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Tema 1
Introdução a farmacologia
DEFINIÇÃO
Histórico da Farmacologia. Conceitos essenciais da
Farmacologia. Aplicações da Farmacologia. Fases da pesquisa
clínica: desenvolvimentos de fármacos. Princípios gerais da
ação medicamentosa.
PROPÓSITO
Conhecer a evolução histórica dos principais conceitos da
Farmacologia, o que é fundamental para a atuação das
substâncias químicas nos sistemas biológicos e suas
aplicações no que tange à promoção de melhoria na
qualidade de vida individual e da sociedade. Quando estudamos a história dos medicamentos, nós nos
INTRODUÇÃO confrontamos com um único profissional que era capaz de
Para começarmos o estudo da Farmacologia, precisamos compreender os sintomas, diagnosticar as enfermidades e
compreender conceitos fundamentais, como: O que é preparar formulações medicamentosas a fim de tratar o
saúde? O que é doença? O que são medicamentos? doente. Este profissional era médico e farmacêutico ao
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o conceito mesmo tempo.
de saúde é amplo, pois não está ligado apenas à ausência de A história da farmácia e dos medicamentos é bem descrita
doença, e sim a uma relação perfeita entre o bem-estar por Cláudio Galeno, médico e filósofo nascido em Pérgamo,
físico, mental e social. Esta definição, descrita em 1947, foi antiga cidade grega, hoje território da Turquia.
bastante criticada, já que aponta para algo “inalcançável”. Galeno criou uma coletânea (Corpus Galenus), na qual
Cabe destacar que essa definição é válida até os dias de abrange o campo da Medicina, Filosofia, Matemática,
hoje, porém ainda é alvo de críticas e reflexões de muitos Gramática e do Direito. Uma de suas principais obras é o De
pesquisadores. methodo medendi, escritos em 14 volumes, abordando a
Atenção parte terapêutica. O médico ressaltava que a doença se
O termo doença pode ser descrito como estado causado iniciava a partir de uma desordem humoral ou até mesmo a
por uma afecção em um organismo, alterando seu bem- partir de lesões do corpo. Ao compreender os sintomas do
estar. O Ministério da Saúde traz esse conceito como uma paciente, seria possível traçar um prognóstico e iniciar a
alteração ou um desvio do estado de equilíbrio de um terapêutica adequada para o quadro, objetivando o equilíbrio
indivíduo com o meio ambiente, conceito este adotado em humoral.
1987. A base terapêutica de Galeno era pautada em alguns
O estudo dos medicamentos é importante para obter uma fatores, como: personalidade do paciente, idade, raça e até
melhor compreensão da atuação das drogas dentro do mesmo o clima em que ele vivia. Ele acreditava que esse
organismo humano. Historicamente, os medicamentos foram conjunto de fatores interferiam de alguma forma nos
originados de elementos da natureza e, até hoje, são humores no corpo. Diante dessas respostas, era traçado qual
recursos fundamentais na melhoria da qualidade de vida do medicamento seria ministrado ao paciente.
indivíduo, seja trazendo a cura, seja amenizando a dor, seja Saiba mais
para fins diagnósticos. Podemos dizer que o medicamento é O termo farmacologia vem do grego fármacon, que significa
uma das “pontes” que leva o nosso organismo da doença droga e logia, derivado de lógus, que significa estudo. Desta
para a saúde. forma, a Farmacologia é um ramo da Farmácia que estuda
Módulo 1 como as substâncias químicas interagem com os sistemas
Descrever o histórico e a evolução da Farmacologia como biológicos.
ciência No começo do século XIX, boa parte dos medicamentos
HISTÓRICO DA FARMACOLOGIA eram de origem natural, independentemente de ser extraído
Séculos atrás, as doenças eram usualmente consideradas de um vegetal, mineral ou animal, e, muitas vezes, de
como possessões demoníacas ou resultantes da raiva dos estrutura química e natureza desconhecidas, como a
deuses. Muitas vezes, para ajudar no combate aos sintomas, obtenção de morfina, derivada do ópio retirado do leite da
a população utilizava rituais religiosos e poções à base de papoula. Anos depois, com a descoberta da química orgânica,
ervas. O uso de substâncias químicas esteve, desde então, muitas drogas foram isoladas e identificadas, favorecendo a
presente na sociedade, no intuito de aliviar a dor e o evolução da farmacologia moderna.
sofrimento físico. No século XX, novos fármacos foram desenvolvidos, muitos
de origem sintética, e introduzidos no mercado,
proporcionando aos pacientes uma possibilidade de cura para
Segundo a fala do famoso médico, alquimista, físico e doenças ditas fatais e, frequentemente, de natureza
astrólogo Paracelso, do século XVI: infecciosa, como tuberculose, varíola e gripe espanhola.
ganhou destaque foi a da Bahia, pois se tornou um centro de
distribuição.
A partir da primeira metade do século XIX, devido à
necessidade crescente de medicamentos para os enfermos,
a botica – onde eram pesquisadas e manipuladas fórmulas
extemporâneas – deu lugar a outros dois novos tipos de
estabelecimentos: a Farmácia e o Laboratório Industrial
Farmacêutico. A partir daí, as preparações passaram a ser
manipuladas em maiores quantidades e com melhores
critérios de qualidade, já que as boticas não conseguiam
abastecer os hospitais com regularidade.
REMÉDIO X MEDICAMENTO: DEFINIÇÕES E
CLASSIFICAÇÃO
Modulo 1
OS PROCESSOS FARMACOCINÉTICOS
A farmacocinética é o estudo do percurso dos fármacos no
organismo. Nesse ramo da Farmacologia, os processos
farmacocinéticos se preocupam em descrever as
características de cada processo e, dessa forma, definir os Fármacos se movem através das barreiras das membranas
fatores capazes de alterá-los. e da célula por diferentes vias. BRUNTON et al., 2018.
Como descrito na introdução, a passagem dos fármacos por Nesse contexto, pode-se dizer que alguns fatores definem a
diferentes barreiras celulares é um processo importante para taxa e penetração dos fármacos nos tecidos, sendo eles: o
assegurar sua chegada ao tecido-alvo. Para tanto, algumas coeficiente de partição (lipossolubilidade x hidrossolubilidade);
características precisam ser consideradas: permeação e grau tamanho da molécula e espessura (da área de contato).
de ionização. Esses fatores são utilizados para previsão do fluxo passivo de
moléculas ao longo de um gradiente de concentração, a
conhecida Lei de difusão de Fick:
𝑎𝑟𝑒𝑎 × 𝑐𝑜𝑒𝑓𝑖𝑐𝑖𝑒𝑛𝑡𝑒 𝑑𝑒 𝑝𝑒𝑟𝑚𝑒𝑎𝑏𝑖𝑙𝑖𝑑𝑎𝑑𝑒
𝑓𝑙𝑢𝑥𝑜 (𝑚𝑜𝑙𝑒𝑐𝑢𝑙𝑎𝑠 𝑝𝑜𝑟 𝑢𝑛𝑖𝑑𝑎𝑑𝑒 𝑑𝑒 𝑡𝑒𝑚𝑝𝑜) = (𝐶1 − 𝐶2) ×
𝑒𝑠𝑝𝑒𝑠𝑠𝑠𝑢𝑟𝑎
Grau de ionização
Principalmente importante para ácidos e bases fracas, a
carga eletrostática de uma molécula definirá a atração por
dipolos de água e, dessa forma, sua hidrossolubilidade. Como
visto anteriormente, a lipossolubilidade é uma característica
que facilita a difusão dos fármacos pelas membranas, sendo,
portanto, a ionização do fármaco um fator que compromete
essa difusão. De maneira geral, o pH do meio onde os
Permeação fármacos são disponibilizados definirá quão ionizados eles
A permeação dos fármacos pode ser realizada através de estarão, favorecendo ou não sua difusão pelas membranas.
dois mecanismos: A forma não ionizada sempre será a mais lipossolúvel, e
Mecanismos passivos assim:
• Sem necessidade de gasto de energia.
Em pH ácido (pH<7): os fármacos ácidos ficam mais
• Difusão simples, aquosa e lipídica.
lipossolúveis, pois a maior parte de suas moléculas estão na
• Configuração do transporte dos fármacos pelos
forma não ionizada.
compartimentos aquosos (espaço intersticial, citosol, Em pH básico (pH>7): os fármacos básicos ficam mais
poros aquosos presentes na parede dos vasos lipossolúveis, pois a maior parte suas moléculas estão na
sanguíneos). forma não ionizada.
Em urina ácida, drogas de caráter básico são mais bem
Mecanismos ativos eliminadas, e o contrário também é verdadeiro. Se a droga,
• Necessidade de gasto de energia.
ainda que filtrada pelo rim, estiver na sua forma não ionizada
• Configuração do transporte dos fármacos pelas
membranas plasmáticas.
e, portanto, lipossolúvel, ao alcançar o túbulo renal, poderá Etapa biofarmacêutica necessária para disponibilizar o
ser reabsorvida, e, assim, não será eliminada. fármaco administrado na forma sólida ao TGI, para que haja
o processo de absorção.
É definida como o movimento do fármaco de seu sítio de
administração para a circulação sistêmica. Sabe-se que
fármacos sólidos administrados pela via oral, antes de
sofrerem absorção, necessitam se libertar da formulação,
que deve se desintegrar nos fluidos luminais, liberando o
fármaco. A absorção dos fármacos pode ser quantificada
pela biodisponibilidade, que é definida como a fração da dose
administrada que efetivamente alcança o sítio de ação, ou a
Exemplo circulação sistêmica, que levará o fármaco até seu sítio.
A utilidade desse conceito pode ser exemplificada no A formulação é um dos fatores que afetam a absorção,
processo de eliminação renal dos fármacos. A eliminação de como mencionado acima. Fármacos sólidos precisam passar
uma droga é um processo que, por vezes, deve ser por uma etapa chamada de biofarmacêutica, onde se tem a
favorecido na clínica, em quadros de intoxicação. desintegração, desagregação e dissolução do fármaco antes
A estratégia de alcalinizar a urina para favorecer a eliminação que ele esteja disponível para absorver. Tal etapa já não é
de um agente de caráter ácido, por exemplo, justifica-se necessária para formulações líquidas, conforme esquema ao
pelo fato de se aumentar, em ambiente alcalino, a porção da lado.
droga ácida na sua forma ionizada, impedindo sua
reabsorção e, consequentemente, garantindo a permanência
no túbulo renal e sua eliminação na urina, como ilustrado a
seguir:
Esquema 2
Modulo 3
OS PROCESSOS FARMACOCINÉTICOS DE ELIMINAÇÃO
A saída dos fármacos do organismo pode ser realizada por
diferentes vias. Sabe-se que os processos de eliminação
renal e hepático biliar são muito importantes e que outras
INIBIDORES vias secundárias também são utilizadas.
suor
lágrimas estar na sua forma livre e ser menor que 20 mil dáltons para
leite materno conseguir se difundir pelos capilares glomerulares.
via pulmonar Ainda que não tenha sido filtrado, é possível que o fármaco
OBSERVAÇÕES IMPORTANTES seja secretado ativamente no túbulo renal por carreadores
• O fármaco pode ser eliminado na sua forma não de ácidos ou de bases existentes nessa região.
alterada ou na forma de metabólito. O processo de secreção tubular representa grande parte da
• Com exceção do pulmão, os órgãos excretórios eliminação de substâncias ligadas a proteínas plasmáticas. Ao
eliminam melhor compostos polares do que alcançar o lúmen do túbulo, existe a possibilidade de o
altamente lipofílicos. fármaco permanecer e, assim, ser excretado na urina ou
• Para que a eliminação seja eficiente, os que são retornar à circulação sistêmica pelo processo de
lipossolúveis, em geral, dependem de conversão a reabsorção.
seus metabólitos mais hidrossolúveis. As células tubulares são pouco permeáveis às formas
• A eliminação de fármacos no leite materno deve ionizadas, e a reabsorção passiva dessas substâncias
ser identificada, pois isso é possível para alguns depende do pH.
fármacos; dessa forma, o recém-nascido, ao ser Como observado, o pH da urina pode interferir na eliminação
amamentado, fica vulnerável aos efeitos do de fármacos. Alimentos e/ou compostos que alterem o pH
fármaco. É importante ressaltar que O pH do leite é da urina podem favorecer ou desfavorecer a eliminação de
mais ácido do que o pH do plasma; assim, um fármaco pela via renal, pois, ao favorecer sua forma
compostos básicos poderão concentrar-se nesse ionizada, a permanência no túbulo é garantida, mas, ao
fluido favorecer a forma não ionizada, há risco de reabsorção.
• Em algumas situações, quando administrado pela via Alguns outros fatores devem ser considerados como
oral, boa parte do fármaco sequer alcança a interferentes na eliminação de fármacos:
circulação, pois é eliminada nas fezes antes de ser Escolha uma das Etapas a seguir.
absorvida. Fator 1 Idade (neonatos e idosos possuem menor taxa de
• O rim é o órgão mais comprometido com a filtração glomerular).
eliminação dos fármacos, porém apenas 30% deles Fator 2 Quadros patológicos (insuficiência renal e hepática –
são eliminados na sua forma não modificada. O que este segundo pelo fato de reduzir a capacidade do fígado de
quer dizer que o fígado precisa auxiliar o rim gerar os metabólitos hidrossolúveis, que são mais bem
metabolizando os fármacos, para que consigam ser eliminados).
eliminados. Além disso, alguns alcançam o sistema Fator 3 Ligação a proteínas plasmáticas (quanto maior a
porta e o fígado, que retorna o fármaco para o TGI ligação, menor será a filtração no glomérulo).
lançando-o diretamente no intestino ou pela bile, Para fármacos que dependem da secreção tubular, devemos
eliminando-o. considerar as interações medicamentosas possíveis quanto à
• competição pelos carreadores tubulares. Quando dois
fármacos competem pelo mesmo carreador, isso implica em
menor secreção de um deles – a administração de
probenecida acompanhada de penicilina é um exemplo
positivo dessa interação (a probenecida reduz a eliminação
da penicilina, fazendo-a permanecer mais tempo em
circulação). Entretanto, para outras interações, há o risco de
efeitos tóxicos.
De forma geral, pode-se pensar que a redução da
concentração plasmática do fármaco se deve à sua
distribuição, redistribuição e eliminação.
Em farmacocinética, a eliminação dos fármacos é descrita
como depuração ou clearance (CL).
No nível mais simples, a depuração de um fármaco é um
evento que prevê sua taxa de eliminação em relação à sua
concentração (C). Por sua vez, um fármaco se retira do
espaço intravascular, seja por distribui-se ao tecido, seja por
eliminação, a concentração plasmática decresce. Observe
atentamente as etapas nas imagens a seguir, que ilustram
modelos de distribuição e eliminação dos fármacos.
• Clique nas figuras abaixo para ver as informações.
FIGURA C
O fármaco é colocado em um compartimento (sangue) e se
distribui para um segundo compartimento (volume
extravascular). Neste caso, o gráfico mostra um aumento
íngreme (referente ao momento em que o fármaco é
adicionado), depois há um decaimento exponencial até um
novo platô (quando a quantidade de fármaco fica em
quantidades equilibradas nos dois compartimentos).
Tema 3
Processos farmacodinâmicos
DEFINIÇÃO
Apresentação dos processos farmacodinâmicos,
Na cinética linear, a concentração plasmática no estado de caracterização dos receptores farmacológicos e suas vias de
equilíbrio dinâmico é diretamente proporcional à dose. sinalização e dos parâmetros importantes para a avaliação da
Comparação do perfil da curva de fármacos administradas segurança dos fármacos.
via oral a cada 12 horas com cinética de primeira ordem PROPÓSITO
(linear), onde o equilíbrio dinâmico é alcançado. Compreender o conceito e as características
farmacodinâmicas para definir a ação dos fármacos em seus
receptores, prevendo as ações terapêuticas e as adversas.
Compreender a forma como essas substâncias se
comportam no organismo e como alteram as funções
bioquímicas celulares ou extracelulares, com vistas à análise
do risco-benefício da terapia.
Na cinética de saturação, um pequeno incremento na dose INTRODUÇÃO
resulta em um efeito desproporcional sobre a concentração A Farmacodinâmica é o estudo dos efeitos fisiológicos,
plasmática. bioquímicos e celulares dos fármacos e seus mecanismos de
Comparação do perfil da curva de fármacos administradas ação. Esses efeitos resultam da interação dos fármacos com
via oral a cada 12 horas na cinética de saturação, onde o seus componentes macromoleculares (receptores), a fim de
equilíbrio dinâmico é imprevisível. que uma resposta terapêutica seja produzida. A maioria dos
SOBRE DOSAGENS REPETIDAS fármacos precisa se ligar a um receptor para desencadear
Para um esquema de doses repetidas, tem-se, portanto, que seu efeito, e essa ligação instaura a primeira parte de uma
os fármacos devem ser administrados de modo a manter série de eventos que ocorrerão em cascata.
uma concentração plasmática de equilíbrio, que gere o A maioria dos receptores dos fármacos está localizada nas
efeito esperado e seja segura. Cada dose deve ser suficiente membranas das células, mas também pode estar em
para repor o fármaco eliminado na dose anterior. A dose a compartimentos intracelulares específicos, como o núcleo, e
ser administrada a cada tomada, para manter essa compartimentos extracelulares, como os fármacos que
concentração-alvo, é chamada de dose de manutenção. Uma interagem com os fatores da coagulação e mediadores
vez que, no estado de equilíbrio, a taxa de “entrada” inflamatórios.
(administração) iguala-se à taxa de “saída” (eliminação) do Alguns fármacos mais recentes têm propriedades bem
fármaco no organismo, substituindo-se a concentração (C) diferentes das dos fármacos tradicionais. A engenharia
pela concentração-alvo (C alvo) (que se espera ter) na genética permitiu a utilização de enzimas geneticamente
equação da taxa de eliminação, temos que: modificadas e de anticorpos monoclonais, configurando um
grupo novo de fármacos – os biológicos terapêuticos. O
vírus vivo do herpes (geneticamente modificado) foi
recentemente aprovado para o tratamento do melanoma,
sendo injetado em tumores que não podem ser
completamente removidos por cirurgia.
Para vias de administração, onde a biodisponibilidade não é De modo geral, pode-se dizer que, no ramo da
100%, ou seja, F<1, como no caso da via oral, a taxa de Farmacodinâmica, é de extremo interesse a avaliação da
administração deve ser ajustada pelo fator de ação das drogas, biológicas ou químicas, sintéticas ou
biodisponibilidade. Logo, usaremos Taxa de administração x F naturais, nos seus devidos receptores, além da identificação
na equação.
e da descrição das cascatas intracelular ou extracelular Muitas vezes, as proteínas efetoras não são o alvo final, em
originadas dessa interação. Isso porque, a descrição desse vez disso, uma enzima ou proteína transportadora que
fenômeno permite prever o comportamento ativador ou modula, degrada ou sintetiza componentes chamados
inibidor de uma droga, a intensidade do efeito e a de segundos mensageiros. Estes podem se difundir pela
aplicabilidade em condições profiláticas e patológicas. célula e modular outros componentes e, dessa forma,
Módulo 1 promover diversos estímulos inerentes à ativação de um
Definir os princípios farmacodinâmicos com base mesmo receptor.
no conceitode receptores farmacológicos Conforme a ação dos ligantes endógenos nos receptores,
RELAÇÃO DOS FÁRMACOS COM classifica-se a ação dos fármacos nos mesmos receptores
OS DIFERENTES RECEPTORES como: agonistas ou antagonistas.
