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·Acordos de acionistas no Direito Brasileiro lª Parte b) Caracterização

O acordo de acionistas no plano teórico Segundo a maior parte dos autores, que,
Guiomar T. Estrella Faria
entre nós, se têm detido no exame desta
Professora de Direito Comercial da Faculdade de Direito da UFRGS a) Histórico categoria especial de negócio jurídico, os
e da Escola Superior da Magistratura, Chefe do Departamento de
A Regulamentação, através do artigo 118 acordos de acionistas são contratos, já que
Direito Privado e Processo Civil - UFRGS
e seus § §, da Lei n 2 6.404/76, do Acordo resultam de deliberações de vontade e têm
de Acionistas, incorporou ao nosso sistema por objeto criar ejou modificar relações ju-
SUMÁRIO legal um instituto já conhecido do direito rídicas entre as partes acordantes, que se
Introdução; 1!. Parte: O acordo de acionistas no plano teórico; a) Histórico; b) Caracterização; 2!. Parte: O acordo societário brasileiro. obrigam a cumprir o estatuído e adquirem,
de acionistas no moderno Direito Brasileiro; a) Natureza dos Acordos de Acionistas; b) Espécies de Acordos de Embora não previstas pelo Decreto-Lei em razão do mesmo, o direito de, também
Acionistas; c) Modalidades de Acordos de Acionistas; d) Conteúdo dos pactos do acionariado; e) Vantagens do reciprocamente, se demandarem o cumpri-
n 2 2.627/40, as convenções entre acionistas
acordo de acionistas sobre outros pactos de formação de controle: holdings e sindicatos de ações. mento ou as sanções ao inadimplente.
sobre o exercício do direito de voto e a
alienação das respectivas ações ocorriam Já não é tão pacífica a qualificação civil
com certa freqüência, dando origem a lon- ou comercial, o que, num primeiro momen-
gas discussões doutrinárias. to, poderia parecer desprovida de interesse
Abstract Não nos vamos ocupar dos acordos de maior, já que, em princípio, as normas do
Contra os mesmos foi alegada a violação
quotistas, embora já bastante comuns na direito civil, disciplinadoras das relações en-
The present paper studies the "Acordos de da norma de ordem pública, que assegura
nossa atividade -geralmente pactuados para tre as partes contratantes, informam tam-
Acionistas"- shareholders' agreements - as they aos acionistas o pleno exercício do direito
harmonizar previamente· grupos antagôni- bém os contratos comerciais, aplicando-se
are regulated in the Brazilian Company Act of de voto, o quàl compreende também o di-
cos, com participações societárias equiva- as normas comerciais, aos casos expressos,
December 16, 1976. It is the outcome of apre- reito ao debate prévio nas assembléias ..
lentes, cujas vontades é necessário harmo- previstos nas leis específicas.
eminently bibliographical research, due to the Segundo esse entendimento, o acordo
nizar, na votação dos grandes interesses Esta qualificação - civil ou comercial
fact that it's subject is relatively new in our que determinasse aos acionistas firmatários,
sociais. Não os abordaremos porque sendo adquire relevância, no entanto, face a outra
country's legislation, in spite of it's having been como deveriam votar, cercearia o exercício
restrito o acesso aos Mercados de Capitais, divergência doutrinária sobre serem esses
discussed for many decades now, since sharehol- do direito de debater as questões em assem-
aos títulos de emissão das Companhias • • 7 • •
pactos parassoctats ou mtra-soctetanos ,
, • 8
der's agreements were introduced and became bléia1.
abertas, as sociedades por quotas de respon- pois é evidente que, sendo considerados in-
more and more important in companies' lives Já outros consideravam apenas vedados
sabilidade limitada são de pequeno interes- tra-societários, seguem a qualificação da
a!! over the country. Like other institutes in os acordos permanentes, que implicariam
se para nossa disciplina Instituições Finan-
renúncia definitiva ao direito de debater 2• norma principal que rege a companhia, que
Commercial Law, shareholders' agreements were ceiras.
Outros autores entendiam, ainda, fazer é sempre mercantil (Lei n 2 6.404/76, art. 22 ,
introduced in statute after having enjoyed 'lili- Nossa pesquisa foi, na sua essência, bi-
parte do direito de voto, também o direito § 1º).
despread aceptance for along time: practice indu- bliográfica, pois o tema é relativamente A despeito de toda a argumentação em
de dispor do mesmo, celebrando os acordos
ced legislation. novo na legislação, embora a discussão dou- com outros acionistas. Também considera- contrário de autores com o peso e a autori-
ln foreign Law these agreements, being strict- trinária lhe fosse anterior, já que, como vam a hipótes.e de quebra do acordo, que dade de um Carvalhosa ou de um Compa-
ly private and para-social contracts, do not have geralmente ocorre com a denominada maté- · acarretaria ao acionista apenas o dever de rato, entendemos, como Lamy Filho e Bu-
binding force except for the contracting sharehol- ria mercantil, os fatos atropelaram o direito indenizar os demais por perdas e danos 3 • lhões Pedreira, que os Acordos de
ders, and are accordingly ignored by the compa- e assim esses acordos vinham sendo celebra- Acionistas integram o direito societário
De qualquer forma, os acordos continua-
ny. Brazilian Company Act, in contras!, expli- dos, há bastante tempo. ram sendo celebrados, instalando-se inclusi- (pelo menos no direito brasileiro, como ve-
citly extends their effects to the company, Parece-nos desnecessário insistir na im- ve o costume de fazê-los arquivar pela com- remos mais extensamente na 2~ Parte deste
provided that the document is deposited in its portância desses pactos parassociais, de que panhia4. trabalho).
