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31 Outubro 2006, 14:30h, Auditório do IPIMAR

(organização: Conselho Científico do IPIMAR)

O polvo comum
Aspectos sobre a sua Biologia, Ecologia, Gestão, Qualidades nutricionais,
Toxicidade e potencial para Aquacultura

Oradores:

João Pereira Helena Lourenço Pedro Costa Francisco Ruano


(DRM) (DITVPP) (DAA) (DAQ)

31 de Outubro de 2006 IPIMAR


• Espécie de grande interesse comercial
– Abundante nas descargas (10.826t – 4º)
– De elevado valor (€ 3,75)
– Elevada importância económica (M€ 40,561 – 1º)
– Produção complementada por importações (total de
moluscos importados = produzido)

• Mal conhecida
– Pela população em geral
– Pelos gestores dos recursos e legisladores

31 de Outubro de 2006 IPIMAR João Pereira


Biologia e Ecologia

31 de Outubro de 2006 IPIMAR


• Até mais de 500.000 ovos
– Abrigados

• Cuidados maternos exclusivos durante a


incubação
– Impedindo a predação
– Controlando contaminações por fungos e bactérias

31 de Outubro de 2006 IPIMAR João Pereira


Ambiente e cuidados maternos

• A incubação dura 125 dias a 13ºC mas apenas


22 dias a 25ºC
– O tempo de incubação é função exponencial inversa
da temperatura. O desenvolvimento é completamente
interrompido sempre que a temperatura desce abaixo
dos 10ºC

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• Com a eclosão
– A fêmea morre de inanição e exaustão tendo
reutilizado parte significativa da proteína
muscular para sobreviver sem se alimentar
durante a guarda
– Até 500.000 paralarvas saem do abrigo onde
nasceram

31 de Outubro de 2006 IPIMAR João Pereira


• Ao eclodir as paralarvas têm ~1.7mm ML e
~1.2mg tBW
• Cá fora espera-as um banquete

31 de Outubro de 2006 IPIMAR João Pereira


Ambiente
• As paralarvas que sobrevivem sobem às
camadas superficiais da água onde passam
entre 5 a 12 semanas dependendo da
temperatura da água
• As reservas de vitelo permitem sobreviver
alguns dias sem alimento mas a descoberta
rápida de presas adequadas é fundamental

31 de Outubro de 2006 IPIMAR João Pereira


• Nesta fase continuam a ser vítimas de uma grande
variedade de predadores
– entre os quais se contam muitas das espécies de peixes com
valor comercial

• Mas são elas próprias predadores activos


– quanto maior a quantidade de alimento que ingerem e
metabolizam, mais depressa crescem, e menor é o impacto da
predação

31 de Outubro de 2006 IPIMAR João Pereira


Resumo da fase paralarvar
• O número de indivíduos que assenta após a
fase (para)larvar depende fundamentalmente
– Das condições ambientais
– Da incidência da predação

• Dentro de vastos limites o número inicial de


paralarvas é irrelevante na determinação do
número de indivíduos que assenta
– A mortalidade não é proporcional ao número inicial
por ser fortemente mediada por factores extrínsecos

31 de Outubro de 2006 IPIMAR João Pereira


• Ao assentar atingiram cerca de 0.6cm
e 0.2g, o que corresponde a um
– Aumento de peso de 150x
– Aumento de comprimento de 3.5x
desde a eclosão

• Com a adopção de um
comportamento de adulto, a
incidência da predação reduz-
se drasticamente
– Por comparação com a que se
verifica nas paralarvas

31 de Outubro de 2006 IPIMAR João Pereira


• O crescimento a partir do assentamento é muito rápido
– Dependendo sempre fortemente das condições ambientais

31 de Outubro de 2006 IPIMAR João Pereira


Fases de
Crescimento
Incubação 150g 750g 1500g 3000g

Idade
(meses) -2 -1 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12

• Na fase mais rápida do crescimento, a partir de


cerca de 8 meses após a eclosão
– mais que duplica de peso em 60 dias

• Daí até à morte, cerca de 360 dias após a


eclosão
– A taxa duplica continuamente

31 de Outubro de 2006 IPIMAR João Pereira


• A incidência da predação continua a diminuir
com o crescimento, podendo a certa altura
considerar-se negligenciável para todos os
predadores excepto o Homem

