Você está na página 1de 9

XXX ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO

Maturidade e desafios da Engenharia de Produção: competitividade das empresas, condições de trabalho, meio ambiente.
São Carlos, SP, Brasil, 12 a15 de outubro de 2010.

ANÁLISE ERGONÔMICA DO
TRABALHO E APLICAÇÃO DO
MÉTODO RULA: UM ESTUDO DE CASO
NO SERVIÇO DE LIMPEZA DE
LOGRADOUROS PÚBLICOS
ALMIR MARIANO DE SOUSA JUNIOR (UFERSA)
almir@crea-rn.org.br
Fernan Martins Vidal Fernandes Irber (UFERSA)
fernanmartins@yahoo.com.br
Francisco Firmino da Silva Neto (UFERSA)
firmino_18@hotmail.com
Julia Lorena Marques Gurgel (UFERSA)
julialorena15@homtail.com
Robson Aecio Pontes Gama (UFERSA)
r_aecio@hotmail.com

O presente estudo visa analisar as condições de trabalho dos coletores


de lixo domiciliar de um município do interior do Rio Grande do Norte.
Apesar da relevância do serviço de coleta domiciliar não existe muita
preocupação com estudos e peesquisas sobre as condições de trabalho
dos coletores nesta atividade. A metodologia utilizada após
embasamento teórico foi: aplicação de entrevistas com os garis da
coleta domiciliar, observação por parte dos autores, além de estudos
dos registros de acidentes no banco de dados do Setor de Segurança do
Trabalho (coleta de dados entre 2008 e 2009). Após discussão e
analises dos dados verificamos que apesar dos diversos avanços
tecnológicos e ações preventivas adotados pela empresa, ainda existe
necessidade de melhorias. Foram propostas algumas recomendações
ergonômicas para melhorar a segurança e saúde destes trabalhadores
e a redução dos impactos sócio-ambientais e sócio-econômicos
decorrentes desta atividade.

Palavras-chaves: Coletores de lixo, Resíduos sólidos domiciliares,


Ergonomia
1. Introdução
A Sociedade sabe o quanto representa a coleta do lixo, bem como as questões de saneamento
básico nas cidades. Embora possamos observar a atividade do gari atuando como coletor de
lixo ignoramos seu papel neste contexto a respeito das dificuldades operacionais que esses
trabalhadores sofrem, as condições em que trabalham, e qual a repercussão desse trabalho em
sua saúde.
Neste trabalho são apresentadas as etapas da Análise Ergonomia do Trabalho aplicada em
setor de limpeza pública do município no interior do Rio Grande do Norte. Objetivou-se
identificar os principais condicionantes da atividade de limpeza, bem como os reflexos para a
saúde desses trabalhadores e para o bom funcionamento da atividade.
A partir da análise das atividades desenvolvidas pelos funcionários e das prescrições
determinadas pela gestão do trabalho evidenciam-se as contradições do trabalho entre as
regras e os contextos.
A relevância desta categoria no quadro urbano contemporâneo nem sempre tem sido
correspondida com análises do trabalho em geral ou estudos que se situem na perspectiva da
saúde dos coletores de lixo.
Conforme a NR-15 da portaria 3214 do Ministério do Trabalho de 03/06/1978, o trabalho de
coleta de lixo domiciliar é considerado insalubre em grau máximo (SANTOS, 2004;
ROBAZZI et al, 1992).
A carga de trabalho dos coletores de lixo domiciliar é proporcional com o crescimento
populacional das cidades, e esses profissionais precisam responder a diferentes objetivos: da
empresa e da comunidade, bem como pessoais, ou seja, dos próprios trabalhadores. Para
atingir tais objetivos, os trabalhadores precisam lidar com diferentes exigências de tempo,
qualidade e segurança, desenvolvendo estratégias e regulações, a fim de manter sua carga de
trabalho aceitável.
No entanto, embora seja realidade das atividades cotidianas da coleta, a "redução" não é
reconhecida como procedimento de trabalho pela empresa (a exceção de algumas situações).
Na situação estudada, a "redução" é percebida na empresa como estratégia para burlar as
normas de trabalho, ou seja, uma indisciplina passível de sanção pela hierarquia. Para a
empresa, ela é prejudicial à qualidade de limpeza urbana, por gerar transtornos para a
população que se queixa do acúmulo de lixo em frente a suas casas e aos próprios
trabalhadores. Para os garis, a “redução” diminui a carga de trabalho e evita acidentes.
Compreender a “redução”, seus efeitos para a saúde dos garis e para a qualidade dos serviços
prestados surge como problema a ser analisado sob a perspectiva da Análise Ergonômica do
Trabalho – AET (GUERIN et al, 2001), que nos ajuda a entender porque existem diferentes
representações em torno de uma mesma realidade.
Conforme explica Abrahão (1993), a ergonomia procura evidenciar os componentes físico,
psíquico e cognitivo da atividade de trabalho, seus diferentes determinantes, o custo, isto é, a
„carga de trabalho‟, para realizá-la e sua repercussão sobre a saúde dos trabalhadores e sobre a
produção. Enquanto a dimensão física da carga de trabalho se expressa pela quantidade e
qualidade de esforço físico despendido pelo trabalhador na execução da atividade, a dimensão
cognitiva caracteriza-se pelas funções perceptivas e mentais exigidas para a realização do
trabalho, sendo que o conteúdo cognitivo de uma tarefa reflete na tomada de decisão. A

