricionais não diferem de maneira tão pronunciada daquelas de pessoas
fisicamente ativas, variando conforme a modalidade do esporte, a intensidade e a duração dos
treinos e competições. Assim, torna-se fundamental a oferta adequada de calorias e nutrientes ao
longo do dia, para que o atleta possa satisfazer plenamente seus requerimentos e, dessa forma,
atingir a melhor performance esportiva.

Nesta Unidade de Aprendizagem, você vai estudar as recomendações de energia e nutrientes


para atletas, assim como os métodos de cálculos para definir suas necessidades energéticas, por
meio de exercícios práticos.

Bons estudos.

Ao final desta Unidade de Aprendizagem, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

• Definir as necessidades de energia e nutrientes para o atleta.


• Reconhecer a variabilidade dos requerimentos nutricionais conforme as modalidades
esportivas.
• Demonstrar alguns métodos utilizados para estimar as necessidades de energia e de
nutrientes dos atletas.

DESAFIO

Você sabia que, por meio de uma alimentação adequada, o atleta consegue atingir seus
requerimentos de energia e nutrientes, assim como o de líquidos? Ele também conseguirá
reduzir o risco de lesões musculares pelo esforço e repor suas perdas de substratos energéticos e
de eletrólitos durante os treinamentos ou competições.
Você é nutricionista da equipe de vôlei masculina da cidade Vale dos Príncipes. O time está se
preparando para participar de uma competição daqui a 15 dias. Os treinamentos são diários, de
segunda a sexta-feira, e têm duração de 3 horas. Guiando-se por essa situação hipotética,
responda:

INFOGRÁFICO

Você sabia que as necessidades de energia e de nutrientes variam conforme a modalidade do


esporte, intensidade e duração dos treinos e competições? Portanto, conhecer e aplicar métodos
pertinentes ao cálculo das necessidades nutricionais de atletas e praticantes de atividade física
torna-se fundamental para que os requerimentos possam ser contemplados e a melhor
performance esportiva seja atingida. Confira no Infográfico!
CONTEÚDO DO LIVRO

No trecho disponibilizado, os autores destacam o fato de que os atletas necessitam de


quantidades variáveis de calorias. Leia o capítulo a seguir e aprofunde seus conhecimentos.
NUTRIÇÃO
DIETÉTICA
AVANÇADA

Sandra Maria
Pazzini Muttoni
Métodos de cálculos
das necessidades de energia
e nutrientes para o atleta
+ exercícios práticos
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:
„„ Definir as necessidades de energia e nutrientes para o atleta.
„„ Reconhecer que os requerimentos nutricionais variam conforme
as modalidades esportivas;
„„ Demonstrar alguns métodos que podem ser utilizados para es-
timar as necessidades energéticas e de nutrientes para atletas.

Introdução
A preocupação dos atletas quanto à sua alimentação, visando um
melhor desempenho em suas atividades, é condição comum há bas-
tante tempo. Entretanto, percebe-se que muitos desconhecem que
suas necessidades nutricionais não diferem de maneira tão pronun-
ciada daquelas específicas a pessoas fisicamente ativas, variando con-
forme a modalidade do esporte, intensidade e duração dos treinos e
competições. Assim, torna-se fundamental a oferta adequada de ca-
lorias e nutrientes ao dia, para que o atleta possa satisfazer plenamen-
te seus requerimentos e, desta forma, atingir a melhor performance
esportiva. Neste capítulo, você vai estudar as recomendações de
energia e nutrientes para atletas, assim como os métodos de cálculos
para definir suas necessidades, através de exercícios práticos.

O atleta e suas necessidades energéticas


Você sabe que a necessidade de energia é específica para cada indivíduo, con-
forme o estágio de vida em que se encontra e de acordo com o seu estado de
saúde. Também o esforço físico desenvolvido influencia proporcionalmente
os requerimentos energéticos, conforme o tipo, a intensidade e a duração da
182 Nutrição e dietética avançada

atividade esportiva. E consegue perceber que o ideal é que a energia consu-


mida seja peculiar a estas necessidades, caso contrário, poderá ocorrer ganho
ou perda de peso. Agora, saiba que para atletas, o peso e a composição cor-
poral repercutem diretamente no seu condicionamento físico, trazendo im-
pacto no rendimento e na performance.