Objeto com interação.
FÁRMACOS AGONISTAS
Exercem uma ação similar à exercida pelo ligante endógeno
no receptor. Ligando-se na mesma região que os ligantes
endógenos são descritos como agonistas primários; caso a
Muitos receptores farmacológicos possuem estrutura ligação seja em outra região do receptor, diferente da
proteica. Em geral, esses receptores têm uma função região de ligação do ligante endógeno, são definidos
fisiológica específica, atendendo às necessidades já como agonistas alostéricos.
existentes nas células e nos tecidos. Em grande parte, eles Alguns agonistas têm capacidade parcial na ativação dos
são proteínas que atuam como receptores para ligantes receptores e são definidos como agonistas parciais; outros
endógenos. Apesar de serem a maioria, é preciso considerar são plenos em relação à sua atividade agonista, sendo
receptores de outras naturezas, como fármacos os agonistas totais ou plenos. Muitos receptores possuem
antimicrobianos e antitumorais que interagem diretamente atividade constitutiva na ausência doa ligantes reguladores.
com o DNA, e os biofármacos, que incluem ácidos nucleicos, Alguns fármacos estabilizam o receptor na forma inativa e
proteínas e anticorpos. são denominados agonistas inversos.
A ligação dos fármacos aos receptores envolve diferentes
tipos de interações:
Iônicas
Pontes de hidrogênio
Van der Waals
Covalentes
Ligações covalentes
As ligações covalentes garantem uma duração mais
prolongada.
Ligações não-covalentes FÁRMACOS ANTAGONISTAS
As não covalentes, se forem de alta afinidade, também Bloqueiam ou inibem a ação de receptores fisiológicos.
poderão exercer ação irreversível. Normalmente, a ação antagonista deriva de uma competição
Saiba mais entre o fármaco antagonista e o agonista endógeno pelo
Além da duração da ligação, outro fator que determina a mesmo sítio no receptor (antagonismo competitivo). Outras
ação dos fármacos nos receptores é a localização destes. vezes, por ligação em um sítio diferente, em que a ligação
Se um fármaco age em um receptor amplamente do antagonista gera uma modificação no receptor que
distribuído em diferentes tecidos, seus efeitos serão diminui a ligação do agonista (antagonismo alostérico). Pode-
disseminados. se, portanto, resumir o conceito de agonista e antagonista
Se for uma função vital, modular, tais receptores em tantos como:
tecidos diferentes pode ser arriscado e gerar toxicidade • Drogas agonistas – ligam-se de algum modo ao receptor e
disseminada. o ativam, produzindo o efeito, que pode ser total (agonista
Se o fármaco interagir com receptores exclusivos a apenas pleno) ou parcial (agonista parcial).
algumas células, seus efeitos serão mais específicos, e os • Drogas antagonistas – ligam-se ao receptor e impedem a
efeitos colaterais serão minimizados. ligação de outras moléculas, em geral, do agonista endógeno.
Fisiologicamente, os receptores exercem a função de
ligação ao ligante e propagação da mensagem. Para tanto,
dois domínios funcionais são necessários,
Domínio de ligação ao ligante
Domínio efetor
As ações esperadas pela ativação dos receptores podem
ser exercidas diretamente em seus alvos, as proteínas
efetoras, ou podem ser conduzidas por componentes
intermediários denominados transdutores. Figura 1 – Regulação da atividade do receptor por fármacos.
Na regulação da atividade do receptor por fármacos, diferencia dos agonistas (de eficácia positiva) e dos
podemos observar a forma ativa do receptor (Ra), a forma antagonistas (de eficácia zero). Em tese, um agonista inverso,
inativa (Ri) e o ligante (L), que pode ser um agonista total ( full por silenciar receptores constitutivamente ativos, é mais
agonist); um agonista parcial (partial agonist); um antagonista eficaz que um antagonista em doenças associadas a
(antagonist) ou um agonista inverso (inverse agonist). mutações no receptor que resultem em aumento da
No gráfico apresentado, é preconizado que o receptor atividade constitutiva. São exemplos de situações patológicas
exista nas formas ativa e inativa. O ligante, que pode ser como essa certos tipos de hipertireoidismo e puberdade
endógeno, ou o fármaco propriamente dito, quando é um precoce.
agonista total, liga-se à forma ativa do receptor, gerando um A força da interação entre o fármaco e o receptor medida
máximo de efeito neste. O agonista parcial se liga a ambas as pela constante de dissociação é definida como afinidade entre
formas, com maior afinidade na forma ativa – por isso, o o fármaco e o receptor. A afinidade depende, portanto, da
efeito gerado no receptor não é máximo, mas parcial. O estrutura química do fármaco. Além da afinidade, a estrutura
antagonista se liga a ambas as formas com igual afinidade, química também definirá a especificidade.
não gerando efeito no receptor. O agonista inverso se liga à Um fármaco capaz de interagir com um único tipo de
forma inativa, estabilizando-o nessa conformação, gerando receptor expresso em uma quantidade limitada de células
inativação do receptor. exibirá alta especificidade.
De modo geral, pode-se dizer que o receptor tende a Fármacos que atuem em receptores expressos em diversos
manter suas conformações ativas e inativas em equilíbrio. tecidos exibirão efeitos generalizados.
Atenção A ação em diferentes tecidos pode ser um fator benéfico
A extensão em que o equilíbrio é alterado em direção à ao aumentar o espectro de ação do fármaco e pode ser
forma ativa do receptor é definida pela afinidade relativa do um fator deletério ao passo que aumenta demasiadamente o
fármaco, pelas duas conformações. risco de efeitos adversos.
Assim, um fármaco com maior afinidade pela conformação Resumindo
ativa irá direcionar o equilíbrio para o estado ativo e ativar o De modo geral, os fármacos fazem duas coisas com os
receptor. Será dessa forma um agonista. Sendo um agonista receptores: Ligam-se a eles e alteram seu comportamento
total, ele terá seletividade suficiente para direcionar, de modo na célula.
integral, o receptor para o estado ativo. A ligação do fármaco no receptor é governada pela
Embora o modelo descrito mostre que os receptores são afinidade e regida pela força química que promove a união
ativados apenas quando a molécula de um agonista se liga a de ambos.
eles, há situações em que pode ocorrer um nível apreciável A alteração do comportamento é governada pela eficácia,
de ativação, mesmo na ausência de ligantes. Para esses que é a informação codificada na estrutura química do
casos, há uma ativação constitutiva, ou seja, uma atividade fármaco capaz de promover a alteração na estrutura do
em repouso, mesmo sem ativação do receptor por um receptor.
ligante. O término da ação dos fármacos nos receptores depende
A observação da atividade constitutiva tornou-se a melhor de muitos fatores. Em alguns casos, a ação dura até o
forma de compreender a ação dos agonistas inversos. Essa fármaco se desligar do receptor. Assim, quando há
atividade pode ser baixa demais para gerar qualquer efeito dissociação, há também o término do efeito. Em outros
sob condições normais, mas pode tornar-se evidente quando casos, o efeito pode durar além da dissociação, quando, por
há receptores expressos em excesso. exemplo, moléculas acopladoras intracelulares permanecem
ativadas gerando efeito mesmo que o fármaco não esteja
mais ligado ao receptor.
A dissociação entre o fármaco e o receptor confere uma
ligação reversível entre os dois.
Há casos em que a ligação é realizada de forma covalente, e
o efeito pode persistir, sendo interrompido apenas quando o
complexo droga-receptor é destruído e um novo receptor
é sintetizado pela célula. Essa ligação é
denominada irreversível.
Exemplo
Suponhamos que, em uma célula, 1% dos receptores estão
ativos na ausência de qualquer agonista. Em uma situação
normal que expressa 10.000 receptores, apenas 100 estarão
ativos. Em uma situação patológica em que haja um Há também mecanismos de dessensibilização dos receptores
aumento de dez vezes no nível de expressão, 1.000 para impedir a ativação excessiva destes, quando a molécula
receptores estarão ativos, produzindo, dessa forma, um do fármaco permanece muito tempo ligada. A
efeito significativo. Nessas condições, é possível reduzir o dessensibilização é um dos fatores que contribui para um
nível de ativação constitutiva lançando mão de fármacos evento conhecido como taquifilaxia. Esse evento ocorre
agonistas inversos. Assim, esses agonistas podem ser quando a resposta ao fármaco diminui por causa da
considerados fármacos com eficácia negativa, o que os
administração de doses repetidas e, em geral, requer ajuste Na clínica, as mutações dos receptores podem alterar a
da dose administrada para a manutenção do efeito. resposta ao tratamento farmacológico, como exemplo
A estimulação contínua das células pelo agonista geralmente vemos a mutação de receptores beta-adrenérgicos (que
leva à dessensibilização. Esse efeito é também chamado modulam o relaxamento da musculatura lisa das vias
de estado refratário ou modulação negativa. A inibição da respiratórias) acelerando a dessensibilização. Assim, reduzindo
sinalização pode se limitar ao estímulo de apenas um a responsividade aos agonistas beta-adrenérgicos utilizados
receptor, conhecido como dessensibilização homóloga. no tratamento da asma.
Saiba mais QUANTIFICAÇÃO DO AGONISMO
Quando estendida a todos os receptores que participam da
via de sinalização comum é chamada de dessensibilização
heteróloga.
A primeira é dirigida para a própria molécula do receptor,
alguns mecanismos como fosforilação ou diminuição da
síntese do receptor podem ser realizados pela célula para
reduzir sua atividade. Relacionar a dose do fármaco com o nível de resposta
A segunda envolve perda de uma ou mais proteínas que clínica é um processo complexo, pois muitos fatores
participam da via de sinalização, ou seja, não são interferem no nível de resposta, fatores individuais inclusive.
modificações sofridas pelo receptor, mas por componentes Entretanto, relacionar a concentração de um fármaco e seu
que atuam na sua via. efeito em um sistema experimental (in vitro) bem controlado
A ação do fármaco também pode ser finalizada devido à é possível. Nesses sistemas, a relação entre a concentração
resistência a ele. Alguns mecanismos farmacocinéticos e o efeito de um fármaco agonista é descrita por uma curva
podem estar envolvidos com o metabolismo mais acelerado, hiperbólica (figura 2A).
caso dos barbitúricos cuja administração repetida da mesma Essa relação está pautada na teoria de ocupação dos
dose leva a uma redução progressiva da concentração receptores e na lei de ação das massas (figura 2B), que diz
plasmática do fármaco, por causa do aumento de sua que a resposta de um fármaco é proporcional à ocupação
degradação metabólica. dos receptores por ele.
O termo “resistência a um fármaco”, entretanto, é utilizado Atenção
mais comumente para descrever a perda de eficácia dos Em certa concentração do fármaco, atinge-se o nível
fármacos antimicrobianos ou antineoplásicos. Muitos máximo de resposta, de forma que incrementos maiores de
mecanismos diferentes podem dar origem a esse tipo de concentração não elevam esse nível.
fenômeno, como: Por vezes, o acoplamento ocupação-resposta não é linear, o
Alteração em receptores que significa que, mesmo com ocupação menor que a
máxima dos receptores, a resposta pode ser máxima. Um
Depleção de mediadores conceito útil para justificar isso é o de receptor de reserva.
Aumento da degradação metabólica do fármaco Objeto com interação.
Adaptação fisiológica RELAÇÃO ENTRE A CONCENTRAÇÃO E O EFEITO DO
Extrusão ativa do fármaco das células (relevante FÁRMACO (A) E A CONCENTRAÇÃO E A OCUPAÇÃO DO
principalmente na quimioterapia antineoplásica) RECEPTOR (B)
Mecanismo de resistência celular (aumento de expressão de
proteínas de efluxo em bactérias)
A perda de um receptor ou de sua responsividade em um
sistema de sinalização também pode gerar efeitos bastante
drásticos. Algumas doenças atualmente conhecidas estão
relacionadas a deficiências em receptores ou em seus
sistemas de sinalização.
Exemplo
A miastenia gravis é um exemplo de doença que resulta da
depleção autoimune dos receptores colinérgicos nicotínicos,
e algumas formas de diabetes mellitus, que resultam da
depleção de receptores insulínicos. Figura 2 –
Observamos também que receptores podem responder de Relação entre a concentração e o efeito do fármaco (A) e a
forma anormal aos ligantes quando sua expressão ou a de concentração e a ocupação do receptor (B).
seus efetores é aberrante. Entre os eventos mais Observe a concentração em que são alcançadas a metade
significativos está o aparecimento de receptores aberrantes do efeito máximo e a metade da ocupação dos receptores,
como produtos de oncogenes, transformando células definidas como EC50 e K0, respectivamente. Emáx é o efeito
normais em células malignas. Os produtos dos máximo e Bmáx, a ocupação máxima.
oncogenes ros e erbB, formas ativadas e descontroladas de Os componentes básicos da resposta ao fármaco mediados
receptores de insulina e fator de crescimento epidérmico por receptores podem ser definidos como a afinidade
aumentando a proliferação celular são exemplos. (mediada pela constante de dissociação – K0), a fração de
receptores ocupados pelo fármaco (determinada pela
concentração do fármaco e pela K0) e a eficácia que define
o poder de indução de resposta do fármaco.
A relação mostrada anteriormente, apesar de alcançada em
estudos in vitro, configura a base de relações mais
complexas entre dose e efeito que ocorrem quando
administramos fármacos a pacientes. A representação
gráfica dos dados de dose x efeito é aprimorada ao
Figura 4 – Quantificação do agonismo.
plotarmos a dose ou a concentração em escala logarítmica
Veja que, em A, dois agonistas apresentam o mesmo nível
(abscissa). Isso transforma a hipérbole em uma sigmoide e a
de reposta no mesmo tecido, mas demandam
visualização da EC50 é facilitada (veja a seguir).
concentrações diferentes para atingi-la. O mais potente será
RELAÇÃO CONCENTRAÇÃO X RESPOSTA
o de menor EC50. Em B, no mesmo tecido, dois agonistas
apresentam diferentes níveis de resposta e eficácias distintas.
DIFERENTES EFICIÊNCIAS NO PROCESSAMENTO DO
ESTÍMULO DO RECEPTOR PRODUZEM NÍVEIS DE
RESPOSTA DIFERENTES PARA FÁRMACOS (A, B E C)
COM EFICÁCIAS DISTINTAS
Figura 13 – Modulação da enzima-alvo por Gs e Gi. As curvas dose x resposta descritas anteriormente implicam
limitações quanto à tomada de decisão clínica. Como
Observe que, na modulação da enzima-alvo (a adenililciclase,
observado, essas curvas são construídas para prever uma
por exemplo) por Gs e Gi, a heterogeneidade das proteínas G
resposta farmacológica específica em relação ao aumento
permite que os diferentes receptores exerçam efeitos opostos
de dose (ou concentração) do fármaco. Dessa forma, se a
em uma mesma enzima-alvo.
resposta farmacológica for um evento de dois tipos, fica
Outro segundo mensageiro importante que pode estar impossível contemplar na mesma curva.
envolvido na ativação de receptores acoplados à proteína Gt é Além disso, a relação dose x resposta quantitativa em um só
o GMPc (monofosfato de guanosina cíclico). paciente, mesmo precisamente definida, pode ser limitada
Os receptores acoplados à proteína Gt, quando ativados, em aplicação a outros pacientes, devido à variabilidade entre
estimulam a guanililciclase ligada à membrana a produzir GMPc. indivíduos quanto à gravidade de doenças e resposta a
Este atua estimulando proteínas-cinase dependentes de GMPc. fármacos.
Uma ação muito evidente da concentração aumentada do Em geral, a dose a ser utilizada de um fármaco é definida
GMPc é a desempenhada no relaxamento do músculo liso pela magnitude de efeito em um número grande de
vascular, por meio de um mecanismo mediado por cinases, pacientes individuais, ou em animais experimentais pela
resultando em desfosforilação das cadeias leves de miosina. construção de um gráfico de percentual de resposta
(quantos por cento respondem) versus o log da dose. A Atenção! Para visualização completa da tabela utilize a
resposta (ou efeito) utilizada para construir o gráfico é rolagem horizontal
escolhida pela relevância clínica (por exemplo, alívio da dor, Em seres humanos, a precisão do índice terapêutico não é
redução da pressão arterial), ou pode ser um evento possível, pois seria necessária a evolução da dose
específico (morte do animal experimental). administrada até que se alcançasse a letalidade em indivíduos
Na curva de dose x efeito baseada no percentual dos que humanos. Em vez disso, ensaios farmacológicos e experiência
exibem a resposta é possível observarmos a dose efetiva clínica revelam uma variação das doses efetivas e das doses
mediana (ED50), que é a dose na qual 50% dos indivíduos tóxicas. A variação entre a dose tóxica mínima e a dose
exibem o efeito. Em estudos experimentais em animais, é terapêutica mínima, evidenciada na verdade pela
possível prever a dose necessária para que 50% da amostra concentração plasmática alcançada uma vez administradas as
apresentem um efeito tóxico em particular (TD50) ou até doses, é chamada de janela terapêutica e tem valor prático
mesmo a dose necessária para gerar letalidade em 50% da maior na escolha da dose para um paciente.
amostra (LD50) (figura 15). A janela terapêutica informa a concentração do fármaco
Atenção necessária para gerar o efeito com o mínimo de
É possível utilizar o conceito e a potência já trabalhados manifestações tóxicas (como mostrado a seguir). Na prática,
anteriormente também para a análise dessas curvas. Assim, administra-se a dose de um fármaco capaz de gerar
entre dois fármacos A e B, que apresentem ED50 de 5 mg concentração plasmática eficaz, mesmo que venha agregada
e 500 mg, por exemplo, o mais potente será o A, que com de efeitos adversos, desde que o risco-benefício compense.
uma dose 100 vezes menor (5mg) gera efeito em 50% dos Exemplo
indivíduos, algo que o B só consegue em uma dose 100 O risco de toxicidade aceitável depende da gravidade da
vezes maior (500mg). doença tratada. Doses de um fármaco que fornecem alívio
As medidas descritas são importantes para o cálculo dos para uma dor de cabeça comum na maioria dos pacientes
parâmetros de segurança dos fármacos. O índice precisam ser muito mais baixas do que as doses que
terapêutico é um desses parâmetros, pois correlaciona a produzem toxicidade séria. Para tratamento de uma doença
dose de um fármaco necessária à produção de um efeito letal como o linfoma de Hodgkin, a diferença aceitável entre
desejado com aquela que produz um efeito indesejado. Em as doses terapêuticas e as tóxicas pode ser menor, uma vez
estudos com animais, o índice terapêutico é definido como a que o benefício nessa situação compensa o risco.
razão da LD50 e a ED50 (como mostrado a seguir).
Anatomia
Proteína de canal
de um neurônio
Ambas formam caminhos proteicos contínuos na bicamada
lipídica, comunicando o meio extracelular com o citosol.
Enquanto o transporte por proteínas carreadoras pode ser
passivo ou ativo, o transporte por canais é sempre passivo.
