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Artigo de Revisão

IMAGENOLOGIA DO QUADRIL*
Romeu Côrtes Domingues 1, Rômulo Côrtes Domingues 2, Lara Alexandre Brandão3

Resumo Os autores apresentam os métodos de imagem no estudo do quadril, dando ênfase à ressonância magné-
tica, mostrando a alta eficácia deste método no diagnóstico das principais patologias osteoarticulares e
musculotendíneas.
Unitermos: Ultra-sonografia. Tomografia computadorizada. Ressonância magnética. Quadril. Articulação
coxofemoral. Bacia.

Abstract Imaging findings of the hip.


The authors review the imaging methods for the study of the hip, emphasazing the magnetic resonance
imaging, and show the efficacy of this method in the diagnosis of the main osteoarticular and musculoten-
dinous diseases.
Key words: Ultrasound. Computed tomography. Magnetic resonance imaging. Hip. Hip joint. Pelvis.

INTRODUÇÃO gias osteoarticulares(2), sendo capaz de de- femoral não ossificada, as margens ósseas
monstrar anomalias ósseas como osteomie- do acetábulo e labro acetabular, podendo
Embora a radiografia simples ainda seja lite e processos infiltrativos da medula ós- assim calcular o índice de cobertura da
o método inicial para o estudo por ima- sea mais precocemente do que os demais cabeça femoral, bem como realizar mano-
gem do sistema osteoarticular, recentemen- métodos de imagem, mostrando-se, ainda, bras dinâmicas (Figura 1).
te a ultra-sonografia (US), a tomografia bastante superior à radiologia convencio- – É também um método excelente no
computadorizada (TC) e a ressonância nal e à TC no estudo das anomalias de par- diagnóstico da fricção do iliopsoas no tu-
magnética (RM) têm sido cada vez mais tes moles, graças à sua excelente resolu- bérculo iliopectíneo, bem como da fáscia
utilizadas para o estudo complementar das ção de contraste. A ressonância tem, ain- lata no grande trocanter.
estruturas ósseas, articulações e partes da, as vantagens de não utilizar radiação – Para identificar derrame articular, bem
moles adjacentes(1). ionizante e ser capaz de produzir imagens como espessamento da sinóvia nos casos
A US é um método bastante rápido, re- nos diversos planos de corte e imagens tri- de sinovite (Figura 2).
lativamente de baixo custo, amplamente dimensionais da área estudada. – No diagnóstico e, principalmente,
disponível na maioria dos centros e com Caso necessário, o contraste utilizado acompanhamento das lesões musculoten-
grande aplicação no estudo das anomalias é paramagnético (gadolínio), o qual apre- díneas (Figura 3).
de partes moles, apresentando, porém, li- senta incidência de reações alérgicas mui- O estudo ultra-sonográfico da articula-
mitação para o estudo das patologias ós- to menor do que o contraste iodado, além ção do quadril é realizado de forma dinâ-
seas, além de ser um método operador-de- de poder ser utilizado em pacientes com mica, obtendo-se imagens nos mais varia-
pendente. insuficiência renal(2,3). dos planos de corte.
A TC oferece excelente detalhamento O ultra-som do sistema musculoesque- O estudo tomográfico, graças à técnica
da anatomia óssea e articular, possibilitan- lético tem crescido muito por ser um mé- moderna de TC helicoidal do tipo “multi-
do reconstruções em vários planos, apre- todo barato, obter imagens em tempo real, slice”, permite a obtenção de cortes no pla-
sentando, porém, desvantagens, tais como ser dinâmico, não precisar de sedação nos no axial, com reconstruções nos planos co-
a alta carga de radiação ionizante e a baixa casos pediátricos e ser portátil. ronal, sagital e oblíquos, oferecendo exce-
resolução para estudo das anomalias de Geralmente os aparelhos são de alta re- lente detalhe anatômico osteoarticular.
partes moles. solução, com transdutores lineares de alta O exame de RM da articulação do qua-
Hoje em dia, a RM vem sendo cada vez freqüência, de 7,5 MHz, e, preferencial- dril consiste, em nossa instituição, de se-
mais solicitada para o estudo das patolo- mente, de 10 MHz. qüências comparativas nos planos coronal
O ultra-sonografista tem que conhecer e axial, nas imagens em T1 e T2 com su-
* Trabalho realizado nas Clínicas IRM – Ressonância Mag- bem o aparelho, entender os princípios fí- pressão de gordura (STIR), e seqüências
nética e CDPI – Clínica de Diagnóstico por Imagem, Rio de sicos do ultra-som e saber bem a anatomia em T2 com supressão de gordura com es-
Janeiro, RJ.
1. Médico Radiologista e Diretor das Clínicas IRM e CDPI.
e a clínica. pecial interesse para a articulação sintomá-
2. Médico Radiologista da Clínica CDPI e Diretor da Clíni- As principais indicações do ultra-som tica, nos planos coronal e/ou sagital.
ca Multi-Imagem e Ressonância.
da articulação coxofemoral são: A seqüência em T1 é particularmente
3. Médica Radiologista das Clínicas IRM e CDPI.
Endereço para correspondência: Dr. Romeu Côrtes Domin- – Displasia articular nos recém-natos. útil para o estudo das patologias ósseas,
gues. Rua Capitão Salomão, 44, Humaitá. Rio de Janeiro, Neste caso, se for diagnosticada e tratada facilmente demonstradas nesta seqüência,
RJ, 22271-040. E-mail: romeucd@openlink.com.br.
Recebido para publicação em 18/6/2001. Aceito, após
precocemente, o prognóstico é excelente. já que a medula óssea normal apresenta
revisão, em 22/6/2001. O ultra-som mostra facilmente a cabeça sinal hiperintenso devido à presença de

