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OUTROS MÉTODOS DE
EXAME POR IMAGEM

Sérgio Lúcio Pereira de Castro Lopes


Luís Antônio Nogueira dos Santos
Viviane Almeida Sarmento
Paulo Sérgio Flores Campos

Ressonância Magnética
Os exames por imagem de ressonância
magnética (IRM ou RM) constituem uma
modalidade relativamente nova, conside-
rando-se as demais técnicas existentes,
como radiografias, ultrassonografia (US)
ou mesmo a tomografia computadorizada
(TC). As primeiras imagens de organismos
vivos - cérebro de roedor - obtidas por
RM datam do início da década de 1980,
sendo que o primeiro aparelho de RM da
América Latina foi instalado no Hospital
Israelita Albert Einstein, na cidade de São
Paulo, em 1986. Desde os anos 1990 o
uso da RM cresceu de forma progressiva
no mundo, constituindo hoje, por suas pe-
culiaridades, uma forma essencial de exa-
me complementar para o diagnóstico e
planejamento de intervenções, bem como
para pesquisas, principalmente no campo
da neurofisiologia e cardiologia.
12 Outros Métodos de Exame por Imagem

Pesquisas conjuntas, realizadas na década de 1970 por gens claras (hiperdensas ou hiperatenuantes), escuras (hi-
dois cientistas - Peter Mansfield e Paul Lauterbur - e suas podensas ou hipoatenuantes) e uma extensa gama de tons
equipes, culminaram com os chamados sistemas de ima- intermediários de cinza. Entretanto, diferente dos exames
gem por ressonância magnética nuclear. O termo nuclear radiográficos, planos, possibilita a apresentação multiplanar
refere-se à origem do sinal capaz de produzir estas imagens das imagens da estrutura examinada, em cortes ou secções
- os prótons -, que se encontram no núcleo dos átomos. axiais, sagitais e coronais, sem sobreposições, portanto
Com o tempo, este termo tem sido paulatinamente omitido, (tomo = secção, grafia = registro). Observando-se a imagem
evitando uma interpretação errônea de que este método es- por RM, nota-se que a definição de tecidos moles - múscu-
taria ligado à produção de energias nucleares, atômicas e, los, gordura e massa encefálica - é ímpar e que, além disso,
portanto, perigosas, o que não ocorre com os sistemas de pode-se também, como na TC, obter imagens seccionais, o
produção de imagens por ressonância magnética. Assim, que caracteriza a RM como um método tomográfico.
normalmente, se usa imagem por ressonância magnética. Comparando-se as três imagens, vê-se que na radio-
Dentro das diversas modalidades de exame por imagens grafia não se tem qualquer definição do conteúdo orbitário; [A] [B] [C]
aplicadas ao diagnóstico bucomaxilofacial, a RM se cons- na TC já se percebe e distingue os componentes do cone 01. [A-C] Comparação entre 3 modalidades de exame por imagem: Radiografia posteroanterior de crânio [A]; Corte coronal de TC [B]; Corte coronal de RM [C]. Observe o conteúdo
titui em um método especial, seja pelo princípio de aquisi- orbitário; e a RM proporciona a perfeita distinção dos cons- orbitário (seta 1) nas 3 imagens e também o conteúdo da cavidade bucal (seta 2).

ção das imagens, que é totalmente distinto dos métodos tituintes do cone orbitário, como globo ocular, músculos
que empregam raios X, seja pela qualidade e definição, que oculares e tecido adiposo.
nenhum outro tipo de exame é capaz de proporcionar, dos Observando-se agora a Figura 2, que também compara
tecidos moles do organismo, como músculo, tecido gordu- os mesmos tipos de imagem (radiografia, TC e RM), ape-
roso, tecido medular, meniscos articulares e tecido cerebral. nas para a articulação temporomandibular (ATM) é pos-
Talvez o que mais dificulte a compreensão de quem se sível identificar, progressivamente, mais os componentes
inicia no estudo de imagens por RM é a ideia, já sedimen- articulares, ósseos (tubérculo articular, fossa mandibular e
tada, de que imagens são geradas apenas pela atenuação cabeça da mandíbula) e de tecido mole (disco articular e
do feixe de raios X envolvido em sua formação, ou seja, músculos mastigatórios).
os diferentes tons de cinza são dados pela capacidade de Na radiografia transcraniana, uma imagem plana, com
penetração da radiação e pela sensibilização dos recep- sobreposição de estruturas e obtida com angulações verti-
tores de imagem (filmes ou sensores). Em RM o princípio cal e horizontal, não se tem, por exemplo, a correta relação
é totalmente diferente, o que leva à necessidade de uma espacial dos componentes ósseos articulares. No corte de
explicação minuciosa e progressiva do sistema de funcio- TC, não há sobreposição de estruturas, a relação espacial
namento de RM. entre os componentes ósseos articulares é fidedigna, é
A Figura 1 traz uma comparação entre as imagens de possível visualizar com incomparável qualidade os compo-
uma radiografia frontal (posteroanterior), de uma tomografia nentes ósseos, de medial a lateral, em cortes sequenciais,
computadorizada (TC) e de uma RM do crânio. A radiogra- os músculos mastigatórios são perfeitamente visualizados,
fia é um método que registra fundamentalmente os tecidos mas não se tem a imagem do disco articular. O corte de
que mais absorvem raios X (imagens radiopacas), enquan- RM, além do já visualizado na imagem de TC, possibilita
to aqueles tecidos mais permeáveis à passagem do feixe a visualização dos músculos e do disco articular fibroso.
de radiação correspondem às imagens radiolúcidas. Além Curiosamente, as corticais ósseas, que têm aspecto cla-
disso a radiografia não oferece noção de profundidade e ro tanto na radiografia quanto na TC, na RM apresentam
tridimensionalidade, uma vez que todas as estruturas são aspecto escuro. A imagem da medular da cabeça da man-
sobrepostas umas às outras e mostradas no mesmo plano díbula - gordura medular - apresenta aspecto claro, não
no receptor de imagem. A TC, também baseada na ener- observado nos outros métodos. Detalhes como estes, que
[A] [B] [C]
gia dos raios X, é capaz de registrar os diferentes graus de são uma característica inerente ao método de aquisição de
02. [A-C] Imagens da ATM: Radiografia transcraniana [A]; Corte parassagital de TC [B]; Corte parassagital de RM [C]. Na fileira inferior, mostram-se delineados os componentes da
atenuação da radiação pelos tecidos, proporcionando ima- imagem por RM, serão discutidos posteriormente. ATM: tubérculo articular (vermelho), fossa mandibular (amarelo), cabeça da mandíbula (azul), disco articular (laranja) e músculo pterigoideo lateral (verde).

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12 Outros Métodos de Exame por Imagem

Aquisição de imagens Princípios físicos da RM de cada próton existe um diminuto campo magnético, in-
Bobina RF ferindo-se assim que cada próton do organismo pode ser
De forma geral e sucinta, a aquisição de uma sequência de Diferentemente das outras técnicas de imagem, a RM não
comparado a um pequeno ímã, denominado dipolo, uma
imagens por RM obedece à seguinte ordem: utiliza qualquer tipo de radiação ionizante, sendo por isso
vez que dois polos são formados - sul e norte magnéti-
1. O paciente é deitado na mesa de exame e, envolvendo a isenta de efeitos deletérios para os organismos vivos, cons-
cos. Este dipolo é representado, graficamente, como um
região a ser examinada, a bobina de radiofrequência (RF) tituindo-se assim em um exame não invasivo. As imagens
Mesa de exame pequeno vetor (seta) (Fig. 5).
é posicionada (Fig. 3A); por RM são geradas quando os prótons dos núcleos atô-
Cada vetor dipolo - correspondente a um próton - dos
2. O conjunto - mesa/paciente/bobina de RF - desliza para o micos dos tecidos da região a ser examinada absorvem a
[A] tecidos humanos tem orientação aleatória, de maneira que
interior do pórtico - magneto principal -, que gera um po- energia eletromagnética de baixa intensidade (RF) emitida
os vetores individuais se anulam, resultando em um cam-
tente campo magnético (B). O conjunto fica estacionado no pela bobina de RF e sofrem diferentes alterações em seu
po magnético total nulo, considerando o organismo como
interior do pórtico durante todo o exame (Fig. 3B); estado de equilíbrio. Ao ser interrompida a emissão do si-
um todo. Este vetor resultante nulo, bem como a desorga-
3. O operador determina o sentido dos cortes a adquirir. nal primário de RF, os prótons tendem a retornar a seu es-
nização global dos dipolos, impossibilita que os mesmos
Cada corte será obtido no momento do exame, não ha- tado original de equilíbrio, liberando a energia absorvida,
sofram interações de maneira efetiva com a energia das
vendo reconstruções posteriores; Campo magnético do aparelho também na forma de sinais de RF, que são captados pela
4. Com o paciente no interior do magneto, o operador dá o mesma bobina emissora do sinal primário. A bobina, posi- ondas de RF dos sistemas de RM, uma vez que não há

comando para que se inicie a emissão de sinais de RF, cionada próximo à região de interesse, capta e conduz o si- um sincronismo entre ambos. Sendo assim, qualquer cor-

denominada de sequência de pulsos, de acordo com o nal secundário de retorno (sinal de RM) para ser convertido po em seu estado original, com dipolos desorganizados,

objetivo do exame (Fig. 3C); em imagem, a qual espelha a intensidade de sinal de cada não é capaz de fornecer um sinal de RM efetivo e que seja

5. Os sinais de RF chegam até à região de interesse, a partir da próton de cada diferente tecido. Esta imagem, exibida na então convertido em imagens (Fig. 6). Em RM utilizam-se

bobina de RF, interagindo com os prótons dos tecidos;


[B]
tela do computador, apresenta então uma extensa gama de os prótons dos átomos de hidrogênio (H) para interação e