2
dimensão psíquica, considerada a mais difícil de qualificar e quantificar, relaciona-se com o
grau de realização existencial ou sofrimento psíquico do trabalhador, e reflete os componentes
psicológicos tais como desejo, angústia, afetividade, medo, presentes no trabalho ou
conseqüentes dele.
Sabe-se que existe relação entre carga de trabalho e desenvolvimento de modos operatórios ou
métodos de trabalho (GUÉRIN et al, 2001). A carga de trabalho é máxima quando os
operadores só dispõem de um modo operatório possível, ou seja, quando dispõem de pouca
margem de ação. O objetivo da AET é, assim, aumentar a margem de ação dos operadores,
possibilitando outras formas de agir e criando melhores condições de trabalho.
Para demonstrar a validade da "redução" para a preservação dos agravos, são descritos, neste
artigo, os critérios de sua execução, a percepção dos trabalhadores sobre ela e sobre sua carga
de trabalho, assim como são apresentados os resultados de medidas fisiológicas tomadas para
comparar o esforço físico dos trabalhadores quando a "redução" é colocada em prática ou não.
No entanto, embora seja realidade das atividades cotidianas da coleta, a "redução" não é
reconhecida como procedimento de trabalho pela empresa (a exceção de algumas situações).
Na situação estudada, a "redução" é percebida na empresa como estratégia para burlar as
normas de trabalho, ou seja, uma indisciplina passível de sanção pela hierarquia. Para a
empresa, ela é prejudicial à qualidade de limpeza urbana, por gerar transtornos para a
população que se queixa do acúmulo de lixo em frente a suas casas e aos próprios
trabalhadores. Para os garis, a “redução” diminui a carga de trabalho e evita acidentes.
Compreender a “redução”, seus efeitos para a saúde dos garis e para a qualidade dos serviços
prestados surge como problema a ser analisado sob a perspectiva da Análise Ergonômica do
Trabalho – AET (GUERIN et al, 2001), que nos ajuda a entender porque existem diferentes
representações em torno de uma mesma realidade.
2. Revisão de Literatura
A Associação Brasileira de Normas Técnicas, através da NBR 10004 – São Paulo (1987)
define lixo/resíduo, como: “restos das atividades humanas consideradas pelos geradores como
inúteis, indesejáveis ou descartáveis. Normalmente, apresentam-se sob estado sólido, semi
sólido ou semi-líquido (com conteúdo líquido insuficiente para que este líquido possa fluir
livremente)”, ou ainda: “os resíduos podem ser classificados também de acordo com a sua
natureza física (seco e molhado), sua composição química (matéria orgânica e matéria
inorgânica) e pelos riscos potenciais ao meio ambiente (perigoso, não inerte e inerte)”.
A característica da composição física dos resíduos sólidos domiciliares, de uma população,
vai variar em função do clima, dos hábitos, dos padrões de vida e das mudanças na política
econômica do país de origem. Desta variabilidade de composição é que resulta em uma das
grandes dificuldades para a solução adequada do problema de coleta e de destino final do lixo
(OLIVEIRA, 1969) Apud (VELLOSO, 1995).
Considerada um dos setores do saneamento básico, a gestão dos resíduos sólidos não tem
merecido a atenção necessária por parte do poder público. Com isso, compromete-se cada vez
mais a já combalida saúde da população, bem como se degradam os recursos naturais,
especialmente o solo e os recursos hídricos. A interdependência dos conceitos de meio
ambiente, saúde e saneamento é hoje bastante evidente, o que reforça a necessidade de
integração das ações desses setores em prol da melhoria da qualidade de vida da população
brasileira.