O potencial de membrana tem origem quando existe uma
diferença na carga elétrica nos dois lados de uma membrana
devido a uma divergência na distribuição de íons positivos e
negativos em suas duas faces. Essas diferenças podem
ocorrer por um bombeamento eletrogênico ativo e por um
transporte passivo de íons, sendo os últimos de movimentos
de maior contribuição para a manutenção do potencial
elétrico de membrana. Desenvolvimento de um potencial de ação em uma célula
A bomba de sódio/potássio auxilia na manutenção do nervosa através da ação de um canal de sódio dependente
equilíbrio osmótico através da membrana celular por baixar a de voltagem no corpo celular
concentração intracelular de sódio (Na+), enquanto a O potencial de ação é uma consequência direta das
manutenção do repouso da membrana se dá pelo propriedades dos canais iônicos controlados por voltagem.
bombeamento de potássio para dentro da célula através da Ele é desencadeado por uma despolarização da membrana
Na+/K+ ATPase e também pelos canais de vazamento de plasmática em células neuronais e musculoesqueléticas. Um
potássio (K+), que promovem a permeabilidade dos íons estímulo que gere suficiente despolarização prontamente
livremente do citosol para o meio extracelular. Essas causa a abertura de canais de Na+ controlados por voltagem,
diferenças geradas entre a permeabilidade do Na+, o permitindo a entrada de uma quantidade de Na+ a favor do
vazamento do K+ para o meio extracelular e o seu seu gradiente eletroquímico e alterando bruscamente o
bombeamento de volta ao citosol geram uma força elétrica estado de repouso da membrana para a propagação do
importante para a determinação do equilíbrio iônico e potencial de ação ao longo axônio.
geração do potencial de repouso de membrana. Na maioria das células nervosas, os canais de
A condição de equilíbrio, na qual não existe fluxo de líquido K+ dependentes de voltagem fornecem um mecanismo
de íons através da membrana plasmática, define o potencial importante no retorno do potencial de membrana para o
de repouso de membrana. repouso após a propagação de um potencial de ação,
Atenção preparando-o para o desencadeamento de um possível
Embora o gradiente de K+ tenha sempre uma influência segundo estímulo. Esses canais se abrem, de modo que o
principal nesse potencial, os gradientes de outros íons influxo de Na+ seja rapidamente superado pelo efluxo de K+,
também têm um papel importante: quanto mais permeável o qual retorna a membrana, rapidamente, para o seu estado
for a membrana a um íon, maior será a tendência de o de equilíbrio.
potencial de membrana ser próximo ao valor de equilíbrio de Nesse processo, é interessante entendermos o papel dos
tal íon. Como consequência, mudanças na permeabilidade de seguintes canais:
membrana podem acarretar mudanças em seu potencial. Canais permeáveis seletivos a K+ Apresentam um papel
Apesar dos diferentes sinais transmitidos pelas células importante para a determinação do potencial de repouso da
neuronais, a forma do sinal é sempre a mesma, consistindo membrana através da membrana plasmática na maioria das
em mudanças no potencial elétrico através da membrana células animais.
plasmática do neurônio. A comunicação acontece porque Canais iônicos controlados por voltagem São responsáveis
uma alteração elétrica em uma região celular se propaga pela geração dos potenciais de ação nas células
para outra região, podendo tornar-se mais forte ou fraca eletricamente excitáveis, como os neurônios e as células
dependendo da trajetória, amplificação e força do sinal musculoesqueléticas.
recebido. Canais controlados por transmissores convertem sinais
Os neurônios utilizam um mecanismo de sinalização ativa, químicos em sinais elétricos nas sinapses químicas. Os
que é uma das características mais marcantes da neurotransmissores excitatórios, como a acetilcolina, abrem
comunicação celular. Um estímulo elétrico que excede certa canais iônicos e despolarizam a membrana até um limiar
força de limiar desencadeia uma explosão de atividade gerador do potencial de ação.
elétrica, que é propagada rapidamente ao longo da VIAS DE SÍNTESE E LIBERAÇÃO DE
membrana plasmática axonal e é mantida por amplificação NEUROTRANSMISSORES: SISTEMAS COLINÉRGICO E
automática por todo o caminho. ADRENÉRGICO
Essa onda de excitação elétrica é chamada de potencial de Os sinais neuronais são transmitidos de célula para célula em
ação ou impulso nervoso, que pode carregar uma sítios especializados de contato conhecidos como sinapses. O
mensagem de uma extremidade a outra do neurônio em mecanismo normal de transmissão é indireto. As células são
velocidade muito alta. isoladas eletricamente, isto é, a célula pré-sináptica é
separada da célula pós-sináptica por uma fenda sináptica
estreita.
Veja as etapas evolvidas nesse processo:
Clique nas barras para ver as informações. A farmacologia de cada sistema será tratada mais adiante,
ETAPA 1 destacando o impacto dos fármacos sobre o sistema
Uma mudança de potencial elétrico na célula pré-sináptica nervoso periférico e suas divisões.
desencadeia a liberação de pequenas moléculas sinalizadoras, SISTEMA COLINÉRGICO
conhecidas como neurotransmissores, que estão No sistema colinérgico, a molécula neurotransmissora é a
armazenadas em vesículas sinápticas, envoltas por acetilcolina (Ach), que foi a primeira substância identificada
membrana e liberadas por exocitose. como neurotransmissor através de suas funções de
ETAPA 2 diminuição da frequência de batimento cardíaco nas sinapses
O neurotransmissor difunde-se rapidamente através da fenda neuromusculares entre o nervo vago e as células musculares
sináptica e provoca uma mudança elétrica na célula pós- cardíacas. Posteriormente, a Ach foi associada às funções
sináptica por ligação nos canais iônicos controlados por musculoesqueléticos nas sinapses entre o neurônio motor
transmissor. Após a liberação do neurotransmissor, ele é somático e fibra muscular esquelética e, finalmente, nas
rapidamente removido, degradado por enzimas específicas sinapses dos gânglios viscerais, atuando na regulação das vias
na fenda sináptica, ou é captado novamente pelas autonômicas.
terminações nervosas que o liberaram ou pelas células gliais
presentes na sinapse.
ETAPA 3
A recaptação é mediada por uma variedade de proteínas Estrutura química da
carreadoras de neurotransmissores dependentes de Na+, acetilcolina
desencadeando a reciclagem dos neurotransmissores e A síntese de Ach se dá através da acetilação da colina com
permitindo que os neurônios mantenham a taxa de liberação a acetil co-enzima, através de uma reação catalisada pela
dessas moléculas. enzima colina acetiltranferase. A colina está presente no
A remoção rápida dos neurotransmissores da fenda sináptica plasma em altas concentrações, sendo captada pelos
garante precisão espacial e temporal de sinalização sináptica. neurônios colinérgicos devido à atuação do transportador de
Esse mecanismo diminui as chances de um transmissor colina de alta afinidade. Após a síntese de Ach no citosol do
influenciar as células vizinhas e limpar a fenda sináptica antes terminal pré-sináptico neuronal, a Ach é transportada para o
de o próximo pulso de neurotransmissor ser liberado, de tal interior das vesículas pré-sinápticas pela ação do
forma que o tempo de repetidos eventos de sinalização transportador vesicular de acetilcolina. Uma vez na fenda
possa ser comunicado de maneira precisa entre as células. sináptica, a Ach pode sofrer a ação da enzima
Esse tipo de sinapses, envolvendo neurotransmissores, é acetilconesterase e ser hidrolisada em acetato e colina,
chamado de sinapses químicas, que são muito mais versáteis fazendo com que as concentrações da Ach sejam reguladas
e adaptáveis, pois utilizam gama de moléculas e diminuídas rapidamente.
neurotransmissoras, vias de síntese e degradação específicas Muitas ações pós-sinápticas da Ach são mediadas pelos
para cada sistema de transmissores, bem como os receptores nicotínicos de acetilcolina. Esses receptores são
receptores iônicos e não iônicos associados a cada molécula canais iônicos que promovem sinais excitatórios nas células
neurotransmissora. pós-sinápticas após a ligação de duas moléculas de Ach em
seus sítios de ligação específicos.
A íntima associação entre a ligação da Ach nos sítios
específicos promove a abertura de poros e a permeabilidade
de cátions através desses canais, permitindo a rápida
resposta excitatória característica desses receptores. Tais
receptores são encontrados no SNC, associados a ações
estimulantes relacionadas ao consumo de nicotina e
mimetizados na presença de Ach, mas também são os
receptores da junção neuromuscular responsáveis pelo
potencial excitatório na fibra muscular esquelética na indução
do movimento.
A segunda classe de receptores colinérgicos são
os receptores muscarínicos, membros da classe dos
receptores metabotrópicos e mediadores de respostas no
SNC e SNA.
Sinapse Química
Vamos tratar especificamente do sistema nervoso autônomo
simpático, parassimpático e do sistema nervoso motor
somático. Para tal, há duas grandes famílias de
neurotransmissores envolvidos. Quando tratarmos do sistema
nervoso autônomo simpático, conheceremos as vias
adrenérgicas. Ao passo que, no sistema nervoso autônomo
parassimpático e motor somático, veremos as vias
colinérgicas de neurotransmissão.
o que pode ser um alvo terapêutico de antagonistas de
receptores dopaminérgicos para indução de vômito no caso
de pacientes em overdose de drogas.
A noradrenalina e a adrenalina são catecolaminas sintetizadas
a partir da dopamina pela ação da dopamina hidroxilase e da
feniletanolamina N-metiltransferase, respectivamente. São
transportadas para as vesículas pela VMAT e removidas da
fenda sináptica pelo transportador de noradrenalina, podendo
ser metabolizada pela ação da MAO e COMT. A
noradrenalina e a adrenalina agem em receptores
metabotrópicos alfa e beta adrenérgicos, sendo muito
importantes na promoção de funções de diversos órgãos
Estrutura química das associados às respostas simpáticas no sistema nervoso
catecolaminas periférico.
SISTEMA ADRENÉRGICO – CATECOLAMINAS SISTEMA NERVOSO PERIFÉRICO
Membro da família das aminas biogênicas, os Todas as partes do sistema nervoso, com exceção do
neurotransmissores adrenérgicos desempenham muitas encéfalo e da medula espinhal, fazem parte do sistema
funções no SNC, mas também realizam importantes ações nervoso periférico (SNP). O SNP pode ser dividido em duas
no SNP. As aminas biogênicas que compõem o sistema grandes partes: sistema nervoso autônomo (SNA) e o
adrenérgico são as catecolaminas (dopamina, noradrenalina e sistema nervoso motor somático (SNMS).
adrenalina). Todas as catecolaminas são sintetizadas a partir Sistema nervoso autônomo
de um aminoácido precursor: tirosina. O primeiro passo na O SNA é composto por uma grande rede de conexão
síntese das catecolaminas é catalisado pela enzima tirosina neuronal distribuída ao longo de nosso organismo. Também
hidroxilase, que sintetizará, a partir da tirosina, a é conhecido como sistema nervoso involuntário, visceral ou
dihidroxifenilalanina (DOPA), molécula precursora da dopamina. vegetativo, uma vez que as funções viscerais são
A dopamina é produzida a partir da ação da descarboxilase normalmente executadas de forma automática, sem controle
sobre a DOPA e conversão na molécula de dopamina. Uma voluntário.
vez sintetizada, a dopamina é transportada para o interior das Para facilitar o entendimento, veja um exemplo.
vesículas pré-sinápticas pela ação do transportador vesicular Clique no botão para ver as informações.
de monoaminas (VMAT). Já na fenda sináptica, a dopamina Como funciona o sistema nervoso autônomo?
pode ser captada novamente para o interior do neurônio Atenção
pré-sináptico pelo transportador de dopamina, sofrendo Apesar de agirem de forma autônoma, o SNA recebe
novamente a ação do VMAT, ou ser catabolizada pelas comandos diretamente do SNC, e suas funções são
enzimas monoamino oxidase (MAO) e catecol O- orquestradas de acordo com as trocas de informações entre
metiltranferase (COMT). esses sistemas. Os neurônios que compõem o SNA
possuem uma via diferente por serem bissinápticos, ou seja,
realizam duas sinapses para enviar seus comandos até os
tecidos ou órgãos-alvo.
Alguns corpos celulares dos neurônios autônomos localizam-
se fora do SNC, em grupamentos celulares chamados
de gânglios. Nesses gânglios, encontramos corpos celulares
de neurônios chamados pós-ganglionares. Neurônios pós-
ganglionares são controlados por neurônios pré-ganglionares,
cujos corpos celulares situam-se no SNC, mais precisamente
na medula espinhal ou no tronco encefálico, dependendo da
divisão em simpático ou parassimpático.
As divisões simpática e parassimpática operam em paralelo,
mas utilizam vias distintas, com diferentes estruturas e
sistemas de neurotransmissores. Os axônios pré-ganglionares
do ramo simpático emergem somente da região torácica e
lombar da medula espinhal. Os axônios do ramo
parassimpático, por sua vez, emergem do tronco encefálico
Dopamina e da porção sacral da medula espinhal. Desta forma, os dois
A dopamina age exclusivamente através de receptores sistemas se complementam anatomicamente. A figura a
metabotrópicos, ativando ou inibindo a adenilato ciclase. A seguir demonstra a organização anatômica das divisões
ativação desses receptores geralmente contribui para simpáticas e parassimpáticas.
comportamentos complexos como hiperatividade e
comportamentos estereotipados. Também age na medula,
inibindo regiões responsáveis por zonas de gatilho do vômito,
Em uma situação como a apresentada no exemplo do aluno
que vimos anteriormente, as duas divisões respondem de
formas distintas:
Divisão simpática
Mobiliza frequentemente o organismo em situações de
emergência a curto prazo, mesmo que essas alterações
possam acarretar problemas a longo prazo.
Divisão parassimpática
Age de forma oposta ao mediado pela simpática. O SNA
parassimpático aumenta respostas digestórias, crescimento,
resposta imunitária e estocagem de energia
(reestabelecendo as alterações mediadas pelo estresse
causado pelo convite do professor). Essa divisão trabalha
calmamente, promovendo o bem-estar fisiológico a longo
prazo.
As duas divisões não conseguem ser mobilizadas
concomitantemente, pois normalmente têm efeitos opostos.
O SNA simpático e parassimpático inervam basicamente três
tipos de tecidos corpóreos: músculo liso, músculo estriado
cardíaco e glândulas. O balanço entre as divisões simpáticas e
parassimpáticas controla função de diversos órgãos, como
demonstrado na imagem.
Veja alguns exemplos da dualidade da ação desses sistemas:
Região do marca-passo cardíaco
Organização anatômica das divisões simpáticas e Divisão simpática
parassimpáticas do SNA Aumenta a frequência e força de batimento cardíaco.
Diferenças nas aferências pré-ganglionares de ambas divisões Divisão parassimpática
e a utilização de acetilcolina como neurotransmissor. A Reduz a frequência cardíaca.
inervação pós-ganglionar parassimpática de órgãos viscerais Músculos lisos do sistema gastrintestinal
também utiliza a acetilcolina, mas a inervação pós-ganglionar Divisão simpática
simpática usa a noradrenalina. A glândula adrenal recebe Causaria o relaxamento da musculatura e redução da
inervação pré-ganglionar simpática e, quando ativada, secreta motilidade intestinal.
adrenalina e noradrenalina na corrente sanguínea. Observe o Divisão parassimpática
padrão de inervação da divisão simpática: os órgãos-alvo na Estimularia a musculatura e motilidade intestinal.
cavidade torácica são conectados por neurônios pós- Sistema reprodutor masculino
ganglionares originários da cadeia simpática e os órgãos-alvo Divisão simpática
da cavidade abdominal são contactados por neurônios pós- Responsável pelas respostas ejaculatórias.
ganglionares originários dos gânglios colaterais (BEAR, 2008, Divisão parassimpática
p. 493). Responsável pela ereção peniana.
Os neurônios pré-ganglionares simpáticos enviam seus O balanço entre as divisões é um processo de difícil
axônios através das raízes ventrais para realizarem sinapses orquestração pelo SNA. Ansiedades e preocupações têm
com neurônios ganglionares da cadeia simpática, localizada grande participação das vias simpáticas, tendendo inibir a
próxima à coluna vertebral ou em gânglios dentro da ereção e induzir a ejaculação precoce, sendo muito comuns
cavidade abdominal. Os neurônios pré-ganglionares da divisão em homens estressados ou com distúrbios de
parassimpática encontram-se em núcleos do tronco comportamento sexual.
encefálico, e seus axônios passam por nervos cranianos. Na Podemos perceber que as ações do SNA ocorrem
porção sacral da medula espinhal, encontramos outros tipicamente em múltiplos órgãos e são bem distribuídas pelo
núcleos de neurônios parassimpáticos. Os axônios pré- organismo e relativamente lentas. De modo distinto, o
ganglionares parassimpáticos possuem axônios longos, em sistema nervoso motor somático, cujos neurônios motores
comparação aos simpáticos, uma vez que os gânglios alfa podem rapidamente ativar músculos esqueléticos com
encontram-se próximos aos órgãos-alvo, como demonstrado alta precisão espacial, promove contração muscular e efeitos
na imagem. motores.
Atenção Sistema nervoso motor somático (SNMS)
Normalmente, o SNA simpático e parassimpático apresenta O sistema motor somático consiste na comunicação entre
influências fisiológicas opostas umas das outras. Enquanto a os músculos e os neurônios que os comandam. Os músculos
divisão simpática apresenta-se mais ativa em situações de corporais podem ser divididos em três tipos:
estresse reais ou imaginários (como ser chamado pelo Clique nas barras para ver as informações.
professor para ir à frente da turma enquanto checava as LISOS
redes sociais), sua resposta é sempre semelhante à reação
de luta ou de fuga.
Revestem o tubo digestivo e as artérias, onde vimos em receptores nicotínicos de placa motora e nicotínicos
anteriormente que podem regular o peristaltismo e a ganglionares.
pressão arterial. É inervado e influenciado pela ação do SNA. Clique nas palavras em destaque.
ESTRIADO CARDÍACO Receptores colinérgicos
É o músculo do coração com contração rítmica, mesmo Muscarínicos Nicotínicos
sem inervações, pela presença do sistema de marca-passo.
M1 M2 M3 Receptoresnicotínicos de Nicotínicosganglionares
É inervado e influenciado pela ação do SNA.
placamotora
MÚSCULO ESTRIADO ESQUELÉTICO
Corresponde à maior parte do tecido muscular corpóreo. Os receptores colinérgicos medeiam importantes efeitos que
Esses músculos promovem movimentação esquelética, podem ser modulados pela ação de agentes farmacológicos.
ocular, controla a respiração e as expressões faciais. Dentro AGONISTAS DE RECEPTORES MUSCARÍNICOS
de cada músculo esquelético, há centenas de fibras Agonistas de receptores muscarínicos colinérgicos podem
musculares – as células do músculo esquelético –, e cada ser divididos em dois grupos:
fibra é inervada por uma ramificação proveniente do SNC. Clique nas barras para ver as informações.