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2
2

1
3
1
4

1 – Ilíaco 2 – Cabeça femoral 3 – Acetábulo 4 – Cartilagem tri-radiada 1 – Cabeça femoral 2 – Derrame articular 3 – Sinóvia espessada

Figura 1. US na avaliação da displasia congênita do quadril. Figura 2. US do quadril direito mostrando líquido intra-articular e espessamento sinovial.

gordura. As seqüências em densidade pro-


tônica e pesada em T2 com supressão de
gordura e a seqüência STIR são excelen-
tes para a detecção de edema na medular
óssea, demonstração de anomalias articu-
lares como sinovite e derrame articular, e
estudo das anomalias musculotendíneas,
do labro e do tecido celular subcutâneo(2,3).
O objetivo deste artigo é discutir e ilus-
trar a aplicação da radiologia convencio-
nal, US, TC e RM na avaliação das condi-
ções patológicas que envolvem a articula-
ção do quadril.
A B
PATOLOGIAS ÓSSEAS
1. Contusão
Contusões ósseas são relativamente fre-
qüentes após traumatismos diretos ou in-
diretos, sendo facilmente demonstradas
pela RM como áreas de edema na medular
óssea, de limites mal definidos, com sinal
hipointenso nas seqüências em T1 e hipe-
rintenso nas seqüências em densidade pro-
tônica ou T2 com supressão de gordura e
na seqüência STIR(2,3).
A administração endovenosa do gado-
línio não é necessária para o diagnóstico.
A cintilografia óssea pode demonstrar au- C D
mento da captação do radiofármaco, de Figura 3. Ruptura do músculo bíceps femoral, associada à presença de hematoma (A,B). Controle
aspecto inespecífico. após 15 dias (C) e 25 dias (D).

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A TC e a radiologia convencional não A TC, graças à obtenção de cortes com osteoporose, acometendo a cortical supe-
possuem resolução suficiente para o diag- espessura de 1mm, é capaz de demonstrar rior, e a fratura de compressão, mais co-
nóstico da contusão óssea. solução de continuidade da cortical óssea mum em atletas jovens, acometendo a cor-
em correspondência com o local da dor(1). tical inferior do colo femoral(4).
2. Fraturas
A RM é um método diagnóstico com A detecção precoce da fratura de “stress”
a) Fraturas de “stress” sensibilidade comparável e especificidade do colo femoral é crucial, já que o “stress”
Fraturas de “stress” podem ocorrer no superior à cintilografia para a avaliação da contínuo pode levar a fratura deslocada e
osso normal ou anormal, sujeito a carga fratura de “stress”, podendo demonstrar maior risco de necrose avascular, com dano
repetitiva, inferior à necessária para cau- fratura em casos em que a radiologia con- irreversível da articulação(4).
sar fratura aguda do osso. Há dois tipos de vencional e a TC são normais(2,3). Fraturas de “stress” também podem ser
fratura de “stress”: O aspecto é de imagem linear com si- observadas no sacro e no ramo isquiático,
Fratura de insuficiência – É aquela que nal hipointenso nas seqüências em T1 e próximas à inserção dos tendões semimem-
ocorre quando “stress” normal é aplicado geralmente hipointenso nas seqüências em branoso, semitendinoso e bíceps femoral.
ao osso com resistência elástica deficien- T2 e STIR, circundado por área de edema
te. É geralmente observada em pacientes de limites mal definidos. b) Fraturas por avulsão
com artrite reumatóide, osteoporose, doen- Algumas vezes, apenas área de edema, As fraturas por avulsão ocorrem geral-
ça de Paget, raquitismo, etc. O exemplo sem traço de fratura, é observada, e neste mente em adolescentes e adultos jovens
clássico é a fratura bilateral da asa do sa- caso falamos em reação de “stress” (Figu- atletas. Nestes pacientes é fundamental a
cro (Figuras 4 e 5)(3–5). ras 6 e 7). avaliação do lado sintomático, em compa-
Fratura de fadiga – Este tipo de fratu- Fratura de “stress” do colo femoral deve ração com o lado oposto, já que estas fra-
ra resulta da aplicação de um “stress” anor- ser uma consideração diagnóstica em qual- turas ocorrem em áreas de centro de ossi-
mal sobre um osso com resistência elásti- quer atleta, especialmente em corredores ficação secundária, de modo que o que pa-
ca normal. Nestes casos a história clínica que apresentem dor no quadril e/ou na por- rece ser fratura pode simplesmente repre-
de intensificação da atividade física, mo- ção proximal da coxa. Se a radiografia ini- sentar variação anatômica(1).
dificação da intensidade, ritmo e/ou fre- cial é normal, a ressonância deve ser reali- O método inicial para sua avaliação é a
qüência do treinamento, alteração do tipo zada. A RM é mais específica do que a cin- radiografia simples, que pode não demons-
de solo e/ou calçado utilizado no treino são tilografia em detectar a fratura de “stress” trar a lesão.
fundamentais para o diagnóstico(3–5). do quadril e diferenciá-la de outras causas A cintilografia óssea, embora seja sen-
A radiografia simples é o método de ima- de dor óssea e de partes moles, como ne- sível, é pouco específica, mostrando ape-
gem primeiramente utilizado na maioria crose avascular, bursite do iliopsoas, ten- nas aumento da captação do radiofármaco
dos casos em que se suspeita de fratura de dinites, etc.(4,5). no local.
“stress”. Imagem linear hiperdensa, per- Dois tipos de fratura de “stress” do colo A TC é bastante útil na demonstração
pendicular ao maior eixo do osso, pode ser femoral são reconhecidas: a fratura de ten- da fratura, permitindo detectar o fragmen-
demonstrada(3). são, mais comum em pacientes idosos com to e avaliar o seu tamanho(1).