31 de Outubro de 2006 IPIMAR João Pereira


• Um polvo jovem ou adulto está próximo do
topo da cadeia alimentar
– tem excelente acuidade visual
– é exímio na camuflagem
– é inteligente e aprende com facilidade
– controla o corpo como nenhum outro animal,
moldando-lhe a côr e a forma, os contornos e
até o volume

31 de Outubro de 2006 IPIMAR João Pereira


31 de Outubro de 2006 IPIMAR João Pereira
• Aos predadores é muito pouco aparente
• Se a camuflagem falha dispõe de uma cortina de
tinta para encobrir a fuga
• Se for apanhado, pode abdicar de partes
significativas do corpo, que posteriormente
regenera

31 de Outubro de 2006 IPIMAR João Pereira


• Vítimado por maus tratos significativos por
parte de predadores (incluindo
pescadores)
– Resiste para além dos limites suportados por
vertebrados aquáticos (ao choque, ao
esmagamento, à torção, à secção, à privação
de oxigénio e à dessecação)
– Recupera rapidamente

31 de Outubro de 2006 IPIMAR João Pereira


• Quando a fêmea procura abrigo para se
reproduzir, torna-se também imune a
todas as artes de pesca
– Excepto alcatruzes

31 de Outubro de 2006 IPIMAR João Pereira


• Para as presas é um
pesadelo
– Força
– Destreza
– Manha
– Preserverança

• É ainda oportunista e resistente


– Pouco selectivo na alimentação (indiscriminado no tipo
de presa e frequentemente necrófago)
– Quando adulto sobrevive muito tempo sem comer
metabolizando as proteínas previamente incorporadas
nos tecidos

31 de Outubro de 2006 IPIMAR João Pereira


• É ainda canibal quando é necessário
– a incidência de canibalismo aumenta com a
densidade populacional

31 de Outubro de 2006 IPIMAR João Pereira


• Favorecido por ambientes muito
dinâmicos
– Com baixa biodiversidade e elevada
abundância de “espécies-lixo”

• A produtividade populacional pode


aumentar em função do aumento da
mortalidade individual
– Redução do canibalismo

31 de Outubro de 2006 IPIMAR João Pereira


• Aumentos na temperatura da água
tendem a reduzir a longevidade e
aumentar a produtividade
– Aceleram metabolismo
– Reduzem o tempo de exposição dos
indivíduos jovens à predação

31 de Outubro de 2006 IPIMAR João Pereira


• Dadas as suas características

– Pode considerar-se uma espécie


simultaneamente RESISTENTE e
RESILIENTE

31 de Outubro de 2006 IPIMAR João Pereira


Pesca

31 de Outubro de 2006 IPIMAR


20000

18000

16000

Descargas (Tons)
14000

12000

10000
R2 = 0.4508
8000

6000
1970 1975 1980 1985 1990 1995 2000 2005 2010
Ano

• Descargas na zona do ICES em crescimento


– Apesar do esforço que reconhecidamente apresenta
valores elevados

31 de Outubro de 2006 IPIMAR João Pereira


14000 14000

12000 12000

10000 10000
Descargas (ton)

Descargas (ton)
8000 8000

6000 6000

4000 R2 = 0.5499 4000

2000 2000

0 0
1970 1975 1980 1985 1990 1995 2000 2005 2010 1920 1930 1940 1950 1960 1970 1980 1990 2000 2010
Ano Ano

• Em Portugal aumentam desde a década de 1970


– De forma semelhante ao aumento na área do ICES
• Analisadas desde a década de 1920
– crescimento inicia-se com as principais inovações tecnológicas
implementadas na década de 1960 (aumento no esforço)

