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Nosso corpo físico é impermanente. Passamos pela infância e adolescência. Nossa mente também é
impermanente.
Nossos valores também mudam. Quando éramos crianças, nossa mãe era a única coisa que importava.
Na medida em que crescemos, nossa atenção se voltou para os brinquedos, para as outras crianças e
depois para a escola. Mais tarde, passamos a nos interessar por namoro, casamento e trabalho.
Todos os dias nos deparamos com a verdade da impermanência. Ela está nos jornais e na televisão:
alguém morreu, um avião caiu, um país foi devastado pela guerra.
Pense em todos os poderosos, sábios e santos que agora são apenas figuras históricas, cujas vidas hoje
são apenas histórias que gostamos de ouvir.
Tudo em nossas vidas, posses, riquezas, relacionamentos, é temporário e está em constante mutação.
Nosso corpo, fala, mente e ambiente mudam minuto a minuto, segundo a segundo.
O nosso pior inimigo pode um dia vir a ser o nosso melhor amigo. Casais hoje tão apaixonados que mal
podem ficar separados por uma hora, depois de alguns anos poderão vir a sentir repulsa só de ver um ao
outro. Não há nada que não oscile, decaia ou se transforme.
Nossos humores são susceptíveis às condições externas. Em uma manhã acordamos contentes e tudo
parece estar perfeito. Então alguém telefona com más notícias e subitamente ficamos infelizes. Se alguém
nos elogia, ficamos satisfeitos. Se alguém nos insulta, ficamos furiosos.
Cada frase que falamos, ao terminar, dá lugar à próxima. Cada pensamento ou emoção desaparece e dá
lugar a outro. Isso acontece com tudo, em toda parte. Simplesmente não estamos sintonizados com este
processo, presumimos que alguma coisa vai durar até que, de repente, notamos que envelheceu. No
mesmo momento em que uma casa é construída já começa a se deteriorar; em cem anos ou menos, estará
lamentavelmente danificada.
Outrora havia poucas pessoas, agora milhões se aglomeram nas metrópoles imensas. Outrora o universo
não existia, passou a existir e algum dia vai acabar, como tudo o que contém. As estações do ano mudam, o
dia torna-se noite. Partículas subatômicas transmutam e se deterioram.
Algumas pessoas acham que a ideia de impermanência é deprimente, mas ela é realmente a verdade da
nossa experiência.
Aceitá-la cura o pensamento mágico de que podemos protelar o processo inexorável da mudança, e nos
dá uma capacidade maior de aceitação e mais alegria.
Se soubéssemos que todo relacionamento é frágil e propenso a mudança, perceberíamos que não há
tempo para conflitos. Se compreendêssemos verdadeiramente que podemos não ter mais um dia sequer,
pelo menos não destruiríamos as nossas oportunidades e as dos outros de desfrutar dessa vida enquanto a
temos.
Seja qual for a sua experiência, nunca se esqueça que ela irá mudar. O mundo é assim. Essa compreensão
lhe permitirá apreciar o que você possui e aproveitá-lo enquanto dura. Quando perder algo, você não será
tomado de surpresa, pois não terá pressuposto que nunca poderia perdê-lo. As pessoas se vão, as casas se
deterioram e todos morrem. No momento em que você compreender a impermanência, essas coisas não o
perturbarão.
A consciência de que nada é duradouro confere equilíbrio às nossas vidas. Percebemos que o que quer
que aconteça de bom ou ruim é impermanente, mais cedo ou mais tarde o pêndulo irá para a direção
oposta.
Quando entendemos de fato que tudo é impermanente, naturalmente sentimos compaixão pelos outros,
pois vemos que acreditam na solidez de suas experiências; sua crença de que estas são estáveis e confiáveis
faz com que sofram. A consciência sobre a impermanência e a compaixão que ela desperta tornam-se a
fundação da nossa vida e da nossa prática.
A CONTEMPLAÇÃO DA IMPERMANÊNCIA
A mera compreensão teórica da impermanência não terá muito impacto na nossa vida. A não ser que
verdadeiramente assimilemos o seu significado através da meditação, continuaremos a ansiar por coisas
que, sem dúvida, nos decepcionarão.
Comece examinando todos os aspectos da sua experiência: o universo, a terra, a vizinhança, os
relacionamentos, seu corpo, fala e mente, seus interesses e valores, e até mesmo a sua identidade. Você
encontra algo permanente?
Contemple, depois deixe a mente descansar, continuando com a meditação da contemplação e
relaxamento.
(Adaptado de textos dos livros “Para abrir o Coração” e “Portões da Prática Budista” de Chagdud Tulku
Rinpoche – Ed. Makara)