Equilíbrio energético
O equilíbrio energético é importante para o treinamento e competição efi-
cazes, uma vez que qualquer aumento ou redução de peso deve ser controlado
adequadamente. Você sabia que o atleta deve ingerir um número de calo-
rias suficiente para fornecer energia necessária ao organismo e, caso isso não
ocorra, a sua performance pode ficar abaixo do esperado? Consequentemente,
entenda que quando a reserva de calorias no organismo é frequentemente
baixa, o atleta perderá peso à medida que vai utilizando a energia armazenada
no seu corpo. Por outro lado, caso o atleta consuma uma demasiada quanti-
dade de calorias, estas serão armazenadas sob a forma de gordura, afetando
negativamente o nível de rendimento. Então, para que ocorra um equilíbrio
energético, a ingestão calórica deve ser proporcional às necessidades totais do
atleta, quer seja para os dias de treinamento, ou nas competições.

Necessidades de energia
É importante saber que o componente mais importante para o atleta, tanto
para o treinamento esportivo como para o desempenho físico bem-sucedido
é fornecer quantidades adequadas de calorias, a fim de suportar o gasto ener-
gético e manter a força, a resistência a massa muscular e o estado de saúde.
Você sabe como a necessidade de energia varia? Ela varia conforme o peso
corporal, a altura, a idade, o gênero e a taxa metabólica, também com o tipo,
a frequência, a intensidade e a duração da atividade.
Você sabia que uma das maneiras mais precisas de se definir o gasto ener-
gético no exercício é por intermédio de testes ergoespirométricos? Sabe por
quê? É que eles medem o volume de oxigênio consumido, ou por meio de
Métodos de cálculos das necessidades de energia e nutrientes para o atleta + exercícios práticos 183

equivalentes metabólicos gastos (MET). Entenda o que são os MET: eles re-
presentam o consumo de oxigênio do indivíduo, levando em consideração
que 1 MET corresponde a cerca de 3 mL/kg/min de oxigênio consumidos em
repouso. O gasto energético na atividade física pode ser expresso em múlti-
plos de MET, ou seja, um exercício pode apresentar um dispêndio energé-
tico de 3 MET, significando três vezes a energia gasta em repouso. Quando
você trabalhar com atletas profissionais, os testes ergoespirométricos serão
praticamente indispensáveis, devido à sua acurácia. Porém, o custo elevado
dos equipamentos e de operação por vezes inviabilizam o uso destes métodos
e, assim, as equações que estimam o gasto energético, mesmo apresentando
resultados menos precisos, são alternativas viáveis especialmente para o aten-
dimento de pessoas fisicamente ativas, sendo que as equações de predição da
DRI (IOM, 2000), ou da FAO/OMS/UNU (1985), podem ser utilizadas.
Saiba que a necessidade de energia total diária deve ser o somatório da
taxa metabólica basal (em repouso), gasto energético nas atividades cotidianas
(ocupacionais, de lazer, locomoção), energia para a prática de atividade física
e ajustes necessários para promover modificações na composição corporal,
quando necessário. Veja que no caso de atletas, as tabelas com estimativas do
gasto energético durante um determinado período de tempo, em MET ou em
calorias, para diferentes tipos de atividades físicas, podem ser muito úteis na
presença de limitações financeiras ou de tempo para a aplicação de métodos
mais precisos. A seguir, uma das maneiras mais utilizadas para definição das
necessidades de energia de atletas (segundo AINSWORTH et al., 2000):

Energia Gasta MET × Peso (kg) × Tempo de atividade (min)


=
com a atividade 60

Na Tabela 1, temos alguns valores de MET para o cálculo dos requeri-


mentos energéticos diários de atletas. Veja:
184 Nutrição e dietética avançada

Tabela 1. Equivalentes metabólicos (MET) conforme o tipo de modalidade esportiva.