6. A interação da energia da RF com os tecidos, de forma tons de cinza para os tecidos duros e moles do paciente. obtenção de sinal, uma vez que o H existe em abundância
repetida e sequencial, leva a alteração do equilíbrio dos A Figura 4 mostra o espectro de ondas eletromagné- nos tecidos humanos (cada molécula de água [H2O], com-
prótons locais. Cada próton de cada tecido reagirá a esta ticas, mostrando a diferença do nível de energia entre os ponente maior do organismo humano, tem 2 átomos de
alteração de uma forma diferente; raios X - utilizados em exames radiográficos e de tomogra- H), além de possuir apenas 1 próton em seu núcleo, o que
7. À medida que o sistema cessa a emissão das ondas de RF, fia computadorizada - e as ondas de RF, que são um tipo determina um sinal mais homogêneo.
os prótons tendem a retornar a seu ponto inicial de equilíbrio, de radiação eletromagnética de mais baixo nível de energia Com o objetivo de organizar o sentido dos dipolos, para
devolvendo esta energia ao meio, também na forma de RF e, portanto, sem capacidade de ionizar os átomos consti- que possam interagir com o sinal de RF, os mesmos são
(que são os sinais de RM), que é captada pela bobina de tutivos dos tecidos vivos. submetidos a um potente campo magnético externo, o que
RF e levada ao sistema de computadores. Estes sinais serão Para entender como todo este processo acontece, é levará a uma deflexão do sentido dos spins de cada próton,
convertidos em tons de cinza, de acordo com sua intensi- necessário que relembremos a estrutura atômica. que passam então a descrever paulatinamente um movi-
dade, que está diretamente relacionada ao tipo de tecido e [C] Todo tecido é composto estruturalmente por átomos mento denominado de precessão (comparado ao movimen-
à maneira como o sinal de RF excitou os prótons, ou seja, a que, de maneira simplista, são formados por uma porção to de um peão). Ocorre assim uma alteração de orientação
sequência de pulsos estabelecida pelo sistema (Fig. 3D). central, o núcleo, onde se encontram basicamente 2 tipos do longo eixo dos dipolos nucleares, que agora apresentam,
8. Cada corte é exibido individual e sequencialmente na tela de partículas: prótons e nêutrons. Os primeiros possuem em sua grande maioria, o mesmo sentido da força do campo
do computador que controla todo o sistema. Mais uma carga positiva (+), enquanto os demais não possuem carga, magnético que lhes foi aplicado. Deste modo, a soma de
vez, vale lembrar que cada corte, em cada plano, com a apenas massa. Ao redor do núcleo atômico encontra-se cada dipolo, uma vez que possuem a mesma orientação, re-
espessura desejada, é adquirido em um tempo específico a eletrosfera, proporcionalmente bem maior que o núcleo, sulta em um campo longitudinal total, diferente de zero, que
(dado em milissegundos). onde se encontram diminutas partículas - elétrons - dota- acompanha o sentido do campo magnético externo (Fig. 7).
9. Se necessário, seguindo o protocolo para cada região das de carga negativa (-). O sinal de RF emitido na direção dos prótons transferirá
anatômica, uma nova sequência de cortes, nos planos Os prótons não se encontram em repouso nos núcle- energia a estes prótons apenas se os mesmos estiverem
desejados, é obtida repetindo-se o ciclo descrito. os atômicos, mas sim desenvolvendo um constante movi- organizados e em sincronia com a sua frequência do sinal
10. Ao final do exame, o paciente é dispensado, os cortes são [D] mento de rotação em torno de seu próprio eixo, denomi- emitido. Sendo assim, sua orientação é essencial para que
selecionados e impressos e, opcionalmente, o exame é 03. [A-D] Sequência de aquisição de imagens por RM: Paciente posicionado na nado spin nuclear. Segundo as leis da Física, toda carga os mesmos captem de maneira eficaz o sinal de RF, inte-
mesa, com bobina de RF para crânio [A]; Conjunto desliza para o interior do magne-
gravado em CD/DVD, em um software que permita visua- em movimento gera em torno de si um pequeno campo rajam (absorvam energia) e posteriormente dissipem esta
to principal [B]; Emissão do sinal de RF [C]; Tecidos emitem sinal de RM que gera as
lizar todas as imagens adquiridas. imagens seccionais exibidas no computador [D]. magnético. Desta forma, podemos entender que ao redor energia ao meio, gerando o sinal/imagem de RM (Fig. 8).

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0,1 a 0,001 nm RF Interação


Energia

Não interação
RF

06. Desorganização dos prótons (dipo-


RF los) nos tecidos em seu estado natural,
Não interação
impedindo que haja sincronismo entre os
Radiofreq RF Radar microondas Luz visível UV RX Rγ
mesmos e as ondas de RF. Isto não per-
mite uma interação efetiva para produção
ION. do sinal de RM.

04. Espectro eletromagnético: as diferentes radiações componentes variam de acordo com seus comprimentos de onda (λ) e
energia. Menor o comprimento de onda, maior sua energia e, portando, a maior chance de interações deletérias (como ionização)
com os átomos. Os raios X (RX) e raios gama (RΥ) constituem as chamadas radiações ionizantes. As Ondas de radiofrequência 07. Alteração no padrão do spin nuclear
(RF), tipo de energia utilizada em RM, possuem baixa energia. de um próton com a aplicação de um
campo magnético externo potente. Os
prótons passam de simples movimentos
de rotação (spin) para o chamado mo-
vimento de precessão, alterando a sua
Campo magnético
orientação e, portanto, o sentido da força
externo
do imã (dipolo) por eles formada. Os pró-
tons, desta forma, tornam-se orientados
no sentido da força do campo magnético
externo a eles aplicado. A soma de cada
Prótons (dipolos) dipolo formará um campo magnético re-
Spin nuclear Precessão em precessão sultante, paralelo ao sentido do campo
e alinhados magnético externo, denominado de cam-
po magnético longitudinal.

Spin nuclear Interação


RF

N Interação
RF
1 imã = dipolo
Campo
magnético
externo

S 08. Prótons sob ação de campo magnéti-


Interação
RF co externo, alinhados, em precessão, or-
1 próton
ganizados e em sincronia com o sinal de
RF a eles emitidos, o que possibilita uma
interação entre ambos, capaz de alterar o
05. Estrutura atômica e o próton desenvolvendo movimento de spin nuclear em torno do seu próprio eixo. Esta partícula, por possuir carga (+) e estar em movimento, pode ser consi- equilíbrio dos prótons e, portanto, efetivar
derada como um diminuto ímã denominado dipolo. a emissão futura de um sinal de RM.

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Sob a ação do campo magnético externo e, portanto, Enquanto houver emissão do sinal de RF, haverá manu- O sinal de RM emitido por um tecido dependerá basica- Componentes dos sistemas de RM
em precessão, a maioria dos prótons do tecido de interes- tenção desta posição ortogonal (ou transversal) dos pró- mente de 3 variáveis: número de prótons dos seus consti-
Um sistema de aquisição de imagens por RM é constituído
se estará orientada segundo a força deste campo exter- tons e, portanto, do campo magnético transversal (Bt). Ao tuintes, mobilidade dos prótons dentro do tecido e maneira
basicamente pelos seguintes componentes:
no, resultando em um campo magnético denominado de cessar a emissão das ondas de RF pelo sistema, o que cor- pela qual os prótons recebem a energia de RF, isto é, de
a. Magneto principal e mesa de exames;
campo magnético longitudinal (Bl), o qual corresponde à re de acordo com a programação da sequência de pulsos como o operador regula a emissão dos sinais para o te-
b. Bobinas de radiofrequência (de superfície ou de volume);
somatória de cada dipolo (Figs. 9A e B). selecionada pelo operador, os prótons tendem a retornar ao cido, as chamadas sequências de pulos dos sinais de RF.
c. Bobinas de gradiente;
Assim orientados, os dipolos ficam aptos a interagir como seu estado inicial (longitudinal), emitindo ao meio a energia O número de prótons e o meio em que se encontram são
d. Sistema de comandos e eletrônica.
sinal de RF emitido, absorvendo a energia do sinal. Esta ab- absorvida, também na forma de RF, que é o sinal de RM. inerentes aos diferentes tecidos e são responsáveis pela
O magneto principal, bobinas e seus componentes
sorção faz com que os dipolos alterem a sua orientação, Este sinal, captado pela bobina de RF, é convertido pela qualidade dos sinais de RM emitidos, proporcionando as
estão localizados na chamada sala de exames, um am-
indo da orientação paralela ao campo externo à orientação eletrônica em sinal digital, de intensidade proporcional ao nuances de tons de cinza da imagem. Assim, o sinal emiti-
biente construído de forma especial para abrigar a RM,
perpendicular a este campo. Consequentemente, o valor de sinal captado, e desta forma a imagem em tons de cinza de do por um tecido será tanto maior quanto maior o número
isolado de qualquer influência externa e com entrada
Bl tenderá a se reduzir progressivamente à medida que cada cada corte previamente programado é formada (Fig. 9D). de prótons neste tecido, mas também dependerá da faci-
controlada. Além da sala de exames, temos a sala de
dipolo assumir a nova orientação, ortogonal ao campo mag- Este é um processo repetitivo, de modo que com as lidade de movimentação dos prótons no tecido. Aos pró-
comando, onde ficam os sistemas de comando, compu-
nético externo. Com esta nova orientação, ocorrerá a for- sucessivas emissões e interrupções do sinal de RF pelo tons teciduais que emitirem um intenso sinal de RF, corres-
tadores e eletrônica.
mação de um campo magnético neste sentido, tendo como sistema de RM, os prótons oscilam entre as posições lon- ponderá uma imagem em tom claro (branco), denominado
origem a somatória dos dipolos. A este campo denomina-se gitudinal e transversal, e com isso há emissões intermiten- hipersinal; àqueles que emitirem sinal de pouca intensi-
Magneto principal
campo magnético transversal (Bt) (Fig. 9C). tes de sinais de RM. dade, corresponderá uma imagem em tom escuro (preto),
denominado hipossinal; e aos prótons que emitirem sinal O magneto principal é um dispositivo de grandes dimen-
de intensidade intermediária, corresponderá uma imagem sões, capaz de gerar um campo magnético extremamente
em tom intermediário (cinza), denominado sinal interme- potente, da ordem de 1,5 a 2 Tesla, por exemplo (para fins
diário. Quando se comparam tecidos e estes apresentam comparativos, o campo magnético da Terra é cerca de 5 x
sinal de aspecto semelhante, diz-se que os tecidos apre- 10-5 T). O Tesla (T) é a unidade de medida de força de campo
sentam isossinal (Fig. 10). magnético. Os equipamentos de até 3T são os disponíveis
para exames, enquanto aqueles de campo mais intenso, 5T
ou mais, estão restritos às pesquisas. Estes altos campos
são proporcionados por sistemas supercondutores, em que
fios de nióbio e titânio enrolados, formando bobinas (espi-
ras), são submetidos a temperaturas próximas ao zero abso-
luto (-273° K) por refrigeração a hélio líquido. Uma corrente
[A] [B]
elétrica percorre esta bobina, que por estar resfriada a bai-
xíssimas temperaturas, não oferece resistência à passagem
da corrente (agindo como um supercondutor), o que resulta
na formação de um campo magnético muito potente.
O magneto principal de um sistema de RM fechado está
acondicionado em uma estrutura cilíndrica (de 1 a 3 m de
diâmetro), com abertura circular central formando um tú-
nel, denominada gantry ou pórtico. Associada ao pórtico
está a mesa de exames, na qual o paciente é acomodado.
Mesa e paciente deslizam através do túnel do pórtico para
o centro do campo magnético, aí permanecendo durante o
tempo de exame (Fig. 11).
10. Corte sagital de crânio por RM. Exemplos de estruturas com: hipersinal (seta 1), corres-
[C] [D]
pondente à gordura subcutânea; hipossinal (seta 2), correspondente aos seios esfenoidais; Devido à necessidade do paciente permanecer dentro do
09. [A-D] Esquema da interação dos prótons (dipolos) com sinal de RF e emissão do sinal de RM no interior de um magneto. Orientação dos dipolos em precessão sob ação do campo mag- sinal intermediário (seta 3), correspondente ao tecido muscular da língua. Observe a riqueza
magneto durante todo o tempo de exame, que normalmente
nético externo, formação do Bl [A]. Emissão do sinal de RF na sequência de pulsos do sistema e captação por cada próton [B]. Absorção da energia de RF e mudança na orientação dos dipo- de detalhes anatômicos dos tecidos cerebrais (a), palato mole (b), medula espinhal (c) e
los para o plano transversal, originando o Bt [C]. Interrupção do sinal de RF, retorno dos dipolos ao plano longitudinal, redução de Bt e aumento de Bl, sinal RM captado pela bobina de RF [D]. mucosas dos cornetos nasais (d). é longo, a claustrofobia é uma condição limitante para a rea-