3
Como um retrato desse universo de ação, há de se considerar que mais de 70% dos municípios
brasileiros possuem menos de 20 mil habitantes, e que a concentração urbana da população no
país ultrapassa a casa dos 80%. Isso reforça as preocupações com os problemas ambientais
urbanos e, entre estes, o gerenciamento dos resíduos sólidos, cuja atribuição pertence à esfera
da administração pública local. As instituições responsáveis pelos resíduos sólidos municipais
e perigosos, no âmbito nacional, estadual e municipal, são determinadas na Constituição
Federal.
O processo de saúde no trabalho refere-se aos fatores de riscos que podem ser identificados e
quantificados no ambiente de trabalho, podendo ocasionar doenças ocupacionais e acidentes.
Segundo Mattos (1992) existem seis tipos de agentes:
a) Físicos: São os agentes que tem capacidade de modificar as características físicas do meio
ambiente. A ação independente de a pessoa estar exercendo sua atividade e do contato direto
com a fonte. Em geral, ocasionam lesões crônicas. Exemplos: iluminação, ruído, calor, frio,
umidade, radiações.
b) Mecânicos: São os agentes cuja fonte tem ação em pontos específicos do ambiente. Sua
ação, em geral, independe da pessoa estar exercendo suas atividades e depende do contato
direto com a fonte. Geralmente, ocasionam lesões agudas. Exemplos: choque elétrico, piso
escorregadio, engrenagem desprotegidas, elementos de máquinas pressionantes sem proteção.
c) Ergonômicos: São os agentes cuja fonte tem ação e pontos específicos do ambiente. Sua
ação depende da pessoa estar exercendo a sua atividade e tem reflexos psicofisiológicos.
Geralmente ocasionam lesões crônicas. Exemplos: trabalho repetitivo, ritmo de trabalho,
postura de trabalho, dimensionamento e arranjo inadequados das estações e seções de
trabalho.
d) Químicos: São os agentes encontrados na forma sólida, líquida e gasosa, cuja ação pode
ocasionar tanto lesão crônica quanto aguda. Tais agentes podem atuar segundo distintos
estados e condições, isto é, em grosso (sólidos e líquidos), diluídos no ar (gases e vapores),
suspensos no ar na forma sólida (poeiras e fumos) e na forma líquida (neblina e névoas). Os
agentes diluídos no ar e os suspensos no ar são chamados de aeroespersóides.
e) Biológicos: São os seres vivos (micro ou macro organismos), cuja ação pode provocar tanto
lesão crônica quanto aguda. Exemplos: vírus, bacilos, parasitas, bactérias, fungos insetos
transmissores de doenças (barbeiro, mosca, mosquito, etc.), ratos, cobras venenosas.
f) Sociais: São os agentes ligados às relações de produção (em nível da unidade). Exemplos:
falta de treinamento, jornada de trabalho, trabalho noturno, revezamento de turmas, horas
extras.
Será nosso objeto de estudo principal o agente ergonômico que cuja fonte tem ação e pontos
específicos do ambiente. Sua ação depende da pessoa estar exercendo a sua atividade e tem
reflexos psicofisiológicos. Geralmente ocasionam lesões crônicas. Exemplos: trabalho
repetitivo, ritmo de trabalho, postura de trabalho, dimensionamento e arranjo inadequados das
estações e seções de trabalho.
A carga de trabalho depende do conteúdo da tarefa e das limitações temporais nas quais é
executada: à pergunta sobre o tipo de atividade focalizada, devem-se associar as questões
“quantas vezes por unidade de tempo” e “durante quanto tempo tal atividade é realizada”.
Esse aspecto quantitativo é muito importante e até mesmo crítico, constituindo-se num dos
fatores determinantes do surgimento da fadiga.