Atividade física MET

Alongamento 2,5

Arco e flecha 3,5

Atletismo (peso, disco, martelo) 4

Atletismo (salto em altura, distância e triplo) 6

Atletismo (obstáculo, barreira) 10

Balé 4,8

Basquete (competição) 8

Boxe (luta) 12

Caminhada (marcha) 6,5

Futebol (casual) 7

Futebol (competição) 10

Ginástica (geral) 4,5

Hidroginástica 4

Jiu-Jitsu 10

Judô 10

Caratê 10

Natação (livre, esforço médio) 8,5

Corrida 9

Spinning 9

Tênis 7
Fonte: Adaptado de AINSWORTH et al., 2000.

Sendo assim, um boxeador, com 78 kg, durante uma luta, com 45 minutos de
duração, teria um acréscimo de 702 kcal em suas necessidades diárias (12 MET
× 78 kg × 45 min / 60). Para atletas, de maneira geral, considere que a atividade
física ocasiona um aumento nas necessidades energéticas de 1,5 a 1,7 vezes a
energia produzida, ou seja, cerca de 37 a 41 kcal/kg de peso corporal por dia, po-
dendo ter uma variação de 30 a 50 kcal/dia, conforme os objetivos propostos para
Métodos de cálculos das necessidades de energia e nutrientes para o atleta + exercícios práticos 185

cada atleta. Desta forma, você verá que as calorias necessárias ao treinamento, ou
à competição esportiva, precisam ser somadas àquelas necessárias no dia a dia,
sendo que os requerimentos energéticos totais podem variar bastante, conforme
a especificidade do exercício. Conforme a Tabela 2, temos alguns exemplos de
dispêndio energético por atividade:

Tabela 2. Gasto energético aproximado de diferentes atividades e gastos calóricos projetados


para um indivíduo com 68 kg de peso corporal (valores referentes ao gasto energético total).

Fonte: Wardlaw e Smith, 2013.

Saiba que em algumas modalidades esportivas, é frequente a perda de peso proposital


antes das competições (pugilistas, boxeadores, judocas, jóqueis e remadores), com o in-
tuito de serem aprovados para competir em categorias de menor peso, pois teriam van-
tagem mecânica em relação ao seu oponente de menor estatura. A redução ponderal
pode chegar até 10 kg na forma de água, caso sejam utilizados medicamentos diuréticos,
ou um moletom de plástico para exacerbar o suor durante os exercícios, ou ainda, os atletas
podem fazer sauna para provocar maior sudorese. Entretanto, é importante saber e atentar
que perder uma pequena quantidade de peso corporal através da desidratação (em torno
de 2%) pode afetar negativamente a resistência e o desempenho físico, especialmente em
climas quentes. E manter um padrão repetitivo de perda de peso, situado acima de 5% do
peso corporal por desidratação, pode levar à descompensação renal e até à morte.
186 Nutrição e dietética avançada

Caso o atleta apresentar fadiga constantemente, a primeira medida que


você deve tomar é verificar se a ingestão calórica está adequada aos valores
propostos. Assim, a manutenção de um registro cuidadoso sobre o consumo
alimentar diário representa um aspecto fundamental no processo de controle
do equilíbrio energético e da performance esportiva.

O excesso de peso pode influenciar negativamente o rendimento esportivo e a per-


formance do atleta? Assim, na avaliação da composição corporal, ao ser verificado um
excesso de gordura, você deve orientar o atleta a reduzir a ingestão de alimentos, em
cerca de 200 a 500 kcal/dia, associada a um programa de exercícios regulares, até que
o percentual de gordura desejável seja alcançado.

Necessidades de nutrientes para o atleta


Saiba que o melhor desempenho físico do atleta é influenciado pelo bom hábito
alimentar, do que pela eliminação de alguns alimentos, pois não existe nenhum
alimento ou combinação de alimentos que possa compensar a falta de treina-
mento. É importante saber que nesse contexto, você deve considerar o forneci-
mento de nutrientes básicos para atender às necessidades. Ainda que a incorpo-
ração de práticas alimentares deve preservar a saúde em longo prazo, procurando
evitar doenças carenciais, para obtenção e manutenção de massa muscular e de
níveis de gordura corporal adequados e, finalmente, a adequação nutricional que
promova a recuperação entre as sessões de treinamento e competições.

