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Universidade Zambeze

Faculdade de Ciências de Saúde

Curso de Farmácia

Ficha de Leitura de Farmácia Galénica.

TEMA I: História e evolução da Farmácia Galénica. Bibliografia em farmácia Galénica.


Medicamentos e Receita Médica.

Elaborado por MSc Augusto Bene Tomé Constantino

2015
Nos prendemos em conhecer, sem estarmos a parte da vida. Queremos ser criativos, sem nos
esquecer da saúde: importa estarmos a par do que somos – Farmacêuticos, em breve, senão para
sempre…cuidemos de sê-lo com maior zelo e alegria.

Augusto Bene Tomé Constantino (2015)


TEMA I: História e evolução da Farmácia Galénica. Bibliografia em farmácia Galénica. Medicamentos
e Receita Médica.

1.1. Objetivos:
 Compreender a importância da Farmácia Galénica através dos relatos da sua evolução
histórica e o papel dela para humanidade;
 Conhecer a bibliografia usada em Farmácia Galénica para diversas preparações serem
feitas de forma eficaz e com credibilidade;
 Conhecer as definições de medicamentos e receitas médicas como instrumentos
imprescindíveis para atividade galénica;
 Identificar os diferentes tipos de medicamentos e constituintes da receita médica.
1.2. História e evolução da Farmácia Galénica.

Durante muitos anos a Medicina e a Farmácia constituíram um lodo indissociável em que


o mesmo indivíduo, médico-farmacêutico, desempenhava cumulativamente as funções
inerentes ao exercício destas duas profissões. Foram os árabes que fizeram as primeiras
tentativas de separação dos dois ramos da arte de curar, havendo, contudo, de início relações de
carácter económico entre as duas profissões. Só no século XIII foi proibida a aludida ligação.

O termo Farmácia Galénica representa uma homenagem a Claudius Galenus, médico-


farmacêutico1 que viveu em Roma durante o segundo século da nossa era.

Espírito verdadeiramente enciclopédico, sintetizou os conhecimentos farmacêuticos adquiridos


até então, atribuindo-se-lhe, também, a concepção de várias formas farmacêuticas. Os seus
escritos ficaram célebres e muitas fórmulas por ele idealizadas chegaram até aos nossos dias.

A designação de Farmácia Galénica foi introduzida no século XVI e o conceito que exprimia
era muito mais restrito do que o atual. De facto, o aludido termo foi criado para significar
a Farmácia dos medicamentos complexos, que se pretendeu opor à Farmácia Química ou
ramo farmacêutico que se ocupava da preparação dos medicamentos contendo substâncias
quimicamente definidas.

Por medicamento complexo entendia-se o que resultava da transformação dos produtos


naturais, chamados drogas2, em preparações farmacêuticas constituídas por misturas de

1
CLAUDIUS GALENUS nasceu em Pérgamo, em 131 da nossa era. Depois de ter estudado na Grécia e em Esmirna,
veio fixar-se em Roma no império de MARCO AURÉLIO, que o tinha chamado a fim de compor uma leriaga
contra a peste. A sua oficina encontrava-se na Via Sacra e dela foram clientes dois outros imperadores romanos,
CÓMODO e SKPTÍMIO SEVERO. Entre as suas numerosas obras assinalamos as seguintes: De psitana; de simpliciitm
medicamentorum faculialibus; De antidote; De medicamentorum composiíione secundum.
2
Se define droga como todo produto de origem natural que colhido ou separado do seu meio tem uma composição
e umas propriedades tais dentro de sua complexidade que constitui a forma bruta de um medicamento. Assim,
componentes suscetíveis de serem administrados aos enfermos. Se o produto natural,
submetido à mencionada transformação, originava uma substância quimicamente definida, o
medicamento com ela obtido dizia-se medicamento químico.

Atualmente, à Farmácia Galénica compete a transformação de todas as substâncias


medicamentosas em medicamentos, quer aquelas sejam de natureza complexa, quer
constituídas por produtos químicos naturais ou sintéticos perfeitamente definidos. Observa-
se, assim, que a noção de Farmácia Galénica sofreu uma marcada evolução, tendo-se
dilatado acentuadamente o conceito inicial.