4 5
Figuras 4 e 5. As imagens por RM em T1 nos planos coronal (4) e axial (5) mostram fratura de insuficiência do sacro.

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6 7A

7B
Figuras 6 e 7. Reação de “stress”. Paciente de 12 anos de idade, bailarina, com dor no quadril direito há dois meses. Radiografia simples de bacia (6) sem
alterações significativas. As imagens por RM em T2 e STIR nos planos coronal (7A) e axial (7B) mostram edema no ramo isquiopubiano direito, bem como
nas partes moles adjacentes.

A RM, porém, permite avaliação mais ântero-posterior, outras incidências devem – avaliação de lesões das partes moles
completa, demonstrando não só o local da ser obtidas para melhor delinear e visibi- intrapélvicas;
fratura e o tamanho do fragmento, mas tam- lizar as injúrias. Oblíquas são recomen- – quando há suspeita de lesão do labro
bém lesões de partes moles (musculares e dadas para avaliação do acetábulo, e as acetabular, a artrorressonância (injeção in-
tendíneas) associadas. “inlet” e “outlet views” são melhores para tra-articular de gadolínio) é o exame mais
Os locais mais comuns de fratura por avaliar o sacro e a articulação sacroilíaca. sensível.
avulsão no quadril são(5): Nos traumas severos a TC demonstra A fratura acetabular mais freqüente é a
a) Espinha ilíaca ântero-superior – ocor- melhor a localização, o tamanho e o des- da parede posterior(1,3).
re secundariamente à tração ocasionada locamento dos fragmentos, particularmente Fraturas do acetábulo são melhor de-
pela contração súbita do músculo sartório; da coluna posterior do acetábulo (Figura monstradas pela TC helicoidal “multislice”,
b) espinha ilíaca ântero-inferior – é me- 10). A tomografia é superior também à ra- com subseqüente reformatação e obtenção
nos freqüentemente lesada do que a ânte- diografia para avaliação de corpos livres de imagens tridimensionais, bastante úteis
ro-superior e sua fratura resulta de tração intra-articulares, hematomas pélvicos, fra- para classificação da injúria acetabular, de-
ocasionada pela contração do músculo turas sacrais e diástase da articulação sa- monstração de cominução da fratura, alte-
reto femoral; croilíaca. Buckley e Burkus recomendam rações rotacionais, deslocamentos e detec-
c) grande trocanter (musculatura glú- a TC para as seguintes indicações: ção de corpos livres intra-articulares.
tea); – Fratura do anel pélvico, na qual há A RM é útil na avaliação das colunas
d) pequeno trocanter (músculo psoas); suspeita de injúria importante do anel pos- do acetábulo e da medula óssea subcon-
e) tuberosidade isquiática (musculatu- terior, que não foi confirmada pela radio- dral (Figuras 11 e 12). É superior à tomo-
ra posterior – semimembranoso, semiten- grafia convencional; grafia na demonstração de injúrias do ner-
dinoso e bíceps femoral) (Figuras 8 e 9). – fraturas verticais duplas da pelve, nas vo ciático e na detecção de fraturas ocul-
quais a radiografia simples não pode de- tas da cabeça femoral.
c) Fraturas do fêmur e acetábulo monstrar sua instabilidade; A TC e a RM são métodos bastante
A anatomia radiológica do quadril é – avaliação da extensão da fratura para úteis na demonstração das fraturas do fê-
complexa. Após iniciar a radiografia em a porção articular do acetábulo; mur proximal, podendo detectar lesões não

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Figura 8. As imagens por RM em T2 no plano coronal mostram fratura por arrancamento da


tuberosidade isquiática direita, com edema nas partes moles adjacentes.

Figura 9. As imagens por RM em T2 no plano axial mostram fratura por arrancamento da tuberosidade isquiática direita, com edema
nas partes moles adjacentes.

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Figura 10. Fratura do acetábulo com luxação posterior da cabeça femoral.

Figura 11. Queda há uma semana. RX normal.