1. Carboidratos: você sabe que o organismo apresenta uma capacidade


limitada de estocar carboidratos sob a forma de glicogênio (no fígado
e nos músculos). Logo, a reposição adequada dos estoques corporais
de glicose, através de uma alimentação equilibrada, evita a redução no
desempenho em treinamentos e competições. Estima-se que a ingestão
de carboidratos correspondente a 60 e 70% do aporte calórico diário
atende à demanda de um treinamento esportivo. Para otimizar a recu-
peração muscular, você deve recomendar o consumo de carboidratos
entre 5 e 8 gramas/kg de peso/dia. Em atividades de longa duração e/ou
Métodos de cálculos das necessidades de energia e nutrientes para o atleta + exercícios práticos 187

treinos intensos há necessidade de até 10 gramas/kg de peso/dia para a


adequada recuperação do glicogênio muscular e/ou aumento da massa
muscular. Para provas longas, os atletas devem consumir entre 7 e 8
gramas/kg de peso/dia ou 30 a 60 gramas de carboidrato para cada
hora de exercício. Após o exercício exaustivo, você deve recomendar
a ingestão de carboidratos simples entre 0,7 e 1,5 gramas/kg de peso
no período de quatro horas, o que é suficiente para a ressíntese plena
de glicogênio muscular. A ingestão de carboidratos deve ser adaptada
à intensidade dos treinamentos, ou seja, em dias de treinamentos mais
extenuantes, você deve aumentar a ingestão de carboidratos e em dias
de treinamentos mais leves, deve reduzir. A ingestão insuficiente de
carboidratos ocasiona a síntese de glicose por meio de aminoácidos
(gliconeogênese hepática) que seriam utilizados na manutenção, re-
paro e hipertrofia dos tecidos. Além disso, o baixo consumo de car-
boidratos reduz a mobilização das gorduras para o fornecimento de
energia, aumentando ainda mais a participação das proteínas como
substratos energéticos.
2. Proteínas: as proteínas são utilizadas para síntese de massa muscular
e de novos compostos proteicos induzidos pelo exercício, assim como
para o reparo e recuperação dos tecidos após a atividade. Entenda que
os exercícios de força exigem maior consumo de proteínas quando com-
parados com as demandas exigidas pelos trabalhos de resistência. Para
atletas de atividades de resistência (endurance), recomende a ingestão
de 1,2 a 1,6 gramas/kg de peso/dia. Para as modalidades de força, reco-
mende o consumo de 1,4 a 1,8 gramas/kg de peso/dia. Saiba que esses
valores seriam suficientes para manter o balanço nitrogenado positivo,
ou equilíbrio proteico. Você deve conscientizar os atletas e seus treina-
dores de que a exacerbação do consumo proteico (por alimentos e/ou
suplementos) não provoca aumento adicional de massa muscular, nem
traz benefícios “extras” no desempenho esportivo. Aliás, o excesso na
ingestão proteica, acima do requerimento diário, pode implicar em so-
brecarga ao organismo, especialmente às funções hepática e renal, em
virtude da elevação nas concentrações de ureia e creatina. Também, há
um limite para o acúmulo de proteína nos diversos tecidos corporais e
excesso no consumo acaba sendo degradado e utilizado para a produção
de energia (o excedente de proteínas não irá contribuir para o balanço
proteico no músculo, mas sim, será aproveitado para reserva de energia).
188 Nutrição e dietética avançada