Durante muitos anos as substâncias medicamentosas de que o homem dispunha eram


exclusivamente constituídas por produtos de natureza animal, vegetal ou mineral.
Posteriormente, com o isolamento dos princípios ativos, o homem teve a tentação de os
substituir à droga. Este critério nem sempre foi acertado, dado que cada droga pode conter mais
do que um desses princípios, quantas vezes uns reforçando ou compensando a ação
farmacológica apresentada pelos outros. São numerosos os exemplos do que acabámos de
dizer, mas tal assunto é mais do domínio da Farmacognosia, sendo por isso deslocado tratar
aqui desse problema.

Se, no entanto, são em elevado número as drogas que não devem ser substituídas pelos
chamados princípios ativos, também não é de negar que são numerosos os exemplos em
contrário.

Razões de ordem económica e de facilidade de preparação têm levado à substituição quase


sistemática das antigas fórmulas, executadas a partir da droga, pelos seus componentes
principais isolados ou obtidos por síntese. É esta, aliás, a tendência, cada vez mais acentuada,
da Farmácia Galénica, em parte justificada pela necessidade da preparação de medicamentos
estáveis durante o maior período possível e mais facilmente administráveis.

Nestas circunstâncias, observamos que as modernas Farmacopeias e Formulários vão banindo


inexoravelmente das suas monografias as fórmulas obtidas a partir dos produtos naturais.
Códigos recentes, como o norte-americano, o britânico, as Farmacopeias Europeia e
Portuguesa V e tantos outros, conservam uma percentagem mínima de extratos, tinturas,
macerados, etc., incluindo, em contrapartida, um número cada vez maior de novos produtos
de síntese ou isolados de vegetais, que empregam sob a forma de comprimidos, de supositórios,
de injetáveis.

matéria-prima virá a ser toda droga ou produto de origem natural destinada a extracção de princípios activos ou a
elaboração de preparações complexas ou não, convenientemente preparadas para sua aplicação.
Ao lado dos aspetos que acabámos de referir, são ainda de mencionar as tendências mais
recentes da Farmácia Galénica ao serviço da preparação de medicamentos concebidos e
estudados com o fim de se obter maior eficácia terapêutica e segurança de manejo.
Queremos referir-nos aos dois ramos mais recentes desta ciência — a Biofarmácia,
Biofarmacotécnia ou Biogalénica e a Farmácia Clínica. O primeiro tem como finalidade
determinar as relações entre as propriedades físico-químicas dos fármacos, a sua forma de
administração e os efeitos biológicos observados, constituindo uma ciência de extraordinário
interesse, pois o mesmo fármaco pode ter uma ação mais ou menos potente e eficaz
consoante as propriedades físico-químicas que exibe e o modo como foi transformado em
medicamento. No que diz respeito à Farmácia Clínica, é de salientar a sua importância pois
o aparecimento de novos fármacos, cada vez mais potentes, obriga a cuidados particulares
no que respeita às incompatibilidades físicas, químicas ou biológicas a que pode dar origem.
Problemas complexos do foro toxicológico e da estabilidade medicamentosa são hoje
correntes, devido em grande parte à administração simultânea de diversos medicamentos
ao mesmo doente. Tais situações podem surgir em doentes ambulatórios e hospitalizados,
competindo ao farmacêutico colaborar com o médico para o alertar e auxiliar na sua resolução.

A Farmacovigilância torna-se, pois, um imperativo a nível ambulatório ou hospitalar,


competindo-lhe «toda a atividade tendente a obter indicações sistemáticas sobre ligações
de causalidade provável entre medicamentos e reacções adversas» (OMS, 1972).

Assim, pode dizer-se que depois da década de sessenta se tem assistido ao nascimento e
desenvolvimento de novos ramos da ciência farmacêutica, o que obriga os profissionais
conscientes a uma preparação curricular mais lata e mais profunda.