archives. Besides, Brazilian shareholders' agree- pode depender a própria vida da sociedade Diante dessa realidade, optaram os auto- Outra discussão travada na doutrina ver-
ments go farther than the institution of a voting a realização do seu objeto social. res do projeto - que resultou na Lei n 2 sa sobre a tipicidade ou não desses contra-
trust, even if they do not amount the constitu- Pretendemos não só caracterizá-los, 6.404/76 - introduzir o instituto do acordo tos.
tion of a holding company. como fixar os limites jurídico-legais à auto- de acionistas naquele texto, e o fizeram Autores há que os consideram negócios
nomia da vontade dos acordantes, reservan- como alternativa à holding e ao acordo ocul- perfeitamente tipificados em lei e também
do a tais institutos o seu verdadeiro papel to5. ali regulamentados 9, enquanto outros os
Introdução
de ativadores da vida e dos negócios das Os comentaristas têm assinalado a im- consideram uma categoria que compreende
No presente trabalho estamos nos pro- sociedades, e não de meros instrumentos de portância da introdução do instituto no diversos negócios diferentes entre si 10, não
pondo um exame dos Acordos de Acionis- exercício do poder oligárquico de controla- direito brasileiro, destacando-lhe, inclusive havendo nas normas que os regulam regras
tas das Sociedades por Ações. dores. um papel vivificador do direito acionário6 • que os uniformizem, impondo característi-
68 R. Fac. Direito UFRGS, Porto Alegre, 10: 68-78, jul. 1994
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cas próprias e lhes estabelecendo formalida- opção: ou seja, do grau de autonomia da convenção observável pela sociedade, não acionista, o voto, o que cominaria de ilici-
des especiais, salvo o arquivamento, que vontade das partes obrigadas - principal- tem o condão de substituir o ofício público tude o seu objeto.
não lhes altera a estrutura, nem modifica as mente do seu poder econômico- (tais acor- registrai, para os efeitos do artigo 18 do Em conclusão, podemos afirmar, com
relações entre as partes. dos poderiam vir a ser anulados, em juízo, Código Civil. tranqüilidade, a tendência, cada vez maior,
Partilhamos desta última posição. por vício de vontade do acordante e ainda Já para outros autores, o acordo de acio- na doutrina e na jurisprudência internacio-
Para convalidar as afirmações anteriores, abuso do poder econômico ou de posição nistas, embora não prefigurando o controle nais, a admitir a validade desses pactos, à
basta-nos examinar as espécies de acordos dominante). da sociedade, poderia ser considerado como medida que restrições vão cedendo à reali-
assinaladas por todos os comentaristas e já São bilaterais os acordos que estabelecerem associação, porque, como esta, não tem fi- dade do aumento considerável da prática
noticiadas na doutrina estrangeira e no nos- reciprocidade nas posições e interesses das partes nalidade lucrativa 12 • dessas convenções. É o velho modo de for-
so direito anterior. convenantes, pouco importando para tal ca- Valem para a concepção associativa as mação consuetudinária do direito comer-
A maior parte dos autores distingue os racterização o número de participantes de mesmas objeções opostas à societária - pois, cial, sempre presente, exercendo sua força
acordos de acionistas em acordos de bloqueio um ou de outro lado, pois o caráter bilate- na verdade, em qualquer das duas hipóteses geradora de normas, que acabam incorpora-
e acordos de comando; aqueles seriam os que ral é fornecido exatamente pela existência haveria o necessário aporte de esforços e das em leis.
determinam o bloqueio ou proibição da de blocos de acionistas, em dois pólos de recursos e um novo ente seria criado, o que
venda das ações dos convenantes, enquanto interesses divergentes. não ocorre num acordo de acionistas.
os acordos de comando seriam os que fixam É importante esta caracterização, pois Outra concepção assemelha os acordos 2~Parte
regras restritivas ao direito de voto, deter- tais acordos vão seguir as regras dos negó-
minando como deverão os convenantes de acionistas às sociedades controladoras O acordo de acionistas no moderno
cios jurídicos bilaterais, com destaque espe- ou holdings. Direito Brasileiro
exercê-lo, em ocasiões e sobre matérias pré- cial para o inadimplemento, que no regime
-fixadas. No direito europeu e no direito america-
estatuído pelo artigo 118, § 32 , poderá levar
Alguns autores ainda destacam a existên- no em que o acordo de acionistas (sindica- O legislador brasileiro de 1976 assumiu
à execução judicial específica das obrigações
cia de acordos consorciais, quando os conve- to, naquele ou voting trust, neste) impllq, posição de vanguarda, face aos demais sis-
assumidas, não se resolvendo, portanto,
nantes fixam objetivos coletivos ou co- ou transferência total das ações, ou de parte temas jurídicos vigentes, ao reconhecer ex-
simplesmente em p'erdas e danos, conforme
muns, por exemplo, o controle da dos direitos a elas inerentes, para os dirigen- pressamente a validade dos acordos de acio-
a regra geral dp direito civil.
companhia, enquanto outros acordos se- tes do sindicato ou trustees, dos voting trust, nistas, estabelecendo normas reguladoras
Acordos plurilaterais, por sua vez, se-
riam de prestações, porque as estabelece- há uma maior aproximação da holding que, do instituto, no seu artigo 188 e §§.
