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____________________NOTA DE CÁLCULO DO MURO DE SUPORTE DE GRAVIDADE EN101-3

MURO DE GRAVIDADE EM ALVENARIA DE GRANITO

1. Introdução

Adotamos um muro de gravidade de alvenaria de pedra à vista com junta argamassada, para
melhor integração paisagística e também por se tratar de uma estrutura rígida corrente,
constituída por elementos rigidamente interligados e assim absorver as solicitações com
apreciáveis componentes horizontais de um talude consolidado e com altura máxima de 3,5m.
Esta estrutura monolítica foi concebida para funcionar por simples ação do peso próprio,
garantindo desta forma o efeito estabilizador necessário na base do talude.

O muro de gravidade será executado numa zona de aterro (junto à EN101-3, na freguesia de Sto.
Adrião – Vizela) de contenção de um talude estável, embora obrigue à execução de uma escavação
prévia para execução da fundação do muro, havendo um posterior aterro no tardoz do muro
compactado e com características granulares. Com efeito esta medida é altamente favorável, já
que os solos com estas características, por terem o comportamento praticamente independente
do teor em água, garantindo assim, a constância do impulso, logo do comportamento da própria
obra.

Este muro de suporte, constituído por alvenaria de pedra de granito com junta argamassada, como
se referiu anteriormente, exigem um bom terreno de fundação dado ser ele próprio muito rígido e
como tal, não suportarem grandes deformações da fundação. Não se realizaram ensaios
geológicos/geotécnicos ao terreno de fundação, mas numa análise “in loco” e “à vista” no local,
verifica-se que o terreno de fundação aparenta ser constituído por um estrato com características
adequadas, uma vez que existe um muro de espera na base do talude, estável e sem deformações,
há muito tempo executado.

Pretende-se agora executar um muro de suporte de gravidade em alvenaria de pedra à vista que
dê apoio a um passeio e que suporte os impulsos ativos do talude. Adotamos um muro em degraus
para o seu tardoz, sem impulsos hidrostáticos uma vez que a camada superficial é impermeável,
constituída por passeio e arruamento com drenagem superficial das águas pluviais.

Os muros de alvenaria de pedra argamassada são, naturalmente pela sua facilidade e baixa
tecnologia de construção, os mais fáceis de executar e esteticamente mais belos, integrando-se
melhor nesta zona rústica e histórica (junto ao pelourinho e à igreja da Freguesia).

As técnicas usadas para a construção deste muro de suporte em alvenaria de pedra, seguem em
quase tudo as técnicas de construção de paredes divisórias com os mesmos materiais. Para a

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obtenção de um travamento adequado entre pedras, as juntas verticais devem ficar


desencontradas. O desencontro das juntas deve estender-se não apenas em relação aos
paramentos vistos, mas também na estrutura interna da alvenaria.
Além disso deve haver o cuidado de procurar, sempre que possível, constituir planos horizontais
nos sobreleitos de cada pedra, para que seja possível assentar as pedras subjacentes em boas
condições de estabilidade e de transmissão de cargas, procurando-se assim também reduzir a
espessura das juntas.
Para a execução do muro de pedra argamassada, o intervalo entre duas pedras contíguas
preenchido com argamassa deve constituir uma junta contínua cuja espessura deve ser o mais
constante possível. Todos os espaços que provoquem descontinuidade numa fiada devem ser
regularizados com pequenos fragmentos de pedra (escassilhos).
As pedras devem ser molhadas antes de serem assentes, a fim de não absorverem água da
argamassa. A argamassa deve ser realizada com ligante hidráulico escolhido, tendo em conta a
agressividade tanto do solo como da atmosfera.
O muro de alvenaria de pedra, não é utilizado para manter o nível de água a montante e, por isso,
devem ser adequadamente equipados com os dispositivos de drenagem adequados. Executados
por barbacãs de atravessamento um pouco acima do nível das fundações, e de metro em metro
em altura e espaçamento na horizontal entre 1,5m e 2,0m garantindo a total evacuação dos
caudais aí afluentes. Neste muro de alvenaria, constituído em degraus do lado das terras, é
aconselhável colocar as barbacãs (tubos de 5cm de diâmetro) justamente em cima dos degraus.

2. Dimensionamento do muro de gravidade em alvenaria de pedra

2.1. Pré-dimensionamento e dados de cálculo

Para o pré-dimensionamento do muro de gravidade de alvenaria de pedra em degraus, adotaram-


se as regras empíricas da especialidade, ou seja, paramento à vista vertical, coroamento com 1m
de largura, degraus com 0,5m de base e sapata com 0,5m para cada lado da parede do muro.

A verificação é efetuada, por metro corrido de muro, ao derrube do muro, ao deslizamento e a


verificação da tensão no solo sob a base do muro.