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12 Outros Métodos de Exame por Imagem

lização de exame por RM. Com o objetivo de melhorar a sen- Além destes, há alguns sistemas desenvolvidos para extre- Bobinas de radiofrequência paciente, os cortes de RM devem ser planejados e obtidos
sação de confinamento do paciente, como alternativa foram midades articulares, como joelho, tornozelos, punho, mão e no momento do exame, com o paciente no interior do mag-
As bobinas de radiofrequência (RF coils), também chama-
desenvolvidos sistemas de RM de campo aberto, cujo mag- cotovelos, em que o magneto é uma estrutura reduzida, em neto. Portanto, um corte em determinado plano não pode
das de “antenas”, são dispositivos específicos que devem
neto principal não possui a configuração de túnel, estando que o paciente, sentado confortavelmente, introduz a região reformatado em outros planos diferentes. Esta característi-
ser justapostas ou envolver a região de interesse. São res-
os polos do ímã localizados sobre e sob a mesa de exame. (perna ou braço) a ser examinada no magneto (Fig. 12). ca faz com que os exames de RM sejam sistematicamente
ponsáveis por transmitir o sinal de RF à região a examinar,
mais demorados. Quanto mais planos, quanto mais cortes
excitando os prótons das estruturas-alvo. Selecionadas de
o protocolo de aquisição envolver, mais tempo o paciente
acordo com o tipo de exame, têm a sua eletrônica ligada ao
deverá permanecer dentro do magneto, e, portanto, maior o
circuito do sistema de RM.
desconforto gerado, que pode ou não ser contornado.
As bobinas de RF podem ser de superfície, como a usa-
Os cortes em diferentes planos são gerados graças a
da para exame de ATM, ou de volume, que envolve a estru-
dispositivos que se encontram no interior da estrutura do
turas de interesse, como as usadas para exame de crânio,
magneto principal e que são denominados bobinas de
joelho e ombro (Fig. 13).
gradientes. Estas bobinas fazem parte do sistema e são
O uso da bobina de RF específica para cada região de
discriminadas como bobinas X, Y e Z, discriminação esta
[A] [B] [C] exame é fundamental para a obtenção de imagens de RM de
relacionada aos planos sagital, coronal e axial, respectiva-
11. [A-C] Magneto principal de um sistema de RM fechado, localizado na sala de exames. Observe a profundidade do túnel e a abertura central, através da qual a mesa deslizante, alta qualidade, pois o sinal, emitido e capturado, correspon-
mente. Dependendo do plano desejado, cada bobina de
contendo paciente, é introduzida e estacionada para se dar início à aquisição das sequências de cortes programados de RM.
derá à interação apenas com os prótons da região. Um exem-
gradiente é ativada, o que gera variação no campo magné-
plo é o uso das bobinas de RF específicas para ATM (Fig. 14). tico principal, de forma a se adquirir as imagens dos cortes
no plano programado (Fig. 15).
Bobinas de gradiente
Esta variação dos gradientes de campo gera ruídos for-
Diferente da TC, em que o volume total é adquirido e, poste- tes, similares a batidas repetidas, o que justifica a neces-
riormente, as imagens seccionais são reformatadas em qual- sidade de uso de protetores auriculares pelos pacientes,
quer plano que se deseje, sem necessidade da presença do durante o exame.

[A] [B]

[C] [D]

12. [A-D] Sistemas de RM de campo aberto [A,B]. Sistemas de RM para extremidaes [C,D].

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12 Outros Métodos de Exame por Imagem

X X

[A] [B] [C]

Y
Y

[D] [E] [F]

Z Z

[A]

13. [A-H] Diferentes bobinas de RF: Mama [A]; Tornozelo/


pés [B]; Torso [C]; Cardíaca [D]; Ombro [E]; punho [F]; ATM
[G] [H] [G]; Crânio [H].

[B] [C] [D]

15. [A-D] Esquema mostrando o funcionamento das bobinas de gradiente: bobinas eixo X (para cortes sagitais), bobinas eixo Y (para cortes coronais) e bobinas eixo Z (para cortes
axiais). Abaixo, imagens nos planos sagital, coronal e axial.

Sistema de comandos e eletrônica néticas, que podem interferir nos sinais de RF da RM. Este
isolamento, ou blindagem, é realizado durante a construção
Toda a programação (protocolo), que inclui número, espes-
do ambiente, previamente à instalação do aparelho. Um sis-
sura e localização dos cortes, parâmetros de aquisição, se-
quência de pulsos, etc., é realizada no computador ou esta- tema denominado Gaiola de Faraday é capaz de manter as

ção de trabalho (workstation) do sistema, localizado na sala energias externas fora do ambiente da sala de exames. Entre
de comandos, separada fisicamente da sala de exames. a sala de comando e a de exames há um visor de vidro com
A sala de exames, onde estão localizados o magneto, tela metálica, cuja trama consegue barrar quaisquer ondas
[A] [B]
mesa e bobinas, deve ser isolada de quaisquer influências externas capazes de influenciar no sinal de RF do sistema e,
14. [A,B] Bobina de RF de superfície, específica para exame de RM de ATM, posicionada corretamente em um paciente, previamente à sua introdução no gantry ou pórtico (magneto)
para a aquisição das imagens. externas, como ondas de rádio e outras energias eletromag- desta forma, comprometer as imagens (Fig. 16).

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12 Outros Métodos de Exame por Imagem

Devido ao potente campo do magneto, é importante não não poderão, de maneira alguma, ser submetidos ao exame Contraste de imagens mos, diferenciam-se apenas pela maneira como foi emiti-
se adentrar a sala de exames com objetos magnetizáveis de RM devido ao efeito de atração/deslocamento destes e/ do o sinal de RF, ou seja, houve variação do parâmetro de
Um diferencial das imagens por RM é a capacidade de pro-
como cintos, canetas, etc., que podem ser atraídos, ou com ou alteração do funcionamento dos sistemas, o que poderia aquisição das imagens. Na primeira imagem (A), algumas
porcionar tons de cinza diferentes para uma mesma estru-
telefone celular, relógio, cartões magnéticos, que podem ter levar o paciente, no caso do marca-passo, a óbito. Na porta estruturas, como globo ocular (a) e (c) líquido cefalorraqui-
tura, traduzindo assim a composição química da mesma. O
seu funcionamento prejudicado. Os pacientes portadores da sala de exames há, obrigatoriamente, um aviso de restri- diano (LCR), apresentam-se em hipossinal (escuro), en-
operador do sistema pode programá-lo para que emita os
de marca-passo cardíaco e implantes cocleares (metálicos) ções de acesso ao ambiente (Fig. 17). quanto na segunda (B), as mesmas estruturas apresentam-
sinais de RF em determinada cadência de repetição - o que
se denomina sequência de pulsos - e, em um segundo -se em hipersinal (claro). Por outro lado, estruturas como
momento, alterar este padrão de repetição de sinais, mo- seio maxilar (b) e cortical óssea da mandíbula (seta) man-
dificando a forma de devolução do sinal de RM, o que leva têm o mesmo aspecto (hipossinal) em ambos os cortes,
à mudança de aspecto da imagem da estrutura examinada independente do parâmetro de aquisição.
(hipo/hipersinal). O tipo de sequência de pulsos determina- Para que se compreenda como ocorre a aquisição
rá o parâmetro de obtenção das IRM. de imagens com diferentes parâmetros de ponderação,
A Figura 18 mostra 2 cortes coronais (vista frontal) do é necessário que se entenda o que significa tempo de
crânio. Estes cortes, adquiridos em tempos muito próxi- relaxamento.

16. Sala de comando de um sistema de RM. É pos-


sível observar, através do visor, o conjunto magneto/
mesa na sala de exames.

[A] [B]

18. [A,B] Cortes coronais do crânio, obtidos com parâmetros distintos (A) e (B), evidenciando: (a) globo ocular, (b) seio maxilar direito, (c) lobo anterior do cérebro e (seta) cortical
óssea da mandíbula.

17. Porta de entrada da sala de exames com as devi-


das advertências.

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12 Outros Métodos de Exame por Imagem

Tempo de Relaxamento (hipersinal); ao contrário, os que apresentarem um longo Este comportamento é totalmente distinto daquele de uma para as cavidades aéreas. Depreende-se, portanto, que o
T1 serão responsáveis por uma imagem de baixo sinal (hi- imagem radiográfica ou de uma imagem tomográfica, am- sinal de RM não depende apenas da quantidade de pró-
Como explicado, o sinal de RF emitido pela bobina altera
possinal). Comparando, seria como uma corrida em que os bas obtidas com raios X. tons do tecido, mas também do meio em que estes pró-
a direção dos dipolos para, em sua grande maioria, uma
prótons mais velozes, capazes de atingir o objetivo (63% Este fato pode ser explicado, em parte, porque, apesar tons se encontram e da maneira como o sinal é emitido e
direção perpendicular à força campo magnético longitudi-
do valor de Bl) mais rapidamente, fossem responsáveis por de haver nos tecidos calcificados uma grande concentra- captado (sequência de pulsos).
nal (Bl), levando ao surgimento de um campo magnético
imagens de sinal mais alto (branco/ hipersinal), enquanto ção de H e, portanto, alta quantidade de prótons, a coesão É importante salientar que as imagens obtidas em T1
transversal (Bt). Quando há a interrupção do sinal de RF,
os mais lentos fossem responsáveis por um sinal menos entre estes átomos dificulta o relaxamento do movimento não podem ser transformadas em T2, e vice-versa, de-
a tendência natural é os dipolos retornarem à sua posição
intenso (negro/hipossinal). Em T2 o raciocínio é análogo. protônico, limitando o sinal de retorno e gerando imagens vendo ser adquiridas no momento do exame, com o pa-
original, levando então a um aumento progressivo no valor
Desta forma, para entendimento das imagens em RM, de- com hipossinal. No ar, como o número de prótons de H é ciente no interior do magneto. A Figura 22 mostra ima-
de Bl (recuperação) e à redução de Bt.
ve-se ter em mente o comportamento de determinados baixo, ainda que tenham facilidade em se movimentar e gens obtidas em T1 e T2, com o aspecto imaginológico
O tempo necessário para que Bl tenha a mesma magni-
tecidos em imagens obtidas em T1 e T2. Na Tabela 1 são relaxar, o sinal será baixo, o que determina um hipossinal de algumas estruturas.
tude de antes da emissão do sinal de RF é denominado de
apresentados os sinais de alguns dos tecidos mais comu-
tempo de relaxamento. O tempo de relaxamento é, portan-
to, o tempo decorrido desde a aplicação do sinal de RF até mente analisados em RM, considerando as imagens em T1

a retomada do valor inicial de Bl, após remoção do sinal, e e T2. É importante salientar que a obtenção de imagens em