31 de Outubro de 2006 IPIMAR João Pereira


Descarga 2002: 7316t
2003:10038t
180
160
LPUE (kg/dia/embarcação) 140
120
100
80
60
40
20
0
01-2002 04-2002 07-2002 10-2002 02-2003 05-2003
Mês-A no

• Nos anos mais recentes as LPUE (≈ CPUE/c)


têm estado estáveis
– O que sugere que as descargas crescentes reflectem
aumento no esforço

31 de Outubro de 2006 IPIMAR João Pereira


– mas também pode resultar em parte do aumento da
temperatura média da água do mar, traduzida num
aumento na produtividade das populações

31 de Outubro de 2006 IPIMAR João Pereira


Gestão

31 de Outubro de 2006 IPIMAR


• Para obstar à possibilidade teórica de que
capturas muito elevadas sejam
coincidentes com condições de
recrutamento muito desfavoráveis

– Reduzindo os efectivos para além do limiar


da sustentabilidade da actividade da pesca

31 de Outubro de 2006 IPIMAR João Pereira


• O recurso tem sido gerido precaucionariamente
pelo estabelecimento de algumas medidas
técnicas
– Peso mínimo dos indivíduos descarregados (750g)
– Limitações ao número de armadilhas por embarcação
(depende do tipo da armadilha e do comprimento da
embarcação)

31 de Outubro de 2006 IPIMAR João Pereira


Contaminação

31 de Outubro de 2006 IPIMAR


Intoxicação Amnésica por Marisco – ASP
(“Amnesic Shellfish Poisoning”)

Anatomia do cérebro

Ácido Domóico

Diatomáceas Bivalves
Pseudo-nitzschia spp. CH3 Ácido Domóico

COOH
H
COOH
H3C N COOH
Sintomatologia:
H • náuseas
• diarreia
ASP: Intoxicação alimentar devido ao consumo de marisco • desorientação
contaminado com ácido domóico e seus derivados, • desequilíbrio e vertigens
produzidos naturalmente por diatomáceas • perda da memória recente

31 de Outubro de 2006 IPIMAR Pedro Costa


31 de Outubro de 2006 IPIMAR Pedro Costa
120000 300

Pseudo-nitzschia spp. (células L )


-1 100000 250

Ácido Domóico (µg g )


-1
80000 200

60000 150

40000 100

20000 50

0 0

2/Jul/03
17/Jun/03

15/Jul/03

5/Nov/03
18/Nov/03
7/Out/03
22/Out/03
18/Fev/03

3/Dez/03
17/Dez/03
31/Dez/03
5/Fev/03

5/Mar/03

1/Abr/03
14/Abr/03
6/Mai/03
20/Mai/03

12/Ago/03
23/Set/03
18/Mar/03

Ácido Domóico Pseudo-nitzschia spp

Ácido Domóico detectado (µg g-1, media+max) na glândula digestiva do polvo comum
capturado em Peniche durante 2003 (colunas) e a ocorrência de diatomáceas do
género Pseudo-nitzschia (linha)

31 de Outubro de 2006 IPIMAR Pedro Costa


Distribuição do Ácido Domóico - Octopus vulgaris -

Ácido Domoico (µg g ) 160


-1

120

80

40

0
GD CB BRQ RIM TD MT GND

Distribuição do Ácido Domóico no polvo comum (µg g-1 mediana, 25 e 75%,


min e max), capturado em Peniche entre Fevereiro e Maio 2003

31 de Outubro de 2006 IPIMAR Pedro Costa


Metais tóxicos
• Valores limite segundo os regulamentos
comunitários para o caso dos cefalópodes:

• Hg 0,5 mg/kg
• Pb 1,0 mg/kg
• Cd 1,0 mg/kg

31 de Outubro de 2006 IPIMAR Helena Lourenço


Metais tóxicos
Hg (0.11) Min Max
x

Cd (0.10)
n=40

Pb (0.05)

0.00 0.05 0.10 0.15 0.20 0.25 0.30 0.35 0.40


mg/kg, peso húmido

31 de Outubro de 2006 IPIMAR Helena Lourenço


Composição e Valor Nutricional

31 de Outubro de 2006 IPIMAR


Composição química aproximada
(g/100g)