Essas células são provenientes do corno ventral da medula ÉSTERES DE COLINA, ACH E VÁRIOS ÉSTERES
espinhal e denominadas neurônios motores inferiores. A SINTÉTICOS
parte dos músculos e as fibras nervosas que os controlam De várias centenas de derivados sintéticos de colina
formam o sistema motor somático, regulando o controle investigados, apenas a metacolina, carbacol e betanecol
voluntário responsável por gerar o comportamento. Os tiveram aplicações clínicas. Metacolina é um éster de colina
axônios dos neurônios motores inferiores se agrupam e sintético que difere de Ach principalmente em sua maior
formam as raízes ventrais, as quais juntam-se com as raízes duração e seletividade de ação. Sua seletividade se reflete
dorsais e formam os nervos espinhais. Importantes para a em predominância de respostas muscarínicas, com maior
promoção da força de contração muscular, os neurônios manifestação no sistema cardiovascular, sobre pequenas
motores alfa e as fibras musculares formam a unidade ações nicotínicas.
motora, responsável pelas respostas individuais dos
grupamentos musculares. Carbacol e seu análogo betanecol são quase completamente
É extremamente importante haver regulação da intensidade resistentes à hidrólise por colinesterases. Suas meia-vidas são
de força utilizada na contração muscular. Imagine-se suficientemente longas para que se sejam distribuídas para
quebrando um ovo: caso você exerça grande força, áreas de baixo fluxo sanguíneo. O carbacol tem atividade
quebrará a casca do ovo de forma bruta e espalhará gema nicotínica particularmente em gânglios autônomos. Betanecol
e clara por todos os lados, além de desperdiçar energia tem principalmente ações muscarínicas, com efeitos
metabólica na realização de uma atividade simples. Se for proeminentes sobre a motilidade do TGI e bexiga urinária.
uma força muito pequena, a casca de ovo se tornará muito ALCALOIDES COLINOMIMÉTICOS DE OCORRÊNCIA
rígida para um estímulo abaixo do necessário, e a casca não NATURAL E SEUS CONGÊNERES SINTÉTICOS
se quebrará. Os principais agonistas alcaloides naturais (particularmente
Na grande maioria das atividades diárias, utilizamos pilocarpina, muscarina e arecolina), muscarina, pilocarina e
contrações musculares fracas. Reservamos grandes forças arecolina, têm os mesmos sítios de ação que os ésteres da
de contração para atividades pontuais, como corridas, colina. A muscarina atua em receptores muscarínicos, e a
levantamento de peso ou outros estímulos muito intensos. classificação desses receptores deriva das ações deste
O controle das atividades musculares deve-se a disparos alcaloide.
oriundos do SNC destinados ao SNP para controle de
eventos de contração muscular. Os neurônios motores A pilocarina tem uma ação muscarínica sobre as glândulas
comunicam-se com as fibras musculares através da liberação sudoríparas. Arecolina também age em receptores
do neurotransmissor acetilcolina na junção neuromuscular, nicotínicos. Embora esses alcaloides de ocorrência natural
sinapse entre o neurônio motor e a fibra muscular, causando sejam de grande valor, o uso clínico presente é restrito em
como respostas a contração muscular esquelética. grande parte ao emprego da pilocarpina como agente
Módulo 2 miótico (que faz a contração da pupila).
Miose
Veja como os fármacos agonistas do receptor muscarínico
reagem no organismo:
Clique para visualizar as informações.
Metacolina É administrada por inalação para o diagnóstico de
hiperatividade das vias aéreas brônquicas em pacientes que Estrutura química
não têm asma clinicamente aparente. Enquanto agonistas da Atropina
muscarínicos podem causar broncoconstrição e aumento de Efeitos farmacológicos de antagonistas muscarínicos
secreções traqueobrônquicas em todos os indivíduos, Os efeitos de outros antagonistas muscarínicos serão
pacientes asmáticos respondem com intensa restrição mencionados somente quando diferirem significantemente da
brônquica e redução da capacidade vital. atropina. Os principais efeitos farmacológicos do aumento das
Betanecol Inicialmente, afeta os tratos urinário e doses de atropina oferecem um guia geral para os
gastrointestinais. No trato urinário, o betanecol tem utilidade problemas associados à administração desta classe de
no tratamento da retenção urinária e esvaziamento agentes.
inadequado da bexiga, quando a obstrução orgânica está
ausente, como na retenção urinária pós-operatória,
neuropatia autônoma diabética e em certos casos de bexiga
hipotônica crônica, miogênica ou neurogênica; assim, o
cateterismo pode ser evitado. No TGI, o betanecol estimula a
peristalse (movimentos naturais do intestino) e aumenta a
motilidade e o repouso no esôfago inferior.
Carbachol É usado topicamente na Oftalmologia para o
tratamento de glaucoma e a indução de miose durante a
cirurgia; é incutido no olho através de colírios.
Cloridrato de pilocarpina É usado para o tratamento da
xerostomia, que segue procedimentos de radiação da
cabeça e pescoço, ou que está associada à síndrome de Coração humano
Sjögren, uma doença autoimune que ocorre principalmente O principal efeito da atropina no coração é alterar a taxa de
em mulheres nas quais secreções, particularmente salivares batimento cardíaco. Embora a resposta dominante seja a
e lacrimais, são comprometidas. É também usada em taquicardia, a frequência cardíaca muitas vezes diminui
Oftalmologia para o tratamento de glaucoma e como agente transitoriamente com doses clínicas médias. A lentidão é
miótico. modesta (4-8 batidas por minuto) e, geralmente, está
ausente após rápida injeção intravenosa. Não há alterações
na pressão arterial ou no débito cardíaca. Este efeito
inesperado foi atribuído aos receptores muscarínicos pré-
sinápticos M1 em terminais nervosos pós-ganglionares
parassimpáticos no nó sinoatrial, que normalmente inibem a
liberação de Ach.
A atropina frequentemente produz arritmias cardíacas, mas
sem sintomas cardiovasculares.
Em doses clínicas, a atropina neutraliza completamente a
vasodilatação periférica e a queda acentuada da pressão
arterial causada por ésteres de colina. Em contraste, quando
administrada sozinha, seu efeito sobre os vasos sanguíneos e
a pressão arterial não é marcante. Esse resultado é Comparação
esperado porque a maioria dos leitos vasculares não tem entre miose e midríase
inervação colinérgica significativa. Em doses tóxicas e O conhecimento das ações dos agonistas dos receptores
ocasionalmente terapêuticas, a atropina pode dilatar vasos muscarínicos no estômago e intestino levou ao uso desses
sanguíneos cutâneos, especialmente aqueles na área de fármacos como agentes antiespasmódicos para distúrbios de
“blush” (rubor de atropina). Esta pode ser uma reação gastrointestinais e no tratamento da doença da úlcera
compensatória, permitindo a produção de calor para péptica. Embora a atropina possa completamente abolir os
compensar o aumento da temperatura induzida pela efeitos da Ach (e outras drogas parassimpatomiméticas) na
atropina, que pode acompanhar a inibição da sudorese. motilidade e secreção gastrointestinais, inibe
Atenção incompletamente as respostas gastrointestinais à estimulação
Embora a atropina possa causar alguma broncodilatação e vagal.
diminuição da secreção traqueobrônquica em indivíduos Atenção
normais, bloqueando o tônus parassimpático (vagal) para os A secreção salivar é particularmente sensível à inibição por
pulmões, seus efeitos sobre o sistema respiratório é mais antagonistas receptores muscarínicos, que pode abolir
significativo em pacientes com doenças respiratórias. completamente a secreção abundante de saliva. A boca fica
A atropina pode inibir a broncoconstrição causada pela seca, e pode ficar difícil engolir e falar. Em contraste, a fase
histamina, bradicinina e os eicosanoides, o que intestinal da secreção gástrica é apenas parcialmente inibida.
presumivelmente reflete na atividade parassimpático reflexo Os nervos parassimpáticos aumentam o tônus e a motilidade
(vagal) na broncoconstrição provocada por esses agentes. A e relaxam os esfíncteres, favorecendo a passagem do
capacidade de bloquear os efeitos broncoconstritivos conteúdo ao longo gastrointestinal. Tanto em indivíduos
indiretos desses mediadores forma a base para o uso de normais quanto em pacientes com doença gastrointestinal,
antagonistas de receptores muscarínicos, juntamente aos os antagonistas muscarínicos produzem efeitos inibitórios
agonistas do receptor β adrenérgico no tratamento da asma. prolongados sobre a atividade motora do estômago,
Os antagonistas muscarínicos também têm um papel duodeno, jejuno, íleo e cólon, caracterizados por uma
importante no tratamento da doença pulmonar obstrutiva redução no tônus e na amplitude e frequência de
crônica (DPOC). contrações peristálticas.
Antagonistas do receptor muscarínico bloqueiam as Os efeitos podem variar entre os medicamentos:
respostas colinérgicas do músculo esfíncter pupilar da íris e Clique para visualizar as informações.
da curvatura da lente controladora do músculo ciliar (bloco Atropina A atropina tem efeitos mínimos no SNC em doses
de reflexo de acomodação com foco resultante à visão terapêuticas, embora possa ocorrer leve estimulação dos
próxima). Assim, dilatam a pupila (midríase) e paralisam a centros medulares parassimpáticos. Com doses tóxicas de
acomodação visual (cicloplegia). A ampla dilatação pupilar atropina, a excitação central se torna mais proeminente,
resulta em fotofobia; a lente é fixa para visão distante, levando à inquietação, irritabilidade, desorientação, às
objetos próximos são borrados, e objetos podem parecer alucinações ou ao delírio. Com doses ainda maiores, a
menores do que são. A constrição normal do reflexo pupilar estimulação é seguida pela depressão, levando ao colapso
à luz ou à convergência dos olhos é abolida. Esses efeitos circulatório e à insuficiência respiratória após um período de
podem ocorrer após a administração local ou sistêmica dos paralisia e coma.
alcaloides. Escopolamina Ao contrário da atropina, a escopolamina tem
efeitos centrais proeminentes em baixas doses terapêuticas.
Especificamente, a escopolamina em doses terapêuticas
normalmente causa depressão do SNC, manifestada como
sonolência, amnésia, fadiga e sono sem sonhos, com uma
redução no sono de movimento rápido dos olhos (REM).
A atropina é, portanto, preferida à escopolamina para muitos
propósitos. A base dessa diferença é provavelmente a maior
permeação de escopolamina através da barreira
hematoencefálica.
Ipratrópio e Tiotrópio
Os compostos quaternários de amônio ipratrópio e tiotrópio e, portanto, são potencialmente capazes de produzir efeitos
são usados exclusivamente para seus efeitos no trato equivalentes à estimulação excessiva de receptores
respiratório. Quando inalados, sua ação é voltada para a boca colinérgicos em todo o sistema nervoso central e periférico.
e as vias aéreas. Boca seca é o único efeito colateral Em geral, os compostos que contêm um grupo quaternário
frequentemente relatado. de amônio não penetram facilmente nas membranas
Acredita-se que o grau de broncodilatação alcançado por celulares; portanto, os agentes anti-ChE desta categoria são
esses agentes reflita o nível de tônus parassimpático basal, mal absorvidos pelo TGI ou através da pele e são excluídos
complementado pela ativação reflexa das vias colinérgicas do SNC pela barreira hematoencefálica. Por outro lado, tais
provocadas por diversos estímulos. Uma propriedade fármacos atuam preferencialmente nas junções
terapeuticamente importante de ipratrópio e tiotrópio é seu neuromusculares do músculo esquelético, exercendo sua
efeito inibitório mínimo na liberação mucociliária em relação ação tanto como agentes anti-ChE como agonistas diretos.
à atropina. Assim, a escolha desses agentes para uso em Os locais de ação dos agentes anti-ChE de importância
pacientes com doença das vias aéreas minimiza o aumento terapêutica são:
da acumulação de secreções mais baixas das vias aéreas
encontradas com atropina.
Olhos
Intestino
Usos terapêuticos de antagonistas de receptores
muscarínicos
Antagonistas do receptor muscarínico têm sido usados no
tratamento de grande variedade de condições clínicas,
predominantemente para inibir efeitos de atividade
parassimpático no trato respiratório, trato urinário, trato
gastrointestinal, olho e coração. A maior limitação no uso de
drogas não seletivas é muitas vezes a não obtenção de
respostas terapêuticas desejadas sem efeitos colaterais Junção neuromuscular do músculo esquelético
concomitantes. Quando aplicados localmente à conjuntiva, os agentes anti-
ChE causam hiperemia conjuntiva e constrição do músculo
Embora estes últimos não sejam graves, podem ser esfíncter pupilar ao redor da margem pupilar da íris (miose)
suficientemente perturbadores para diminuir a adesão dos e do músculo ciliar. Miose é aparente em poucos minutos e
pacientes, particularmente durante a administração de longo pode durar várias horas por dia. A pressão intraocular,
prazo. Esses agentes são frequentemente usados com quando elevada, usualmente cai como resultado da facilitação
agonistas de receptores adrenérgicos inalados, embora haja da saída do humor aquoso.
pouca evidência de verdadeiro sinergismo. Em humanos, a neostigmina aumenta as contrações
ANTICOLINÉRGICOS gástricas e a secreção do ácido gástrico. Após a vagotomia
A função da acetilcolinesterase (AChE) no terminal sináptico bilateral, os efeitos da neostigmina na motilidade gástrica são
colinérgico (Ach) nas junções das várias terminações muito reduzidos. A porção inferior do esôfago é estimulada
nervosas colinérgicas com seus órgãos-alvo ou sítios pós- pela neostigmina.
sinápticos foi descrita quando abordamos o sistema nervoso
periférico.
Drogas que inibem AChE são chamadas de
agentes anticolinesterásicos. Eles fazem com que a Ach se
acumule nas proximidades dos terminais do nervo colinérgico
Receptores nicotínicos de acetilcolina
Estrutura A ligação de Ach no receptor nicotínico de Ach inicia sinais
química de Neostigmina despolarizantes, que se direcionam ao potencial da placa
A maioria dos efeitos de potentes drogas anti-ChE no motora (EPM) na muscular esquelética ou um potencial
músculo esquelético pode ser explicada adequadamente com excitatório pós-sináptico (EPSP) nos gânglios periféricos.
base em sua inibição de AChE em junções neuromusculares. Trata-se dos locais clássicos da ação dos curares e da
No entanto, há boa evidência para uma ação direta da nicotina e definiram o conceito de receptor nicotínico de
neostigmina e outros agentes quaternários no Ach há mais de um século e fizeram deste o receptor
musculoesquelético. farmacológico prototípico dos efeitos da Ach nesses locais.
Toxicologia Aproveitando-se de estruturas especializadas que evoluíram
Os aspectos toxicológicos dos agentes anti-ChE são de para mediar a neurotransmissão colinérgica e de toxinas
grande importância na prática médica. Além dos casos de naturais que bloqueiam a atividade motora, receptores
intoxicação acidental do uso de compostos nicotínicos periféricos e, em seguida, centrais foram isolados,
organofosforados, como inseticidas agrícolas, esses agentes caracterizados, e representam marcos no desenvolvimento
têm sido usados com frequência para fins homicidas e da farmacologia molecular.
suicidas. Organofosfatos representam até 80% das Agentes de bloqueio neuromuscular
internações relacionadas a pesticidas. O bloqueador neuromuscular clássico, o curare, foi a
Organização Mundial da Saúde classifica a toxicidade dos ferramenta que Claude Bernard usou em meados do século
pesticidas como um problema global generalizado associado XIX para demonstrar um local de ação medicamentosa na
a mais de 200 mil mortes por ano. A exposição ocupacional junção neuromuscular. Os agentes de bloqueio
ocorre mais comumente pelas vias dérmicas e pulmonares, neuromuscular modernos geralmente caem em duas classes,
enquanto a ingestão oral é mais comum em casos de despolarizantes e competitivos/não despolarizantes.
intoxicação não ocupacional. Atualmente, apenas um único agente despolarizante,
Os efeitos da intoxicação aguda por agentes anti-ChE succinilcolina, está em uso clínico geral, enquanto múltiplos
manifestam-se por sinais e sintomas muscarínicos e agentes competitivos ou não despolarizadores estão
nicotínicos, e, com exceção de compostos de solubilidade disponíveis, mas sem grande utilização clínica.
lipídica extremamente baixa, por sinais referenciados ao CNS. Vejamos as propriedades farmacológicas desses agentes:
Os efeitos sistêmicos aparecem em poucos minutos após a Clique nas barras para ver as informações.
inalação de vapores ou aerossóis. O início dos sintomas é AGENTE DESPOLARIZANTE
adiado após a absorção percutânea. Os agentes despolarizadores, como a succinilcolina, agem por
Atenção um mecanismo diferente. Sua ação inicial é despolarizar a
A atropina efetivamente antagoniza as ações dos receptores membrana, abrindo canais iônicos da mesma forma que a
muscarínicos, incluindo aumento da secreção Ach. No entanto, eles persistem por efeitos mais duradouros
traqueobrônquica e salivar, bradicardia nas ações centrais. O na junção neuromuscular, principalmente por causa de sua
efeito da atropina no comprometimento neuromuscular resistência ao AChE. Essa despolarização inicial é seguida
periférico pode ser revertido por pralidoxima, um reativador pelo bloqueio da transmissão neuromuscular e da paralisia
de colinterase, sendo essas duas drogas as mais utilizadas no flácida; isto posto, essa sequência é influenciada por alguns
combate das intoxicações por organofosforados. fatores, como os agentes anestésicos usados
FÁRMACOS QUE AGEM NA JUNÇÃO NEUROMUSCULAR E simultaneamente aos bloqueadores musculares.
GÂNGLIOS AUTONÔMICOS
O receptor nicotínico de acetilcolina medeia a A succinilcolina em doses que produzem relaxamento
neurotransmissão pós-sináptica na junção neuromuscular e neuromuscular raramente causam efeitos atribuíveis ao
nos gânglios autônomos periféricos; no SNC, controla em bloqueio ganglionar. No entanto, os efeitos cardiovasculares,
grande parte da liberação de neurotransmissores de locais às vezes, são observados, provavelmente devido à
pré-sinápticos. estimulação sucessiva de gânglios vagais e gânglios
O receptor é chamado de receptor nicotínico de simpáticos.
acetilcolina porque tanto a nicotina quanto o AGENTES COMPETITIVOS
neurotransmissor Ach podem estimular este receptor. A tubocurarina e outros agentes de bloqueio neuromuscular
Existem subtipos distintos de receptores nicotínicos na são desprovidos de efeitos centrais após doses clínicas
junção neuromuscular e nos gânglios sinápticos, e vários comuns devido à sua incapacidade de penetrar a barreira
agentes farmacológicos discriminam entre estes subtipos de hematoencefálica.
receptores.
Agentes de bloqueio neuromuscular mostram potências
variáveis na produção de bloqueio ganglionar. Assim como
na placa motora, o bloqueio ganglionar por tubocurarina e
outras drogas estabilizadoras é invertido ou antagonizado por
agentes anti-ChE.
Usos terapêuticos
A dopamina é usada no tratamento de insuficiência cardíaca
congestiva grave, particularmente em pacientes com oligúria
de baixa ou normal resistência vascular periférica. A droga
também pode melhorar parâmetros fisiológicos no
Usos terapêuticos tratamento de choque cardiogênico e séptico. Embora a
Um grande uso é fornecer alívio rápido e emergencial de dopamina possa melhorar agudamente a função cardíaca e
reações de hipersensibilidade, incluindo anafilaxia, para drogas renal em pacientes gravemente doentes com doença
e outros alérgenos. A adrenalina também é usada para cardíaca crônica ou insuficiência renal, há relativamente
prolongar a ação dos anestésicos locais, diminuindo o fluxo pouca evidência de apoio a longo prazo no resultado clínico.
sanguíneo local. Seus efeitos cardíacos podem ser de uso na
AGONISTAS DOS RECEPTORES � ADRENÉRGICOS
restauração do ritmo cardíaco em pacientes com parada
Agonistas dos receptores β adrenérgicos têm sido utilizados
cardíaca devido a diversas origens.
em muitos cenários clínicos, mas agora desempenham um
Noradrenalina
papel importante apenas no tratamento da broncoconstrição
A noradrenalina é um grande mediador químico liberado por
em pacientes com asma (obstrução reversível das vias
neurônios pós-sinápticos. Difere apenas da adrenalina pela
aéreas) ou doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC).
ausência da substituição de metila no grupo amino. A
Os β agonistas podem ser usados para estimular a taxa e a
noradrenalina constitui 10-20% do teor de catecolaminas da
força da contração cardíaca. O efeito cronotrópico é útil no
adrenal humana e até 97% em alguns feocromocitomas
tratamento emergencial de arritmias, bradicardias ou bloqueio
(tumores de adrenal).
cardíaco, enquanto o efeito ionotrópico é usado quando é
desejável aumentar a contratilidade do miocárdio.