é medido em milissegundos (ms) (Fig. 19). T1 e T2 normalmente faz parte do protocolo de exame utili-

O tempo de relaxamento T1 (tempo de relaxamento zado em Imaginologia. Desta forma, o solicitante do exame

spin-lattice) é, por definição física-operacional, o tempo de RM não deve se preocupar com os tipos de imagem

decorrido desde a aplicação do sinal de RF, que levará os que serão obtidas, devendo apenas solicitar o exame para

dipolos a 90°, até o retorno a 63% do valor do campo Bl a região a ser avaliada.

original (antes da aplicação do sinal RF). Este tempo está Observe que, obtendo-se cortes sequenciais da região
Bl RF Bl
relacionado ao tempo que os dipolos levam para devolver de estudo, ponderados em T1 e T2, é possível comparar
ao meio a energia que absorveram do sinal de RF de 90°, as imagens e desta forma estudar a composição das es-
voltando então ao seu estado de menor energia, paralelos truturas. Por exemplo, baseado na Tabela 1, uma lesão que
a Bl. O tempo para que o valor seja igual ao valor inicial é apresente um sinal intermediário escuro em T1 e hipersinal
denominado tempo de relaxamento total sendo, normal- em T2 pode ser uma lesão cística. Isso ocorre porque o
mente, 5 vezes o valor de T1, ou seja, T1 é em geral 1/5 do conteúdo cístico é líquido, e o líquido apresenta este com-
tempo de relaxamento total. As imagens obtidas com este portamento (Fig. 21). Pelo mesmo raciocínio, um tecido que [A] [B]

parâmetro são denominadas imagens ponderadas em T1. normalmente apresenta hipossinal em T2, mas que esteja,
O valor de T1 é específico para cada tecido, pois cada excepcionalmente, com hipersinal em determinada imagem,
átomo de hidrogênio, responsável pelos vetores dipolo, pode estar acometido por edema inflamatório (exsudato).
Bl
terá um comportamento dependente do ambiente macro- Por isto e com frequência, afirma-se que imagens pon-
molecular em que se encontra (Fig. 20A). deradas em T1 são para avaliação anatômica e que as ima-
T2 (tempo de relaxamento spin-spin) é o tempo de- gens ponderadas em T2 são para estudo de patologias.
corrido desde a aplicação do sinal de RF de 90° até a que- Devemos ter em mente, porém, que isso não é uma regra,
da de Bt para 37% do valor total após cessar a emissão do pois estruturas anatômicas também podem ser analisadas RF Bl
sinal (Fig. 20B). As imagens obtidas com este parâmetro em T2, assim como o diagnóstico de patologias pode ser
são denominadas imagens ponderadas em T2. definido em T1.
Os valores de T1 e T2 são bem definidos para cada tipo Ainda com relação à Figura 21, é interessante observar
de tecido, e serão os grandes responsáveis pelo contraste os aspectos similares do osso cortical, das estruturas den-
entre eles nas imagens por RM. Pensando desta forma, se tárias e das cavidades aéreas (hipossinal). Veja que, mes-
o operador determina a obtenção de imagens ponderadas mo sendo estruturas mineralizadas (alta densidade física), [C] [D]
em T1, aqueles tecidos que apresentarem menor tempo de as duas primeiras apresentam o mesmo tipo de imagem
19. [A-D] O tempo de relaxamento consiste no tempo (milissegundos) decorrido desde a emissão do sinal (formação de Bt) até a interrupção do sinal
T1 serão responsáveis por uma imagem de sinal intenso das estruturas preenchidas por ar (baixa densidade física). de RF e o retorno de Bl ao seu valor original

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12 Outros Métodos de Exame por Imagem

Bt Bt

100%

37% 22. [A,B] Cortes axiais do crânio, obtidos em T1 [A] e T2 [B].


Não há variação de sinal (hipossinal) para (a) seio maxilar
e (c) cortical óssea. Por outro lado, o LCR (b) apresenta hi-
63% 100% Bl [A] [B] possinal em T1 e hipersinal em T2.
Bl

[A] [B]

20. [A,B] O tempo (milissegundos - ms) necessário para que o valor de Bl atinja 63% do valor original, antes da aplicação do sinal de RF de 90°, é definido como T1 [A]. O tempo (ms)
para que o valor de Bt caia para 37% do valor total, que possuía durante a emissão do sinal de RF, é definido como T2 [B].
Sequência de pulsos de pulsos com valores de TR e TE considerados baixos (TR
< 800ms e TE < 80ms). Já as imagens ponderadas em T2
T1 T2 Como são obtidas as imagens ponderadas em T1 e T2?
Tecido são conseguidas com TR e TE altos (TR > 800ms e TE >
Sinal Aspecto Sinal Aspecto Estas dependem da chamada sequência de pulsos emi-
80ms).
tida pelo sistema de RM. A sequência de pulsos é a forma
Músculos Inter* claro Inter escuro Assim, quando se quer obter imagens ponderadas em
como o sinal de RF é aplicado aos tecidos para excitar os
Substância branca Inter escuro Inter claro T1, o sistema é acionado para emitir uma sequência de
prótons que, posteriormente, liberarão esta energia como
Substância cinzenta Inter escuro Inter claro pulsos com baixos valores de TR e TE; ao contrário, quan-
um sinal de retorno (denominado de echo), o qual gera a
Fluidos em geral Hipossinal Hipersinal
do se deseja imagens ponderadas em T2, TR e TE devem
imagem. Na prática, para que o sinal seja efetivamente for-
ser altos.
Gordura Hipersinal Inter escuro te e consiga formar imagens, deve-se repetir a aplicação
A Figura 24 mostra que os valores de TR e TE carac-
Osso Cortical Hipossinal Hipossinal do sinal de RF diversas vezes. Desta maneira, a aplicação
terizam a ponderação das imagens da ATM - T1 e T2,
Cavidades aéreas Hipossinal Hipossinal do sinal de RF e a posterior obtenção do echo ocorrerão
respectivamente.
Calcificações Hipossinal Hipossinal inúmeras vezes. Ao conjunto - sinal de RF + echo - de-
Na Odontologia, as imagens por RM são bastante
nomina-se sequência de pulsos, que é o que determina o empregas na avaliação da ATM, uma vez que é o único
Disco articular das ATM Hipossinal Hipossonal
parâmetro da imagem, ou seja, T1 e T2. método de diagnóstico por imagem que possibilita a vi-
Cistos Inter escuro Hipersinal
O tempo que leva do início da emissão do sinal de RF sualização do disco, sua forma, posição e relação com os
* Inter = sinal intermediário. Tabela 01. Aspectos dos diferentes tecidos em imagens ponderadas em T1 e T2.
até que o echo seja obtido, e então a repetição desta se- componentes ósseos articulares, possibilitando, desta for-
quência seja realizada, é denominado tempo de repetição ma, o diagnóstico dos chamados desarranjos internos por
(TR), medido em milissegundos (ms). Já o tempo entre o interferência do disco da articular.
início da aplicação do sinal de RF e a obtenção do echo Outra aplicação seria o diagnóstico e a determinação
é denominado de tempo echo (TE), também medido em da extensão de lesões como cistos e tumores, possibilitan-
milissegundos (ms) (Fig. 23). do ainda a identificação do conteúdo intralesional.
Logicamente, o TR é sempre maior que TE. A relação Nos exames por RM pode-se também utilizar meio de
entre TR e TE dependerá de como o sinal de RF é transmi- contraste, o que é indicado para estudo de tumores, de me-
tido aos tecidos, o que caracteriza determinada sequência tástases, de áreas de infarto e da vascularização. A subs-
de pulsos e, desta forma, a imagem obtida - T1 ou T2. tância utilizada é a base de gadolíneo (Gd) e, ao ser injetada,
21. [A,B] Cortes coronais do crânio obtidos em T1 e T2, respectivamente. Cisto den-
Por razões físicas, as imagens que serão ponderadas encurta o T1 e eleva o sinal dos tecidos, melhorando, por
tígero invadindo o seio maxilar direito (*). Notar que o líquido cístico apresenta hiper-
[A] [B] sinal em T2. em T1 são obtidas quando o sistema gera uma sequência exemplo, a visualização de estruturas mais vascularizados.

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12 Outros Métodos de Exame por Imagem

Nos aparelhos de imagem, a geração das ondas sonoras, ção das imagens nos exames radiográficos, coloca-se
90% 90% a partir da transformação da energia elétrica em mecânica, atrás dos tecidos examinados uma superfície que registra
Echo Echo
ocorre nos transdutores. Esses dispositivos estão localiza- a passagem da radiação X (receptor de imagem - filme ou
dos nas sondas ultrassonográficas (parte do aparelho manu- sensor/detector). Na ultrassonografia, a onda ultrassônica
seado pelo operador do equipamento e que entra em conta- penetra nos tecidos em diferentes profundidades, a depen-
to direto com a superfície tecidual a ser examinada) (Fig. 25). der de suas características físicas, mas não precisam atra-
Desta forma, durante a realização do exame, as ondas vessar toda a sua extensão. As ondas sonoras, após inte-
sonoras geradas nos transdutores são emitidas na direção ração com os tecidos, retornam na forma de ecos que são
TE
dos tecidos do paciente. Os tecidos, por sua vez, interagem captados pelo mesmo transdutor que emitiu a onda sono-
com as ondas sonoras e emitem ecos (também na forma de ra. Tecidos menos densos geram ecos de menor intensida-
23. Sequência de pulsos de 90º (sinal de ondas ultrassônicas) que voltam em direção aos transduto- de e os tecidos mais densos geram ecos mais fortes.
TR RF que leva os prótons a 90º em relação
res. Lá a energia sonora gera uma corrente elétrica que, em Os ecos são captados e geram sinais elétricos que são
à Bl). TR = tempo de repetição e TE =
tempo echo. seguida, é transformada em imagem no monitor do apare- transformados em imagens. Ecos de maior intensidade
lho. As imagens geradas são utilizadas para o diagnóstico. são registrados como áreas mais claras na imagem (como
se fossem as áreas radiopacas de radiografias), e os ecos
Geração das imagens ultrassonográficas mais fracos como áreas mais escuras (como se fossem as
A interação das ondas ultrassônicas com os tecidos de- áreas radiolúcidas de uma radiografia). O diagnóstico é re-
pende da impedância acústica destes, ou seja, de sua re- alizado pela interpretação das várias nuances de cinza da
sistência à passagem da onda sonora. Assim, a densidade imagem formada.
e a dureza dos tecidos interferem diretamente na penetra- Na ultrassonografia, as áreas brancas ou mais claras,
ção das ondas sonoras. De forma similar ao que ocorre que representam os tecidos mais densos ou duros, são de-
quando da incidência dos raios X nos tecidos, aqueles de nominadas de hiperecoicas ou hiperecogênicas (pois foram
menor densidade deixam-se penetrar em maior profundi- geradas por ecos de maior intensidade). E as áreas mais
dade pelas ondas ultrassônicas e vice-versa. escuras (tons de cinza mais escuros ou de cor negra) são
Porém existem muitas diferenças entre a obtenção de designadas de hipoecoicas ou hipoecogênicas (resultantes
uma radiografia e a de uma ultrassonografia. Para obten- dos ecos gerados por tecidos de menor densidade) (Fig. 26).