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B


Figura 12. Mesmo caso da figura
11. As imagens por RM em T1 (A)
e T2 (B) no plano axial mostram
fratura do acetábulo esquerdo.

demonstradas pela radiologia convencio- A especificidade da radiografia simples alcoolismo, pancreatite, obesidade, hemo-
nal (fraturas radiograficamente ocultas). para alterações avançadas da osteonecro- globinopatias, fenômeno disbárico e doen-
Imagens axiais e sagitais oferecem me- se é alta e este exame continua sendo indi- ça de Gaucher.
lhor detalhe da morfologia da fratura do cado na suspeição de osteonecrose. O diagnóstico precoce é essencial, com
que as imagens no plano coronal. Se a radiografia mostra colapso subcon- a finalidade de preservar a cabeça femoral.
Fraturas do fêmur são classificadas co- dral, exames adicionais têm pouco valor, É muito comum o acometimento da porção
mo intracapsulares (subcapital, transcervi- exceto para avaliação do lado oposto. ântero-lateral da cabeça femoral. A carti-
cal, base cervical) e extracapsulares (trans- Para o estudo de pacientes em que há lagem articular está intacta na fase inicial,
trocantérica e subtrocantérica). suspeita de osteonecrose, foi proposta a sendo comum a evolução para artrose.
A ressonância é particularmente útil na seguinte seqüência: A TC é menos sensível do que a RM na
identificação das fraturas do colo femoral – Em todos os casos o estudo radioló- detecção da necrose avascular. O primeiro
não deslocadas, que requerem tratamento gico de alta qualidade deve ser feito; sinal de necrose na tomografia é o sinal do
cirúrgico mas não são detectadas pela ra- – se o estádio da osteonecrose identifi- asterisco, que é uma condensação de tra-
diografia simples. cada for estádio III ou mais avançado, pros- béculas, semelhante a uma estrela dentro
As imagens em T1 e STIR são bastante seguir a investigação não trará grandes da cabeça femoral(1).
úteis para o diagnóstico das fraturas, de- benefícios; A TC provavelmente é superior à RM
monstrando edema na medular óssea, so- – para o estádio II a ressonância é bem na necrose de longa duração para delinear
lução de continuidade na cortical, edema indicada para estimar o tamanho e o local a deformidade estrutural da cabeça femo-
e/ou hematoma nas partes moles ao redor preciso da lesão; ral, caracterizada por fratura subcondral,
(Figuras 13 e 14). – se a radiografia for normal e a suspei- colapso e fragmentos intra-articulares.
A administração endovenosa do gado- ção forte, a RM tem indicação, em virtude A RM é mais sensível do que a TC para
línio é útil para avaliar o estado perfusio- da sua alta sensibilidade. o diagnóstico precoce da necrose avascu-
nal da cabeça femoral após as fraturas do A osteonecrose do quadril resulta de lar da cabeça femoral, mostrando sensibi-
colo, importante por causa da elevada in- suprimento vascular insuficiente para a ca- lidade de 97% e especificidade diagnósti-
cidência de osteonecrose pós-traumática da beça femoral, sendo, na maioria das vezes, ca de 98%(2,3). É também eficaz em avaliar
cabeça(2). pós-traumática, geralmente relacionada a o estado da cartilagem articular, derrame
fratura do colo femoral ou luxação do qua- articular e o estado da medula óssea, o que
d) Necrose avascular dril. A necrose relacionada ao trauma é ge- não é possível pela radiologia convencio-
A radiografia convencional mantém ralmente unilateral, enquanto a osteonecro- nal, tomografia e cintilografia. A RM pode
sensibilidade para pequenas lesões, tornan- se não-traumática é bilateral em até 70% mostrar irregularidade da superfície da ca-
do-se definitivamente positiva após o de- dos casos(2,3). beça femoral, associada à presença de pe-
senvolvimento de um halo esclerótico de- A necrose avascular não-traumática quena área com sinal hipointenso na se-
vido à reação óssea entre a isquemia e o pode ser idiopática ou estar relacionada ao qüência em T1 no osso subcondral, indi-
osso viável. uso de esteróides, doenças do colágeno, cativa de necrose (Figuras 15, 16, 17 e 18).

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Figura 13. RX simples: fratura no grande tro- A B


canter direito? Figura 14. As imagens por RM em coronal T1 (A) e T2 (B) confirmam fratura no grande trocanter direito.

Figura 15. Dor no quadril direito. RX: osteonecrose da cabeça femoral direita?

Figura 16. Dor no quadril direito. TC: normal?

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O “double line sign” (Figura 19) é ob-


servado em cerca de 80% dos casos, con-
siderado específico e patognomônico da
necrose avascular, e consiste de uma faixa
irregular com sinal hipointenso na seqüên-
cia em T2 na cabeça femoral, associada à
presença de hipersinal na sua porção mais
superficial.
Na fase inicial da doença (Figuras 20,
21 e 22) o espaço articular está preserva-
do(2,3). Com o passar do tempo, a cabeça
femoral perde sua configuração esférica e
o espaço articular pode alargar-se. Na fase
tardia da doença é comum o aparecimento
de osteoartrose, caracterizada pela destrui-
ção da cartilagem e redução do espaço ar-
Figura 17. As imagens por RM em T1 no plano coronal mostram osteonecrose bilateral. ticular.
O plano sagital é bastante útil para de-
monstrar a extensão ântero-posterior do en-
volvimento da cabeça femoral.
Pode haver discreta sinovite e derrame
articular.
O procedimento de descompressão usa-
do para tratamento tem como objetivo ali-
viar a pressão intra-óssea, podendo permi-
tir neovascularização da cabeça, a qual
pode ser documentada pela RM(2).
Nos casos em que o paciente apresenta
quadro clínico sugestivo de necrose avas-
cular da cabeça femoral e a RM sem con-
traste é completamente normal, a adminis-
tração endovenosa do gadolínio é capaz de
demonstrar pequena área hipocaptante de
contraste na cabeça femoral, indicativa de
necrose em fase inicial. Portanto, a admi-
Figura 18. As imagens por RM em T2 no plano coronal mostram osteonecrose bilateral, com nistração endovenosa de gadolínio aumen-
importante edema à direita. ta a sensibilidade diagnóstica(2).