Isoproterenol
Isoproterenol é um potente agonista não seletivo de
receptores β com baixa afinidade para α receptores.
Estrutura
química da noradrenalina
Usos terapêuticos
A pressões sistólicas, diastólicas e, geralmente, a pressão de
pulso é aumentada com o uso de noradrenalina. A ativação
do reflexo vagal compensatório retarda o coração, Estrutura química do isoproterenol
superando uma ação direta de aceleração cardíaca, e o
volume de pós-carga é aumentado. A resistência vascular
periférica aumenta na maioria dos leitos vasculares, e o fluxo
sanguíneo renal é reduzido. Noradrenalina promove a
constrição dos vasos mesentéricos e reduz o fluxo
sanguíneo esplâncnico e hepático. O fluxo coronário
geralmente é aumentado, devido à dilatação coronariana
indiretamente induzida, e a pressão arterial acaba sendo
elevada.
Ao contrário da adrenalina, pequenas doses de noradrenalina
não causam vasodilatação ou hipotensão, uma vez que os
vasos sanguíneos do músculo esquelético contraiam em vez
de dilatar-se. A noradrenalina é usada como vasoconstritor
para aumentar ou apoiar a pressão arterial sob certas
condições de cuidados intensificados. Ações Farmacológicas
Dopamina A infusão intravenosa de isoproterenol reduz a resistência
vascular periférica, principalmente no músculo esquelético,
mas também em leitos vasculares renais e mesentéricos. A
pressão diastólica cai. A pressão arterial sistólica pode
permanecer inalterada ou subir, embora a pressão arterial
média tipicamente caia. A produção cardíaca é aumentada
devido aos efeitos positivos inotrópicos e cronotrópicos da
droga em face da diminuição da resistência vascular AGONISTAS �1 SELETIVOS DE RECEPTORES
periférica. Os efeitos cardíacos do isoproterenol podem levar ADRENÉRGICOS
a palpitações, taquicardia sinusal e arritmias mais graves. Os principais efeitos clínicos de uma série de drogas
Isoproterenol relaxa quase todas as variedades de músculo simpatomiméticas ocorrem devido à ativação de receptores
liso quando o tônus está alto, mas esta ação é mais α adrenérgicos no músculo liso vascular. Como resultado, a
pronunciada em músculo brônquico e gastrointestinal. Previne resistência vascular é aumentada, e a pressão arterial é
ou alivia a broncoconstrição. mantida ou elevada. Embora a utilidade clínica dessas drogas
Dobutamina seja limitada, elas podem ser úteis no tratamento de alguns
A dobutamina se assemelha estruturalmente à dopamina, pacientes com hipotensão, incluindo hipotensão ortostática,
mas possui um substitutivo aromático volumoso no grupo ou choque. A fenilefrina e a metoxamina são vasoconstritores
amino. Os efeitos farmacológicos da dobutamina são de ação direta e são ativadores seletivos de receptores α1.
decorrentes de interações diretas com receptores α e β; Fenilefrina é um agonista α1-seletivo; ativa os receptores β
suas ações não parecem resultar da liberação de apenas em concentrações elevadas. Os efeitos
noradrenalina de terminações nervosas simpáticas, nem são farmacológicos da fenilefrina são semelhantes aos da
exercidas por receptores dopaminérgicos. metoxamina. A droga causa vasoconstrição arterial marcada
durante a infusão intravenosa. A fenilefrina também é usada
Usos terapêuticos como descongestionante nasal e como agente midriático em
A dobutamina é indicada para o tratamento a curto prazo da várias formulações nasais e oftálmicas.
descompensação cardíaca, que pode ocorrer após cirurgia
cardíaca ou em pacientes com insuficiência cardíaca
AGONISTAS SELETIVOS �2 DE RECEPTORES
congestiva ou infarto agudo do miocárdio. A dobutamina
ADRENÉRGICOS
aumenta a produção cardíaca e o volume de ejeção em tais
Agonistas adrenérgicos α2-seletivos são usados
pacientes, geralmente sem aumento acentuado na
principalmente para o tratamento da hipertensão sistêmica.
frequência cardíaca. Alterações na pressão arterial ou
Sua eficácia como agentes anti-hipertensivos é um tanto
resistência periférica usualmente são menores, embora
surpreendente, uma vez que muitos vasos sanguíneos
alguns pacientes possam ter acentuado aumento na pressão
contêm receptores adrenérgicos α2-sinápticos, que
arterial ou na frequência cardíaca.
promovem a vasoconstrição. De fato, a clonidina, o
AGONISTAS �2 - SELETIVO DE RECEPTORES
prototípico agonista α2, foi inicialmente desenvolvida como
ADRENÉRGICOS
um vasoconstritor descongestionante nasal. Sua capacidade
Alguns dos principais efeitos adversos dos agonistas β no
de diminuir a pressão arterial resulta da ativação de
tratamento de asma ou DPOC são causados pela
receptores α2 nos centros de controle cardiovascular do
estimulação de receptores β1 no coração. Assim, foram
SNC; tal ativação suprime o fluxo de atividade do sistema
desenvolvidas drogas com afinidade preferencial para
nervoso simpático do cérebro.
receptores β2 em comparação com os receptores β1. No
O principal uso terapêutico da clonidina está no tratamento
entanto, essa seletividade é relativa, não absoluta, e se perde
da hipertensão arterial. A estimulação de receptores α2 no
em altas concentrações dessas drogas. Além disso, até 40%
TGI pode aumentar a absorção de cloreto de sódio e fluidos,
dos receptores β no coração humano são receptores β2,
além de inibir a secreção de bicarbonato.
que podem causar estimulação cardíaca.
Uma segunda estratégia que aumentou a utilidade de vários
agonistas β2-seletivos no tratamento da asma e DPOC tem
sido a modificação estrutural que resulta em menores taxas
de metabolismo e maior biodisponibilidade oral (em
comparação com catecolaminas).
O metaproterenol é um exemplo de agonistas β2-seletivos.
É um fármaco resistente à COMT, e 40% é absorvido em
forma ativa após administração oral. Metaproterenol é Estrutura química da
considerado um fármaco β2-seletivo, embora clonidina
provavelmente seja menos seletivo que o albuterol ou Saiba mais
terbutalina e, portanto, é mais propenso a causar Clonidina também é útil no tratamento e na preparação de
estimulação cardíaca; como observado anteriormente, até sujeitos viciados para retirada de narcóticos, álcool e tabaco.
40% dos receptores β no coração humano são do subtipo Essa droga pode ajudar a amenizar parte da atividade
β2; assim, mesmo β-agentes seletivos têm o potencial de nervosa simpática adversa associada à retirada desses
causar estimulação cardíaca. agentes, bem como diminuir o desejo pela droga. Os
Outros fármacos que compõem essa classe são: benefícios a longo prazo da clonidina nesses ambientes e em
distúrbios neuropsiquiátricos continuam a ser determinados.
OUTROS AGONISTAS SIMPATOMIMÉTICOS drogas são importantes na medicina clínica, particularmente
Anfetaminas para o tratamento de doenças cardiovasculares.
As anfetaminas têm poderosas ações estimulantes do SNC, Antagonistas seletivos de β1 bloqueiam a maioria das ações
além das ações periféricas α e β comuns a drogas da adrenalina e noradrenalina no coração, enquanto têm
simpatomiméticas de ação indireta. Ao contrário da menos efeito sobre receptores β2 no músculo liso
adrenalina, é eficaz após a administração oral, e seus efeitos brônquico e nenhum efeito sobre as respostas mediadas por
duram várias horas. receptores α1 ou α2. O conhecimento detalhado do sistema
No sistema cardiovascular, as anfetaminas administradas nervoso autônomo e os locais de ação das drogas que
oralmente aumentam a pressão arterial sistólica e diastólica. A atuam nos receptores adrenérgicos é essencial para a
frequência cardíaca, muitas vezes, é reflexivamente lenta, e, compreensão das propriedades farmacológicas e dos usos
com grandes doses, podem ocorrer arritmias cardíacas. terapêuticos dessa importante classe de fármacos.
Figura 4:
Modulação farmacológica dos efeitos neuro-humorais da
insuficiência cardíaca.
Figura 9:
Figura 8: Mecanismo de ação dos diuréticos poupadores de Estrutura química da issorbida: 2,5-dinitrato de 1,4:3,6-
potássio. dianidro-D-glucitol (dinitrato).
Espironolactona e eplerenona devem ser consideradas em Drogas que agem reduzindo a pós-carga
todos os pacientes com IC moderada ou grave, pois Na sequência, veremos as principais classes de drogas que
parecem reduzir a morbidade e mortalidade dos pacientes. atuam na redução da pós-carga:
O uso dos diuréticos está indicado sempre que houver Clique nas barras para ver as informações.
síndrome congestiva, ou seja, quando há excesso de volume VASODILATADORES DE AÇÃO DIRETA
para o trabalho cardíaco. Com o seu uso, a volemia deve ser A hidralazina é um vasodilatador que tem como mecanismo
reduzida para níveis normais. Para isso, não se deve fazer de ação a dilatação arteriolar direta. Ao dilatar as arteríolas,
doses excessivas de diurético, de modo a baixar muito a reduz a RVS sistêmica e, portanto, a pós-carga. A associação
volemia, pois, nesse caso, o DC se reduzirá hidralazina + dinitrato de isossorbida tem um importante
significativamente, levando a uma síndrome de baixo débito. efeito venodilatador reduzindo também a pré-carga,
Atenção facilitando o trabalho ventricular. Tipicamente, dessa
• Alguns efeitos adversos gerais dos diuréticos: hipovolemia, associação é reservada para pacientes que não podem
insuficiência renal, hipopotassemia. tolerar os inibidores da ECA.
• Efeitos adversos dos tiazídicos: hiponatremia, hipercalcemia. INIBIDORES DA ENZIMA CONVERSORA DE ANGIOTENSINA
• Efeitos adversos diuréticos de alça: ototoxicidade, (IECA)
hipocalcemia, hipercalciúria.
Os iECA como o captopril e o enalapril entre outros inibem meio de mecanismos distintos e apresentam toxicidade
irreversivelmente a enzima conversora da angiotensina. Ao distinta e não se superpõem. Portanto, a administração
inibirem a formação da AngII, essas drogas possuem 3 concomitante é recomendada em pacientes com IC. É
propriedades importantes na IC: recomendado o tratamento com uma dose inicial mínima,
1) Vasodilatação arteriolar, reduzindo a pós-carga. sendo aumentada gradativamente, a cada semana, até a
2) Venodilatação, reduzindo a pré-carga. dose plena.
3) Redução dos efeitos deletérios da AngII sobre o miocárdio Existem diferenças entre essas drogas quanto à seletividade
e sobre os vasos. pelos receptores β1 ou β2 adrenérgicos. Drogas seletivas para
A administração de iECA reverte a vasoconstrição e a os receptores β1 como o atenolol, metoprolol, bisoprolol
retenção de volume que caracterizam a ativação do sistema apresentam vantagens para o tratamento dos pacientes
renina-angiotensina-aldosterona. A redução da pós-carga asmáticos. Os betabloqueadores β1 -seletivos bloqueiam
diminui a impedância à ejeção ventricular esquerda e, apenas os receptores β1 adrenérgicos, presentes em maior
portanto, aumenta o volume sistólico ventricular esquerdo. A parte no coração, no sistema nervoso e nos rins e, portanto,
redução de AngII circulante, diminui a produção de sem os efeitos de bloqueio dos receptores β2 periféricos
aldosterona e, portanto, induz menor retenção de volume. presentes nos pulmões, causando contração da musculatura
Além disso, os iECA aumentam os níveis de bradicinina, lisa brônquica e agravando o quadro de asma do paciente.
substância vasodilatadora endógena, que aumentam a
capacitância venosa e contribuem para a redução da pré-
carga.
Os iECA apresentam impacto significativo na sobrevida de
pacientes com IC. O principal efeito adverso dos iECA é a
tosse seca, presente em 5% dos casos. Esse efeito é
dependente do aumento da bradicinina. A hipercalemia pode
ocorrer, especialmente, quando essas drogas estão
associadas a diuréticos poupadores de potássio.
BLOQUEADORES DOS RECEPTORES AT1 DA ANGII
Essas drogas, representadas pela losartana, candesartana,
valsartana, entre outras, agem inibindo a ação da AngII sobre
Tabela 1: Diferenças das drogas betabloqueadoras, quanto à
os receptores AT1. Esses estão presentes na musculatura lisa
seletividade pelos receptores beta-adrenérgicos.
vascular, na suprarrenal, no miocárdio e no sistema nervoso
AGENTES INOTRÓPICOS: GLICOSÍDEOS CARDÍACOS OU
central.
DIGITÁLICOS
Os bloqueadores dos receptores AT1 produzem efeitos
Os digitálicos ou glicosídeos cardíacos são substâncias que
hemodinâmicos benéficos semelhantes aos iECA. Estudos
derivam de plantas da família da dedaleira (Digitalis sp.). Classe
clínicos recentes demonstraram o benefício dos
de fármacos como a digoxina tem efeito inotrópico positivo,
bloqueadores de AT1 sobre a mortalidade em pacientes com
ou seja, aumenta a força de contração do coração
IC sistólica grave (FE < 40%) incapazes de tomar iECA. Em
insuficiente. Este efeito se dá pela inibição da Na+-
paciente já em uso de iECA, o acréscimo de bloqueadores
K+ ATPase do sarcolema dos miócitos cardíacos. Quando
de AT1 diminui a quantidade de internações por IC, porém
essa Na+- K+ ATPase é inibida, o Na+ começa a se acumular,
não reduz a mortalidade.
aumentando o seu efluxo por um trocador Na+/Ca+, em
A principal vantagem sobre os iECA é a ausência da tosse
troca da entrada de Ca2+ citossólico, principal determinante
como efeito adverso, uma vez que este efeito é
do inotropismo cardíaco. O cálcio é armazenado no retículo
dependente da elevação da bradicinina pelos iECA.
sarcoplasmático do cardiomiócito, aumentando a sua
ANTAGONISTA DOS RECEPTORES Β-ADRENÉRGICOS
disponibilidade para a contração na sístole, garantindo maior
Durante muitos anos β-bloqueadores como o propranolol
força contrátil.
eram drogas não indicadas para pacientes com insuficiência
Além da ação inotrópica positiva, os digitálicos também
cardíaca sistólica, devido ao seu reconhecido efeito inotrópico
apresentam duas ações importantes: a redução do tônus
negativo. Embora possa parecer paradoxal, observou-se que
simpático, levando à vasodilatação arterial e ao aumento da
esses fármacos aumentam a sobrevida de pacientes com IC.
atividade do sistema parassimpático, com ação colinérgica
A ação das catecolaminas sobre os receptores β-
caracterizada pelo aumento do tônus vagal, redução do
adrenérgicos exerce um efeito compensatório na IC,
automatismo do nódulo sinusal e diminuição da velocidade de
aumentando a contratilidade dos miócitos viáveis e
condução do nódulo AV. Logo, esse fármaco também reduz
acelerando a frequência cardíaca. Seus benefícios foram
a pré- e a pós-carga. Esses feitos justificam o uso dos
atribuídos à inibição da liberação de renina, atenuação da
digitálicos nas taquiarritmias supraventriculares, pois reduzem
ação e dos efeitos citotóxicos das catecolaminas circulantes,
a resposta ventricular na fibrilação atrial.
reduzindo o consumo de O2 pelo miocárdio e, de um modo
Embora pacientes com IC, frequentemente, tenham alívio
geral, a prevenção da isquemia do miocárdio.
dos sintomas congestivos durante o tratamento com
Logo, essas drogas podem atenuar os efeitos adversos dos
glicosídeos cardíacos, estes fármacos não demonstraram
reguladores neuro-humorais em pacientes com IC. Além
diminuir a mortalidade. Portanto, são drogas de segunda linha
disso, os antagonistas β1 e os inibidores da ECA atuam por
na IC sistólica, importantes para garantir alívio dos sintomas
de alguns pacientes, e mantê-los no estado compensado.
Apesar dos benefícios limitados, o digitálico ainda é bastante
empregado e a intoxicação é comum. Alterações visuais ou
distúrbios gastrointestinais característicos de intoxicação
podem ser tratados com a redução da dose do fármaco. Em
caso de intoxicação grave, o tratamento pode ser feito com
a administração de anticorpos para digitálicos.
AMINAS SIMPATOMIMÉTICAS
A dobutamina é uma amina simpaticomimética parenteral
geralmente utilizada no tratamento dá IC sistólica
descompensada, com congestão pulmonar acompanhada de
redução do DC anterógrado. Esta droga é um congênere
sintético da epinefrina que estimula os receptores β1 e em
menor grau os β2. A estimulação dos receptores
β1 predomina, com taxas de infusão terapêuticas ocasionando
aumento da contratilidade dos miócitos cardíacos. A ação nos
Tabela 2: Diferentes classes farmacológicas utilizadas no
receptores β2 vasculares provoca vasodilatação arterial e
tratamento da Insuficiência cardíaca.
redução da pós-carga. Ambos efeitos, de aumento da
Esquemas múltiplos na terapia da IC
contratilidade e diminuição da pós-carga, produzem melhora
Os fármacos que vimos neste módulo mostram algumas
no desempenho cardíaco global. A dobutamina é usada em
abordagens para a farmacoterapia da IC. Alguns agentes
situações agudas na UTI com início imediato e curta duração.
como os iECA e antagonistas dos receptores β-adrenérgicos
A dopamina é um precursor imediato da norepinefrina de
demonstraram um benefício significativo sobre mortalidade e
ocorrência natural. O seu mecanismo de ação é complexo e
são considerados como a base da terapia da IC.
tem efeitos dependentes da dose. Ou seja, quando
Outros fármacos como a digoxina e diuréticos têm sido a
administrada por infusão venosa em doses baixas, ocorre
base do tratamento para o alívio sintomático apesar da
ativação direta dos receptores D2 no músculo liso vascular,
ausência de benefício da mortalidade. O uso de terapia de
levando à vasodilatação relativamente seletiva das artérias
combinação deve ser conduzido com cautela em pacientes
esplâncnica e renal. Quando em doses intermediárias, já
com IC, a fim de evitar efeitos adversos como hipotensão,
ocorre ativação dos receptores β1 adrenérgicos cardíacos,
arritmias, desequilíbrio eletrolítico e insuficiência renal.
levando ao aumento da contratilidade cardíaca. Em doses
Todavia, esses pacientes, normalmente, necessitam de
elevadas, ocorre ativação dos receptores α- adrenérgicos
esquemas com múltiplos fármacos para otimizar seu estado
levando à vasoconstrição arterial e venosa periférica que
funcional.
podem ser eficazes na IC aguda quando se necessita
Veja na Figura 10 o exemplo do manejo da IC com
aumentar a pressão arterial.
diferentes tratamentos farmacológicos, tendo como base a
INIBIDORES DA FOSFODIESTERASE
Lei de Frank-Starling.