riam aqueles, nos moldes da tradicional fi-
riam recíprocas, em direitos e obrigações de qualquer forma, ainda é bem distinta, Na exposição de motivos, assim se ex-
gura delineada por Ascarelli, para caracteri-
entre as partes. pelo seu caráter permanente e de controle pressaram os redatores do Projeto:
zar ·o ato constitutivo das sociedades
Só esta grande variedade de negócios, .decorrentes de um somatório de vontades di- total sobre a companhia, que tem as suas "... modalidade contratual de prática in-
que podem ser objeto de acordos de acio- recionadas a um mesmo fim. Seriam típicos os ações vinculadas ao sindicato ou voting tensa, mas que os códigos teimam em igno-
nistas, nos parece suficiente para descartar acordos de acionistas para obtenção e con- trust. rar ... figura jurídica da maior importância
a tipicidade pretendida, pois cada um daque- servação do controle das companhias. De qualquer forma, o acordo de acionis- para a vida comercial... como alternância à
les pactos terá regras próprias, distintas das Outro tema bastante discutido na dou- tas, mesmo com as características acima holding (solução buscada por acionistas que
que vierem a reger os demais. trina diz respeito à natureza, a essência ju- apontadas, que lhe foram dadas no direito pretendem o controle pré-constituído, mas
Isto sem considerarmos que dificilmente rídica, desses acordos. estrangeiro, tem sobre a constituição da hol- que apresenta os inconvenientes da transfe-
encontraremos um Acordo de Acionistas Autores há que os consideram constitu- ding a vantagem inconteste de ser sempre rência definitiva das ações para outra socie-
que contenha apenas um só daqueles negó- tivos .fie verdadeira sociedade civiP\ a que temporário e ter objeto definido no instru- dade) e ao acordo oculto e irresponsável (de
cios, mas, bastante freqüentemente os tere- faltariam, no entanto, o aporte de capitais mento negocial, não representando, portan- eficácia duvidqsa em grande número de ca-
mos com objetivos de bloqueio, comando, e esfotços, além de que as sociedades (pelo to, o controle absoluto da sociedade. sos) cumpre dar disciplina própria ao acor-
consorciais e de prestações, num único con- menos em nosso direito) são negócios jurí- No direito estrangeiro, os acordos, por do de acionistas ... "14
vênio. dicos formais, que dão origem a um ente serem negócios estritamente privados e pa- Segundo os mesmos autores do projeto,
Também assinala a doutrina a distinção autônomo, dotado de personalidade jurídi- rassociais, vinculam apenas os signatários, a pesar de inspiradas no debate entre os ju-
entre acordos unilaterais, bilaterais e pluri- ca própria - desde que inscritos no registro isto, nos países onde são tolerados, pois em ristas estrangeiros e no estudo comparado
laterais. respectivo. Ora, os acordos de acionistas alguns são considerados nulos, posição das leis vigentes em outros países, as nor-
Seriam unilaterais os acordos de acionis- são informais, não há apertes de capitais cada vez mais rara e bastante contestada na mas inseridas sobre o instituto, no direito
tas que impusessem deveres ou restrições ao nem de serviços, bem como não originam doutrina 13 • brasileiro, apresentam características que
exercício de direitos para uma das partes a criação de outra sociedade, anexa à com- Também há consenso na doutrina inter- devem ser examinadas para que possa ser
convenantes, apenas, pelo que ficaria a ou- panhia. nacional que tais pactos devam ser celebra- compreendido, em toda sua extensão 15 •
tra parte beneficiada com tais restrições e Por outro lado, o arquivamento na sede dos por prazo determinado, para que não Na verdade, os acordos de acionistas, no
imposições, dependendo da faculdade de da companhia objetiva, apenas, tornar a representem renúncia a direito essencial do direito brasileiro, em relação aos similares,
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do direito estrangeiro têm as seguintes ca- !idade e ifr.cácia e o objeto dos acordos de ciais, como até, as mais das vezes, conside- de acordos de acionistas: as com.Jenções de
racterísticas: acionistas. rados anti-societários. 'lJoto e as convenções de bloqueio.
a) são expressamente reconhecidos e têm Passam a ter importância, apenas, as O direito brasileiro reconheceu a legitimidade As convenções de voto são aquelas pelas
sua eficácia assegurada, tanto entre os con- questões que dizem com a sua natureza, es- dos acordos, garantiu sua eficácia entre as quais os acionistas se comprometem, prévia
venantes, como pela própria companhia; pécies, formas, conteúdo, vantagens sobre outros e formalmente, a votar da mesma forma,
partes convenantes e até perante a compa-
b) são incorporados aos demais insti tu- institutos, condições de observância pela socieda- nhia e terceiros, assim como regulou o exer- num determinado sentido, ou sobre certas
tos ptóprios da companhia; de, acordos em companhias abertas e fechadas, matérias.
cício do controle, inclusive através de acor-
c) não se resolvem em perdas e danos, prazos de duração, e execução específica das ob- São também convenções de voto aquelas
do de acionistas, direitos que são oponíveis
como previsto no direito das obrigações rigações contratadas através deles. organizadas para garantir poder de decisão
aos demais sócios, dentro da sociedade, da
para o inadimplemento, mas são passíveis Esses os temas de que nos vamos ocupar permanente nas assembléias, ou seja, o con-
mesma forma que os acordos de voto só
de execução específica; daqui para diante. trole da sociedade (art. 116, caput).
podem ser cumpridos nas assembléias gerais
d) obrigam a companhia à sua observân- As convenções de voto são as mais con-
cia, quando devidamente arquivados 16 . da companhia.