É esta, pois, a evolução natural da Farmácia Galénica, que, de arte servindo-se do empirismo,
passou a ciência complexa e multifacetada, começando por todo o mundo a ser encarada e
orientada em bases completamente novas, em que a preparação do medicamento nunca
pode ser apreciada independentemente do fim que dele se pretende. Há ainda muito
caminho a percorrer neste sentido, tornando-se necessário atingir um equilíbrio judicioso
entre as formulações tradicionais e a avalanche de novos dados e teorias que menosprezam a
experiência das gerações passadas. É exemplo disto o aparecimento de formulações galénicas
não tradicionais, tais como as preparações farmacêuticas de ação modificada e os novos
sistemas terapêuticos.

Procuremos situar-nos na época presente, sem, porém, esquecer que em Farmácia Galénica,
como em todas as ciências , é preciso um período de adaptação às novas conceções, que
carecem de ser verificadas prudentemente. Assim, tentaremos conciliar os velhos conceitos
ainda válidos com as novas teorias já suficientemente aceites. Daremos, ainda, importância
a muitas fórmulas consideradas obsoletas em países talvez mais progressivos, sem esquecer
as nossas condições de trabalho local e as limitações a elas inerentes. Do mesmo modo.
Procuraremos não olvidar os estudos galénicos que hoje se impõem como conducentes à
preparação dos mais aperfeiçoados medicamentos.

1.3. Bibliografia em Farmácia Galénica


São, essencialmente, de três tipos as fontes bibliográficas ao serviço do farmacêutico
ocupado no estudo da Farmácia Galénica: as farmacopeias e formulários; os tratados gerais
e outros livros especializados em determinados sectores galénicos; os artigos publicados em
revistas farmacêuticas, de índole geral ou especializada.
a) Farmacopeia (do grego Pharmakon, droga, fármaco; podo, faço) é, pois, um livro
oficial, elaborado por uma comissão, o qual estabelece normas farmacêuticas
destinadas a assegurar, numa entidade político-geográfica determinada, a
uniformidade da natureza, da qualidade, da composição e da concentração dos
medicamentos aprovados ou tolerados, sendo essas normas obrigatórias e
estabelecidas pelas entidades competentes e a elas se devendo cingir o farmacêutico.
EX: Ph.I., U.S.P, B.P. e F.P.
b) Tratados gerais e outros livros especializados, nos últimos anos, têm aparecido diversos
artigos de revisão, publicados por diversos autores portugueses, os quais,
esporadicamente, foram reunidos sob a forma de livro. Este facto, porém, não
invalida a assinalada inexistência de qualquer obra de vulto sobre Farmácia Galénica.
c) Principais revistas de farmácia galénica, são raras as revistas destinadas a farmácia galénica.
Sendo, no entanto, alguns artigos publicados em certos anais ou, mesmo, revistas.

Notemos que no domínio dos assuntos que serão abordados nesta disciplina seremos obrigados
a recorrer outras literaturas (como da farmacologia, da anatomia e da histologia, dentre outras
ciências) que tratem de assuntos pertinentes.