Essa classe de fármacos como a milrinona inibe a
degradação de AMPc nos miócitos cardíacos, portanto
aumenta a concentração e Ca+ intracelular e
consequentemente a contratilidade (inotropismo). São
considerados agentes inodilatadores, pois provocam ao
mesmo tempo inotropismo, dilatação em vasos de
resistência, como as arteríolas, e em vasos de capacitância,
como as veias. Logo, entendemos que essas drogas causam
a redução de pós e de pré-carga, respectivamente.
Todos os agentes farmacológicos utilizados na insuficiência
cardíaca estão citados na tabela abaixo.
Atenção
Após pontuarmos as principais propriedades farmacológicas
dos AINEs, podemos observar que existem inúmeros AINEs
com diferentes características. Portanto, não existe um AINE
que seja o melhor para todos os pacientes e para
determinada condição clínica exclusiva. Entretanto, pode
Trânsplante de órgãos
haver um ou dois AINEs mais apropriados para determinado
indivíduo, e este deve ser escolhido baseado em suas
condições clínicas.
ESTUDO DE CASO
Neste vídeo, o Professor Pedro Azevedo apresenta um
estudo de caso sobre o uso de anti-inflamatórios não
esteroidais em distúrbios articulares.
MÓDULO 2
Primeira geração
Difenidramina, hidroxizina, clorfeniramina e prometazina.
Atenção
A interrupção do tratamento crônico associada à supressão
do eixo HHA pode promover agravamento da doença
inflamatória em curso devido à desinibição do sistema imune.
Portanto, é inquestionável o fato de que o tratamento
crônico com os glicocorticoides deve ser reduzido
progressivamente, possibilitando a recuperação gradual da
função normal do eixo HHA. Podem ser necessários muitos
meses para o retorno da função normal após a suspensão Segunda geração
dos fármacos. Loratadina, cetirizina, fexofenadina, levocetirizina e
Para o uso sistêmico agudo (duração inferior a sete dias), desloratadina.
qualquer representante pode ser administrado, pois não se São bem absorvidos pelo trato gastrintestinal após
observam efeitos indesejáveis ou a supressão do eixo HHA. administração oral e alcançam concentrações plasmáticas
A partir de sete dias, dependendo da dose utilizada, já existe máximas entre duas e três horas. Também podem
a possibilidade da supressão do eixo HHA. Quando se faz ser administrados topicamente. Sofrem metabolização
necessário o prolongamento da terapia com glicocorticoides, hepática e devem ter suas doses ajustadas para pacientes
a utilização em dias alternados pode reduzir a supressão do com insuficiência hepática. Como são inibidores das enzimas
eixo HHA ou o surgimento dos efeitos adversos. hepáticas do citocromo P450, os anti-histamínicos também
EFEITOS ADVERSOS podem afetar o metabolismo de outros fármacos que
Como pontuado ao longo deste tópico, os efeitos adversos utilizam o mesmo sistema. São eliminados na urina.
dos glicocorticoides frequentemente ocorrem com doses Os anti-histamínicos de primeira geração atravessam a
elevadas ou durante a terapia prolongada. Efeitos que estão barreira hematoencefálica, onde bloqueiam as ações dos
associados principalmente às alterações do metabolismo. A neurônios histaminérgicos no SNC. Enquanto os de segunda
terapia com os glicocorticoides é contraindicada em inúmeras geração não a atravessam. Além disso, os de primeira
situações, como em pacientes com úlcera péptica, geração são menos seletivos, e, além de se ligarem ao
tuberculose, doença cardíaca, diabetes, osteoporose, receptor H1, ligam-se aos receptores colinérgicos, α-
glaucoma e durante a gravidez. adrenérgicos e serotoninérgicos. Essas diferenças refletem
os principais efeitos adversos gerados por eles.
Você lembra dos cinco cardinais da inflamação apresentados EFEITOS ADVERSOS
no módulo 1? E como eles são gerados? Depressão do SNC (sonolência), cardiotoxicidade, visão
A histamina, encontrada em muitos tecidos e liberada pelos embaçada, constipação e, principalmente, boca seca.
mastócitos, também é um importante mediador destes Também foram desenvolvidos fármacos antagonistas
processos inflamatórios e alérgicos, associados às competitivos e agonistas inversos contra os receptores H2,
H3 e H4, como a cimetidina e a ranitidina. Ambos são O metotrexato é antagonista do ácido fólico (inibe a
antagonistas dos receptores H2 seletivos e inibem a produção de citocinas), possui atividade citotóxica,
secreção de ácido gástrico induzida por histamina, indicadas imunossupressora e potente efeito antirreumático.
para tratar o refluxo e a úlcera péptica. Os efeitos adversos Atualmente, tornou-se a base do tratamento de pacientes
destes fármacos são insignificantes. com artrite reumatoide. Foi observado que ele retarda o
Embora a liberação de histamina seja evidentemente capaz aparecimento de novas erosões nas articulações envolvidas.
de produzir muitos dos sinais e sintomas inflamatórios, os Em comparação a outros ARMD, possui um início de ação
antagonistas da histamina não têm muita utilidade clínica mais rápido (3 a 6 semanas). Em muitos casos, ele é utilizado
sobre a resposta inflamatória em si, pois outros mediadores, em associação com diferentes ARMD e moduladores de
como as prostaglandinas, são mais importantes. Ainda assim, citocinas. Sua administração ocorre uma vez por semana,
os anti-histamínicos possuem indicação clínica para tratar em baixa dosagem, minimizando os efeitos adversos. Dentre
condições como alergia, prurido, náuseas, vômitos, cinetose eles, os mais comuns estão a ulceração das mucosas e
e insônia. Preparações tópicas podem ser utilizadas para náusea. Se usado cronicamente, podem ocorrer discrasias
picadas de insetos. sanguíneas e cirrose hepática, e, por isso, o tratamento deve
Portanto, ainda que os anti-histamínicos possuam inúmeras ser monitorado atentamente.
aplicações clínicas, não existem indicações da sua utilização SULFASSALAZINA
para o tratamento das inflamações osteoarticulares. A sulfassalazina produz remissão na artrite reumatoide ativa.
Entretanto, atualmente, o receptor H4 constitui um alvo Ela também é usada para doença inflamatória intestinal
molecular de estudos para o desenvolvimento de novos crônica. Pode atuar removendo metabólitos tóxicos do
fármacos, com o objetivo de bloquear respostas inflamatórias oxigênio produzidos por neutrófilos, mas o seu mecanismo
induzidas pelos mastócitos e eosinófilos, e, assim, novos de ação no tratamento da artrite reumatoide permanece
fármacos no futuro poderão ser utilizados no tratamento da desconhecido. Embora seja administrada por via oral, possui
artrite reumatoide e outras patologias. reduzida biodisponibilidade. O início de sua atividade pode
demorar de 1 a 3 meses. Distúrbios gastrointestinais, mal-estar
e cefaleia são os efeitos adversos mais comuns, mas
também podem ocorrer reações cutâneas, leucopenia e
depressão da medula óssea, fazendo-se necessário a
monitorização hematológica durante a terapia. Podem ser
utilizados comprimidos revestidos gastrorresistentes para
reduzir estes efeitos.
Até aqui, estudamos os principais fármacos utilizados para o PENICILAMINA
controle da resposta inflamatória que possuem indicação Acredita-se que sua ação em modificar a doença reumática
para o tratamento das patologias articulares. Entretanto, tanto está associada à redução da síntese da citocina IL-1 e à
os AINEs quanto os glicocorticoides não corrigem a etiologia inibição da síntese do colágeno. No entanto, este mecanismo
da doença, como a artrite reumatoide. Desta forma, ainda não está estabelecido. Após administrada por via oral,
iniciaremos agora a descrição dos fármacos que podem ser somente 50% da dose é absorvida e alcança concentrações
utilizados para esta indicação. plasmáticas máximas em 1-2 horas. É preferencialmente
FÁRMACOS ANTIRREUMÁTICOS eliminada na urina. A ocorrência de efeitos adversos é
As alterações articulares são, muitas vezes, causadas por frequente, muitas vezes determinando a suspensão do
uma reação autoimune, que envolvem inflamação, além da tratamento. Dentre eles, rashes e estomatites são os mais
proliferação do líquido sinovial e erosão da cartilagem e do comuns, mas podem apresentar anorexia, febre, náuseas,
osso. Desta forma, alguns fármacos atuam regulando estes vômitos e proteinúria. O monitoramento hematológico
processos. também é necessário no início da terapia. São
Os fármacos mais frequentemente utilizados para reduzir a contraindicados em pacientes com leucopenia ou anemia
progressão da doença de base são denominados falciforme.
antirreumáticos modificadores da doença (ARMD) e os HIDROXICLOROQUINA E CLOROQUINA
imunossupressores. Os AINEs e os glicocorticoides utilizados São fármacos utilizados na prevenção e no tratamento da
para artrite reumatoide possuem efeito mínimo ou ausente malária. Eles são indicados para patologias articulares. No
relacionado à progressão da deformidade articular, mas, se entanto, o mecanismo de ação para esta indicação
necessário, são associados aos ARMD para aliviar os sintomas. permanece desconhecido. Na artrite reumatoide, são
Mas será que todos os ARMD atuam com um único utilizados somente quando outros tratamentos citados
mecanismo de ação? anteriormente tenham falhado. Os efeitos antirreumáticos
Não! Os ARMD compreendem um grupo heterogêneo de são tardios (6 semanas a 6 meses após o início do
fármacos, com estrutura química não relacionada e tratamento), e somente metade dos pacientes respondem
diferentes mecanismos de ação. ao tratamento. Podem apresentar efeitos adversos, como
Estão incluídos nesta categoria, além de vários fármacos náusea, vômito, tonturas, turvação da visão e sintomas de
imunossupressores, os seguintes medicamentos: urticária.
Objeto com interação. Além dos ARMD, são comumente utilizados para as
METOTREXATO patologias articulares os fármacos imunossupressores, que,
em sua grande maioria, atuam durante a fase de indução da
resposta imunológica. Eles inibem a produção ou ação da IL- recombinante. Atualmente, uma das principais limitações em
2, que reduz a indução e proliferação de linfócitos T relação a sua utilização é o seu elevado custo, e, muitas
(Ciclosporina, Tacrolimo), inibem a expressão de genes de vezes, só são utilizados por aqueles pacientes que não
citocinas, a síntese de purinas ou pirimidinas (Azatioprina) e responderam adequadamente a nenhuma das terapias
a Leflunomida, que possui efeito inibitório específico sobre os discutidas anteriormente.
linfócitos T ativados. Nenhum destes fármacos pode ser administrado por via oral,
CICLOSPORINA E TACROLIMO e, portanto, a administração geralmente é realizada
A ciclosporina pode ser administrada por via oral ou subcutânea ou por infusão intravenosa. Dependendo dos
intravenosa, apresenta T1/2 plasmático de aproximadamente fármacos, podem ser administrados a cada duas semanas ou
24 horas, é metabolizada no fígado, e seus metabólitos são mensalmente. A resposta clínica geralmente é observada
eliminados na bile. Ocorre intensa distribuição no tecido duas semanas depois do início do tratamento, mas alguns
linfomieloide e em tecido adiposo, onde se concentram por pacientes podem não responder a esta terapia em razão de
algum tempo após realizada a suspensão do tratamento. mecanismos ainda desconhecidos.
Apresentam a nefrotoxicidade como efeito adverso comum. EFEITOS ADVERSOS
O tacrolimo compreende as mesmas características Os principais efeitos adversos estão relacionados à
farmacocinéticas da ciclosporina, mas seus efeitos adversos precipitação de uma doença latente, como a tuberculose, ou
são mais pronunciados, como nefrotoxicidade e
neurotoxicidade. ao surgimento de infecções oportunistas
AZATIOPRINA E LEFLUNOMIDA USO CLÍNICO DOS FÁRMACOS ANTIRREUMÁTICOS
A azatioprina é amplamente utilizada para imunossupressão, Um homem de 48 anos procura atendimento médico com
particularmente na artrite reumatoide. O principal efeito queixas de rigidez bilateral matinal nos punhos e nos joelhos,
indesejável é a depressão da medula óssea, além de além de dor nessas articulações em razão de exercício físico.
náuseas, vômitos, erupções cutâneas e a hepatotoxicidade. Na avaliação física, observa-se discreta tumefação das
A leflunomida promove inibição dos linfócitos. É ativa por via articulações. O resto do exame é inespecífico. Os achados
oral e bem absorvida pelo trato gastrointestinal. Apresenta laboratoriais também são negativos, exceto pela presença de
T1/2 plasmática prolongada, e o metabólito ativo sofre anemia discreta, elevação da velocidade de
circulação entero-hepática. Possui aprovação para o hemossedimentação e fator reumatoide positivo. Com o
tratamento da artrite reumatoide, mas faz-se necessária a diagnóstico de artrite reumatoide, o paciente começa um
monitorização do paciente durante o tratamento. Os esquema de naproxeno, em uma dose de 220mg, duas
principais efeitos adversos incluem cefaleia, náusea, diarreia, vezes ao dia. Depois de uma semana, aumenta-se a dose
alopecia e elevação das enzimas hepáticas. Por isso, não é para 440mg duas vezes ao dia. Os sintomas diminuem com
recomendada a pacientes com insuficiência hepática. essa dose, porém o paciente queixa-se de pirose (dor
Atenção epigástrica) significativa, que não é controlada com antiácidos.
Geralmente, os ARMD são denominados como fármacos de O medicamento é, então, substituído por celecoxibe, em
segunda linha, pois são indicados apenas quando outras uma dose de 200mg, duas vezes ao dia. Com esse
terapias, como os AINEs, falham. Entretanto, na clínica, a esquema, ocorre resolução dos sintomas articulares e da
terapia com os ARMD é iniciada imediatamente ou até três pirose. Dois anos depois, o paciente retorna com aumento
meses após o diagnóstico, embora os efeitos clínicos iniciais dos sintomas articulares. Nesse momento, as mãos, os
sejam mais lentos. O tratamento deve ser ajustado punhos, os cotovelos, os pés e os joelhos estão acometidos
individualmente para cada paciente, considerando os efeitos e inchados, quentes e dolorosos à palpação.
adversos potencialmente graves. A maioria desses fármacos Módulo 3
é contraindicado para gestantes.
Por fim, podemos utilizar nas patologias articulares, como a Reconhecer os principais componentes reguladores do
artrite reumatoide, os moduladores de citocinas metabolismo e do remodelamento ósseo e as propriedades
(adalimumabe, etanercepte, infliximabe) que possuem como farmacológicas dos fármacos utilizados para as diferentes
alvo o TNF-α, além do rituximabe e o abatacepte, que têm doenças ósseas, os mecanismos de ação, as principais
como alvo receptores nos leucócitos, interferindo na indicações clínicas, os efeitos colaterais e as contraindicações.
sinalização destas células. TNF-α é uma citocina pró- Agora que já conhecemos a terapia farmacológica das
inflamatória essencial durante a patogênese da artrite alterações articulares, descreveremos os principais
reumatoide. Quando secretado no líquido sinovial, estimula a mecanismos celulares, moleculares e hormonais responsáveis
síntese de colagenase, causando a degradação da cartilagem, pela manutenção do metabolismo ósseo e da homeostasia
além de promover o estímulo da reabsorção óssea (que mineral. Em seguida, revisaremos as alterações ósseas mais
será discutida no módulo 3). Em casos de doença reumática frequentes e, posteriormente, poderemos descrever as
e outros tipos de artrite, como espondilite anquilosante e terapias farmacológicas disponíveis voltadas para estas
artrite juvenil, estes fármacos podem ser utilizados em alterações.
associação ao metotrexato. METABOLISMO E REMODELAMENTO ÓSSEO
Estes fármacos representam os últimos avanços no Todos sabemos que os ossos participam de diversas
tratamento da inflamação crônica grave. De forma geral, são funções, além do suporte estrutural e da proteção aos
denominados biofármacos, ou seja, são anticorpos ou órgãos internos, incluindo hematopoese e armazenamento
proteínas que foram sintetizados através da engenharia de minerais, desempenhando um papel crítico na
homeostasia mineral. Em primeiro lugar, precisamos entender Os osteoblastos, então, começam a sintetizar e secretar o
que os ossos possuem estrutura dinâmica, ou seja, sofrem osteoide, além dos fatores IGF-1 e o TGF-β. Enquanto o
contínuo remodelamento durante toda a vida, devido à osteoide é secretado, há a liberação da fosfatase alcalina, que
constante substituição do osso. hidrolisa ésteres de fosfato, incluindo o pirofosfato, o qual
No entanto, o que seria esse remodelamento? É um fino aumenta a concentração local de fosfato inorgânico. De
equilíbrio entre a reabsorção de determinadas partes ósseas forma conjunta, essas ações promovem a cristalização de
e a formação de outras. O seu propósito é remover e sais de fosfato de cálcio e a mineralização da matriz óssea,
substituir os ossos danificados, mantendo a homeostasia do essenciais para a resistência do osso. Ao mesmo tempo em
cálcio, que discutiremos adiante. que os osteoblastos continuam a depositar matriz óssea,
O esqueleto humano possui um componente orgânico alguns acabam envoltos e “presos” por ela e passam a ser
presente em células especializadas responsáveis pelo chamados de osteócitos. Os osteócitos possuem papel
remodelamento ósseo (osteoblastos, osteoclastos e importante no equilíbrio do remodelamento, secretando
osteócitos) ilustradas na Figura 7, além de uma matriz esclerostina, que reduz a formação óssea.
orgânica, denominada osteoide. Há também um componente É importante salientarmos que a ativação dos osteoclastos é
inorgânico constituído basicamente pelo sal de fosfato de dependente da ativação do ligante RANKL ao seu receptor
cálcio, a hidroxiapatita, e por outros íons, incluindo Na +, K+, RANK. De forma antagônica, os osteoblastos liberam a
Mg2+ e F-. osteoprotegerina (OPG) – molécula idêntica ao RANK, que
inibe esta ligação e a ativação dos osteoclastos. Atualmente,
existem fármacos específicos que atuam nessa interação
essencial para o equilíbrio no remodelamento ósseo.
Formação de osteoclastos.
A conversão dos precursores dos osteoclastos aos
osteoclastos maduros é dependente da ligação do ligante
Remodelamento ósseo.
RANKL (produzido pelos osteoblastos) ao seu receptor
O processo de remodelagem óssea consiste em um
RANK presente em sua superfície. Após a ativação dos
equilíbrio entre a atividade catabólica dos osteoclastos e a
osteoclastos, há a indução da reabsorção da matriz óssea. A
atividade anabólica dos osteoblastos. São encontrados em
OPG, que também é produzida pelos osteoblastos, ligam-se
todas as superfícies ósseas, incluindo o endósteo, que
ao RANKL, reduzindo a sua interação com o RANK e
reveste o osso cortical, bem como nas várias superfícies do
inibindo, assim, a diferenciação dos osteoclastos.
osso trabecular, onde o remodelamento ósseo é mais
O remodelamento ósseo consiste em um equilíbrio dinâmico
intenso.
entre a atividade catabólica dos osteoclastos (reabsorção
O ciclo de remodelagem tem início com o recrutamento e a
óssea) e a atividade anabólica dos osteoblastos (produção da
diferenciação dos osteoclastos maduros, induzidos por
matriz óssea), como vimos na figura Remodelamento ósseo.
citocinas e hormônios. Os osteoclastos maduros aderem a
A perda óssea é caracterizada quando a reabsorção excede
uma região do osso trabecular e promovem a secreção de
a formação óssea.