83.0%
2.5%

14.1%
0.4%

Proteína Gordura Humidade Cinza

31 de Outubro de 2006 IPIMAR Helena Lourenço


Alguns dados nutricionais
• Valor energético: 60 kcal / 254,5 kJ;
• Aminoácidos mais importantes: ác. aspártico, ác.
glutâmico, arginina e leucina;
• Teor baixo em gordura: cerca de 60% é gordura
polinsaturada;
• Colesterol: ≈ 60 mg/100g;
• Vitamina A: 1,8 µg/100g, Vitamina E: 0,7 µg/100g;
• Boa fonte de potássio e fósforo.

31 de Outubro de 2006 IPIMAR Helena Lourenço


Macro e microelementos essenciais
9000

7500
mg/kg, peso húmido

6000 5725

4500

3000
2234
1513
1500 938
213
0
K P Na Mg Ca

24.0

20.0
17.7

mg/kg, peso húmido


16.0

12.0

8.0
4.7
3.8
4.0
0.31 0.09
0.0
Zn Cu Fe Mn Ni

31 de Outubro de 2006 IPIMAR Helena Lourenço


Macro e microelementos essenciais
Valor diário % do valor diário
(mg) no polvo (100 g)

K = 3500 ≈6
P = 1000 ≈ 15
Na < 2400 ≈ 24
Mg = 400 ≈ 24
Ca = 1000 ≈2
Zn = 15 ≈ 12
Fe = 18 ≈ 2,5
Cu = 2,0 ≈ 20
Mn = 2,0 ≈ 20
31 de Outubro de 2006 IPIMAR Helena Lourenço
Aquacultura

31 de Outubro de 2006 IPIMAR


• De todas as espécies de organismos aquáticos
que constituem potenciais alvos da aquacultura,
os cefalópodes são dos mais apetecíveis

31 de Outubro de 2006 IPIMAR Francisco Ruano


– São fáceis de adaptar ao cativeiro mesmo em
regímenes de produção intensivos
– Embora tenham preferência por presas vivas
rapidamente se adaptam a alimento
“artificial”, alimento composto ou peixe
tulha/crustáceos provenientes de rejeições

31 de Outubro de 2006 IPIMAR Francisco Ruano


– Têm elevado metabolismo e bons índices de
conversão (≈1:2,8)
– São valiosos e o valor de indivíduos de menor
tamanho é maior
– A procura tem sido maior do que a oferta

31 de Outubro de 2006 IPIMAR Francisco Ruano


• Até ao momento o potencial que se lhe aponta
não está convertido
– Não se conseguiu fechar o ciclo biológico de forma
economicamente rentável (mortalidades de paralarvas
próximas dos 100% - melhor conseguido = 7% de
sobreviventes)
– Só se adapta a água salgada – salinidade >32-35‰
– Poucos dados sobre as questões sanitárias inerentes
à sua cultura

31 de Outubro de 2006 IPIMAR Francisco Ruano


• É possível a engorda
– Com base em indivíduos sub-dimensionados
provenientes da pesca
– Não excedendo os 10kg/m3

31 de Outubro de 2006 IPIMAR Francisco Ruano


• Em Espanha existe um “Plan Nacional del
Pulpo”
– Cujo objectivo principal é conseguir suprir as
necessidades nacionais deste recurso pelo
desenvolvimento da aquacultura (engorda e ciclo
completo)
– Está em curso um grande número de projectos de
investigação financiados pelo estado

• Principalmente na Galiza estão já licenciadas


várias empresas, que procedem à engorda com
resultados muito positivos

31 de Outubro de 2006 IPIMAR Francisco Ruano


Origem dos dados e financiamento

• Projectos no âmbito de:


– QCA III
– PNAB data collection
– DG XII e DG XIV da UE
– POCTI da FCT
• Literatura científica publicada

31 de Outubro de 2006 IPIMAR Fim

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