3. Lipídeos: em geral, a recomendação de ingestão dietética de lipídeos


para atletas e pessoas fisicamente ativas é a mesma para a população
geral, ou seja, cerca de 1 grama/kg de peso corporal/dia, o que equi-
vale, em média, a 30% do valor energético total da dieta. Veja que a
proporção dos ácidos graxos deve permanecer em 10% de saturados,
10% de poliinsaturados e 10% de monoinsaturados. Além de parti-
cipar como substrato energético, os lipídios protegem órgãos vitais e
articulações, reduzindo o impacto negativo de possíveis traumatismos
durante treinamentos e competições. Também atuam como isolantes
térmicos, principalmente em atividades em ambientes frios (natação,
mergulho, canoagem, alpinismo, etc.). Salienta-se que dietas restritas
em lipídeos podem gerar carência de vitaminas lipossolúveis (A, D, E,
K) e suas consequências.
4. Vitaminas: saiba que a carência de vitaminas têm impacto bastante
negativo sobre o desempenho de atletas. A deficiência de vitaminas do
complexo B influenciam negativamente no metabolismo energético,
além de gerarem prejuízos à função neuromotora, provocando fadiga,
dores musculares e queda na performance. Entenda que durante o exer-
cício físico, a produção de radicais livres é acentuada devido a grande
utilização de oxigênio. Assim, a baixa ingestão de vitamina A, vita-
mina C, vitamina E e outros compostos antioxidantes, pode predispor
o atleta à infecções, em função do prejuízo ao sistema imunológico.
Apesar disso, muitos estudos mostram que a suplementação vitamínica
não é capaz de aprimorar o desempenho esportivo, nem de suportar
ritmo mais intenso de treinamentos. Se você aumentar o aporte ener-
gético e de macronutrientes para o exercício em geral irá promover au-
mento concomitante da ingestão de vitaminas, representando mais um
fator na falta de justificativa para a suplementação. Para atletas em trei-
namento intenso, apesar de poucas evidências científicas, a ingestão de
500 a 1.500 mg diárias de vitamina C e de vitamina E seriam aliados
à preservação do sistema imunológico e para reduzir efeitos negativos
causados pelo aumento de radicais livres (função antioxidante).
5. Minerais: assim como as vitaminas, os minerais são componentes es-
senciais à manutenção dos processos metabólicos, modulando, entre
outras, as reações de produção de energia, na manutenção das estru-
turas celulares e teciduais, além de estarem envolvidos na contração
Métodos de cálculos das necessidades de energia e nutrientes para o atleta + exercícios práticos 189

muscular e no transporte de oxigênio. O cálcio representa papel fun-


damental na estrutura óssea e na contração muscular. O ferro ativa a
hemoglobina para mioglobina, captando e transportando oxigênio nos
tecidos, sendo que sua deficiência também provoca anemia ferropriva,
levando à redução do rendimento esportivo (causa fadiga, sonolência
e falta de concentração). As recomendações atuais indicam uma in-
gestão de pelo menos 1.000 mg/dia de cálcio para prevenir possíveis
deficiências. Quanto ao ferro, você deve recomendar a ingestão de 15
mg/dia para mulheres e 10 mg/dia para os homens. Em relação aos
outros minerais, recomende os valores propostos nas ingestões diárias
de referência (DRI – dietary reference intakes).
6. Reposição hídrica: você sabe que a água representa uma boa opção
de reidratação para o exercício por ser facilmente disponível, ter custo
acessível e ocasionar esvaziamento gástrico mais rápido. Entretanto,
tem menor concentração de sódio e não apresenta carboidratos, di-
ficultando o processo de equilíbrio hidroeletrolítico e a reposição de
energia. Em exercícios prolongados, que ultrapassam uma hora de du-
ração, você deve recomendar líquidos contendo de 0,5 a 0,7 g/litro (20
a 30 mEq/L) de sódio. Para garantir que o indivíduo inicie o exercício
bem hidratado, recomende que ele beba cerca de 250 a 500 mL de água
duas horas antes do exercício. Durante o exercício recomende iniciar
a ingestão já nos primeiros 15 minutos e continuar o consumo a cada
15 ou 20 minutos. O volume a ser ingerido varia conforme as taxas de
sudorese, geralmente entre 500 a 2.000 mL/hora e a bebida, preferen-
cialmente, deve estar em temperatura entre 15 e 22ºC. É importante
que após o exercício, a ingestão de líquidos prossiga para compensar as
perdas adicionais de água pela urina e pelo suor.
190 Nutrição e dietética avançada

O sucesso no esporte profissional requer uma combinação de talento genético e trei-


namento adequado. Entretanto, muitos atletas são tão similares em suas potenciali-
dades físicas que a vitória pode ser medida por diferença de milímetros ou de décimos
de segundo. Tal fato tem feito com que os atletas, treinadores e cientistas esportivos
busquem, além das técnicas de treinamento, diferentes recursos que possam otimizar
o desempenho e a performance atlética, que são os Recursos Ergogênicos. Os recursos
ergogênicos podem ser classificados em cinco categorias. São elas:
„„ Métodos mecânicos: compostos por equipamentos e roupas esportivas mais le-
ves, ou com design aerodinâmico, assim como a depilação pré-competição entre
nadadores.
„„ Métodos psicológicos: hipnose e controle de estresse e ansiedade.
„„ Métodos farmacológicos: administração de substâncias (orais ou injetáveis), tais
como: cafeína, álcool, esteroides anabólicos androgênicos, eritropoetina.
„„ Métodos fisiológicos: bicarbonato de sódio, citrato de sódio e infusão de sangue.
„„ Métodos nutricionais: oferta de substâncias orais, tais como: carboidratos, amino-
ácidos de cadeia ramificada, creatina, carnitina, vitaminas e minerais.