[A] [B]

24. [A,B] Cortes sagitais da ATM. TR (300 ms) e TE (12,5 ms) definem a ponderação da imagem em T1 [A]. TR (1.500 ms) e TE (100,2 ms) definem a ponderação da imagem em T2 [B].

ULTRASSONOGRAFIA Para exames de imagens na área da saúde, a frequên-


cia empregada situa-se na faixa dos milhões de ciclos por
segundo, variando de 2,5 MHz a mais de 12 MHz. Maiores
Conceito e produção das ondas ultrassônicas
frequências permitem obter imagens de maior resolução
Ultrassonografia ou ecografia é o exame que utiliza ondas dos tecidos superficiais e são particularmente as utilizadas
sonoras, na faixa do ultrassom, para produzir imagens. O nos exames das estruturas faciais e cervicais.
ultrassom refere-se à onda sonora que possui uma frequ- O ultrassom é produzido pela vibração de cristais, como
ência multo alta, acima de vinte mil ciclos por segundo o quartzo, que possuem uma propriedade denominada
(20 kHz) e são inaudíveis ao ouvido humano. Essa energia piezoeletricidade. O efeito piezoelétrico permite a transfor-
tem aplicações terapêuticas e é utilizada para o diagnós- mação de energia elétrica em mecânica e vice-versa. As-
tico não apenas para a saúde humana, mas também na sim a aplicação de um campo elétrico sobre esses cristais
medicina veterinária. Na indústria, o ultrassom tem muitas determina sua expansão e contração contínuas, gerando
aplicações em ensaios não destrutivos e na soldagem ou as ondas sonoras. A depender da espessura dos cristais,
desintegração ultrassônica de materiais. ondas de diferentes frequências são criadas. 25. Imagem de um aparelho de US com diferentes sondas 26. Área hipoecogênica correspondente a uma lesão no interior da glândula parótida esquerda.
(http://medsonic.com.br).

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12 Outros Métodos de Exame por Imagem

Além das características de densidade do tecido, a ima- Para facilitar a propagação das ondas sonoras nos dois Indicações da ultrassonografia caracteriza um tecido se movimentando, e assim é possível
gem ultrassonográfica também informa a localização dos te- sentidos e o deslizamento da sonda sobre o tecido, aplica- em Odontologia determinar a direção desse fluxo e sua velocidade.
cidos em profundidade. Assim, em uma ultrassonografia do -se entre ambas as superfícies um gel inerte. No caso de O fluxo arterial pode ser identificado pela presença dos
Na Odontologia, a ultrassonografia é o exame de imagem
assoalho de boca, por exemplo, pode-se observar a imagem exames intrabucais (embora existam sondas intrabucais, picos sistólicos, sendo diferenciado do fluxo sanguíneo
de primeira escolha para avaliação de qualquer aumento
da língua mais superiormente em relação à posição dos mús- elas são pouco utilizadas na maioria dos centros de diag- venoso ou mesmo de uma fístula arteriovenosa. As infor-
de volume palpável em tecidos moles. Isso inclui a análise
culos supra-hióideos, ou pode-se localizar um sialolito em nóstico por imagem), o gel é dispensável. mações de fluxo sanguíneo no efeito Doppler podem ser
das glândulas salivares, dos linfonodos cervicais, da lín-
profundidade na glândula parótida. Isso é possível devido à Para se obter uma informação tridimensional da área exa- demonstradas em gráficos por meio de sons audíveis ou
gua, do assoalho de boca, da mucosa jugal, dos lábios e
velocidade constante da onda ultrassonográfica em um deter- minada (largura, altura e espessura do órgão ou da lesão), a imagens superpostas às imagens no modo B (Figs. 28 e 29).
músculos mastigatórios, dentre outros tecidos.
minado meio. Nos tecidos moles, a onda ultrassônica caminha sonda deverá ser posicionada de formas diferentes sobre o Nos equipamentos mais modernos, a detecção de fluxo
A imagem ultrassonográfica fornece informações sobre
a uma velocidade constante de 1.540 m/s, e assim, sabendo- tecido. Assim, para se obter a imagem da glândula parótida, de movimento pode ser expressa em cores diferentes no
o tamanho, limites e textura dos tecidos e lesões. A textura
-se o momento da emissão da onda e da recepção do seu por exemplo, deve-se posicionar a sonda longitudinalmente monitor - ao que se denomina Doppler com fluxo a cores.
diz respeito à distribuição dos ecos internos de uma área,
eco, o equipamento calcula a que distância encontra-se o te- e transversalmente sobre sua superfície. No caso de estrutu- Nestes casos, o fluxo sanguíneo arterial é visualizado em
indicando se ela apresenta um padrão heterogêneo ou não.
cido que gerou aquele eco, e isso é representado na imagem. ras bilaterais, ambas deverão ser avaliadas, pois a compara- vermelho e o fluxo venoso, em azul. E ainda, as diferentes
Assim, uma lesão cística localizada no assoalho de boca,
ção entre elas é importante para o diagnóstico. velocidades da corrente sanguínea são exibidas em distin-
A ultrassonografia no modo B (modo “brilho”) é aquela por exemplo, deverá demonstrar limites bem definidos e
No exame das glândulas parótidas, deve-se solicitar ao pa- tas nuances de uma mesma cor (Fig. 30).
na qual a imagem é visualizada com diferentes tons de cin- uma ecogenicidade homogênea, diferentemente de uma
ciente, deitado em decúbito dorsal, que gire a cabeça para o Pode-se imaginar a importância desta ferramenta em
za, em duas dimensões. É a forma mais comum de se obter neoplasia maligna na mesma localização.
lado contrário ao que está sendo examinado. Para a visualiza- várias áreas da Medicina, como a avaliação do fluxo san-
e interpretar imagens ultrassônicas. Adicionalmente, o exa- Os exames de ultrassonografia ainda apresentam uma
ção das glândulas submandibulares, da língua e do assoalho guíneo nas cavidades cardíacas e possibilidade de detec-
me pode ser realizado no modo M (modo “movimento”), no ferramenta para avaliação da direção e da velocidade do
de boca, solicita-se que o paciente incline a cabeça para trás. ção de um shunt esquerda-direita de uma comunicação
qual as oscilações referentes ao movimento de uma estru- fluxo sanguíneo - o Doppler. Esse nome deve-se ao físico
Os comandos são realizados por meio do teclado do interatrial. Ou no diagnóstico de possíveis obstruções na
tura em um intervalo de tempo são registradas em gráficos, Christian Doppler, que descreveu inicialmente este fenô-
equipamento de ultrassonografia e uma série de funções circulação sanguínea, como a presença de ateromas na ar-
sendo muito utilizado em ecocardiografia. E ainda pode-se meno. Quando a onda ultrassônica interage com estruturas
pode ser aplicada. As imagens geradas podem ser visu-
aplicar o efeito Doppler, que será discutido mais adiante. estáticas, como a glândula parótica, a frequência da onda téria carótida. Na Odontologia, o Doppler permite avaliar o
alizadas dinamicamente em tempo real ou congeladas.
incidente é igual à do eco gerado pela glândula, embora padrão de vascularização de lesões. Assim, se uma mas-
Podem ter seu contraste alterado, podem ser ampliadas
Realizando a ultrassonografia sua intensidade esteja na dependência da densidade e sa palpável no parênquima da glândula submandibular for
ou giradas, além de se poder adicionar textos à imagem.
dureza deste órgão. Quando, ao contrário, a onda ultras- uma lesão cística, ela não apresentará fluxo sanguíneo ao
Para realizar uma ultrassonografia, o médico ou cirurgião- Medidas lineares, de área e volume também podem ser re-
sônica é direcionada para um tecido em movimento - e o Doppler (Doppler negativo). Porém numa neoplasia poder-
-dentista operador deverá aproximar a sonda da superfície alizadas (Fig. 27). Adicionalmente, o fluxo sanguíneo pode
sangue está continuadamente me movimentando no cor- -se-á identificar a presença de vasos sanguíneos no interior
corpórea a ser examinada, seja cutânea ou mucosa. Exis- ser avaliado, como será explicado mais adiante.
po humano - a frequência da onda incidente é diferente da lesão. Neoplasias benignas normalmente apresentam
tem vários formatos de sondas e diferentes frequências que Finalizado o exame, as imagens ou vídeos adquiridos
da frequência do eco, independente de sua intensidade. A padrão vascular mais periférico. Diferentemente, neopla-
deverão ser selecionados, a depender da região anatômica podem ser arquivados ou salvos em mídias eletrônicas. A
diferença de frequência entre as ondas emitida e recebida sias malignas tendem a ser amplamente vascularizadas.
e da profundidade dos tecidos que se deseja avaliar. As on- impressão das imagens também é possível, porém ressal-
das ultrassônicas serão então produzidas pelo transdutor ta-se que o diagnóstico deve ser realizado durante a pro-
e dirigidas aos tecidos, e os ecos gerados por estes serão dução das imagens, e não sobre as imagens impressas,
captados pelo mesmo transdutor. que têm caráter meramente ilustrativo.

[B]

28. [A-C] Paciente com aumento de volume


cervical [A]. Ultrassonografia da região na qual
se nota uma área hipoecogênica sem sinais de
fluxo ao Doppler [B]. Adjacente à área supraci-
27. Dimensões de área hipoecogênica na região pré-auricular direita (+ 0,66 tada, observa-se vaso sanguíneo arterial. Grá-
cm x 0,68 cm). [A] [C] fico do mapeamento Doppler [C].

