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WAGNER BALERA: Previdência regida pela geração presente sustentando a pretérita não funciona mais. Pág.

10

www.editorabonijuris.com.br Ano 35 | # 685


DEZ 23/JAN 24

Modelo que será adotado


obrigatoriamente pelo
JUIZ DAS GARANTIAS Judiciário em até dois anos foi
fragorosamente desidratado
pelo STF. A decepção dos juristas

POUCO A é geral, mas há os que afirmam


que sua implementação já é um

FESTEJAR
sinal de ‘evolução’. Outros são
ácidos: restou um ‘monstro’, uma
‘aberração jurídica’ Pág. 30

ENTREVISTA CIDADES INTELIGENTES


Um dos 34 membros da comissão instalada pelo Em artigo publicado na seleção do editor,
Senado para atualizar o Código Civil, o professor a advogada Josélia Küchler diz que, apesar
de direito José Fernando Simão rejeita a ideia de da revolução digital abrir uma janela de
legislação velha e diz que os juristas brasileiros oportunidades nos centros urbanos, não
têm o hábito de apresentar problemas sem há garantia de que a tecnologia beneficiará
apontar soluções. Pág. 22 diretamente os cidadãos. Pág. 146
EDITORIAL

O UPGRADE DO CÓDIGO CIVIL

C
abe a uma comissão de 34 juristas a elabo- rol taxativo de pessoas jurídicas do artigo 44,
ração de um anteprojeto que permitirá a conforme defendido por Flávio Tartuce, relator
atualização do Código Civil de 2002. Ins- da comissão. O tema é complexo, mas não deve
talada em setembro deste ano pelo Sena- elevar a temperatura dos termômetros. Esta
do Federal, os notáveis correm contra o tempo deve aumentar na proposta, que, se inserida na
para completar o trabalho no prazo de 180 dias. pauta (não há certeza disso), incluirá os bancos
O tempo é exíguo, “mas 18 anos seria igualmente financiadores de crédito nos processos que en-
insuficiente, considerando que há uma tendên- volvam dívidas condominiais. Não é de hoje que
cia no mundo jurídico de trabalhos circulares e as decisões dos tribunais superiores têm deixa-
inconclusivos”, afirma José Fernando Simão, o do as instituições financeiras à sombra e as ad-
entrevistado desta edição, com uma dose extra ministradoras e síndicos à própria sorte.
de sinceridade. Civilista citado frequentemente
por ministros dos tribunais superiores, Simão é
um dos três professores da Faculdade de Direi- **
to da usp, instituição secular localizada no his- No artigo de capa, que fecha a edição de fim
tórico Largo São Francisco, na capital paulista, de ano da Revista Bonijuris, discutimos a in-
convidados a se debruçar sobre o código. trodução no Código de Processo Penal da figu-
Entre os livros que exigirão mudanças, o di- ra do juiz de garantias, magistrado que atuaria
reito de família, reunido no quarto volume, me- apenas na fase de inquérito policial a fim de
rece especial atenção, muito em razão da fluidez
verificar se a investigação respeita as leis e os
das uniões conjugais firmadas nas últimas déca-
direitos fundamentais dos suspeitos. Depois,
das. “[Chegamos a um patamar] em que tudo já
o juiz de instrução e julgamento assumiria o
foi ampliado ao máximo e limitado ao mínimo”,
caso. Aprovada em 2019, a lei foi suspensa no
diz. Simão não nega o avanço da união homoafe-
ano seguinte por determinação do ministro
tiva, reconhecida pelo stf, mas rejeita as moder-
Luiz Fux, do stf, atendendo a pedido de parti-
nidades estilo “fashion” que estão abrigadas em
dos e associações de classe do Judiciário que
propostas como a da união estável simultânea,
questionavam sua constitucionalidade. O novo
que ele chama de poligamia, e a que reclama a
dispositivo processual deve ser implementado
igualdade de direitos entre esposas e amantes.
pelas comarcas em todo o país no prazo de doze
No que diz respeito às obrigações e contratos,
meses, renovável por igual período.
o jurista, que tem uma sólida carreira acadêmica
Em artigo publicado nas páginas seguintes,
como mestre, doutor em direito e livre-docente,
considera que a verticalização das cidades e o o procurador Rômulo de Andrade Moreira, do
sucesso dos condomínios urbanos tornam ne- Ministério Público da Bahia, levanta dúvidas so-
cessário proteger o pagamento das taxas condo- bre a efetividade do juiz das garantias. Para ele, o
miniais, tão essenciais como o serviço de água e julgamento do stf, retomado em julho deste ano,
luz. “[A inadimplência] implica destruição do mo- desfigurou o novo sistema, permitindo o acesso
delo de condomínio edilício. Por mim, retomaria do juiz de instrução à fase inquisitória. O resulta-
lei anterior ao Código de 2002, dando poderes à do, segundo ele, é o comprometimento da impar-
convenção para prever multa de até 20%.” O de- cialidade do magistrado incumbido do veredito.
bate em torno das edificações residenciais deve
colocar em pauta a inclusão do condomínio no Boa leitura!

4 REVISTA BONIJURIS I ANO 35 I EDIÇÃO 685 I DEZ23/JAN24


SUMÁRIO

REVISTA BONIJURIS # 685

 EDITORIAL 32 Supremo reduz o papel do juiz das ga-


rantias
4 O upgrade do Código Civil
Marcus Gomes

 EXPEDIENTE 38 O STF e o juiz das garantias: uma morte


8 Conselho Editorial / Colégio de Leitores anunciada
Rômulo de Andrade Moreira

 TRIBUNA LIVRE
 DOUTRINA JURÍDICA
10 Aposentadoria
O debate sobre a revisão da reforma previdenciária 46 Resolução de conflitos
Wagner Balera Circulação de sentença arbitral estrangeira
Sandra Regina Pires
11 Lucros
Revisão judicial dos juros bancários 72 Processo civil
José Victor Mouta Acórdão do TJ que julga agravo interno é
impugnável?
14 Tributário Adelmo José Pereira
Lei 14.592/23 é inconstitucional: ICMS é custo de
aquisição 94 Trabalhista
Lucas Zapater Bertoni Vantagens e desvantagens do contrato
intermitente
17 Acordos Eric Tadeu do Vale Lima
Conciliação na administração pública e o princípio
da eficiência 100 Conflito de terras
Acácia Regina Soares de Sá Medidas estruturantes e a proteção de direitos
fundamentais
18 Penal Vanessa Mascarenhas de Araújo
O crime de ato obsceno e os estudantes de medicina
Denis Camargo Ventura 124 Administrativo
Importância da transmissão ao vivo dos pregões
20 Procedimento Rafaela Mendonça Alves e Cid Capobiango Moura
Colaboração (delação) premiada unilateral?
Renee do Ó Souza e Rogério Sanches Cunha
SELEÇÃO DO EDITOR
146
ENTREVISTA Urbanização
Cidades inteligentes e o papel da sociedade civil
22 “Jurista brasileiro tem por hábito criticar Josélia Aparecida Küchler
o sistema sem oferecer soluções”
JOSÉ FERNANDO SIMÃO  LEGISLAÇÃO

CAPA 162 Degustação de novas leis

30 Abertura
Um juiz sem garantias
SÚMULAS MAIS RECENTES
166 Arestos do STJ, TSE, TRF1, TRF3, TRF5, TJPR,
TJSP

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SUMÁRIO

EMENTÁRIO TITULADO 217 Tempo de prisão


Diminuição da pena inversamente proporcional ao
168 Concurso público iter criminis
Surgimento de novas vagas e a nomeação dos
Min. Ribeiro Dantas
aprovados
Des. Hélio do Valle Pereira 219 Ressarcimento ao erário
Ação de regresso contra empregador que
172 Ação revisional descumpre normas de segurança e higiene
Abusividade, ou não, dos juros remuneratórios
Des. Luiz Antonio Bonat
acima da taxa média
Des. Fábio André Santos Muniz 222 Aplicativo de mensagem
Dificuldade de localizar o réu e a citação por redes
174 Moratória sociais
Adimplemento tardio da obrigação de entrega de
Min. Nancy Andrighi
imóvel
Min. Luís Felipe Salomão 227 Trabalhador rural
Pausas previstas em lei
178 Criminal Desa. Rosemarie Diedrichs Pimpão
Não é aplicável a benesse do tráfico privilegiado a
réu reincidente 236 Transporte
Des. Jesuíno Rissato Deslocamento de mercadoria entre
estabelecimentos do mesmo titular
182 Contribuição facultativa Des. Fábio Torres de Sousa
Não equiparação de seminarista a aluno-aprendiz

PRÁTICA JURÍDICA
Desa. Eliana Paggiarin Marinho

186 Atribuição
Competência do juiz para dar cumprimento à 242 Direito do trabalho
sentença Apontamentos sobre a portaria MPS/INSS 6
Des. Osmar Mohr Anderson Angelo Vianna da Costa

190 Equipamento básico


Motorista que retirou óculos de proteção e perdeu ALÉM DO DIREITO
a visão 246 Olho por olho, dentadura por dentadura
Min. Alexandre Luiz Ramos Eduardo Mercer

196 Imposto 247 A história da “pendura”


Cobrança de diferencial de alíquota do ICMS Rodrigo Portela
Min. Herman Benjamin

NÃO TROPECE NA LÍNGUA


ACÓRDÃOS EM DESTAQUE 250 Perguntas e respostas: em madeira, bó-
200 Risco administrativo ton, shhh, nunca+ninguém
Responsabilidade objetiva do Estado aplicada a Maria Tereza de Queiroz Piacentini

AGENDA DE EVENTOS
acidente de trânsito
Des. Fermino Magnani Filho

202 Calçado pirata


252 Programação de encontros jurídicos
Aquisição de tênis em plataforma digital sem
direito a dano moral ÍNDICE REMISSIVO
Des. Fernando Antônio Tavernard Lima 254 Temático-onomástico
208 Novo entendimento
Penhora de imóvel alienado fiduciariamente para PONTO FINAL
pagamento do condomínio 258 Arcabouço fiscal – a república e a casa
Min. Raul Araújo Jonathan Hernandes Marcantonio

REVISTA BONIJURIS I ANO 35 I EDIÇÃO 685 I DEZ23/JAN24 7


EXPEDIENTE

REVISTA BONIJURIS CONSELHO EDITORIAL


ISSN 1809-3256 Antonio Carlos Facioli Chedid, Carlos Roberto Ribas
Vol. 35, n. 6 – Edição 685 – Dez23/Jan24
Santiago, Célio Horst Waldraff, Clèmerson Merlin
contato@bonijuris.com.br
www.editorabonijuris.com.br Clève, Eduardo Cambi, Guillermo Orozco Pardo,
Hélio de Melo Mosimann, Hélio Gomes Coelho Jr.,
EDITOR-CHEFE Jacinto Nelson de Miranda Coutinho, João Casillo,
Luiz Fernando de Queiroz João Oreste Dalazen, Joatan Marcos de Carvalho, Joel
EDITORA ASSISTENTE Dias Figueira Júnior, Jorge de Oliveira Vargas, José
Olga Maria Krieger Laurindo de Souza Netto, José Lúcio Glomb, José
Sebastião Fagundes Cunha, Juan Gustavo Corvalán,
PRODUÇÃO GRÁFICA
Jéssica Regina Petersen Luiz Fernando Coelho, Manoel Antonio Teixeira Filho,
Manoel Caetano Ferreira Filho, Mário Frota, Mário
COORDENADORA DE CONTEÚDO Luiz Ramidoff, Nefi Cordeiro, Ricardo Sayeg, Roberto
Pollyana Elizabethe Pissaia
Portugal Bacellar, Roberto Victor Pereira Ribeiro,
ASSISTENTE DE CONTEÚDO Sidnei Beneti, Teresa Arruda Alvim, Zeno Simm
Fernanda Feitosa
COORDENADOR JURÍDICO COLÉGIO DE LEITORES
Geison de Oliveira Rodrigues Adriana Pires Heller, Alceli Ribeiro Alves, André
DIVULGAÇÃO Zacarias Tallarek de Queiroz, Anita Zippin, Elisete
Agência Haus Marketing Digital Machado, Flávio Zanetti de Oliveira, Karla Pluchiennik
DISTRIBUIÇÃO Moreira, Luise Tallarek de Queiroz Maliska, Luiz
Ana Crissiane de Moraes Prates Cordeiro Carlos da Rocha, Marcus Vinicius Gomes, Ricardo de
Bruna Menon Queiróz Duarte, Roberto Ribas Tavarnaro, Robson
Marques Cury, Rodrigo da Costa Clazer, Rui César
JORNALISTA
Marcus Vinicius Gomes (3552/13/96 – PR) Lopes Peiter, Ruy Alves Henriques Filho, Sergio
Murilo Mendes, Sílvio Gabriel Freire, Valéria Siqueira,
REVISÃO E EDIÇÃO Victoria Tapxure Scaramuzza, Yoshihiro Miyamura,
Georgia Evelyn Franco Guzman
Yuri Augusto Barbosa Vargas
Maria Cecília Cavassana
Michelle Neris da Silva Campos
Noeli do Carmo Faria REDAÇÃO
redacao@bonijuris.com.br
ARTE
Ilustração: Giovana Tows (desenhos em ANÚNCIOS / ASSINATURAS
bico de pena), Simon Taylor (capa)
Projeto gráfico original: Straub Design comercial@bonijuris.com.br

DIAGRAMAÇÃO EXEMPLAR IMPRESSO


Julio Cesar Baptista R$ 160,00
FUNDADORES
Gerson de Morais Garcez REPOSITÓRIO AUTORIZADO
Luiz Fernando de Queiroz TST 24/2001 – STF 34/2003 – STJ 56/2005

@2023 A Revista Bonijuris é publicada bimestralmente pela Editora Bonijuris Ltda.


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TRIBUNA LIVRE

Wagner Balera PROFESSOR DE DIREITO PREVIDENCIÁRIO DA PUC-SP

O DEBATE SOBRE A REVISÃO DA REFORMA PREVIDENCIÁRIA

A
Constituição está sujeita A Emenda Constitucional O sistema foi pensado com
a reformas. 20/98 é restritiva de direitos. a seguinte modelagem: a gera-
Em 1988, quando a Mas essa emenda não cumpriu ção presente deve sustentar a
Constituição foi promul- o seu principal escopo: a re- geração pretérita, a geração fu-
gada, o mundo já tinha inicia- dução das assimetrias entre o tura sustentará a geração pre-
do a temporada das reformas regime geral e os regimes pró- sente. Outro dado objetivo é o
previdenciárias. Então, pratica- prios. do aumento da expectativa de
mente, nossa Constituição in- Ocorre que há um abismo vida. Salta de 62 anos, apurado
gressa em época na qual a con- entre o regime geral e os regi- em 1960, quando foi promul-
cepção sobre previdência, sobre mes próprios, que consomem gada a Lei Orgânica da Previ-
seguridade social, se encontra- quantidade quase equiva- dência Social, para 74 anos nos
va em plena transformação. lente de recursos. A própria dias de hoje. Uma sobrevida de
É um contexto reformador Emenda 20 criou, nas regras 12 anos a mais.
do estado social, ou do estado de transição, o prolongamen- Quanto custarão esses 12
do bem-estar, cuja crise fora to indefinido das assimetrias. anos a mais?
apontada por Pierre Rosan- E a discussão de hoje, 2023, é
vallon (historiador francês, eco- a da desoneração da folha. Vale
nomista e cientista político). A Emenda [20/98] é restritiva dizer, redução da arrecadação.
Aliás, vamos contextualizar de direitos e não cumpriu E o cálculo atuarial, que con-
o tema. ta com aquela remuneração,
A Organização Internacio-
o seu principal escopo: a
que conta com aquela contri-
nal do Trabalho, prudentemen- redução das assimetrias buição sobre a folha? Será que
te, editou as chamadas Normas entre o regime geral e os está sendo devidamente consi-
Mínimas de Seguridade Social. regimes próprios derado na reforma tributária
É a Convenção 102, de 1952, que que acaba de ser encaminhada
o Brasil adotou. Esta criou um ao Senado Federal?
critério, uma padronização, E foi seguida, nesse particular, Insisto na proposta da Nor-
das prestações dentro de certa pelas reformas subsequentes. ma Mínima de Seguridade
razoabilidade. É o que hoje se Ocorre que a reforma se depa- Social. O Estado garante as
poderia chamar de o mínimo ra com dados objetivos. O pri- necessidades básicas. Quanto
existencial. É o que a previdên- meiro é o da redução da taxa ao mais, cada qual deve cuidar,
cia social básica deve suportar de natalidade. seja individualmente, seja em
do ponto de vista financeiro. Hoje, a média de reposição parceria com o empregador, de
O modelo idealizado pela da força de trabalho é de 1,5 complementar o básico, con-
Assembleia Nacional Consti- trabalhador para garantir o forme o respectivo projeto de
tuinte está sendo, com as re- sustento dos aposentados e vida.
formas, ajustado para padrões pensionistas. Ocorre que, com Como proposta de reforma,
de sustentabilidade. Portanto, essa taxa de reposição, o siste- entendo que se deva pensar,
o que se constata, na etapa de ma não se sustenta. Não have- seriamente, nessa integração
reformas iniciada em 1998, é a rá força de trabalho suficiente da sociedade com o Estado,
progressiva restrição de direi- para a manutenção da interge- para a definição do denomina-
tos sociais. racionalidade. dor comum da proteção social.

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TRIBUNA LIVRE

Que se proponha uma consul- balhador, empregador e União. rios, e decisão a respeito do
ta nacional sobre a futura re- Depois, a divisão deixou de ser rateio das contribuições.
forma. Que se decida quem se igual, a partir de 1946. Em 1988, o Pode ser que, então, a nova
dispõe a ceder, em benefício de constituinte chamou toda a co- reforma alcance mais amplia-
todos. E que cada qual decida munidade a contribuir: Estado do consenso. 
como acha justa a divisão da e sociedade. Mas não se falou
conta previdenciária. na divisão da conta. Wagner Balera. Professor de Direito
Previdenciário titular na Faculdade
Na primeira divisão da conta, É minha proposta: decisão
de Direito da puc-sp. Livre-docente e
estabelecida pela Constituição da comunidade a respeito do doutor em Direito Previdenciário pela
de 1934, ficou definida a divi- ajuste dos benefícios, para to- puc-sp. Autor de mais de 50 livros em
são em três partes iguais: tra- dos os regimes previdenciá- Direito Previdenciário.

José Victor Mouta ADVOGADO NAS ÁREAS CÍVEL, TRIBUTÁRIA E DE CONSUMO

REVISÃO JUDICIAL DOS JUROS BANCÁRIOS

D
urante muito tempo, to do art. 543-C do Código de sentada pelo Bacen. A ementa
os tribunais de justiça, Processo Civil de 1973, o Supe- deixa claro que a revisão das
bem como os juízes sin- rior Tribunal de Justiça conso- taxas de juros remuneratórios
gulares de primeira ins- lidou o entendimento sobre o pode ocorrer, em caráter ex-
tância, ao se depararem com tema e definiu os critérios para cepcional, quando ficar carac-
uma demanda cujo objeto era aferir a abusividade dos juros terizada: 1) relação de consu-
a revisão dos juros remunera- remuneratórios. mo; 2) abusividade cabalmente
tórios, sob o fundamento da demonstrada diante das pe-
abusividade de sua exigência, culiaridades do caso concreto,
adotavam o seguinte critério Em julgados correlatos, capaz de colocar o consumidor
de análise: primeiramente, era o STJ deniu os critérios em desvantagem exagerada.
definido o percentual da taxa
justicadores para se Além disso, o stj reafirmou
média de mercado pelo Banco
Central do Brasil para o perío- concluir que as taxas no REsp 2.009.614/sc que “são
debjuros remuneratórios insuficientes para fundamen-
do em que o contrato bancário
tar o caráter abusivo dos juros
foi firmado; em seguida, verifi- sãobabusivas
cava-se se o percentual dos ju- remuneratórios: a) a menção
ros remuneratórios estabeleci- genérica às ‘circunstâncias da
dos pelo contrato bancário era, Na ementa do recurso, o stj causa’ – ou expressão equiva-
ou não, superior a 1,5 – ou 2 ou não aduz que o critério para lente; b) o simples cotejo entre
3 vezes o percentual da taxa de definir a abusividade dos juros a taxa de juros prevista no con-
juros remuneratórios. Em caso remuneratórios seria compa- trato e a média divulgada pelo
afirmativo, a taxa seria consi- rar se a correspondente taxa BACEN e c) a aplicação do limi-
derada abusiva. fixada pelo contrato bancário te adotado, aprioristicamente,
Contudo, no REsp 1.061.530/ é 1,5 ou 2 ou 3 vezes maior que pelo próprio Tribunal Esta-
rs, decidido sob o procedimen- a taxa média de mercado apre- dual” (grifos nossos).

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TRIBUNA LIVRE

Em julgados correlatos, o ano, porque ele não está limi- tui entre consumidor e o ban-
stj definiu os critérios justifi- tado à lei da usura; no mesmo co ou a instituição financeira,
cadores para se concluir que as sentido, não se pretende que o aquela apresenta vulnerabili-
taxas de juros remuneratórios Poder Judiciário entenda pela dade fática ou socioeconômica,
são abusivas. criação de um tabelamento de informacional, técnica e jurídi-
Ao analisar o voto da minis- juros remuneratórios ou de ca; em outras palavras, inicial-
tra Nancy Andrighi, no REsp uma limitação da referida taxa mente, o consumidor não tem
1.061.530/rs, encontra-se a in- independentemente de crité- conhecimentos de que o paga-
formação de que “a taxa média rios objetivos específicos. mento do crédito que está to-
apresenta vantagens porque O stj fixou seu entendimen- mando por empréstimo pode
é calculada segundo as infor- to no sentido de que a taxa de ser fixado por critérios mais
mações prestadas por diver- juros remuneratórios estabe- justos se for adotada a taxa
sas instituições financeiras e, lecida pelo Bacen já traz em- média do Bacen, o que tornaria
por isso, representa as forças butidos o custo da operação e o crédito mais barato, fazendo
do mercado. Ademais, traz o lucro da entidade bancária, com que o banco ou a institui-
embutida em si o custo médio sob a tutela do cdc, em aten- ção financeira, por sua vez, ob-
das instituições financeiras e ção ao princípio da informação tivesse lucro da mesma forma.
seu lucro médio, ou seja, um e transparência (cdc, inc. iii do Nesse contexto, deve-se pri-
‘spread’ médio” (grifos nossos). art. 6º). vilegiar a política nacional de
Diante desse cenário, qual a consumo, disposta no inc. iii do
razão para o banco ou institui- art. 4º do cdc, atendendo aos
ção financeira aplicar taxa de O STJ xou seu princípios da “harmonização
juros remuneratórios maior, entendimento no sentido dos interesses dos participan-
uma vez que a taxa média es- tes das relações de consumo e
de que a taxa de juros
tipulada pelo Bacen já traz em- compatibilização da proteção
butidos o custo da operação e remuneratórios estabelecida do consumidor com a necessi-
o lucro do banco ou da institui- pelo Bacen já traz embutidos dade de desenvolvimento eco-
ção financeira? o custo da operação e o lucro nômico e tecnológico, de modo
Se a taxa média apresen- a viabilizar os princípios nos
tada pelo Banco Central já os quais se funda a ordem econô-
traz embutido, caso o banco Quando o banco deixa de mica (art. 170, da Constituição
recorrido decida adotar uma apresentar ao consumidor Federal), sempre com base na
taxa diferente, superior àquela aqueles fatores estabelecidos boa-fé e equilíbrio nas relações
estipulada pelo Banco Central, pelo stj e que justificariam a entre consumidores e fornece-
ele tem obrigação com o con- estipulação de uma taxa de dores”.
sumidor (ora recorrente) de juros remuneratórios superior Além disso, quando o ban-
deixar claros os motivos por àquela que o Bacen entende co ou a instituição financeira
que está aplicando uma taxa como justa, o consumidor aca- não esclarece os fatores justi-
de juros maior, como a situ- ba assinando um contrato sem ficadores da adoção de taxa de
ação econômica na época da ter ciência e compreensão de juros remuneratórios maior do
contratação, o custo da capta- que está pagando um exceden- que aquela estabelecida pelo
ção de recursos, o risco envol- te de juros remuneratórios que Bacen, além de violar o inc. iii
vido na operação, o relaciona- não precisaria pagar, caso fos- do art. 6º do cdc, afronta tam-
mento mantido com o banco e se adotada a taxa média esta- bém a boa-fé objetiva, previs-
as garantias ofertadas. belecida pelo Bacen. ta no art. 422 do Código Civil,
Conforme afirmado ante- Essa conduta do banco co- notadamente em seus deveres
riormente, é permitido ao ban- loca o consumidor em desvan- anexos de confiança, lealdade,
co recorrido estipular juros re- tagem exagerada, visto que, na transparência, respeito e coo-
muneratórios acima de 12% ao relação jurídica que se consti- peração com o consumidor.

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controle dos inad 11 96363 0375 • 11 2384 0763
TRIBUNA LIVRE

Ademais, a falta de ciência sividade da taxa de juros re- te ineficiente), mas, sim, veri-
do consumidor de que está muneratórios, por orientação ficar se o banco ou a institui-
assinando um contrato que expressa da corte superior, não ção financeira apresentaram
desconhece as origens do esta- se deve adotar como critério de ao consumidor justificativas
belecimento da taxa de juros re- plausíveis para usar uma taxa
muneratórios, que pode tornar de juros remuneratórios maior
o custo da operação de crédito Um pedido de revisão de que aquela apresentada, pois,
mais caro, deixa-o em desvan- contrato bancário com apenas assim, o pagamento do
tagem exagerada, motivo pelo o objetivo de discutir a crédito tornar-se-á mais justo,
qual se afronta os incs. iii e iv do abusividade da taxa de juros o que incentiva mais contrata-
art. 39, o inc. iv do art. 51 e o inc. ções e viabiliza que o consumi-
iii do § 1º do art. 51, todos do cdc,
não leva em conta a média dor consiga pagar a totalidade
devendo a conduta do banco estipulada pelo Bacen do crédito tomado por emprés-
ou da instituição financeira ser timo. 
considerada abusiva e, por con-
José Victor Mouta. Graduado em Di-
sequência, eivada de nulidade. aferição da abusividade a com-
reito pela Faculdade Estadual de Di-
Por esses motivos, quando paração se a taxa contratual reito do Norte Pioneiro – fundinopi
se efetua um pedido de revi- está 1,5 ou 2 ou 3 vezes maior – (2007). Pós-graduado em Direito do
são de contrato bancário com que a taxa média estipulada Estado/Tributário, pela Universidade
Estadual de Londrina.
o objetivo de discutir a abu- pelo Bacen (comprovadamen-

Lucas Zapater Bertoni ADVOGADO

LEI 14.592/23 É INCONSTITUCIONAL: ICMS É CUSTO DE AQUISIÇÃO

R
ecentemente, entrou cidente sobre as aquisições icms nessas aquisições, para
em vigor a Lei 14.592/23, de matérias-primas, produtos não onerar o consumidor final
a qual positivou as pre- intermediários, materiais de da cadeia produtiva com o im-
visões da Medida Pro- embalagem etc. pacto tributário no preço. Tal
visória 1.159/23 para, em seus lógica advém do princípio da
arts. 6º e 7º, alterar a redação não cumulatividade, previsto
Não se pode negar a
do art. 3º das leis 10.637/02 e na Constituição com relação
10.833/03, as quais instituíram aproximação do princípio ao ipi (art. 154, i), ao icms (art.
o regime não cumulativo da da não cumulatividade com 155, § 2º, i) e às contribuições
contribuição ao pis e Cofins. a realização dos princípios sociais (art. 195, § 12 – inserido
Tal alteração provocou sen- dabcapacidade contributiva pela ec 42/03).
sível aumento na tributação A não cumulatividade, por
do pis e da Cofins para as em-
que limitam o poder de
sua vez, pode ser entendida
presas submetidas ao regime tributar do Estado como uma técnica de limita-
não cumulativo, por obrigá- ção do poder de tributar dos
-las a excluir, da apuração dos Até então, a legislação per- entes federativos sobre as ca-
créditos das contribuições mitia às empresas a tomada deias de produção e circulação
sociais em análise, o icms in- de créditos sobre o valor do mais extensas, fazendo com

14 REVISTA BONIJURIS I ANO 35 I EDIÇÃO 685 I DEZ23/JAN24


TRIBUNA LIVRE

que, a cada etapa da cadeia, da não cumulatividade com a


o imposto incida somente so- realização dos princípios da
bre o valor adicionado nessa capacidade contributiva e da
etapa – justamente, por isso, vedação ao confisco, que li- Herança
na maioria dos países, é de- mitam o poder de tributar do
nominado iva (imposto sobre Estado de acordo com a pro-
do Direito
valor agregado ou adiciona- porção do ônus econômico Romano.
do). A metodologia do cálculo aos cidadãos. Nesse ínterim, o
decorre da própria não cumu- papel do custo de aquisição na Arthur Virmond
latividade do pis e da Cofins, norma que constitui ao contri- de Lacerda Neto.
que, diferentemente do ipi/ buinte o direito aos créditos
icms (tributo contra tributo), de pis e Cofins é o da base de
permite a desoneração da ca- cálculo, uma vez que o aspecto
deia produtiva das empresas, quantitativo desta regra será
autorizando o crédito sobre calculado sobre este mesmo
qualquer despesa operacio- custo de aquisição. Negar, por-
nal utilizada em sua produ- tanto, a possibilidade de inclu-
ção ou prestação de serviço, são de um tributo incidente
considerando o valor total em cada operação da cadeia
da nota (“base produtiva, e
sobre base”), que não pode
incluindo o A metodologia do cálculo ser destacado
Neste livro o autor revela
icms, porque decorre da própria do custo de
o quanto Roma nos
o imposto re- aquisição na
não cumulatividade transmitiu no domínio
presenta um apuração de
custo enfren- do PIS e da Cons, que créditos, re-
jurídico e apresenta lições
tado pelo con- permite a desoneração presenta, in-
de romanistas e os valores
centrais da mentalidade
tribuinte e in- da cadeia produtiva das variavelmen-
tegra o preço te, negar a não jurídica romana. Expõe a
empresas romanização e a tradição
da mercadoria cumulativida-
em cada etapa de, aumentar do direito europeu, aprecia
produtiva. Entretanto, não a tributação das contribuições os comentadores à luz do
permitiu o constituinte que o sociais incidente nesta cadeira positivismo de Augusto
legislador ordinário negasse e, ultima ratio, onerar ainda Comte e reproduz os
vigência ao núcleo do princí- mais o consumidor final. Im- capítulos de O Espírito das
pio da não cumulatividade. E porta destacar que a compati- Leis pertencentes ao direito
esse núcleo representa a cria- bilidade de uma determinada romano.
ção de um sistema de com- lei com a Constituição é fun-
pensação de créditos (seja de damental para o equilíbrio do Compre através
“imposto sobre imposto” ou sistema jurídico. do QR Code
“base sobre base”), a fim de Desde o marco teórico de
que a incidência cumulativa Konrad Hesse, a Constituição
de tributos em diversas eta- passou a ter força normativa a
pas de uma cadeia produtiva partir de três premissas básicas:
não implique impacto econô- o condicionamento recíproco
mico mais severo sobre o con- existente entre a Constituição
sumidor final. jurídica e a realidade político- livrariabonijuris.com.br
Não se pode negar, portan- -social; os limites e possibilida-
to, a aproximação do princípio des da sua vigência; e os pressu-

REVISTA BONIJURIS I ANO 35 I EDIÇÃO 685 I DEZ23/JAN24 15


TRIBUNA LIVRE

postos de sua eficácia. Inserida pela Constituição e, assim, de Estado brasileiro é tão gran-
esta força normativa constitu- exigir tributos dos cidadãos. de que se utiliza de tributos
cional no sistema escalonado Contudo, o que se pretende de natureza tão especial para
do direito positivo, não somente demonstrar é a existência de subverter o sistema e aumen-
apresentam-se as normas cons- um limite objetivo para tanto, tar o ônus tributário aos con-
titucionais como fundamento e, nesse contexto, é impossível tribuintes, incluindo as empre-
de validade de todas as outras, ignorar a discussão doutri- sas, mas também os cidadãos
como também se impõe neces- nária acerca do mínimo exis- comuns, consumidores finais.
sariamente a sua observância tencial, tido por muitos como As contribuições são espécies
plena e irrestrita, o denomi- parte do núcleo essencial do tributárias vinculadas, ou
nado princípio da supremacia próprio princípio da dignida- seja, demandam determinada
constitucional. De acordo com de da pessoa humana. O fato contraprestação ou atividade
a supremacia que a Constitui- é que o critério quantitativo estatal através da sua exação.
ção exerce no sistema jurídico, da regra-matriz de incidência Logo, a arrecadação dos tribu-
ainda que uma determinada lei dos tributos (base de cálculo tos vinculados atende a uma
tenha, hipoteticamente, o âmbi- e alíquota) às vezes é insufi- determinada finalidade, que
to de validade de disciplinar de- ciente para aferir se aquela resulta uma atividade estatal
terminada apuração de tributo, obrigação tributária é legíti- específica. Neste sentido, por-
este mesmo âmbito de validade ma ou não, a partir do filtro quanto não se possa negar a le-
está limitado às normas consti- galidade formal da promulga-
tucionais afeitas ao sistema tri- ção da Lei 14.592/23, é inegável
butário nacional. Qualquer medida tributária e notória a sua incompatibili-
Porém, como dito anterior- com efeito de consco dade com normas constitucio-
mente, sendo a Constituição o deveria, automaticamente, nais de eficácia plena e obriga-
fundamento de validade das ser declarada inválida ou tória, por mitigar o princípio
leis ordinárias, de acordo com da não cumulatividade das
seu conteúdo material, resta
nem sequer ser inserida no contribuições sociais, bem
inválida a lei na medida em que ordenamento jurídico como negar o conteúdo mate-
nega vigência a princípios cons- rial do princípio da legalidade
titucionais de eficácia plena, da vedação ao confisco e da e do corolário da segurança
impossibilitando a sua própria capacidade contributiva. jurídica e, claro, a própria su-
vigência no sistema jurídico. Assim, qualquer medida tri- premacia da Constituição no
Nesse ínterim, é preciso butária com efeito de confis- direito brasileiro. Promover a
estabelecer as premissas que co deveria, automaticamente, majoração de tributos ao con-
balizam a ideia de que existe ser declarada inválida ou nem tribuinte sem observar os fun-
um limite objetivo e aferível sequer ser inserida no orde- damentos jurídicos e norma-
ao caráter arrecadatório da namento jurídico. É curioso tivos da incidência tributária
tributação, pois, a partir deste observar, contudo, que, caso o é praxe para a administração
limite, pode-se concluir que a atual regime de apuração dos pública, mas representa uma
capacidade contributiva rela- créditos de pis/Cofins estives- mácula no próprio estado de-
tiva pode ser atestada objeti- se “causando esvaziamento” no mocrático de direito. 
vamente, de modo racional, a sistema de seguridade social,
partir dos próprios elementos Lucas Zapater Bertoni. Supervisor
não teria o país, nos últimos 20
da área tributária do escritório Braga
do sistema do direito posi- anos, conseguido implementar & Garbelo�i Consultores Jurídicos e
tivo. Por um lado, é notável tantas políticas públicas na Advogados. Especialista em Direito
e indiscutível a necessidade área social, diminuindo a mi- Tributário pelo ibet-sp. Graduado em
do Estado de arrecadar re- séria, a subnutrição, o acesso direito pela Universidade Federal do
Paraná. Pós-Graduando em Filosofia,
cursos para promoção dos à saúde e ao saneamento bási-
Sociologia e História pela puc-r.
objetivos sociais pretendidos cos. A sanha arrecadatória do

16 REVISTA BONIJURIS I ANO 35 I EDIÇÃO 685 I DEZ23/JAN24


TRIBUNA LIVRE

Acácia Regina Soares de Sá JUÍZA DE DIREITO SUBSTITUTA DO TJDFT

CONCILIAÇÃO NA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E O PRINCÍPIO DA EFICIÊNCIA

A
Constituição Federal ga- Com a resolução mencio- de de celebração de transação
rante o acesso à justiça nada, os tribunais aumenta- penal e do acordo de não per-
a todos, isentando, do ram as iniciativas no sentido, secução penal, ambos no âmbi-
pagamento de custas e especialmente por meio da to do direito penal.
emolumentos, as pessoas que criação dos cejuscs (centros Vê-se que não há impedi-
não tenham condições de ar- judiciários de solução de con- mento; pelo contrário, há incen-
car com as custas de um pro- flitos e cidadania), os quais se tivos legais para que a adminis-
cesso sem prejuízo do seu sus- expandiram e hoje abarcam tração pública transacione.
tento (art. 5º, lxxiv). áreas como direito de família e Nesse sentido, já existem vá-
Desde 2004, com a promulga- a execução fiscal. rias iniciativas na administra-
ção da Emenda Constitucional As normas constitucionais ção pública federal, a exemplo
45/04, se objetivou o aprimora- abertas ampliam as possibi- do termo de ajustamento de
mento do Poder Judiciário. lidades de atuação do Poder conduta no âmbito das infra-
Em 2010, foi editada a Reso- Judiciário, porém esse espaço, ções cometidas por servidores
lução 125/10 do Conselho Na- constitucionalmente garanti- públicos federais e das câma-
cional de Justiça, que tratou do ao Poder Executivo, encon- ras de conciliação no âmbito
da política judiciária nacio- tra limites na própria Consti- das contratações públicas fe-
nal de tratamento adequado tuição Federal: quais sejam, os derais.
dos conflitos de interesses no objetivos e conteúdos sociais A conciliação pode evitar, em
âmbito do Poder Judiciário, a presentes nela. diversos casos, o prolongamen-
qual, segundo Kazuo Watana- Assim, a conciliação pode to de processos em que a chan-
be, buscou garantir o acesso ser entendida como uma ga- ce de êxito do ente público é pe-
à ordem jurídica justa e ainda rantia constitucional de solu- quena, a exemplo do que ocorre
“procura enfrentar a crise de ção consensual de conflitos, no âmbito das ações de saúde,
morosidade da justiça, ata- o que legitima sua aplicação e outras situações nas quais o
cando suas causas, e não seus em todos os ramos do direito. resultado adquirido é menor do
efeitos”. Exemplo disso é a possibilida- que custo dispendido.

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REVISTA BONIJURIS I ANO 35 I EDIÇÃO 685 I DEZ23/JAN24 17


TRIBUNA LIVRE

É possível, então, verificar ma mais rápida e a um menor eficiência, insculpido no art. 37


que a recusa da realização de custo. da Constituição Federal. 
acordos que sejam benéficos Assim, diminuir o tempo de
tramitação dos processos, sem Acácia Regina Soares de Sá. Juíza de
para a administração fere o
que haja prejuízos à adminis- direito substituta do Tribunal de Jus-
princípio constitucional da
tração pública, por meios da tiça do Distrito Federal e Territórios.
eficiência, o qual exige que a utilização de soluções alterna- Mestre em Políticas Públicas e Direito
administração pública alcance tivas de conflitos, é uma forma pelo Centro Universitário de Brasília –
os melhores resultados da for- de observância do princípio da uniceub.