a) Natureza dos Acordos de Acionistas Reforça o acima argumentado a seguinte trovertidas dentre os acordos de acionistas:
Essas características apontadas levaram elas também são responsáveis pelo maior
os dois autores do ante-projeto a assegurar Os autores que fizeram estudos mais afirmação da Fábio Konder Comparato:
número de argumentos contrários à valida-
ter a lei incorporado ao sistema acionário aprofundados sobre o tema divergem pro- "O direito de voto entende com o próprio
de desses pactos, porque "representariam o
"um mecanismo complementar de organiza- fundamente sobre se seriam negócios jurí- funcionamento da sociedade por ações e cons-
cerceamento do exercício de .direito essen-
ção da vida societária, válido e eficaz peran- dicos parassociais 21 ou intra-societários 22 • titui um modo de atuação sobre o patrimônio
cial de acionista".
te terceiros e a própria companhia 17 . A primeira concepção reúne maior nú- sociaf' 25 (grifamos). Ora, tais direitos não podem ser objeto
Já na v1gencia do Decreto-Lei nº mero de apoiadores 23 e tem por fundamen- Também improcede o argumento de se- de convenção que restrinja seu exercício
2.627/40, esses dois autores vinham publi- to o fato de que tais acordos são celebrados rem os acordos de acionistas estranhos ao (art. 109, caput). Em razão desse dispositivo,
cando artigos e fazendo conferências em pelos acionistas, fora da companhia, e se direito societário, porque regidos pelo direi- que incorporou princípio tradicional do di-
que propunham a adoção do instituto no regem pelas regras do direito comum, já que to comum das obrigações, já que muitas reito societário, entendem certos autores se-
direito brasileiro 18 , no que apenas seguiam a s0ciedade não é parte, limitando-se apenas outras relações jurídicas de direito societá- rem inválidos os acordos de acionistas, com
a orientação dominante na doutrina, am- a observá-los, quando arquivados. rio também se regem pelo direito civil, pois convenções de voto, uma vez que o direito
plamente favorável às convenções de voto 19 . Pois é justamente na previsão legal (na este informa todos os negócios privados e ao voto compreenderia direito ao debate
Uma preocupação sobressaía no consen- lei societária), na obrigação da sociedade até públicos. (capacidade das partes, licitu- prévio, em assembléia, o que não ocorre com
so de aceitação dos acordos de acionistas e observá-los, quando arquivados, no exercí- de do objeto, formalidades prescritas para o acordo, já de antemão, regulamentado.
está presente na maior parte dos autores, cio dentro da assembléia geral, dos direitos só lembrar os mais óbvios - são requisitos Mesmo na v1gencia do Decreto-Lei
condicionando a validade dessas conven- disciplinados pelos acordos, que os partidá- de qualquer negócio). Por outro lado, os 2.627/40, isto é, antes do reconhecimento
ções aos interesses da companhia e, desde princ1p10s, que informam o direito das legal dos acordos de acionistas, já a doutri-
rios da concepção intra-societária dos acor-
que não firam os direitos dos acionistas obrigações (autonomia da vontade, boa-fé, na concluíra que nulas seriam, apenas, as
dos se baseiam para vinculá-los ao direito
minoritários 20 . teoria da imprevisão, etc.) também são ob- cláusulas que importassem em renúncia difr.-
que rege as sociedades.
No Brasil, como no exterior, os costu-
Parece-nos sem sentido, no direito brasi!" servados nos negócios societários. nitiva ao direito de voto 28 •
mes do acionariado, de certa forma, vieram Ainda o fato de ter a pessoa jurídica uma Também tiveram sua validade discutida
leiro, que regular o acordo de acionistas · no
a formar a opinião dos juristas e informar dinâmica própria, na sua ordem interna, os acordos de voto para garantir o controle
corpo da lei das sociedades por ações, com
as decisões da jurisprudência, de que se lo- que nada tenha a ver com o disposto no da companhia 29 , sob a alegação de, eventual-
grou o acatamento do ante-projeto e das a mesma precisão com que rege outros ins-
titutos do acionariado, como o acionista con- acordo de acionistas 26 , não oferece sustenta- mente, cercearem os direitos dos minoritá-
razões aduzidas na exposição de motivos, rios30, ou estabelecerem controles abusivos.
trolador ou a convenção dos debenturistas, ne- ção ao argumento da parassocialidade dos
com aprovação pelo Congresso Nacional e Nesta hipÓtese, já não se cogita apenas
gar às convenções entre os acionistas da "acordos de acionistas", uma vez que no
sanção do Presidente da República, em 15 da ofensa à lei especial, porquanto a lesão
companhia, o caráter de negócio societário. nosso direi to, eles estão previstos e regula-
de dezembro de 1976, e, finalmente, entrada a direito alheio, implicando no dever de
em vigor, em 17 de dezembro de 1976, da Não se pode esquecer que toda a teoria dos, em sua maior parte na norma legal de
que emana "a lei interna da sociedade" (es- indenizar, ensejaria a aplicação do direito
Lei nº 6.404, que, no seu artigo 118, rege as da parassocialidade, tão bem construída, comum e ação de apuração das perdas e
convenções entre acionistas, denominadas principalmente pelo direito italiano 24 , o foi tatuto) que no dizer de Carvalhosa "tem sua
danos.
de acordos de acionistas. sob ordenamentos jurídicos, nos quais a dinâmica própria"27 .
Além das convenções de voto, os acordos
Com essa promulgação, o direito brasi- própria validade dos acordos era questiona- de acionistas podem conter convenções de
leiro deixou para trás, definitivamente su- da e aqueles que efetivamente celebrados, à b) Espécies de Acordos de Acionistas
bloqueio, sobre a com pra e venda de ações
peradas, as discussões ainda hoje travadas, margem das sociedades e do direito, que as O direito brasileiro prevê, no caput do ejou a renúncia à preferência para subscre-
no direito estrangeiro sobre a licitude, a 'lJa- regia, eram, não somente acordos parasso- artigo 118, da Lei nº 6.404/76, duas espécies ver ou adquirir ações.