A B

Figura 19. As imagens por RM em T1 (A) e T2 (B) no plano coronal mostram osteonecrose bilateral da cabeça do fêmur. Observa-se sinal da linha dupla
(seta) nas imagens pesadas em T2, bastante característico da osteonecrose.

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Figura 20. RX: osteonecrose da cabeça femoral direita com colapso.

Figura 21. As imagens por RM em T1 no plano coronal mostram osteonecrose da cabeça femoral direita, com colapso e importante edema na medula óssea.

Figura 22. As imagens por RM em T2 no plano coronal mostram osteonecrose da cabeça femoral direita, com colapso e importante edema na medula óssea.

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Finalmente, a necrose avascular da ca- do nervo ciático, cuja lesão é observada te, acometendo a cabeça, colo femoral e
beça femoral pode se apresentar inicial- em 8% a 19% dos deslocamentos posterio- região transtrocantérica, podendo estender-
mente como área mal definida de edema res do quadril(1,3). se à porção proximal da diáfise (Figuras
acometendo a cabeça, colo e região trans- 23 e 24). Não há acometimento das partes
trocanteriana do fêmur, aspecto semelhante 4. Edema e osteoporose transitória moles ao redor e derrame articular é um
ao observado no edema transitório do qua- A osteoporose transitória do quadril é achado comum.
dril(2). uma entidade de causa desconhecida que O quadro clínico e as alterações no exa-
Uma das contribuições mais importan- afeta freqüentemente o quadril esquerdo na me de RM se resolvem em seis a dez me-
tes da RM no diagnóstico da osteonecrose mulher, mas pode ser bilateral no sexo mas- ses(2).
é a capacidade de detectar a lesão em pa- culino. A correlação com a radiologia conven-
cientes em que a radiografia simples, a TC Trata-se de uma doença autolimitada, cional é necessária para o diagnóstico pre-
e a cintilografia são normais. na qual o paciente apresenta dor local e ciso, pois na ausência de osteoporose o
Imagens de RM tridimensionais podem restrição dos movimentos na ausência de termo mais apropriado é edema transitório
ser utilizadas para avaliar o volume do aco- infecção ou trauma(2). do quadril.
metimento ósseo da cabeça femoral. Radiograficamente, o paciente com os- Áreas de edema mal definido na medu-
teoporose transitória mostra desminerali- la óssea também podem representar osteo-
3. Deslocamentos zação localizada da cabeça femoral após porose migratória, osteonecrose em fase
A maioria dos deslocamentos do qua- três a seis semanas do início dos sintomas. inicial, processos inflamatórios como tu-
dril são posteriores e estão associados à As radiografias na fase inicial são nor- berculose, lesão neoplásica (Figura 25) e
fratura da rima acetabular e/ou da cabeça mais. reação de “stress”(2).
femoral. As fraturas e deslocamentos do A RM demonstra área mal definida de A TC é pouco sensível para o diagnós-
quadril podem complicar com artrite crô- edema ósseo, com baixo sinal nas imagens tico do edema/osteoporose transitória do
nica e osteonecrose, sendo a TC e a RM em T1 e sinal hiperintenso nas imagens em quadril.
úteis na sua identificação precoce. A res- T2 com supressão de gordura e STIR, a A radiologia convencional não demons-
sonância também é útil para a avaliação qual pode apresentar captação de contras- tra as alterações.

A B
Figura 23. Dor no quadril esquerdo. As imagens por RM em T1 (A) e T2 (B) no plano axial mostram edema na cabeça femoral esquerda.

Figura 24. As imagens por RM em T2 no plano axial mostram desaparecimento do edema com tratamento conservador. Paciente assintomático.

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5. Osteomielite
A osteomielite ao redor do quadril re-
sulta mais freqüentemente de dissemina-
ção hematogênica ou com menos freqüên-
cia de extensão por contigüidade a partir
de um foco infeccioso na pele ou tecido
subcutâneo adjacente.
A RM é capaz de estabelecer o diag-
nóstico mais cedo do que a radiologia con-
vencional e a TC, apresentando sensibili-
dade semelhante, porém maior especifici-
dade do que a cintilografia(2,3).
Na osteomielite aguda o papel da RM é
detectar precocemente a alteração óssea,
avaliar sua extensão e o comprometimen-
A to da articulação adjacente e das partes
moles ao redor. A lesão óssea é demons-
trada como área mal definida, com sinal
hipointenso na seqüência em T1 e hiperin-
tenso nas seqüências em T2 com supres-
são de gordura, captante de contraste, aco-
metendo a medular óssea (Figura 26).
Reação periosteal caracterizada pela
presença de hipersinal nas imagens em T2
adjacente à superfície óssea e impregna-
ção de contraste pode ser evidenciada.
Nas crianças e adolescentes, devido ao
padrão de suprimento vascular, a osteomie-
lite femoral comumente se localiza na re-
gião metafisária, a qual é intra-articular, de
B
modo que a infecção pode alcançar rapi-
Figura 25. As imagens por RM em coronal T1 (A) e axial T2 (B) mostram lesão na cabeça e colo do damente a articulação, determinando des-
fêmur à direita (metástase de mama). truição da cartilagem e sinovite(2,3).