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12 Outros Métodos de Exame por Imagem

Ultrassonografia em Odontologia litos. Devido à grande diferença na impedância acústica


dos tecidos moles e dos cálculos salivares, estes depó-
Uma das principais aplicações da ultrassonografia em
sitos são facilmente detectados pela observação de uma
Odontologia refere-se ao diagnóstico das patologias que
área ecogênica, altamente reflexiva, acompanhada de uma
afetam as glândulas salivares, sejam distúrbios inflamató-
acentuada sombra acústica posterior (Fig. 32). A sombra
rios ou neoplásicos. Apesar de ser considerado um exame
é formada atrás do sialolito, visto que esta área não é al-
recente para muitos cirurgiões-dentistas, existem relatos da
cançada pelas ondas ultrassônicas, que foram refletidas
utilização da ultrassonografia para avaliação das glândulas
ao interagirem com a superfície extremamente densa do
salivares desde a década de setenta do século passado.
Entretanto, o exame não se tornou popular na Odontologia, sialolito. Assim, as estruturas atrás do cálculo não recebem
[A] [B] talvez devido à menor frequência de onda dos equipamen- a energia sonora nem emitem ecos, ficando “mergulhadas”

tos mais antigos, o que contribuía para uma pior resolução em uma área escura, sem sinal. Para determinar o tamanho

da imagem dos tecidos mais superficiais. exato do sialolito, é preciso variar a direção de entrada da

Em condições normais, as glândulas salivares são vi- onda ultrassônica no tecido, a fim de visualizar o que esta-
sualizadas como estruturas homogêneas e hiperecóicas, ria oculto na sombra acústica, e poder assim estimar seu
comparadas ao tecido muscular circundante (Fig. 31). volume. Quanto à sua localização, estima-se que a ultras-
Apresentam uma grande variabilidade de tamanho e eco- sonografia consiga detectar 100% dos cálculos intraglan-
29. [A-D] Ultrassonografia mostrando formação expansiva genicidade, sendo que esta última aumenta com a idade. dulares maiores que 2 mm.
no lábio inferior com vasos sanguíneos calibrosos e fluxo A glândula salivar, quando inflamada, aparecerá no exa-
[C] [D] arterial ao Doppler.
Quanto às suas dimensões, a glândula submandibular
apresenta um comprimento anteroposterior de aproxima- me ultrassonográfico com suas dimensões aumentadas,
damente 35 mm (+/- 5,7 mm), altura de 14,3 mm (+/- 2,9 mais hiperecóica e heterogênea. A comparação com o lado
mm) e largura de 33,7 mm (+/- 5,4 mm). Já a glândula pa- contrário é de inestimável valor para esta avaliação, quando
rótida apresenta em média, no seu eixo paralelo ao ramo do acometimento unilateral. A presença de edema ou cole-
mandibular, 46,3mm (+/- 7,7 mm), e no seu eixo transver- ções líquidas é percebida pela imagem denominada realce
sal, 37,4mm (+/- 5,6 mm). acústico posterior. Isso ocorre pela facilidade de propaga-
Dentre as patologias inflamatórias, destacam-se os ção das ondas ultrassônicas no meio líquido, aumentando
casos de sialoadenite provocada pela presença de sialo- o sinal dos tecidos localizados atrás dessa região.

30. Ultrassonografia com mapeamento Doppler e fluxo


colorido. Observa-se artéria facial adjacente à glândula
submandibular.

Vantagens e segurança do exame podem ser reconstruídas tridimensionalmente, como fre-


quentemente ocorre na avaliação obstétrica.
A ultrassonografia tem como vantagens não utilizar radia-
Apesar de ser considerado um exame seguro, alguns
ção ionizante, não ser invasiva e ter baixo custo. O exa-
fenômenos são relatados quando da sua utilização. Assim,
me não é afetado por artefatos metálicos, o que o torna
durante o exame, espera-se um aumento da temperatura
interessante como guia de biópsia aspirativa por agulha da área avaliada, que parece nunca ser superior a 1º C, o
fina para exame das glândulas salivares, tireoide, mama que não seria prejudicial à saúde. In vitro, já foi detectada
ou próstata. Adicionalmente, as imagens são dinâmicas e a formação de radicais livres nos tecidos avaliados, porém
31. Ultrassonografia de glândulas submandibulares, sem alterações dignas de nota. Observam-se glândulas com limi- 32. Sialolito e sombra acústica posterior
interpretadas em tempo real. As imagens bidimensionais se isso pode ser reproduzido in vivo ainda é incerto. tes regulares e ecogenicidade homogênea.

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12 Outros Métodos de Exame por Imagem

Já no caso de neoplasias, será possível identificar no de lesões císticas e neoplásicas, a aplicação da ferramenta
parênquima glandular áreas hipoecogênicas comparadas à Doppler é importante, como já discutido (Figs. 33 a 35).
ecogenicidade normal da glândula. O exame permite esta- Outras aplicações da ultrassonografia em Odontologia
belecer as dimensões da lesão e sua relação com os tecidos incluem a avaliação de massas no assoalho de boca ou
vizinhos. A avaliação dos limites da área ajuda na diferencia- na musculatura lingual, detecção de linfonodos cervicais
ção de lesões benignas daquelas malignas, tendo as primei- inflamatórios ou metastáticos e mesmo o diagnóstico da
ras geralmente limites bem definidos. Quanto à diferenciação hipertrofia do masseter (Fig. 36).
[B]

35. [A-C] Fotografia extrabucal mostrando


aumento volumétrico em tecidos moles, no
ângulo mandibular, à esquerda [A]. Ultrasso-
nografia mostrando área hipoecogênica de
limites bem definidos e com realce acústico
posterior [B]. Ao Doppler, não apresenta si-
nais de fluxo sanguíneo [C]. Essa situação é
[A] [C] compatível com uma lesão cística.

[A] [B]

33. [A,B] Fotografias extrabucais, nas quais se nota aumento de volume de consistência de tecidos moles no ângulo direito da mandíbula.

[A] [B]

36. [A,B] Aumento de volume no lado esquerdo da face [A]. Ultrassonografia evidenciando hipertrofia unilateral do músculo masseter [B].

MEDICINA NUCLEAR informações sobre a anatomia dos constituintes do corpo


humano, e não sobre a sua fisiologia e metabolismo. De
George Charles de Hevesy (1885-1996), físico-químico
fato, uma patologia só se torna evidente nestas imagens
húngaro (Prêmio Nobel de Química de 1943), é considera-
do o pai da Medicina Nuclear (MN), pois definiu o conceito quando há uma alteração morfológica dos tecidos orgâ-

de traçador radioativo e realizou experiências com plantas nicos, que se manifestará como uma alteração do seu pa-

e animais para avaliação da sua fisiologia. Em 1957, Hal drão anatômico normal.
Oscar Anger (1920-2005), engenheiro elétrico norte-ameri- Os exames capazes de proporcionar informações a res-
cano, desenvolveu a primeira gama-câmara. peito da fisiologia do tecido ou da lesão avaliada consti-
A maioria das modalidades de exame por imagem, tuem o ramo da Medicina Nuclear voltado ao diagnóstico
como as radiografias convencionais, a tomografia com- e incluem as seguintes modalidades: Gama-câmara planar,
34. Ultrassonografia da paciente acima evidenciando área hipoecogênica de limites bem definidos e textura heterogênea e realce acústico posterior no parên-
quima da glândula parótida direita. O exame anatomopatológico, após tratamento cirúrgico, indicou se tratar de um adenoma pleomórfico. putadorizada e mesmo a ressonância magnética, provê SPECT (single photon emission computed tomography -

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12 Outros Métodos de Exame por Imagem

tomografia por emissão de fóton único) e PET-Scan (pó- culas “beta mais” (β+) (pósitrons), sendo que estas podem
sitron emission tomography - tomografia por emissão de ser entendidas como elétrons positivos emitidos pelo nú-
pósitrons). Pode-se dizer que a Medicina Nuclear está para cleo (anti-matéria).
a radiologia como a fisiologia está para a anatomia. A radiação ou raios gama (γ), energia liberada pelos nú-
Nestes exames, a fonte de radiação ionizante é admi- cleos radioativos sob a forma de radiação eletromagnética,
nistrada ao paciente (normalmente por via venosa) e a ra- apresenta alto poder de penetração e elevada capacidade γ
diação emitida pelos seus tecidos é então captada pelo de ionização (Fig. 37).
receptor do aparelho, gerando uma imagem passível de O tipo de energia nuclear liberado por um radionuclí-
diagnóstico. Estes exames são baseados no fenômeno da deo, bem como o seu valor energético, é inerente a cada
radioatividade, e para seu entendimento é necessário que elemento químico radioativo, o que se denomina radioa-
α
alguns conceitos sejam compreendidos. tividade da amostra. A radioatividade de um radionuclí-
deo tende a decair espontaneamente, com o passar do
Radioatividade tempo, à medida que a amostra deste elemento emite
Na natureza, os elementos químicos são classificados energia, e o elemento tende a se tornar estável. O tem-
β+
de acordo com o número de prótons existentes em seu po gasto para que determinada amostra de radionuclídeo
núcleo, o que é denominado número atômico (Z). Em um tenha sua radioatividade reduzida à metade da inicial é
elemento neutro, a quantidade de carga elétrica positiva denominado de meia-vida (t1/2) do elemento químico. Os
(número de prótons) é igual à quantidade de carga elétri- elementos radioativos têm meia-vida de minutos, horas,
ca negativa (número de elétrons orbitais). Já que a massa dias ou mesmo anos, sendo esta meia-vida uma caracte- 37. Diferentes tipos de emissão de energia - corpuscular
(partículas) e eletromagnética (radiação gama) - a partir
do elétron é desprezível, os prótons e nêutrons nucleares rística de cada elemento. do núcleo de um isótopo radioativo ou radionuclídeo.
somados correspondem à massa do elemento (número de Durante o período de tempo em que a amostra perde γ
massa do átomo). a sua atividade radioativa, ocorre emissão constante de
Todo elemento químico que apresente um desequilíbrio radiação pelo núcleo, em um processo denominado de
energético entre as suas partículas nucleares (excesso de decaimento radioativo. No decaimento radioativo de uma
energia nuclear) é considerado um elemento instável. Como amostra de determinado radionuclídeo, poderá ocorrer β+ e- β+ e-
forma de liberar este excesso de energia, buscando a estabili- emissão de diferentes tipos de energia (partículas α, β ou
+

dade, o elemento emite, espontânea e constantemente, ener- γ), o que depende de características inerentes à amostra.
gia nuclear, em um fenômeno conhecido com radioatividade. Após completado o processo de decaimento radioativo,
Os elementos que apresentam este comportamento são de- o elemento não mais apresentará a propriedade de radio-
nominados de elementos radioativos ou radionuclídeos. atividade, convertendo-se assim em um elemento químico [A] [B] γ [C]
Os radionuclídeos são encontrados na natureza ou po- estável (não radioativo).
38. [A-C] Esquema da emissão de pósitron (β+) e aniquilação: pósitron e elétron, interação e aniquilação, e emissão de dois fótons simétricos de radiação gama.
dem ser produzidos artificialmente, a partir da indução de Dentro do processo de emissão radioativa, a emissão
alterações no núcleo de um elemento químico, que pas- de pósitrons (β+) pelo núcleo de um radionuclídeo leva a
sa a se constituir um isótopo (mesmo número de prótons, um fenômeno denominado aniquilação. Os pósitrons são Aquisição de imagem em Medicina Nuclear no monitor do computador como pontos em tons de cin-

mas diferente número de nêutrons) do elemento original, ejetados dos núcleos com velocidades distintas, atingindo za. Quanto mais intensa for a captação do radionuclídeo,
Os diferentes métodos de aquisição de imagem em Me-
ou seja, um radioisótopo, capaz de emitir radiação nuclear. a energia de até 2.000 a 3.000 keV. Em seu trajeto, este mais intensa será a densidade dos pontos da imagem, indi-
dicina Nuclear - Gama-câmara planar, SPECT e PET
A energia nuclear emitida pelos radionuclídeos poderá pósitron interage com um elétron do próprio ou de outro - baseiam-se na captação de energia emitida por radio- cando que em determinada parte do corpo o radionuclídeo
ser liberada na forma de partículas - com massa e carga radionuclídeo. Nesta interação pósitron/elétron, ocorre a nuclídeos introduzidos no organismo do paciente. Após a concentrou-se em maior quantidade após a sua ingestão,
elétrica - ou como energia eletromagnética, sem massa aniquilação destas partículas, originando dois fótons de introdução, o paciente é deitado em uma mesa ao redor o que denomina-se hipercaptação. De forma contrária, os
e carga elétrica, propagando-se como ondas (fótons de radiação gama (raios gama) que se propagam em direções da qual encontra-se um sistema capaz de captar a energia locais da imagem correspondentes a uma baixa ou nula
origem nuclear). opostas (180°). Nos exames de PET, estes fótons são cap- emitida pelo radionuclídeo. À medida que esta energia é captação do radiofármaco pelo tecido, e consequente bai-
Dentre as partículas emitidas pelos núcleos dos ele- tados pelos detectores do equipamento, o que resulta na captada, é convertida em sinais elétricos, proporcionais à xa emissão da radiação pelo radionuclídeo, apresentarão
mentos radioativos, temos as partículas alfa (α) e as partí- formação da imagem (Fig. 38). intensidade da radiação emitida. Estes sinais são exibidos baixa densidade dos pontos (hipocaptação).