Caso não se verifique qualquer uma das condições referidas anteriormente deve-se aumentar
sucessivamente as dimensões do muro.
As dimensões e condições iniciais do muro são as representadas na figura seguinte:

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Os dados de cálculo são os seguintes:

. Peso específico do solo: ɣ = 18 KN/m³


. Peso específico da pedra de granito: ɣ = 26 KN/m³
. Ângulo de atrito interno: = 35º
. Coeficiente de atrito entre a base do muro e o solo: µ=0,4
. Tensão admissível do solo: σadm= 150 KN/m²
. Sobrecarga no passeio: q=5KN/m²

2.2. Determinação das forças atuantes

Para o muro de gravidade em questão, podemos dizer que as forças atuantes sobre o mesmo são:

. Impulsos do solo ativo;


. Impulsos do solo passivo;
. Impulso provocado pela sobrecarga no passeio;
. Peso próprio do muro;
. Peso do solo sobre o muro na zona em degrau;
. Força de atrito na base do muro.

Separamos o peso próprio do muro, bem como o peso do solo sobre o mesmo, em várias parcelas
para facilitar o seu cálculo e os seus pontos de aplicação.

Na figura seguinte temos esquematicamente as forças atuantes no muro de gravidade:

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Para o cálculo do peso próprio, tanto do solo como do muro, basta calcular o volume do material
e multiplicar pelo seu peso específico.
Vamos calcular todas as ações atuantes sobre o muro, para cada metro de largura do mesmo, ou
seja, vamos considerar a largura de um metro de muro no cálculo.

2.3. Determinação dos impulsos

Vamos calcular os impulsos ativo e passivo atuantes sobre o muro de gravidade. Iniciamos com
o cálculo dos coeficientes de impulso (ativo e passivo) para estas situações, tanto de muro como
de talude e segundo a teoria de Rankine (terrapleno horizontal, muro de paramento vertical e
desprezando-se também o atrito interno entre o terreno e o muro) temos:

1−𝑠𝑒𝑛 𝜙 1
𝐾𝑎 = 1+𝑠𝑒𝑛 𝜙
; 𝐾𝑝 = 𝐾𝑎

1−𝑠𝑒𝑛 35º
𝐾𝑎 = 1+𝑠𝑒𝑛 35º = 0,271

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𝐾𝑝 = 0,271 = 3,69 (em que Kp é o coeficiente de impulso passivo)

Cálculo das tensões horizontais e por consequência, os impulsos atuantes no mesmo:


As tensões horizontais ativas na base do muro são:

Do solo (ativo):
σha= Ka . ɣ . H
σha= 0,271 x 18 x 4 = 19,312 KN/m²

Da sobrecarga:
σhq= Ka . q
σhq= 0,271 x 5 = 1,355 KN/m²

A tensão horizontal passiva, na base do muro é:


σhp= Kp . ɣ . H1
σha= 3,69 x 18 x 0,5 = 33,21 KN/m²

Por fim, determinamos os impulsos ativos e passivo e os seus pontos de aplicação no muro, que
são o centroide dos respetivos prismas de tensões:

𝜎ℎ𝑎 .𝐻 19,312 𝑥 4
𝐼𝑎1 = = = 38,624KN/m
2 2

𝐼𝑎2 = 𝜎ℎ𝑞 . 𝐻 = 1,355 𝑥 4 = 5,42 𝐾𝑁/𝑚

Os pontos de aplicação são:


𝐻 4
𝑌𝑎1 = = = 1,333𝑚
3 3

𝐻 4
𝑌𝑎2 = = = 2,00𝑚
2 2

Impulso passivo:

𝜎ℎ𝑝 .𝐻 33,21𝑥 0,5


𝐼𝑝 = 2
= 2
= 8,30KN/m

𝐻1 0,5
𝑌𝑝 = = = 0,167𝑚
3 3

As cotas de aplicação das cargas são calculadas em relação ao ponto A (ver figura abaixo) que é
o ponto de derrube da estrutura.

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2.4. Cálculo dos pesos próprios


Para o cálculo dos pesos próprios do muro e do solo acima do muro, como mostrado na figura
acima, separamos em várias parcelas. Vamos calcular cada uma, com o seu respetivo ponto de
aplicação em relação ao ponto A e por fim, determinar o peso total e o seu ponto de aplicação.