Denis Caramigo Ventura ADVOGADO CRIMINALISTA

O CRIME DE ATO OBSCENO E OS ESTUDANTES DE MEDICINA

F
oi divulgado pelas mídias o mídia, pois não tivemos acesso lherme de Souza Nucci, “o indi-
caso dos estudantes de me- aos autos, a conduta praticada víduo pode até saber que a sua
dicina que, ao assistirem a pelos estudantes foi a de que nudez é capaz de representar
um jogo de vôlei feminino eles abaixaram as vestes e dei- uma obscenidade, mas não há
universitário, teriam abaixado xaram suas partes íntimas a o elemento subjetivo específi-
suas vestes e, assim, deixado as bel-prazer para quem quisesse co de ofender o pudor público”.
suas partes íntimas à mostra. ver. Apesar da informação ini- No evento dos estudantes
Em um dos vídeos divulga- cial de que houve uma mastur- de medicina, certo é que uma
dos, é possível ver cerca de 20 bação coletiva, tal fato não foi conduta existiu (criminosa
alunos com as calças abaixadas comprovado. Também não há ou não), porém ela deve ser
e exibindo, em tese, os órgãos relatos de nenhuma outra prá- individualizada para cada um
externos (alguns deles cober- tica de cunho sexual em face dos agentes envolvidos, pois
tos pelas mãos) durante o even- de quem quer que seja e nem há relatos de que muitos esta-
to. Em um outro vídeo deste palavras com o mesmo fim pro- vam “tapando com as mãos” as
mesmo grupo, observa-se o feridas (o que em tese caracteri- suas partes. Dessa forma, não
momento em que alguns deles zaria outro crime), ainda que de se pode colocar todos eles em
correm pelados pela quadra. forma genérica. uma única bitola tida como
Tal comportamento foi clas- Doutrinadores como Nucci, imutável, pois cada ocorrência
sificado como ato obsceno, po- Greco, Delmanto e Rassi ates- deve ser apreciada de forma
rém o que configura tal crime? tam que o elemento subjetivo individual e, assim, havendo
A tipicidade penal está positiva- do tipo é o dolo específico, con- responsabilização pelo ato,
da no art. 233 do Código Penal. sistente em ofender o pudor que seja nos termos do art. 29
A questão técnica a ser discu- alheio, e, sendo assim, caso o do cp e do art. 5º, xlvi, da cf.
tida aqui é se existiu o dolo em ato seja praticado com fim di- Deve-se ter muita cautela
ofender o pudor alheio ou se foi verso de ofensa ao pudor de quando analisamos a questão,
somente uma atitude abarcada terceiros, o fato será atípico. pois temos um ordenamento
pelo animus jocandi (gozação). Nas palavras do desembar- jurídico positivado e o art. 233
Pelo que sabemos através da gador do tjsp e professor Gui- deixa muita margem para in-

18 REVISTA BONIJURIS I ANO 35 I EDIÇÃO 685 I DEZ23/JAN24


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TRIBUNA LIVRE

terpretação, o que fere de mor- decidir o que é obsceno, ou obsceno) e, muito menos, com
te o princípio da reserva legal. não, é o juiz”. finalidade de saciar a lascívia
Isso é importante porque um Apenas a título de possível dos envolvidos. Assim sendo,
ato pode ser obsceno para uma esclarecimento sobre o crime não está presente a tipicidade
pessoa e não o ser para outra, de importunação sexual – pre- do art. 215-A do cp.
tendo em conta que o tipo pe- visto no art. 215-A do cp – que A discussão que trazemos
nal não define o que é um ato está sendo discutido dentro neste esboço é crucial para
obsceno. do contexto dos estudantes, que não acabemos por aceitar
O procurador de justiça e pro- neste é de suma importância, o julgamento midiático antes
fessor Rogério Greco foi muito para que se tipifique (de for- de sabermos, com exatidão,
feliz quando se expressou sobre ma consumada ou tentada), o que realmente aconteceu e
a questão dizendo que “o que que o ato libidinoso seja pra- de que forma aconteceu, para
não pode, sob o falso argumen- ticado contra alguém e com que possamos tratar a ques-
to de defesa da coletividade, é o fim específico de satisfazer tão de forma técnica, correta
radicalizar a ponto de reconhe- a própria lascívia ou a de ter- e legal.
cer qualquer comportamento ceiro. Não havendo vítima di- Por fim, nunca é demais re-
incômodo como obsceno”. reta e a prática libidinosa com lembrar o ensinamento de Ruy
Na mesma direção, cami- o dolo de satisfazer a própria Barbosa:
nha Nucci: “Não é fácil definir lascívia ou de terceiro, não “As leis que não protegem nos-
com clareza o pudor públi- existirá o crime de importu- sos adversários não podem prote-
co nem saber com exatidão nação sexual. ger-nos.” 
quando uma exibição é obsce- Pelo que se sabe até o mo-
na. Está-se diante de um tipo mento, não há registros de que
Denis Caramigo Ventura. Advogado
penal de duvidosa constitu- tenha havido qualquer ato li-
criminalista.
cionalidade, pois, quem deve bidinoso (que é diferente de

Renee do Ó Souza PROMOTOR DE JUSTIÇA EM MATO GROSSO


Rogério Sanches Cunha MEMBRO DO MPSP

COLABORAÇÃO (DELAÇÃO) PREMIADA UNILATERAL?

É
possível a chamada cola- ciocínio demasiado simplista miada é um negócio jurídico
boração unilateral, enten- de que os prêmios decorrem implica a obrigatoriedade de
dida como a delação pre- da lei, aspecto que restou so- ela ser celebrada em meio a
miada sem a celebração bejamente superado pelas al- um ajuste bilateral de cláu-
de um instrumento ou termo terações promovidas pela Lei sulas, condições, prestações e
de acordo? 13.964/19, que procedimentali- contraprestações recíprocas,
Aqueles que defendem essa zou, em minúcias, a fase pré e todas devidamente autorrefe-
possibilidade se ancoram na negocial do acordo, inserindo- renciadas pelas partes, em um
caracterização da delação -as como parte importante ambiente de negociação claro
como um direito público sub- para a celebração do negócio. e transparente, capaz de asse-
jetivo do acusado. Esse enten- A consagração, no texto da gurar-lhe confiança e seguran-
dimento se apoia em um ra- lei, de que a colaboração pre- ça jurídica.

20 REVISTA BONIJURIS I ANO 35 I EDIÇÃO 685 I DEZ23/JAN24


TRIBUNA LIVRE

Além disso, uma colabora- em tramitação. Essa atuação


ção premiada realizada sem voluntária evidencia uma inde-
parâmetros procedimentais, vida concentração das funções
sem um plano negocial capaz acusatória e julgadora, fere a
de lhe assegurar reciprocidade proibição textual de ele partici-
sinalagmática e, principalmen- par das negociações de uma co-
te, sem uma análise, pelo órgão laboração (§ 6º do art. 4º da Lei
de acusação, acerca de seu efe- 12.850/13) e é nociva porque en-

redes sociais
tivo potencial probatório, pau- seja uma substituição da atua-
tado pela necessidade de o co- ção probatória do órgão de acu-
laborador apontar os possíveis sação; afinal, os documentos e
elementos de corroboração do informações trazidas pelo cola-
relato, incorre em equívoco borador servirão de estratégia
grave. A corroboração (art. 4º, para uma investigação a ser
§ 16, da Lei 12.850/13), filtro que encetada pelo Ministério Públi-
evita falsas e fabricadas cola- co. E aqui verificamos uma en-
borações, e a busca desenfrea- cruzilhada. Considerando que
da pelos prêmios legais são re- o órgão de acusação, único di-
conhecidamente as regras de rigente da atuação probatória
ouro da colaboração premiada, acusatória, pode não levar em
pois impelem o colaborador conta essas informações, como
à necessidade de apresentar pode o juiz premiar um acusa-
uma outra prova indepen- do por prestá-las, mesmo sem
dente (independent evidence ter garantias de sua utilidade
of guilt) capaz de confirmar a pública, ou pior, mesmo nos
confiabilidade do relato inicial. casos em que elas não servirão
Uma declaração que imputa para nada?
corresponsabilidade a outras Por tudo isso, entendemos
pessoas sem elementos míni- que as reformas promovidas
mos de corroboração é prova pela Lei 13.964/19, seja na Lei
zero, um nada jurídico. 12.850/13, seja no cpp, ensejam
Soma-se a isso tudo a rees- a inadequação e revogação da
truturação do processo penal chamada delação premiada
promovida pela Lei 13.964/19, unilateral, por ser incompatí-
que proclamou no novo art. vel com a natureza negocial
3º-A do cpp que “o processo pe- do instituto e com a dinâmica
nal terá estrutura acusatória, adversarial e acusatória que Acesse pelo
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vedadas a iniciativa do juiz na se assenta o processual penal
fase de investigação e a substi- brasileiro. 
tuição da atuação probatória
do órgão de acusação”. Renee do Ó Souza. Mestre em Direito.
Pós-graduado em Direito Constitucio-
Assim, a colaboração pre- nal, Direito Processual Civil, em Direi-
miada unilateral fere o sistema to Civil, Difusos e Coletivos. Promotor fb.com/revistabonijuris
acusatório porque permite que de Justiça em Mato Grosso.
@revistabonijuris
o juiz se aproxime e negocie Rogério Sanches Cunha. Membro do
Ministério Público do Estado de São
com o acusado para obter pro-
Paulo. Professor da Escola Superior do
vas incriminadoras de outros Ministério Público dos estados de São
fatos ou pessoas, supostamen- Paulo, Mato Grosso e Santa Catarina.
te desconhecidos na ação penal

REVISTA BONIJURIS I ANO 35 I EDIÇÃO 685 I DEZ23/JAN24 21


ENTREVISTA

“JURISTA BRASILEIRO

Arte: Giovana Tows


TEM POR HÁBITO
CRITICAR O SISTEMA SEM
OFERECER SOLUÇÕES”
JOSÉ FERNANDO SIMÃO
PROFESSOR DE DIREITO DA USP, ADVOGADO, PARECERISTA E MEMBRO DA
COMISSÃO DE ATUALIZAÇÃO DO CÓDIGO CIVIL CRIADA PELO SENADO FEDERAL

U
m dos 34 membros da comissão de atualização do Código Civil instalada pelo Senado
Federal, em agosto deste ano, o professor de direito José Fernando Simão é um acadê-
mico de opiniões firmes. Por exemplo, ele considera que a falta de pagamento das ta-
xas condominiais implica destruição do modelo de condomínio edilício e vê, como sa-
ída, a responsabilização do credor fiduciário (instituição financeira). Especialista em
direito de família, ele acredita também que os modelos de unidade familiar já estão ampliados
ao máximo e limitados ao mínimo. Por essa razão, rejeita qualquer proposta “novidadeira” que
implique a legalização da poligamia ou até do incesto, como advoga o Instituto Brasileiro de
Direito de Família (ibdfam). Para Simão, uma coisa é admitir a união homoafetiva, como fez o
stf, tratando de uma questão essencialmente técnica e constitucional. A outra é dar uma cara
de modernidade, estilo “fashion”, às relações conjugais. “Não é preconceito, trata-se do exercí-
cio facultado ao direito civil de dizer ‘não’”, afirma. O professor bate na mesma tecla quando
analisa as uniões simultâneas e confronta a proposta de igualar direitos de cônjuge e amante.
“Eu, sinceramente, entendo que a mulher casada sofreria uma diminuição sem precedentes
de seus direitos se se admitissem direitos à concubina.” Livre-docente, doutor e mestre em
direito pela usp, o professor José Simão, que ocupa a cadeira de direito civil na histórica fa-
culdade de direito do Largo São Francisco, avalia que os 180 dias dados à comissão para apre-
sentar um anteprojeto de atualização do Código Civil é prazo exíguo, mas, ao mesmo tempo,
suficiente para garantir um bom trabalho. Ele lembra que até a entrada em vigor do primeiro
Código Civil no Brasil, em 1916, foram necessários quase 100 anos. O segundo começou a ser
discutido em 1975, porém levou quase três décadas para que, finalmente, viesse a lume no iní-
cio do século 21. Sobre a máxima de que o Código Civil de 2002 já nasceu velho, Simão diz que
esse é um preço pequeno a se pagar para viver em uma democracia. “Todos os códigos civis
aprovados em países democráticos nascem velhos e, honestamente, não acredito que alguém
preferisse que ele nascesse moderno, atual e dinâmico por força de um regime ditatorial”.
Ele vai mais longe: alerta que as críticas a um suposto anacronismo do código são feitas por
juristas que apresentam problemas, mas não têm o hábito de apontar soluções. “A casa não se
torna imprestável à moradia porque há uma lâmpada queimada.” Os doutrinadores brasilei-
ros, segundo o professor José Simão, enxergam justamente assim. Ou não enxergam.

22 REVISTA BONIJURIS I ANO 35 I EDIÇÃO 685 I DEZ23/JAN24


JOSÉ FERNANDO SIMÃO ENTREVISTA

Um código civil é uma lei perene e,


portanto, deve cuidar de temas que
não estão em constante mudança

Qual será o papel dos 34 membros da comissão


de atualização do Código Civil? Sistematizar
as propostas e dar a elas uma primeira reda-
ção? Definir previamente os principais temas
a serem tratados? Trazer a lume o que já é dis-
cutido pela comunidade jurídica e pela socie-
dade civil?
Exatamente tudo. Em uma ordem lógica: pri-
meiro, se ajustam os temas em que há consenso
de grande parte da doutrina; depois se propõem VOCÊ SABIA QUE
mudanças substanciais que atendem ao que OS SÍNDICOS
vem sendo debatido e, por último, se pensa em DE SUCESSO
desburocratização. C O M PA R T I L H A M
UM SEGREDO?
Por ocasião da criação da comissão, o ministro
Luis Felipe Salomão, e o presidente do Senado, U M A PA R T E D O
Rodrigo Pacheco, enfatizaram a necessidade SEGREDO É QUE
de atualizar o Código Civil para fazer frente à
ELES TÊM CONDOPLUS
revolução digital que vivemos, notadamente
NO CONDOMÍNIO.
a que trata das redes sociais e da inteligência
artificial. De que forma a comissão pretende A O U T R A PA R T E É A
preencher essa lacuna?
Um código civil é uma lei perene e, portanto, deve
cuidar de temas que não estão em constante
mudança. Contudo, isso não significa que não
se possa criar regras que sejam aplicadas às no-
vas tecnologias, seja para facilitar a celebração
de negócios jurídicos, seja para responsabilizar
civilmente quem, no mundo digital, causa danos
a partir de um pretenso manto de irresponsabili-
dade. Não se pode, todavia, esquecer de que o Bra-
sil já avançou em legislação própria sobre várias
questões relacionadas ao mundo digital, como o 41 3013 5900
marco civil da internet. A reforma do Código Ci- 41 99777 0030
vil não pode, por essa razão, desconsiderar o que
condoplus.com.br
já foi produzido, ainda que seja para aperfeiçoar
condoplus.cobrancas
ou para modificar essas regulamentações.
condoplus.cwb

No ano passado, entrou em vigor lei que re-


duzia o número de votos necessários para a
mudança na destinação de imóvel em con-
domínio. A ideia era atualizar o Código Civil
facilitando a conversão de edifício comercial

A BONIJURIS I ANO 35 I EDIÇÃO 685 I DEZ23/JAN24


REVISTA 23
“JURISTA BRASILEIRO TEM POR HÁBITO CRITICAR O SISTEMA SEM OFERECER SOLUÇÕES”

O inadimplemento de taxa condominial implica destruição do modelo do


condomínio edilício. Em uma explicação sucinta: inviabiliza coisas básicas como
o pagamento de funcionários e a água e luz das áreas comuns do edifício

em unidade habitacional, e vice-versa. Em que do condomínio, porque, em termos jurídicos, o


medida essa mudança está relacionada ao tra- credor fiduciário é proprietário. É verdade que
balho em home office e à revitalização dos cen- sua propriedade é resolúvel e, portanto, se ex-
tros urbanos? tinguirá quando a dívida for integralmente
O tema é difícil. Minha opinião sobre ele não é quitada pelo devedor fiduciante. É um ponto
exatamente simpática. Explico: a mim, parece muito complexo, mas, a título de esclarecimen-
que essa mudança tem mais a ver com a von- to, eu tenho preocupação histórica com a ma-
tade do mercado imobiliário de empreender nutenção do condomínio edilício e, assim, gosto
e ter vantagens econômicas do que propria- de garantir efetividade no recebimento da taxa
mente com o bem-estar dos moradores, com condominial. Por isso, acho que a multa de 2%
a revitalização dos centros das cidades e com tem que, necessariamente, voltar ao patamar
vantagens para a sociedade como um todo. anterior pelo qual a convenção condominial po-
Neste ponto, vejo apenas interesses setoriais deria prever multa de até 20%.
dos players.
Juristas criticam o Código Civil por não retra-
A comissão pretende discutir a possibilidade tar a sociedade de seu tempo e por aprovar
de o condomínio vir a integrar o rol taxativo normas que se revelam anacrônicas. Citam
de pessoas jurídicas tal como disposto no art. o direito de família como principal exemplo.
44? Qual é a sua opinião a respeito?
Há por parte do professor [Flávio] Tartuce uma A crítica é totalmente injusta. Não é porque
crença de que o rol do art. 44 não é taxativo e existe um problema no livro “Do Direito de Fa-
que, portanto, independentemente de qualquer mília” que o código todo pode ser considerado
reforma, o condomínio edilício já é pessoa jurí- anacrônico. Exemplifico: a casa não se torna
dica. Não tenho dúvidas de que a comissão da imprestável à moradia porque há uma lâmpa-
“Parte Geral” terá que enfrentar a questão. Ago- da queimada. O jurista brasileiro tem por hábi-
ra, se a opinião do professor Tartuce irá ou não to criticar o sistema sem oferecer soluções para
prevalecer com relação a esse polêmico e com- os problemas. Há uma ideia de que o presente
plexo argumento, eu não posso garantir. é ruim, mas o futuro acaba por ser sombrio,
já que normalmente não se sugere nada de
No caso da alienação fiduciária, está em dis- melhor e, ao contrário, se consegue uma des-
cussão a definição da responsabilidade da ins- truição sistêmica que não atende à segurança
tituição financeira em caso de dívida de taxa jurídica e muito menos ao bom direito. Logo, o
de condomínio de imóvel penhorado? O se- Código Civil não tem problema como sistema, e
nhor é favorável a esse entendimento? mesmo as atualizações no campo do direito de
O assunto também é complexo, porque o família estão mais na parte do direito pessoal
inadimplemento de taxa condominial implica do que na parte do direito patrimonial. Agora,
destruição do modelo do condomínio edilício. é verdade que a regra da sucessão legítima,
Em uma explicação sucinta: o não pagamento quanto à concorrência sucessória, há 20 anos
da taxa inviabiliza coisas básicas, como o pa- gera mais problemas do que soluções, e o fato
gamento de funcionários, água e luz das áreas do cônjuge ser herdeiro necessário desagrada
comuns do edifício. Logo, temos de ponderar se sensível parte dos brasileiros. Entretanto, des-
efetivamente não é melhor ao sistema a respon- merecer um código ou considerá-lo desatuali-
sabilidade do credor fiduciário pelo pagamento zado porque há problemas pontuais no livro

24 REVISTA BONIJURIS I ANO 35 I EDIÇÃO 685 I DEZ23/JAN24


Conte
conosco!

DUPLIQUE SC
Condôminos e colaboradores
do condomínio, como deve
ser a relação?

Os colaboradores do condomínio são pessoas


que convivem diariamente com os condôminos
e essa relação pode gerar complicações para
ƊǿƦƊȺƊȺȯƊȲɈƵȺȺƵȁƣȌǏȌȲƦƵǿƮƵ˛ȁǞƮƊ‫خ‬
Um exemplo é o caso do porteiro que, a pedido CHEYLLA VIRGÍLIO
de um condômino, sai do seu posto para Gerente Duplique
resolver um pequeno problema dentro da Unidade São José
unidade.
Esse ato de boa vontade e colaboração pode,

“Para acabar com os


além de comprometer a segurança do
condomínio e deixar as pessoas do lado de fora
aguardando para terem o acesso liberado, ser
considerado desvio de função se ocorrer com
frequência, prejudicando o condomínio em problemas causados
uma eventual ação trabalhista. pela inadimplência,
Outra situação recorrente são os condôminos procure o grupo Líder
que chamam a atenção dos colaboradores, em Garantia de Receita
quando, na verdade, coordenar os
para Condomínios.


colaboradores é uma atividade exclusiva do
síndico.
Por isso, é importante que cada agente do
condomínio: síndico, condôminos e
colaboradores, tenham consciência de quais os
seus direitos, funções e deveres, além, é claro,
acima de tudo serem respeitosos uns com os
outros.

Assim, todos vivem em paz e


evitam problemas.
Conte conosco!

0800 780 8877 duplique.com.br


“JURISTA BRASILEIRO TEM POR HÁBITO CRITICAR O SISTEMA SEM OFERECER SOLUÇÕES”

Sou daqueles que entende que a comissão deve dar o último passo que falta com
relação ao divórcio, que é a possibilidade de divórcio potestativo unilateral, já que,
após a Emenda 66, não há como se resistir ou se opor ao pedido de divórcio

“Do Direito de Família” é leitura capenga de nal e não contratual, como preconizado pelo
um sistema que funciona bem e que tem sido código civil francês de 1804.
motivo de orgulho para os juristas do presente,
que devem sempre render tributo aos juristas Especialistas em direito de família apontam
do passado. para uma flexibilização cada vez maior em
dois institutos: o casamento e o divórcio. Esse
O reconhecimento amplo de unidades familia- é um ponto em discussão na comissão?
res pode reduzir o casamento a um contrato Casamento não se flexibiliza, pois tem regras
formal, ou seja, sem as exigências previstas próprias que garantem segurança jurídica.
em lei? Ou seja, o casamento no modelo “Las Vegas
Não há como se aumentar os modelos familia- Drive Thru” não é posto em debate no Brasil.
res porque esses já estão ampliados ao máxi- Quanto ao divórcio, desde a Emenda Consti-
mo e limitados no mínimo, ou seja, apenas e tucional 66 de 2010, vê-se que sua facilitação,
tão somente pelo texto do art. 1.521 do Código inexistindo filhos menores ou incapazes, tem
Civil (impedimentos matrimoniais). Se a co- sido extremamente benéfica ao sistema, supe-
missão, em claro equívoco jurídico, resolver rando o ranço histórico da culpa e garantindo
ser “novidadeira”, atendendo ao interesse de aos cônjuges um fim do casamento pelo sim-
pequenos grupos em detrimento às grandes ples fato de ter acabado o afeto. Sou daqueles
questões sociais, o trabalho será inócuo por- que entende que a comissão deve dar o último
que não será aceito pelo Congresso. Explico: passo que falta com relação ao divórcio, que é
quando o stf admitiu a família homoafetiva a possibilidade de divórcio potestativo unila-
e o fez de maneira técnica, revelou-se genui- teral, já que, após a Emenda 66, não há como
namente guardião da Constituição, pois nin- se resistir ou se opor ao pedido de divórcio.
guém é menos digno da proteção jurídica em Qualquer oposição do cônjuge será inócua
razão de sua orientação sexual. A poligamia, para fins de se impedir o divórcio. Logo, nesse
como defendida por boa parte do Instituto ponto, tenho convicção que a comissão dará o
Brasileiro de Direito de Família ibdfam, ao passo derradeiro para simplificação do fim da
contrário, não é garantia de respeito às dife- conjugalidade.
renças, mas sim uma vontade de dar direitos
a quem não os tem, apenas e tão somente para Em 2020, o stf considerou ilegítima a existên-
se dar uma cara de modernidade ao sistema cia de uniões simultâneas. Na prática, entre-
(é legal ser fashion). A proteção da família tanto, há julgados a favor de “companheiros”
homoafetiva em nada se compara à regula- ou “companheiras” em decisões que envolvem
mentação da poligamia e do incesto. Não tem partilha de bens. Esse será um dos tópicos em
o mesmo fundamento nem a mesma lógica. debate?
Existe discriminação em razão da orientação A questão será apreciada. Mas volto a frisar
sexual, e isso o stf não admitiu ao garantir o que a autonomia privada não implica liber-
casamento de pessoas do mesmo sexo. Não ter dade incondicional, mesmo porque, no debate
direito à poligamia ou ao casamento incestu- das famílias paralelas, a mulher acaba sen-
oso, por outro lado, não implica preconceito, do a grande prejudicada, pois a imposição de
mas sim o exercício facultado ao direito civil partilha de bens em favor da concubina ou do
de dizer “não”. O casamento, portanto, segue concubino implica perda de patrimônio para
como sempre esteve: com natureza institucio- a mulher que se casou. Ou seja, a grande ques-

26 REVISTA BONIJURIS I ANO 35 I EDIÇÃO 685 I DEZ23/JAN24


JOSÉ FERNANDO SIMÃO ENTREVISTA

A mulher casada sofreria uma


diminuição jurídica sem precedentes se
se admitissem direitos à concubina

tão que se coloca é: por que a concubina deve


ser protegida em prejuízo da esposa? A esposa
é menos importante para a proteção jurídica do
que o é a concubina? Eu, sinceramente, entendo
que a mulher casada sofreria uma diminuição
sem precedentes de seus direitos se se admitis-
sem direitos à concubina. Seria uma orientação
profundamente machista e em dissintonia com
o que a mulher casada tem hoje.

A pandemia trouxe à tona o “contrato de na-


moro qualificado”, que trata da possibilidade SOLUÇÕES
de que um casal more junto sem a disposição
de dividir os bens ou constituir família. Em
QUE FACILITAM
que medida isso pode gerar confusão e insegu- O DIA A DIA
rança nas decisões judiciais?
Sou fã incondicional de Zeno Veloso. Um amigo DE SÍNDICO
querido que deixou um vazio teórico irrepará- E CONDÔMINOS
vel. É dele essa categoria de namoro qualificado.
E é dele a preocupação pandêmica. No ano de
2020, eu, Zeno e Rodrigo Toscano conversáva-
mos todo sábado por vídeo e me lembro perfei-
tamente dessa ponderação de Zeno, para quem
HÁ MAIS
a necessidade de isolamento social geraria
“uniões estáveis à força”. Contudo, a pergunta
DE 40 ANOS
padece de um equívoco: o problema da catego-
ria namoro qualificado não tem relação com a
pandemia, mas sim com o famoso caso de uma Cobrança garantida,
atriz que pediu direitos patrimoniais ao fim do repasse integral de
relacionamento invocando união estável, quan-
do Zeno entendia que apenas havia namoro
receita e muito mais.
qualificado. A categoria é péssima, porque gera
dúvidas e incertezas; o que distingue namoro de
união estável é o objetivo de constituir família
(1.723 do cc), logo o adjetivo “qualificado” é inútil
para distinção categorial.

Se o casamento equiparou-se à união estável,


de tal modo que os institutos se confundem,
não seria o caso de dar à unidade conjugal um garantedeodoro.com.br
termo único? 41 3224 3794
Este é o drama. O stj transformou a união es-
tável em casamento forçado, mas é impossível

REVISTA BONIJURIS I ANO 35 I EDIÇÃO 685 I DEZ23/JAN24 27


“JURISTA BRASILEIRO TEM POR HÁBITO CRITICAR O SISTEMA SEM OFERECER SOLUÇÕES”

O STJ transformou a união estável em casamento forçado, mas é


impossível a existência de uma única categoria. União estável e casamento
diferem-se quanto à formação, à comprovação e à extinção

a existência de uma única categoria, pois ain- que isso ocorra, as decisões a respeito se dividem
da que os efeitos sejam idênticos, união estável em dois grupos: as boas, que tratam os animais
e casamento diferem-se quanto à formação, à como coisas passíveis de proteção, com base na
comprovação e à extinção. Eu penso que per- função social da propriedade (e nesse sentido
de a sociedade quando se retira a liberdade de fui citado diversas vezes pelo stj), e as decisões
constituir uma união estável sem as restrições e do “oba-oba”, que admitem cachorro como autor
limitações que são próprias do casamento. de demanda. A proteção do animal não precisa
implicar destruição do sistema jurídico nem ri-
Outros temas que devem entrar na pauta são o dicularização do pensamento histórico.
casamento homoafetivo, os juros nas dívidas
judiciais e os contratos pela internet. Os 180 A pandemia revelou que há cerca de três mi-
dias que a comissão terá de prazo para debater lhões de brasileiros no país que não possuem
um amplo leque de questões é suficiente? qualquer documento de identidade – a maio-
A reforma de um código civil é um trabalho ria moradores de rua. Há mudanças a serem
hercúleo e, portanto, 180 dias ou 18 anos é pra- feitas no Código Civil que possam auxiliar no
zo igualmente insuficiente. Contudo, há uma resgate da cidadania desse universo de invisí-
tendência no mundo jurídico de trabalhos cir- veis sociais?
culares e inconclusivos. Logo, acho que o prazo Não, o problema é trágico e me deixa profun-
é bastante razoável, pois, na história da codifi- damente triste. As campanhas de políticas pú-
cação, o Brasil demorou muito para conseguir blicas nesse sentido precisam ser feitas com
produzir seu primeiro Código Civil (quase 100 urgência, não é a mudança de um código que
anos) e depois produzir seu segundo (quase 30 trará fim ao drama da população carente.
anos). Codificações produzidas às pressas são
normalmente códigos de ditadores: Napoleão, Além do senhor, também as professoras da
Mussolini etc. usp Giselda Hironaka e Paula Forgioni inte-
gram a comissão que terá como objetivo a pro-
O direito animal também está em voga. Em dução de um anteprojeto de lei, visando à atu-
2019, o Senado aprovou projeto de lei comple- alização do Código Civil. Qual é a importância
mentar criando regime jurídico especial para da participação dos professores do histórico
os animais e vetando a sua denominação como Largo São Francisco nesse grupo e o que isso
semoventes. Tribunais também vêm enten- pode indicar?
dendo que o animal é sujeito de direitos, apto Sempre acreditei que não se pode produzir boas
a ser representado em juízo. Há espaço para leis sem se ouvir a Academia. Dou como exem-
uma “revolução dos bichos” no Código Civil? plo Portugal, em que todos os projetos que mo-
A revolução dos bichos é tecnicamente uma tra- dificam importantes leis são debatidos pelo par-
dução brasileira da obra de Orwell que se chama lamento conjuntamente com as universidades.
Animal Farm e o termo “revolução” tem causado Logo, a minha emoção é muito grande ao pen-
debates filosóficos entre os atuais tradutores do sar que as Arcadas do Largo de São Francisco
escritor britânico. Feito esse disclaimer, enten- são convocadas neste momento histórico, único
do sim que é hora de o Código Civil, seguindo os para melhorar um sistema que foi pensado por
exatos termos da lei portuguesa, conceder aos meus antecessores, afinal, para citar apenas
animais direitos, criando-se uma categoria que um, Miguel Reale foi catedrático do Largo de
fica entre as coisas e as pessoas. Contudo, até São Francisco.

28 REVISTA BONIJURIS I ANO 35 I EDIÇÃO 685 I DEZ23/JAN24


JOSÉ FERNANDO SIMÃO ENTREVISTA

O nascimento de um código
“desatualizado”bé um preço pequeno a se
pagar para viver em uma democracia

Modernização do livro de sucessões, atualiza-


ção do direito empresarial e a chance de dese-
maranhar o direito de família são alguns dos
pontos que o grupo levará para a comissão?
Na sucessão legítima, os ajustes são imprescin-
díveis, já que ocorre verdadeira inoperabilida-
de. No direito pessoal de família, alguns ajustes
são necessários por força das orientações do
stf. Sobre o livro de empresa, não opino, por-
que não sou especialista na área, que está aos
cuidados de uma das maiores juristas de nosso
tempo, a professora Paula Forgioni. Aliás, assim
como sucessões está nas mãos de dois juristas
que nutro profunda admiração: minha mãe, a
acadêmica Giselda Hironaka, e meu fraterno
amigo Mário Delgado.

O senhor já afirmou também que pretende, em


se tratando de obrigações, substituir o termo
“validade” por “eficácia”. Por quê?
O termo validade em alguns artigos do código
é utilizado de forma equivocada, o que retira
operabilidade do sistema. Neste ponto, vamos
nos valer das lições de Pontes de Miranda e dos
enunciados que aprovamos no Conselho da
Justiça Federal. Creio que isso não gere grandes
problemas para aprovação.

Há quem diga que o Código Civil de 2002 já


nasceu velho. A atualização do diploma é sufi-
ciente para devolvê-lo aos novos tempos?
Todos os códigos civis aprovados em países
democráticos nascem velhos e, honestamen-
te, não acredito que alguém preferisse que o
código já nascesse moderno, atual e dinâmico
por força de um regime ditatorial. Em tempos
em que pouco se lê e muito se palpita, citaria o
bom Churchill, que afirmou que a democracia
realmente não era um bom regime, mas que des-
conhecia outro melhor. Assim, creio que o nas-
cimento de um código eventualmente “desatua-
lizado” seja um preço pequeno a se pagar para
viver em um sistema democrático. 

REVISTA BONIJURIS I ANO 35 I EDIÇÃO 685 I DEZ23/JAN24 29


CAPA

UM JUIZ SEM
GARANTIAS

APROVADA EM 2019, NO PACOTE ANTICRIME, A IMPLEMENTAÇÃO


DO JUIZ DAS GARANTIAS SOFREU ATAQUE AVASSALADOR DAS
ENTIDADES DA MAGISTRATURA QUE REAGIRAM COM QUATRO
ADIS (AÇÕES DIRETAS DE INCONSTITUCIONALIDADE). NESTE ANO,
O STF, ENFIM, JULGOU O MODELO, MAS O RESULTADO NÃO É DOS
MAIS ANIMADORES. APESAR DE OS MINISTROS ENTENDEREM POR
SUA CONSTITUCIONALIDADE, O JUIZ DAS GARANTIAS, PREVISTO
NOS ARTIGOS 3º-A E SEGUINTES DO CÓDIGO DE PROCESSO
PENAL, SOFREU CORTES PROFUNDOS E TRANSFORMOU-SE EM
UM DOM QUIXOTE DE TRISTE FIGURA. NA OPINIÃO DE JURISTAS,
PERDEU-SE UMA GRANDE CHANCE DE COLOCAR UM PONTO
FINAL NO INJUSTO SISTEMA INQUISITÓRIO BRASILEIRO
CAPA

O
juiz das garantias era tido como a porção dourada do pacote anticrime (Lei
13.964/19), aprovado pelo Congresso Nacional há exatos quatro anos. Com dispo-
sitivos que endureciam a legislação no combate aos crimes graves e à impunida-
de, o pacote trazia também em seu bojo a disposição de implementar, ainda que
tardiamente, o sistema processual acusatório no país. Infelizmente, não foi o que
ocorreu.
Apesar de previsto na Constituição de 1988, o sistema acusatório é um entre os muitos
dispositivos da carta magna que funciona na teoria, mas não na prática. O que se vê, no
Judiciário brasileiro, é a observância de um processo judicial eivado de vícios e de perfil
inquisitório, em que o juiz da causa tem poderes que agregam os papéis de investigador,
acusador e julgador. Isso não existe em um estado democrático de direito. Ou não deveria
existir.
Falar em imparcialidade do magistrado em um cenário como esse, portanto, faz parte
da ficção. O juiz das garantias foi pensado como uma maneira definitiva de descontaminar
esse processo, relacionando sua figura com princípios constitucionais como o direito ao
contraditório e à ampla defesa, o conjunto probatório lícito e o veredito produzido a partir
de uma análise equilibrada e imparcial do juiz da causa. Lamentavelmente, não é o que
ocorre na realidade dos tribunais brasileiros.
Alegam os especialistas que, ao tomar conhecimento dos elementos que configuram
a pretensão das partes envolvidas, o magistrado tende a encampar a narrativa dos fatos
apresentados no inquérito policial e na denúncia oferecida pelo Ministério Público. É o que
se chama de teoria da dissonância cognitiva.
O juiz das garantias seria a peça que faltava em um sistema que dá mostras eviden-
tes de disfuncionalidade e comprometimento processual. Evidente que o modelo não se
configura novidade. Existe, com variadas denominações mas a mesma finalidade, em di-
versos países com o propósito de autenticar um contraditório pleno. O juiz de instrução e
julgamento, nesse caso, está em posição passiva, sempre longe da colheita de prova. Por
óbvio que uma cultura processual assim estruturada se torna mais arredia a manipulações,
principalmente porque o réu, antes de ser um acusado, é um cidadão, senhor de direitos
inafastáveis e respeitados.
Ao julgar a constitucionalidade do juiz das garantias, provocado que foi por quatro ADIs,
o STF entendeu por dilapidar e interpretar à bel prazer dispositivos que não deixavam dú-
vida. A ideia, desde o princípio, era fazer do juiz das garantias o responsável pela parte do
inquérito, privando o magistrado do processo de qualquer informação que o municiasse de
um viés confirmatório – pró ou contra o acusado. O resultado foi extremamente diverso.
Restou, ao fim e ao cabo, a decisão pela constitucionalidade do modelo e sua implementa-
ção obrigatória em até 24 meses. É o único passo, até aqui, alinhado com o sistema proces-
sual das democracias modernas.
CAPA

Marcus Gomes ADVOGADO E JORNALISTA

SUPREMO REDUZ O PAPEL


DO JUIZ DAS GARANTIAS
Implementação do modelo em até dois anos não esconde o fato
de que a desidratação promovida pelo STF contamina, de novo,
a imparcialidade do juiz do processo

P
rimeiro a boa notícia: o tação da medida por seis me- zariam um salto grande nos
Supremo Tribunal Fede- ses e criou parâmetros para a julgamentos criminais.
ral (stf) confirmou, em mudança. Toffoli foi seguido A pretensão era implantar
agosto deste ano, a ado- por Luiz Fux, então presidente de fato, no país, um sistema
ção obrigatória do mo- do stf, que suspendeu o fun- acusatório, cujo efeito imedia-
delo do juiz das garantias, que cionamento do dispositivo. to seria tirar dos ombros do
divide a responsabilidade dos Retomado três anos depois, juiz o peso processual, incum-
processos criminais entre dois em junho deste ano, o modelo bindo-o apenas de sua função
magistrados. O novo instituto do juiz das garantias foi apro- primordial – julgar – e não as-
deverá ser implementado em 12 vado, mas com alterações que, sumindo a condição tripla de
meses, renovável por igual pe- se não desidrataram por com- inquiridor, acusador e produ-
ríodo, o que significa que o juiz pleto o instituto, tornaram-no tor de sentenças.
das garantias, restrito aos pro- uma pálida figura. Ainda as- “Minha avaliação: perdemos
cessos penais, não deverá ser sim, doutrinadores tentaram uma grande chance de evoluir.
realidade em todo o país antes encontrar um lado positivo O Supremo não evoluiu tanto
do segundo semestre de 2025. no amontoado de “interpre- quanto podia, mas não quero
A figura do juiz das garan- tações conforme” e incons- afirmar que o instituto foi esva-
tias foi aprovada pelo Congres- titucionalidades observadas ziado completamente, porque
so no fim de 2019 como parte do pelo stf nos artigos 3-a a 3-f não esvaziou”, afirmou o pro-
pacote anticrime (Lei 13.964/19) introduzidos no Código de fessor Aury Lopes Jr., em seu
e entrou em vigor em janeiro Processo Penal justamente canal no YouTube, logo após
do ano seguinte. Decisão do para acomodar o modelo. Fo- a proclamação do resultado
ministro do stf Dias Toffoli, ram exatamente esses artigos do julgamento de quatro adis
entretanto, adiou a implemen- os responsáveis que concreti- (ações diretas de inconstitucio-