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É mais pacífica a doutrina quanto a esta anterior houvesse também obrigação dos Q!anto à licitude do objeto - é preciso não exercidos pelos próprios acionistas firmatá-
espécie de acordos, até porque sendo da signatários minoritários de oferecerem suas rios.
esquecer que se trata de negócio vinculado
natureza das companhias a livre negociação ações ao controlador e vice-versa. Ainda é importante destacar que a cons-
à sociedade, não podendo, portanto, confli-
das ações, ninguém contestaria estivesse Finalmente serão plurilaterais os acordos tituição da sociedade holding vai representar
tar com o objeto social da companhia, mais
contida, nesta liberdade maior, a faculdade em que todas as partes objetivam e se obri- para os acionistas, desejosos de conservar o
ainda, deverá propiciar-lhe melhores condi-
menor de transacionar sobre tal negociação. gam a votar no sentido de proteger, buscar controle da S/A em mãos de grupo defini-
ções de efetivação. Também não pode, evi-
Não podem, por outro lado, as partes esque- ou manter certas prerrogativas: controle, do, um montante de despesas com registres,
dentemente, o acordo consagrar abusos do
cer, na celebração dessa espécie de acordos, proteção das minorias, etc. publicidade, pessoal - mesmo que não se dê
direito, nem dos controladores, nem dos mi-
que os bloqueios, nas companhias fechadas, à holding a forma jurídica da companhia -
noritários.
deverão atender ao disposto no artigo 36 da d) Conteúdo dos Pactos do acionariado que um simples acordo de acionistas não
Também são unânimes os autores, no
lei societária, enquanto nas companhias irá gerar.
abertas, uma vez que o disposto no artigo A Lei nº 6.404/7 6, no seu artigo 118, ao sentido de que o objeto do acordo seja com-
disciplinar os acordos, estabelece, em linhas pletamente definido, inadmitindo-se acor- Ainda é interessante acentuar as vanta-
citado, restringindo às companhias fecha- gens dos acordos de acionistas sobre os sin-
das o direito de reduzir a circulação das gerais, que tais pactos versarão sobre compra dos genéricos, bem como acordos que con-
tenham prestação de verdade, como por dicatos de voto- do direito europeu continental
ações, parece vedar esses acordos às compa- e venda de ações, preferência para adquiri-las e
exemplo, compromisso de aprovar contas. - e os 'lJoting trusts - do direito anglo-americano
nhias abertas. No entanto, alguns autores direito de voto.
São óbvias essas vedações, uma vez que - embora estes institutos não sejam comuns
entendem que as disposições do § 4º do A lei societária não especifica, mas é ób-
restrições ao exercício de direitos devem ser no direito brasileiro, já que não previstos
artigo 114, retirando as ações do mercado, vio que, sendo um negócio jurídico, o acor- em lei; ficando, portanto, na esfera da au-
praticamente admite tais acordos, também, do de acionistas está sujeito às normas ge- explícitas e claras, para não importarem em
tonomia da vontade das partes.
nas companhias abertas. rais do artigo 82 do Código Civil, renúncias, nulas de pleno direito.
Os acordos de voto com constituição de
Poder-se-ia alegar estivesse o legislador requerendo agente capaz, objeto lícito e forma Q!anto à forma, embora a lei não a
mandatário - sindico ou trustee - para exercer
neste dispositivo a referir-se a outras espé- prescrita ou não defesa em lei. prescreva, é presumida a obrigatoriedade da
aquele e outros direitos dos acionistas -têm
cies de acordos, e não ao de bloqueio. Pre- Vamos examinar, embora com a brevida- forma escrita para os efeitos do caput do
sido alvo de severas críticas da doutrina,
valecerá sempre sobre tal conjectura o argu- de requerida, cada uma dessas exigências artigo 118.
pela dissociação entre o exercício dos direi-
mento de que ubi !ex non distiguit... legais: tos às mesmas inerentes e a propriedade das
Certamente foi esse o raciocínio que le- Agente capaz - não sendo sociedades de e) Vantagens do acordo de acionistas sobre
ações, durante o prazo determinado no
vou Carvalhosa a afirmar serem tais acor- pessoas, as companhias podem ter, em seus outros pactos de formação de controle:
acordo.
dos quadros acionários, menores púberes e até "holdings" e sindicatos de ações
Ora, nos acordos de acionistas do direito
"Modalidade legítima de contornar a impúberes, que, ou serão assistidos, ou sim- Os acordos de acionistas, como bem pro- brasileiro, não foi prevista a figura do exe-
proibição legal de constar do estatuto limi- plesmente representados, por seus pais ou puseram os autores do ante-projeto, repre- cutor do acordo, embora não esteja proibi-
tação dessa ordem "31 . tutores, no exercício dos seus direitos so- sentam uma forma intermediária entre a da33, como também não é proibida a dele-
ciais, os quais gerem seus patrimônios, em holding e os acordos informais 32 , e ainda gação do exercício do direito de voto, (art.
c) Modalidades de Acordos de Acionistas decorrência do munus ou do pátrio poder. 126, § 1º), desde que não seja em caráter
apresentam outras vantagens.