4
Para respeitar as variações intra e interindividuais importantes entre os operadores, é
necessário não lhes impor uma carga constante ao longo do tempo e idêntica para todos. Isso
torna condenável qualquer ritmo imposto por uma máquina ou uma produção em série,
principalmente quando os ciclos forem curtos, não permitindo nenhuma regulagem de sua
carga de trabalho pelo operador.
As diversas situações de trabalho atualmente encontradas podem se distribuir segundo um
continuum, se considerada a quantidade de atividade mental exigida. Os problemas
ergonômicos que essas situações levantam são, no entanto, de natureza muito diferente.
A Saúde do Trabalhador é definida pelo artigo 3o da Lei Federal 8.080, de setembro de 1990
como um conjunto de atividades que se destinam à promoção e proteção da saúde dos
trabalhadores, assim como visa à recuperação e reabilitação da saúde dos trabalhadores
submetidos aos riscos e agravos advindos das condições de trabalho. Reconhecemos que cada
vez mais a efetivação dessa lei se constitui em um desafio, devido à crescente desvalorização
do corpo produtivo do trabalhador, em detrimento do produto a ser alcançado.
A nova orientação das políticas de saúde trouxe em seu bojo a discussão a respeito da Saúde
do Trabalhador, exigindo a introdução de novas práticas. Há que se considerar que o trabalho
apresenta-se como fator fundamental para que os princípios constitucionais sejam
devidamente respeitados, por tratar-se de fonte de mudanças na sociedade em direção a
melhores condições de vida para toda a população.
Nesta perspectiva, a Saúde do Trabalhador constitui um campo na área da Saúde Coletiva em
plena construção, cujo objeto está centrado no processo saúde-doença dos trabalhadores dos
diversos grupos populacionais em sua relação com o trabalho. Traz consigo a expectativa da
compreensão desta dinâmica, bem como do desenvolvimento de alternativas de intervenção
com vistas à apropriação da “dimensão humana do trabalho” pelos próprios trabalhadores.
Busca, portanto, estabelecer causas de agravos à sua saúde, reconhecer seus determinantes,
estimar riscos, dar a conhecer os modos de prevenção, promover saúde. (Mendes e Dias,
1999).
3. Análise da Demanda
Podemos definir análise da demanda como sendo o problema a ser estudado, a partir do ponto
de vista dos diversos atores sociais envolvidos.
De acordo com as entrevistas, foi detectado que os acidentes de trabalho são raros, porém,
geralmente há alguns cortes, ocasionados pelo manuseio do saco de lixo. As principais causas
de falta são: alcoolismo, gripe (mais freqüente no período chuvoso) e dores nas costas. Vale
ressaltar que o pior movimento relatado pelos trabalhadores foi o de descarregar o carrinho da
coleta. Tendo em vista que força a região lombar, ocasionado desconforto e dor contínua.
Também foi constatado através de questionário, junto aos trabalhadores, que eles sentiam
dores de cabeça, dores na região lombar e pernas, além de se queixarem da poeira que
inalavam na execução da tarefa e ardência nos olhos. Além de todos esses fatores, não há um
tempo de descanso fixo para os trabalhadores, sendo determinado pelos próprios
trabalhadores.
Assim identificando as dores na região lombar e pernas os principais problemas dos
trabalhadores, assim, sendo determinada a análise da demanda.
4. Análise da Tarefa