32 REVISTA BONIJURIS I ANO 35 I EDIÇÃO 685 I DEZ23/JAN24


Marcus Gomes CAPA

É impossível obter a imparcialidade sem que se preserve ao máximo


o distanciamento do magistrado em relação à formação dos
elementos que configuram a pretensão das partes envolvidas

nalidade) impetradas por par- to de julgamento justo, afeito A implementação do juiz das
tidos políticos e associação de a princípios constitucionais garantias, portanto, buscava
magistrados contra o modelo. como o direito ao contraditó- assegurar maior imparcialida-
Autor de obra extensa sobre rio, à ampla defesa, a um con- de do juiz, que é avaliada sub-
o direito penal, Lopes Jr., no junto probatório lícito e a um jetivamente, ao mesmo tempo
entanto, não deixou escapar o veredito que seja produzido que protegeria os direitos fun-
descontentamento com o re- a partir de uma análise equi- damentais da parte acusada e,
sultado. “Infelizmente, o stf librada e imparcial do juiz da de resto, o aprimoramento do
não compreendeu a importân- causa. Entretanto, é impossível sistema judicial como um todo.
cia do sistema acusatório, não obter essa imparcialidade sem Para chegar a esse ponto,
compreendeu que não cabe ao que se preserve ao máximo o estabeleceu-se uma divisão de
juiz ir atrás de prova e que, na distanciamento do magistrado tarefas. Enquanto ao juiz das
dúvida, se absolve o acusado, em relação à formação dos ele- garantias caberia a responsa-
é o in dubio pro reo. Nos resta mentos que configuram a pre- bilidade pela investigação, de-
continuar lutando para termos tensão das partes envolvidas. cretação de prisão preventiva,
um código (cpp) totalmente Alega-se que, ao tomar ci- quebra de sigilo e busca e apre-
novo”, concluiu. ência do conjunto probatório, ensão etc., ao juiz de instrução
A má notícia compreende o convencimento do juiz seria e julgamento ficariam reserva-
todas as ponderações feitas contaminado. Trata-se do que das as etapas seguintes (oitiva
por Lopes Jr., no parágrafo an- a doutrina chama de teoria da de testemunhas, por exemplo)
terior, e outras mais. Passemos, dissonância cognitiva. Essa te- e a sentença.
portanto, às minúcias. oria sugere que o magistrado O stf, entretanto, reinter-
tende a encampar a narrativa pretou o artigo que tratava
VIÉS CONFIRMATÓRIO dos fatos apresentada pela Po- desse tema (3º-c), transforman-
O juiz das garantias tem um lícia Judiciária e pelo Ministé- do o juiz das garantias em mero
objetivo auspicioso que está rio Público, responsável pela coadjuvante ao surrupiar-lhe a
relacionado ao estado demo- acusação. Era justamente isso função de recebedor da denún-
crático de direito e ao concei- o que a norma pretendia evitar. cia ou queixa e devolvê-la ao

ʺ˔˥˔ˡ˧˜˔˗˘ʤʣʣʘ˗˔˥˘˖˘˜˧˔
˗ˢ˖ˢˡ˗ˢˠ̿ˡ˜ˢ

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REVISTA BONIJURIS I ANO 35 I EDIÇÃO 685 I DEZ23/JAN24
ʶ˔ˠˣ˜ˡ˔˦ʠˆ̵ˢʽˢ˦̻ʢˆʶ 33
SUPREMO REDUZ O PAPEL DO JUIZ DAS GARANTIAS

juiz do processo. Ora, essa con- rão decididas pelo juiz da instrução
dição era considerada essen- e julgamento.
cial pelo legislador justamente § 2º As decisões proferidas pelo
para evitar o viés confirmató- juiz das garantias não vinculam o
rio do magistrado julgador na juiz da instrução e julgamento, que,
leitura dos autos. Estes, aliás, após o recebimento da denúncia ou
ficariam acautelados na secre- queixa, deverá reexaminar a necessi-
taria do juiz das garantias. dade das medidas cautelares em cur-
A cirurgia foi promovida no so, no prazo máximo de 10 (dez) dias.
caput do artigo. O texto apro- § 3º Os autos que compõem as
vado pelo Congresso previa que matérias de competência do juiz
os processos de competência do das garantias ficarão acautelados
juiz das garantias abrangeriam na secretaria desse juízo, à disposi-
todas as infrações penais. Não ção do Ministério Público e da defe-
O texto aprovado pelo mais. O corte profundo promo- sa, e não serão apensados aos autos
Congresso previa que os vido pelo stf deixou ao novo do processo enviados ao juiz da
processos de competência instituto apenas atribuições co- instrução e julgamento, ressalvados
do juiz das garantias mezinhas, como, por exemplo, os documentos relativos às provas
as infrações criminais eleitorais.
abrangeriam todas as irrepetíveis, medidas de obtenção
Ficaram de fora os processos de de provas ou de antecipação de pro-
infrações penais. Não atribuição originária dos tribu- vas, que deverão ser remetidos para
mais. O corte profundo nais, os relacionados ao tribu- apensamento em apartado. [Decla-
promovido pelo STF deixou nal do júri e aqueles ligados a rado inconstitucional]
casos de violência doméstica.
ao novo instituto apenas § 4º Fica assegurado às partes o
É difícil entender que houve amplo acesso aos autos acautelados
atribuições comezinhas, uma evolução no sistema de na secretaria do juízo das garantias.
como, por exemplo, processo penal brasileiro. Mas [Declarado inconstitucional]
as infrações criminais sigamos adiante. Como o rece-
bimento da denúncia retornou
eleitorais. Ficaram de
à competência do juiz do pro- A CANETA RELATIVIZADA
fora os processos de cesso, foram considerados in- O stf fez mais: pôs abaixo o mo-
atribuição originária dos constitucionais os parágrafos tivo principal para a implanta-
tribunais, os relacionados 3º e 4º do art. 3º-c, que acaute- ção do modelo que era a de
ao tribunal do júri e lavam os autos na secretaria do vedar ao juiz do processo o con-
juízo das garantias e o punham dão de ordenar a produção de
aqueles ligados a casos de a distância segura do magis- provas de ofício, no português
violência doméstica trado do processo, justamente claro, em uma canetada. Ora
para evitar a contaminação em em diante essa missão caberia
seu convencimento. Virou pó a a quem é de direito – e atente o
teoria da dissonância cognitiva. leitor para a palavra “direito” –,
Como era e como ficou: ou seja, o Ministério Público.
Art. 3º-C. A competência do juiz O caput do art. 3º-a seria
das garantias abrange todas as in- tão efetivo que, de novo no
frações penais, exceto as de menor português claro, mataria dois
potencial ofensivo, e cessa com o coelhos com uma cajadada. Se
recebimento da denúncia ou queixa o juiz do processo não pudesse
na forma do art. 399 deste Código. ordenar a produção de provas
§ 1º Recebida a denúncia ou à revelia do mp, o art. 156 do cpp,
queixa, as questões pendentes se- em seus incs. i e ii, também es-

34 REVISTA BONIJURIS I ANO 35 I EDIÇÃO 685 I DEZ23/JAN24


Marcus Gomes CAPA

taria fadado a morrer, porque é Constituição passando a per-


nele que se atribui essa prerro- mitir o emprego da videocon-
gativa ao juiz. ferência em caso de urgência
ATÉ
27/12
O stf, entretanto, fez o que desde que exista “a impossibi-
sabe fazer melhor: relativizou lidade fática para a realização
a inovação e, com isso, preser- da audiência presencial”. Nes-
vou a legislação anterior. Como se caso, admita-se, a interpre-
a corte fez isso? “Esclarecendo” tação conforme não pareceu
que o juiz do processo pode demasiado descabida, senão
pontualmente, nos limites do pelos motivos expostos por-
processo e nos limites da le- que virou uma ferramenta da
galidade da lei, determinar di- corte bastante conveniente,
ligências suplementares para inclusive em casos em que as
dirimir dúvidas sobre pontos audiências virtuais parecem
relevantes. Sim, é embroma- confrontar direitos fundamen-
tion em alta octanagem. tais – tome-se como exemplo o
Como era e como ficou: julgamento dos réus dos ata-
Art. 3º-A. O processo penal terá ques do 8 de janeiro.
estrutura acusatória, vedadas a De qualquer forma, ficou
iniciativa do juiz na fase de inves- assim:
Seu leão pode
tigação e a substituição da atuação Art. 3º-B O juiz das garantias é
probatória do órgão de acusação. [A responsável pelo controle da lega- colorir a vida
redação foi mantida, mas o STF fez
uma interpretação conforme]
lidade da investigação criminal e
pela salvaguarda dos direitos in-
de muitas
dividuais cuja franquia tenha sido crianças
Em outra decisão julgada reservada à autorização prévia do
constitucional, mas vítima do Poder Judiciário, competindo-lhe Doe seu
contorcionismo dos ministros especialmente: Imposto de
do Supremo, permitiu-se a vide- [...] Renda para
oconferência em audiência de § 1º O preso em flagrante ou por o Hospital
custódia, o que estava vedado força de mandado de prisão provi- Pequeno
no parágrafo 1º do art. 3º-b, apro- sória será encaminhado à presença Príncipe
vado pelo Congresso Nacional. do juiz de garantias no prazo de 24
As videoconferências no (vinte e quatro) horas, momento em
Judiciário haviam se torna- que se realizará audiência com a
do expressivas (e necessárias) presença do Ministério Público e da
no período da pandemia da Defensoria Pública ou de advogado
covid-19, movidas pelo isola- constituído, vedado o emprego de (41) 99962-4461
mento social. A manutenção videoconferência. [Trecho suprimi-
(41) 2108-3886
das audiências virtuais após a do do texto original]
crise sanitária, no entanto, era doepequeno
alvo de críticas da advocacia RELAXAMENTO DA PRISÃO principe.org.br
criminal e do conselho federal No parágrafo 2º do mesmo ar-
da oab por restringir a atuação tigo, o stf insistiu na interpre-
da defesa, principalmente nos tação conforme, dando vezo a
casos em que os clientes esta- um comportamento que foge
vam presos. do garantismo, defendido de
Entretando, o stf, de novo, forma arraigada pela maioria
alinhou o dispositivo com a dos ministros, e dá lugar ao

REVISTA BONIJURIS I ANO 35 I EDIÇÃO 685 I DEZ23/JAN24 35


SUPREMO REDUZ O PAPEL DO JUIZ DAS GARANTIAS

punitivismo, principalmente cia ao juiz do processo para de-


no caso de crimes comuns. O terminar o inquérito de ofício.
texto diz que o juiz das garan- Era o ponto central que impe-
tias poderá, no caso de prisão diria o juiz da causa de tomar
em mandado de prisão provi- conhecimento dos rumos da in-
sória, prorrogar uma única vez vestigação, habilitando-o a dar
a duração do inquérito por até prosseguimento à instrução
15 dias. Se o inquérito não for devidamente descontaminado.
concluído, a prisão será ime- O caput do art. 3º-d previa
diatamente relaxada. o impedimento do juiz de fun-
Porém, o stf, sempre ele, cionar no processo caso inter-
atendendo aos reclamos das ferisse na investigação. Esse
associações de magistrados, dispositivo foi declarado in-
que se viram privados de seus constitucional da mesma forma
poderes, decidiu contempori- que o seu parágrafo único, que
O STF cravou uma zar também esse artigo, que criava um sistema de rodízio de
estaca no peito do sistema parecia irretocável. No en- magistrados nas comarcas onde
acusatório ao permitir que tendimento dos ministros, as funcionasse apenas um juiz.
o juiz do processo, ainda prorrogações do inquérito po- Como era e como ficou:
derão ocorrer quiçá ad infini-
na fase de investigação, Art. 3º-D. O juiz que, na fase de
tum e a prisão do acusado não investigação, praticar qualquer ato
pratique ato incluído nas será imediatamente relaxada. incluído nas competências dos arts.
competências dos arts. Retornou-se à estaca zero. 4º e 5º deste Código ficará impedido
4º e 5º do CPP. Ebquais Como era e como ficou: de funcionar no processo. [Declara-
do inconstitucional]
são esses capítulos? O § 2º Se o investigado estiver pre-
so, o juiz das garantias poderá, me- Parágrafo único. Nas comarcas
4º atribui o inquérito em que funcionar apenas um juiz,
diante representação da autoridade
policial à Polícia Judiciária policial e ouvido o Ministério Públi-
os tribunais criarão um sistema
e o 5º dá competência co, prorrogar, uma única vez, a du-
de rodízio de magistrados, a fim de
atender às disposições deste Capí-
ao juiz do processo para ração do inquérito por até 15 (quin-
tulo. [Declarado inconstitucional]
determinar o inquérito ze) dias, após o que, se ainda assim
a investigação não for concluída, a
de ofício. Era isso, ABERRAÇÃO JURÍDICA
prisão será imediatamente relaxa-
exatamente, que o novo da. [Manteve-se o texto, mas houve
Responsável pela sistematiza-
ção do processo penal, o profes-
modelo queria evitar interpretação conforme do STF]
sor de direito Jacinto Nelson de
Miranda Coutinho, que integra
SISTEMA ACUSATÓRIO o conselho editorial da Boniju-
Por fim, naquilo que se depre- ris, foi incisivo em sua avalia-
ende de maior relevância, o stf ção das alterações promovidas
cravou uma estaca no peito do pelo stf ao julgar as adis: “O
sistema acusatório ao permitir juiz das garantias, quando for
que o juiz do processo, ainda na introduzido no sistema inquisi-
fase de investigação, pratique torial brasileiro em vigor, deve
ato incluído nas competências servir – quem sabe tão só – aos
dos arts. 4º e 5º do cpp. E quais juízes; quando, por evidente,
são esses capítulos? O 4º atri- deveria servir a todos”.
bui o inquérito policial à Polícia Em artigo publicado no site
Judiciária e o 5º dá competên- Conjur, ele lamenta que o mo-

36 REVISTA BONIJURIS I ANO 35 I EDIÇÃO 685 I DEZ23/JAN24


Marcus Gomes CAPA

Para o professor Jacinto Nelson de Miranda Coutinho, o Supremo “glosou” por


interpretações conforme e declarações de inconstitucionalidade, acabando por
dizimar substancialmente a lei para manter o atual sistema inquisitorial

delo do juiz das garantias, in- Para ele, a perspectiva é modo estrito a Constituição da
timamente ligado ao sistema sombria e cheira a letra morta. República e as leis, o que tem
acusatório, tenha começado a “Não se pode duvidar de que a sido motivo de larga reputação,
estremecer logo depois da pu- experiência [quando implanta- mesmo em tempos sombrios”.
blicação do pacote anticrime, da em 12 ou 24 meses] não dê Ao fim de seu artigo, o pro-
quando instituições ligadas à certo”, analisa. fessor dispara contra a falta
magistratura, seguidas de par- “O que sobra de importante de conhecimento dos minis-
tidos políticos, propuseram ao juiz das garantias tupini- tros do stf acerca dos sistemas
ações de inconstitucionalidade. quim?”, indaga. A resposta, de processuais penais. A exceção,
A declaração de constitucio- acordo com o professor, não segundo ele, teria sido Edson
nalidade do instituto, porém, pode ser dada imediatamente Fachin, que votou contra a
não representou uma boia de porque depende de algumas maioria em grande parte das
salvação, na avaliação do pro- condicionantes: “O que se pode questões envolvendo a maté-
fessor. Pelo contrário: “A corte esperar é que todos entendam ria. A regra, por sua vez, foi Ale-
mexeu de tal forma no texto o instituto como um elemento xandre de Moraes, tido como
referente ao juiz das garantias, efetivamente importante do useiro e vezeiro em conduzir
com interpretações criativas sistema acusatório, fazendo inquéritos que estão eviden-
e outras diatribes, que acabou dele algo democrático mesmo temente à margem do devido
por criar um monstro, uma que metido na estrutura inqui- processo legal. Não por acaso,
aberração jurídica”. sitorial”. imprimiu-se nele a marca do
Coutinho criticou princi- Coutinho reforça essa afir- inquisidor, representante ilus-
palmente a forma como o stf mação ao reconhecer que, ape- tre de um sistema processual
“glosou” por interpretações sar de o sistema processual penal claramente inquisitório.
conforme e declarações de in- brasileiro ser indubitavelmen- “Está claro que vivemos tempo
constitucionalidade, acabando te autoritário e excludente, difícil para discutir tema tão
por dizimar substancialmente “muitos” juízes – ele reforça a sensível à democracia como é o
a lei para manter o atual siste- palavra – são democráticos, caso do juiz das garantias”, ava-
ma inquisitorial. “inclusive por aplicarem de lia Coutinho. Ele tem razão. 

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REVISTA BONIJURIS I ANO 35 I EDIÇÃO 685 I DEZ23/JAN24 37


CAPA

Rômulo de Andrade Moreira PROCURADOR DE JUSTIÇA DO MPBA

O STF E O JUIZ DAS GARANTIAS:


UMA MORTE ANUNCIADA
Na forma como foi decidido, o magistrado do processo terá contato
com os elementos colhidos durante a investigação criminal, pondo
em xeque sua imparcialidade

C
omo foi amplamente retrizes fixadas pelo Conselho tigação criminal e terá com-
divulgado, o plenário Nacional de Justiça. Este pra- petência para o controle da
do Supremo Tribunal zo começará a contar a partir legalidade do procedimento in-
Federal decidiu, na ses- da publicação da ata do julga- vestigatório e pela salvaguar-
são do dia 23 de agosto, mento. da dos direitos individuais dos
que a alteração no Código de Para o colegiado, as regras investigados.
Processo Penal que instituiu introduzidas pelo chamado Pa- Na sessão de julgamento, o
o juiz das garantias é consti- cote Anticrime (Lei 13.964/19) ministro Luís Roberto Barro-
tucional, ficando determinado são uma opção legítima do so destacou a necessidade de
que a regra é de aplicação obri- Congresso Nacional, visando que o país tenha um direito
gatória, cabendo aos estados, assegurar a imparcialidade no penal sério e moderado, asse-
ao Distrito Federal e à União processo penal. O entendimen- verando que o sistema atual
definir o formato em suas res- to foi de que, como as normas é duríssimo com os pobres e
pectivas esferas. são de processo penal, não há “extremamente manso com
A decisão, tomada no bojo violação do poder de auto-or- a criminalidade dos ricos, do
de quatro ações diretas de ganização dos tribunais, pois colarinho branco, inclusive
inconstitucionalidade (adis apenas a União tem competên- com a apropriação privada do
6.298, 6.299, 6.300 e 6.305), esta- cia para propor leis sobre o as- Estado”.
beleceu um prazo de 12 meses, sunto, nos termos do art. 22, i, No mesmo sentido, a minis-
prorrogáveis por outros 12, da Constituição Federal. tra Cármen Lúcia considerou
para que leis e regulamentos De acordo com o julgamen- “que a escolha do Legislativo,
dos tribunais sejam alterados, to, e conforme disciplina o cpc, embora não vá resolver todos
permitindo a implementação o juiz das garantias deverá os problemas do sistema de
do novo sistema a partir de di- atuar apenas na fase da inves- persecução penal, é benéfica,

38 REVISTA BONIJURIS I ANO 35 I EDIÇÃO 685 I DEZ23/JAN24


Rômulo de Andrade Moreira CAPA

Segundo os ministros, a competência do juiz das garantias se extingue com o


oferecimento da denúncia ou queixa, ficando o juízo de admissibilidade da peça
acusatória a cargo do juiz da causa. É o contrário do que estabelece o art. 3º-C do CPP

pois busca uma solução para tem comprometer sua impar- Com efeito, decidiu-se que
seu aperfeiçoamento”. cialidade”. a competência do juiz das
Para o ministro Gilmar A respeito do juiz das ga- garantias termina com o ofe-
Mendes, “a criação do juiz das rantias, o jurista argentino recimento da denúncia, cuja
garantias foi uma das manifes- Pedro Bertolino, comentando análise passa a ser da compe-
tações da classe política em de- o código de processo penal de tência do juiz da instrução, que
fesa da democracia brasileira, Buenos Aires e, mais particu- decidirá, também, eventuais
ao assegurar mecanismos de larmente, o juiz das garantias, questões pendentes; outros-
imparcialidade do magistra- fazendo como se fora um jogo sim, estabeleceu-se que em até
do criminal e favorecer a pa- de palavras – como ele próprio 10 dias após o oferecimento da
ridade de armas, a presunção admite –, afirma que com o juiz denúncia ou queixa, o juiz da
de inocência e o controle da das garantias “a lei processual instrução e julgamento deverá
legalidade dos atos investiga- penal de Buenos Aires preten- reexaminar a necessidade das
tivos invasivos”, entendendo deu, antes de qualquer outra medidas cautelares em curso.
“que essa sistemática contribui coisa, estabelecer a ‘garantia Aqui surge o primeiro e gra-
para maior integridade do sis- de um juiz’” (grifos e aspas no ve equívoco da decisão, data
tema de justiça”. original). É ainda dele a ob- maxima venia: segundo os mi-
Já a ministra Rosa Weber servação de “que a própria nistros, a competência do juiz
afirmou “que o direito ao juiz denominação legal vincula-o, das garantias se extingue com
imparcial é uma garantia pre- sem prejuízo de outras consi- o oferecimento da denúncia
vista na Constituição Federal e derações, com a realidade das ou queixa, ficando o juízo de
em convenções internacionais garantias processuais”, tra- admissibilidade da peça acusa-
das quais o Brasil é signatário”. tando-se da concretização da tória a cargo do juiz da causa,
Segundo ela, “a obrigação do “dimensão constitucional da ao contrário do que expressa-
Estado passa pela criação de jurisdição”1. mente estabelece o art. 3º-C, do
normas para inibir a atuação Vejamos, então (e critica- Código de Processo Penal, in
do magistrado em situações mente), alguns pontos da de- verbis: “a competência do juiz
que comprometam ou aparen- cisão: das garantias abrange todas

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REVISTA BONIJURIS I ANO 35 I EDIÇÃO 685 I DEZ23/JAN24 39


O STF E O JUIZ DAS GARANTIAS: UMA MORTE ANUNCIADA

Não deve ter o magistrado qualquer “interesse acusatório” e “a função judicial


não pode ser contaminada pela promiscuidade entre juízes e órgãos da polícia,
que só devem ter relações — de dependência — com a acusação pública”

as infrações penais, exceto as inquisitivo, presidido por um da, a prisão será imediatamen-
de menor potencial ofensivo, juiz instrutor e de acusação”2. te relaxada”.
e cessa com o recebimento da Eis o ponto central: a im- É óbvio ser necessária uma
denúncia ou queixa na forma parcialidade do julgador, “a sanção (o relaxamento da pri-
do art. 399 deste Código”. primeira exigência de um juiz, são ilegal) para o descumpri-
Ora, deixando para o juiz do que não pode ser, ao mesmo mento do prazo de término da
processo a competência para tempo, parte e julgador no con- investigação; sem ela, de nada
receber (ou rejeitar) a denún- flito submetido à sua decisão”, adianta estabelecer um prazo
cia ou queixa, por óbvio que conforme sintetiza Juan Mon- para o final do procedimento
a decisão fez tábula rasa do tero Aroca3. investigatório.
verdadeiro sentido da criação Sobre o tema, Ferrajoli afir- A corte também deixou
do juiz das garantias, que é o ma que a imparcialidade deve assentado que as normas re-
de afastar o juiz da instrução ser, para o juiz, “um hábito in- lativas ao juiz das garantias
do material colhido durante a telectual e moral”, razão pela não se aplicam aos processos
investigação criminal, inquisi- qual não deve ter o magistrado de competência originária do
tória por sua própria natureza. qualquer “interesse acusató- Supremo Tribunal Federal e
Na forma como foi decidi- rio”; neste sentido, para ele, “a do Superior Tribunal de Jus-
do, o juiz que irá julgar o caso função judicial não pode ser tiça, regidos pela Lei 8.038/90;
penal já terá tido contato com contaminada pela promiscui- tampouco é aplicável aos
os elementos colhidos durante dade entre juízes e órgãos da processos de competência do
a investigação criminal, pon- polícia, que só devem ter rela- tribunal do júri, aos casos de
do em xeque a sua imparcia- ções – de dependência – com a violência doméstica e familiar
lidade, pois, possivelmente (e acusação pública”4. e às infrações penais de menor
ainda que inconscientemente), Também, lamentavelmente, potencial ofensivo, podendo
estará contaminado pelos atos foi afastada a regra que previa atuar, contudo, nos processos
investigatórios levados a cabo o relaxamento automático da criminais da Justiça Eleitoral.
sem os cuidados do devido prisão caso as investigações Aqui, mais um erro: não há
processo legal, especialmente não fossem encerradas no pra- autorização legal para excluir
a ampla defesa, o contraditó- zo legal. Segundo a decisão, o a competência do juiz das ga-
rio, a publicidade e a oralidade. juiz poderá avaliar os motivos rantias no procedimento do
A propósito, Roberto Falco- que motivaram sua declara- júri, nos casos penais relativos
ne, defendendo a imparcialida- ção. Trata-se, sem dúvidas, de à violência doméstica e fami-
de do julgador, explica que, em outro equívoco, pois o § 2º do liar e nas hipóteses de prerro-
razão dela, não pode “ser uma art. 3º-B é claro ao estabelecer gativa de foro; pelo contrário,
mesma pessoa a que realiza a que “se o investigado estiver a lei só excluiu a sua atuação
investigação e a que decida”. preso, o juiz das garantias po- nas infrações penais de menor
Assim, o modelo acusatório derá, mediante representação potencial ofensivo, nos exatos
“pretendeu devolver ao inves- da autoridade policial e ouvido e claros termos do art. 3º-C, aci-
tigado/acusado a qualidade de o Ministério Público, prorro- ma transcrito.
sujeito de direitos, o que o pro- gar, uma única vez, a duração Com efeito, não há qualquer
cedimento inquisitivo negava, do inquérito por até 15 (quinze) razão, seja do ponto de vista
transformando-o em um mero dias, após o que, se ainda assim das novas disposições, seja em
objeto de um procedimento a investigação não for concluí- decorrência da Constituição

40 REVISTA BONIJURIS I ANO 35 I EDIÇÃO 685 I DEZ23/JAN24


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O STF E O JUIZ DAS GARANTIAS: UMA MORTE ANUNCIADA

Federal, para limitar a compe- oconferência. Aqui é preciso


tência do juiz das garantias aos atenção para que a excepcio-
processos na primeira instân- nalidade não se torne regra.
cia; muito pelo contrário, tam- Outro equívoco evidente foi
bém deveriam ser observadas estabelecer que o Ministério
as novas disposições proces- Público, ao se manifestar pelo
suais penais nas ações penais arquivamento do inquérito po-
originárias, de tal maneira que licial ou de quaisquer elemen-
quando um desembargador tos informativos da mesma
ou ministro tivesse atuado na natureza, submeterá sua ma-
fase de investigação, outro de- nifestação ao juiz competente
Equivocadamente, veria ser o relator para a ins- e comunicará o fato à vítima,
manteve-se o controle trução e para proferir o voto. ao investigado e à autoridade
judicial no procedimento A corte também afastou a policial, podendo encaminhar
regra que previa a designação os autos para o procurador-
de arquivamento da do juiz das garantias; assim, -geral ou para a instância de
peça investigatória, o segundo a decisão, o juiz deve- revisão ministerial, quando
que é um retrocesso. rá ser investido conforme as houver, para fins de homolo-
A nova redação do art. normas de organização judici- gação. Além da vítima ou de
ária de cada esfera da justiça, seu representante legal, a au-
28 também é clara
observando critérios objetivos toridade judicial competente
(e constitucional), a serem periodicamente divul- também poderá submeter a
afastando o controle do gados pelos tribunais. matéria à revisão da instância
juiz sobre a promoção de Acertadamente, foi fixado o competente do órgão ministe-
arquivamento de peças prazo de até 90 dias, contados rial, caso verifique patente ile-
da publicação da ata do julga- galidade ou anormalidade no
de informação; ou seja, mento, para os representantes arquivamento.
o velho art. 28 (um ranço do Ministério Público encami- Como se vê, equivocada-
inquisitorial do Código nharem, sob pena de nulida- mente, manteve-se o controle
de Processo Penal) foi de, todos os procedimentos de judicial no procedimento de
investigação e outros procedi- arquivamento da peça investi-
repristinado, voltando
mentos semelhantes, mesmo gatória, o que é um retrocesso.
ao antigo procedimento que tenham outra denomina- A nova redação do art. 28 tam-
de submeter ao ção, ao respectivo juiz natural, bém é clara (e constitucional),
juiz a promoção de independentemente de o juiz afastando o controle do juiz
das garantias já ter sido imple- sobre a promoção de arquiva-
arquivamento. Sem
mentado na respectiva jurisdi- mento de peças de informação;
dúvidas, um grande ção. ou seja, o velho art. 28 (um ran-
retrocesso! O exercício do contraditório ço inquisitorial do Código de
será realizado, preferencial- Processo Penal) foi repristina-
mente, em audiência pública do, voltando ao antigo proce-
e oral. Contudo, o juiz pode dimento de submeter ao juiz
deixar de realizar a audiência a promoção de arquivamento.
quando houver risco para o Sem dúvidas, um grande retro-
processo ou adiá-la em caso cesso!
de necessidade. Também ficou Ademais – e aqui mais um
decidido que, em caso de ur- erro cometido pela suprema
gência, a audiência de custódia corte –, foi declarada a incons-
poderá ser realizada por vide- titucionalidade do art. 157, §

42 REVISTA BONIJURIS I ANO 35 I EDIÇÃO 685 I DEZ23/JAN24


Rômulo de Andrade Moreira CAPA

Declarou-se inconstitucional a permanência dos


autos com o juiz das garantias e obrigatória a
remessa ao juiz do processo. Outro equívoco Condomínio
em Crise?
5º, que proibia o juiz que ti- foi mantida a regra que proíbe
vesse admitido prova decla- as autoridades penais de fazer ʼ˗˘ˡ˧˜Ѓˤ˨˘ˢ˦˦˜ˡ˔˜˦
rada inadmissível de proferir acordos com órgãos de impren- ˗˘˔˟˘˥˧˔ʟ˖ˢˡ˛˘̹˔
a sentença ou o acórdão. Ora, sa para divulgar operações. ˔˦˘˦˧˥˔˧̻˚˜˔˦˘
se o juiz tomou conhecimen- O colegiado considerou que a ˘ˡ˖ˢˡ˧˥˘˔˦
to da prova ilícita, ainda que divulgação de informações so- ˠ˘˟˛ˢ˥˘˦˦ˢ˟˨̹͇˘˦
ela seja desentranhada (como bre prisões e sobre a identida-
determina o caput do art. 157), de do preso pelas autoridades
Leonardo Carvalho
ele já estará contaminado por policiais, pelo Ministério Pú-
ela e, por conseguinte, a sua blico e pelo Judiciário deve se-
decisão. guir as normas constitucionais
E, mais uma vez, contraria- para assegurar a efetividade
mente ao texto expresso da lei da persecução penal, o direito
(art. 3º-C, § 3º), decidiu-se que à informação e a dignidade da
a remessa dos autos ao juiz pessoa.
da instrução é obrigatória, de- Certamente, esta é uma
clarando-se inconstitucional a questão muito controversa e
norma que previa a permanên- diz respeito, não especialmen-
cia dos autos com o juiz das ga- te ao juiz das garantias, mas a
rantias. Mais um equívoco! O um conflito entre a liberdade
sentido da referida disposição de expressão e de informação Nesta obra, você
(longe de ser inconstitucional, e o direito individual de ter a aprenderá como adotar
pelo contrário) é exatamente imagem protegida e a sua hon- medidas anticrise no seu
evitar que o juiz da causa te- ra preservada. Eis uma matéria FRQGRP£QLRLGHQWLŝFDQGR
nha contato (e se contamine) muito sensível, assim definida sinais de alerta, escolhendo
com os autos da investigação por Escalante: estratégias de ação e
criminal, formulando de logo Uma contraposição entre duas encontrando as melhores
uma hipótese e buscando fatos modalidades deônticas derivadas soluções para alcançar a
que a comprovem; é o chama- da liberdade de expressão ou infor- segurança e tranquilidade
do “primado da hipótese sobre mação, e o direito à preservação da que os moradores
os fatos”, conforme lição do honra, consistente em que um ato merecem.
processualista italiano Franco de manifestação de pensamento,
Cordero. opinião ou informação de um deles
A divulgação de informa- está permitido por aquelas liberda-
ções sobre a realização da pri- des e, por sua vez, está proibido pelo
são e a identidade do preso direito de preservação da honra
Em breve!
pelas autoridades policiais, alheia. O conflito consiste, em suma,
pelo Ministério Público e pela na permissão de opinar e informar
Magistratura deve assegurar e a proibição de lesão do direito à
a efetividade da persecução honra.5
penal, o direito à informação livrariabonijuris.com.br
e a dignidade da pessoa sub- De toda maneira, é preciso
metida à prisão. Neste aspecto, atenção e rigor no cumpri-

REVISTA BONIJURIS I ANO 35 I EDIÇÃO 685 I DEZ23/JAN24 43


O STF E O JUIZ DAS GARANTIAS: UMA MORTE ANUNCIADA

mento deste dispositivo, pois, primeiro grau, nos tribunais,


efetivamente, o que mais se no Superior Tribunal de Jus-
se vê no Brasil é uma expo- tiça ou na suprema corte), se
sição absurda, perversa e in- um juiz, desembargador ou
constitucional da imagem de ministro deferiu alguma medi-
investigados e acusados, sem da requerida durante a fase de
a necessária preservação dos investigação, o processo deve
direitos individuais declara- ser encaminhado ulterior-
dos e garantidos pela Consti- mente para outro magistrado,
tuição. Por outro lado, numa seja o substituto legal, seja um
democracia, é indispensável novo relator, devidamente sor-
que os meios de comunicação teado. A nova lei somente não
tenham a liberdade (e a res- atingirá os processos em que
ponsabilidade) de informar já houve recebimento da peça
os cidadãos, com os cuidados acusatória. Esta é uma inafas-
para não contribuírem, com tável conclusão que decorre
esta exposição, para prejul- dos princípios que regem a
gamentos, futuras e injustas sucessão das leis processuais
condenações. penais formais no tempo.
No que se refere à sucessão Como se vê, e para concluir,
da lei no tempo, firmou-se o demorou-se tanto tempo para
???????

entendimento que a eficácia se decidir acerca da constitu-


MAIS da lei não acarretará nenhuma cionalidade do art. 3º-B e se-
DE 216 modificação do juízo compe-
tente nas ações penais já ins-
guintes do Código de Processo
Penal e, ao final, transfigurou-
EDIFÍCIOS, tauradas no momento da efeti- -se o juiz das garantias, impe-
MONUMENTOS, va implementação do juiz das dindo o avanço do processo
garantias pelos tribunais. penal brasileiro e deixando-o
FACHADAS E Assim, em relação aos pro- com o velho ranço inquisito-
ESPAÇOS cessos pendentes na data da rial de sempre.
entrada em vigor da nova lei, Uma pena!
PÚBLICOS deve-se atentar para o art. 2º

REVITALIZADOS. do Código de Processo Penal Rômulo de Andrade Moreira.


(“a lei processual penal aplicar- Procurador de Justiça do Mi-
-se-á desde logo, sem prejuízo nistério Público do Estado da
Graças a ACGB, da validade dos atos realizados Bahia. Professor de Direito Pro-
de cara nova e sob a vigência da lei anterior”). cessual Penal da Faculdade de
livres da degradação Ou seja, relativamente às ações Direito da Universidade Salva-
dor – unifacs.
desde 2013. penais em curso (estejam em

NOTAS
1. BERTOLINO, Pedro J., El Nación. Buenos Aires: Ad-Hoc, penal. Madrid: Editorial Trotta,
juez de garantías en el Código 2005, p. 19 (tradução livre). 1998, 3. ed. páginas 580, 582
Procesal Penal de la Provincia 3. AROCA, Juan Montero. So- e 583 (tradução livre).
de Buenos Aires. Buenos Aires: bre la imparcialidad del juez 5. ESCALANTE, Mijail Mendo-
acgbvidaurbana Ediciones Depalma, 2000, pá- y la incompatibilidad de fun- za. Conflictos entre derechos
ginas 56 e 122 (tradução livre). ciones procesales. Valencia: fundamentales – Expresión,
2. FALCONE, Roberto A. El Tirant lo Blanch, 1999, p. 186 Información y Honor, Lima:
acgb.org.br principio acusatorio – El pro- (tradução livre). Palestra Editores, 2007, p. 117
cedimiento oral en la Provin- 4. FERRAJOLI, Luigi, Derecho (tradução livre).
cia de Buenos Aires y en la y Razón. Teoría del garantismo

44 REVISTA BONIJURIS I ANO 35 I EDIÇÃO 685 I DEZ23/JAN24


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DOUTRINA JURÍDICA

Sandra Regina Pires ADVOGADA, PROFESSORA UNIVERSITÁRIA E ÁRBITRA

CIRCULAÇÃO DE SENTENÇA
ARBITRAL ESTRANGEIRA
UMA MUDANÇA DE ‘MENTALIDADE’ DOS ESTADOS MOSTRARIA
QUE O JUDICIÁRIO E A ARBITRAGEM NÃO SÃO EXCLUDENTES E
NÃO DUELAM PELO PODER DE DITAR O DIREITO

O
fato de nos últimos anos ter se inten- e especialização num ambiente de múltiplas e
sificado o número de trabalhos sobre diversas normas jurídicas, o que faz da arbitra-
arbitragem internacional não é uma gem comercial internacional um instituto fasci-
casualidade. A complexa integração das nante, levando o operador do direito a estudar
economias e das sociedades conectou o maneiras de facilitar a circulação de sentenças
mundo, atenuando a relevância das fronteiras arbitrais, sem descuidar da segurança jurídica.
e incrementando o aspecto plurilocalizado ou Eis o grande desafio!
multiconectado das relações internacionais de É lugar-comum que as sentenças são cum-
natureza econômica, fazendo-se necessária a pridas espontaneamente, até porque a confian-
criação de soluções para viabilizar, na moderni- ça entre as partes e a boa fama no mercado são
dade, o desenvolvimento do mais antigo dentre elementos intrínsecos ao sucesso na mercancia.
os métodos de pacificação de conflitos. Entretanto, tais circunstâncias não impedem
Essa realidade vem fazendo com que os Es- que a parte vencida ofereça-lhes resistência,
tados reconheçam a necessidade de se repen- surgindo daí alguns questionamentos: i) quais
sar o conceito de soberania e de colocar em os meios de impugnação da sentença arbitral
prática os resultados desta reflexão, de manei- nas jurisdições primária e secundária? ii) quais
ra a preparar o ordenamento jurídico interno os efeitos que o controle da jurisdição emissora
para otimizar as regras dos tratados que visem exerce sobre a jurisdição receptora da senten-
estimular a circulação das sentenças arbitrais, ça? iii) o controle desvinculado da autoridade
o que indubitavelmente refletirá na doutrina receptora com fulcro no poder discricionário
processo-arbitral e no Poder Judiciário, tor- do juiz é meio legítimo para a efetividade do
nando o país atraente (ou não) para a arbitra- laudo1 não obrigatório, anulado ou suspenso na
gem. jurisdição emissora sem prejuízo da soberania
Os profissionais do comércio internacional estatal e da segurança jurídica? iv) o controle
– por mais paradoxal que possa parecer – alme- a quo é indispensável à difusão, à eficiência e à
jam rapidez, simplicidade, menor custo, sigilo credibilidade da arbitragem?