29 30
12 Outros Métodos de Exame por Imagem

A fim de que seja captado pelo órgão ou tecido a ser es- com a finalidade de se estudar a presença e atividade de
RADIONUCLÍDEO RADIOFÁRMACO FINALIDADE DO EXAME
tudado, é necessário que o radionuclídeo seja diretamente neoplasias malignas e metástases. Sabe-se que os tumo-
ligado a uma molécula normalmente utilizada pelas células res possuem um metabolismo mais acelerado que os teci- Tecnécio 99m (Tc99m) Metileno-difosfonato-Tc99m Cintilografia óssea

deste tecido. Para tal, a molécula-alvo é previamente pre- dos normais, e que este metabolismo é, normalmente, ae- Tecnécio 99m (Tc99m) Sestamibi-Tc99m Perfusão do miocárdio, detecção tumores ativos (mama e tireoide)
parada, tendo um de seus átomos substituídos em labo- róbico, o que leva ao consumo mais elevado da molécula Flúor 18 (F18) Flúordeoxiglicose-F18 [F18] FDG Metabolismo glicolítico tumoral (usado em PET)
ratório por um radionuclídeo que não altere sua absorção de glicose em relação a tecidos sadios. Para o estudo de Localização de tumores (osteossarcomas, tumores cerebrais);
Tálio 201 (Tl201) Cloreto de Tálio 201
normal pelas células do tecido considerado. Desta forma, neoplasias e metástases, pode-se utilizar como radiofár- estudo de perfusão do miocárdio
o radionuclídeo permite mapear a molécula nos tecidos or- maco a molécula de glicose marcada com o flúor 18, um Índio 111 (In111) Pentatreotido-In111 Tumores neuroendócrinos, carcinoma de células pequenas do pulmão
gânicos, a partir da emissão constante de energia (radia- elemento radioativo emissor de pósitrons (β ), denominada +
Gálio 67 (Ga67) Citrato de Gálio 67 Usado em respostas terapêuticas de linfoma tipo Hodgkin
ção gama), que é captada pelo sistema de detectores do de fluordesoxiglicose-F18 (Fig. 39).
Tabela 02. Relação de alguns radionuclídeos/radiofármacos utilizados em Medicina Nuclear e a finalidade de cada um deles.
aparelho, a gama-câmara. A molécula associada ao radio- Nos tecidos em que a glicose mais se concentrar, a
nuclídeo é denominada de traçador ou radiofármaco. emissão de radiação será maior e, consequentemente, a
Cada radiofármaco é preparado e usado de acordo com captação será mais intensa (hipercaptação), traduzindo a
o objetivo do estudo. Sendo assim, existem diversos tipos fisiologia e o metabolismo do tecido, o que poderá ser in-
de radionuclídeos que podem ser usados nesta modalida- terpretado como presença de neoplasia. A Tabela 2 relacio- Os sistemas de gama-câmara, capazes de captar a Nos sistemas SPECT ou tomografia por emissão de fó-
de de exame, em combinação com diferentes moléculas. na alguns radionuclídeos utilizados, bem como o radiofár- energia emitida por um radiofármaco, são compostos por ton único, de forma semelhante, há emissão de radiação
Um exemplo clássico é a marcação da molécula de glicose maco correspondente e suas indicações. uma mesa, onde o paciente é posicionado após a admi- gama diretamente do núcleo do radionuclídeo que com-
nistração do radiofármaco, e um sistema de detectores, põe o radiofármaco. A radiação é captada por mais de
formados por cristais de iodeto de sódio (NaI) ativados por uma câmara detectora semelhante àquela descrita para
tálio (Tl). Os sistemas mais modernos, que utilizam baixa o sistema planar. Atualmente existem câmaras detecto-
energia, empregam outros cristais cintiladores, como os ras com dois a quatro detectores de cintilação, câmaras

HO
cristais de telureto de cádmio e zinco (CZT). estas dispostas em planos ortogonais em relação ao pa-
A radiação gama, emitida das partes do organismo ciente. Normalmente são adquiridas 64 ou 128 projeções
O
do paciente que captaram o radiofármaco, passa por um do órgão-alvo, sendo essas projeções representadas em
sistema de colimação que permite que apenas os fótons matrizes digitais de tamanhos variados. Desta forma é
HO
OH
ortogonais à abertura dos colimadores adentrem a gama- possível obter imagens seccionais tomográficas multipla-
HO
OH -câmara e atinjam os cristais. Para cada tipo de estudo cin- nares e assim analisar a concentração do radiofármaco
tilográfico há a necessidade de um colimador específico. A em cada uma das imagens (Fig. 44).
escolha do colimador leva em conta a energia empregada
Molécula de glicose para obtenção da imagem e a resolução desta imagem. Os
colimadores podem ter orifícios paralelos, convergentes ou
divergentes (Fig. 40).
Os cristais são excitados pela radiação gama e emitem
Radiofármaco uma cintilação azul (daí o nome do exame cintigrafia ou cin-
HO tilografia). A luz azul atinge uma camada de fotomultiplicado-
O res, localizados imediatamente atrás dos cristais, que gera
um sinal elétrico, o qual é convertido em pontos de densidade
HO proporcional à intensidade da luz incidente. Os pontos forma-
HO OH rão a imagem, que, por sua vez, será diretamente relacionada
F
18

à intensidade da radiação gama que a originou (Fig. 41).


No sistema de gama-câmara planar existe apenas uma
Radiofármaco - Flúordesoxiglicose ([F18] - FDG)
ou duas estruturas de cristais, que proporcionam a captura
de imagens em um único plano (coronal: anterior e posterior),
40. Colimador paralelo de baixa energia e alta resolução para obtenção de cintilo-
39. Produção do radiofármaco FDG: modificação da molécula de glicose pela adição do radionuclídeo F18. Injeção do radiofármaco previamente ao exame. o que resulta em um exame bidimensional (Figs. 42 e 43). grafia óssea.

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12 Outros Métodos de Exame por Imagem

Corrente elétrica

Fotomultiplicadores
Cristais de Nal (Tl)
Colimadores

Fótons raios gama

Imagem

[A] [B] 44. [A,B] Esquema do sistema SPECT e imagens seccionais.

41. Esquema de uma câmara de cintilação (gama-câmara) e formação das imagens.

Cintilografia metabolismo e a sua eliminação do organismo, enquanto


as características físicas do radioisótopo determinarão a
Cintilografia é um nome genérico para a cintilação produ-
sua aplicação em diagnóstico ou tratamento.
zida pela radiação gama. Um detector de cristais de iode-
Os radiofármacos são administrados por via oral ou en-
to de sódio (NaI) ativados por tálio (Tl), como já relatado,
dovenosa, ou podem ainda ser inalados. Não existe risco
capta a radiação gama emitida pelo paciente e um efeito
na administração dos radiofármacos, pois as doses são
fotoelétrico é produzido, amplificado e transformado em
tão baixas que eles não são farmacologicamente ativos.
pulsos elétricos que são processados por softwares e
convertidos em imagens planas ou SPCET, de acordo com Consequentemente, as reações alérgicas são incomuns e

o equipamento empregado. bastante raras, mas quando acontecem, inviabilizam a ava-

A cintilografia óssea trifásica (COT) é o exame mais fre- liação fisiológica do órgão ou tecido-alvo.

quentemente realizado em Medicina Nuclear, pois propor- Embora não apresentem contraindicações, os exames
ciona imagens de forma rápida, é relativamente barata e de Medicina Nuclear devem ser evitados durante a gra-
extremamente sensível. Para se detectar uma alteração na videz e amamentação, uma vez que o radiofármaco atra-
[A] [B]
imagem radiográfica, é necessário que haja uma perda de vessa a placenta e também pode chegar ao leite materno.
42. [A,B] Esquema de uma gama-câmara planar e imagem correspondente. 43. Gama-câmara planar com colimador para estudo de tireoide. 40 a 60% do teor mineral do osso. A cintilografia óssea Desta forma, a depender do radiofármaco empregado, a
trifásica do esqueleto é um exame simples, requer baixa amamentação deve ser suspensa.
dose de radiação, tem boa reprodutibilidade e permite de- Cada radiofármaco é especifico para estudar a função
tectar alterações ósseas antes de qualquer manifestação de cada órgão ou os aspectos funcionais diferentes de
clínica ou radiográfica da doença. um mesmo órgão. O 99m
Tc-MDP (tecnécio + metileno-di-
O radiofármaco ideal deve apresentar baixo tempo de fosfonato) é um dos fármacos mais utilizados em Medi-
retenção no sangue, alta captação pelo órgão de interesse, cina Nuclear, sendo frequentemente usado na pesquisa
meia-vida curta, atoxicidade, ser de fácil obtenção e eco- de metástases ósseas. Este radiofármaco deposita-se
nomicamente viável. As propriedades físico-químicas do uniformemente no osso sadio, enquanto as áreas acome-
fármaco determinarão a sua fixação no órgão-alvo, o seu tidas do osso mostram uma maior concentração, o que