A B
Figura 26. As imagens por RM em coronal T2 (A) e axial T2 (B) mostram osteomielite do fêmur esquerdo, com RX normal, em paciente de 18 meses de
idade.

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Processo inflamatório com ou sem for- A ressonância permite o diagnóstico Recentemente, o estudo dinâmico com
mação de abscessos nas partes moles ao precoce da osteíte, mostrando edema ós- gadolínio com a obtenção de imagens bas-
redor é facilmente identificado na RM. seo e em alguns casos nas partes moles tante precoces com 45 e 90 segundos e
Na fase aguda da osteomielite os sinais adjacentes (Figura 27)(4). imagens tardias após três minutos tem sido
de TC sugestivos do diagnóstico são des- utilizado na fase após tratamento (cirurgia,
truição da cortical óssea, reação periosteal NEOPLASIAS rádio e/ou quimioterapia) das lesões neo-
e hiperdensidade na medular óssea(1). plásicas malignas, com o objetivo de dife-
A osteomielinite subaguda, caracteri- Para a avaliação das neoplasias primá- renciar lesão residual/recidivante de alte-
zada pelo abscesso de Brodie, pode ser rias ósseas, a radiografia simples ainda é o ração pós-tratamento(6).
identificada à TC e à RM na forma de co- primeiro exame, podendo oferecer infor-
leção líquida intra-óssea focal, alongada, mações úteis capazes de sugerir a benigni- HERNIAÇÃO SINOVIAL
cujo conteúdo pode apresentar discreta hi- dade ou a malignidade da lesão, bem como
perdensidade na tomografia e discreto hi- o diagnóstico específico(1). É uma alteração comum, tipicamente as-
persinal na seqüência em T1, em compa- A TC é capaz de complementar a in- sintomática, representada por um defeito
ração com o líquido simples, e a esclerose formação oferecida pela radiografia sim- cortical da face ântero-superior do colo
circundante apresenta-se hiperdensa na TC ples, permitindo maior detalhe da cortical femoral, próximo à junção entre o colo e a
e com sinal hipointenso em todas as se- óssea e das estruturas ao redor. Porém, a cabeça do fêmur. A herniação sinovial pode
qüências de RM. RM é o grande exame na avaliação dos pro- desaparecer espontaneamente ou aumen-
Na fase crônica da osteomielite o se- cessos infiltrativos difusos da medula ós- tar de tamanho e produzir dor, geralmente
qüestro ósseo é mais bem demonstrado sea, tais como leucemia, linfoma e implan- em atletas.
pela TC(1). Trata-se de fragmentos ósseos tes secundários, sendo capaz de firmar o A TC confirma a localização anterior
avasculares escleróticos, circundados por diagnóstico mais precocemente do que a do cisto, mostra suas margens bem defini-
tecido de granulação, proporcionando meio radiografia simples e a TC e com maior das e o afilamento da cortical femoral ad-
ideal para os organismos, devendo ser con- especificidade do que a cintilografia óssea. jacente(4,5).
siderados focos de infecção residual na Nas lesões localizadas do osso, a extensão A RM demonstra foco ovalado ou ar-
circunstância clínica apropriada. completa do acometimento ósseo e o com- redondado, com sinal hipointenso nas se-
A tomografia é considerada o exame de prometimento das partes moles ao redor qüências em T1 e hiperintenso nas seqüên-
escolha para a detecção do seqüestro ósseo. são melhor demonstrados pela RM do que cias em T2, consistente com líquido.
pelos outros métodos de imagem.
6. Osteíte púbica A infiltração neoplásica da medula ós- LABRO
É um achado comum em atletas de cor- sea é facilmente identificada, por causa da
rida e jogadores de futebol, sendo respon- perda do hipersinal habitual nas imagens Lesões do labro acetabular ocorrem não
sável por dor na região da sínfise púbica. em T1 da medula óssea normal, resultante só em crianças mas também em adultos jo-
A radiografia simples e a TC podem de- da infiltração pelas células neoplásicas (Fi- vens e raramente em pacientes idosos.
monstrar reabsorção e irregularidade das guras 28 e 29). Extensão às partes moles Clinicamente, o paciente apresenta dor,
porções mediais dos ossos púbicos, com adjacentes também é mais bem demons- restrição de movimentos e estalido articu-
alargamento da sínfise púbica, rarefação e trada pela RM, em virtude da sua excelen- lar. Alterações displásicas do acetábulo
esclerose óssea dos ramos púbicos. te resolução de contraste(2,3). podem ou não ser observadas(2).



A B
Figura 27. As imagens por RM em T2 nos planos coronal (A) e axial (B) mostram osteíte púbica associada a edema na musculatura adutora à direita.

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Imagenologia do quadril

B
Figura 28 (A,B). Dor no quadril direito e claudicação. RX normal. Paciente com dois anos de idade.

Figura 29. As imagens por RM em T2 no plano coronal mostram lesões no fêmur direito e ramo pubiano esquerdo (granuloma eosinofílico).

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Domingues RC et al.