íons hidrogênio e de enzimas proteolíticas, principalmente a
A regulação do remodelamento ósseo ocorre somente
catepsina K, responsáveis pela dissolução da hidroxiapatita,
através destes dois componentes celulares?
reabsorção de cálcio e a desmineralização da matriz óssea.
Não! Nos últimos anos, foi observado o envolvimento de
Além disso, esse processo gradualmente libera citocinas,
várias citocinas, dos minerais ósseos e das ações de várias
como o fator de crescimento semelhante à insulina (IGF-1) e
substâncias, como o paratormônio (PTH), a vitamina D e o
o fator transformador de crescimento-β (TGF-β). As
fator de crescimento dos fibroblastos 23 (FGF23) durante
citocinas liberadas são responsáveis pela ativação e pelo
todo este processo. Estes hormônios interagem para regular
acúmulo local dos osteoblastos, em substituição aos
o equilíbrio dos minerais ósseos por meio de seus efeitos
osteoclastos.
sobre o rim, intestino e o osso. Ao longo deste módulo, funcionam como hormônios e são capazes de regular
abordaremos essas regulações. diferentes atividades celulares. Em humanos, encontramos
Como já descrevemos inicialmente, dentre os minerais duas fontes de vitamina D:
ósseos, a reciclagem do cálcio e do fosfato é a mais Ergocalciferol ou vitamina D2
importante para a função celular geral. Derivado do ergosterol na plantas e nos fungos.
O cálcio, além de desempenhar importante papel no Colecalciferol ou vitamina D3
remodelamento ósseo, é um mineral essencial para inúmeras Gerado na pele a partir da absorção de fóton de um luz
funções biológicas, incluindo a liberação de ultravioleta (UVB) pelo 7-desidrocolesterol.
neurotransmissores, contração muscular, sinalização Você sabia
intracelular e na coagulação sanguínea. Aproximadamente As vitaminas D2 e D3 são comumente adicionadas a
99% do cálcio presente no nosso corpo está integrado aos produtos derivados do leite e outros alimentos, como
nossos ossos e dentes. Portanto, a sua liberação para a suplementos dietéticos, além dos fármacos em doses muito
corrente sanguínea precisa ser controlada com grande mais altas. O termo vitamina D refere-se a ambas as formas,
precisão, e qualquer mudança em sua disponibilização pode pois apresentam atividade biológica semelhantes.
ser deletéria ao organismo. O cálcio é absorvido no intestino A metabolização ocorre a partir da hidroxilação no fígado,
e eliminado pela urina. A eficiência da absorção intestinal é onde a vitamina D é transformada em calcifediol, que é
inversamente relacionada à concentração plasmática. Se o convertido nos rins em metabólito ativo denominado calcitriol.
organismo apresentar altos teores de cálcio, há redução da Essa conversão é regulada pelo PTH, FGF23, e influenciada
sua absorção; porém, se houver baixos níveis, há aumento pela concentração de cálcio no plasma. Ou seja, uma
compensatório da sua absorção. Relação inversa que redução do nível sérico de cálcio promove a síntese e
também ocorre com a sua eliminação renal. liberação do PTH e o aumento da síntese de calcitriol
(metabólito ativo da vitamina D). Entretanto, através de um
mecanismo de feedback negativo, em elevados níveis
séricos de calcitriol, há inibição da síntese de PTH, e,
consequentemente, redução da síntese de calcitriol.
Em relação ao mecanismo de ação do calcitriol, o que ele
promove?
Quando o organismo se encontra com redução da
concentração de cálcio ou fosfato no plasma, o cCalcitriol
atua na tentativa de reverter este desbalanço. Sua síntese é
induzida, e ele promove o aumento de absorção de cálcio e
fosfato no intestino, mobilizando o cálcio a partir do osso e
diminuindo a eliminação renal de cálcio. No osso, o calcitriol
Como ocorre essa regulação?
promove a maturação e a estimulação dos osteoclastos,
Ela é dependente da vitamina D no intestino e do PTH nos
resultando em aumento da reabsorção óssea e na
rins. O cálcio também pode ser reabsorvido pelo osso
mobilização de cálcio. Trata-se de ações que culminam na
através da ação da vitamina D. Abordaremos com mais
elevação da concentração de cálcio plasmático.
detalhes como ocorrem essas e outras regulações ao longo
No entanto, o efeito do calcitriol é complexo e não está
deste módulo.
limitado à mobilização de cálcio e ao aumento da reabsorção
Os íons fosfatos também desempenham ações críticas no
óssea. Afinal, em casos onde há deficiência de vitamina D e
metabolismo relacionadas a diversas atividades celulares e
mineralização óssea alterada, a suplementação de vitamina D
enzimáticas. Em nosso organismo, mais de 80% são
é capaz de restaurar a formação óssea. Ou seja, por algum
encontrados nos ossos. Sua absorção é regulada pela
mecanismo, os osteoblastos podem estar sendo ativados. A
vitamina D, e a sua deposição no osso, em associação com
hipótese é que a vitamina D possa estimular a síntese de
o cálcio, é regulada pelo PTH e pela vitamina D no intestino.
osteocalcina, proteína secretada por osteoblastos, importante
O PTH e o FGF23 também são capazes de regular a sua
na mineralização da matriz óssea.
eliminação renal. Detalharemos esta regulação a seguir. A
concentração plasmática de fosfato deve ser monitorada,
pois ela também altera os níveis plasmáticos de cálcio, e,
assim, pode desencadear inúmeras alterações na
homeostasia.
Conforme acabamos de descrever, a vitamina D é um
importante componente envolvido na manutenção do
metabolismo ósseo, pois é capaz de regular a concentração
plasmática de cálcio e fosfato. Porém, qual seria o seu
mecanismo de ação?
Antes de entendermos como ela induz seus efeitos,
precisamos identificar as suas principais propriedades.
A vitamina D consiste em um grupo de moléculas que são
convertidas em metabólitos biologicamente ativos, que
Além disso, o PTH induz à conversão de calcitriol, que,
então, estimula a absorção intestinal de cálcio e fosfato, além
de induzir a liberação de FGF23. No osso, o PTH aumenta a
atividade osteoclástica, ampliando a reabsorção óssea, que
culmina no aumento de cálcio e fosfato no plasma. Observe
que o efeito do PTH sobre o intestino é indireto, por meio
da síntese renal aumentada de calcitriol. Em uma alça de
retroalimentação negativa, o aumento da concentração
plasmática de cálcio inibe a secreção subsequente de PTH
pelas paratireoides, bem como promove redução de
calcitriol. O FGF23 liberado pelo osso diminui a reabsorção
de fosfato, inibe a síntese de calcitriol e a liberação de PTH
pelas glândulas paratireoides.
Atenção
Estrutura química do Curiosamente, embora a secreção patológica excessiva do
calcitriol. PTH (hiperparatireoidismo) seja capaz de induzir a atividade
A partir de agora, começaremos a integrar os mecanismos osteoclástica com maior reabsorção óssea, foi observado
de ação dos hormônios já descritos, como o calcitriol, com que uma injeção diária de PTH (administração terapêutica
os outros reguladores do metabolismo ósseo. em baixa dosagem intermitente) é capaz de estimular a
A síntese e liberação do calcitriol elevam a concentração de atividade dos osteoblastos e acelerar a formação óssea –
cálcio plasmático, que inibe diretamente a síntese e liberação efeito que pode estar relacionado à inibição da secreção de
do paratormônio (PTH), hormônio que é regulado esclerostina pelos osteócitos, molécula que bloqueia a
diretamente em resposta aos níveis plasmáticos de cálcio. proliferação dos osteoblastos (promove um efeito anti-
O PTH é um importante regulador fisiológico da homeostasia apoptótico), e, assim, os osteoblastos podem atuar
do cálcio, sintetizado pelas glândulas paratireoides, que promovendo a formação óssea.
possuem sensores de cálcio em sua superfície capazes de Outro importante hormônio para a homeostasia do cálcio é
controlar sua concentração. Portanto, quando o cálcio a calcitonina, cujas ações são opostas ao PTH. Ela é
plasmático está reduzido, há o estímulo da secreção de produzida e liberada pela glândula tireoide. Sua principal ação
PTH. Em alguns casos, foi observado que a hipocalcemia é sobre o osso. Ela se liga a um receptor específico nos
induz hipertrofia e hiperplasia das paratireoides, devido à osteoclastos, inibindo-os e reduzindo a reabsorção óssea e
intensa produção de PTH. os níveis plasmáticos de cálcio (efeito hipocalcêmico). Nos
Quando o PTH é liberado, quais são os seus mecanismos de rins, ela reduz a reabsorção de cálcio e do fosfato. Sua
ação? secreção é determinada principalmente pela concentração
Em baixas concentrações de cálcio, o PTH liberado estimula de cálcio no plasma. Observa-se aumento de calcitonina
a reabsorção óssea e renal de cálcio, além de promover a durante a fase de crescimento, na gravidez e na lactação,
conversão enzimática renal da vitamina D, que culmina com quando os níveis de cálcio estão aumentados. Embora a
a síntese do calcitriol, e, indiretamente, aumenta a absorção calcitonina endógena tenha menos importância, a calcitonina
intestinal de cálcio. Assim, podemos observar que o PTH e o exógena mostra-se útil no tratamento de emergência de
calcitriol atuam de forma integrada, promovendo os ajustes certas formas de hipercalcemia, conforme discutiremos
necessários de acordo com a concentração plasmática de adiante neste mesmo módulo.
cálcio. Porém, de forma contrária ao calcitriol, o PTH Ao analisarmos de forma integrada essas regulações,
promove a diminuição da reabsorção de fosfato, reduzindo a podemos observar que:
sua concentração plasmática. Os efeitos finais do PTH e do
calcitriol estão ilustrados a seguir.
Calcitonina
Nós já vimos que a calcitonina inibe a ação dos osteoclastos
e, consequentemente, reduz a reabsorção óssea,
produzindo efeitos hipocalcêmico e hipofosfatêmico.
A principal preparação disponível para uso clínico é
a calcitonina sintética de salmão, que apresenta uma T1/2 mais
longa e maior afinidade pelo receptor de calcitonina humano. Estrutura química do 17β-estradiol e do raloxifeno.
Ela é capaz de reduzir a reabsorção óssea, mas é menos O raloxifeno possui semelhança conformacional ao 17β-
eficaz do que os bisfosfonatos. A administração do estradiol, hormônio esteroide, é bem absorvido no trato
medicamente varia de acordo com o tratamento. gastrointestinal e sofre intenso metabolismo de primeira
Injeção subcutânea ou intramuscular passagem pelo fígado, resultando em apenas 2% de
Para doença de Paget e hipercalcemia. biodisponibilidade. O raloxifeno é amplamente distribuído nos
Intranasal tecidos, apresenta T1/2 de 32 horas e é eliminado
Para a osteoporose pós-menopausa. principalmente nas fezes. Seu uso foi aprovado para o
Apresenta T1/2 plasmático de 4-12 minutos, mas sua ação se tratamento de osteoporose, especialmente como alternativa
mantém por várias horas. O processo de depuração ocorre para mulheres na pós-menopausa, que não conseguem
principalmente nos rins. tolerar os bisfosfonatos (fármacos de primeira escolha).
É indicada para o tratamento de doenças caracterizadas por EFEITOS ADVERSOS
atividade osteoclástica elevada (hipercalcemia), associada à Os efeitos colaterais incluem ondas de calor, câimbras nas
neoplasia, doença de Paget, osteoporose pós-menopausa e pernas e edema periférico. De forma semelhante ao
induzida por glicocorticoides. Além de ser útil para o alívio da estrógeno, o raloxifeno aumenta o risco de
dor associada à fratura osteoporótica e para a redução de tromboembolismo e, assim, é contraindicado para adultos
complicações neurológicas. com histórico de tromboembolismo. Além disso, diminui
EFEITOS ADVERSOS ligeiramente os níveis de colesterol das lipoproteínas de baixa
Os principais efeitos adversos incluem náusea e vômito. densidade (LDL), porém não aumenta nem reduz a
Podem ocorrer rubor facial, sensação de formigamento nas incidência de doença cardíaca em mulheres na pós-
mãos e gosto desagradável na boca. Efeitos adversos da menopausa.
administração nasal incluem rinite e outros sintomas nasais.
Uma importante desvantagem da administração prolongada Antagonistas do RANKL
de calcitonina é a taquifilaxia, que pode resultar na Inicialmente, precisamos relembrar que a ativação inicial dos
dessensibilização do receptor. Seu uso pode aumentar o osteoclastos é dependente da ligação do RANKL ao seu
risco de malignidades; desta forma, deve ser reservado receptor RANK. O fármaco denosumabe é um anticorpo
somente aos pacientes que forem intolerantes a outras monoclonal inibidor do RANKL, portanto é capaz de inibir a
terapias mais seguras. formação e função dos osteoclastos e interromper a perda
óssea.
Estrógenos e compostos relacionados (raloxifeno)
O denosumabe é administrado por injeção subcutânea a
cada seis meses e possui indicação clínica para a redução de
fraturas em mulheres com osteoporose pós-menopausa e
reabsorção óssea excessiva. Ele reduz fraturas vertebrais em
homens com hipogonadismo consequente do tratamento
para câncer de próstata e diminui a reabsorção óssea em
pacientes com artrite reumatoide.
EFEITOS ADVERSOS
Sua utilização foi associada ao aumento do risco de
infecções, reações dermatológicas, hipocalcemia,
osteonecrose da mandíbula e fraturas atípicas. Por isso, só é
indicada para pacientes que não toleram ou não respondem
a outros tratamentos.
Ranelato de estrôncio
O ranelato de estrôncio atua inibindo a reabsorção óssea e Teriparatida
estimulando a formação óssea, mas o seu mecanismo de Como já abordado neste módulo, concentrações plasmáticas
ação ainda permanece desconhecido. Ele parece bloquear a constantemente elevadas de PTH (hiperparatireoidismo)
diferenciação dos osteoclastos, induzindo-os a apoptose. É induzem a desmineralização óssea e a osteopenia. Por outro
absorvido pelo intestino e, após ser distribuído, o estrôncio é lado, a exposição intermitente (baixas doses) das células
incorporado pela hidroxiapatita, permanecendo nos ossos por ósseas ao PTH promove o aumento da formação óssea,
muitos anos. Eventualmente, podem ser trocados pelo cálcio efeito que é induzido pelos derivados do PTH.
nos ossos. É eliminado pelos rins. Eficaz na prevenção de Atualmente, o principal composto em uso é a teriparatida,
fraturas em mulheres idosas, foi aprovado como alternativa um fragmento peptídico recombinante do PTH. Ela possui
aos bisfosfonatos para prevenção de fraturas osteoporóticas. biodisponibilidade próxima de zero quando administrada por
O fármaco é bem tolerado; relata-se baixa incidência de via oral e, desta forma, é administrada diariamente de forma
náusea e diarreia. Alguns autores consideram o estrôncio subcutânea, mantendo a exposição intermitente da droga. A
como fármaco de primeira escolha para o tratamento da concentração plasmática de cálcio alcança um valor máximo
osteoporose devido à sua melhor relação risco/benefício. em 6 horas após a administração. Outras formas de
Analisaremos agora o principal fármaco com efeito anabólico, administração (p. ex., transcutânea) estão em fase avançada
que promove o aumento da formação óssea. de desenvolvimento clínico. Sofre um processo de
depuração no fígado, seguida de excreção renal.
A teriparatida promove o aumento da massa óssea, através
do aumento do número e ativação de osteoblastos e
redução da apoptose dos osteoblastos. Possui indicação
clínica para ser utilizada no tratamento de pacientes
portadores de osteoporose e em pacientes com alto risco
de fraturas. Sua eficácia na prevenção de fraturas é
comparável à dos bisfosfonatos.
EFEITOS ADVERSOS
Possui boa tolerância e reduzidos efeitos adversos graves.
Dentre os mais comuns, estão náusea, vertigem, cefaleia,
artralgia, hipercalcemia, hipotensão e câimbras nas pernas.
Devido a uma possível associação entre o uso da teriparatida
e o desenvolvimento de osteossarcoma, o seu uso deve ser
limitado a, no máximo, dois anos de tratamento. Orienta-se
Estrutura química do administrar bisfosfonatos ao final da terapia para prevenir a
ranelato de estrôncio. perda óssea devido à retirada da teriparatida.
Compostos calcimiméticos
Conforme abordado neste módulo, a vitamina D promove o Estes compostos simulam o efeito de estímulo do cálcio
aumento de absorção de cálcio e fosfato no intestino, sobre o receptor de cálcio presente nas glândulas
mobiliza o cálcio a partir do osso e diminui a eliminação renal paratireoides, responsáveis por regular a secreção de PTH.
de cálcio, além de diminuir a síntese do PTH. Foi observado Ou seja, seu efeito é diminuir a secreção do PTH e reduzir a
que a suplementação de vitamina D aumenta a densidade concentração de cálcio sérico.
óssea mineral e diminui a incidência de fraturas ósseas. O composto cinacalcete foi o primeiro calcimimético
As preparações de vitamina D são indicadas clinicamente aprovado. Ele é atualmente utilizado como terapia alternativa
para o tratamento de estados de deficiência dietética, na à cirurgia no tratamento do hiperparatireoidismo em
prevenção de raquitismo, osteomalacia, deficiência causada situações de hipercalcemia e em pacientes com insuficiência
pela má absorção e doenças hepáticas. A associação de renal. Inesperadamente, por motivos ainda não esclarecidos,
vitamina D e suplementos dietéticos de cálcio é o cinacalcete não altera a perda óssea durante a terapia.
frequentemente utilizada para prevenção e tratamento da Os efeitos máximos sobre o nível sérico de PTH são
osteoporose, principalmente em indivíduos idosos. observados de 2 a 4 horas após a administração oral.
Além disso, é indicada para o tratamento da hipocalcemia, Apresenta intensa metabolização hepática pelas enzimas do
causada pelo hipoparatireoidismo, e de doença renal crônica. citocromo P450 (atenção para as interações
No caso de hipoparatireoidismo agudo, é necessário o uso medicamentosas), e seus metabólitos são eliminados na urina.
de cálcio intravenoso e preparações de vitamina D injetável, Possui um T1/2 de eliminação de 30 a 40 horas.
além de associar um diurético tiazídico. Também foram Você sabia
aprovados para tratamento do hiperparatireoidismo Atualmente, estão sendo desenvolvidos outros fármacos
secundário, com a supressão da secreção de PTH pelas antagonistas ao mesmo receptor sensível de cálcio da
células das glândulas paratireoides. paratireoide para o tratamento da osteoporose.