1.4. Medicamento

Neste subtema estaremos a defender, através das definições apresentadas, a ideia de que o
medicamento não pode ser confundido com qualquer outra coisa, pois medicamento é
medicamento.
Define-se medicamento como a substancia medicinal e suas associações ou combinações
destinadas a ser utilizadas em pessoas ou animais, que tenha propriedades para prevenir,
diagnosticar, tratar, aliviar ou curar enfermidades, ou para modificar funções fisiológicas, quer
dizer, o medicamento é o princípio ativo (ou o conjunto deles) elaborado pela técnica farmacêutica
para uso medicinal.
Já nos referimos anteriormente que a droga é parte ou toda matéria-prima bruta. Agora definimos
fármaco como todas as drogas utilizadas em farmácia e dotadas de ação farmacológica ou, pelo
menos, de interesse médico. Quer isto dizer que o conceito de droga abrange o de fármaco,
ou que o fármaco é um tipo especial de droga.
De acordo com a ideia expressa, não se devem considerar como fármacos as drogas inertes
empregadas em Farmácia, como os excipientes e os adjuvantes duma dada preparação.
A palavra remédio é empregada num sentido amplo e geral, sendo aplicada a todos os
meios usados com o fim de prevenir ou de curar as doenças. Deste modo, são remédios
não só os medicamentos, mas também os agentes de natureza física ou psíquica a que se
recorre na terapêutica. A ideia de remédio não está, portanto, obrigatoriamente ligada à
composição farmacêutica que constitui o medicamento.
Há um outro assunto que pode nos confundir: a diferença que existe entre alimento, veneno e
medicamento. Do ponto de vista bromatológico, alimento tem sido definido como «toda a
substância que se ingere para manter o equilíbrio orgânico e para atenuar a fome». Do
ponto de vista galênico, somos levados a concluir que alguns alimentos podem utilizar-se como
excipientes ou veículos que facilitam a administração dos fármacos (sacarose no xarope, por
exemplo).
Em determinadas condições, um dado alimento pode transformar-se na parte ativa do
Medicamento e, certos medicamentos são empregados apenas como alimentos em doentes
muito debilitados ou naqueles que se não podem alimentar pelas vias de ingestão naturais.
Ao falarmos de veneno nos recordamos das palavras de VALERI PAOLI, autor de Glosas
Galenicas: «Um erro na pesagem dos medicamentos pode pôr em perigo uma vida. Na
balança pode estar a Saúde ou a Morte». Isto quer dizer que todas as substâncias
medicamentosas se podem tornar tóxicas consoante a quantidade administrada, a via de
administração, as condições do paciente, etc. Assim somos obrigados a conhecer qual a dose
de medicamento capaz de induzir o aparecimento de fenómenos tóxicos, ou, por outras palavras,
qual a dose máxima de fármaco que o organismo humano é capaz de suportar, consoante a
via de administração, sem que se observem efeitos perniciosos.
a) Classificação dos medicamentos. São várias as classificações que podem se dar aos
medicamentos, eis alguns: de acordo com a sua composição (simples e compostos), de
acordo com a forma de aplicar ou usar (interno e externo). A terceira classificação que nos
prenderemos a explicar é oficinais, especializados e magistrais. (1) Oficinais são os que se
encontram oficializados nas monografias da Farmacopeia. São, normalmente,
preparações dotadas de boa conservação, que o farmacêutico pode manipular e
guardar até ao momento do emprego. Há, porém, algumas exceções a esta regra, como a
maioria das limonadas, a emulsão comum, etc., que se alteram rapidamente após
preparação. (2) Especialidade são preparações farmacêuticas apresentadas no mercado
em embalagem própria, destinada a ser entregue ao consumidor e com uma
designação ou marca privativa. E (3) Magistrais os que não estão inscritos na Farmacopeia
e que são preparados pelo farmacêutico na sua oficina segundo as indicações
expressas numa receita médica, os quais apresentam, muitas vezes, má conservação,
pois o clínico formula de acordo com as necessidades do momento, não se interessando
na conservação do produto por período mais ou menos longo. Finalmente, os
medicamentos genéricos são preparações idênticas a especialidades, que podem ser
produzidos em série, mas que não têm outra designação que não o nome ou nomes
do fármaco ou fármacos constituintes. Naturalmente que um similar de uma dada
especialidade deve apresentar uma biodisponibilidade idêntica ou muito próxima da
especialidade que pretende reproduzir. Deve, pois, ser bioequivalente com ela. O
seu interesse é preferencialmente de natureza económica, visto serem dispensados
a um preço inferior ao do medicamento original.
1.5. Receita médica
Por receita (do latim, recipe, tome) entende-se um conjunto de indicações escritas, dadas
pelo médico ou veterinário ao farmacêutico, para a preparação e entrega de um medicamento.
Usualmente, comporta também instruções para o doente quanto ao modo de administração
ou uso do medicamento prescrito.
Numa receita médica podemos distinguir várias partes fundamentais: nome do doente;
fármacos utilizados e suas quantidades; forma farmacêutica pretendida; indicações quanto à
administração do medicamento; nome, morada e assinatura do médico.

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