A RM é superior à TC na avaliação do nóstico(3), sendo mais eficazes do que a res- Artrites inflamatórias mostram redução
labro acetabular, principalmente com a uti- sonância convencional. concêntrica do espaço articular, produzin-
lização de bobinas de superfície ou de bo- do migração axial da cabeça femoral, bem
bina “phase-array” com campo de visão ARTRITES como erosões subcondrais.
restrito (FOV pequeno). A avaliação da articulação sacroilíaca
A lesão do labro é tipicamente repre- 1. Osteoartrite pela radiografia convencional é sempre
sentada pela presença de sinal hiperinten- A radiografia convencional é a primei- difícil.
so nas imagens em T2 (Figuras 30 e 31), ra modalidade de imagem na suspeição de A osteoartrite é a forma mais comum
podendo ou não haver cisto ganglion para- artrite ou infecção do quadril. de degeneração da cartilagem articular, com
articular e/ou intra-ósseo associado. A osteoartrite primária é identificada incidência maior em pacientes idosos(1,3).
Artrorressonância e artrotomografia po- por redução do espaço articular, osteofito- A TC e a RM podem demonstrar redu-
dem ser utilizadas para confirmar o diag- se, esclerose e cistos subcondrais. ção do espaço articular, esclerose e cistos

➘ ➘

A B
Figura 30. As imagens por RM em T2 no plano coronal (A,B) mostram lesão labral esquerda.

A B
Figura 31. As imagens por RM em T2 no plano sagital oblíquo (A,B) mostram destacamento labral superior.

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Imagenologia do quadril

subcondrais e osteófitos nas estruturas ós- cular, bem como a impregnação de con- A TC é útil na demonstração dos cor-
seas adjacentes (Figuras 32 e 33). Cisto si- traste na sinóvia e a alteração da intensi- pos livres intra-articulares, porém a RM
novial também pode ser observado. dade de sinal das estruturas ósseas envol- permite a avaliação mais completa da arti-
Afilamento e irregularidade da cartila- vidas (Figuras 34 e 35). culação e detecção dos corpos livres carti-
gem articular são melhor demonstrados na laginosos. As anomalias encontradas na
RM nos planos sagital e coronal nas se- 3. Osteocondromatose sinovial RM dependem do estádio da doença.
qüências em densidade protônica ou pesa- A osteocondromatose é uma doença Nos casos de condromatose os nódulos
da em T2 com supressão de gordura. monoarticular idiopática que resulta de não estão calcificados, apresentando sinal
A artrorressonância pode ser necessá- metaplasia sinovial, com formação de nó- iso ou hipointenso nas imagens em T1 e
ria para a detecção de pequeninas lesões dulos cartilaginosos que podem ossificar hiperintenso nas imagens em T2(2,3).
condrais. ou calcificar. Os contornos lobulados, associados à
Afeta geralmente as articulações do joe- presença de septos fibrosos com sinal hi-
2. Osteoartrite infecciosa lho, quadril ou cotovelo, sendo mais co- pointenso nas imagens em T2, geralmente
A RM é um método bastante sensível mum em pacientes jovens e adultos na 3ª permitem a distinção entre condromatose
para detectar a presença de derrame arti- e 4ª décadas de vida. sinovial e derrame articular (Figura 36)(2).


A B

C D
Figuras 32 (A,B) e 33 (C,D). As imagens por RM em T1 nos planos coronal (A,B) e sagital (C,D) mostram lesões subcondrais na cabeça femoral e acetábulo,
associadas a redução do espaço articular.

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Domingues RC et al.

Figura 34. Artrite infecciosa. As imagens por RM em T2 no plano coronal mostram importante derrame articular à esquerda.

➘ ➘

Figura 35. Artrite infecciosa. As imagens por RM em T1 no plano coronal, após administração endovenosa de gadolínio, mostram alteração da intensidade
de sinal da cabeça femoral à esquerda.

A B
Figura 36. Condromatose sinovial. As imagens por RM em T1 (A) e T2 (B) no plano coronal mostram formação expansiva na articulação coxo-femoral
esquerda.