Os suplementos proteicos representam um dos recursos ergogênicos mais utilizados,


tanto por atletas como por pessoas fisicamente ativas. A utilização de proteína do soro
do leite (whey protein), ou da clara do ovo (albumina), quando usadas, devem fazer parte
da ingestão proteica total (não como “proteína extra”). Quanto à suplementação com
aminoácidos de cadeia ramificada (BCAA, branched chained amino acids), o principal
efeito benéfico parece ser em relação à redução de fadiga (tanto da fadiga periférica
= muscular quanto da fadiga central = sistema nervoso) durante o exercício prolon-
gado. Também é especulada a possível ação benéfica do BCAA no anabolismo, através
do estímulo à liberação de hormônio de crescimento, de insulina e de testosterona.
Vale ressaltar que a ingestão proteica, após o exercício físico de hipertrofia, favorece o
aumento de massa muscular somente quando combinado com a ingestão de carboi-
dratos, sendo a dose usualmente recomendada de 10 gramas de proteína e 20 gramas
de carboidrato.
Métodos de cálculos das necessidades de energia e nutrientes para o atleta + exercícios práticos 191

Cálculo das necessidades de energia


e nutrientes para atletas – exemplos práticos
Conforme você viu nos tópicos anteriores, os requerimentos de energia e nu-
trientes para atletas variam conforme diversos fatores, tais como: idade, gê-
nero, peso e composição corporal, além da modalidade esportiva, intensidade
e duração. Então, vamos ver alguns exemplos práticos (situações hipotéticas)?

1. Nadador, sexo masculino, 32 anos, 76kg, treinamento diário de 3 horas.


Qual a necessidade energética diária deste atleta? Quais suas necessi-
dades de proteína? Sugira a distribuição de macronutrientes ao dia.

Esta é uma das equações mais utilizadas para o cálculo do VET:

VET = TMB × FA (segundo FAO/OMS/UNU, 1985)


Equação para o cálculo da taxa metabólica basal, segundo
idade, peso e altura:
TMB = 11,6 P + 879
TMB = (11,6 × 76) + 879
TMB = 881,6 + 879
TMB = 1.760,6 kcal

Fator atividade para as atividades cotidianas (ativ. moderada):


VET = 1.760,6 × 1,78
Equivalente metabólico, conforme a modalidade esportiva:
VET = 3.133,86 kcal/dia

Energia Gasta com MET × Peso (kg) × Tempo de atividade (min)


=
a Atividade 60

Energia Gasta com a Atividade = 8,5 × 76 × 180 / 60 = 1.938 kcal


3.133,86 kcal + 1.938 kcal
VET do atleta = 5.071,86 kcal/dia (para treinamento de 3 horas/dia)
192 Nutrição e dietética avançada

Atividade de resistência (natação) = 1,2 a 1,6 g/kg/dia

- Necessidades proteicas: 76 × 1,6 = 121,6 gramas/dia


- Distribuição proposta para os macronutrientes (QVP):

Nutriente % do VET Kcal Gramas

CHO 60 3.043,11 760,77

PTN 10 507,18 126,79

LIP 30 1.521,55 169,06

VET 5.071,86 kcal

Valores percentuais conforme as recomendações e necessidades do atleta.

2. Judoca, sexo feminino, 21 anos, 62 kg, 1,65 m, treinamento diário de 2


horas. Qual a necessidade energética diária desta atleta? Quais suas ne-
cessidades de proteína? Sugira a distribuição de macronutrientes ao dia.