46 REVISTA BONIJURIS I ANO 35 I EDIÇÃO 685 I DEZ23/JAN24


Sandra Regina Pires DOUTRINA JURÍDICA

A investigação da natureza jurídica e dos critérios de determinação de um


instituto do direito não é uma tarefa simples. Examinar a sua essência
torna possível distingui-lo de fenômenos análogos ou conexos

Os tratados não trazem respostas a essas 1. ARBITRAGEM COMERCIAL


perguntas e, seguramente, os Estados apresen- INTERNACIONAL
tarão diferentes soluções para elas em virtude A tecnologia permitiu o avanço da produção
da sua carga cultural e das suas conveniências e do comércio, surgindo relações comerciais
políticas, circunstâncias essas que confirmam a além das fronteiras, que, carentes de regula-
importante e sempre atual temática deste arti- mentação, levaram os comerciantes a criarem
go, que se destina a analisar o reconhecimento práticas consideradas por eles próprios obriga-
e a execução de sentença arbitral estrangeira tórias. Assim, os contratos diferiam dos pactos
não obrigatória, anulada ou suspensa no país regulados pelo direito interno e as regras de so-
de origem, com fulcro na Convenção de Nova lução de controvérsias nele previstas não eram
Iorque de 1958 e no regime geral estabelecido adequadas para pacificar conflitos. É desta
pela lei processual brasileira. incapacidade dos sistemas estatais para solu-
A complexa teia de relações dos negócios e cionar controvérsias que surgiu a arbitragem
investimentos internacionais da atualidade comercial internacional2, tema que envolve
nos faz repensar na força excessiva que se atri- questões complexas, algumas delas acirrada-
bui ao controle primário da sentença arbitral e mente debatidas há mais de 50 anos, como se
na relação entre poder discricionário judicial verá adiante3.
e o trinômio soberania/segurança jurídica/jus-
tiça, com reflexões que orbitam em torno da 1.1 Da arbitragem comercial internacional:
Convenção de Nova Iorque, da Lei Brasileira de natureza jurídica e critérios de determinação
Arbitragem e dos princípios do direito. A investigação da natureza jurídica e dos crité-
Muito já se escreveu e muito ainda se escre- rios de determinação de um instituto do direito
verá sobre a arbitragem comercial internacional. não é uma tarefa simples. Examinar a sua es-
Esperamos, no entanto, que os escritos de um sência torna possível distingui-lo de fenômenos
futuro próximo tenham outro enfoque, abando- análogos ou conexos. O costume ao monopólio
nando a celeuma quanto ao significado e ao al- estatal da jurisdição e a crescente complexida-
cance não só de seus fundamentos, mas também de das relações comerciais entre nações com
dos critérios que lhe são elementares. Assim seja! fronteiras cada vez mais tênues – para alguns,

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REVISTA BONIJURIS I ANO 35 I EDIÇÃO 685 I DEZ23/JAN24 47


CIRCULAÇÃO DE SENTENÇA ARBITRAL ESTRANGEIRA

Inúmeras denições de arbitragem são encontradas na literatura. A mais sumária


é de Matthieu de Boisséson: “é a instituição pela qual as partes conam a terceiro,
livremente designado por elas, a missão de solucionar suas controvérsias”

inexistentes – potencializam a dificuldade des- legitimada pela vontade da lei, aproximando a


ta análise. sentença arbitral da judicial. Finalmente, a ter-
Inúmeras definições de arbitragem são en- ceira – e a que tem o maior número de adeptos
contradas na literatura. A mais sumária é de – é baseada na ausência de força imperativa da
Ma�hieu de Boisséson: “é a instituição pela sentença arbitral e na atividade coordenada (de
qual as partes confiam a terceiro, livremente cooperação) do árbitro e do juiz9.
designado por elas, a missão de solucionar suas A despeito de não mais se discutir na atua-
controvérsias”4. Uma definição menos concisa lidade com tanta veemência se a arbitragem é
é a de Fradera: “é a instância jurisdicional pra- “contrato” ou “jurisdição”, consideramos oportu-
ticada em função do regime contratualmente no registrar que nos filiamos à corrente mista,
estabelecido, para dirimir controvérsias entre por entender que a arbitragem tem raízes con-
pessoas de direito privado e público, com pro- tratuais, pautadas na conjunção de vontades, e,
cedimentos próprios e força executória perante por objeto, a instituição da jurisdição alternati-
tribunais”5. va, cuja sentença arbitral tem natureza pública,
Paulo Furtado e Uadi Lammêgo identificam pacificando conflitos entre particulares.
as principais características do instituto: Feitas essas considerações, analisemos ago-
Tem por finalidade solucionar conflitos de interes- ra quando uma arbitragem é considerada co-
ses existentes ou oriundos de um negócio jurídico mercial:
praticado entre dois ou mais contratantes, com a
Tem natureza comercial a arbitragem que dirime
indicação de terceira pessoa (ou várias pessoas – tri-
demandas advindas de transações comerciais, cujo
bunal arbitral) alheia ao conflito e ao negócio jurídi-
conceito compreende qualquer relação de natureza
co subjacente, investida de poderes para dizer, sem
mercantil de origem contratual ou não, indepen-
poder de coerção, qual a solução adequada para a
dentemente das partes serem ou não comerciantes
controvérsia, que vincula as partes, com força exe-
à luz das legislações nacionais.10
cutiva idêntica às decisões judiciais transitadas em
julgado.6
O conceito de comércio, segundo Rechstei-
Cabe registrar que trataremos da arbitragem ner, deve ser interpretado extensivamente, não
comercial de direito entre particulares, institu- se podendo desprezar o aspecto da arbitrabili-
ída pela vontade das partes7, com foco na sen- dade, protegendo litígios referentes a relações
tença arbitral final, global e líquida8. comerciais de toda espécie, fulcradas ou não
em contrato11. Neste sentido é o art. 1º, i, da
1.1.1 Principais teorias sobre a natureza Lei Modelo de Arbitragem da United Nations
jurídica da arbitragem e seu aspecto Commission on International Trade Law (unci-
comercial tral), de 21 de junho de 1985:
A doutrina mundial debateu por anos a na- O termo “comercial” haverá de ser interpretado em
sentido amplo, de tal modo que abranja as questões
tureza jurídica da arbitragem, com destaque suscitadas por qualquer relação de caráter comer-
para três teorias: a privatista ou contratual, a cial, contratual ou extracontratual. As relações de
publicista ou jurisdicional e a mista ou ecléti- natureza comercial compreendem, sem a isso se
limitarem, as seguintes transações: fornecimento
ca. A primeira delas confere ao árbitro poder
ou troca de mercadorias ou de serviços; acordos de
limitado à vontade das partes, dependendo a distribuição; representação comercial; factoring; lo-
eficácia de sua decisão da intervenção estatal. cação financeira, engeneering, contratos de licença,
A segunda reconhece a convenção de arbitra- investimentos, financiamento, transações bancá-
rias, seguros, acordos de exploração ou de conces-
gem como um negócio jurídico privado, enten- são, joint ventures e outras formas de cooperação
dendo, entretanto, que a atividade do árbitro é industrial ou comercial; transporte de mercadorias

48 REVISTA BONIJURIS I ANO 35 I EDIÇÃO 685 I DEZ23/JAN24


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CIRCULAÇÃO DE SENTENÇA ARBITRAL ESTRANGEIRA

É incontestável que as nações foram afetadas pela globalização do mercado


e das tecnologias. Ela, a globalização, democratizou o acesso à informação e
intensicou o deslocamento de pessoas e coisas num mundo sem fronteiras

ou de passageiros por via aérea, marítima ferroviária do, seja em razão do domicílio das partes, da sede
ou rodoviária.12 da arbitragem ou do lugar de cumprimento de uma
parte substancial das obrigações.14
Com esta técnica, a referida lei descartou as
relações trabalhistas e de consumo, deixando Pedro Martins Batista nos dá conta de que,
uma ampla margem de manobra na definição ao longo do tempo, os fatores mais utilizados
da comercialidade de uma matéria submetida pela doutrina para caracterizar a internaciona-
à arbitragem. lidade da relação jurídica foram: i) o domicílio;
É incontestável que as nações foram afeta- ii) a residência e a sede das partes; iii) a lei apli-
das pela globalização do mercado e das tecnolo- cável ao mérito e ao procedimento da disputa;
gias. Ela, a globalização, democratizou o acesso iv) o local da assinatura do contrato e de sua
à informação e intensificou o deslocamento de execução; v) o local onde se situa a proprieda-
pessoas e de coisas num mundo que passou a de envolvida na controvérsia ou onde a perda
ter fronteiras nítidas apenas nos mapas, incre- ocorreu; vi) o local da sede da arbitragem; vii) a
mentando as já complexas relações comerciais nacionalidade dos árbitros; viii) a nacionalida-
entre contratantes submetidos a diversos sis- de ou a sede da instituição arbitral; e ix) o local
temas jurídicos. Soluções especializadas e rá- do reconhecimento ou da execução da sentença
pidas, num procedimento sigiloso, mais prático arbitral. Tais critérios, apesar de ainda utiliza-
e menos formal, de menor custo e com possibi- dos, vêm perdendo projeção frente ao elemento
lidade de escolha da lei a ser aplicada foram e econômico que norteia as relações negociais.
continuam sendo as causas da grande aceita- Segundo o referido professor, a visão puramen-
ção e da adoção da arbitragem no mundo dos te jurídica, abstrata, do caráter internacional
negócios. vem sendo substituída por uma análise mais
pragmática e tangível de substrato eminente-
1.1.2 Critérios de determinação da mente econômico15.
internacionalidade da arbitragem A Convenção de Nova Iorque de 1958, o mais
Diferentes critérios são utilizados para definir importante tratado referente à arbitragem co-
uma arbitragem como internacional. Em linhas mercial internacional, em vigor atualmente em
gerais, ela é assim considerada quando existem 172 países16, trata do reconhecimento e da exe-
elementos de ligação com o estrangeiro, com cução de sentenças arbitrais estrangeiras, sem
base no objeto da lide, na pessoa dos árbitros definir o caráter internacional da arbitragem17,
ou das partes, na sede do tribunal arbitral ou no sendo certo que esta noção de “internacionali-
procedimento arbitral13. dade” varia de acordo com o direito interno de
Esmiuçando o assunto, Roque Caivano ob- cada país.
serva que: Neste contexto, a Lei Modelo Uncitral em
[Q]uando uma arbitragem é internacional é possí- muito contribuiu para a definição dos critérios
vel que entrem em jogo diferentes ordenamentos, deste conceito, qualificando uma arbitragem
sendo necessário recorrer ao direito internacional como internacional: i) quando as partes este-
privado para se determinar a lei conforme a qual se
julgará a capacidade das partes, a arbitralidade da jam situadas em países distintos uma da outra
matéria, a nulidade ou invalidade do acordo arbitral, ou em país distinto da sede da arbitragem; ii)
o procedimento a seguir ou mérito da controvérsia, quando o cumprimento de parte substancial
assim como a legislação que se aplicará ao reco-
nhecimento e execução do laudo estrangeiro. [...] das obrigações contratuais ou a situação do
Em termos gerais, se pode dizer que a arbitragem é bem objeto da controvérsia seja em um país
internacional quando excede o marco de um Esta- distinto daquele onde as partes tenham seus

50 REVISTA BONIJURIS I ANO 35 I EDIÇÃO 685 I DEZ23/JAN24


Sandra Regina Pires DOUTRINA JURÍDICA

estabelecimentos; e iii) pela vontade das partes


ao pactuar que o objeto da controvérsia está re-
lacionado a mais de um Estado, priorizando o
estabelecimento que guarde uma relação mais
estreita com o acordo arbitral e, em não haven-
do estabelecimento, se tomará em conta a sua
residência habitual18.
Com a
Constata-se que, a despeito dos diferentes
fatores normalmente utilizados para a defini- Garantia
de Receita
ção de arbitragem comercial internacional e de
certa preferência contemporânea pelo escopo
econômico de seus elementos, a Lei Modelo pri-
vilegiou a vontade das partes.
Neste passo, é possível concluir que a de-
terminação de institutos como nacionalidade,
domicílio, sede da arbitragem, capacidade das
partes e arbitrabilidade é fixada por normas in-
ternas genuinamente nacionais ou internacio-
nalizadas que dialogam entre si, formando um
aparato arbitral, não sendo possível tratá-los de Acesse o site
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1.2 Principais fundamentos da arbitragem
comercial internacional
O princípio da autonomia da vontade traz, na
sua essência, a liberdade de contratar no mo-
mento da realização do negócio, seja o com-
promisso ou a cláusula arbitral, circunscre-
vendo-se desde a faculdade de dispor desta via
alternativa de solução de controvérsias até as
disposições procedimentais que regerão o juízo
arbitral.
A vontade das partes cria o negócio jurídi-
co, determinando-lhe o conteúdo, a forma e os
efeitos. Assim, nas matérias suscetíveis à arbi-
tragem (direitos disponíveis), as partes têm a
liberdade de, entre outras opções, instituí-la ou
não; de convencionar livremente as regras apli-
cáveis ao procedimento arbitral; de escolher o
número de árbitros; de eleger o local da arbi-
tragem; e de permitir a solução da controvérsia
por equidade.
O princípio em tela encontra o seu primeiro
e mais importante limite nas normas de cará- Comendador Araújo . 86
ter imperativo que emanam da ordem pública, Sl. 23 e 24 . Centro . Curitiba
mas também nas normas morais aceitas pelo
próprio ordenamento jurídico e em outros prin-
41 3040 0656
cípios inspiradores do moderno direito contra- 41 3040 0663
tual19, como a boa-fé objetiva que se correlacio-

REVISTA BONIJURIS I ANO 35 I EDIÇÃO 685 I DEZ23/JAN24 51


CIRCULAÇÃO DE SENTENÇA ARBITRAL ESTRANGEIRA

A Convenção de Nova Iorque de 1958, o mais importante tratado referente a


arbitragem comercial internacional, trata do reconhecimento e da execução de
sentenças arbitrais estrangeiras, sem denir o caráter internacional da arbitragem

na com a honestidade, a retidão, a lealdade e o o único em virtude da possibilidade de escolha


respeito ao interesse da contraparte. A boa-fé da lei aplicável à arbitragem23.
deve estar presente desde os primeiros passos, Roque Caivano sustenta que a internacio-
objetivando a celebração de um futuro contra- nalidade em uma arbitragem se determina em
to, viabilizando que seja permitido às partes função de diferentes critérios que atendem às
contratarem em condições realmente equitati- características das partes (nacionalidade ou
vas20. Não pode uma parte, após a eleição espon- domicílio), da relação jurídica (lugar de cum-
tânea da instância arbitral, deixar de honrar o primento de uma parte substancial das obriga-
compromisso assumido. O caráter obrigatório e ções) ou mesmo do procedimento arbitral (lugar
o efeito vinculante à convenção de arbitragem onde a arbitragem teve lugar). Já para definir a
têm por substrato o princípio da boa-fé, que estraneidade de um laudo se utilizam dois crité-
veda o abuso de direito, o comportamento con- rios principais: o lugar onde o laudo foi ditado e
traditório e a alegação da própria torpeza. a lei processual aplicável à arbitragem24.
O princípio da autonomia da convenção ar- Vejamos, a seguir, o que prevê o mais impor-
bitral em relação ao contrato em que inserida tante tratado sobre o tema, a Convenção de
significa que, mesmo diante da nulidade deste, Nova Iorque.
aquela permanece hígida e válida, inexistindo O conceito pactício de “sentença estrangei-
relação de acessoriedade entre eles, salvaguar- ra”, como se verá, é híbrido e vem exposto no
dando a competência do árbitro para apreciar a artigo i, 1:
alegação de invalidade ou validade do contrato. A presente Convenção aplicar-se-á ao reconheci-
Decorrente do princípio acima é a Kompe- mento e à execução de sentenças arbitrais estran-
geiras proferidas no território de um Estado que não
tenz-Kompetenz, assim definido por Carmona: o Estado em que se tencione o reconhecimento e a
[É] a competência do árbitro para decidir sobre sua execução de tais sentenças, oriundas de divergên-
própria competência, resolvendo as impugnações cias entre pessoas, sejam elas físicas ou jurídicas.
que surjam acerca de sua capacidade de julgar, da A Convenção aplicar-se-á igualmente a sentenças
extensão de seus poderes, da arbitrabilidade da arbitrais não consideradas como sentenças domés-
controvérsia, enfim, avaliando a eficácia e a exten- ticas no Estado onde se tencione o seu reconheci-
são dos poderes que as partes lhe conferiram tan- mento e a sua execução.
to por via de cláusula compromissória, quando por
meio de compromisso arbitral. É o árbitro decidindo Constata-se que o critério da territorialidade
acerca de qualquer controvérsia que diga respeito à
convenção de arbitragem.21 foi ampliado, permitindo a aplicação da con-
venção não só às sentenças ditadas em país di-
Tanto a separabilidade quanto a Kompeten- verso daquele em que se pretenda seu reconhe-
z-Kompetenz podem cumprir a mesma função, cimento e execução, mas também às que não
impedindo que a parte que atue de má-fé possa sejam consideradas nacionais nesse mesmo
paralisar a arbitragem antes de seu início, me- país, ficando a cargo dos Estados regulamentar
recendo destaque que naquela se tem por foco a nacionalidade das sentenças.
o contrato; nesta, a convenção arbitral22. Roque Caivano nos dá conta de que, para
alguns autores, o critério territorial seria errô-
2. SENTENÇA ARBITRAL ESTRANGEIRA neo, tendo em vista que o fundamental para
Critério universalmente aceito é o de se consi- determinar o caráter de estrangeiro não é o lu-
derar estrangeira uma sentença que tenha sido gar onde a sentença foi proferida, mas, sim, a lei
proferida em um país distinto daquele no qual processual aplicada à arbitragem, porque essa
se requer a sua execução. Entretanto, ele não é jurisdição é a que determina qual a autoridade

52 REVISTA BONIJURIS I ANO 35 I EDIÇÃO 685 I DEZ23/JAN24


Sandra Regina Pires DOUTRINA JURÍDICA

O princípio da autonomia da vontade traz, na sua essência, a liberdade


de contratar no momento da realização do negócio, dispondo da solução
de controvérsias e dos procedimentos que regerão o juízo arbitral

competente para revisar a regularidade do pro- 3. RECONHECIMENTO E EXECUÇÃO DE


cedimento arbitral, reduzindo a importância do SENTENÇA ARBITRAL ESTRANGEIRA
lugar da sede da arbitragem25 para um método Reconhecimento e execução são temas de rele-
indireto de determinação da lei processual apli- vância para a arbitragem internacional. A efeti-
cável à arbitragem e de obtenção dos benefícios vidade de uma sentença emitida em território
da cni para a execução do laudo no território de diverso traz em si a necessidade de respeitar o
outro Estado contratante. status jurídico de pessoas e de bens30, sendo de
A despeito das infindáveis e acaloradas dis- todo conveniente que os árbitros evitem a emis-
cussões sobre o tema, o critério universalmen- são de sentenças que possam ser rejeitadas no
te aceito (mas não o único) é o de se considerar Estado receptor, uma vez que, julgado despro-
estrangeira uma sentença que tenha sido pro- vido de imposição coercitiva, corre o risco de se
ferida em um país distinto daquele no qual se tornar inoperante.
requer a sua execução. A diferenciação terminológica entre “reco-
O Brasil tem regramento específico sobre nhecimento” e “execução” não é supérflua31:
arbitragem: é a Lei 9.307, de 23 de setembro de O reconhecimento é prévio e autorizante da execu-
199626, que trata das sentenças arbitrais domés- ção. Tem por finalidade a importação da eficácia da
sentença arbitral estrangeira, para depois poder ser
ticas e estrangeiras27. invocada no território nacional, a fim de produzir
Curiosamente, a referida lei entrou em vi- todos os seus efeitos jurídicos – seja para instru-
gor antes dos decretos que aprovaram e ratifi- mentalizar um processo de natureza executiva, ou
para qualquer outro fim que se pretenda”32, como
caram a Convenção de Nova Iorque em 200228, por exemplo, a incorporação da sentença arbitral
demonstrando quão injustificadamente tardia estrangeira a algum registro público, ou a sua ad-
foi a adesão brasileira. missão para fundamentar uma defesa preliminar de
A Lei Brasileira de Arbitragem não deixa es- coisa julgada.
paços para divagações, considerando sentença
Rivera alerta para a complexidade da execu-
arbitral estrangeira a que tenha sido proferida
ção de um laudo em jurisdição diversa daquela
fora do território nacional (art. 34, parágrafo
em que foi ditado:
único), com adoção exclusiva do critério terri-
[S]ão juízes distintos aos da sede os que deverão
torial29. julgar sobre a aptidão do laudo arbitral para ser re-

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De um sonho de liberdade ao pesadelo do
Estado policial

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Neste ensaio provocativo e lúcido, o autor não tem


medo de expor suas críticas às instituições que têm uma
atuação criminal contaminada pelo afã por punir. Não 41 3323 4020
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objetiva destruir o sistema, mas aponta os caminhos de
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REVISTA BONIJURIS I ANO 35 I EDIÇÃO 685 I DEZ23/JAN24 53
CIRCULAÇÃO DE SENTENÇA ARBITRAL ESTRANGEIRA

O Brasil tem regramento especíco sobre arbitragem: é a Lei 9.307, de 23 de


setembro de 1996. Curiosamente, a referida lei entrou em vigor antes dos
decretos que aprovaram e raticaram a Convenção de Nova Iorque em 2002

conhecido e executado, concedendo ou negando o debe invocar causales taxativamente enumeradas;


exequatur. O exequatur é um procedimento neces- y sobre él recae la carga de la prueba; vi) con ello
sário e prévio à execução de uma sentença – judicial se elimina el doble exequatur; e vii) algunas obje-
ou arbitral – estrangeira, pelo qual o juiz do Estado ciones al reconocimiento y ejecución de la senten-
requerido declara que essa sentença ou laudo – pro- cia arbitral extranjera pueden ser levantadas de
ferido no estrangeiro – pode ser executado nesse oficio por el juez del exequatur.35
país. O objeto desse procedimento não é a relação
jurídica substancial, mas, sim, a sentença estrangei- Rafael Gutiérrez e David Quijano fazem im-
ra, a cujo respeito somente se trata de comprovar
se ela reúne os requisitos do ordenamento interno portante observação quanto ao duplo exequa-
ad quem para que produza seus efeitos executivos, tur exigido por alguns Estados, no sentido de
culminando com a declaração de que a sentença que o artigo iv da Convenção36, ao arrolar os do-
arbitral estrangeira tem a mesma eficácia das sen-
tenças proferidas pelos juízes nacionais.33
cumentos que deve apresentar a parte que bus-
ca a execução da sentença arbitral, não tratou
Diferenciado que está “reconhecimento” de de certificação alguma sobre ser o laudo final
“execução”, vejamos o tratamento que lhes são ou não no país de origem, nem no país de execu-
conferidos pela Convenção de Nova Iorque e ção, tendo por consequência a liberalização dos
pela Lei Brasileira de Arbitragem. procedimentos para executar laudos estrangei-
ros, o que não significa diminuição ou elimina-
3.1 Reconhecimento e execução de sentença ção do poder das autoridades do lugar em que
arbitral na Convenção de Nova Iorque foi proferido o laudo, haja vista que o Estado
O instrumento convencional não estabelece emissor tem total liberdade para modificá-lo ou
um procedimento para importar os efeitos da deixá-lo sem efeito legal, de acordo com as suas
sentença arbitral forasteira ou para executá-la, normas internas, sempre e quando se dê estrita
mas condiciona tais ocorrências ao controle aplicação do artigo v da Convenção.
de requisitos predeterminados, expressos e ta- Neste diapasão, infere-se que, por maior que
xativos, ficando a cargo da legislação interna seja a boa vontade dos autores de quaisquer
regular tal procedimento, conferindo à parte tratados ou acordos, bem como a magnitude
o direito de tornar efetiva a sentença arbitral técnica e teleológica de seu conteúdo, a ativida-
independentemente da chancela do Poder Ju- de coordenada (e não de exclusão) entre juízes
diciário a quo, sendo vedada a imposição de e árbitros é imprescindível para o êxito da arbi-
condições substancialmente mais onerosas ou tragem internacional.
custas ou despesas mais elevadas do que aque-
las aplicáveis ao reconhecimento ou à execução 3.2 Reconhecimento e execução de sentença
de sentenças arbitrais domésticas (cni, iii34). arbitral na Lei Brasileira de Arbitragem
Rivera elenca as características básicas da O duplo exequatur deixou de ser requisito de
cni sobre reconhecimento e execução de sen- homologação de laudo estrangeiro no Brasil
tença arbitral estrangeira: com a entrada em vigor da Lei de Arbitragem,
i) gira alrededor de la idea de sentencia arbitral em 1996. Segundo Renata Gaspar, tal exigência
extranjera; ii) no se limita al reconocimiento y eje-
era “jurisprudência consolidada” do Supremo
cución de la sentencia arbitral, sino que incluye el
reconocimiento y validez del acuerdo arbitral; iii) la Tribunal Federal, cuja primeira intervenção ao
autonomía de la voluntad preside la constitución amparo da referida lei evidenciou uma nova
del tribunal arbitral y la determinación del proce- mentalidade37 em sentido totalmente oposto38.
dimiento; iv) la sentencia arbitral extranjera es sus-
ceptible de ser reconocida y ejecutada cuando es O diploma legal acima mencionado equipa-
obligatoria; v) quien pretende impedir la ejecución ra a sentença arbitral à judicial; determina o

54 REVISTA BONIJURIS I ANO 35 I EDIÇÃO 685 I DEZ23/JAN24


CIRCULAÇÃO DE SENTENÇA ARBITRAL ESTRANGEIRA

A EC conhecida como “Reforma do Poder Judiciário” foi promulgada aproximadamente


dois anos após a raticação da convenção e transferiu a competência do STF
para o STJ no que diz respeito à homologação de sentenças estrangeiras

seu reconhecimento ou execução de confor- sados na arbitragem, afastando-os do Estado


midade com os tratados internacionais com brasileiro.
eficácia no ordenamento interno e, em não os O sistema de reconhecimento adotado pelo
havendo, estritamente de acordo com os seus Brasil é o de análise parcial da sentença arbitral
termos. Impõe como única exigência, para que estrangeira em que a liberação de seus efeitos
uma sentença arbitral estrangeira seja reco- depende do controle exercido por órgão do
nhecida ou executada, a sua homologação Poder Judiciário interno, a quem se conferem
perante o Superior Tribunal de Justiça (Su- poderes de verificação de requisitos taxativos
premo Tribunal Federal, antes de 2004), apli- arrolados na lei de arbitragem e na Emenda
cando-se, no que couber, os arts. 960 e 965 do Regimental 18, de 17 de dezembro de 201444, arts.
Código de Processo Civil39, que em linhas ge- 216-C e 216-D, com o fim de atestar a regularida-
rais não prescinde da homologação, incorpora de do decisum, não se permitindo, entretanto, a
o regimento interno da corte competente para revisão quanto ao mérito da causa. É o juízo de-
tal e fixa as regras para a execução, que são as libatório, que se realiza sob a forma de processo
mesmas para as sentenças nacionais (arts. 31, de homologação, genericamente denominado
34 e 3640). exequatur.
A emenda constitucional conhecida como Homologar significa confirmar, ratificar,
“Reforma do Poder Judiciário”41 foi promulgada aprovar um ato para que tenha eficácia legal.
aproximadamente dois anos após a ratificação De Plácido e Silva, em seu Vocabulário Jurídico,
da Convenção de Nova Iorque e transferiu a leciona que:
competência do Supremo Tribunal Federal para [A] homologação assemelha-se ou se equipara à
o Superior Tribunal de Justiça no que diz res- sentença, mas na verdade, não dá direito novo nem
peito à homologação de sentenças estrangeiras, novo título, não dispondo, pois, de modo diferente
àquele ajustado ou estabelecido no ato homologan-
bem como ao status hierárquico de convenções do e homologado. Somente lhe dá força e ativa o
e tratados sobre direitos humanos, que passa- direito de execução.45
ram a equivaler a emendas constitucionais, não
se permitindo a sua revogação por qualquer Constitui-se, assim, em meio para o reconhe-
instrumento que não seja outra emenda cons- cimento de decisões arbitrais estrangeiras, que,
titucional, ocupando o primeiro lugar na pirâ- em caso de êxito, atribui efetividade ao coman-
mide das leis42. do contido no decisum.
Assim, o órgão do Poder Judiciário com com- O Estado receptor da sentença arbitral, como
petência para homologar sentença arbitral es- vimos, tem competência para regular a forma
trangeira é, desde o final de 2004, o Superior como se processarão o reconhecimento e a
Tribunal de Justiça e a Convenção de Nova Ior- execução do julgado. O Brasil não exige a sua
que; por sua vez, não tem o status de emenda homologação no país de origem, ainda que este
constitucional, podendo ser revogada total ou procedimento seja requisito necessário, no di-
parcialmente por lei genuinamente doméstica reito interno alienígena, para que a decisão ar-
e de inferior posição hierárquica. Desta ma- bitral passe a ter a mesma eficácia da sentença
neira, a norma incorporada vale como direito judicial46.
local e não como direito internacional, sujei- O reconhecimento, segundo Renata Gaspar,
tando-se às regras internas de hierarquia e de está amparado no monopólio estatal da jurisdi-
conflitos de leis no tempo e no espaço43, o que ção, que aplica “indiretamente o direito estran-
pode causar alguma insegurança aos interes- geiro, recepcionando uma decisão alheia ao

56 REVISTA BONIJURIS I ANO 35 I EDIÇÃO 685 I DEZ23/JAN24


Sandra Regina Pires DOUTRINA JURÍDICA

sistema nacional, sem atribuir ou constituir um


novo direito, mas viabilizando a produção de
seus efeitos, abrindo-lhes as vias executivas”47,
se for o caso. O reconhecimento é, assim, con-
dição legal prévia que viabiliza a produção em
território nacional dos efeitos do decisum, não
se permitindo invocar, nessa sede, nenhuma cir-
cunstância que não esteja expressamente pre-
vista no direito objetivo como oponíveis a ele48.
A peça inicial do pedido de homologação, com
os requisitos da lei processual civil49, bem como
os previstos no art. 216-D da referida emenda
regimental50 e instruída com certidão ou cópia
autêntica do texto integral da sentença estran-
PRONTO
geira e com outros documentos indispensáveis,
devidamente traduzidos e autenticados, será
endereçada ao presidente do stj, que decidirá
PARA MUDAR
isoladamente caso não haja contestação. Em
havendo, os autos serão remetidos à corte espe- a história do
cial, com vista ao Ministério Público Federal em
qualquer um dos casos. Homologada a decisão,
cujo ato tem caráter constitutivo51, será ela exe-
seu condomínio?
cutada por carta de sentença, no juízo federal
competente, em cumprimento ao art. 109, inc. x
Contratando a nossa
da Constituição Federal52. Cobrança com Garantia
Nota-se que, a despeito de ter o stj compe- de 100% de Receita
tência originária para processar e julgar o pe- você consegue!
dido homologatório, a execução dos julgados
forasteiros é de competência da Justiça Fede-
ral de primeira instância, evidenciando que
os processos de reconhecimento e executivo
veiculam demandas distintas e desenvolvidas
em torno de relações processuais indepen-
dentes.
A determinação da competência territorial
faz-se com fulcro nas normas ordinárias, leia-
-se Código de Processo Civil. Em regra, será o
foro do domicílio do réu ou da sede do execu-
tado, ou, ainda, do lugar do cumprimento da
obrigação, sendo possível às partes rejeitar a
todos esses territórios legais, com a cláusula de
eleição de foro, sendo que os atos executivos se-
rão realizados em conformidade com o referido
diploma legal para a execução das sentenças
nacionais53.
Conclui-se que, para o sistema jurídico bra-
41 3224 7810 41 99194 3255
sileiro, toda sentença estrangeira – arbitral ou d u p li q u e cu r i t i b a.com .b r
judicial – está sujeita ao processo de homologa-
ção prévio para a produção de efeitos.

REVISTA BONIJURIS I ANO 35 I EDIÇÃO 685 I DEZ23/JAN24 57


CIRCULAÇÃO DE SENTENÇA ARBITRAL ESTRANGEIRA

É preciso ter em mente que regras de procedimento para a execução são


algo diferente de condições para a execução. Aquelas são ditadas pela lei
interna da jurisdição receptora; estas, pela própria convenção

4. EFEITOS EXTRATERRITORIAIS DA Pactuando com o entendimento de Grebler,


SENTENÇA ARBITRAL NÃO OBRIGATÓRIA, Roque Caivano é explícito:
ANULADA OU SUSPENSA NO PAÍS DE O art. V da Convenção determina as únicas causas
ORIGEM que autorizam – mas não obrigam – o juiz da execu-
ção a denegar o exequatur. A expressão ‘somente
A temática deste item provavelmente seja a poderá’ contida na primeira parte dessa norma não
maior causa de embates entre os especialistas pode significar outra coisa que impedir ao juiz dene-
em direito arbitral dos mais variados países, gar o reconhecimento se não comprovada alguma
dessas causas, ao mesmo tempo que lhe faculta a
estejam eles focados unicamente no texto no- admitir a execução do laudo ainda quando alguma
va-iorquino, na sua internalização a determina- dessas causas se verifique.57
do sistema jurídico ou em ambos. Comecemos
pelo primeiro. Arnold Wald desdobra o complexo assunto
apontando algumas questões cruciais:
4.1 Na Convenção de Nova Iorque i) tanto a CNI quanto as legislações locais, que tra-
tam do assunto, proíbem ou facultam a homologa-
Os artigos iii; v, 1, ‘e’; vi e vii, 1, da Convenção de
ção de sentença anulada? ii) No caso de se entender
Nova Iorque54, mesmo depois de 65 anos, conti- que é faculdade, que critério deve ser aplicado pelo
nuam a gerar conflitos doutrinários no que se Tribunal incumbido de apreciar a homologação? iii)
refere ao caráter discricionário ou vinculado da A quem incumbe a prova da anulação da decisão
arbitral pela Justiça local e como esta deve ser feita?
recusa55 e ao conceito das expressões “não obri- Quanto ao caráter facultativo da recusa de homolo-
gatória”, “suspensa” e “anulada”. gação, o mesmo Professor aponta cinco argumen-
Pensamos que Eduardo Grebler bem defen- tos: i) a interpretação literal, seguida pela maioria
das legislações, pois a Convenção fala em poder
de o caráter discricionário da recusa: recusar a homologação e não em dever fazê-lo, o
A interpretação e aplicação dos dispositivos da CNI que traz à tona o aspecto da discricionariedade do
em harmonia com a jurisprudência internacional juiz; ii) a intepretação sistemática, pois a Conven-
constituem imperativo lógico da uniformização nor- ção e as recentes legislações são a favor da arbi-
mativa por ela pretendida. É preciso buscar fontes tragem, que deixa de ser uma exceção ao regime
interpretativas que levem à aplicação homogênea legal, “pro-enforcement”, e se manifestam contra
de seus dispositivos pelos poderes judiciários dos o “demandante refratário”; iii) a interpretação his-
Estados signatários, assim como pela doutrina do tórica, pois pretendeu-se, com a Convenção e as re-
direito arbitral internacional. A assertiva do artigo centes legislações, evitar a dupla homologação; iv)
III sobressai com maior clareza do fato de que, nos filosoficamente, o reconhecimento de uma ordem
termos do artigo V, 1, caput, a recusa ao reconhe- jurídica arbitral, com princípios próprios defendido
cimento e à execução não opera per se. Para que por Emmanuel Gaillard58; e v) a defesa do Estado
tal recusa possa ocorrer, é necessário que a parte de Direito a fim de garantir os direitos individuais e
contra a qual a sentença for invocada forneça à au- suas eventuais projeções patrimoniais. Reconhecido
toridade competente onde se intenta o reconheci- o aspecto facultativo da recusa de homologação,
mento a prova do fato que alega, dentre aqueles resta saber qual o critério a ser aplicado; e há um
contemplados nas alíneas “a” até “e”. Contudo, consenso, que é o da razoabilidade, o da ausência
mesmo nessas circunstâncias a negativa de reco- de influência externa que tenha viciado a decisão, o
nhecimento e de execução não tem caráter man- da inexistência de abuso.59
datório ou de autoaplicabilidade, ficando no campo
do poder discricionário do magistrado, que poderá É preciso ter em mente que regras de proce-
avaliar se os fatos alegados como fundamento para
a pretendida recusa estão suficientemente carac-
dimento para a execução são algo diferente de
terizados, cabendo-lhe decidir conforme seu livre condições para a execução. Aquelas são ditadas
convencimento. Assim, as regras do artigo V têm pela lei interna da jurisdição receptora; estas,
caráter de exceção à regra geral contida no artigo pela própria convenção.
III, razão pela qual devem ser lidas restritivamente,
sob pena de levarem à ineficácia da parte mais es- Albert van den Berg, em seus comentários à
sencial do instrumento convencional.56 cni, e o Guia do icca (International Council for

58 REVISTA BONIJURIS I ANO 35 I EDIÇÃO 685 I DEZ23/JAN24


Sandra Regina Pires DOUTRINA JURÍDICA

O princípio da máxima ecácia viabiliza a homologação de um laudo por um


tratado em vez de outro, sem levar em conta os princípios da anterioridade
e da especialidade das leis, desde que sejam igualmente aplicáveis

Commercial Arbitration) são concordes quanto dem adotar critérios mais rígidos, eles são, ao
à interpretação do artigo v: i) não há revisão de contrário, autorizados a se mostrar mais favo-
mérito; ii) o ônus da prova é do demandado; iii) ráveis63. Conclui-se que a relação da cni com o
a interpretação quanto aos taxativos funda- direito interno é de vigência simultânea, não de
mentos para a rejeição é restritiva; e iv) poder exclusão.
discricionário limitado para conceder o reco- Feitos os apontamentos quanto ao caput
nhecimento e a execução, ainda que na presen- do artigo v da convenção, passemos à análise
ça de um dos fundamentos para rejeição60. da sua alínea ‘e’, registrando que é importante
O artigo vii, 1, da convenção permite que identificar os foros nela tratados, haja vista que
prevaleça a aplicação da lei interna ou tratado a suspensão/anulação que impediria o reco-
que seja mais favorável, tanto para o reconheci- nhecimento e a execução da sentença arbitral
mento e execução de sentença arbitral estran- é tão somente aquela proferida por tribunal do
geira como para conferir validade e eficácia à país onde se situa a sede da arbitragem ou por
convenção arbitral, e encontra a sua utilidade tribunal do país cujo direito foi aplicado à ar-
exatamente no confronto com o artigo v, 1, ‘e’, bitragem. Assim, em não sendo nenhum desses
constituindo-se no principal argumento para foros o prolator da suspensão/anulação, inexis-
impulsionar a circulação de laudos arbitrais. te impedimento para o reconhecimento e a exe-
O princípio da máxima eficácia viabiliza a ho- cução no sistema da convenção64.
mologação de um laudo por um tratado em vez Seguindo a ordem do texto convencional,
de outro, sem levar em conta os princípios da tratemos da expressão “sentença não obrigató-
anterioridade e da especialidade das leis, desde ria”. A doutrina preleciona que é unânime entre
que sejam igualmente aplicáveis61. A observân- as cortes o posicionamento de que tal expres-
cia da cláusula da regra mais favorável eviden- são foi incluída no texto convencional com o
cia o papel do artigo v, que é o de estabelecer intento de eliminar a dupla homologação, fa-
o limite máximo de exigências as quais seriam cilitando a circulação das sentenças. Passou-se
condicionados o reconhecimento e a execução a exigir como condição de procedibilidade do
de uma sentença arbitral62. Isto significa que, reconhecimento tão somente que a sentença
se os países signatários da convenção não po- arbitral possua caráter obrigatório. Ou seja, que

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CIRCULAÇÃO DE SENTENÇA ARBITRAL ESTRANGEIRA

Os operadores do direito divergem quanto ao momento em que a sentença é


considerada “obrigatória”, prevalecendo a interpretação de que o seu termo
inicial é regido pela lei da sede ou pela lei do país, sendo, portanto, variável

no âmbito das instâncias arbitrais, ela se tenha aplicável”. Isto não quer significar que a lei da
tornado definitiva. O fato de que possa haver sede ou a de regência da arbitragem não deva
recurso a um tribunal judiciário não impede ser consultada, ao contrário, até porque é ela
que a decisão seja obrigatória. Uma vez emitido quem determina o(s) meio(s) de impugnação
o laudo, ele obriga as partes. do laudo. Dessa forma, a lei processual de um
Lauro Gama, ao comentar as recusas fun- país pode tornar o processo arbitral mais céle-
dadas no artigo em comento, observa que “um re e menos oneroso do que em outro, além de
laudo vinculante não deve ser equiparado a um intensificar a segurança jurídica, a depender
laudo exequível, pois tal equiparação represen- das espécies de impugnação manejáveis ou re-
taria um retorno à exigência do duplo exequa- nunciáveis até que a decisão arbitral esteja apta
tur. Tampouco pode o ‘laudo vinculante’ ser para o reconhecimento e, se for o caso, para a
entendido como um laudo que não tenha sido execução.
atacado pela via da anulação”65. Laudo não re- Adentrando no significado da segunda ex-
vestido de caráter definitivo significa dizer que pressão do texto convencional, Arnoldo Wald
ele depende de uma decisão relativa a algum re- nos revela que a discussão sobre a possibilida-
curso dentro do próprio âmbito do procedimen- de ou não de homologação de sentença arbitral
to arbitral, ou, ainda, que falta o cumprimento estrangeira anulada por autoridade judicial
de alguma formalidade necessária, como pode no país em que proferida revela o espectro em
ser a notificação da sentença, ou eventualmen- que se inserem as diversas posições adotadas
te, seu registro66. em arbitragem internacional. Num extremo,
Os operadores do direito divergem quanto estaria a corrente que assimila o árbitro unica-
ao momento em que a sentença é considerada mente à ordem jurídica do país da sede da arbi-
“obrigatória”, prevalecendo a interpretação de tragem (perspectiva centralizadora – corrente
que o seu termo inicial é regido pela lei da sede unitária). No meio, a corrente que considera ser
ou pela lei do país conforme a qual a arbitra- a arbitragem fundada em uma pluralidade de
gem foi orientada, sendo, portanto, variável. Há ordens jurídicas. Assim, diversas jurisdições po-
tribunais, entrementes, que decidem essa ques- deriam ter vocação equivalente para pronun-
tão independentemente da lei aplicável, enten- ciar-se sobre a validade da sentença arbitral
dendo por obrigatória a sentença arbitral da (perspectiva descentralizada – corrente plura-
qual não caiba mais recurso sobre o mérito, seja lista – adotada pelo Brasil). No outro extremo,
na esfera arbitral, seja na judicial. É a chamada estaria a ideia de ordem jurídica arbitral autô-
“interpretação autônoma”, tendo por justifica- noma, desvinculada de quaisquer jurisdições
tiva a redação do texto convencional, que na estatais. A corrente unitária considera inexis-
primeira parte da alínea “e” do artigo v não faz tente a sentença anulada no país de sua origem.
referência a qualquer lei, o que não ocorre com A pluralista e a da ordem jurídica autônoma
a sentença “suspensa” ou “anulada”, vinculada à não conferem efeito automático à anulação da
autoridade competente do país em que, ou con- sentença pelo país da sede; a primeira porque
forme a lei do qual o laudo tenha sido proferido. se funda na autonomia de cada ordem jurídica
Albert van den Berg aponta para a importân- e a segunda, na autonomia da ordem jurídica
cia de referido detalhe, que foca a investigação arbitral67.
do operador do direito mais no propósito do A repartição de competências judiciais em
texto convencional ao trocar a expressão “final” matéria de controle de laudos na arbitragem in-
por “not binding” do que na descoberta da “lei ternacional é clara: o juiz da sede da arbitragem