5
Visa analisar as condições ambientais, técnicas e organizacionais de trabalho. O serviço de
limpeza de logradouros públicos tem por objetivo evitar problemas sanitários para a
comunidade, interferências perigosas no trânsito de veículos, riscos de acidentes para
pedestres, prejuízos ao turismo e inundações das ruas pelo entupimento dos ralos.
Alguns utensílios, ferramentas e vestuário utilizados pelos trabalhadores são a vassoura
grande, vassoura pequena, pá quadrada, chaves de abertura de ralos e enxadas para a limpeza
de ralos. O vestuário é caracterizado pelo uso da calça, blusão, bota, boné e as faixas
reflexivas.
4.1. Prescrição da Tarefa
Inicialmente um auxiliar de turma distribui as ferramentas e sacos de coleta aos trabalhadores,
o saco é colocado no carrinho e amarrado com ligas. Logo após, as duplas saem para o
percurso de trabalho, cada dupla é detentora de 1 (um) carrinho, uma pá e duas vassouras. No
local específico, 1 (um) trabalhador junta o lixo em “montinhos”, varre, com uma vassoura,
em movimentos repetidos para frente e pra trás, angulando levemente o corpo para frente. Os
destros pegam o cabo da vassoura com a mão esquerda na frente, fazendo a alavanca, e a mão
direita fica na pega de trás do cabo, os canhotos fazem o contrário. Seguem andando por toda
extensão da rua repetindo os movimentos descritos anteriormente. Assim, 1 (um) trabalhador,
com uma pá e uma vassoura, coloca o lixo no carrinho. Empurrando o carrinho o outro
trabalhador se aproxima do “montinho”, feito pelo seu companheiro, retira a pá e a vassoura
que estão no carrinho e com uma mão, que ele é mais hábil, pega a vassoura e com a outra
pega a pá, ocorrendo assim, com essa ação, a angulação do tronco para frente. Logo, ele
coloca a pá por baixo do lixo, com a vassoura ele junta o lixo em cima da pá, levanta a pá e a
vassoura para evitar que o lixo caia, inclina pra o lado do carrinho, derrama do lixo. No
momento do descarrego do carrinho cheio, para posterior coleta, os trabalhadores desfazem as
amarras do saco, amarram a boca do saco, abaixam para virar o tambor, viram o tambor,
acoplado no carrinho e puxar o saco. Logo após, amarram um novo saco no tambor.
Verificou-se que trabalhadores têm autonomia para determinar a rotatividade das tarefas entre
si.
5 Método Rula
Com o objetivo de determinar o efeito causado pelas posturas e atitudes inadequadas dos
trabalhadores, utilizou-se um método desenvolvido a partir do Método OWAS, o método
RULA, esse permite examinar as posturas combinadas de diversos membros do corpo,
determinando seu efeito sobre o sistema músculo-esquelético e avaliando o efeito do tempo
gasto em uma postura específica sobre o corpo. Suas diferenças do método OWAS é que
também é incorporada ao resultado avaliações de força, repetição e a amplitude do
movimento articular.
A partir do diagrama de dor, analisaram-se as áreas de maior freqüência de dor no corpo dos
trabalhadores do setor de varrição. Dessas regiões e de analises das tarefas exercidas por eles
foram observadas três tarefas específicas que poderiam estar causando as dores de maior
freqüência identificadas: varrer, colocar o lixo no tambor, e despejar o saco de lixo do tambor.
É importante ressaltar que a análise foi feita junto ao trabalhador, onde ele apontou as tarefas
que exigia mais esforço físico. Aplicou-se o método RULA nas 3 (três) tarefas e os resultado
encontrados foram a pontuação 3 (três) para varrer, essa pontuação indica que é necessário
uma investigação da tarefa, com possibilidades de requerer mudanças, e as outras duas

6
tarefas, colocar o lixo no tambor e despejar o saco de lixo do tambor, receberam a pontuação
6 (seis), onde indica que é necessário investigar e realizar mudanças rapidamente.