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12 Outros Métodos de Exame por Imagem

pode ser evidenciado através das imagens obtidas com malmente 128 x 128), e a baixa especificidade. Por outro
a gama-câmara. lado, apresenta como vantagem a facilidade de execu-
O 99m
Tc é um radioisótopo, obtido a partir do decaimen- ção, proporciona o diagnóstico de lesões em fases ini-
to radioativo do molibdênio ( Mo/ 99 99m
Tc), que possui meia- ciais, não é invasivo, é seguro e permite avaliação qualita-
-vida curta (aproximadamente 6 horas), não emite radiação tiva e quantitativa (Fig. 45).
particulada, emite apenas radiação gama de baixa energia A cintilografia por se empregada para o diagnóstico de
(140keV) e produz imagens de excelente qualidade, o que alterações das glândulas salivares (xerostomia e tratamen-
o torna ideal para utilização em Medicina Nuclear. to da sialorreia), hiperplasia de mandíbula, osteomielite, in-
Em um sistema gerador de molibdênio, que pode ser fecções, avaliação da drenagem linfática de carcinomas,
facilmente instalado em hospitais e clínicas de Medicina avaliação de enxertos ósseos e como prova de integridade
Nuclear e é composto por uma coluna de óxido de alumínio física. A cintilografia óssea do tipo SPECT é o método de
(Al2O3), é depositada uma quantidade determinada de mo- escolha para avaliar a atividade celular no côndilo, em ca-
libidato ( MoO 4), que decai para
99 2 99m
TcO 4 (pertecnetato).
-
sos de hiperplasia, quando se pretende identificar o mo-
Uma solução de cloreto de sódio (NaCl a 0,9%) remove mento oportuno para a correção cirúrgica.
então o 99m
Tc como Na99mTcO4 (pertecnetato de sódio) em A aquisição de imagens SPECT ou planas na cintilogra-
um processo conhecido como eluição. fia óssea trifásica não exige preparo prévio e segue a se-
Os radiofármacos marcados com 99mTc são para uso pa- guinte sequência:
renteral e a sua pureza, que deve ser rigorosamente con-
1. Após injeção intravenosa do radiofármaco, são obtidas
[A]
trolada pelo serviço de Medicina Nuclear, está relacionada
imagens dinâmicas do fluxo sanguíneo (30 frames);
à sua eficiência. A eventual presença de óxido de alumínio
2. Em seguida, são obtidas imagens imediatas de “pool”
(Al2O3) da coluna do gerador de molibdênio, por exemplo,
sanguíneo, 10 minutos depois da injeção do radiofár-
interfere na distribuição normal do 99m
Tc-enxofre coloidal
maco. 45. [A-D] Radiografia panorâmica [A]
(atividade pulmonar) e do 99m
Tc-MDP (atividade hepática), mostrando displasia óssea florida (lesão
3. Após um intervalo que pode variar de duas a quatro
podendo levar a um erro de diagnóstico. de aspecto misto) envolvendo a maxila e
horas, são obtidas as imagens tardias do paciente. a mandíbula. Distribuição anormal de ra-
Outro fármaco muito empregado é o SESTAMIBI-99mTc diofármaco, com hipercaptação na região
Nas cintilografia da tireoide, as imagens tardias são do mento e quadrante superior direito
(MIBI), que se acumula na célula por difusão passiva, atra-
obtidas após 24 horas. [B,C]. Estudo quantitativo do corpo e do
vés do sarcolema e da membrana mitocondrial, em respos- [B] [C] [D] ramo mandibular [D].
ta aos potenciais transmembrana. Devido a essa caracte-
PET-Sca
rística, não se concentra em lesões isquêmicas, abscessos
ou cicatrizes, permitindo assim o diagnóstico diferencial e Os sistemas PET-Scan (tomografia por emissão de pósi-

definitivo de diversas condições. trons) foram desenvolvidos a partir de 1973, sendo que o
Os critérios para interpretação das imagens de cintilo- primeiro escâner foi produzido em 1975. Este exame pos-
grafia são: observar se o estudo apresentou hiper ou hipo- sui um diferencial em relação aos já citados. O radioisótopo
captação do radiofármaco/radioisótopo, avaliar se a capta- utilizado emite energia na forma de partículas β+ (pósitrons),
ção foi difusa ou focal e descrever a localização e o número e estas, pelo processo de aniquilação já explicado, geram
das anormalidades. Os estudos podem ser visuais, podem dois fótons de radiação gama, que se propagam em sen-
empregar índice numérico para a região de interesse ou tidos opostos, em um ângulo de 180°, emergindo do pa-
podem ser feitos através da análise do tempo de atividade ciente e sendo captados por um sistema de detectores dis-
na captação e eliminação do radioisótopo. Na cintilografia postos em anel, ao redor da mesa na qual o paciente está
óssea trifásica, a avaliação da fase de fluxo sanguíneo, pool acomodado (fig. 46). O fato de serem gerados dois fótons
sanguíneo e taxa de captação do radiofármaco podem ser pela mesma emissão de pósitron leva a um reforço na for-
úteis no diagnóstico diferencial de algumas condições. mação e a uma maior resolução da imagem, o que justifica
As principais desvantagens da cintilografia são a baixa a melhor qualidade das imagens de PET-Scan em relação à [A] [B]

resolução espacial, em razão da matriz empregada (nor- gama-câmara planar e ao sistema SPECT (Fig. 47). 46. [A,B] Esquema de sistema PET; imagens seccionais correspondentes.

35 36
12 Outros Métodos de Exame por Imagem

[A] [B] [C]

48. [A-C] Imagens PET do cérebro exibidas em cores.

O flúor 18 possui uma meia-vida de 109,77 minutos, que, 3. O paciente é acomodado na mesa do equipamento e
47. Processo de emissão de pósitron, aniquilação e forma- em relação aos demais radioisótopos emissores de pósitrons, são então adquiridas as imagens. O tempo de aquisi-
ção de dois fótons simétricos de radiação gama, captados é considerada uma meia-vida longa, o que permite aproveitar ção pode variar de 25 a 40 minutos;
pelos cristais dispostos em anel.
a sua atividade de forma eficaz no exame, considerando o Dentre as indicações do exame PET, podemos citar a
tempo de injeção, captação e obtenção das imagens. sua aplicação na neurologia para estudo das demências
Além desta característica relativa à sua meia-vida, o flúor cerebrais, mal de Alzheimer, epilepsias, detecção de lesões
18 apresenta uma energia média de 242 keV, que é uma ener- metastáticas, doença de Parkinson, bem como as sequelas
O computador, por meio de cálculos exatos, reconstrói que facilita o entendimento da captação do radiofármaco gia baixa, se comparada aos demais emissores de pósitrons. do abuso de drogas. Podemos ainda referir a sua utilização
a energia originada pelos dois fótons simétricos de radia- e do metabolismo do órgão, permitindo evidenciar melhor E isto é importante porque, ao ser emitido, o pósitron percor- no estudo das doenças coronarianas (perfusão cardíaca).
ção gama e determina o local em que estes foram gerados, os contrastes entre regiões ditas “quentes” e “frias”. Nes- re uma trajetória menor e se distancia menos do núcleo do Como se pode observar, as imagens originadas pe-
exibindo a imagem em cortes seccionais tomográficos ta escala de cores, formada pelas sete cores do espectro qual se originou, levando a uma maior precisão da imagem los métodos de Medicina Nuclear proporcionam pouca
anatômicos consecutivos (axiais e coronais). Desta forma, visível da luz solar, os tons de cinza são convertidos em no que se refere à localização do seu ponto de origem. ou nenhuma informação sobre a anatomia dos órgãos
o exame de PET-Scan é um exame tomográfico, sendo as vermelho, de modo que represente a contagem mais alta A principal molécula marcada pelo F-18 é uma molé- examinados, apenas sobre a sua fisiologia, traduzida
imagens seccionais exibidas no monitor do computador, do radiofármaco, vindo a seguir o amarelo, o verde, o azul, cula análoga à molécula de glicose, a fluordesoxiglicose, pela captação do radiofármaco. Por esta razão, a fim de
imagens estas formadas pela concentração de pontos cor- o violeta e o preto, que representa o tom mais baixo de formando o radiofármaco denominado [F-18]-FDG. Este se associar informações metabólicas e localização ana-
respondentes às diversas emissões de pósitrons pelos te- emissão (Fig. 48). é consumido nas regiões com demanda de glicose alta, tômica, foram desenvolvidos sistemas que combinam
cidos. As secções geradas podem ser reconstruídas e for- As imagens SPECT e PET são muito semelhantes, am- como cérebro, coração e tumores ativos. as imagens SPECT ou PET com imagens tomográficas
mar uma imagem tridimensional (3D), que possibilita uma bas apresentam secções tomográficas do corpo, diferente A aquisição de imagens por PET-Scan segue normal- (tomografia computadorizada multidetector), a partir do
avalição quantitativa de todo o volume examinado. do sistema de gama-câmaras planar, que produz uma ima- mente a seguinte sequência: mesmo aparelho. Através de um processo denominado
O número de emissões captadas em um intervalo de gem bidimensional. Porém, SPECT e PET utilizam radionu- 1. O preparo do paciente consiste na proibição de exercí- “fusão das imagens” ou “aparelhos compostos ou híbri-
tempo pelo cristal do detector é registrado, como dito, clídeos diferentes, com moléculas distintas e distribuição cios físicos, consumo de laticínios, tabaco e alimentos ri- dos” (Figs. 49 a 52), o software do sistema, utilizando
como um sinal formado por pontos. Os diferentes tons de diferente no organismo. cos em carboidratos na noite anterior ao exame (um jejum algoritmos específicos, mescla as imagens. Desta ma-
cinza de cada ponto são proporcionais à intensidade da Em geral, os radionuclídeos emissores de pósitrons que de 6h pré-exame é recomendado). A ingestão de grande neira é possível obter uma rica análise anatomofuncio-
radiação gama captada pelo cristal da gama-câmara. Os são utilizados no sistema PET têm pequena massa atômica e quantidade de líquido também é proibida, para que a be- nal das estruturas, possibilitando a precisa localização
pontos pretos correspondem a uma menor emissão de ra- meia-vida de minutos, devendo ser usados logo que produzi- xiga esteja vazia na hora do exame, pois quando cheia, das regiões de concentração do radiofármaco. Nestas
diação, e o tom próximo ao branco, ao nível mais alto de dos. Dentre estes radionuclídeos, temos o carbono 11, o nitro- produz uma imagem de alta captação do radiofármaco; condições, o exame de PET-Scan é especificamente
intensidade de radiação emitida e captada. gênio 13, o oxigênio 15 e o flúor 18. Atualmente, o flúor 18 é 2. Após injeção intravenosa do radiofármaco, aguarda-se denominado PET-CT, assim como o exame de SPECT é
Nos exames de Medicina Nuclear pode-se ainda ter a o radiofármaco mais utilizado (95%) na produção de imagens cerca de 60 minutos, para que ocorra a sua distribui- denominado SPECT-CT, indicando a conjugação com a
apresentação da imagem em cores (ditas “falsas cores”), o pelo sistema PET em oncologia, neurologia e cardiologia. ção e captação pelos tecidos; tomografia computadorizada (Fig. 53),

37 38
12 Outros Métodos de Exame por Imagem

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[A] [B]
ronal CT, corte coronal PET e fusão
52. [A,B] Aparelho PET-CT [A] e paciente sendo examinado [B]. [C] das imagens PET-CT.

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