60 REVISTA BONIJURIS I ANO 35 I EDIÇÃO 685 I DEZ23/JAN24


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CIRCULAÇÃO DE SENTENÇA ARBITRAL ESTRANGEIRA

A Lei Brasileira de Arbitragem prevê algumas causas denegatórias de


homologação, interessando-nos as efetuadas “a pedido da parte”, tal como a
anulação da sentença por autoridade judicial do país onde ela foi prolatada

é o encarregado de controlar a validade do lau- execução dos laudos arbitrais definitivos, cujas
do, por via dos recursos previstos em sua legis- causas de recusa devem ser interpretadas res-
lação interna; e o juiz do lugar onde se intenta tritivamente. Na hipótese de anulação ou de
executá-lo deve aplicar sua própria legislação suspensão do laudo na jurisdição de origem,
para aferir se o laudo é suscetível de execução, faz-se necessária a análise criteriosa da decisão
evidenciando o caráter exclusivo das respec- judicial72.
tivas competências68. De igual modo, Gaillard
ressalta que o juiz da sede, que controla as ope- 4.2 No regime geral estabelecido pela lei
rações materiais do processo arbitral, não tem processual brasileira
mais que um interesse puramente teórico em A Lei Brasileira de Arbitragem prevê algumas
controlar a validade do laudo se este não vai ser causas denegatórias de homologação, interes-
executado neste Estado, pois a eleição da sede sando-nos, nesta seção, as efetuadas “a pedido
da arbitragem (ou da lei de regência) obedece, da parte”73, mais especificamente a não obriga-
muitas das vezes, a meras razões de neutralida- toriedade do laudo, a suspensão e a anulação da
de ou conveniência. Por oposição, o juiz do Es- sentença por autoridade judicial do país onde
tado onde o laudo se executará tem um interes- ela foi prolatada.
se real e concreto. Assim, o juiz receptor pode Observe-se que a referida lei não trata da de-
não reconhecer um laudo considerado válido cisão que houver sido pronunciada “conforme a
na origem, sendo paradoxal que ele não tenha lei do qual”, ou seja, não há qualquer menção so-
a faculdade de reconhecer um laudo que te- bre o papel da sede convencional da arbitragem
nha sido anulado, tendo em conta o fenomenal neste particular. Assim, a nosso ver, a lei inter-
movimento mundial em favor da arbitragem69. na é mais favorável do que o texto convencio-
Ademais, é possível que a lei do juízo ad quem nal, já que ela reduz as possibilidades de defesa
não contemple a anulação da sentença arbitral da parte contrária ao pedido de homologação,
como uma hipótese de recusa de sua execução, que tem o ônus da prova da causa denegatória.
a exemplo da França, cabeça de ponte da teo- Dessa forma, a suspensão ou a invalidação de
ria da deslocalização do laudo e do princípio da laudo estrangeiro em qualquer outra sede, seja
máxima eficácia. Ou seja: se a ordem jurídica do ela a da lei de regência do processo arbitral, seja
Estado de recepção é mais favorável ao reco- uma terceira, não impede a homologação do
nhecimento que a Convenção, como é o caso do julgado no Brasil74.
referido país europeu, deve ela prevalecer com A Emenda Regimental stj 18/1475 é o guia
base no princípio da máxima eficácia70. procedimental para o requerimento da homo-
Partindo agora para a última das expressões logação, cabendo registrar que o “trânsito em
em estudo, o texto convencional é suficiente- julgado” de que ela trata é o da esfera arbitral,
mente claro ao se referir à suspensão decretada haja vista que obrigatório é o laudo vinculante;
pelo Poder Judiciário do país emissor do laudo, é o laudo definitivo em procedimento de arbi-
não à suspensão advinda dos meios de impug- tragem76.
nação previstos na sua lei processual. Ou seja, Segundo Renata Gaspar, para que o laudo
“a Convenção requer que o laudo seja suspenso arbitral seja considerado obrigatório, não é pre-
por uma autoridade competente, excluindo a ciso que se lhe acompanhe qualquer declaração
suspensão ex lege”71. judicial de executividade ou outra formalidade
O certo é que o texto nova-iorquino impõe relativa a uma homologação judicial ou nota-
aos países signatários o reconhecimento e a rial da decisão arbitral, ainda que esta formali-

62 REVISTA BONIJURIS I ANO 35 I EDIÇÃO 685 I DEZ23/JAN24


Sandra Regina Pires DOUTRINA JURÍDICA

dade fosse necessária para sua execução no seu


Estado de origem. Ou seja, a exigência de obri-
gatoriedade não implica que a sentença arbitral
tenha, necessariamente, força executiva no seu
Nos condomínios
Estado de origem, somente sendo necessário onde atua, a
que ela seja vinculante entre as partes interes-
Duplique Nova
sadas. A prova aportada pela parte que contes-
ta a homologação de decisão arbitral estrangei- proporciona:
ra, sob o argumento de que esteja pendente de
uma decisão sobre a impugnação ou anulação + Segurança financeira
do laudo, somente concede ao tribunal estatal + Tranquilidade para a
a faculdade de aprazar a decisão acerca do re- gestão do síndico
conhecimento ou de decidir pela sua concessão,
mediante a outorga de uma garantia em dinhei- + Qualidade de vida
ro, a fim de proteger a parte interessada de uma aos moradores
possível anulação da decisão arbitral atacada77.
Entende-se por laudo suspenso aquele que
teve sua eficácia interrompida pela prolação de
uma medida de urgência, ditada por autorida-
de competente do lugar onde a decisão arbitral
tenha sido proferida ou de acordo com o direito
da sede convencional da arbitragem, quando
em aplicação do artigo i da convenção, se pu-
der considerar o laudo como nacional, o mesmo
valendo para os casos de anulação da sentença
arbitral, que, além de comportar a tutela de ur-
gência, ainda pode se dar por sentença.
Renata Gaspar ainda nos dá conta de que a
doutrina tem se manifestado a favor da homo-
logação de laudos arbitrais estrangeiros anula-
dos, fulcrada na atribuição de certa discricio-
nariedade à autoridade do Estado em que se
busca o reconhecimento e a execução, posição
esta a que se opõe, sustentando que, para isso,
seria necessária uma reformulação da legisla-
ção interna, observando, ela própria, que as po-
sições adotadas em sua obra correm o risco de
serem adjetivadas de conservadoras e alegando
que, desde um ponto de vista teórico, não exis-
te possibilidade de ser reconhecido no Brasil
laudo suspenso ou anulado no país de origem
ou pelas autoridades judiciais da sede conven-
cional da arbitragem78. Na mesma toada segue
André Abbud, para quem a discricionariedade
não se acomoda ao caráter taxativo do rol no-
va-iorquino e brasileiro, demandando uma in-
dupliquenova.com.br
terpretação restritiva. Presentes uma das cau-
41 3016.8313 41 98818.7001
sas denegatórias, tem o juiz o dever de negar a
homologação79.

REVISTA BONIJURIS I ANO 35 I EDIÇÃO 685 I DEZ23/JAN24 63


CIRCULAÇÃO DE SENTENÇA ARBITRAL ESTRANGEIRA

A disciplina mais benéca autoriza o juiz da delibação a invocar normas


aplicáveis ao reconhecimento de julgados estrangeiros, seja no direito
interno do Estado ad quem, seja nos tratados de que ele faça parte

Discordamos de ambos os autores, a uma tema da Convenção de Nova Iorque visa assegurar
por entendermos que a legislação processual certa coordenação internacional do controle da sen-
tença arbitral e evitar que uma sentença seja reco-
interna já confere discricionariedade ao julga- nhecida em um país mesmo tendo sido anulada em
dor80, que nada mais é do que uma dualidade outro. Por outro lado, a existência da regra do regi-
ou pluralidade de soluções, variedade de rotas. me mais favorável comprova que a Convenção de
Nova Iorque objetivou traçar regras mínimas para o
Há um espaço destinado ao aplicador da nor- reconhecimento, sem impedir que um Estado pre-
ma, um poder para preenchimento dos espaços visse um regime mais favorável que pode ser aquele
normativos, tendo por limites os princípios da previsto nas leis internas do Estado ou decorrente
de tratados internacionais.84
legalidade (o poder de escolha está jungido aos
parâmetros da lei), da finalidade (a ser alcança- A cláusula do regime mais favorável tem im-
da com a escolha feita) e da proporcionalidade pacto direto no sistema homologatório brasilei-
(escolha da solução mais adequada ao caso pos- ro, uma vez que a lei nacional exclui a possibili-
to a sua apreciação)81. A duas, porque acarreta- dade de a invalidade ou de a suspensão operada
ria o engessamento da atividade do juiz recep- na sede jurídica (“conforme a lei do qual”) im-
tor do laudo. pedir a homologação do julgado arbitral estran-
Finalmente, não poderíamos deixar de abor- geiro. Mais benéfica ao reconhecimento, a regra
dar o posicionamento brasileiro quanto à apli- nacional deve ser aplicada em detrimento da
cação da cláusula do direito mais favorável, que convencional, o que reduz a abrangência desta
tem por expoente a jurisprudência francesa. última no país.
A disciplina mais benéfica que a convenção82 Antes de encerrarmos, se fazem necessários
autoriza o juiz da delibação a invocar aquela alguns apontamentos quanto ao pedido de
prevista em outras normas aplicáveis ao reco- anulação ou suspensão da sentença (cni, vi).
nhecimento de julgados estrangeiros, seja no O ordenamento brasileiro não prevê (mas tam-
direito interno do Estado ad quem, seja nos bém não proíbe) a possibilidade de sustação do
tratados de que ele faça parte. Não é admissí- processo de homologação em virtude de pen-
vel que o juiz deixe de aplicar os dispositivos da dência de ação anulatória ou de pedido de sus-
cni, nem da lba para invocar, em seu lugar, nor- pensão do laudo, preocupando-se apenas com
mas estipuladas para reger a validade de suas os casos de efetiva anulação ou suspensão. En-
arbitragens e laudos domésticos83. tretanto, em virtude de se admitir as tutelas de
Casella extrai uma conclusão bastante sim- urgência nos procedimentos de homologação
ples e eficaz desse embate entre o may refused de sentença estrangeira85, se reconhece que o
versus must refused combinado com o princí- stj poderá acolher ou não o pedido, haja vista
pio da máxima eficácia: que o próprio poder geral de cautela86 do Ju-
Seja porque se entende que os motivos de recusa diciário já seria suficiente para autorizar este
ao reconhecimento são obrigatórios, seja porque tipo de suspensão extraordinária do processo,
se entende que, malgrado facultativos, chega-se
inexoravelmente ao art. VII, § 1.º da Convenção de desde que presentes os requisitos, e em caráter
Nova Iorque e a cláusula do regime mais favorável excepcional, mediante interpretação cuidado-
nele contida. A homologação de sentença arbitral sa, caso a caso, já que a regra geral é a da ho-
estrangeira anulada – sempre em um dos dois foros
previstos no art. V, § 1º, e da Convenção de Nova mologabilidade das sentenças arbitrais estran-
Iorque – dependerá da interpretação que se confira geiras87.
às regras de tratados internacionais ou do direito Há certa tranquilidade na doutrina no senti-
não convencional do Estado requerido. Tem-se, en-
tão, foco no art. VII, § 1.º que prevê a prevalência
do de que o ajuizamento de uma ação anulató-
do regime mais favorável à homologação. [...] o sis- ria ou de um pedido de suspensão, por si só, não

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Sandra Regina Pires DOUTRINA JURÍDICA

O perl dos comerciantes internacionais que mais temiam o descrédito


entre seus pares e as perdas econômicas dele resultantes foi fator de
eleição da arbitragem como via perfeita para pacicar conitos

tem o efeito de impedir o seu reconhecimento88. de que Poder Judiciário e Arbitragem não são
Nítido é o caráter excepcional da aplicação do excludentes; que não têm objetivos antagô-
artigo em exame (cni, vi), merecendo atenção nicos e que não estão duelando pelo poder de
para que não seja banalizada, protegendo a par- ditar o direito. A cooperação – não a sobrepo-
te de má-fé em vez de atribuir à parte vencedo- sição – daquele para com esta e o nível de in-
ra o que é seu. terferência judicial no controle do laudo são, na
atualidade, alguns dos fatores que tornam de-
CONSIDERAÇÕES FINAIS terminado sistema mais atraente e mais seguro
O perfil dos comerciantes internacionais antes (juridicamente falando) para a arbitragem, seja
do fenômeno da globalização, que mais temiam como sede física, jurídica ou como jurisdição re-
o descrédito entre seus pares e as perdas eco- ceptora do laudo.
nômicas dele resultantes do que a força pública A pesquisa nos revelou que o Brasil avaliza
do Estado-juiz, foi fator de eleição da arbitra- a arbitragem, aderindo à concepção jurisdi-
gem como via perfeita para pacificar conflitos. cional do instituto, baseada na atividade de
Após a ocorrência do referido fenômeno, o co- cooperação do árbitro e do juiz, equiparando a
mércio deixou de ser internacional para ser glo- sentença arbitral à judicial e adotando o crité-
bal, ocorrendo a integração de economias e de rio territorialista para considerá-la estrangei-
sociedades, especialmente no que diz respeito à ra, cujos efeitos apenas serão “reconhecidos”
produção e troca de mercadorias e de informa- após o exequatur, tratando reconhecimento e
ção, inserindo nas relações comerciais sujeitos execução como institutos diferentes, a exem-
que não necessariamente guardam o mesmo te- plo do que ocorre com a cni, que utiliza, por
mor de seus antepassados e complexidades até várias vezes, as expressões “o reconhecimento
então desconhecidas. e a execução”. Esta supõe a existência daque-
A questão é: de que maneira acomodar essa le que é efetuado em juízo de delibação, isto é,
“nova” realidade a um instituto jurídico tão an- não tem por objeto a relação jurídica substan-
tigo? Uma força-tarefa se fez necessária, exigin- cial que motivou o processo, a não ser a deci-
do mais que uma mudança de postura, mas de são em si mesma, constituindo um exame de
“mentalidade” por parte dos Estados no sentido índole processual.

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REVISTA BONIJURIS I ANO 35 I EDIÇÃO 685 I DEZ23/JAN24 65
CIRCULAÇÃO DE SENTENÇA ARBITRAL ESTRANGEIRA

A preocupação com a excessiva e descoordenada judicialização da arbitragem


não é um privilégio brasileiro. Muito se debate sobre a inocuidade ou
extinção do controle primário e do secundário com a globalização

O reconhecimento é, assim, condição legal da sentença arbitral estrangeira, aplicando-se a


prévia que viabiliza a produção dos efeitos da legislação interna que é mais favorável. Isso sig-
decisão na jurisdição receptora do laudo. O nifica que a anulação ou a suspensão em qual-
texto nova-iorquino não estabelece um proce- quer outra sede, seja ela a da lei de regência do
dimento para importar os efeitos da sentença processo arbitral, seja uma terceira, não impede
arbitral forasteira ou para executá-la, mas con- a homologação do julgado no Brasil.
diciona tais ocorrências ao controle de requi- O fato é que a convenção reconhece a com-
sitos predeterminados, expressos e taxativos, petência apenas a essas sedes (física ou jurídica)
ficando a cargo da legislação interna efetuar a para apreciar os pedidos de anulação e suspen-
regulação, que, em sendo a brasileira, se dará são do laudo, sendo que, em regra, o julgado tem
por meio da instauração do processo de homo- apenas um país de origem competente para su-
logação de competência exclusiva do stj, cuja primir-lhe os efeitos: aquele onde a sentença foi
execução, se for o caso, terá curso perante a jus- proferida, haja vista que normalmente o local de
tiça federal de primeiro grau, inadmitindo-se o sua emissão e o da lei disciplinadora da arbitra-
reconhecimento incidental. gem coincidem em um mesmo país. Insta obser-
A preocupação com a excessiva e descoor- var que a mera suspensão dos efeitos do julgado
denada judicialização da arbitragem não é um como causa impeditiva de sua homologação de-
privilégio brasileiro. Muito se debate sobre a monstra que a cni admite o caráter provisório
inocuidade ou extinção do controle primário dos efeitos do laudo obrigatório (irrecorrível nas
do laudo – já que seus efeitos são produzidos instâncias arbitrais, seja pelo esgotamento das
na jurisdição receptora –, e, também, sobre vias recursais, seja pela coibição legal ou con-
a incompatibilidade do controle secundário vencional de sua interposição), haja vista que
com a globalização, tendo em vista a trans- conferiu à autoridade do país em que, ou confor-
cendência dos atos jurídicos dela advindos. me a lei do qual, a sentença tenha sido proferida,
O fato é que as diferenças sociais e culturais, a competência para suspender seus efeitos.
como elementos formadores do direito posto A pesquisa permitiu inferir que há uma
em cada nação, são protagonistas de relações acentuada inclinação no sentido de se diminuir
de um mundo que apenas na aparência é inter- a influência do controle primário do laudo so-
dependente. Tal circunstância acarreta falta bre a jurisdição ad quem, bem como de se apli-
de consenso na doutrina e na jurisprudência car o poder discricionário do juiz, que é, antes
dos países signatários da cni no que se refere de tudo, garantia do jurisdicionado, não do Po-
ao reconhecimento e execução de sentença der Judiciário.
arbitral estrangeira não obrigatória, suspensa Os países signatários (ou não) da cni hão de
ou anulada no país em que tenha sido ditada, amadurecer de forma a permitir o cumprimen-
mesmo após os mais de 60 anos “de idade” da to do relevante papel destinado à arbitragem.
convenção. Para que isso ocorra, é indispensável afinar os
A Lei Brasileira de Arbitragem faz menção instrumentos, eliminando ou reduzindo a in-
apenas ao órgão judicial sobre cujo solo foi terferência judicial em situações em que é com-
proferida a sentença arbitral, nada prevendo pletamente desnecessária, para torná-la uma
quanto ao Estado cuja lei tenha sido aplicada realidade positiva nos casos em que a atividade
(“conforme a lei do qual”), levantando-se vozes jurisdicional é indispensável para promover o
no sentido de que, na ocorrência desta circuns- almejado equilíbrio entre os valores da justiça
tância, não se deve denegar o reconhecimento e da segurança. 

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CIRCULAÇÃO DE SENTENÇA ARBITRAL ESTRANGEIRA

NOTAS
1. É comum a utilização da expressão “laudo” <https://uncitral.un.org/en/texts/arbitration/ gistro=200501716865&data=20071206&-
para se referir à sentença arbitral na arbitragem conventions/foreign_arbitral_awards/status2>. tipo=0&formato=PDF>. Acesso em:
comercial internacional. Acesso em: 08.09.2023. 07.09.2023.
2. BASSO, Larissa de Santis. Contratos transna- 17. CNI. Disponível em: <https://cbar.org.br/ 30. ABBUD, André de Albuquerque Cavalcanti.
cionais e o fundamento da arbitragem comer- site/?page_id=539>. Acesso em: 08.09.2023. Homologação de sentenças arbitrais estrangei-
cial internacional: um enfoque didático. PINTO, 18. Vide nota 12. ras. São Paulo: Atlas, 2008, p. 20.
Ana Luiza Baccarat da Motta, SKITNEVSKY, 19. GÓMEZ, J. Miguel Lobato. Autonomia pri- 31. As expressões constam do próprio nome
Karin Hlavnicka (coords.). Arbitragem nacional vada e liberdade contratual. Disponível em: da CNI: “Convenção sobre o Reconhecimento
e internacional. Rio de Janeiro: Elsevier, 2012, <https://jus.com.br/artigos/14238/autonomia- e a Execução...”.
p. 289. -privada-e-liberdade-contratual>. Acesso em: 32. GASPAR, Renata Alves, Reconhecimento
3. Carlos Lobo preleciona que um dos fatores 08.09.2023. de sentenças arbitrais estrangeiras no Brasil.
que fortaleceram a arbitragem nas relações 20. VERÇOSA, Haroldo Malheiros Duclerc. A São Paulo: Atlas, 2009, p. 105. No mesmo senti-
comerciais internacionais é a possibilidade arbitragem, a probidade e a boa-fé objetiva. do é Miguel Torres Blánquez, em Reconocimien-
“de vencer as incertezas e inseguranças que Disponível em: <http://www.migalhas.com. to y ejecución de sentencias extranjeras. Apun-
naturalmente surgem quando uma parte do- br/dePeso/16,MI117930,41046-A+arbitra- tes acerca de su régimen en España. Disponível
miciliada em um país acerta um negócio com gem+a+probidade+e+a+boafe+objetiva>. em: <https://docplayer.es/8638121-Recono-
outra, domiciliada em outro país”. LOBO, Acesso em: 08.09.2023. cimiento-y-ejecucion-de-sentencias-extran-
Carlos Augusto da Silveira. Uma introdução à 21. CARMONA, Carlos Alberto. Arbitragem e jeras-apuntes-acerca-de-su-regimen-en-espa-
arbitragem comercial internacional. ALMEIDA, processo: um comentário à Lei 9.307/96. 3. ed. na-miguel-torres-blanquez.html>. Acesso em:
Ricardo Ramalho (coord.). Arbitragem interna São Paulo: Atlas, 2009, p. 177. 08.09.2023.
e internacional. Rio de Janeiro: Renovar, 2003, 22. CAIVANO, Roque J., op. cit., p. 41 (tradução 33. RIVERA, Julio César, op. cit., pp. 679 e 680
p. 4. nossa). (tradução nossa).
4. BOISSÉSON, Matthieu de. KROETZ, Tarcísio 23. RIVERA, Julio César. Arbitraje comercial: 34. Vide nota 17.
Araújo apud ELIAS, Thiago Luis Carballo. Natu- internacional y doméstico. Buenos Aires: Lexis 35. RIVERA, Julio César. Ejecución de un
reza jurídica da arbitragem. PINTO, Ana Luiza Nexis Argentina, 2007, pp. 688 e 689 (tradução laudo arbitral anulado. Disponível em: <ht-
Baccarat da Motta, SKITNEVSKY, Karin Hlavni- nossa). tps://dialnet.unirioja.es/servlet/articulo?codi-
cka (coord.). Arbitragem nacional e internacio- 24. CAIVANO, Roque J., op. cit., p. 306 (tradu- go=5278687>. Acesso em: 08.09.2023.
nal. Rio de Janeiro: Elsevier, 2012, p. 1. ção nossa). 36. Vide nota 17.
5. FRADERA, Véra Maria Jacob de. A arbitra- 25. Sobre a relativização da importância 37. GASPAR, Álvares Renata, op. cit., pp. 40 e
gem internacional in a Arbitragem no Brasil: as- do lugar da sede arbitral, vide BRAGHETTA, 45. Vide STF, SEC n. 4.724.
pectos jurídicos relevantes. São Paulo: Quartier Adriana. Laudo arbitral na sede da arbitragem 38. Sentença Estrangeira (SE 5206, de 1996).
Latin, 2008, p. 468. e consequências internacionais: visão a partir Disponível em: <https://jurisprudencia.stf.jus.
6. FURTADO, Paulo; BULOS, Uadi Lammêgo do Brasil. 2008. Tese (Doutorado em Direito br/pages/search/sjur13633/false>. Acesso em:
apud ELIAS, Thiago Luis Carballo, op. cit., p. 3. Internacional) – Faculdade de Direito, Universi- 07.09.2023.
7. Em oposição à arbitragem por equidade e dade de São Paulo, São Paulo, 2008. Disponível 39. CPC. Disponível em: <https://www.pla-
à forçada. em: <http://www.teses.usp.br/teses/disponi- nalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/
8. Excluindo-se, portanto, as sentenças par- veis/2/2135/tde-13042010-082514>. Acesso L13105.htm>. Acesso em: 04.09.2023.
ciais, as decisões interlocutórias e as tutelas de em: set. 2023; ALMEIDA, Ricardo Ramalho. 40. Idem.
urgência. Arbitragem comercial internacional e ordem 41. Disponível em: <http://www.planalto.gov.
9. NAGAO, Paulo Issamu. Do controle judicial pública. Rio de Janeiro: Renovar, 2005, p. 167. br/ccivil_03/constituicao/Emendas/Emc/emc45.
da sentença arbitral. Brasília: Gazeta Jurídica, Luís Pereira chama de “comodista e negativa a htm>. Acesso em: 09.09.2023.
2013, p. 55. tendência de aplicação da lex fori”. PEREIRA, 42. Arts. 105; 5º, § 3º e 59. Disponível em:
10. COELHO, Eleonora; CHIERIGHINI, Marina. Luís Cezar Ramos. Limitação e a não aplicabili- <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/cons-
Principais aspectos da arbitragem comercial dade do Direito. Rio de Janeiro: Renovar, 2001, tituicao/constituicaocompilado.htm>. Acesso
internacional sob a ótica brasileira. Disponível p. 117. em: 08.09.2023.
em: <https://www.cidp.pt/revistas/ridb/2013/ 26. BRASIL. Lei n. 9.307, de 23 de setembro 43. Neste sentido é o RE 80.004. Disponível
07/2013_07_06659_06759.pdf>. Acesso em: de 1996. Dispõe sobre a arbitragem. Diário Ofi- em: <http://redir.stf.jus.br/paginadorpub/pagi-
07.09.2023. cial da União, DF, 24 set. 1996. Disponível em: nador.jsp?docTP=AC&docID=175365>. Acesso
11. RECHSTEINER, Beat Walter apud MARCO, <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/ em: 06.09.2023.
Carla Fernanda de. Arbitragem internacional no L9307.htm>. Acesso em: 09.09.2023. 44. BRASIL. Emenda Regimental n. 18, de 17
Brasil. Regras de direito. São Paulo: RCS Editora, 27. Como bem observa Ricardo Ramalho, não de dezembro de 2014. Disponível em: <https://
2005, p. 81. propriamente arbitragem internacional, mas bdjur.stj.jus.br/jspui/bitstream/2011/83924/
12. LM. Disponível em: <https://cbar.org.br/ sentença arbitral estrangeira. ALMEIDA, Ricar- Emr_18_2014_pre.pdf>. Acesso em:
site/wp-content/uploads/2018/04/model-law- do Ramalho, op. cit., p. 7 e 8. 04.09.2023.
-portugues.pdf>. Acesso em: 02.09.2023. 28. BRASIL. Decreto Legislativo nº 52, de 25 de 45. SILVA, de Plácido e apud ABBUD, André de
13. MARCO, Carla Fernanda de. Arbitragem abril de 2002. Aprova o texto da convenção so- Albuquerque Cavalcanti. Homologação de sen-
internacional no Brasil. Regras de direito. São bre o reconhecimento e a execução de senten- tenças arbitrais estrangeiras. São Paulo: Atlas,
Paulo: RCS Editora, 2005, p. 81. ças arbitrais estrangeiras e Decreto Executivo 2008, p. 25.
14. CAIVANO, Roque J. Control judicial en el nº 4.311, de 23 de julho de 2002. Promulga a 46. CARMONA, Carlos Alberto, op. cit. pp. 443,
arbitraje. Buenos Aires: Abeledo-Perrot, 2008, p. convenção sobre o reconhecimento e a execu- 444/447.
51 (tradução nossa). ção de sentenças arbitrais estrangeiras. Dispo- 47. GASPAR, Álvares Renata, op. cit., p. 109.
15. MARTINS, Pedro A. Batista. Observações níveis em: <https://www2.camara.leg.br/legin/ 48. ABBUD, André de Albuquerque Cavalcanti,
sobre o texto do Acordo sobre Arbitragem Co- fed/decleg/2002/decretolegislativo-52-25-abril- op. cit., p. 24.
mercial Internacional do Mercosul. Disponível -2002-456724-exposicaodemotivos-142916-pl. 49. Artigo 319.
em: <http://batistamartins.com/observacoes- html> e <https://encurtador.com.br/alFKM>. 50. Vide nota 45.
-sobre-o-texto-do-acordo-sobre-arbitragem-co- Acesso em: 07.09.2023. 51. Cf. Sentença Estrangeira Contestada n.
mercial-internacional-do-mercosul1/>. Acesso 29. Sentença proferida na França por árbi- 4738 – STF. Disponível em: <https://portal.
em: 07.09.2023. tros brasileiros e regida pela lei brasileira é stf.jus.br/processos/detalhe.asp?inciden-
16. UNCITRAL (United Nations Commission on sentença estrangeira. Vide SEC 1305. Dispo- te=1554808>. Acesso em: 07.09.2023. Neste
International Trade Law). Status Convention on nível em: <https://ww2.stj.jus.br/processo/ sentido também são PINHO, Humberto Dalla
the Recognition and Enforcement of Foreign Ar- revista/documento/mediado/?componen- Bernardina de. Direito processual civil contem-
bitral Awards (New York, 1958). Disponível em: te=MON&sequencial=3581342&num_re- porâneo. Processo de conhecimento, cautelar,

68 REVISTA BONIJURIS I ANO 35 I EDIÇÃO 685 I DEZ23/JAN24


Sandra Regina Pires DOUTRINA JURÍDICA

execução e procedimentos especiais. São Pau- 59. WALD, Arnoldo. A homologação da ar- 69. GAILLARD, Emmanuel apud Caivano, Ro-
lo: Saraiva, 2012, p. 1088; PEREIRA, Marcela bitragem anulada pela justiça da sua sede. que, op. cit., p. 486.
Harumi Takahashi. Homologação de sentenças Revista Jurídica Consulex n. 381. Dispo- 70. GAMA, Lauro JR. Recusas fundadas no
estrangeiras: aspectos gerais e o problema da nível em: <https://www.lexml.gov.br/urn/ artigo V, (1), (e), da Convenção de Nova Ior-
falta de fundamentação no exterior. Rio de Ja- urn:lex:br:rede.virtual.bibliotecas:artigo. que: peculiaridades de sua aplicação no Bra-
neiro: Renovar, 2009, p. 100. revista:2012;1000975154>. Acesso em: sil. In: WALD, Arnoldo; LEMES, Selma Ferreira
52. Vide nota 43. 07.09.2023. (coords.). Arbitragem comercial internacional:
53. Vide artigos 46; 53, inc. III, “a” e “d”; 62; 60. VAN DEN BERG, Albert Jan. The New a Convenção de Nova Iorque e o direito bra-
513; 515, VIII; 960 e 961. York Arbitration Convention of 1958. Dispo- sileiro. São Paulo: Saraiva, 2011, p. 262, 265
54. Vide nota 17. nível em: <http://www.newyorkconvention. e 266.
55. Pelo caráter vinculado, vide GAMA, Lau- org/publications/nyac-i>, p. 287. Acesso em: 71. GAILLARD, Emmanuel apud Caivano, Ro-
ro JR. Recusas fundadas no artigo V, (1), (e), 08.09.2023. que, op. cit., p. 234. Tradução nossa.
da Convenção de Nova Iorque: peculiaridades 61. BRAGHETTA, Adriana; LEMES Selma Fer- 72. Não trataremos da discussão doutrinária
de sua aplicação no Brasil. In: WALD, Arnoldo, reira. O artigo VII da Convenção de Nova Ior- quanto ao conceito e alcance de ordem pública
LEMES, Selma Ferreira (coords.). Arbitragem que. In: WALD, Arnoldo, LEMES, Selma Ferreira internacional.
comercial internacional: a Convenção de (coords.). Arbitragem comercial internacional: 73. Vide nota 26 (art. 38, VI).
Nova Iorque e o direito brasileiro. São Paulo: a Convenção de Nova Iorque e o direito bra- 74. ABBUD, André de Albuquerque Cavalcanti,
Saraiva, 2011, p. 237; GASPAR, Renata Alves, sileiro. São Paulo: Saraiva, 2011, pp.315, 317, op. cit. p. 181.
op. cit., p. 181; CASELLA, op. cit., pp. 207/238. 321 e 322. 75. Vide nota 46.
Pelo caráter discricionário, vide FERNANDES, 62. No mesmo sentido, ver NORTHFLEET, Ellen 76. Cf. Carmona, op. cit., pp. 450, 451 e 474.
Micaela Barros. Laudos Arbitrais Estrangeiros. Gracie. Homologação de sentença estrangeira 77. GASPAR, Renata Álvares, op. cit., p. 176.
Reconhecimento e Execução. Teoria e prática. contestada 5.782 – legal opinion. Revista de 78. Idem, p. 179, 180, 182 e 184.
Curitiba: Juruá, 2004, p. 185 e ICCA (Interna- Arbitragem e Mediação. São Paulo: Revista dos 79. ABBUD, André de Albuquerque Cavalcanti,
tional Council for Commercial Arbitration). Tribunais, ano 2012, v. 35, p. 279. op. cit., p. 186.
Guia do ICCA sobre a interpretação da Con- 63. VAN DEN BERG, Albert Jan apud SILVEIRA, 80. CPC, arts. 314, 923, 297 e 301.
venção de Nova Iorque de 1958, com a as- Gustavo Scheffer da. Os efeitos da sentença 81. DOURADO, Sabrina. Discricionariedade ju-
sistência da Corte Permanente de Arbitragem arbitral anulada em seu país de origem em dicial e a efetivação dos direitos fundamentais.
Palácio da Paz, Haia. Disponível em: <https:// direito francês. Rev. Brasileira de Arbitragem. Disponível em: <http://sabrinadourado1302.
cdn.arbitration-icca.org/s3fs-public/document/ Porto Alegre: Síntese, abr/jun. 2010, vol. n. 26, jusbrasil.com.br/artigos/121935839/discricio-
media_document/portuguese_guide_compo- p. 37. nariedade-judicial-e-a-efetivacao-dos-direitos-
site_for_website_final_revised_may_2012. 64. CASELLA, Paulo Borba. Homologação -fundamentais>. Acesso em: 07.09.2023.
pdf>. Acesso em: 08.09.2023, p. 99. RIVERA, de sentença arbitral estrangeira anulada. IN: 82. CNI, VII, (1).
op. cit., p. 701; CAIVANO, Roque, op. cit., pp. WALD, Arnold (coord.). Revista de Arbitragem e 83. ABBUD, André de Albuquerque Cavalcanti,
233, 238, 329, 417 e 418. Mediação. São Paulo: Revista dos Tribunais, v. op. cit., p. 187.
56. GREBLER, Eduardo. A recusa de reconheci- 9, 2006, p. 207. 84. CASELLA, Paulo Borba. Homologação de
mento à sentença arbitral estrangeira com base 65. GAMA JR., Lauro apud NORTHFLEET, Ellen sentença arbitral estrangeira..., p. 207.
no artigo V, (1) alíneas “a” e “b” da Conven- Gracie. Homologação de sentença estrangeira 85. Vide Nota 46, art. 216-G.
ção de Nova Iorque. In: WALD, Arnoldo, LEMES, contestada 5.782 – legal opinion. Revista de 86. Sobre poder geral de cautela vide RAN-
Selma Ferreira (coords.). Arbitragem comercial Arbitragem e Mediação. São Paulo: Revista dos GEL, Tauã Lima Verdan. Comentários ao poder
internacional: a Convenção de Nova Iorque e Tribunais, ano 2012, vol. 35, p. 279. geral de cautela no processo civil: anotações
o direito brasileiro. São Paulo: Saraiva, 2011, p. 66. GASPAR, Renata Alvares, op. cit., p. 176. introdutórias. Disponível em: <http://www.am-
191 e 194. 67. WALD, Arnoldo. Homologação de sentença bito-juridico.com.br/site/?n_link=revista_ar-
57. Cf. Roque Caivano, op. cit. p. 329. Mais arbitral estrangeira anulada pela justiça local tigos_leitura&artigo_id=13152>. Acesso em:
adiante (p. 416), o autor defende que a norma no país da sede da arbitragem. In: LEMES, Sel- 10.09. 2023.
só é imperativa no sentido de impedir ao juiz ma Ferreira e BALBINO, Inez (coord.). Arbitra- 87. FONSECA, Rodrigo Garcia da. O Artigo VI
da execução denegar o reconhecimento por gem: Temas Contemporâneos. São Paulo: Quar- da Convenção de Nova Iorque. In: WALD, Arnol-
causas diferentes das estabelecidas na CNI, tier Latin, 2012. pp. 57 e 58. Para o autor, a CNI do; LEMES, Selma Ferreira (coords.). Arbitragem
sem obrigá-lo ao rechaço, que é discricional. incorpora a corrente pluralista, uma vez que comercial internacional: a Convenção de Nova
Tradução nossa. confere maior importância aos requisitos legais Iorque e o direito brasileiro. São Paulo: Saraiva,
58. GAILLARD, Emmanuel. Teoría jurídica del do país onde se buscará reconhecimento e exe- 2011, p. 300.
arbitraje internacional. Traducción: María Esme- cução, sem impossibilitar, todavia, o controle da 88. CARMONA, Carlos Alberto, op. cit., p. 473.
ralda Moreno R. A. Asunción: La Ley Paraguaya, sentença pelo país da sede, p. 71.
2010, p. 31-69. 68. Cf. Roque Caivano, op. cit. p. 237.

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REVISTA BONIJURIS I ANO 35 I EDIÇÃO 685 I DEZ23/JAN24 69


CIRCULAÇÃO DE SENTENÇA ARBITRAL ESTRANGEIRA

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bitral awards signed at geneva on the twenty-sixth day of september,

70 REVISTA BONIJURIS I ANO 35 I EDIÇÃO 685 I DEZ23/JAN24


Sandra Regina Pires DOUTRINA JURÍDICA

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-content/uploads/2018/04/model-law-portugues.pdf>. Acesso em: status2>. Acesso em: 08.09.2023.
02.09.2023.