Tarefa Pontuação
Varrição 03
Colocação de lixo no
Tambor 06
Despejo 06

Tabela 1 – Resultado da aplicação do Método Rula

6. Análise das Atividades


Definida como a análise dos comportamentos do ser humano no trabalho (gestuais,
informacionais, regulatórios e cognitivos).
A partir das entrevistas percebemos que, aparentemente o ato frequente de se abaixar para
pegar o lixo e despejar no carrinho, causa as dores lombares as quais os trabalhadores estão
submetidos.
As dores nas pernas devem ser ocasionadas pelo longo período que eles ficam de pé, além de
percorrerem distâncias consideráveis.
Vale salientar que a gripe provavelmente está relacionada com a poeira inalada pelos
trabalhadores. Por motivos de desconforto, acabam não usando a máscara, que poderia
atenuar esse problema.
Provavelmente a alta luminosidade, juntamente com a poeira provoca a ardência nos olhos.
Muitos deles, não dispõem de óculos de proteção solar e não usam protetor solar para proteger
a pele dos raios solares.
Por meio de conversas, podemos perceber que essas queixas, relacionadas as dores lombares,
são levadas ao médico da empresa .O problema é que como não se dispõem de médico
ortopedista, as causas por afastamento são, geralmente, dadas como sendo gripes e viroses.
Isto se configura como bastante alarmante para a saúde desses trabalhadores. Uma vez, que
eles não são encaminhados para o tratamento correto, e tendo seu quadro de saúde agravado
com o tempo.
7. Resultados e Considerações
Com base na análise ergonômica do trabalho este estudo possibilitou relacionar os fatores e as
causas das queixas de dores e doenças que interferem na saúde dos funcionários da varrição.
Diante disso, algumas recomendações são oportunas de serem sugeridas, visando o bem-estar
dos funcionários.
Observando os problemas encontrados na empresa, notamos que é necessário implantar um
programa de reeducação postural, para que os funcionários saibam como dispor de
ferramentas e evitar vícios posturais. Seria interessante, que fosse por meio de treinamentos,
estabelecidos através de alguma forma de motivação para que todos participassem.

7
Como também prever o tempo de pausa, de acordo com as cargas de trabalho. É necessário
que ocorra rodízio das tarefas, para não perpetuar o estresse entre os trabalhadores e afim de
evitar a sobrecarga músculo-esquelética e a fadiga mental. Sendo assim, a rotação de trabalho
permite aumentar a eficácia sem prejudicar o bom desenvolvimento das tarefas.
Devido ao comprometimento da saúde dos funcionários, deve-se substituir as ferramentas
antigas por ferramentas ergonômicas, proporcionando maior conforto. Procurar vassouras e
pás de cabos mais longos para não se curvar durante a limpeza. Evitar torcer o tronco,
empurrando o lixo para a frente do corpo.
Em relação ao carrinho de coleta, é preciso realizar algumas ações para a melhora do ato de
descarregá-lo: amarração de uma cordinha para que o trabalhador não precise se abaixar para
alcançar o fundo do tambor e posteriormente vira-lo; fazer um tambor com um bico
encurvado para fora, com o fim de facilitar a remoção do saco; substituir as rodinhas de
plástico por rodinhas com câmara de ar.
A AET é tecnicamente mais efetiva, tendo em vista que descreve globalmente a complexidade
da situação, possibilitando assim uma visão sistemática que envolve o trabalhador em seu
posto de trabalho e sua relação com a organização. Dessa maneira pode-se propor melhorias
aos problemas demandados.
De forma complementar, acredita-se que o estudo agregou valor, tendo em vista, a pouca
quantidade de estudos nessa área e menos ainda direcionados a esses profissionais, o gari, que
realiza o serviço de varrição de logradouros.
Uma relação delicada encontra-se na imagem do profissional que atua diretamente nas
atividades operacionais do sistema. Embora a relação do profissional com o objeto lixo tenha
evoluído nas últimas décadas, o gari ainda convive com o estigma gerado pelo lixo de
exclusão de um convívio harmônico na sociedade. Em outras palavras, a relação social do
profissional dessa área se vê abalada pela associação do objeto de suas atividades com o
inservível, o que o coloca como elemento marginalizado no convívio social.
Levantando dessa maneira, um aspecto cognitivo do trabalho, tendo em vista, que esses
funcionários além de realizarem tarefas que exigem bastante da sua estrutura física e por
fazerem um trabalho de extrema importância para a higiene e saúde da população, ainda
sofram esse tipo de preconceito e não sejam valorizados da maneira que merecem.