VET = TMB × FA (segundo FAO/OMS, 1985)


TMB = 14,7 P + 496
TMB = (14,7 × 62) + 496
TMB = 911,4 + 496
TMB = 1.407,40 kcal
Fator atividade para as atividades cotidianas (ativ. moderada):
VET = 1.407,40 × 1,64
Equivalente metabólico, conforme a modalidade esportiva:
VET = 2.308,13 kcal/dia

Energia Gasta com MET × Peso (kg) × Tempo de atividade (min)


=
a atividade 60

Energia Gasta com a Atividade = 10 × 62 × 120 / 60 = 1.240 kcal


2.308,13 kcal + 1.240 kcal
VET do atleta = 3.548,13 kcal/dia (para treinamento de 2 horas/dia)
Métodos de cálculos das necessidades de energia e nutrientes para o atleta + exercícios práticos 193

Atividade de força (judô) = 1,4 a 1,8 g/kg/dia


- Necessidades proteicas: 62 × 1,8 = 111,6 gramas/dia
- Distribuição de macronutrientes proposta (QVP):

Nutriente % do VET Kcal Gramas

CHO 60 2.128,87 532,21

PTN 12 425,77 106,44

LIP 28 993,47 110,38

VET 3.548,13 kcal


Valores percentuais conforme as recomendações e necessidades do atleta.
194 Nutrição e dietética avançada

1. Coeficiente de equivalente 5. José é um maratonista de 24 anos,


metabólico que representa o que tem 72 kg, com uma rotina
consumo de oxigênio do indivíduo, de treinamento diário de 3 horas.
sendo utilizado para estimar as Quais seriam suas necessidades de
calorias necessárias a atividade energia (VET), a partir do método
esportiva (gasto energético da FAO/OMS (1985), considerando
decorrente da atividade): um Fator Atividade de 1,78 (para as
a) TMB. atividades cotidianas) e o valor de
b) VET. 9 MET (considerar o resultado com
c) GEB. arredondamento)?
d) MET.
VET= TMB (taxa metabólica basal) × FA
e) GER.
2. Qual é o percentual adequado de Equações para o cálculo da TMB:
carboidratos em relação ao VET (valor
energético total), suficiente para Idade
atender às demandas de um atleta/ (anos) Masculino Feminino
treinamento esportivo?
a) 60 a 70% do VET. 18 a 30 15,3 × P 14,7 × P
b) 45 a 65% do VET. + 679 + 496
c) 60 a 80% do VET. 30 a 60 11,6 × P 8,7 × P
d) 30 a 45% do VET. + 879 + 829
e) 30 a 60% do VET.
3. Quanto às recomendações de Acima 13,5 × P 10,5 × P
proteína, qual o valor que deve ser de 60 + 487 + 596
oferecido a um atleta de endurance P = Peso atual (em kg)
(resistência) ao dia?
a) 1,2 a 1,8 g/kg/dia. a) 3.169 kcal.
b) 0,8 a 1,2 g/kg/dia. b) 5.113 kcal.
c) 1,4 a 1,8 g/kg/dia. c) 1.944 kcal.
d) 1,6 a 2,4 g/kg/dia. d) 1.781 kcal.
e) 1,2 a 1,6 g/kg/dia. e) 3.725 kcal.
4. Qual o percentual médio de lipídeos,
em relação ao VET diário, que é reco-
mendado para atletas?
a) 15%.
b) 20%.
c) 30%.
d) 35%.
e) 45%.
Métodos de cálculos das necessidades de energia e nutrientes para o atleta + exercícios práticos 195

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Bras. Med. Espor., São Paulo, v. 9, n. 2, 2013.
TIRAPEGUI, J. Nutrição: fundamentos e aspectos atuais. 2. ed. São Paulo: Atheneu, 2006.
WARDLAW, G. M.; SMITH, A. M. Nutrição contemporânea. 8. ed. Porto Alegre: AMGH, 2013.