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Imagenologia do quadril

Na osteocondromatose a calcificação A ressonância é o exame ideal para o vo de ruptura de fibras musculares, bem
produz sinal hipointenso nas imagens em diagnóstico, uma vez que o depósito de he- como coleção subaponeurótica.
T1 e T2 e na ossificação a intensidade de mossiderina na sinóvia produz alterações O aspecto do hematoma na RM depen-
sinal é semelhante à da medula óssea. típicas na articulação, caracterizadas por de da fase em que foi estudado. Geralmente
Erosões ósseas podem ser demonstra- áreas com sinal hipointenso nas imagens apresenta sinal hiperintenso nas imagens
das, assim como impregnação de contras- em T1 e T2 e, principalmente, na seqüên- em T1 ou sinal hipointenso nas imagens
te na sinóvia. cia em T2*(2,3). em T1 e hiperintenso nas imagens em T2,
A artrorressonância é útil em mostrar Há espessamento e impregnação de indicativo de coleção (Figura 39).
os corpos livres ósseos e cartilaginosos(2). contraste na sinóvia, bem como erosões Uma complicação da contusão com he-
ósseas subcondrais. matoma é o desenvolvimento da miosite
4. Artrite reumatóide Depósito de hemossiderina na sinóvia ossificante, que representa calcificação ou
Na artrite reumatóide as alterações osteo- pode ser observado também em casos de ossificação no local da injúria. A radiogra-
articulares podem ser evidenciadas pela ra- hemofilia, desordens hemorrágicas, he- fia simples e a TC demonstram o padrão
diografia simples e pela TC, porém a RM mangioma sinovial e outros processos as- periférico característico da ossificação(6).
permite detectar mais precocemente a le- sociados com hemartrose crônica. Na RM o aspecto é inespecífico e a os-
são da cartilagem articular e a inflamação sificação periférica pode ser difícil de iden-
sinovial. LESÕES MUSCULOTENDÍNEAS tificar (Figura 40). Massa de partes moles
Espessamento sinovial com sinal hipo- heterogênea pode ser observada.
intenso na seqüência em T1, hiperintenso Lesões musculares e musculotendíneas As lesões musculares ocorrem geral-
na seqüência em T2 e impregnação de con- são provavelmente a forma mais comum de mente próximo à junção miotendínea, po-
traste pode ser observado, caracterizando injúria relacionada ao esporte no quadril e dendo ser parciais ou completas.
sinovite, sendo comuns derrame articular região pélvica, podendo resultar de trau- Herniações musculares através da fás-
e erosões ósseas subcondrais(2). ma direto (contusão) ou estiramento(4,5). cia profunda podem ser demonstradas no
Na fase avançada da artrite, sinais de Para todos os casos de lesão muscular estudo dinâmico de RM.
artrose podem ser observados. e/ou tendínea, a ressonância é superior à Lesões tendíneas podem ser avaliadas
tomografia no diagnóstico, graças à sua ex- pela US, TC e RM.
5. Sinovite vilonodular pigmentada celente resolução de contraste para partes A ressonância é o exame de escolha para
Trata-se de doença de etiologia desco- moles. a demonstração das lesões tendíneas ao re-
nhecida, que afeta, geralmente, adultos na Contusões e estiramentos musculares dor do quadril, que podem ser representa-
terceira e quarta décadas de vida, os quais são caracterizados pela presença de ede- das pela ruptura parcial ou completa e pela
irão apresentar dor articular agravada pela ma na substância do músculo, de limites tenossinovite.
atividade. mal definidos, com sinal iso/hipointenso Na ruptura parcial, foco com sinal hi-
Embora a articulação do joelho seja a nas seqüências em T1 e hiperintenso nas perintenso nas imagens em T2 ou STIR é
mais afetada, esta doença pode acometer seqüências em T2 com supressão de gor- observado na substância do tendão.
o quadril. Na fase precoce da doença a ra- dura e STIR (Figuras 37 e 38). Pode ou Na ruptura completa, solução de conti-
diografia simples é normal. não haver hematoma de permeio, indicati- nuidade com retração das extremidades

Figura 37. Estiramento do músculo bíceps femoral. As imagens em T2 no plano coronal mostram presença de edema.

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Domingues RC et al.

Figura 38. Mesmo caso da figura 37. Controle três dias depois mostra importante melhora do edema.

A B
Figura 39. As imagens por RM em T1 (A) e T2 (B) no plano coronal mostram hematoma traumático no músculo vasto intermédio.

A B
Figura 40. As imagens por RM em T1 (A) e T2 (B) no plano axial mostram miosite ossificante do músculo vasto intermédio (seta), com edema ao redor.

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Imagenologia do quadril

rotas é demonstrada, podendo ser medido cia lata sobre o grande trocanter. É acha- distendida e inflamada, contendo líquido
o “gap” entre os fragmentos (Figura 41). do comum em corredores, causando dor na hipoecóico ao ultra-som, hipodenso à to-
A tenossinovite é caracterizada pela face lateral da raiz da coxa (Figura 42). mografia, e com intensidade de sinal se-
presença de líquido na bainha tendínea. b) Bursa isquioglútea – Sua inflamação melhante à de líquido em todas as seqüên-
resulta em dor na nádega e pode ser con- cias de ressonância (Figura 43).
BURSITES fundida com patologia da coluna lombar. A síndrome do estalido do quadril tem
c) Bursite do iliopsoas – Esta bursa lo- sido associada à síndrome da banda ilio-
As bursas do quadril que mais freqüen- caliza-se profundamente ao músculo ilio- tibial, com irritação da bursa trocantérica
temente se tornam inflamadas em atletas psoas e, quando inflamada, pode haver pela banda iliotibial.
são(4,5): uma sensação audível causada pela passa- Corpos livres intra-articulares e lesão
a) Bursa trocantérica – Torna-se infla- gem do tendão do iliopsoas sobre a emi- do labro devem ser considerados no diag-
mada por causa da irritação repetitiva pro- nência iliopectínea no púbis. Ultra-som, nóstico diferencial da síndrome do estalido
vocada pelo deslizamento do tensor da fás- tomografia e ressonância mostram a bursa do quadril.

Figura 41. As imagens por RM em T2 no plano coronal mostram ruptura completa do reto femoral esquerdo.


A B
Figura 42. As imagens por RM em T2 nos planos coronal (A) e axial (B) mostram edema na bursa trocanteriana direita.

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Domingues RC et al.


A B
Figura 43. As imagens por RM em T2 no plano coronal (A) e T1 no plano axial (B) mostram a presença de líquido na bursa iliopsoas à esquerda.

➘ ➘

Figura 44. As imagens por RM em T2 no plano axial mostram edema no músculo piriforme direito.

SÍNDROMES DE COMPRESSÃO estruturas nervosas e as alterações nas par- DJ, Zerhouni EA, eds. Tomografia computadori-
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