Referências
ABNT-ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR-10004: Resíduos sólidos-
classificação. ABNT, Set., 1987.
ABRAHÃO, J. Ergonomia: modelo, método e técnicas. Apostila de mini-curso. CONGRESSO
LATINOAMERICANO, Florianópolis, 1993.
BARNES, RALPH M. Estudo de Movimentos e de Tempos: Projeto e Medida do Trabalho. 6a. ed. Edgard
Blücher, São Paulo, 1977.
DUL, JAN & WEERDMEESTER, BERNARD. Trad. Itiro Iida. Ergonomia prática. São Paulo: Edgard
Blücher Ltda,1998.
IIDA, Itiro. Ergonomia: projeto e produção. São Paulo: Edgar Blücher, 2005.
FIALHO, FRANCISCO & SANTOS, NERI DOS. Manual de análise ergonômica no trabalho. 2. ed.
Curitiba: Gênesis,1997.
GRANDJEAN, E. Manual de Ergonomia: adaptando o trabalho ao homem. Porto Alegre: Bookman, 1998.

8
GUÉRIN F.; LAVILLE, A. DANIELLOU, F.; DURAFFOURG, J. & KERGUELEN, A. Compreender o
trabalho para transformá-lo. São Paulo: Edgard Blücher. 2002. 200p.
MENDES, R. & DIAS,E.C. Da medicina do trabalho à saúde do trabalhador. Revista de saúde pública, São
Paulo, 25(5): 341-9, 1991.
MONTEIRO, JOSÉ HENRIQUE PENIDO & ZVEIBIL, VICTOR ZULAR. Gestão Integrada de Resíduos
Sólidos. Rio de Janeiro: IBAM, 2001.
OLIVEIRA, W. E. Saneamento do lixo. in: Universidade de São Paulo. Faculdade de higiene e saúde pública.
Lixo e limpeza pública. São Paulo, USP/OMS/OPS, cap.1, p.1.1-1.18, 1969.
ROBAZZI, M.L.C.C; MORIYA, T.M.; FAVERO, M. & PINTO, P.H.D. Algumas considerações sobre o
trabalho dos coletores de lixo. Revista Brasileira de Saúde Ocupacional. n.76, vol.20, julho/dezembro, p. 34-41,
1992.
SANTOS, M.C.O.S. Apropriando-se do Trabalho: Um Estudo Sobre a Atividade dos Garis - Coletores de Lixo.
Dissertação apresentada ao Mestrado em Psicologia Social da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da
Universidade Federal de Minas Gerais para obtenção do título de mestre. Belo Horizonte, 2004. 168p.
VASCONCELOS R. C. A gestão da complexidade do trabalho do coletor de lixo e a economia do corpo. Tese
de doutorado. Programa de Pós-Graduação do Departamento de Engenharia de Produção da Universidade
Federal de São Carlos. São Carlos, 2007. 250p.
VELLOSO, M. P. Processo de Trabalho da Coleta de Lixo Domiciliar da Cidade do Rio de Janeiro: Percepção
e Vivência dos Trabalhadores. Dissertação de Mestrado, Rio de Janeiro: Escola Nacional de Saúde Pública,
Fundação Oswaldo Cruz. 1995
WISNER, ALAIN. Por dentro do trabalho: ergonomia, método e técnica. São Paulo: FTD, 1986

Resumo

O presente estudo visa analisar as condições de trabalho dos coletores de lixo domiciliar de
um município do interior do Rio Grande do Norte. Apesar da relevância do serviço de coleta
domiciliar existem poucos estudos e pesquisas sobre as condições de trabalho dos coletores
nesta atividade. A metodologia utilizada após embasamento teórico foi: aplicação de
entrevistas com os garis da coleta domiciliar, observação por parte dos autores, além de
estudos dos registros de acidentes no banco de dados do Setor de Segurança do Trabalho
(coleta de dados entre 2008 e 2009). Após discussão e analises dos dados verificamos que
apesar dos diversos avanços tecnológicos e ações preventivas adotados pela empresa, ainda
existe necessidade de melhorias. Foram propostas algumas recomendações ergonômicas para
melhorar a segurança e saúde destes trabalhadores e a redução dos impactos sócio-ambientais
e sócio-econômicos decorrentes desta atividade.
Palavras-Chave: Coletores de lixo, Resíduos Sólidos Domiciliares, Ergonomia.

Você também pode gostar