Os acordos de acionistas poderão ser uni- Estariam tais deliberações, quaisquer delas, Acordos de acionistas e holding- constituem permanente. O dispositivo, aqui menciona-
laterais, bilaterais, ou plurilaterais, isto é, compreendidas nos poderes de gestão do as sociedades controladoras ou "holdings" do, estabelece o prazo-limite para acordos
quanto à posição assumida pelas partes con- bonus pater familiae? Nossa jurisprudência pessoas jurídicas comerciais, não necessaria- de acionistas, que, eventualmente, envolves-
venantes, em direitos e obrigações, recipro- tem sido rigorosa, no sentido de exigir al- mente sociedades por ações, que detêm em sem a transferência do direito de voto.
camente, assim como em qualquer outro vará judicial para alienações patrimoniais outras sociedades, denominadas controla- Tais convenções, afora a desvantagem de
pacto ou contrato. vultosas - principalmente de imóveis -; en- das, participações adonárias, que lhes ga- constituírem agentesfiduciários de acionistas,
São unilaterais os acordos que estabele- tendemos que, se tais acordos implicarem rantem, nos termos do artigo 116 da Lei nº não-previstos na lei, ainda trariam aos con-
cem compromissos a uma única das partes possibilidade de prejuízo substancial ao pa- 6.404/76, o controle da companhia. venantes, afora a desvantagem da transfe-
-como por exemplo, a preferência estatuída trimônio dos menores " mesmo em se tra- Já da própria noção de holding, transpa- rência do exercício de voto, a necessidade
no acordo oferecida pelo controlador aos tando de bens móveis, como as ações - seria rece a maior vantagem dos "acordos de acio- de refazer anualmente os pactos.
minoritários, para aquisição das ações de prudente - para obviar os prejuízos, não só nistas" sobre aquela, que é a transferência
controle, ou vice-versa. aos menores-acionistas, mas também, aos da propriedade das ações dos contratantes, f) Prazo de Duração
São bilaterais os acordos sinalagmáticos, demais e à própria companhia, pela even- para a pessoa jurídica controlante, o que Embora a lei não fixe prazos-limites para
com obrigações e direitos firmados entre as tual nulidade do negócio - fosse o mesmo não ocorre na simples convenção de voto, a duração dos acordos de acionistas, é contrá-
partes, em recíprocas verdadeiras - relações cercado de todas as precauções, não só jurí- quando, apesar de todas as cláusulas limita- ria a toda tradição do nosso direito a vin-
biunívocas - por exemplo, se na hipótese dico-legais, como econômicas. tivas, o voto e outros direitos de sócio são culação perpétua ou de muito longa dura-
74 75
2 Trajando de Miranda Valverde, Sociedade por Ações, 2ª 21 Carvalhosa, Acordo de Acionista.f, cit. pág. 31.
ção, principalmente quando a avença firma- O título executivo será a ata da assem- ed., vol. II, Forense, Rio, 1953, págs. 58 a 63. 22 Lamy Filho e Bulhões Pedreira, op. cit., pág. 511.
da represente cerceamento ao exercício de bléia geral, comprobatória do inadimplemen- 3 Pontes de Miranda, Tratado, vol. 50, págs. 302 e segs.
direitos (voto, disposição do patrimônio e 23 V. Comparato, Novos Ensaios, pág. 75; Egberto La-
to do acionista, que violou a convenção. e págs. 395 e segs. cerda Teixeira, José Alexandre Tavares Guerreiro, Das
outros correlatos). Nem todas as questões que se possam 4 Modesto Carvalhosa, Comentários à Lei das Sociedades Sociedade.f Anônimas no Direito BraJileiro, Buschatsky
Pactuados por prazo indeterminado, es- originar do acordo de acionistas, é óbvio, Anônimas, (4 vol.), 4º vol., Saraiva, São Paulo, 1977, Ed., São Paulo, 1979, págs. 303 e segs.
tarão sujeitos às normas gerais dos contra- ficarão resolvidas no processo de execução: págs. 140 e 141. 24 Carvalhosa (Acordos de Acionistas) menciona e se
tos: podem ser denunciados por qualquer as questões de direito material relativas a 5 Lei nº 6.404/76, Exposição de Motivos, Seção V. apóia na argumentação de Giorgio Oppo.
das partes. fundo e forma do convênio, validade, legi- 6 Fábio Konder Comparato, O Poder de Controle da 25 Comparato, Novos Ensaios, cit. pág. 81.
No direito estrangeiro existem parâme- timidade de partes, etc., sempre poderão ser Sociedade Anônima, 3! ed., Forense, Rio, 1983, (pág. 26 V. Carvalhosa, Acordo, cit. pág. 43.
tros, indicados pela tradição, que fazem os- a:güidas e questionadas pelas vias ordiná- 176). 27 Carvalhosa, Acordo, cit. pág. 43.
cilar esses prazos entre 03 (três) e 10 (dez) nas. 7 V. Modesto Carvalhosa, op. dt., pág. 149 e segs.; idem,
28 Vai verde, op. cit., pág. 61.
anos, e ainda a orientação de que sejam os A discussão de todas as h i pó teses excede- idem Acordo de Acionistas, Saraiva, São Paulo, 1984, pág.
37; tb. Fábio Konder Comparato, Novos Emaios e Pare- 2 9 Também denominados "Acordos de mando".
prazos inscritos nos contratos, para evitar ria às dimensões genéricas propostas a este
ceres de Direito Empresarial, Forense, Rio, 1981, pág. 76. 30 Carvalhosa, Comentários, cit. pág. 150.
as denúncias unilaterais 34 • trabalho.
8 Alfredo Lamy Filho, José Luiz Bulhões Pedreira, A 31 Acordos, cit. pág. 143.
Lei da.1 S.A., Renovar, Rio, 1992, págs. 515 e seguintes.
g) Execução Específica das Obrigações Conclusão 32 Lei das S.A., cit. loc. cit. nota 14.