FICHA TÉCNICA // Revista Bonijuris


Título original: Efeitos extraterritoriais da sentença arbitral não obrigatória, anulada ou suspensa no
país de origem. Title: Extraterritorial effects of non-binding, annulled or suspended arbitration awards
in the country of origin. Autora: Sandra Regina Pires. Doutora em Ciências Jurídicas e Sociais com
diploma reconhecido no Brasil (processo nº 00163.3.56277/10-2023). Especialista em Direito Processual
Civil com Formação para o Magistério Superior. Graduada em Direito pela Universidade Presbiteriana
Mackenzie. Professora no Curso de Graduação em Direito da Universidade Metodista de Piracicaba
(unimep/”campus” Centro) e integrante do Escritório Experimental da mesma instituição. Resumo: A
complexa integração das economias e das sociedades conectou o mundo, atenuando a relevância das
fronteiras e incrementando o aspecto plurilocalizado ou multiconectado das relações internacionais de
natureza econômica, carecendo viabilizar, na modernidade, o mais antigo dos métodos de pacificação
de conflito, a arbitragens. Essa realidade vem induzindo os Estados a reconhecer a necessidade de re-
pensar o conceito de soberania e de colocar em prática os resultados desta reflexão. Uma força-tarefa se
faz necessária exigindo mais que uma mudança de postura por parte dos Estados, no sentido de que po-
der judiciário e arbitragem não são excludentes, não têm objetivos antagônicos e não devem duelar pelo
poder de ditar o direito. Palavras-chave: arbitragem comercial internacional; sentença arbitral
estrangeira não obrigatória; anulada ou suspensa; exequatur. Abstract: The complex integration
of economies and societies has connected the world, a�enuating the relevance of borders and increasing
the pluri-localized or multi-connected aspect of international relations of an economic nature, making
it necessary, in modernity, to make the oldest method of conflict pacification, arbitration, viable. This
reality has been inducing States to recognize the need to rethink the concept of sovereignty and put the
results of this reflection into practice. A task force is necessary, demanding more than a change of stance
on the part of the States, in the sense that judicial power and arbitration are not exclusive, do not have
antagonistic objectives and should not duel for the power to dictate the law. Keywords: international
commercial arbitration; non-mandatory foreign arbitral award; void or suspended; exequatur.
Data de recebimento: 14.09.2023. Data de aprovação: 10.10.2023. Fonte: Revista Bonijuris, vol. 35, n. 6 –
#685 – dez23/jan24, págs 46-71. Editor: Luiz Fernando de Queiroz, Ed. Bonijuris, Curitiba, pr, Brasil, issn
1809-3256 (juridico@bonijuris.com.br).

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REVISTA BONIJURIS I ANO 35 I EDIÇÃO 685 I DEZ23/JAN24 71


DOUTRINA JURÍDICA

Adelmo José Pereira ADVOGADO, ESPECIALISTA EM DIREITO PROCESSUAL CIVIL PELA


UNIVERSIDADE CIDADE DE SÃO PAULO

ACÓRDÃO DO TJ QUE JULGA


AGRAVO INTERNO É IMPUGNÁVEL?
NEGAR ESSA POSSIBILIDADE IMPEDE A PARTE DE ACESSAR
TRIBUNAL SUPERIOR, SUPRIME FUNÇÃO DO ÓRGÃO COLEGIADO E
RESULTA NA PETRIFICAÇÃO DA INTERPRETAÇÃO JURÍDICA

O
s precedentes judiciais vinculantes es- O problema surge quando se nega provimen-
tão entre as maiores inovações estabe- to a esse agravo. Isso porque há entendimento
lecidas pelo vigente Código de Processo jurisprudencial no sentido de que o acórdão
Civil (cpc), diploma promulgado pela Lei que o julga não seria passível de qualquer nova
13.105, de 16 de março de 2015, especial- impugnação, algo que, em prevalecendo, impe-
mente no que se refere à sua observância obriga- de a parte de acessar os tribunais superiores
tória pelos demais órgãos jurisdicionais, confor- para o fim de arguir a superação do precedente
me dispõe o art. 927 desse estatuto processual. vinculante e, também, suprime uma parcela da
O referido dispositivo elenca os acórdãos competência constitucional desses órgãos ju-
proferidos pelo Supremo Tribunal Federal (stf) risdicionais relacionada com o poder de rever
e Superior Tribunal de Justiça (stj) no julga- as suas próprias decisões.
mento de recursos repetitivos como espécies Por conta disso, o presente trabalho tem
desses precedentes. Eles servem de funda- como objetivo analisar se o acórdão proferido
mento, inclusive, para que os tribunais locais pelo tribunal local no julgamento do agravo in-
neguem seguimento ao recurso extraordinário terno apresentado com fundamento na supera-
(re), previsto no art. 102, iii, da Constituição ção de um precedente vinculante é passível de
Federal promulgada em 5 de outubro de 1988 algum tipo de impugnação.
(cf/88), e ao recurso especial (resp), previsto no Dessa forma, inicialmente, será feita a expo-
art. 105, iii, da cf/88, ambos chamados ao longo sição, de forma breve, do microssistema de for-
deste trabalho de recursos excepcionais. A de- mação dos precedentes vinculantes previsto
cisão proferida nesses termos autoriza a inter- no cpc; a seguir, apresentar-se-ão os recursos
posição de um agravo interno (art. 1.021, do cpc) excepcionais e suas características; por fim,
para, com fundamento na superação do enten- será analisado se o acórdão que julga o agravo
dimento exarado no precedente, buscar a sua interno apresentado com fundamento na supe-
reforma e, assim, permitir a remessa do recurso ração de um precedente vinculante é passível
para o tribunal superior competente. de impugnação e, em caso positivo, quais são

72 REVISTA BONIJURIS I ANO 35 I EDIÇÃO 685 I DEZ23/JAN24


Adelmo José Pereira DOUTRINA JURÍDICA

Os precedentes judiciais vinculantes estão entre as maiores inovações


estabelecidas pelo vigente CPC, especialmente no que se refere à sua
observância obrigatória pelos demais órgãos jurisdicionais

os meios processuais que podem ser utilizados dade na população que não compreende como
para o fim de levar essa matéria ao conheci- um mesmo assunto pode receber diferentes so-
mento dos tribunais superiores. luções pelos “órgãos da justiça”.
Assim, a promulgação do atual estatuto pro-
1. PRECEDENTES VINCULANTES cessual consolidou uma tendência de valorizar
1.1 Esclarecimentos preliminares a jurisprudência dos tribunais4 para o fim de
O direito brasileiro tem suas origens tradicio- conferir natureza vinculante a um determina-
nalmente fincadas no sistema romano-germâ- do grupo de “precedentes5”, ou seja, torná-los
nico conhecido como civil law1, no qual a lei é a de observância obrigatória6 para todos os ór-
fonte formal das normas jurídicas. Ele se con- gãos judicantes. Houve, então, na elaboração da
trapõe ao sistema do common law, amplamente atual legislação processual7, no mínimo, uma
difundido nos territórios anglo-saxões, em que influência do sistema do common law, algo que
os costumes e as decisões proferidas acerca de restou por elevar a jurisprudência à categoria
um determinado assunto são tão (e, às vezes, de fonte de direito8.
até mais) importantes quanto as disposições Feita essa contextualização, na próxima sub-
contidas nos diplomas legais. seção será apresentado, de forma breve, o mi-
A despeito desse fundamento histórico, a crossistema de precedentes vinculantes, esta-
partir da metade da década de 1990, passou-se a belecido pelo cpc.
promover uma série de alterações na legislação
processual da época, qual seja, o cpc/19732, com 1.2 O microssistema de precedentes
o intuito de valorizar a jurisprudência3. Isso vinculantes
tudo tinha a finalidade de racionalizar o núme- A partir de uma série de dispositivos espalha-
ro de processos analisados pelos tribunais bra- dos ao longo do seu texto, o novo diploma pro-
sileiros, bem como promover a diminuição da cessual criou um microssistema de formação
quantidade de decisões divergentes e contra- de precedentes vinculantes9 cujas linhas cen-
ditórias a respeito de uma mesma questão de trais se encontram no art. 927 do cpc.
fato ou de direito, algo que ofende a isonomia, De início, cumpre observar que, independen-
a segurança jurídica, e sempre causou perplexi- temente do sentido utilizado no cpc, o termo

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REVISTA BONIJURIS I ANO 35 I EDIÇÃO 685 I DEZ23/JAN24 73


ACÓRDÃO DO TJ QUE JULGA AGRAVO INTERNO É IMPUGNÁVEL?

O art. 927 do Código de Processo Civil elenca um rol de pronunciamentos


judiciais a serem observados pelos demais órgãos jurisdicionais durante
o julgamento de qualquer lide, cujo caráter é vinculante

“precedente” traduz a noção de uma decisão aos seus preceitos. Além disso, para deixar de
judicial proferida em um caso concreto que seguir eventuais precedentes, o órgão julgador
possui um elemento normativo capaz de servir também deve demonstrar, na sua fundamenta-
como diretriz para a futura resolução de casos ção, a existência de distinção (distinguishing)
semelhantes10-11. Esse tipo de precedente, então, no caso em julgamento ou a superação daquele
é formado por duas partes: a primeira consubs- entendimento anteriormente firmado (over-
tancia-se nos fatos que circundam a controvér- ruling). Tudo isso sob pena de, ante a sua não
sia levada a juízo e a segunda, na tese jurídica observância, considerar-se a decisão não fun-
do provimento decisório, chamada de ratio de- damentada18 e omissa, conforme art. 1.022, pará-
cidendi12. grafo único, ii, do cpc19.
O art. 927 do cpc, então, elenca um rol de No âmbito dos tribunais, a determinação
pronunciamentos judiciais a serem observados não é diferente, tendo em vista que, conforme
pelos demais órgãos jurisdicionais durante o alíneas ‘a’, ‘b’ e ‘c’ do inc. iv do art. 932 do cpc, in-
julgamento de qualquer lide. Assim, ele confe- cumbe ao relator negar provimento monocrati-
re caráter vinculante13 i) às decisões proferidas camente ao recurso cujas razões contrariem i)
pelo stf no âmbito do controle concentrado de súmula do stf, do stj ou do próprio tribunal lo-
constitucionalidade14 (art. 102, i, “a”, da cf/88); ii) cal; ii) acórdão proferido pelo stf ou pelo stj em
aos enunciados de súmulas vinculantes (art. julgamento de recursos repetitivos; ou iii) en-
103-A15, da cf/88); iii) aos acórdãos proferidos tendimento firmado em sede de irdr ou iac. Ele
em incidentes de assunção de competência também pode dar provimento à irresignação
(iac) e em julgamento de casos repetitivos16; iv) que impugne uma decisão proferida em sentido
aos enunciados de súmulas de jurisprudência contrário a algum desses mesmos precedentes
dominante do stf e do stj, nas suas respecti- (alíneas ‘a’ a ‘c’ do inc. v do art. 932, do cpc).
vas áreas de competência; e v) à orientação do Todas essas determinações legais visam
plenário ou órgão especial aos quais juízes e formar um microssistema no qual os órgãos
órgãos fracionários dos tribunais estiverem su- julgadores respeitem os precedentes existen-
bordinados. tes sobre uma determinada matéria litigiosa,
Baseado nesse microssistema, ao julgar a de forma a prestigiar a isonomia e a seguran-
lide ou apreciar a admissibilidade ou o mérito ça jurídica, bem como conferir estabilidade e
de um recurso, primeiro, o órgão julgador deve previsibilidade às decisões judiciais. O manejo
verificar a existência de precedentes vinculan- desses precedentes, por sua vez, deve ser fei-
tes sobre o tema controverso para, depois, se o to por meio das técnicas processuais a seguir
caso, aplicar a tese jurídica ao caso concreto ou abordadas.
promover o seu afastamento por distinção ou
superação17. 1.3 Aplicação, distinção e superação do
Como exemplo de disposições que compõem precedente vinculante
esse sistema de precedentes vinculantes, po- Os precedentes vinculantes elencados no art.
dem-se citar os incs. v e vi do § 1º do art. 489 do 927 do cpc servem de parâmetro para que ou-
cpc, cujas disposições estabelecem que o ma- tros órgãos julgadores observem a tese jurídica
gistrado, ao julgar a causa, em havendo prece- fixada neles com o fim de solucionar questões
dentes, deve proceder à identificação dos seus controversas semelhantes ou, caso não o sejam,
fundamentos determinantes e demonstrar promovam o seu afastamento, mediante a de-
como a matéria sob julgamento se submete monstração da sua distinção ou superação.

74 REVISTA BONIJURIS I ANO 35 I EDIÇÃO 685 I DEZ23/JAN24


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ACÓRDÃO DO TJ QUE JULGA AGRAVO INTERNO É IMPUGNÁVEL?

Mesmo sendo uma situação de distinção, o magistrado pode entender que


a melhor solução para aquele caso concreto é a aplicação do precedente, de
maneira que ele poderá fazê-lo mediante adequada fundamentação

Com efeito, a existência de um precedente relacionada com o desaparecimento das condi-


vinculante implica a obrigatoriedade de que ções fáticas e jurídicas que nortearam a fixação
todos os órgãos judiciais, inclusive aquele que da tese pelo tribunal competente, em virtude
o pronunciou20, observem os seus preceitos do que ela não deve mais ser aplicada para so-
durante o julgamento de determinada questão lucionar conflitos de interesses.
litigiosa. Por conta disso, primeiro o magistra- Em razão disso, se o juiz verificar que o prece-
do deve verificar se a matéria sob seu exame é dente vinculante está superado (art. 927, § 4º, do
assemelhada àquela que originou o precedente cpc), ele não o aplicará para solucionar a contro-
cuja aplicação; em caso positivo, será de rigor. vérsia25. A parte vencida, por sua vez, poderá se
Trata-se, então, de um método de compara- insurgir contra essa decisão para o fim de provo-
ção21: inicialmente, o órgão julgador avalia a car o tribunal com o objetivo de que ele analise
existência de semelhanças entre o caso concre- se o seu precedente realmente está superado26.
to e aquele que deu origem ao precedente. Se Em caso positivo, o órgão julgador ad quem alte-
houver proximidade entre eles, passa-se a uma rará27 ou cancelará o precedente; em caso nega-
segunda etapa, na qual ele analisa a tese jurídi- tivo, reformará a decisão recorrida mediante a
ca do referido precedente com o fim de verificar sua aplicação à questão controversa.
a viabilidade da sua aplicação à questão litigio- Dessa forma, a tese fixada no precedente vin-
sa que lhe foi submetida22. culante deve ser aplicada a todos os casos con-
Ainda, para a higidez desse sistema de pre- cretos que lhe sejam assemelhados. A sua não
cedentes, é fundamental a disponibilização de observância ou aplicação indevida autoriza o
meios processuais que permitam a demonstra- ajuizamento de uma reclamação diretamen-
ção da sua não aplicação, seja em razão da “dis- te no tribunal competente, algo que será mais
tinção” do caso concreto em relação à tese jurí- bem delineado na próxima subseção.
dica anteriormente fixada, seja porque ocorreu
a “superação” do precedente vinculante. 1.4 Reclamação para garantir a observância
Assim, se, ao proceder à comparação entre do precedente vinculante
a situação que deu origem ao precedente e o A reclamação prevista nos arts. 988 e ss. do cpc
caso sob julgamento, o órgão julgador verificar consubstancia-se em uma ação28 autônoma de
que eles não possuem semelhança, ele deve, ao impugnação de ato judicial29, que tem como fi-
fundamentar a sua decisão, fazer a “distinção”23 nalidades precípuas preservar a competência
entre os casos e, por conseguinte, não o utilizar do tribunal, garantir a autoridade das suas de-
para solucionar a questão controversa. cisões e a observância da tese firmada em um
Porém, mesmo sendo uma situação de distin- precedente vinculante.
ção, o magistrado pode entender que a melhor Assim, a reclamação é uma demanda típica,
solução para aquele caso concreto é a aplicação de fundamentação vinculada30, que pode ser
do precedente24, de maneira que ele poderá fa- proposta perante qualquer tribunal do país
zê-lo mediante a adequada fundamentação. A (art. 988, § 1º, do cpc) nas hipóteses previstas
parte, naturalmente, poderá manejar o meio nos incs. i a iv, c/c § 5º, todos do art. 988, do cpc.
impugnativo cabível para demonstrar o desa- Entre elas, destacam-se as situações nas quais
certo dessa decisão. os precedentes vinculantes são aplicados inde-
Por sua vez, a “superação do entendimento” vidamente ou não são aplicados quando deve-
se consubstancia em outra hipótese de não riam ser, conforme § 4º do mesmo dispositivo
aplicação dos precedentes vinculantes. Ela está legal acima citado.

76 REVISTA BONIJURIS I ANO 35 I EDIÇÃO 685 I DEZ23/JAN24


Adelmo José Pereira DOUTRINA JURÍDICA

É de se observar que a reclamação deve ser


proposta antes do trânsito em julgado da deci-
são reclamada (art. 988, § 5º, i, do cpc), sob pena
de ser indeferida liminarmente, disposição que O Juiz e a
Execução Penal
busca evitar a sua utilização como um sucedâ-
neo da ação rescisória31.
Ainda, a Lei 13.256, de 4 de fevereiro de 2016, ˅˘Є˘˫͇˘˦˗˘˨ˠ˔ˠ˔˚˜˦˧˥˔˗˔
incluiu o inc. ii ao § 5º do art. 988 do cpc, no qual
Raphaella Benetti da Cunha Rios
se previu que, se o objetivo da reclamação for
garantir a observância de acórdão proferido
em recurso extraordinário com repercussão
geral reconhecida ou em julgamento de recur-
sos excepcionais repetitivos, ela será incabível
enquanto não se esgotarem os meios impug-
nativos acaso ainda existentes nas instâncias
ordinárias32 - 33 - 34.
Ao julgar procedente o pedido formulado na
reclamação, o tribunal determinará a cassação
da decisão impugnada ou adotará a medida
mais adequada à solução da controvérsia (art.
992 do cpc). Além disso, a decisão proferida de-
verá ser cumprida de forma imediata, sendo
o acórdão lavrado posteriormente (art. 993 do
cpc), o que demonstra, por si só, a importância A sociedade reclama maior
desse meio impugnativo para o sistema de pre- rigor na aplicação da pena, em
cedentes vinculantes. contraste às condições insalubres,
Apresentadas as características dessa recla- degradantes e desumanas
mação e do microssistema de precedentes, na encontradas nas carceragens
próxima seção serão abordados os recursos ex- do país. A autora, após anos de
cepcionais e a forma de impugnação da decisão pesquisa e trabalho como juíza,
do tribunal local que lhes nega seguimento ou traça caminhos para entender
não os admite.
essa realidade, propondo novas
alternativas para a atuação do
2. RECURSOS EXCEPCIONAIS
magistrado.
2.1 Cabimento e julgamento pelo rito dos
recursos repetitivos
Recurso é o instrumento processual coloca- Compre através do QR Code
do à disposição da parte para provocar o reexa-
me, no mesmo processo, de uma determinada
decisão judicial com o objetivo de promover a
sua invalidação, reforma, esclarecimento ou
integração35 e, em razão disso, sanar um deter-
minado vício. No que se refere aos recursos ex-
cepcionais, o legislador estabeleceu, desde logo, 41 3323 4020
quais são os – únicos – vícios passíveis de serem 0800 645 4020
impugnados por meio deles, algo suficiente livrariabonijuris.com.br
para qualificá-los como recursos de fundamen-
tação vinculada36.

REVISTA BONIJURIS I ANO 35 I EDIÇÃO 685 I DEZ23/JAN24 77


ACÓRDÃO DO TJ QUE JULGA AGRAVO INTERNO É IMPUGNÁVEL?

O direito de recorrer não é irrestrito, sendo certo que o recurso apresentado


deve, antes de ter o seu mérito apreciado pelo órgão jurisdicional
competente, ser submetido ao juízo de admissibilidade

Assim, o inc. iii do art. 102, da cf/88, confere agravo interno38 previsto no art. 1.021, do mes-
competência para o stf julgar em re as causas mo Código.
decididas em única ou última estância cuja de- Por conta de tudo isso, esse rito se caracteriza
cisão i) contrarie algum dispositivo da cf/88; ii) como uma eficiente maneira de se racionalizar
declare a inconstitucionalidade de tratado ou o sistema processual e a atividade jurisdicional,
lei federal; iii) julgue válida lei ou ato de gover- em especial a dos tribunais superiores, pois ele
no local contestado em face da cf/88; e iv) julgue promove a solução centralizada de uma determi-
válida lei local contestada em face de lei federal. nada questão de direito e a aplicação de uma in-
No tocante ao resp, o inc. iii do art. 105 da terpretação jurídica devidamente estabilizada39.
cf/88 estabelece que compete ao stj julgar as
causas decididas em única ou última estância 2.2 Juízo de admissibilidade
pelos tribunais cuja decisão i) contrarie tratado O direito de recorrer não é irrestrito, sendo
ou lei federal ou lhes negue vigência; ii) julgue certo que o recurso apresentado deve, antes de
válido ato de governo local contestado em face ter o seu mérito apreciado pelo órgão jurisdi-
de lei federal; e iii) dê a lei federal interpretação cional competente, ser submetido ao juízo de
divergente da que lhe tenha atribuído outro tri- admissibilidade, momento em que se analisa se
bunal. o recorrente tinha o direito de apresentar a ir-
Ainda, a constatação da existência de múl- resignação e se ele, além disso, cumpriu com os
tiplos recursos excepcionais cujo mérito verse requisitos estabelecidos em lei para tanto.
sobre a mesma questão de direito implica o Ao proceder à análise da admissibilidade, o
processamento do re ou do resp pelo rito dos órgão julgador analisa as preliminares recur-
recursos repetitivos previsto nos arts. 1.036 a sais40, ou seja, formalidades previstas em lei
1.041 do cpc. relacionadas ao direito de recorrer41 (pressu-
Para que isso ocorra, os tribunais de justiça postos intrínsecos) e com o exercício do direito
(tjs) ou regionais federais (trfs) devem sele- de recorrer42 (pressupostos extrínsecos), e que
cionar, pelo menos, dois desses recursos – cha- devem ser julgadas antes do objeto da peça de
mados de “representativos da controvérsia” – e resistência. Se esse juízo de admissibilidade for
enviá-los aos tribunais superiores. Ao recebê- positivo, o recurso é admitido (ou “conhecido”) e
-los, entre outras providências, o ministro-rela- se passa à análise do seu mérito. Por outro lado,
tor proferirá decisão de “afetação” na qual ele se ele for negativo, o recurso será inadmitido
identificará qual é a questão jurídica que será (ou “não conhecido”), de maneira que o julga-
julgada e determinará a suspensão de todos os mento do seu mérito estará prejudicado.
recursos e causas em andamento que versem Em relação aos recursos excepcionais, ao
sobre a mesma questão de direito controversa. contrário do que ocorre nas demais espécies
Ao julgar os recursos afetados, a tese jurídi- recursais43, o juízo de admissibilidade é feito
ca fixada terá caráter vinculante (art. 927, iii, do em dois momentos distintos44; primeiro, ele é
cpc) e a sua não observância, após o devido es- realizado provisoriamente no tribunal de ori-
gotamento das instâncias ordinárias37, autoriza gem pelo seu presidente ou vice-presidente,
o ajuizamento de uma reclamação (art. 988, § 5º, conforme o disposto no regimento interno, e,
ii, do cpc). Além disso, ela será utilizada como em sendo admitido, os autos do processo serão
parâmetro para negar seguimento a recursos encaminhados ao tribunal superior competen-
excepcionais, na forma do art. 1.030, i, ‘a’ e ‘b’, te, local onde o juízo de admissibilidade será in-
do cpc, decisão passível de ser impugnada pelo tegralmente refeito pelo ministro-relator45.

78 REVISTA BONIJURIS I ANO 35 I EDIÇÃO 685 I DEZ23/JAN24


Adelmo José Pereira DOUTRINA JURÍDICA

Um pressuposto de admissibilidade exclusivo dos recursos excepcionais diz respeito ao


“prequestionamento”, sem o qual a irresignação interposta não poderá ser admitida —
está relacionado às competências do STF e do STJ para julgarem “causas decididas”

É de se observar que, de acordo com o 1.030, necessidade de demonstração pelo recorrente


v, ‘a’ a ‘c’, do cpc, esses recursos somente serão da repercussão geral da questão constitucional
encaminhados para o tribunal competente se recorrida. Prevista no art. 102, § 3º52, da cf/88, e
i) o recurso ainda não tiver sido submetido ao no art. 1.035, §§ 1º ao 11, do cpc, essa repercussão
regime de repercussão geral ou de julgamento geral deve ser demonstrada em sede de preli-
de recursos repetitivos; ii) o recurso tiver sido minar recursal sob pena de não conhecimento
selecionado como representativo da controvér- da irresignação. A sua análise, entretanto, não
sia; ou iii) o tribunal local tenha refutado o juízo pode ser feita pelo tribunal a quo, mas apenas
de retratação. pelo plenário do stf, que, ao examiná-la, profe-
Um pressuposto de admissibilidade exclu- rirá uma decisão irrecorrível tomada pelo voto
sivo dos recursos excepcionais diz respeito ao de 2/3 (dois terços) de todos os membros desse
“prequestionamento”, sem o qual a irresignação tribunal, ou seja, oito dos 11 ministros.
interposta não poderá ser admitida46. Ele está O art. 1.035, § 1º, do cpc estabelece que terão
relacionado com a competência constitucional repercussão geral as questões relevantes do
conferida ao stf e ao stj para julgarem as “cau- ponto de vista econômico, político, social ou
sas decididas”47 em única ou última instância jurídico que ultrapassem o mero interesse par-
(incs. iii do art. 102; e iii do art. 105, da cf/88). Por ticular das partes53, algo que deve ser aferido
conta disso, a questão relativa ao mérito dos in concreto, a partir da análise dos elementos
recursos excepcionais (afronta aos dispositivos constantes dos autos do processo54.
da cf/88 ou à lei federal) deve ter sido anterior- O entendimento firmado nesse regime de
mente apreciada e decidida pelo tribunal de repercussão geral, que reconheça a sua existên-
origem no corpo do acórdão recorrido – essa é a cia ou inexistência55, servirá de parâmetro para
“causa decidida”, ou seja, esses recursos não po- que o tribunal local negue seguimento ou inad-
dem versar sobre matéria inédita48, vale dizer, mita futuros recursos excepcionais (art. 1.030, i,
que ainda não foi objeto de decisão pelo tribu- ‘a’, do cpc).
nal a quo49 - 50. Dessa forma, se o juízo de admissibilidade
Além do prequestionamento, um pressu- for positivo tanto no tribunal a quo quanto no
posto de admissibilidade específico do re51 é a ad quem, os recursos excepcionais apresenta-

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REVISTA BONIJURIS I ANO 35 I EDIÇÃO 685 I DEZ23/JAN24 79


ACÓRDÃO DO TJ QUE JULGA AGRAVO INTERNO É IMPUGNÁVEL?

O estatuto processual confere ao órgão jurisdicional determinado pelo regimento


interno do tribunal local competência para analisar o mérito de cada um deles e,
se for o caso, negar-lhes provimento, na forma do art. 1.030, I, ‘a’ e ‘b’, do CPC

dos estarão prontos para terem o seu mérito Em qualquer uma dessas situações, confor-
devidamente analisado, do contrário, ou seja, me o disposto no § 2º do art. 1.030 do cpc, a deci-
inadmitidos qualquer um deles, a parte tem à são proferida poderá ser impugnada mediante
sua disposição a possibilidade de impugnar a interposição de um agravo interno (art. 1.021
essa decisão mediante a apresentação de um do cpc), cuja competência para julgamento per-
novo recurso nos autos, conforme se verá na tence ao órgão colegiado designado pelo regi-
próxima subseção. mento interno do próprio tribunal local.
Assim, nesse recurso, o agravante poderá te-
2.3 Decisões de negativa de seguimento e de cer considerações acerca da superação do pre-
inadmissão: recursos cabíveis cedente vinculante e, por conseguinte, da im-
Antes de realizar o juízo de admissibilidade dos possibilidade de ele ser aplicado naquela lide.
recursos excepcionais, o estatuto processual Esse agravo interno serve, então, como meio
confere ao órgão jurisdicional determinado para a parte demonstrar a incorreção a respei-
pelo regimento interno do tribunal local com- to da forma pela qual o precedente foi aplicado
petência para analisar o mérito de cada um de- para a solução da controvérsia59 e o seu provi-
les56 e, se for o caso, negar-lhes provimento57, na mento tem como consequência a reforma da
forma do art. 1.030, i, ‘a’ e ‘b’, do cpc. decisão recorrida, a admissão do recurso excep-
Inicialmente, cumpre esclarecer que o es- cional e a remessa dos autos ao tribunal supe-
tatuto processual usou em várias passagens a rior competente.
expressão “negar seguimento” para se referir ao A questão relevante surge na hipótese de
poder conferido ao mencionado órgão jurisdi- esse agravo interno não ser provido, uma vez
cional de obstar o trânsito dos recursos excep- que o cpc não previu qualquer recurso passível
cionais mediante um juízo de comparação entre de ser interposto contra o acórdão proferido
o conteúdo deles ou do acórdão recorrido com pelo tribunal local, algo que será mais bem ana-
o do precedente vinculante aplicado para solu- lisado na seção 4, infra.
cionar a lide. A despeito da dicção legal, é certo Por outro lado, se não for caso de negativa
que se trata de uma competência para analisar de seguimento, os recursos excepcionais serão
o mérito recursal dessas irresignações e, se ele submetidos ao juízo de admissibilidade recur-
for colidente com o entendimento firmado no sal (art. 1.030, v, do cpc) e, se ele for positivo, os
precedente, negar-lhes provimento58. autos serão encaminhados para o tribunal su-
Com efeito, se o acórdão impugnado estiver perior competente.
em consonância com o entendimento firmado Agora, se o órgão julgador local proferir uma
pelo stf em repercussão geral ou o re discuta, decisão de inadmissão, será cabível o agravo em
no seu bojo, uma matéria a respeito da qual re (are) e/ou o agravo em resp (aresp), confor-
esse mesmo tribunal já tenha reconhecido a me § 1º do art. 1.030 – c/c o caput do art. 1.042,
sua inexistência, o órgão julgador designado ambos do cpc. O recurso interposto deve ser
pode, desde logo, negar seguimento ao recurso endereçado ao órgão do tribunal de origem en-
apresentado. carregado, nos termos do regimento interno,
Da mesma forma, ele também poderá negar pelo seu processamento e posterior remessa ao
seguimento a recursos excepcionais interpos- tribunal superior.
tos contra acórdão que esteja em conformidade O tribunal a quo não tem competência para
com o entendimento exarado no julgamento de fazer o juízo de admissibilidade e, muito me-
recursos repetitivos (art. 927, iii, do cpc). nos, o de mérito desse agravo; ele deve se limi-

80 REVISTA BONIJURIS I ANO 35 I EDIÇÃO 685 I DEZ23/JAN24


ACÓRDÃO DO TJ QUE JULGA AGRAVO INTERNO É IMPUGNÁVEL?

A decisão do tribunal de origem que não admite qualquer um dos recursos excepcionais
com fundamento no entendimento rmado em regime de repercussão geral ou em
julgamento de recursos repetitivos deve ser atacada por meio de agravo interno

tar, apenas, a determinar o seu processamento sentido de que não seria cabível a interposição
e encaminhamento60 para o tribunal superior, de recurso à instância superior contra a deci-
que será inteiramente responsável pela análise são proferida pelo colegiado do tribunal local
da sua admissibilidade e, caso ela seja positiva, no julgamento de um agravo interno. Assim,
pelo julgamento61 do seu mérito em conjunto, ao analisar a questão de ordem no agravo de
se o caso, com o recurso excepcional inadmiti- instrumento 1.154.599-SP, a corte especial do
do na origem. stj entendeu que não cabia a interposição do
Feita a apresentação das características e agravo previsto no art. 544 do cpc/73 contra a
particularidades inerentes aos recursos excep- decisão do tribunal de segundo grau que ne-
cionais, na próxima seção será analisado se o gasse seguimento a resp com fundamento no
acórdão que nega provimento ao agravo inter- art. 543-C, § 7º, i, do cpc/7363, ainda que nesse
no cujo fundamento seja a superação de um recurso se discutisse a incorreta aplicação da
precedente vinculante é passível de algum tipo tese firmada em um REsp representativo da
de impugnação e, em caso positivo, quais são os controvérsia64.
instrumentos processuais que podem ser utili- Posteriormente, o referido tribunal supe-
zados para tanto. rior decidiu que, uma vez interposto o agravo
previsto no art. 544 do cpc/73, ele deveria ser
3. SUPERAÇÃO DO PRECEDENTE convertido em agravo interno e julgado pelo
VINCULANTE E ACESSO AOS TRIBUNAIS próprio tribunal local65, sendo que o acórdão
SUPERIORES proferido nesse julgamento seria irrecorrível66.
3.1 Do acórdão que julga o agravo interno Sob a vigência do atual cpc, a corte especial
apresentado com fundamento na superação do stj manteve esse mesmo posicionamento ao
de um precedente: (im)possibilidade de sublinhar no julgamento do Agravo Interno no
impugnação Pedido de Tutela Provisória 473-sp67 que, com o
A decisão do tribunal de origem que não ad- fim de prestigiar a técnica de julgamento por
mite qualquer um dos recursos excepcionais meio de recursos repetitivos, a irrecorribilida-
com fundamento no entendimento firmado em de do acórdão proferido pelo tribunal local te-
regime de repercussão geral ou em julgamen- ria sido uma opção conscientemente adotada
to de recursos repetitivos, nos termos do art. pelo legislador.
1.030, § 2º, c/c art. 1.042, caput, do cpc, deve ser Ocorre que é perfeitamente possível que o
atacada por meio de um agravo interno62 (art. tribunal a quo aplique de maneira incorreta o
1.021 do cpc), sendo que não há previsão legal precedente vinculante ao caso sob julgamento
de recurso contra o acórdão proferido no seu ou deixe de fazê-lo quando a sua aplicação seria
julgamento. de rigor. Assim, permitir que a decisão proferi-
Esse silêncio levou o stj recentemente a con- da no julgamento do agravo interno tenha ca-
siderar esse acórdão inatacável, seja por um ráter irrecorrível priva a parte de acessar o tri-
recurso (entendimento que se mostra idêntico bunal superior para arguir a superação da tese
ao adotado nos julgamentos dos recursos inter- jurídica de observância obrigatória, além de
postos sob a vigência do cpc/1973), seja por uma “petrificar” o sistema de precedentes e engessar
reclamação. a interpretação jurídica68, pois se torna pratica-
Com efeito, no âmbito do regime dos recur- mente impossível promover uma nova discus-
sos repetitivos previsto nos arts. 543-B e 543-C são a respeito do acerto, desacerto ou mesmo
do cpc/73, o stj firmou o seu entendimento no da atualidade do conteúdo69 desse precedente.

82 REVISTA BONIJURIS I ANO 35 I EDIÇÃO 685 I DEZ23/JAN24


Adelmo José Pereira DOUTRINA JURÍDICA

Demais disso, a ausência de previsão legal


não significa, por si só, que a referida decisão
colegiada deva ser considerada irrecorrível,
pois, como é cediço, no que se refere aos recur-
sos excepcionais, as suas hipóteses de cabimen-
to estão estampadas nas alíneas dos incs. iii
do art. 102; e iii do art. 105, ambos da cf/8870, de
forma que qualquer interpretação que negue o
seu cabimento estará em confronto direto com
essas disposições.
Ainda, além de ser irrecorrível, durante o jul-
gamento da Reclamação 36.476-sp71, a corte es-
pecial do stj também considerou que, se o ob-
jetivo for arguir a superação de um precedente
vinculante, o acórdão do tribunal local proferi-
do no julgamento do agravo interno interpos-
to com fundamento no art. 1.030, i, do cpc, não
pode ser impugnado por meio de uma reclama-
ção. Isso porque a Lei 13.256/16 teria criado uma
situação paradoxal em relação ao cabimento
desse meio impugnativo, pois, efetivamente, a
referida norma jurídica visou colocar um fim
no ajuizamento de reclamações dirigidas ao stj
e ao stf para o controle da aplicação dos acór-
dãos sobre questões repetitivas, algo feito com
o intuito de desafogar os trabalhos desses tri-
bunais.
É de se notar, porém, que os órgãos fracioná-
rios do stf têm admitido as reclamações ajuiza-
das com esse propósito, desde que cumprida a
exigência do art. 988, § 5º, ii, do cpc, conforme
A Garantia Condominial é
se depreende da decisão monocrática proferida
um serviço de antecipação
no julgamento da medida liminar requerida na
das taxas condominiais. O
Reclamação 32.532-pe72 e do acórdão proferido
Síndico recebe 100% da
no julgamento da Reclamação 26.928-se73, sendo
receita mês a mês na data
certo que o plenário do stf ainda não foi provo-
programada, independente
cado para se manifestar acerca desse tema.
do pagamento das taxas
E o entendimento desses órgãos julgadores
pelos condôminos. Saúde
não poderia ser diferente, pois, cumpridos os financeira e bem-estar a sua
requisitos estabelecidos em lei, é plenamen- disposição!
te cabível o ajuizamento de uma reclamação74
nessas hipóteses. Tudo porque, em uma situa-
ção como a narrada até aqui, vedar a sua uti-
lização, tal qual ocorre com a inadmissão de
recursos, além de tolher um direito da parte em
acessar os tribunais superiores para arguir a
superação do precedente vinculante, suprime
uma parcela da competência constitucional www.garantesp.com.br
desses tribunais.

REVISTA BONIJURIS I ANO 35 I EDIÇÃO 685 I DEZ23/JAN24 83


ACÓRDÃO DO TJ QUE JULGA AGRAVO INTERNO É IMPUGNÁVEL?