Leituras recomendadas
CARVALHO, F. G. et al. Métodos de avaliação de necessidades nutricionais e consumo
de energia em humanos. Rev. Simbio-Logias, v. 5, n. 7, dez./2012.
CONSUMO ALIMENTAR DE ATLETAS: reflexões sobre recomendações nutricionais, hábi-
tos alimentares e métodos para avaliação do gasto e consumo energéticos. Disponível
em: <http://www.scielo.br/pdf/rn/v20n6/a10v20n6.pdf>.
HIDRATAÇÃO e nutrição no esporte. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/rbme/
v16n2/14.pdf>.
MODIFICAÇÕES DIETÉTICAS, reposição hídrica, suplementos alimentares e drogas:
comprovação de ação ergogênica e potenciais riscos para a saúde. Disponível em:
<http://www.scielo.br/pdf/rbme/v15n3s0/v15n3s0a01.pdf>.
O USO DO CARBOIDRATO antes da atividade física como recurso ergogênico: revisão
sistemática. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/rbme/v21n2/1517-8692-rb-
me-21-02-00153.pdf>.
PEREIRA, H. R.; BOBBIO, T. G.; ANTÔNIO, M. A. R. G. M.; BARROS FILHO, A. A. Obesidade na
criança e no adolescente: quantas calorias a mais são responsáveis pelo excedente de
peso? Rev. Paul Pediatr., v. 31, n. 2, p. 252-257, 2013.
Conteúdo:
DICA DO PROFESSOR

Nesta Dica do professor, confira um exemplo de cálculo das necessidades de energia e


nutrientes para uma judoca. Acompanhe!

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EXERCÍCIOS

1) Coeficiente de equivalente metabólico que representa o consumo de oxigênio do


indivíduo, sendo utilizado para estimar as calorias necessárias à atividade esportiva
(gasto energético decorrente da atividade):

TMB.
A)
VET.
B)
GEB.
C)
MET.
D)
GER.
E)

2) Qual é o percentual adequado de carboidratos em relação ao VET (Valor Energético


Total) suficiente para atender às demandas de um atleta/treinamento esportivo?

60 a 70 % do VET.
A)
45 a 65 % do VET.
B)
60 a 80 % do VET.
C)
30 a 45 % do VET.
D)
30 a 60 % do VET.
E)

3) Quanto às recomendações de proteína, qual é o valor que deve ser oferecido a um


atleta de endurance (resistência) ao dia?

1,2 a 1,8 g/kg/dia.


A)
0,8 a 1,2 g/kg/dia.
B)
1,4 a 1,8 g/kg/dia.
C)
1,6 a 2,4 g/kg/dia.
D)
1,2 a 1,6 g/kg/dia.
E)

4) Qual é o percentual médio de lipídios, em relação ao VET diário, recomendado para


atletas?

15 %.
A)
20 %.
B)
30 %.
C)
35 %.
D)
45 %.
E)

5) José é um maratonista de 24 anos, de 72 kg, com uma rotina de treinamento diário de


3 horas. Quais seriam suas necessidades de energia (VET), a partir do método da
FAO/OMS (1985), considerando um Fator Atividade de 1,78 (para as atividades
cotidianas) e o valor de 9 MET (considerar o resultado com arredondamento)?
3.169 kcal.
A)
5.113 kcal.
B)
1.944 kcal.
C)
1.781 kcal.
D)
3.725 kcal.
E)

NA PRÁTICA

O componente mais importante tanto para o treinamento esportivo como para o desempenho
físico bem-sucedido do atleta é o fornecimento de quantidades adequadas de calorias, a fim de
suportar o gasto energético e manter sua força, resistência e massa muscular.

É importante observar o estado de saúde, conforme o peso corporal, a altura, a idade, o gênero e
a taxa metabólica, também considerando o tipo, a frequência, a intensidade e a duração da
atividade.
Veja as necessidades de energia em algumas modalidades esportivas, assim como métodos
práticos para calcular as necessidades proteicas no exercício.

Total de
Atividade kcal/kg/h
kcal/h

Caminhada 4,4 299

Corrida – média 9 612

Aeróbica – média 5 340

Levantamento de peso – pesado 9 612

Futebol (toque) 7 476

SAIBA +

Para ampliar o seu conhecimento a respeito desse assunto, veja abaixo as sugestões do
professor:

Consumo alimentar de atletas: reflexões sobre recomendações nutricionais, hábitos


alimentares e métodos para avaliação do gasto e consumo energéticos
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O uso do carboidrato antes da atividade física como recurso ergogênico: revisão


sistemática

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Hidratação e Nutrição no Esporte

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Métodos de avaliação de necessidades nutricionais e consumo de energia em humanos

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