9 Celso de Albuquerque Barreto, Acordo de Acionistas,
oriundas dos Acordos de Acionistas 33 Carvalhosa,-Acordo de Acionistas, cit., pág. 109.
Os Acordos de Acionistas, introduzidos Forense, Rio, 1982, pág. 37.
34 Carvalhosa, Acordos, págs. 200 a 204.
O artigo 118 da Lei nº 6.404/76 prevê, formalmente no direito brasileiro pela Lei 10 Lamy Filho e Bulhões Pedreira, op. cit., pág. 513.
35 José Alexandre Tavares Guerreiro, Execução Especí-
no seu § 3º, a execução específica das obri- nº 6.404/76, num pioneirismo sem prece- 11 Joaquim Garrigues e Rodrigo Uria, Comentarias a la
fica do Acordo de Acionistas, in R.D.M., São Paulo,
gações assumidas, nos termos dos artigos dentes, na história do moderno direito so- Ley de Socíedades Anónimas, Ed. Aguirre, Madri, 1976,
1981, nº 41, págs. 40 e segs.
vol. I, pág. 665.
632 a 641 do Código de Processo Civil. cietário, pelas vantagens oferecidas, princi- 36 Carvalhosa, Acordo, págs. 259-260.
12 V. Antonio Pedro!, La Anónima Actual y la Sindica-
Não é simples a solução apontada pelo palmente na organização e manutenção do ción de Acciones, Ed. Rev. de Derecho Privádo, Madrid,
legislador, embora objetivasse o cumpri- controle acionário estão "entre aqueles ne- 1969, pág. 39; v. tb. Gastone Cottino, Le Com,enzione
mento do estipulado no contrato - o que gócios que o nosso ordenamento jurídico di Voto nelle Società Commerciale, Giuffre, Milano, 1958,
Bibliografia
não ocorreria na solução apontada na tra- reconhece, por reputar sua função como pág. 203.
dição do nosso direito a equivalência inde- socialmente transcendente e digna de ser 13 O direito francês passou do Decreto-lei de
Azevedo, Amândio de; Sindicatos de Voto, Livr. Athena,
nizatória35 - pois, como bem destacam os ptotegida"37 • 31.08.1937, que os considerou nulos, a admitir sua
Porto, 1974.
validade, caso a caso (art. 505 da Lei nº 66.537, de
comentaristas, avenças há, que, em razão da Apesar da recepção positiva, por parte de 24.08.1966). Movimento semelhante ocorreu na Itália, Barreto, Celso de Albuquerque; Acordo de Acionistas,
natureza das obrigações, que delas se origi- juristas - tanto na doutrina como na juris- na vigência do Codigo di Commercio, unanimidade Forense, Rio, 1982, (91 págs.).
nam, e da especificidade das respectivas prudência - bem como no meio dos negó- contra validade; após a unificação de 1942, jurispru- Bataller, Carmen Alborgh; El Derecho de Voto dei Acio-
cios, isto é, do próprio empresariado, não dência e doutrina cada vez mais favoráveis; Alemanha, nista, Ed. Tecnos, Madrid, 1977.
prestações, não podem ser objeto de execuções
Suíça, Áustria - favoráveis; Portugal e Espanha, contra
específicas36 • perderam ainda as convenções de voto o seu Carvalhosa, Modesto; Acordo de Acionistas, Saraiva, São
e doutrina, aos poucos, favorável; Inglaterra e Estados
Estão neste caso os acordos de bloqueio caráter de instituto novo, que se vai adap- Unidos favoráveis, México e Bélgica, contra; Amandio Paulo, 1984, (279 págs.).
que têm por objeto a preferência na subs- tando às instituições vigentes e também às Anes de Azevedo, Sindicato de Votos, Livr. Athena, Por- Comentários à Lei de Sociedades Anônimas, 4º vol., Sarai-
crição de ações, pela sim pies razão de que mudanças das estruturas econômicas, em to, 1974, págs. 5 a 25. va, São Paulo, 1977, (313 págs.).

a prestação só se tornaria exigível no mo- que vão ser implantados e instituídos. 14 Lei das Sociedades por Açõe.f e do Mercado de Valores Comparato, Fábio Konder; Direito Empresarial, Saraiva,
Estas considerações são suficientes - po- Mobiliários, org. por Walter Paldés Valerio, Ed. Sulina, São Paulo, 1990, (págs. 174 a 180).
mento em que houvesse oferta de ações. Porto Alegre, 1977, pág. 49. Nm10s Ensaios e Pareceres de Direito Empresarial, Forense,
Já no contrato de opção - verdadeiro deriam ser alinhadas outras tantas - para
15 Alfredo Lamy Filho e José Luiz Bulhões Pedreira, A Rio, 1981, (págs. 52 a 87).
pré-contrato, já existe promessa unilateral evidenciar que, a todo momento, estarão
Lei das S.A., Renovar, Rio, 1992, pág. 514. O Poder de Controle na Sociedade Anônima, Forense, Rio,
formal, do ofertante, de dispor das ações, se surgindo novas questões que fazem dos
16 Lamy Filho e Bulhões Pedreira, op. cit., págs. 515-6. 1983 (págs. 176 a 195).
a outra exercer a opção. Acordos de Acionistas um tema permanen-
17 Lamy Filho e Bulhões Pedreira, op. cit., pág. 516. Cottino, Gastone; Le Com1enzioni di Voto nelle Società
Neste caso, pode ser exigido o cumpri- te de pesquisa, ao qual estarão, certamente,
Commercia/i, Dott. Giuffre, Milano, 1958 (302
voltando os estudiosos. 18 V. Lamy Filho, Rev. de Direito Mercantil, nº 7, págs.