Gi = ɣi * bi * Hi

G1=26 x 0,5 x 0,5 = 6,5 KN/m ; XG1 = 0,25m


G2=26 x 1,0 x 4,0 = 104,0 KN/m ; XG2 = 1,0m
G3=26 x 0,5 x 2,25 = 29,25 KN/m ; XG3 = 1,75m
G4=26 x 0,5 x 0,5 = 6,5 KN/m ; XG1 = 2,25m

∑𝐺𝑖 .𝑋𝑖 171,44


GT=∑Gi = 146,25 KN/m ; 𝑥𝐺𝑇 = 𝐺𝑇
= 146,25 = 1,172m

Para o cálculo do peso do solo acima do muro, utilizamos o mesmo raciocínio do peso do muro:

W1=18 x 0,5 x 1,75 = 15,75 KN/m ; XW1 = 1,75m


W2=18 x 0,5 x 3,50 = 26,25 KN/m ; XW2 = 2,25m

∑𝑊𝑖 .𝑋𝑖 86,625


WT=∑Wi = 42,00 KN/m ; 𝑥𝑊𝑇 = 𝑊𝑇
= 42,0
= 2,063m

2.5. Verificação ao derrube

Para a verificação ao derrube do muro, calcula-se o momento derrubador em relação ao ponto A


(Md), de todas as forças derrubadoras e o momento estabilizador em relação ao ponto A (Me), de
todas as forças estabilizadoras.

Tem que se verificar a seguinte condição:

𝑀𝑒
FS = ≥ 1,5
𝑀𝑑

Apresentamos a seguir o esquema de todas as forças e seus pontos de aplicação (já calculados),
para verificação da estabilidade ao derrube:

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Momento derrubador, em relação ao ponto A:

Md = 38,624 x 1,33 + 5,42 x 2,0 = 62,326 KN.m/m

Momento estabilizador, em relação ao ponto A:

Me = 8,3 x 0,167 + 146,25 x 1,172 + 42,0 x 2,063 = 259,44 KN.m/m

𝑀𝑒 259,44
FS = 𝑀𝑑 = 62,326
= 4,16 ≥ 1.5 OK!

2.6. Verificação ao deslizamento

Para a verificação ao deslizamento na base do muro, calculam-se as forças resistentes (FR) e as


forças deslizantes (FR).

Tem que se verificar a seguinte condição:

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𝐹𝑅
FS = ≥ 1,5
𝐹𝐷

Apresentamos a seguir o esquema de todas as forças, para verificação da estabilidade ao


deslizamento:

Em que:
FR = Ip + Fat ; Fat = N x µ ; N= GT + WT
FD = Ia1 + Ia2

Logo, N = 146,23 + 42,0 = 188,23 KN ; Fat = 188,23 x 0,4 = 75,292 KN


FR = 8,3 + 75,292 = 83,592 KN
FD = 38,624 + 5,42= 44,044 KN

83,592
𝐹𝑆 = 44,044
= 1,9 ≥ 1,5 OK!

2.7. Verificação da capacidade de carga da base de fundação

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Para a verificação da capacidade de carga da base do muro de gravidade, devemos analisar os


momentos e as forças de compressão que atuam na base do muro de gravidade, sempre em
relação ao centro de gravidade dessa base.

Vamos considerar o ponto C na figura abaixo, como o centro da base, ou seja, encontra-se a 1,25m
do ponto A (extremidade esquerda da sapata), já demarcado anteriormente.

Os momentos em relação ao ponto C, são os seguintes:


MGT = +146,23 x 0,078 = + 11,408 KNm
MWT = - 42 x 0,813 = - 34,146 KNm
MIa1 = + 38,624 x 1,333 = + 51,486 KNm
Mia2 = + 5,42 x 2,00 = 10,84 KNm
MIp = - 8,3 x 0,167 = - 1,386 KNm
O momento resultante no centro da base é: MT = ∑Mi = 38,202 KNm

A carga N concentrada no centro da base é: N = ∑Fi = 146,23+42,0 = 188,23 KN


A tensão máxima na extremidade esquerda (ponto A) é dada pela expressão
N 6 ∗ 𝑀𝑇
𝜎𝑚𝑎𝑥 = +
𝐴 𝑏²

188,23 6∗38,202
σmax = 2,5∗1
+ 2,5² = 75,29 + 36,67 = 111,96𝐾𝑁/𝑚²≤150KN/m² OK!

N 6 ∗ 𝑀𝑇
𝜎𝑚𝑖𝑛 = −
𝐴 𝑏²
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𝜎𝑚𝑖𝑛=75,29-36,67 = 38,62KN/m²

Podemos concluir então que a tensão máxima é menor que a tensão admissível do solo, 𝜎𝑎𝑑𝑚 =
150𝐾𝑛/𝑚² (atribuída no início do cálculo), ou seja, podemos garantir também a estabilidade do
muro à capacidade de carga do solo na zona da base.

Além disso, visto que não ocorreram tensões negativas ao longo da base, podemos garantir que o
solo está sofrendo compressão em toda a fundação do muro, o que é o indicado para este tipo de
estruturas.

2.8. Conclusão
Como se verificam todas as condições de segurança (ao derrube, ao deslizamento e a capacidade
de carga na base da fundação) podemos concluir que as dimensões do muro de suporte gravítico
de alvenaria de pedra estão bem atribuídas, garantindo assim a sua estabilidade interna e externa,
se forem cumpridas as regras de construção e os dados atribuídos inicialmente.

O Técnico,

Eng.º Luís Eiras

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