EFEITOS ADVERSOS EFEITOS ADVERSOS
Como a vitamina D aumenta tanto o cálcio quanto o fosfato A hipocalcemia e as náuseas são os principais efeitos
do plasma, é preciso monitorar cuidadosamente os níveis colaterais. As concentrações de cálcio, fosfato e PTH devem
plasmáticos desses minerais durante o tratamento. Portanto, ser monitoradas durante o tratamento.
a ingestão excessiva de vitamina D pode desenvolver
hipercalemia e, se ela persistir, os sais de cálcio podem ser Fosfato inorgânico
depositados nos rins, promovendo calculose renal e O fosfato inorgânico é administrado como terapia para a
insuficiência renal. O paricalcitol, análogo da vitamina D, possui hipofosfatemia causada por perda renal de fosfato, má
menor potencial para causar hipercalcemia. absorção intestinal, remodelamento ósseo rápido, sepse e
outros distúrbios. As preparações de uso comum consistem
Sais de cálcio em fosfato de potássio e fosfato de sódio. Se a
Não podemos esquecer que, além de inúmeras funções hipofosfatemia for grave, pode-se administrar o fosfato por
fisiológicas reguladas pelo cálcio, eles são essenciais durante via intravenosa, com monitoramento do nível sanguíneo de
a mineralização da matriz óssea. Neste sentido, umas das cálcio.
principais indicações clínicas dos sais de cálcio inclui a
reposição oral de cálcio durante a deficiência na dieta
(estado de hipocalcemia), incluindo o uso do gluconato de
cálcio e do lactato de cálcio. Além disso, podem ser utilizados
em associação com os bisfosfonatos, a vitamina D ou
calcitonina para prevenção e tratamento da osteoporose,
hipoparatireoidismo, raquitismo dependente de vitamina D ou
Neste cenário de agressão à mucosa gástrica, faz-se
necessário o tratamento com fármacos que levem à
EFEITOS ADVERSOS diminuição da acidez e fortaleçam as defesas desta mucosa
A superdosagem de fosfato oral provoca diarreia, enquanto tão importante para o funcionamento pleno do organismo
a superdosagem do fosfato intravenoso pode causar humano.
hipocalcemia. Para entender melhor como esses fármacos atuam,
precisamos retornar brevemente ao mecanismo fisiológico
Sevelamer que leva à produção de secreção gástrica ácida.
Este fármaco é uma resina trocadora de íons catiônicos não AFINAL, O QUE É SECREÇÃO ÁCIDA?
absorvível e liga-se ao fosfato intestinal, diminuindo, assim, a
absorção do fosfato dietético. Liga-se também aos ácidos A secreção ácida é um processo complexo que envolve a
biliares, levando à interrupção da circulação entero-hepática liberação neuronal de acetilcolina, a liberação parácrina de
e redução da absorção de colesterol. Sua principal utilização histamina e endócrina de gastrina, que, em conjunto, regulam
clínica é para o tratamento da hiperfosfatemia em pacientes a secreção de prótons (íons H+) pelas células parietais no
com doença renal crônica submetidos a hemodiálise. Ele é estômago. A concentração de H+ é responsável pela
capaz de diminuir a incidência de episódios de hipercalcemia, regulação do pH, sendo uma solução dita ácida aquela que
que pode resultar em calcificação. Não possui efeito possui alta concentração deste íon em dispersão.
consistente e clinicamente significativo sobre o PTH. QUAIS SÃO OS BENEFÍCIOS DA SECREÇÃO ÁCIDA NO
EFEITOS ADVERSOS ESTÔMAGO?
As principais reações adversas encontradas são vômito,
náusea, dispepsia, diarreia e acidose metabólica. É importante para a digestão de macromoléculas, como as
NOVAS TERAPIAS EM POTENCIAL proteínas, além de auxiliar na absorção de ferro, cálcio e
Diversos estudos têm ampliado o conhecimento sobre os vitamina B12. Além dessa questão, podemos destacar
mecanismos moleculares e celulares do processo de também suas ações protetivas contra microrganismos
remodelamento ósseo. A partir deste conhecimento e com advindos da alimentação, que, por ora, possam tentar
o desenvolvimento de novas tecnologias, atualmente, têm colonizar nosso tubo gastrointestinal, como a conhecida
surgido novos medicamentos que podem ser incorporados à bactéria Helicobacter pylori, bastante associada a problemas
clínica em breve. Dentre eles, há os inibidores de catepsina K gástricos.
(odanacatibe), da esclerostina e da OPG recombinante para o O QUE PODE SER CAUSADO POR DESCOMPENSAÇÕES
tratamento da doença de Paget. NOS NÍVEIS DE ACIDEZ?
Tema 7 De forma geral, descompensações nos níveis de acidez
Fármacos Que Modificam a Função Gastrointestinal e podem causar ulcerações quando exacerbadas, ou até
Metabólica mesmo impactar na absorção de nutrientes e reduzir
Modulo 1 defesas, quando diminuídas.
FÁRMACOS QUE MODULAM A SECREÇÃO ÁCIDA Agora, veremos como acontece o processo de regulação
ESTOMACAL fisiológica e farmacológica da secreção gástrica.
Pensando no estômago, nós nos lembramos da fisiologia Como observaremos na imagem mais adiante, a célula
básica que nos orienta sobre a acidez local, necessária para parietal apresenta três receptores estimuladores em sua
o processo de digestão. Em condições fisiológicas normais, o membrana basolateral:
ácido gástrico e a pepsina produzidos não estão relacionados Receptores muscarínicos do tipo M3
à produção de danos ou sintomas de doenças pépticas Histamínicos H2
ácidas, devido aos mecanismos naturais de defesa. Receptores de gastrina (do tipo colecistocinina B ou 2 –
Entretanto, em condições patológicas, a mucosa gástrica CCK2)
pode perder sua capacidade de se defender frente tamanha Os receptores muscarínicos, quando estimulados pela
acidez e iniciar processo inflamatório, que nós conhecemos acetilcolina, levam ao aumento de cálcio intracelular,
como gastrite e úlceras. semelhante aos receptores de gastrina, os quais levam ao
mesmo evento intracelular. Quanto à origem dos estímulos, a
acetilcolina vem do estímulo das fibras dos nervos
parassimpáticos, e a gastrina é produzida pelas células G,
presentes na mucosa antral gástrica e, em pequena
proporção, na mucosa do duodeno.
Devemos destacar também a ação da gastrina sobre as Esomeprazol
células enterocromoafins (ECL), célula produtora de Lansoprazol
histamina, que modula, de forma parácrina, os receptores H2 Dexlansoprazol
na célula parietal, levando ao aumento do AMP cíclico Rabeprazol
(cAMP) intracelular. A ação em conjuntos destes receptores, Pantoprazol
via os eventos intracelulares mencionados, resulta em As modificações estruturais apresentadas por esses
estímulo à bomba de próton potássio ATPase fármacos são importantes e garantem modificações da
(H+/K+/ATPase) , levando à liberação de prótons (H+) no farmacocinética, com pequenas diferenças no tempo de
lúmen estomacal, que promove a acidificação da secreção meia-vida, que promove melhores condições posológicas
gástrica. para os pacientes que os utilizem. Os principais parâmetros
Esse processo está ilustrado a seguir: farmacocinéticos estão descritos na tabela a seguir:
Objeto com interação.
Parâmetros farmacocinéticos
Fármaco Biodisponibilidade Meia- Tempo para
oral (%) vida (h) pico
plasmático (h)
Omeprazol 30 – 40 0,5 - 1 0,5 – 3,5
Esomeprazol 64 – 90 1 – 1,5 1,5
Lansoprazol 80 – 85 1,6 1,7
Dexlansoprazol - 1–2 1–2
Pantoprazol 77 1 – 1,9 2–3
Rebeprazol 52 1–2 2–5
Fonte: Traduzido de STRAND et al. (2017)
Regulação fisiológica e farmacológica da secreção Esses medicamentos são pró-fármacos, que, após absorção
gástrica. Fonte: GOODMAN & GILMAN, 2012. sistêmica, devem chegar intactos às células parietais, onde se
O conhecimento da fisiologia envolvida na secreção gástrica difundem e são ativados por secreção ácida nas membranas
ácida, com a elucidação dos receptores e seus ligantes dos canalículos secretores. Essa ativação promove
estimulantes, são a base das abordagens farmacológicas que modificação no fármaco que impede sua saída do local de
temos disponíveis no momento para o tratamento de ação. O fármaco ativo se liga covalentemente à bomba de
distúrbios relacionados à acidez em excesso. Os fármacos H+/K+/ATPase, inativando-a de forma irreversível. Porém, o
utilizados pertencem a classes diferentes de acordo os estômago renova a secreção ácida produzindo novas
receptores ou com a via fisiológica que inibem, como moléculas de bomba H+/K+/ATPase, que serão inseridas na
os antagonistas H2 (receptores de histamina), os inibidores de membrana luminal para reestabelecer esse processo
bomba de próton potássio ATPase (H+/K+/ATPase) , os fisiológico, levando de 24 a 48 horas para reversão.
fármacos antiácidos e os protetores de mucosa. Veremos à Independentemente do curto tempo de meia-vida, esses
frente seus principais representantes e suas características medicamentos apresentam seus efeitos terapêuticos em
farmacológicas. razão da irreversibilidade de ligação com seu alvo.
No entanto, antes de entrarmos na farmacodinâmica dos SE OS FÁRMACOS CHEGAREM AO ESTÔMAGO, APÓS
fármacos utilizados na diminuição da secreção ácida, UTILIZAÇÃO POR VIA ORAL E ENCONTRAREM AMBIENTE
precisamos dar destaque ao intenso trabalho do estômago e ÁCIDO SEM A DEVIDA PROTEÇÃO PELOS EXCIPIENTES
do esôfago para se proteger dessa acidez. Sabemos quão DA FORMULAÇÃO, TERÍAMOS O EFEITO
importante ela é para os processos fisiológicos, mas FARMACOLÓGICO ESPERADO?
precisamos nos atentar para o fato de que possui potencial Não. Eles precisam estar vinculados a formulações
para lesar os epitélios destes órgãos. O esôfago, via seu gastrorresistentes, a fim de que driblem a acidez estomacal e
esfíncter esofágico inferior, evita o refluxo do conteúdo ganhem o intestino para que sejam absorvidos, como, por
ácido estomacal. Já o estômago se protege do seu próprio exemplo, as cápsulas gelatinosas de revestimento entérico
conteúdo ácido via produção de uma camada de muco, que (para omeprazol, esomeprazol e lansoprazol), comprimidos
mantida próximo das células epiteliais gástricas, secretam de revestimento entérico (omeprazol, pantoprazol e
bicarbonato, para proteger este grupo de células. Além disso, rabeprazol) e a combinação de omeprazol com bicarbonato,
o muco se torna importante barreira contra a difusão de em cápsulas ou suspensões.
íons e demais lesões do epitélio gástrico. Quanto à alimentação, o raciocínio é o mesmo. Sabemos
Esse cenário nos leva à compreensão da importância de que a ingestão de alimentos estimula fisiologicamente a
utilização de fármacos protetores da mucosa gástrica, que secreção gástrica para recebê-los e iniciar o processo
também serão discutidos. digestivo. Por esta razão, é necessário um intervalo de pelo
FÁRMACOS INIBIDORES DE BOMBAS DE PRÓTON menos 30 minutos entre a utilização dos medicamentos e a
Os inibidores de bomba de próton são atualmente os alimentação, para que não haja exacerbação da acidez
fármacos mais importantes e utilizados como supressores estomacal, capaz de comprometer o tratamento e reduzir a
(diminuidores) da secreção ácida gástrica, sendo o biodisponibilidade oral dos fármacos.
omeprazol pioneiro nesta classe. São outros inibidores de
bombas de próton:
Esses medicamentos estão disponíveis em formulações orais
e parenterais, que reduzem em aproximadamente 70% a
secreção de ácido gástrico durante 24 horas.
Semelhante aos inibidores de bombas de próton discutidos
anteriormente, os antagonistas H2 também são absorvidos
rapidamente após administração oral, atingindo máximas
Atenção
concentrações plasmáticas entre 1-3 horas. Como principais
Para os pacientes que necessitam de ação imediata,
diferenças, esses fármacos podem ter:
encontram-se disponíveis para administração intravenosa os
fármacos omeprazol, esomeprazol, lansoprazol e pantoprazol.
Esses fármacos sofrem rápida absorção no intestino após
uso oral, ligam-se a proteínas e são metabolizados no fígado
por enzimas do Citocromo P450. Por serem
biotransformados dessa forma, uma gama de interações
medicamentosas pode ser observada, resultando em
alterações na farmacocinética de outros fármacos que
competem por essa forma de metabolização.
Fica também ressaltada a importância especial aos pacientes Absorção beneficiada pela presença de alimentos.
que apresentam doença hepática, com recomendação de
redução de doses. Além das questões de biotransformação,
outro grupo de interações medicamentosas que pode ser
observado são aqueles oriundos do efeito terapêutico. Após
redução da acidez do conteúdo gástrico, outros fármacos e
substâncias podem ter sua absorção debilitadas, como o
cetoconazol (antifúngico), a ampicilina (antibiótico), alguns sais
de ferro e a vitamina B12.
Absorção diminuída em virtude do uso de antiácidos locais.
Os fármacos antagonistas H2 ainda apresentam diferença na
metabolização, onde ocorre pouca ligação com as proteínas,
com pequena biotransformação hepática, e isso não culmina
na necessidade de ajuste em vigência de doença hepática
prévia. Além disso, poucas interações medicamentosas são
esperadas com o uso dos antagonistas H2, sendo os poucos
relatos associados ao uso da cimetidina e ranitidina.
Neste aspecto, a nizatidina e famotidina são consideradas
mais seguras. Por se tratar de um fármaco de eliminação na
O uso clínico dos inibidores das bombas de próton mais
urina, paciente nefropatas demandam reduções de doses
importantes objetivam promover benefícios no tratamento
desses antagonistas.
de gastrites, úlceras gástricas e duodenais, doença do refluxo
Esses fármacos são utilizados no tratamento de ulcerações
gastroesofágico, azias, doença de Zollinger-Ellison (distúrbio
gástricas e duodenais, doença do refluxo gastroesofágico e
hipersecretor patológico).
para evitar a ocorrência de úlceras relacionadas ao estresse.
EFEITOS ADVERSOS
EFEITOS ADVERSOS
Dentre os principais efeitos adversos desta classe, podemos
Trata-se de fármacos com poucos efeitos adversos e bem
destacar náusea, dor abdominal, aumento do risco de
tolerados pelos usuários. Dentre os relatos mais comuns,
fraturas ósseas e a hipergastrinemia (secreção aumentada
estão diarreia, cefaleia, sonolência, fadiga e dor muscular e
de gastrina para tentar compensar a redução da secreção
constipação.
ácida estomacal) e aumento da possibilidade de
desenvolvimento de tumores gástricos.
Saiba mais
Uma questão especial, que demanda atenção dos
FÁRMACOS ANTAGONISTAS H2
prescritores e demais profissionais é a utilização destes
Outra classe importante de fármacos que modulam a acidez
medicamentos por grávidas e lactentes. Estes fármacos são
estomacal são os antagonistas seletivos dos receptores de
capazes de ultrapassar a barreira placentária e ser
histamina H2, que atuam competindo de forma reversível
excretados pelo leite materno, entretanto até o momento
com a histamina pela ligação em seu receptor na membrana
não foi relatado pela literatura científica teratogenicidade para
basolateral das células parietais. Dentre os fármacos
esta classe. Um fato interessante sobre estes fármacos é a
representantes deste grupo, estão:
inibição predominantemente da secreção ácida basal, mais
Ranitidina
bem evidenciada durante a noite. Por esta razão, para
Cimetidina
úlceras duodenais o tratamento indicado consiste em
Famotidina
administração noturna de antagonistas H2 como principal
Nizatidina
abordagem farmacoterapêutica.
Com a diminuição da acidez gástrica, é possível ser capaz de atuar tanto em células parietais quanto nas células
evidenciada também com esta classe de fármacos a enterocromoafins, inibindo a secreção basal ácida, bem
hipergastrinemia, que estimula as células enterocromoafins a como estimulando a circulação sanguínea local, aumentando
liberarem histamina, o agonista natural dos receptores H2. a secreção de muco e bicarbonato. Após absorção oral, o
Com isso, ajustes de dose podem ser necessários para fármaco é transformado em seu metabólito ativo nas células
compensar possíveis falhas terapêuticas. Também é preciso parietais.
atenção ao descontinuar o tratamento, pela possibilidade Seu uso no tratamento de úlceras gástricas tem sido
de efeito rebote. descontinuado ao longo dos anos em razão da sua
toxicidade. O misoprostol está associado a quadros diarreicos
e dores abdominais em 30% dos pacientes, além de ser
contraindicado para indivíduos com doenças inflamatórias
intestinais e, principalmente, para gestantes, em razão de seu
estímulo a contratilidade da musculatura uterina. Atualmente,
existem disponíveis protocolos de utilização do medicamento
na indução de partos, sobretudo com administração de
preparações para uso intravaginal.
Hipergastrinemia:
distúrbio endócrino caracterizado por níveis aumentados do
hormônio gastrina, fazendo com que o estômago produza
ácido gástrico em excesso.
FÁRMACOS PROTETORES DE MUCOSAS
Visto que a produção de acidez, em determinadas ocasiões,
é prejudicial às mucosas gástricas e esofagianas, alguns
fármacos podem ser utilizados para aumentar os
mecanismos fisiológicos de proteção da mucosa ou agir
como barreira física sobre a superfície lesionada pelo Misoprostol
excesso de acidez. Sucralfato
A mucosa gástrica sintetiza as prostaglandinas E2 (PGE2) e a Em lesões causadas pela acidez, algumas proteínas da
prostaciclina (PGI2) que atuam nos receptores EP3 das mucosa gástrica são hidrolisadas por estímulo da pepsina,
células parietais, reduzindo a concentração de cAMP ocasionando erosão e ulcerações dessa mucosa. O sucralfato,
intracelular, que levaria ao aumento da secreção ácida, outro fármaco de enorme importância clínica, é capaz de
realizando, dessa forma, um efeito protetor frente à acidez. atuar como protetor gástrico neste aspecto. Seu efeito
Objeto com interação. gastroprotetor é extenso e envolve, em primeiro plano, a
formação de um polímero complexo com o muco
produzido pelas células em um ambiente ácido, o que
dificulta a sua degradação e impede a dispersão dos íons
H+ nesse novo fluido. Em segundo plano, estimula a
produção de muco, bicarbonato e prostaglandinas
estomacais, além de inibir a ação da pepsina.
Estrutura molecular da prostaglandinas E2 (PGE2) Para ser utilizado, é preciso que o paciente o faça uma hora
antes da alimentação, a fim de que o ambiente ácido seja
propício para sua interação e polimerização, como o muco.
Quanto aos efeitos adversos, o perfil de segurança do
fármaco é favorável, representando apenas risco de
constipação intestinal e diminuição da absorção de outros
fármacos, o que pode ser atenuado com a ingestão do
sucralfato cerca de duas horas após a administração dessa
medicação.
Estrutura molecular da prostaciclina (PGI2)
Atenção
Fármacos como os anti-inflamatórios não esteroidais (AINEs)
diminuem a síntese de prostaglandinas pela inibição das
enzimas ciclo-oxigenases, trazendo como efeito adverso o
aumento da acidez estomacal, que pode levar ao
desenvolvimento de quadros ulcerosos.
Misoprostol
O fármaco misoprostol é um análogo sintético da
prostaglandina E1, que, quando administrado por via oral, é
Além de sua utilização frente à desregulação da secreção Preparações como a hidrotalcita, contêm misturas de sais de
ácida estomacal, esse fármaco também é utilizado por alumínio e magnésio, e tendem a manter capacidade de
pacientes com síndromes de esofagite ou gastrite biliar, por neutralização mais prolongada e efetiva, além de atenuar a
também se conjugar a ácidos biliares. possiblidade de efeitos adversos individuais, uma vez que a
FÁRMACOS ANTIÁCIDOS utilização medicamentosa de alumínio tende a propiciar
Você deve conhecer uma gama de produtos constipação e o uso de magnésio pode causar diarreia.
comercializados como antiácidos, o que sugere,
anteriormente ao estudo da farmacologia, que o controle da
acidez estomacal é fundamental para combate ao
desconforto gástrico.
Hidróxido de magnésio
Reage com a acidez estomacal, formando cloreto de
magnésio no estômago.