mento através da execução específica (CPC, 23 e segs., v. tb. idem, idem, Rev. Forense, Jul/Set 1973, págs.).
art. 639). v. 243, págs. 37-42. Pares, Felix Santiago; La Sindicación de Acciones, Abele·
No caso do acordo de votos, será obtida 19 V. Valverde, Cunha Peixoto, Pontes de Miranda, op. do Perrot, Buenos Aires, 1963, (107 págs.).
a execução, através da prestação jurisdicio- Notas loc. cit., notas 1, 2 e 3. Poderíamos alinhar outros Lacerda Teixeira, Egberto e José Alexandre Tavares
nal substitutiva da vontade do inadimplen- tantos autores com posição idêntica e dezenas de deci- Guerreiro; Das Sociedades Anônimas no Direito Brasi-
Carlos Fulgêncio da Cunha Peixoto, Sociedade por
te, nos termos do artigo 641 do Código de sões. leiro, José Buschatsky Editor, 2º vol., São Paulo,
Ações, (5 vol.), II vol., Saraiva, São Paulo, 1972, págs.
Processo Civil. 354 e segs. 20 V. Valverde, op. loc. cit. 1979.

76 77
Lamy Filho Alfredo e José Luiz Bulhões Pedreira; A Lei Pedro!, Antonio; La Anónima Actual y la Sindicación de
das S/A, Renovar, Rio, 1992, (885 págs.). Acciones, Ed. Rev. de Dir. Priv., Madrid, 1969. A norma jurídica como modelo
Leães, Luiz Gastão Paes de Barros; Comentários à Lei das Peixoto, Carlos Eugênio da Cunha; Sociedade por Ações,
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Martins, Fran; Comentários à Lei de SociedadesAnônimas, Pontes de Miranda, Tratado de Direito Pri11ado, vol. 50,
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Oppo, Giorgio; Contratti Parasociali, Ed. Dottore Fran- Valverde, Trajano de Miranda; Sudedades por Ações, II vol., Professor da Universidade Jean Monnet
cesco Vallardi, Milano, 1942, (166 págs.). (3 vols.), Forense, Rio, 2A ed., 1953 (págs. 59 a 63). Saint Etienne - França

Tradução de Fernando Herren Aguillar


Publicação nesta Revista autorizada pelo tradutor

1. A norma jurídica é uma "regra de ções societais do direito no coração de um


conduta nas relações sociais, geral, abstrata modo de produção gerador de desigualda-
e obrigatória, cuja sanção é assegurada pelo des e de dominação, os enfoques críticos
poder público" 1• Qyer se adote tal definição, não se inquietam muito em relação à sua
quer se prefira uma variante que valorize pertinência. É verdade que, se ninguém
sua vinculação a um tipo de "ordens", "co- mais denunciar no direito a vontade masca-
mandos", "imperativos" ou ainda de "direti- rada da classe dominante ou uma pura va-
vas", não se contesta muito que toda regra riedade de violência, esta visão da norma
jurídica tem por objeto uma conduta,' que jurídica como preceito de conduta pode fa-
ela mesma impõe, proíbe ou permite. No cilitar a demonstração de sua vocação para
seu campo de validade, toda ordem jurídica garantir e legitimar uma ordem social esta-
repartiria as ações humanas entre lícitas belecida, sempre a serviço de algumas mu-
(prescritas, positivamente permitidas ou in- danças desejadas pelos detentores do poder.
diferentes) e ilícitas (ações proibidas ou abs- Gostaríamos, contudo, de convencer da
tenções de fazer o que é prescrito). Pouco necessidade de rejeitar essa definição. Ela
importa que essa repartição de acordo com peca pelo simplismo e irrealismo ao mesmo
um código binário possa ser importunada tempo. Nossa convicção é a de que se uma
pelo sentimento de um "vazio jurídico", que ordem jurídica como o direito estatal fran-
torna incerto o estatuto de um comporta- cês de nosso tempo se apresenta de início
mento que se desejaria fosse explicitamente como um conjunto de normas, estas não
comandado, proibido ou autorizado. Essa constituem todas, bem ao contrário, regras
concepção das normas jurídicas e de uma de condutas. Trata-se no máximo de regras
relação com as ações releva desse "senso para ações. É nisso que elas pertencem ao
comum teórico dos juristas" 2, que fornece a gênero de normas éticas, e não em razão
matéria comum da maior parte das obras e daquilo que seria necessariamente seu obje-
ensinamentos de introdução ao direito. Ela to3.
é recebida ou confirmada por inúmeras pro- 2. A ambição deste questionamento pa-
duções de teoria ou filosofia do direito, a rece de início limitada. Não se pretende
começar pelo normativismo jurídico kelse- fornecer resposta exaustiva à questão "o que
niano. Os sociólogos que se interessam pela é uma norma jurídica?", mas apenas mos-
presença do direito nas relações sociais pa- trar a inadequação à experiência mais banal
recem se acomodar a essa situação, ou até de uma definição recebida por juristas, teó-
mesmo fazem dela o pressuposto de uma ricos e filósofos do direito de diversas obe-
noção demasiado sumária da efetividade (os diências. Este questionamento se quer mo-
comportamentos conformes) ou da inefeti- desta contribuição a essa forma de
vidade (os comportamentos violadores) das polifonia que é naturalmente a prática da
normas. Preocupados em desvendar as fun- teoria do direito, à medida em que esta
78 .R. Fac. Direito UFRGS, Porto Alegre, 10: 79-99, jul. 1994 79

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