Somente uma releitura do art. 1.042 do CPC permitiria a interposição do agravo


nele previsto contra o acórdão que julga o agravo interno, pois esse decisum resolve
uma matéria contra a qual está expressamente vedado o seu cabimento

Ademais, considerar essa decisão indiscutí- Como visto, nos termos do art. 1.030, § 1º, c/c
vel pode resultar no rompimento da estrutura art. 1.042, caput, do cpc, esse agravo somente
erigida pelo cpc no que se refere ao sistema de tem cabimento quando o tribunal local não
precedentes judiciais75, pois, a uma, não haverá admitir os recursos excepcionais interpostos
instrumento processual disponível para se diri- com fulcro no art. 1.030, v, do mesmo código, de
gir aos tribunais de cúpula com o fim de pleite- maneira que a utilização dele é expressamente
ar a correta aplicação ou arguir a superação de afastada nas hipóteses em que se nega segui-
uma tese de observância obrigatória e, a duas, mento ou não se admite esses recursos com
colocar-se-á em risco o caráter democrático fundamento na aplicação de entendimento
desse mesmo sistema76. firmado em regime de repercussão geral ou no
Derradeiramente, ressalte-se que a inexis- julgamento de recursos repetitivos.
tência de previsão no cpc de um recurso para Por conta disso, somente uma releitura do
atacar o acórdão proferido no julgamento do art. 1.042 do cpc permitiria a interposição do
agravo interno não é, por si só, inconstitucional, agravo nele previsto contra o acórdão que jul-
haja vista a existência de inúmeras disposições ga o agravo interno, pois esse decisum resolve
no processo civil brasileiro que limitam a inter- uma matéria contra a qual está expressamente
posição de recursos77. vedado o seu cabimento.
No entanto, a inconstitucionalidade surge Nesse rumo, há quem defenda que se lance
quando se considera esse acórdão inatacável, mão de uma interpretação conforme a Consti-
pois isso faz com que os tribunais superiores tuição80 para o fim de relativizar os requisitos
percam uma parcela da sua competência cons- exigidos para a interposição desses agravos em
titucional, qual seja, a de promover a revisão e a recursos excepcionais e, em decorrência disso,
superação dos seus próprios entendimentos se- afastar o comando contido no caput do indigi-
dimentados em precedentes vinculantes78, algo tado dispositivo legal81.
que só pode ser reduzido – ou mesmo ampliado Tudo porque a cf/88 atribuiu aos tribunais
– por meio de alterações promovidas na cf/8879. superiores a competência para julgar os recur-
Diante dessas considerações, o acórdão que sos excepcionais, algo que inclui a prolação de
julga o agravo interno (art. 1.030, § 2º, c/c art. decisão, em caráter definitivo, a respeito da ad-
1.042, caput, do cpc) há de ser considerado im- missibilidade de cada um deles. Em razão disso,
pugnável, sob pena de se incidir em flagrante somente esses tribunais poderiam dizer a últi-
inconstitucionalidade, e os meios processuais ma palavra em relação à admissão ou inadmis-
passíveis de serem utilizados para tanto serão são desses recursos82, sob pena de supressão de
analisados a seguir. sua competência constitucional.
A despeito desse posicionamento doutriná-
3.2 Da interposição do agravo previsto no art. rio, não parece possível a utilização do agravo
1.042 do CPC previsto no art. 1.042 do cpc, com o objetivo de
A competência para a realização do juízo defi- impugnar o acórdão que julga o agravo interno,
nitivo de admissibilidade dos recursos excep- pois isso iria de encontro ao comando expresso
cionais pertence aos tribunais superiores; em nesse mesmo artigo.
decorrência disso, cumpre averiguar se contra Assim, não se pode perder de vista o fato de
o acórdão que nega provimento ao agravo in- que o vigente estatuto processual define os atos
terno seria possível o ajuizamento do agravo jurídicos processuais (arts. 203 e 204 do cpc) e
previsto no art. 1.042 do cpc. faz uma correlação entre eles e os meios recur-

84 REVISTA BONIJURIS I ANO 35 I EDIÇÃO 685 I DEZ23/JAN24


Adelmo José Pereira DOUTRINA JURÍDICA

É possível a interposição de novos recursos excepcionais para o m de


impugnar o acórdão do tribunal local que julga o agravo interno cujo
fundamento seja a superação de um precedente vinculante

sais passíveis de serem utilizados para o fim de arts. 1.032 e 1.033 do cpc –, para o fim de, diante
impugná-los (arts. 1.009, 1.015, 1.021, 1.022 e 1.042 da interposição do agravo previsto no art. 1.042
do cpc). Interpretar as disposições do estatuto do mesmo código, aproveitar-se o recurso inter-
processual para o fim de permitir a interposi- posto86, determinar as adaptações e correções
ção de um recurso fora das hipóteses estabele- na peça apresentada, caso isso seja necessário,
cidas pelo legislador subverteria o rígido siste- e, enfim, apreciar o seu mérito.
ma adotado e conferiria a qualquer intérprete o
poder de alterar as disposições legais e utilizá- 3.3 Da interposição de novos recursos
-las livremente, o que decerto ofende a seguran- excepcionais nos autos
ça jurídica e a previsibilidade que se espera de Observados os requisitos estabelecidos na
um comando legal. cf/88, é possível a interposição de novos recur-
Ademais, ante a impugnabilidade desse acór- sos excepcionais para o fim de impugnar o acór-
dão, é desnecessária uma interpretação desse dão do tribunal local que julga o agravo interno
jaez, pois, conforme se discorrerá nas próximas cujo fundamento seja a superação de um prece-
subseções, podem-se utilizar outros instru- dente vinculante.
mentos processais, constitucional e legalmen- Tudo porque, ante a não previsão de recur-
te previstos, para o fim de acessar os tribunais so pelo cpc, o acórdão proferido no julgamento
superiores e arguir a superação do precedente desse agravo interno se consubstancia em uma
vinculante. decisão final proferida por um tribunal contra
Em razão disso, vislumbra-se como não sen- a qual não cabe mais qualquer recurso nas ins-
do adequada a interposição do agravo previsto tâncias ordinárias.
no art. 1.042 do cpc em tais situações. Em decorrência disso, a parte tem o direito
Não obstante, é certo que o cpc não tem de interpor novos recursos excepcionais87 para
qualquer solução para o tema em análise, de o fim de atacar os fundamentos desse decisum
sorte que, presente a dúvida objetiva e atual83 e viabilizar o acesso aos tribunais superiores.
e inexistente o erro grosseiro84, é de rigor a apli- Assim, o novo resp a ser interposto terá como
cação do princípio da fungibilidade recursal fundamento a negativa de vigência e contrarie-
– que, inclusive, possui regras expressas85 nos dade ao disposto no art. 927, §§ 2° a 4°, do cpc,

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Luiz Fernando de Queiroz e Karla P. Moreira

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ACÓRDÃO DO TJ QUE JULGA AGRAVO INTERNO É IMPUGNÁVEL?

Qualquer interpretação que não admita a reclamação colocará em risco


a função dessa medida, uma vez que ela foi criada para resguardar a
competência e a autoridade das decisões proferidas pelos tribunais

dispositivos que preveem a superação do pre- posição da parte para impugnar a decisão que
cedente. Por sua vez, o novo re terá como fun- nega seguimento aos recursos excepcionais
damento a contrariedade ao art. 102, iii, ‘a’, da proferida com fundamento em uma tese fixa-
cf/8888-89, disposições que deverão ter sido en- da no regime de repercussão geral ou no julga-
frentadas pelo acórdão recorrido para fins de mento de um recurso repetitivo93.
prequestionamento. Assim, observado esse requisito, que se con-
Por conta disso, admitidos esses novos recur- substancia na única limitação estabelecida
sos, o tribunal superior competente irá analisar pelo cpc para o aforamento de uma reclamação,
a forma pela qual o precedente vinculante foi a parte pode fazê-lo até mesmo de forma con-
aplicado no litígio com o objetivo de, se o caso, comitante à interposição dos novos recursos
pronunciar a sua superação ou reformar o excepcionais eventualmente cabíveis94.
acórdão impugnado. Ademais, qualquer interpretação que não
Note-se que o cabimento desses recursos admita a reclamação colocará em risco a fun-
pode ser considerado até mesmo algo irrecusá- ção dessa medida, uma vez que ela foi criada
vel pelo sistema processual90, tendo em vista as para resguardar a competência e a autoridade
previsões contidas nos incisos iii do art. 102, e das decisões proferidas pelos tribunais, bem
iii do art. 105, ambos da cf/88. Em razão disso, como poderá ameaçar a integridade do sistema
eles se mostram instrumentos eficazes no que de precedentes vinculantes estabelecidos pelo
se refere a promover a reanálise do precedente atual cpc95.
vinculante e, assim, impedir o engessamento91 Dessarte, ante a observância dos requisitos
da interpretação jurídica. necessários para o seu ajuizamento, é possível a
Assim, presentes os requisitos constitucio- apresentação de uma reclamação para o fim de
nais necessários, a parte poderá interpor novos arguir a superação do precedente vinculante no
recursos excepcionais nos autos do processo âmbito do tribunal superior que o pronunciou.
para o fim de atacar o acórdão proferido pelo
tribunal de origem que julga o agravo interno CONSIDERAÇÕES FINAIS
apresentado com fundamento na superação de Os precedentes judiciais vinculantes, previs-
um precedente vinculante. tos no art. 927 do cpc, são decisões judiciais ou
enunciados de súmulas que devem ser obri-
3.4 Do ajuizamento de uma reclamação gatoriamente observados pelos órgãos juris-
O ajuizamento de uma reclamação (art. 988 e ss. dicionais. Eles visam formar um sistema cuja
do cpc) no tribunal superior competente tam- finalidade precípua é conferir isonomia de tra-
bém se mostra uma medida processual viável tamento e segurança jurídica, além de estabili-
para que a parte possa impugnar o acórdão pro- dade e previsibilidade quanto ao conteúdo das
ferido no julgamento do agravo interno inter- decisões emanadas do Poder Judiciário.
posto com fundamento no art. 1.030, § 2º, c/c art. Os recursos excepcionais, por sua vez, pre-
1.042, caput, do cpc. vistos na cf/88, são instrumentos processuais
Isso porque a interposição desse agravo in- colocados à disposição das partes para o fim
terno cumpre a exigência estampada no art. de acessar os tribunais superiores e buscar a
988, § 5º, ii, do cpc, para o ajuizamento de uma correta aplicação do direito federal e dos dispo-
reclamação, qual seja, o esgotamento das vias sitivos constitucionais, bem como a superação
ordinárias, uma vez que essa é a última espécie de precedentes vinculantes firmados por esses
recursal de natureza ordinária92 colocada à dis- órgãos julgadores.

86 REVISTA BONIJURIS I ANO 35 I EDIÇÃO 685 I DEZ23/JAN24


ACÓRDÃO DO TJ QUE JULGA AGRAVO INTERNO É IMPUGNÁVEL?

Ante o não provimento de um agravo interno, o acórdão proferido pode


ser impugnado por meio da apresentação de novos recursos excepcionais
nos autos do processo e, também, de uma reclamação

Esses recursos possuem duplo juízo de ad- Assim, uma vez presentes os requisitos, o
missibilidade, sendo que o órgão responsável acórdão que nega provimento ao agravo interno
pela sua realização no tribunal local pode ne- pode ser impugnado por novos recursos excep-
gar provimento ou inadmitir qualquer um cionais que terão por fundamento, em relação
deles caso o acórdão recorrido se encontre ao resp, a negativa de vigência do art. 927, §§ 2º
em consonância com o entendimento firma- a 4º, do cpc, e, no que diz respeito ao re, a contra-
do em sede de repercussão geral das questões riedade ao texto do art. 102, iii, ‘a’, da cf/88.
constitucionais ou de julgamento de recursos Ainda, a parte também pode aforar uma
excepcionais repetitivos. Em tal situação, com reclamação no tribunal superior competente
fundamento na superação do entendimento para o fim de discutir a superação do preceden-
firmado no precedente vinculante, é cabível a te vinculante, tendo em vista o preenchimento
interposição de um agravo interno contra essa dos requisitos necessários para tanto, a saber,
decisão (§ 2º do art. 1.030, c/c a parte final do o esgotamento das vias ordinárias e a ofensa à
caput do art. 1.042, ambos do cpc) que será jul- competência do tribunal superior.
gado por um colegiado do próprio tribunal de Derradeiramente, destaca-se que, caso seja
origem. apresentado um are/aresp com o objetivo de
Ocorre que, instada a se pronunciar sobre impugnar o acórdão que julga o agravo interno,
o tema, a corte especial do stj considerou que é de rigor a aplicação do princípio da fungibili-
essa decisão colegiada proferida no julgamento dade para o fim de aproveitar o ato processual,
do agravo interno não é passível de qualquer determinar as eventuais correções e proceder
tipo de impugnação, tendo em vista as modifi- ao julgamento do seu mérito.
cações perpetradas no estatuto processual pela Dessa forma, ante o não provimento de um
Lei 13.256/16. agravo interno, o acórdão proferido pode ser
No entanto, negar impugnabilidade a esse impugnado por meio da apresentação de novos
acórdão impede a parte de acessar o tribunal recursos excepcionais nos autos do processo e,
superior para o fim de arguir a superação do também, de uma reclamação, tudo com o obje-
precedente vinculante, suprime uma parcela tivo de franquear à parte o acesso aos tribunais
da competência constitucional desse órgão ju- superiores para o fim de lhes apresentar as ra-
risdicional e resulta na petrificação da interpre- zões fáticas e jurídicas suficientes para defla-
tação jurídica. Por conta disso, é forçoso consi- grar o debate a respeito da superação de um
derar esse acórdão impugnável. precedente vinculante. 

NOTAS
1. THEODORO JÚNIOR, Humberto. Regime das de Salvo. Direito civil: Parte geral. 19. ed. São caso(s) julgado(s) e não traduz o mesmo sig-
demandas repetitivas no novo código de pro- Paulo: Atlas, 2019. v. 1. p. 17. nificado dos precedentes que caracterizam o
cesso civil. In: DIDIER JÚNIOR, Fredie (coord.). 4. A expressão parece ter sido utilizada de for- sistema do common law, conforme BUENO,
Processo nos tribunais e meios de impugnação ma genérica na redação do art. 926, do CPC, 2020, p. 729.
às decisões judiciais. 2. ed. rev. e atual. Salva- para abranger as súmulas de jurisprudência 6. DONIZETTI, Elpídio. Novo Código de Proces-
dor: JusPodivm, 2016. Coleção novo CPC: Dou- dominante e também os precedentes, conforme so Civil comentado. 3. ed. rev., atual. e ampl.
trina selecionada. v. 6. p. 418. BUENO, Cassio Scarpinella. Manual de direito São Paulo: Atlas, 2018. p. 807.
2. Diploma promulgado pela Lei 5.869, de 11 processual civil. 6. ed. ampl., atual. e integral- 7. GONÇALVES, Marcus Vinicius Rios. Curso de
de janeiro de 1973. mente rev. São Paulo: Saraiva Educação, 2020. direito processual civil: execução, processos nos
3. Jurisprudência é o conjunto de decisões v. único. p. 728. tribunais e meios de impugnação das decisões.
reiteradas dos tribunais a respeito de uma de- 5. Utilizada em algumas passagens do CPC, 13. ed. São Paulo: Saraiva Educação, 2020. v. 3.
terminada matéria, conforme VENOSA, Sílvio a palavra “precedente” é mero sinônimo de p. 254.

88 REVISTA BONIJURIS I ANO 35 I EDIÇÃO 685 I DEZ23/JAN24


Adelmo José Pereira DOUTRINA JURÍDICA

8. THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de 23. “O emprego da técnica de distinção é 34. Assunto que voltará a ser abordado na
direito processual civil: Teoria geral do direito dever de todo e qualquer órgão jurisdicional subseção 4.4, infra.
processual civil; processo de conhecimento; diante de todo e qualquer precedente que o 35. DIDIER JÚNIOR; CUNHA, 2016, p. 87.
procedimento comum. 60. ed. rev., atual. e vincule”, conforme DIDIER JÚNIOR; BRAGA; 36. ABELHA, Marcelo. Manual de direito pro-
ampl. Rio de Janeiro: Forense, 2019. v. I. p. 36. OLIVEIRA, 2015, p. 493. cessual civil. 6. ed. rev., atual. e ampl. Rio de Ja-
9. DIDIER JÚNIOR, Fredie; CUNHA, Leonardo 24. GONÇALVES, 2020, p. 257-258. neiro: Forense, 2016. p. 1.407; DIDIER JÚNIOR;
Carneiro da. Curso de direito processual civil: 25. “Em síntese, o juiz deve confrontar o caso CUNHA, 2016, p. 306.
Meios de impugnação às decisões judiciais e concreto com aqueles que deram origem à tese 37. Conforme já exposto na subseção 2.4, su-
processo nos tribunais. 13. ed. reform. Salvador: jurídica, para verificar se são análogos ou dis- pra, e que será mais bem analisado na subse-
Ed. JusPodivm, 2016. v. 3. p. 605-606; NUNES, tintos. Se análogos, deve aplicar a tese jurídica, ção 4.4, infra.
Dierle; VIANA, Antônio Aurélio de Souza. Prece- nos casos de precedentes vinculantes; se não, 38. Conforme subseção 3.3, infra.
dentes: A mutação no ônus argumentativo. Rio fica livre para decidir conforme o seu convenci- 39. ABELHA, 2016, p. 1.478.
de Janeiro: Forense, 2018. p. 199-200. mento, podendo não aplicar a tese, se entendê- 40. LUNARDI, Fabrício Castagna. Curso de di-
10. DIDIER JÚNIOR, Fredie; BRAGA, Paula -la inadequada, dada a distinção de situações; reito processual civil. 3. ed. rev., atual. e ampl.
Sarno; OLIVEIRA, Rafael. Curso de direito pro- ou aplicá-la se, apesar da distinção, entender São Paulo: Saraiva Educação, 2019. Série IDP:
cessual civil: Teoria da prova, direito probató- que essa é a melhor solução”, conforme GON- Linha doutrina. p. 596.
rio, decisão, precedente, coisa julgada e tutela ÇALVES, 2020, p. 258. 41. ABELHA, 2016, p. 1.407.
provisória. 10. ed. rev., ampl., atual. Salvador: 26. Isso porque somente o órgão jurisdicional 42. ABELHA, 2016, p. 1.409.
JusPodivm, 2015. v. 2. p. 441. que prolatou o precedente vinculante pode pro- 43. ABELHA, 2016, p. 1.406-1.407; LUNARDI,
11. Ou, ainda, “precedente é qualquer julga- mover a sua superação, conforme BAHIA, Ale- 2019, p. 591.
mento que venha a ser utilizado como funda- xandre; NUNES, Dierle; PEDRON, Flávio Quinaud. 44. DIDIER JÚNIOR; CUNHA, 2016, p. 316.
mento de outro julgamento que venha a ser pos- Comentários aos arts. 1.029 a 1.042. In: CUNHA, 45. Durante o período de vacatio legis do
teriormente proferido”, conforme NEVES, Daniel Leonardo Carneiro; NUNES, Dierle; STRECK, Le- vigente estatuto processual, a Lei 13.256/16
Amorim Assumpção. Novo código de processo nio Luiz (org). Comentários ao Código de Pro- alterou a redação dos arts. 1.030 e 1.042, do
civil: Lei 13.105/2015. 3. ed. rev., ampl. e atual. cesso Civil. São Paulo: Saraiva. 2017. p. 1.414. CPC, entre outros, para o fim de manter o duplo
com a Lei 13.256, de 04.02.2016. Rio de Janeiro: 27. Cumpre anotar que a alteração da tese juízo de admissibilidade em relação aos recur-
Forense; São Paulo: MÉTODO, 2016. p. 483. adotada em uma súmula ou em julgamento sos excepcionais, tal qual previa o revogado
12. TUCCI, José Rogério Cruz e. Precedente ju- de casos repetitivos pode ser precedida de au- CPC/1973.
dicial como fonte do direito. São Paulo: Revista diências públicas e contar com a participação 46. DIDIER JÚNIOR; CUNHA, 2016, p. 310.
dos Tribunais, 2004. p. 12. de pessoas, órgão ou entidades que possam 47. Que deve ser lida como sinônimo de “pre-
13. Cumpre anotar que, em relação aos dois contribuir para a sua rediscussão, sendo certo, questionamento”, conforme BUENO, 2020, p.
primeiros itens listados no art. 927, do CPC, também, que pode haver a modulação dos efei- 867.
o efeito vinculante deriva do próprio texto da tos dessa alteração, conforme §§ 2º e 3º do art. 48. LUNARDI, 2019, p. 642.
CF/88; os outros, no entanto, foram dotados 927, do CPC. 49. DIDIER JÚNIOR; CUNHA, 2016, p. 311.
pelo estatuto processual dessa obrigatoriedade 28. “É majoritário o entendimento de que a 50. E se o tribunal de origem não tiver decidido
de observância, determinação legal que possui reclamação é verdadeira ‘ação’ voltada a pre- a causa, como interpor o recurso excepcional?
constitucionalidade duvidosa, segundo BUENO, servar a competência e/ou a autoridade das A parte deve, primeiro, opor embargos de de-
2020, p. 720; e, no mesmo sentido, GONÇAL- decisões dos Tribunais. Verdadeira ‘ação’ cujo claração para suprir o ponto omisso da decisão;
VES, 2020, p. 256-257. exercício rende ensejo ao surgimento de um se ele persistir e for reconhecido pelo tribunal
14. Observa-se que o efeito vinculante das novo processo perante o Tribunal competente superior, a mera apresentação dos aclaratórios
decisões proferidas nas ações diretas de in- para julgá-la”, conforme BUENO, 2020, p. 788; terá sido suficiente para gerar o prequestiona-
constitucionalidade e nas ações declaratórias no mesmo sentido, veja-se DIDIER JÚNIOR; mento em relação às matérias apontadas pelo
de constitucionalidade decorre do art. 102, § CUNHA, 2016, p. 533. embargante em seu recurso, pois, conforme
2º, da CF/88. 29. DIDIER JÚNIOR; CUNHA, 2016, p. 533. dispõe o art. 1.025, do CPC, “consideram-se
15. Dispositivo inserido pelo art. 2º, da Emen- 30. DIDIER JÚNIOR; CUNHA, 2016, p. 539. incluídos no acórdão os elementos que o em-
da Constitucional (EC) 45, de 30 de dezembro 31. É certo, porém, que “não cabe a reclama- bargante suscitou, para fins de pré-questiona-
de 2004, e disciplinado pela Lei 11.417, de 19 ção como meio de desfazer, reformar, cassar, mento, ainda que os embargos de declaração
de dezembro de 2006. modificar decisão transitada em julgado, pois, sejam inadmitidos ou rejeitados, caso o tribunal
16. “Casos repetitivos” é uma expressão que nesse caso, estaria fazendo as vezes de uma superior considere existentes erro, omissão,
abrange o incidente de resolução de demandas ação rescisória. É óbvio, contudo, que, se a deci- contradição ou obscuridade”.
repetitivas (IRDR) e os recursos excepcionais re- são que estiver sendo desrespeitada transitara 51. BUENO, 2020, p. 869; DONIZETTI, 2018, p.
petitivos (art. 928, I e II, do CPC), esses últimos em julgado, cabe a reclamação”, conforme DI- 878.
tratados na subseção 3.1, infra. DIER JÚNIOR; CUNHA, 2016, p. 539. 52. Dispositivo inserido pelo art. 1º, da EC n.
17. Algo que será mais bem explanado na sub- 32. “Caberá a reclamação ao STF e ao STJ, 45/2004.
seção 2.3, infra. dessarte, apenas e somente quando aberta a 53. LUNARDI, 2019, p. 638.
18. A fundamentação das decisões judiciais via recursal excepcional em sentido amplo (vale 54. A despeito disso, o § 3º do art. 1.035, do
sob pena de nulidade é um preceito de nature- dizer, quando verificar-se o momento procedi- CPC, presume a existência de repercussão geral
za constitucional, conforme inciso IX do art. 93, mental de interposição de recurso extraordiná- quando o RE impugnar acórdão que tenha i)
da CF/88; algo que foi reproduzido no texto do rio e/ou de recurso especial), o que pressupõe contrariado súmula ou jurisprudência dominan-
art. 11, do CPC. esgotamento das vias ordinárias”, conforme te do STF; ii) reconhecido a inconstitucionalida-
19. No primeiro grau de jurisdição, o microssis- MELLO, Rogerio Licastro Torres de. Anotações de de tratado ou de lei federal, nos termos do
tema de precedentes vinculantes também pode aos arts. 988 a 993. In: TUCCI, José Rogério art. 97, da CF/88; ou iii) apreciado o mérito do
ser observado na apreciação da tutela provisó- Cruz e et al. (coord.). Código de processo civil IRDR (§ 1º do art. 987, do CPC).
ria de evidência (art. 311, II, do CPC); na impro- anotado. São Paulo: AASP-OAB/PR, 2015. Atu- 55. Em qualquer uma dessas situações, a sú-
cedência liminar do pedido (art. 332, I a IV, do alizado em 25.02.2019. p. 1.608. Disponível mula da decisão constará da ata de julgamento,
CPC); na desnecessidade de remessa necessária em: <https://aaspsite.blob.core.windows.net/ será publicada no diário oficial e valerá para to-
(art. 496, § 4º, I a III, do CPC); e na dispensa de aaspsite/2019/02/CPC_anotado25.2.2019_atu- dos os efeitos como acórdão (§ 11 do art. 1.035,
caução no âmbito do cumprimento provisório al.pdf>. Acesso em: 16.06.2020. do CPC).
de sentença (art. 521, IV, do CPC). 33. A alteração teria sido feita em decorrên- 56. SICA, Heitor Vitor Mendonça. Comentários
20. GONÇALVES, 2020, p. 257. cia da pressão dos tribunais superiores que aos arts. 1.029 a 1.035. In: TUCCI, José Rogé-
21. DIDIER JÚNIOR; BRAGA; OLIVEIRA, 2015, estavam receosos acerca do possível aumento rio Cruz e et al. (coord.). Código de processo
p. 491. do número de reclamações, conforme NEVES, civil anotado. São Paulo: AASP-OAB/PR, 2015.
22. DIDIER JÚNIOR; BRAGA; OLIVEIRA, 2015, 2016, p. 539; no mesmo sentido, MELLO, 2015, Atualizado em 25.02.2019. p. 1.707. Disponível
p. 491. p. 1.608. em: <https://aaspsite.blob.core.windows.net/

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ACÓRDÃO DO TJ QUE JULGA AGRAVO INTERNO É IMPUGNÁVEL?

aaspsite/2019/02/CPC_anotado25.2.2019_atu- legislação processual. Tratando-se de causa de- gia na aplicação do precedente obrigatório do
al.pdf>. Acesso em: 16.06.2020. cidida no regime dos recursos especiais repre- STF [...].” (BRASIL. Supremo tribunal federal.
57. DONIZETTI, 2018, p. 942. sentativos de controvérsia (CPC/73, art. 543-C, (Segunda turma). Reclamação n. 26.928-SE.
58. DONIZETTI, 2018, p. 942. § 7º, I, e CPC/2015, art. 1.040, I), o legislador, Relator Ministro Dias Toffoli, 17 ago. 2018.
59. DIDIER JÚNIOR; CUNHA, 2016, p. 317. por opção, não previu nenhum recurso. Nesse Diário da justiça eletrônico n. 194. Brasília, DF,
60. PIZZOL, Patrícia Miranda. Comentários ao passo, admitir a presente irresignação equivale- 17 set. 2018. Votação unânime. Disponível em:
art. 1.042. In: TUCCI, José Rogério Cruz e et ria a desconstituir as diretrizes legislativas tra- <redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?-
al. (coord.). Código de processo civil anotado. çadas para implementar, no âmbito do Superior docTP=TP&docID=748213300>. Acesso em:
São Paulo: AASP-OAB/PR, 2015. Atualizado Tribunal de Justiça, o julgamento dos recursos 08.09.2020.)
em 25.02.2019. p. 1.737. Disponível em: <ht- repetitivos. [...] Ressalte-se, entretanto, que, 74. BUENO, 2020, p. 789-790; DONIZETTI,
tps://aaspsite.blob.core.windows.net/aaspsi- tratando-se de ato judicial contra o qual não 2018, p. 942; DIDIER JÚNIOR; CUNHA, 2016,
te/2019/02/CPC_anotado25.2.2019_atual. cabe recurso, tem a parte, ainda, via excepcio- p. 317.
pdf>. Acesso em: 16.06.2020. nal outra, caso entenda ter tido violado direito 75. “Esse modo de interpretação, se consagra-
61. Na hipótese de o ministro-relator julgar próprio”. (BRASIL. Superior tribunal de justiça do pela jurisprudência dos tribunais superiores
monocraticamente esse ARE/AREsp, seja inad- (Quarta turma). Agravo interno no pedido de poderá se tornar um elemento de disfunciona-
mitindo-o, seja negando-lhe provimento, ca- tutela provisória n. 473-SP. Relator Ministro lidade das decisões uniformizadoras de teses
berá a interposição, no STJ, de um recurso de Raul Araújo, 17 ago. 2017. Diário da justiça proferidas em sede de repercussão geral ou de
agravo interno, nos termos do art. 259, do seu eletrônico. Brasília, DF, 8 set. 2017. Votação recurso especial repetitivo”, conforme VIANA,
Regimento Interno, e, no STF, de um agravo re- unânime. Disponível em: <https://ww2.stj.jus. Ulisses Schwarz. Comentários aos arts. 1.029
gimental, conforme art. 317, do seu Regimento br/processo/revista/documento/mediado/?com- a 1.035. In: ALVIM, Angélica Arruda; ASSIS,
Interno, para que essa decisão seja apreciada ponente=ITA&sequencial=1626986&num_re- Araken; ALVIM, Eduardo Arruda; LEITE, George
pelo colegiado da turma. gistro=201701034340&data=20170908&for- Salomão (coord.). Comentários ao código de
62. Subseção 3.3, supra. mato=PDF>. Acesso em: 08.09.2020.) processo civil: Lei n. 13.105/2015. 2. ed. São
63. “Art. 543-C. Quando houver multiplicidade 68. BAHIA; NUNES; PEDRON, 2017, p. 1.415. Paulo: Saraiva, 2017. p. 1.227.
de recursos com fundamento em idêntica ques- 69. CÂMARA, Alexandre Freitas. O novo pro- 76. “Há de se ressaltar, porém, que o sistema
tão de direito, o recurso especial será processa- cesso civil brasileiro. 5. ed. São Paulo: Atlas, de ‘precedentes obrigatórios’ só poderá ser
do nos termos deste artigo. [...] § 7º Publicado 2019. p. 540. efetivamente democrático se se oportunizar,
o acórdão do Superior Tribunal de Justiça, os 70. Subseção 3.1, supra. efetivamente e ao menos, a mutabilidade das
recursos especiais sobrestados na origem: I - 71. BRASIL. Superior tribunal de justiça (Corte teses fixadas, pois do contrário restará enrije-
terão seguimento denegado na hipótese de o especial). Reclamação n. 36.476-SP. Relatora Mi- cido o direito”, conforme ALVIM, Eduardo Arru-
acórdão recorrido coincidir com a orientação do nistra Nancy Andrighi, 5 fev. 2020. Diário da jus- da. Principais aspectos do recurso especial. In:
Superior Tribunal de Justiça;”, dispositivo legal tiça eletrônico. Brasília, DF, 6 mar. 2020. Votação CAMPILONGO, Celso Fernandes; GONZAGA, Ál-
inserido pela Lei 11.672, de 8 de maio de 2008. por maioria. Disponível em: <https://ww2.stj. varo Luiz Travassos de Azevedo; FREIRE, André
64. BRASIL. Superior tribunal de justiça (Cor- jus.br/processo/revista/documento/mediado/?- Luiz (coord.). Enciclopédia jurídica da PUC-SP.
te especial). Questão de ordem no agravo de componente=ITA&sequencial=1855286&num_ São Paulo: Pontifícia Universidade Católica de
instrumento n. 1.154.599-SP. Relator Minis- registro=201802337088&data=20200306&- São Paulo, 2017. Tomo: Processo civil. Disponí-
tro César Asfor Rocha, 16 fev. 2011. Diário da formato=PDF>. Acesso em: 08.09.2020. vel em: <https://enciclopediajuridica.pucsp.br/
Justiça eletrônico. Brasília, DF, 12 maio 2011. 72. “[...] 7. No entanto, o Código de Processo verbete/197/edicao-1/principais-aspectos-do-
Votação por maioria. Disponível em: <https:// Civil de 2015, na linha das suas demais inovações -recurso-especial>. Acesso em: 03.10.2020.
scon.stj.jus.br/SCON/GetInteiroTeorDoAcor- relativas à evolução legislativa do sistema de pre- 77. Como ocorre, por exemplo, no âmbito das
dao?num_registro=200900659392&dt_publi- cedentes, previu a possibilidade de ajuizamento execuções fiscais, pois o art. 34, da Lei 6.830,
cacao=12/05/2011>. Acesso em: 22.09.2020. da reclamação para garantir a observância de de 22 de setembro de 1980, estabelece que, das
65. BRASIL. Superior tribunal de justiça (Cor- acórdão de recurso extraordinário com repercus- sentenças de primeiro grau de jurisdição profe-
te especial). Agravo regimental no agravo são geral reconhecida, ou de acórdão proferido ridas em execuções de até 50 Obrigações Rea-
em recurso especial n. 267.592-SP. Relator em julgamento de recursos extraordinários repe- justáveis do Tesouro Nacional (ORTN), só serão
Ministro Raul Araújo, 5 ago. 2015. Diário da titivos. Todavia, para tanto, deveriam ser “esgo- admitidos os recursos de embargos infringentes
Justiça eletrônico. Brasília, DF, 25 set. 2015. tadas as instâncias ordinárias” (art. 988, § 5º, II, [não previstos no CPC/2015] e de declaração.
Votação por maioria. Disponível em: <https:// do CPC/2015). 8. Tem prevalecido a interpretação 78. CÂMARA, 2019, p. 540.
scon.stj.jus.br/SCON/GetInteiroTeorDoAcor- no sentido de que o esgotamento das instâncias 79. BAHIA; NUNES; PEDRON, 2017, p. 1.415.
dao?num_registro=201202605014&dt_publi- ordinárias exige o correto percurso de todo o iter 80. ARENHART, Sérgio Cruz; MARINONI, Luiz
cacao=25/09/2015>. Acesso em: 22.09.2020. processual, ultimado na interposição de agravo Guilherme; MITIDIERO, Daniel. Novo curso de
66. No julgamento do AREsp n. 1.170.332-SP, interno contra a decisão que nega seguimento ao processo civil: Tutela dos direitos mediante
decidiu-se que isso ocorre porque, “na sistemáti- recurso extraordinário, nos termos do art. 1.030, procedimento comum. 3. ed. rev., atual. e ampl.
ca introduzida pelo art. 543-C do CPC/73, incum- I e § 2º, do CPC/2015. Ou seja: é imprescindível São Paulo: RT, 2017. v. 2. p. 561-562; NERY JÚ-
be ao Tribunal de origem, com exclusividade e em que a parte tenha interposto todos os recursos NIOR, Nelson; ABBOUD, Georges. Recursos para
caráter definitivo, proferir juízo de adequação do cabíveis, até a última via processual que lhe é os tribunais superiores e a lei 13.256/2016.
caso concreto ao precedente formado em repeti- aberta. Nesse sentido, veja-se: Rcl 24.686-ED-A- Revista de processo, São Paulo-SP, vol. 257, p.
tivo, não sendo possível, daí em diante, a apre- gR, rel. Min. Teori Zavascki. 9. No presente caso, 217-235, jul. 2016. p. 231.
sentação de qualquer outro recurso dirigido ao esse requisito foi cumprido, porquanto ajuizada 81. O “[...] art. 1.042 do CPC, para não eviden-
STJ, sob pena de tornar-se ineficaz o propósito ra- a reclamação de acórdão de Órgão Especial que ciar evidente supressão de competência cons-
cionalizador implantado pela Lei 11.672/2009”. apreciou decisão que negara trâmite a recurso ex- titucional, deve ser entendido como hipótese
(BRASIL. Superior tribunal de justiça. Agravo em traordinário, conforme art. 1.030, I, a, do CPC/15. em que o cabimento do agravo é simplesmente
recurso especial n. 1.170.332-SP. Relator Ministro [...].” (BRASIL. Supremo tribunal federal. Recla- condicionado à prévia interposição do agravo
Luis Felipe Salomão, 18 out. 2017. Diário da Jus- mação n. 32.532 MC-PE. Relator Ministro Roberto interno”, conforme ARENHART; MARINONI; MI-
tiça eletrônico. Brasília, DF, 7 nov. 2017. Decisão Barroso, 23 nov. 2018. Diário da justiça eletrônico TIDIERO, 2017, p. 561-562.
monocrática. Disponível em: <https://ww2.stj.jus. n. 254. Brasília, DF, 29 nov. 2018. Decisão mono- 82. NERY JÚNIOR; ABBOUD, 2016, p. 231.
br/processo/revista/documento/mediado/?com- crática. Disponível em: <portal.stf.jus.br/proces- 83. ALVIM, 2017.
ponente=MON&sequencial=77630636&num_ sos/downloadPeca.asp?id=15339135138&ext=. 84. DIDIER JÚNIOR; CUNHA, 2016, p. 109.
registro=201702268217&data=20171107>. pdf>. Acesso em: 08.09.2020.) 85. “Com isto, restou claro para o CPC/2015,
Acesso em: 08.09.2020.) 73. “[...] 2. Preenchido o requisito do art. 988, no campo dos recursos excepcionais, ser irre-
67. Do acórdão proferido no julgamento des- § 5º, II, do Código de Processo Civil, a Supre- levante o equívoco da parte em usar o especial
se recurso se extrai o seguinte trecho: “Ocorre ma Corte, excepcionalmente, pode admitir a em lugar do extraordinário e vice e versa, pois
que contra essa segunda decisão, proferida em reclamação constitucional com paradigma na sempre será possível a conversão do inadequa-
agravo interno, não há previsão de recurso na repercussão geral, quando presente teratolo- do no adequado. Se tal é autorizado perante

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ACÓRDÃO DO TJ QUE JULGA AGRAVO INTERNO É IMPUGNÁVEL?

esses recursos, nada impedirá que a fungibili- e tutela provisória. 16 ed. reform. e ampl. de caput, da Constituição da República, [...]”, con-
dade seja também observada em relação aos acordo com o novo CPC. São Paulo: Revista dos forme CÂMARA, 2019, p. 542.
recursos ordinários”, conforme THEODORO Tribunais, 2016. v. 2. p. 615; WAMBIER, Teresa 90. BUENO, 2020, p. 789.
JÚNIOR, Humberto. Curso de direito processual Arruda Alvim; DANTAS, Bruno. Recurso espe- 91. BAHIA; NUNES; PEDRON, 2017, p. 1.415.
civil: Execução forçada; processo nos tribunais; cial, recurso extraordinário e a nova função dos 92. BUENO, 2020, p. 789; DIDIER JÚNIOR;
recursos; direito intertemporal. 53. ed. rev. e tribunais superiores no direito brasileiro. 3. ed. CUNHA, 2016, p. 317.
atual. Rio de Janeiro: Forense, 2020. v. III. p. 949. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2016. p. 410. 93. Subseção 3.3, supra.
86. A aplicação desse princípio da fungibilidade 88. BAHIA; NUNES; PEDRON, 2017, p. 1.416. 94. DONIZETTI, 2018, p. 878.
pode se dar entre agravo e recurso especial ou 89. Alexandre Freitas Câmara entende que, 95. “De remate, cumpre-nos registrar que a
extraordinário, se o caso, conforme ALVIM, 2017. “no caso do recurso especial, seu cabimen- reclamação, conforme as novas feições que lhe
87. BUENO, 2020, p. 874; CÂMARA, 2019, p. to será possível diante da contrariedade ao foram atribuídas pelo CPC/2015, deve funcio-
542; BAHIA; NUNES; PEDRON, 2017, p. 1.416; disposto nos arts. 947, § 3º, e 985, II, ambos nar como potente elemento de fomento ao sis-
WAMBIER, Luiz Rodrigues; TALAMINI, Eduardo. aplicáveis aos recursos repetitivos (enunciado tema de precedentes proporcionado pela nova
Curso avançado de processo civil: Cognição ju- 345, FPPC). E no caso do recurso extraordinário, codificação processual civil”, conforme MELLO,
risdicional: Processo comum de conhecimento este será cabível por contrariedade ao art. 102, 2015, p. 1.606.

REFERÊNCIAS
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92 REVISTA BONIJURIS I ANO 35 I EDIÇÃO 685 I DEZ23/JAN24


Adelmo José Pereira DOUTRINA JURÍDICA

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Processo nos tribunais e meios de impugnação às decisões judiciais. WAMBIER, Luiz Rodrigues; TALAMINI, Eduardo. Curso avançado de pro-
2. ed. rev. e atual. Salvador: JusPodivm, 2016. Coleção novo CPC: cesso civil: Cognição jurisdicional: Processo comum de conhecimento
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VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito civil: Parte geral. 19. ed. São Paulo: Atlas, so extraordinário e a nova função dos tribunais superiores no direito
2019. v. 1. brasileiro. 3. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2016.

FICHA TÉCNICA // Revista Bonijuris


Título original: Superação dos precedentes vinculantes e acesso aos tribunais superiores: o acórdão do
tribunal local que julga o agravo interno é impugnável? Title: Overcoming binding precedents and access
to higher courts: is the ruling of the local court that judges the internal appeal open to challenge? Autor:
Adelmo José Pereira. Advogado. Especialista em Direito Processual Civil pela Universidade Cidade de
São Paulo. Resumo: Os precedentes judiciais vinculantes estão entre as maiores inovações estabelecidas
pelo vigente cpc, especialmente quanto à sua observância obrigatória pelos demais órgãos jurisdicio-
nais. O art. 927 elenca os acórdãos proferidos pelo stf e stj, no julgamento de recursos repetitivos, como
espécies desses precedentes. Eles servem de fundamento para que tribunais locais neguem seguimento
ao recurso extraordinário e ao recurso especial. Esses recursos possuem duplo juízo de admissibilidade,
podendo o órgão responsável do tribunal local negar provimento ou inadmitir qualquer um deles, caso o
acórdão recorrido se encontre em consonância com o entendimento firmado em sede de repercussão ge-
ral das questões constitucionais ou de julgamento de recursos excepcionais repetitivos. Palavras-chave:
precedentes vinculantes; superação; tribunais superiores; agravo interno; impugnação. Abstract:
Binding judicial precedents are among the greatest innovations established by the current cpc, especially
regarding their mandatory observance by other jurisdictional bodies. The art. 927 lists the rulings handed
down by the stf and stj, in the judgment of repetitive appeals, as types of these precedents. They serve
as a basis for local courts to deny the extraordinary appeal and the special appeal. These appeals have a
double judgment of admissibility, and the responsible body of the local court may deny or disallow any of
them, if the appealed ruling is in line with the understanding established in terms of the general repercus-
sion of constitutional issues or the judgment of repetitive exceptional appeals. Keywords: binding pre-
cedents; resilience; higher courts; internal appeal; impeachment. Data de recebimento: 13.09.2023.
Data de aprovação: 10.10.2023. Fonte: Revista Bonijuris, vol. 35, n. 6 – #685 – dez23/jan24, págs 72-93. Editor:
Luiz Fernando de Queiroz, Ed. Bonijuris, Curitiba, pr, Brasil, issn 1809-3256 (juridico@bonijuris.com.br).

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REVISTA BONIJURIS I ANO 35 I EDIÇÃO 685 I DEZ23/JAN24 93
DOUTRINA JURÍDICA

Eric Tadeu do Vale Lima ADVOGADO

VANTAGENS E DESVANTAGENS
DO CONTRATO INTERMITENTE
NOVA LEGISLAÇÃO EQUIPARA O TRABALHO EVENTUAL, MAS
PRIVA FUNCIONÁRIO DOS DIREITOS EQUIPARADOS AOS DE UM
EMPREGADO ROTINEIRO EM CASO DE RESCISÃO

D
e meados de maio até agosto de 2017, quadro se reverteu com o advento da reforma
a sociedade vinha questionando uma trabalhista. Desse modo, todo aquele que se en-
reforma trabalhista, que consistia em quadrava nesse tipo de serviço passou a ter os
uma negociação (referente a questões mesmos direitos daqueles que se submetiam à
laborais) entre empregados e emprega- jornada diária de trabalho, como fgts, férias e
dores, a qual vinha sendo discutida quando a décimo-terceiro.
Presidência da República era exercida por Dil- Em contrapartida, essa mesma legislação,
ma Rousseff. Tal reforma, no entanto, foi des- que reconheceu essa nova modalidade de tra-
cartada pela chefe do Poder Executivo, em vir- balho, deixou uma lacuna no que se refere à
tude de pressões sindicais que se manifestaram rescisão contratual. Seja por parte do empre-
contrárias. gador ou do próprio empregado, o trabalhador
A possibilidade de se discutir uma reformu- intermitente, além de não ter direito ao segu-
lação na Consolidação das Leis do Trabalho ro-desemprego, receberá pela metade o fgts e
(clt) adquiriu mais ênfase após o impeachment o aviso prévio. Daí o motivo para a elaboração
de Dilma Rousseff, sendo, interinamente, suce- desta pesquisa.
dida pelo seu vice, Michel Temer, que diversas
vezes manifestou interesse sob a alegação de 1. PRINCÍPIO DA CONTINUIDADE
que essas medidas permitiriam uma moderni- O princípio da continuidade pode ser consi-
zação no mercado de trabalho, gerando, assim, derado uma das fontes que norteiam a Con-
novos empregos. solidação da Leis do Trabalho, que consiste na
Depois de passar por toda a tramitação pelas frequência diária do empregado dentro da jor-
casas legisladoras, a Lei 13.467 foi sancionada, nada de trabalho, tendo como principal caracte-
no dia 13 de julho de 2017, alterando mais de cem rística a contratação por tempo indeterminado,
pontos da clt de 1943. além da estabilidade monetária do empregado.
O trabalho intermitente, até então, não era De acordo com Maurício Godinho Delgado
contemplado pela legislação. No entanto, esse (2009), o vínculo possibilita ao empregado me-

94 REVISTA BONIJURIS I ANO 35 I EDIÇÃO 685 I DEZ23/JAN24


Eric Tadeu do Vale Lima DOUTRINA JURÍDICA

A maioria das pessoas necessita de um salário para sobreviver, por


isso um empregado com um contrato de trabalho de longa duração
tem maiores oportunidades para se rmar socialmente

lhores condições de emprego. O autor também sional do obreiro, como fórmula para elevar sua
afirma que a frequência empregatícia se encon- produtividade e compensar o custo trabalhista.
tra enraizada em três pilares: tendencial ele- Tais investimentos exercem um papel funda-
vação dos direitos trabalhistas; investimento mental referente ao dever social da proprieda-
educacional e profissional; afirmação social do de e na função educativa, potenciando, indivi-
indivíduo. dual e socialmente, o ser trabalhador.
A primeira corrente está direcionada à ten- A afirmação social do indivíduo é a terceira
dencial elevação dos direitos trabalhistas, seja corrente examinada por Maurício Godinho Del-
por intermédio da amplitude da legislação ou gado, em que ele afirma o seguinte:
da negociação coletiva, além das conquistas es- Aquele que vive apenas de seu próprio trabalho tem
pecificamente contratuais alcançadas pelo tra- neste, e na renda dele decorrente, um decisivo ins-
trumento de sua afirmação no plano da sociedade.
balhador, em virtude de alguma promoção ou Se está submetido a contrato precário, provisório,
vantagens agregadas em seu tempo de serviço, de curta duração (ou se está desempregado), fica
permitindo, assim, ao empregado, a percepção sem o lastro econômico e jurídico necessário para se
impor no plano de suas demais relações econômicas
de maiores benefícios, conforme o tempo de jor- na comunidade. (DELGADO, 2009, p. 193 e 194)
nada laboral.
A segunda corrente remete ao investimento A maioria das pessoas necessita de um sa-
educacional e profissional feito pelo empre- lário para sobreviver, por isso um empregado
gador junto aos seus subordinados, desde que com um contrato de trabalho de longa duração
tenham uma maior permanência dentro do tem maiores oportunidades para se firmar so-
estabelecimento empregatício. Ademais, é fun- cialmente.
damental que esses empregados também apre- Um dos pontos principais que dizem respei-
sentem um contrato de maior duração para to a esse princípio remete ao tempo indetermi-
que, assim, o empregador viabilize capacitação nado. Logo, os empregados contratados por um
profissional e educacional. período estabelecido fogem a essa regra nas hi-
Quanto mais elevado o montante pago à for- póteses previstas no § 2º do art. 443 da clt:
ça de trabalho, mais o empresário ver-se-á es- a) de serviço cuja natureza ou transitoriedade justifi-
timulado a investir no aperfeiçoamento profis- que a predeterminação do prazo;

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REVISTA BONIJURIS I ANO 35 I EDIÇÃO 685 I DEZ23/JAN24 95


VANTAGENS E DESVANTAGENS DO CONTRATO INTERMITENTE

O trabalhador intermitente pode ser conceituado como todo aquele que se


submete a um regime de não continuidade dentro da jornada de trabalho. Trata-
se de modalidade de serviço na qual o contratado exerce atividade esporádica

b) de atividades empresariais de caráter transitório; Ao contrário do que ocorre em outras profissões,


e para que um tripulante possa exercer seu ofício,
c) de contrato de experiência. além de possuir certificados de capacitação técnica
e física válidos e atestados pela autoridade aeronáu-
O caput desse mesmo artigo dispõe que o tica, deve provar constantemente à Agência Nacio-
contrato de trabalho poderá ser acordado tá- nal de Aviação Civil (ANAC), em exames periódicos e
exigentes de adestramento e revalidação, que ainda
cita ou expressamente, verbalmente ou por
preenche os requisitos mínimos obrigatórios para
escrito, por prazo determinado ou indetermi- a obtenção/manutenção das licenças de voo e/ou
nado, ou para prestação de trabalho intermi- habilitações necessárias ao exercício da respectiva
tente. E somado a isso, a Súmula 212 do tst atividade.
afirma que o ônus de provar o término do con-
trato de trabalho, quando negados a prestação Os aeronautas encontram-se subordinados
de serviço e o despedimento, é do empregador, por normas próprias aprovadas pelas conven-
pois o princípio da continuidade da relação de ções internacionais sobre matéria aeronáutica;
emprego constitui presunção favorável ao em- pela Lei 7.565/86 (Código Brasileiro de Aeronáu-
pregado. tica – cba); pela Lei 13.475/17 (Lei do Aeronauta);
pela legislação complementar expedida pela
2. O TRABALHADOR INTERMITENTE Anac (ex.: Regulamento Brasileiro de Avia-
O trabalhador intermitente pode ser concei- ção Civil – rbac); pelas convenções coletivas
tuado como todo aquele que se submete a um de trabalho (cct) específicas da categoria (cct
regime de não continuidade dentro da jornada da aviação regular, cct do táxi aéreo e cct da
de trabalho. Especificamente, pode-se entender aviação agrícola); residualmente pela clt; e por
como uma modalidade de serviço na qual o em- normativas operacionais internas emitidas pe-
pregado, quando contratado, exerce atividades las empresas de aviação e por operadores de
de forma esporádica. aeronaves.
O § 3º do art. 443 da clt reforça afirmando Logo, essa função é considerada um sub-ra-
que pode ser considerado trabalho intermiten- mo do direito do trabalho, porque disciplina
te o contrato de trabalho que determina o tem- relações empregatícias em atividades aeronáu-
po de serviço de forma eventual, havendo uma ticas, que abrangem não somente os pilotos das
alternância de períodos laborais e inatividades, aeronaves como também os comissários e téc-
sendo estipulados por horas, dias ou meses. nicos (mecânicos) de bordo.
Tais disposições não fazem distinção entre Quanto aos demais, estão sujeitos ao regime
as respectivas funções profissionais do empre- intermitente, desde que haja o interesse, por
gador e do empregado. Porém, os aeronautas parte tanto do empregado quanto do emprega-
estão excluídos dessa regra, em virtude de faze- dor, em aderirem a esse tipo de contrato laboral
rem parte de uma legislação específica. e tenham conhecimento da aplicabilidade do
Neste sentido, Carlos Barbosa (2018) analisa respectivo tipo de norma.
que a profissão de aeronauta é uma das mais
diferenciadas, em decorrência da jornada de 3. O CONTRATO INTERMITENTE NA
trabalho em que o encerramento se dá após 30 REFORMA TRABALHISTA
minutos do corte dos motores da aeronave. Re- Antes da criação dessa modalidade, a lei exigia
sumidamente, atrela-se a contagem do tempo uma carga horária de, no mínimo, 30 horas se-
de trabalho a um critério operacional do avião, manais. A partir da nova regulamentação, não
e salienta: há um limite mínimo de horas a serem cumpri-

96 REVISTA BONIJURIS I ANO 35 I EDIÇÃO 685 I DEZ23/JAN24


Eric Tadeu do Vale Lima DOUTRINA JURÍDICA

Antes da criação da modalidade


intermitente, a lei exigia uma carga horária
de, no mínimo, 30 horas semanais

das – permitindo ao contratado trabalhar por


duas ou quatro horas semanais. A única regra
que se manteve é sobre o limite máximo de 44
horas semanais (220 horas mensais), que deve
ser respeitado.
Giovani Alves (2018) observa que o empre-
gador está autorizado a formalizar vínculos
de trabalho somente quando sentir necessi-
dade, convocando pessoas pré-selecionadas e
já contratadas de forma antecipada, apenas
nesses momentos que demandam maior mão
de obra.
O art. 452-A, da clt, em seu caput, preconiza
que o contrato intermitente deve ser celebrado
por escrito e conter especificamente o valor da
hora de trabalho, que não pode ser inferior ao Garantia
valor horário do salário-mínimo ou àquele de-
vido aos demais empregados do estabelecimen- de 100% da
receita mensal
to que exerçam a mesma função em contrato
intermitente ou não.
Para se enquadrar ao contrato intermitente,
é necessário que seja atribuído ao contratado Condôminos
mais felizes
um período de inatividade que se caracteriza
por ser obrigatório. O § 5º do art. 452-A expressa
que o período de inatividade não será conside-
'SQE(YTPMUYIEWƼRERʡEW
rado tempo à disposição do empregador, po- HSGSRHSQʧRMSWIVIKYPEVM^EQ
dendo o trabalhador prestar serviços a outros IXSHSWSWQSVEHSVIWTIVGIFIQ
contratantes. EWQIPLSVMEWPSKSRSWTVMQIMVSW
O colaborador também tem o direito de de- QIWIWHIEXYEʡʝS
clinar o chamado da organização, embora não
conste na legislação o limite determinado de
recusa; por outro lado, o declínio não descarac-
teriza a subordinação do contrato intermitente,
conforme está mencionado no § 3º do art. 452-A
da clt.
De acordo com Giovani Alves (2018), o tra-
balhador intermitente pode ser visto como o
administrador do seu próprio tempo, tendo, as-
sim, a liberdade de aceitar, ou não, o chamado
sem que haja o risco de sofrer alguma penali- dupliquetriangulo.com.br
dade. Porém, o autor observa que esse tipo de 34 3223 7250 ∫ 99234 0008
trabalhador é escravo do tempo, porque está à Uberlândia/MG
disposição do mesmo. Ele afirma:

REVISTA BONIJURIS I ANO 35 I EDIÇÃO 685 I DEZ23/JAN24 97


VANTAGENS E DESVANTAGENS DO CONTRATO INTERMITENTE

A eventualidade sempre foi a principal característica do trabalho intermitente.


Esse tipo de modalidade laboral sempre cou à margem da legislação
trabalhista. Porém, essa situação tornou-se reversível com a reforma

O “tempo de espera” é também “tempo de traba- po e serviço prestado no contrato, que consti-
lho” alienado. Essa forma insidiosa de subsunção tui: valor de remuneração do período trabalha-
à lógica do capitalismo flexível representa a forma
ideológica extrema da “liberdade” (ou escravidão do; férias proporcionais com adicional de 1/3
assalariada) do “trabalhador livre”, cujo trabalho (um terço); valor do repouso remunerado – para
aparece como prestador de serviço de curtíssimo o caso de trabalho aos domingos e feriados; pro-
prazo e a baixíssimo “salário”. (ALVES, 2018)
porcional do 13º salário; adicionais legais – hora
Caso haja a convocação, o colaborador deve- extra e outros.
Tais benefícios encontram-se previstos no §
rá ficar à disposição da organização. Esse cha-
6º do art. 452-A, da clt, e, ao mesmo tempo, cor-
mado deve ser feito com, pelo menos, três dias
respondem com o art. 7º da Constituição Fede-
de antecedência, dando ao profissional tempo
ral no que remete aos direitos dos trabalhado-
para se organizar. Se o trabalhador não se ma-
res urbanos e rurais.
nifestar dentro do prazo estipulado, será presu-
Dentro do caso concreto, o Tribunal Regional
mida a recusa, conforme previsto no § 2º do art.
do Trabalho de Minas Gerais julgou improce-
452-A da clt.
dente o processo 0010454-06.2018.5.03.0097, por-
A convocação do subordinado para assumir
que declarou nulo o contrato intermitente sob
o posto deve ser realizada por meio de qualquer
a alegação de que as atividades desenvolvidas
ferramenta de comunicação que ele utilize (te-
por esse tipo de trabalhador eram típicas, per-
lefone ou mensagem de texto, aplicativos de
manentes e contínuas de uma empresa.
interação social), permitindo a este declinar o
Vinicius Sousa Ferreira (2019) observa que
chamado da empresa, apesar de não estar regu-
esse fato permitiu uma maior interpretação
lado em lei o limite de recusa.
divergente do que está contido em lei, conside-
Logo após ser escalado, o trabalhador inter- rando que o § 3º do art. 443, da clt, afirma que
mitente assume seu posto pelo tempo prede- a prestação de serviços não pode ser contínua,
terminado, estipulado em contrato. A partir do independentemente da atividade do emprega-
momento em que a oferta é aceita, caso haja do e empregador.
descumprimento por qualquer das partes, de- Visto que o trabalhador intermitente se en-
verá ser compelida a pagar uma multa de 50% contra em total vulnerabilidade em relação à
relacionada ao valor de 30 dias de trabalho. jornada de trabalho, pode-se afirmar que, mes-
O contrato é redigido de modo que todas as mo havendo uma preocupação em fazer valer
informações estejam claras, inclusive sobre os os direitos desses, merecia uma maior análise
valores da hora trabalhada pelo colaborador, do legislador para que não terminasse deixan-
esta não podendo ser menor que as aplicadas do lacunas enormes.
aos demais trabalhadores da organização – se-
jam eles intermitentes ou não – e nem inferior CONCLUSÃO
aos valores da hora de trabalho do salário-míni- A eventualidade sempre foi a principal carac-
mo (art. 452-A, caput, da clt). terística do trabalho intermitente. Esse tipo
Além disso, existe uma outra imposição: o de modalidade laboral sempre ficou à margem
valor da remuneração não pode ser variável da legislação trabalhista. Porém, essa situação
de acordo com o serviço prestado, devendo se tornou-se reversível com o advento da reforma
manter o mesmo independentemente da tare- trazida pela Lei 13.467/17.
fa. Ao final do ciclo laboral, o contratado deverá Também, deve ser levado em conta que o
receber a remuneração correspondente ao tem- contrato de trabalho intermitente ainda é um

98 REVISTA BONIJURIS I ANO 35 I EDIÇÃO 685 I DEZ23/JAN24


Eric Tadeu do Vale Lima DOUTRINA JURÍDICA

Um dos objetivos para a realização da reforma era possibilitar que ambas as partes
(empregado e empregador) chegassem a um consenso pelo qual todos fossem
beneciados. O novo instituto do trabalho intermitente caminha nesse sentido

instituto novo, dentro do ordenamento jurídi- tos garantidos, em caso de rescisão por parte do
co brasileiro, e que vai, aos poucos, amadure- seu empregador.
cendo. Visto que um dos objetivos para a realização
É inegável que essa nova legislação reco- dessa reforma era possibilitar que ambas as par-
nheceu o valor desse tipo de serviço quando tes (empregado e empregador) chegassem a um
instituiu condições para que esse pudesse ter consenso pelo qual todos fossem beneficiados,
direitos equiparados aos de um trabalhador ro- percebe-se que, quando entrou em vigor, essa re-
tineiro, mas terminou caindo em contradição, forma, além de não obter o resultado esperado, só
no instante em que permitiu que esse mesmo foi benéfica para um lado – nesse caso, ao empre-
contratado se sujeitasse às condições impostas gador –, deixando o trabalhador em desvantagem
pelo seu contratante e não tivesse os seus direi- e ocasionando a precarização da mão de obra.

REFERÊNCIAS
ALVES, Giovani. A “nova informalidade” do mundo do trabalho – Aspec- Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Decreto-Lei/
tos da reforma trabalhista no Brasil. Dossiê Emprego e Profissões, Del5452.htm>; <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/
09.11.2018. Constituicao.htm>; <http://www.tst.jus.br/sumulas>.
BARBOOSA, Carlos. O direito aeronáutico após a reforma trabalhista. DELGADO, Mauricio Godinho. Curso de direito do trabalho. São Paulo,
Migalhas, 02.05.2018. 2009.
BRASIL. Consolidação das Leis Trabalhistas, 1º de maio de 1943; Cons- FERREIRA, Vinicius Sousa. As possibilidades de trabalho intermitente
tituição da República Federativa do Brasil, 5 de outubro de 1988; após a Reforma Trabalhista. Consulto Jurídico, 02.03.2019.
Lei 13.467, 13 de julho de 2017; TST, súmula 212. Planalto GOV.

FICHA TÉCNICA // Revista Bonijuris


Título original: Vantagens e desvantagens do contrato intermitente na reforma trabalhista. Title: Ad-
vantages and disadvantages of the intermi�ent contract in the labor reform. Autor: Eric Tadeu do Vale
Lima. Advogado. Bacharel em Direito pela Faculdade Farias Brito. Resumo: O trabalho intermitente é
uma modalidade de serviço na qual o empregado exerce suas atividades de forma esporádica. O § 3º do
art. 443 da clt reforça que pode ser trabalho intermitente o contrato de trabalho que determina o tem-
po de serviço de forma eventual, havendo uma alternância de períodos laborados e inativos, sendo esti-
pulados por horas, dias ou meses. Essa nova legislação reconheceu o valor desse tipo de labor, mas caiu
em contradição, no instante em que permitiu que esse mesmo funcionário se sujeitasse às condições
impostas pelo seu contratante e não tivesse os seus direitos garantidos em caso de rescisão contratual
por parte do empregador. Palavras-chave: trabalho intermitente; contrato de trabalho; reforma
trabalhista. Abstract: Intermi�ent work is a type of service in which the employee carries out his ac-
tivities sporadically. § 3 of art. 443 of the CLT reinforces that an employment contract that determines
the length of service on an occasional basis may be intermi�ent work, with alternating working and
inactive periods, stipulated by hours, days or months. This new legislation recognized the value of this
type of work, but fell into contradiction when it allowed that same employee to be subject to the con-
ditions imposed by their contractor and not have their rights guaranteed in the event of contractual
termination by the employer. Keywords: intermittent work; employment contract; labor reform.
Data de recebimento: 01.09.2023. Data de aprovação: 10.10.2023. Fonte: Revista Bonijuris, vol. 35, n. 6 –
#685 – dez23/jan24, págs 94-99. Editor: Luiz Fernando de Queiroz, Ed. Bonijuris, Curitiba, pr, Brasil, issn
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REVISTA BONIJURIS I ANO 35 I EDIÇÃO 685 I DEZ23/JAN24 99


DOUTRINA JURÍDICA

Vanessa Mascarenhas de Araújo ADVOGADA E MESTRA EM DIREITO PÚBLICO PELA


FACULDADE DE DIREITO DA UFBA

MEDIDAS ESTRUTURANTES
E A PROTEÇÃO DE DIREITOS
FUNDAMENTAIS
A APLICAÇÃO ISOLADA DA TESE FIRMADA QUANTO AOS DIREITOS
DOS POVOS ORIGINÁRIOS NÃO É SUFICIENTE. CONFORME O CASO,
DEVE HAVER A ADOÇÃO DAS MEDIDAS ESTRUTURANTES

E
m 19 de março de 2009, o Supremo Tri- tavam em disputa imóveis urbanos, não se apli-
bunal Federal encerrou o julgamento da cando aos casos de terras indígenas situadas
Petição 3.388 – Caso Raposa Serra do Sol, em área rural. Em sentido diverso, nos primei-
no qual firmou o entendimento de que o ros anos de vigência da crfb/88, em 1993, o stf
marco temporal de ocupação e do direito reconheceu a presença imemorial dos povos
de usufruto das terras indígenas, em regra, é a indígenas Krenak e Pojixá baseando-se em do-
data da promulgação da Constituição da Repú- cumentos que comprovaram a devida presença
blica Federativa do Brasil. dos referidos povos na área litigada desde 1910.
Adotou-se a teoria do marco temporal, isto é, No segundo semestre de 2021, a discussão
são consideradas terras indígenas as áreas que acerca desse tema foi retomada entre os minis-
estavam ocupadas de forma permanente ou tros da suprema corte do Brasil, a partir do re-
reivindicadas pelos povos nativos até o dia 5 de conhecimento da repercussão geral no Recurso
outubro de 1988. A decisão do Caso Raposa Ser- Extraordinário (re) 1.017.365/sc3, de modo a de-
ra do Sol não produziu efeitos erga omnes; con- cidir o momento em que se deve considerar a
tudo, trata-se de um acórdão com elevado ônus ocupação e o direito de usufruto das áreas tra-
argumentativo, com força moral e persuasiva1. dicionais.
Em julho de 2017, parecer da Advocacia-Geral O recurso foi impetrado pela Fundação Na-
da União determinara que o governo federal cional do Índio (funai), que questiona a decisão
observasse as “salvaguardas institucionais” ali do Tribunal Regional Federal da 4ª Região, que
estabelecidas em todos os processos de demar- beneficiou o Estado de Santa Catarina ao ado-
cação, como a proibição de expandir as áreas tar a tese do marco temporal. O trf4 confirmou
demarcadas e a determinação de que os direi- a decisão do juízo federal, que autorizou a rein-
tos dos povos indígenas não poderiam se sobre- tegração de posse de uma área que, conforme
por a questões de segurança nacional. sinaliza a funai, encontra-se localizada em par-
A primeira vez que o stf adotou a tese do te da Reserva Indígena Ibirama-Laklãnõ, onde
marco temporal foi em 19982, no caso em que es- vivem os povos Xokleng, Guarani e Kaingang.

100 REVISTA BONIJURIS I ANO 35 I EDIÇÃO 685 I DEZ23/JAN24


Vanessa Mascarenhas de Araújo DOUTRINA JURÍDICA

Em setembro deste ano, foi julgado o mérito do tema com repercussão geral. Por
maioria, o tribunal pleno do STF deu provimento ao recurso extraordinário, restando
denida a teoria a nortear a concretização dos direitos dos povos indígenas

Por outro lado, o Estado de Santa Catarina o reconhecimento dos direitos dos povos tradi-
requer a reintegração de posse de parte da Re- cionais.
serva Biológica Estadual do Sassafrás, no muni- Diante desse contexto, e considerando que
cípio de Itaiópolis, no Planalto Norte catarinen- a tese adotada no julgamento do re 1.017.365/
se, em decorrência da alegada invasão, em 2019, sc é a que prevalecerá sobre todos os casos se-
pelos povos indígenas nessa reserva, considera- melhantes, indaga-se: à luz da interpretação
da propriedade do Instituto do Meio Ambiente constitucional, a aplicação de uma das teorias,
de Santa Catarina (ima). isoladamente, concretizaria o princípio da má-
Em 21 de setembro de 2023, foi julgado o mé- xima efetividade da Constituição, de modo a
rito do tema com repercussão geral. Por maio- cessar os conflitos em torno das terras indíge-
ria, o tribunal pleno do stf deu provimento ao nas? É possível relacionar as condicionantes
recurso extraordinário para julgar improce- implementadas pelo stf no Caso Raposa Serra
dentes os pedidos deduzidos na inicial e restou do Sol ao julgamento atual? E, por fim, estarí-
definida a teoria a nortear a concretização dos amos diante de campos férteis para se adotar
direitos dos povos originários. Apenas dois mi- medidas estruturantes nos julgados apresen-
nistros, André Mendonça e Kassio Nunes Mar- tados?
ques, votaram a favor do marco temporal, teo- O objetivo geral do artigo consiste em apon-
ria agora vencida. tar as medidas estruturantes como instrumen-
Tratou-se, portanto, da retomada de discus- tos adequados para a concretização da máxima
são de duas teses antagônicas na mais alta cor- efetividade da Constituição, de modo a solu-
te de justiça do país: teoria do indigenato, pela cionar o conflito atual apresentado, bem como
qual as comunidades indígenas não depende- aqueles que envolvam os direitos dos povos ori-
riam de qualquer legitimação, tampouco de ginários e os demais direitos amparados pelo
qualquer marco temporal, para ocupar as áreas ordenamento jurídico.
consideradas terras indígenas, privilegiando o Mediante pesquisa exploratória e descritiva,
passado e a ancestralidade dos membros para pautada na revisão de literatura, no primeiro
com as suas terras; e a teoria do fato indígena, momento, a fim de compreendermos a impor-
pela qual se delimita um marco temporal para tância desses julgamentos no âmbito da supre-

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REVISTA BONIJURIS I ANO 35 I EDIÇÃO 685 I DEZ23/JAN24 101
MEDIDAS ESTRUTURANTES E A PROTEÇÃO DE DIREITOS FUNDAMENTAIS

É possível relacionar as condicionantes implementadas pelo STF no Caso Raposa


Serra do Sol ao julgamento atual? E, por m, estaríamos diante de campos
férteis para se adotar medidas estruturantes nos julgados apresentados?

ma corte, apresenta-se um breve contexto só- tantes adequados, nas instâncias inferiores, ao
cio-histórico dos povos indígenas. Em seguida, lidarem com as demandas atinentes ao tema
o enquadramento jurídico nacional passado e e adequando-as às peculiaridades do caso, so-
o atual acerca da tutela dos direitos desses po- bretudo, quando se tratar da tutela do meio
vos, bem como o ordenamento jurídico inter- ambiente ecologicamente equilibrado, seja do
nacional; por fim, são analisados o julgamento meio ambiente natural, seja do meio ambiente
do Caso Raposa Serra do Sol e a sua possível cultural, o que se verifica no conflito atual, aqui,
relação com o julgamento do re 1.017.365 pelo analisado.
stf, especificamente no tocante à adoção das
chamadas condicionantes ou salvaguardas ins- 1. OS POVOS NATIVOS DA TERRA
titucionais. BRASILIS: OS “ÍNDIOS”
Parte-se da premissa de que as condicio- “Pardos, nus, sem coisa alguma que lhes cobris-
nantes constantes no dispositivo da decisão se suas vergonhas. Traziam arcos nas mãos, e
da Petição 3.388/rr assemelham-se às medidas suas setas. Vinham todos rijamente em direção
estruturantes. Contudo, por verificar a não to- ao batel; e Nicolau Coelho lhes fez sinal que
talidade das características dessas medidas a pousassem os arcos. E eles os pousaram.”5
partir da doutrina brasileira que vem sendo Essas foram as primeiras expressões descri-
construída acerca da temática4, vislumbra-se tas pelo fidalgo português Pero Vaz de Caminha
que as denominadas condicionantes, na verda- ao avistá-los quando da sua chegada em terras
de, consistem na interpretação dada ao sistema brasileiras, Ilha de Vera Cruz, Porto Seguro,
jurídico-constitucional atinente aos direitos Bahia, Brasil, em maio de 1500 – ano do “desco-
dos povos indígenas e aos demais direitos, em brimento” do Brasil. Eram os “índios”6, até então
princípio, conflitantes, mas que, também, têm desconhecidos para o restante da humanidade,
amparo constitucional. mas conhecidos pela terra pátria; quiçá, os pri-
Em relação ao julgado atual, essas condicio- meiros conhecidos e acolhidos por essa terra.
nantes, com as modificações pertinentes, irão Os indígenas são constituídos por diversos
corresponder, necessariamente, à construção da povos e nações detentores de culturas e pecu-
tese a ser firmada pelo stf para melhor aplicação liaridades específicas e diferenciadas, não se
da teoria do indigenato, por conseguinte, para podendo agrupá-los em uma única categoria.
atingir à máxima efetividade da Constituição. Na literatura pesquisada, tem-se a informação
Dessa forma, a interpretação dada à de que a colonização do país se fez mediante
crfb/1988, especificamente quanto às regras luta, sangue e exploração:
dispostas no artigo 231 do texto constitucional, No projeto da colonização [...] não se pode perce-
de modo a definir o estatuto jurídico-constitu- ber, não havia qualquer espaço para a complacência
ou tolerância para com os primitivos ocupantes de
cional das relações de posse das áreas de tra- nossas terras brasileiras. A guerra travada contra os
dicional ocupação indígena, pode referir-se à indígenas possuía dois fronts bastante claros e de-
decisão matriz, decisão-base ou decisão-núcleo finidos: o ataque físico às populações indígenas e o
ataque cultural. Pelo ataque físico tentava-se a des-
a ser verificada no procedimento de cunho es- truição militar dos indígenas; pelo ataque cultural o
truturante. objetivo era a “integração” dos indígenas à ideolo-
Esta, por sua vez, dará suporte para a adoção gia e à sociedade colonial. Essas características que
marcaram o início do processo de colonização são
das medidas estruturantes, que serão constru-
as principais características que regeram, por cinco
ídas e implementadas a partir do diálogo com séculos, as relações entre brancos e índios, “civiliza-
as partes diretamente envolvidas ou represen- dos” e “selvagens”.7

102 REVISTA BONIJURIS I ANO 35 I EDIÇÃO 685 I DEZ23/JAN24


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MEDIDAS ESTRUTURANTES E A PROTEÇÃO DE DIREITOS FUNDAMENTAIS

No século 17, a escravidão indígena para exploração do açúcar no litoral


brasileiro não bastou; estendeu-se para outras regiões, como Maranhão e
Pará, com a extração de drogas do sertão, caso do guaraná e do cravo

Dessa forma, após o “descobrimento” do país, tavam da “liberdade” dos povos indígenas13. Há
deu-se início ao seu processo de colonização, de se reconhecer uma importante iniciativa no
que foi caracterizado pela exploração por par- que tange à proteção aos direitos humanos,
te dos colonos portugueses, seja no tocante à qual seja, a Bula Sublimis Deus, de Paulo III
exploração dos recursos naturais encontrados (1.537), que condena a escravidão, sendo esta a
na terra pátria (pau-brasil, cana-de-açúcar, café, primeira intervenção oficial e efetiva da igreja
algodão, entre outros gêneros), seja no tocante contra o desrespeito à dignidade humana, uma
à exploração dos seres humanos que aqui se en- vez que o referido documento reconhecia que
contravam. os indígenas eram seres racionais dotados de
Nesse contexto, para obter o trabalho indí- alma humana; em outras palavras, a menciona-
gena na extração do pau-brasil, por exemplo, da bula papal reconheceu o erro de se escravi-
os colonos europeus não hesitaram em usar a zar povos vencidos14.
violência e impor a escravidão8. Ademais, nessa mesma época, atuou o frei
Embora o governo de Portugal defendesse, a Bartolomé de Las Casas, conhecido como o “de-
princípio, a liberdade indígena, e o trabalho era fensor dos direitos dos índios americanos”, que
conquistado de forma amigável, através do es- publicou, em 1542, obra que narra a “destruição
cambo – os povos indígenas realizavam o traba- da cultura e da dignidade dos índios da América
lho em troca de objetos, como anzóis, espelhos, espanhola”15.
facas, canivetes –, os colonos recorreram à guer- Não obstante essa forte influência da Igreja
ra justa9, e a escravidão indígena estabeleceu-se Católica no processo de colonização do país,
a partir de meados do século 16, principalmente essa ação não foi suficiente para obstar a legis-
no momento em que os colonos portugueses lação que permitia a escravidão indígena:
passaram a necessitar de mão de obra para a Somente em 1647 é que foi revogada a lei de 13
produção açucareira10. de outubro de 1611, a qual estabeleceu condições
para a “liberdade dos gentios”. [...] A incoerência e
No século 17, a escravidão indígena para ex- vacilação da legislação, contudo, levaram a que leis
ploração do açúcar no litoral brasileiro não dos anos 1666, 1667 e 1673 voltassem a determi-
bastou; estendeu-se para outras regiões, como nar hipóteses de escravidão indígena. A escravidão
indígena foi abolida pela lei de 1º de abril de 1680,
São Paulo, Maranhão e Pará, na exploração de que repristinou a lei de 30 de julho de 1609; [...].
atividades econômicas, como a agricultura e a Em 1648, pela lei de 2 de setembro, novamente, foi
extração de drogas do sertão – guaraná, cravo, restabelecida a escravidão indígena. Para o grande
estudioso da escravidão no Brasil, Perdigão Malhei-
plantas aromáticas e medicinais; ademais, o ín- ros, a lei de 2 de setembro, contudo, não passava
dio fora utilizado para transporte de mercado- de uma “escravidão disfarçada”; [...]. A revogação
rias11. definitiva da escravidão indígena no Brasil só veio
a ocorrer com a carta Régia de 27 de outubro de
O ato de escravizá-los foi uma das primeiras 1831.16
manifestações do colonizador europeu para
com os indígenas12. Diante de tais informações Atualmente, no sentido legal, a escravidão
históricas, verifica-se que esses povos tiveram de nenhum ser humano é permitida no Esta-
que se adaptar de forma abrupta aos caprichos do brasileiro; e os direitos dos povos indígenas,
dos colonos europeus, sem ter respeitados os sobretudo, às suas terras tradicionalmente ocu-
seus costumes, tradições e liberdade em seu padas, mediante luta e conquistas, vieram a ter
próprio habitat. seu espaço, gradativamente, nas constituições
À época, no decorrer do período colonial, brasileiras e em demais documentos legais,
diversas leis e outros documentos legais tra- conforme se verá a seguir.

104 REVISTA BONIJURIS I ANO 35 I EDIÇÃO 685 I DEZ23/JAN24


Vanessa Mascarenhas de Araújo DOUTRINA JURÍDICA

2. OS POVOS INDÍGENAS E O
ORDENAMENTO JURÍDICO NACIONAL
Comparando o contexto sócio-histórico atual
com o passado, brevemente explanado acima,
verifica-se que os povos indígenas, no decorrer

Receita
dos anos, lograram um considerável êxito ao
ver seus direitos assegurados, sobretudo, na lei

garantida para
maior pátria de 1988 e em notáveis documentos
legais internacionais, como a Convenção 169 da

o condomínio.
Organização Internacional do Trabalho (oit),
que consagra o princípio do pluralismo jurídico
e respeito aos costumes indígenas17.
As constituições brasileiras anteriores a essa
Segurança e praticidade
não foram representativas dos anseios dos seg- para o síndico!
mentos excluídos, historicamente, da socieda-
de, mas dos interesses das elites, estando asso-
ciadas a uma visão europeia de país18.
A Constituição do Império (1824) foi ausente
na questão indígena, bem como a carta republi-
cana de 1891, sendo a Constituição de 1934 a pri-
meira a prever acerca da situação jurídica dos
povos indígenas:
A Constituição de 1934 dedicou dois tópicos ao
tema ora examinado. A menção inicial encontra-
va-se presente no artigo 5º, inciso XIX, alínea m.
Tratava-se ali da competência legislativa privativa
da União. Dentre as competências legislativas pri-
vativas da União estava incluída a de legislar sobre
incorporação dos silvícolas à comunhão nacional.
O artigo 129 manteve e elevou em nível constitucio-
nal a tradição do Direito brasileiro em reconhecer e A Condoville assegura a
respeitar os direitos originários dos indígenas sobre arrecadação de 100% da
as suas terras.19
receita do condomínio
Assim como a Constituição de 1934, a carta de em contrato.
1937 reservou um espaço para proteção e reco- Além disso:
nhecimento dos direitos dos povos indígenas, Realiza a emissão dos boletos
especificamente no que se refere à “posse das de todos os condôminos.
terras em que se achem localizados em caráter Controla a inadimplência com uma
permanente, sendo-lhes, porém, vedada a alie- cobrança especializada.
nação das mesmas” (art. 154, crfb 1937). Esse Realiza o repasse da receita integral
mesmo direito foi mantido na lei magna de no 2º dia útil após o vencimento dos
1946, contudo, com a condição de tais terras não boletos emitidos.
serem transferidas, conforme art. 216 da referi-
da Constituição. 47 3025.5669
47 99231.2380
Já a Constituição de 1967 inovou, no que tan- condovillesc.com.br
ge à proteção das terras ocupadas pelos “silví-
Joinville . SC
colas”, as quais passaram a contar com uma re-
levante garantia: a de serem incluídas entre os
bens da União Federal; bem como reconheceu
aos índios o seu direito ao usufruto exclusivo

REVISTA BONIJURIS I ANO 35 I EDIÇÃO 685 I DEZ23/JAN24 105


MEDIDAS ESTRUTURANTES E A PROTEÇÃO DE DIREITOS FUNDAMENTAIS

Assim como a Constituição de 1934, a carta de 1937 reservou um espaço para


proteção e reconhecimento dos direitos dos povos indígenas, especicamente
no que se refere a “posse das terras em que se achem localizados”

dos recursos naturais e de todas as utilidades outros grupos participantes do processo civi-
nelas existentes20. lizatório nacional), incluindo o capítulo viii da
Por fim, em 5 de outubro de 1988 advém a aludida Constituição, que trata especificamen-
Constituição da República Federativa do Brasil, te sobre os índios (título viii, da ordem social,
a qual proclamou como objetivos fundamen- crfb/88), composto pelos arts. 231 e 232, onde
tais a construção de uma sociedade livre, justa estão elencados elementos essenciais para a
e solidária; a garantia do desenvolvimento na- definição jurídico-constitucional acerca dos in-
cional; a erradicação da pobreza e marginali- dígenas e seus respectivos direitos coletivos e
zação e a redução das desigualdades sociais e individuais.
regionais; e a promoção do bem de todos, sem O reconhecimento de tais direitos na carta
preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e cidadã originou-se de um processo constitu-
quaisquer outras formas de discriminação (art. cional que teve a participação do próprio povo
3º, inc. i ao iv, crfb/88), tendo como um dos fun- indígena, ato esse que tão somente revela a
damentos a dignidade da pessoa humana (art. vontade desse povo em ver seus direitos prote-
1º, iii) e como princípios que regem as relações gidos, promovidos, reconhecidos e respeitados
internacionais, entre outros, a prevalência dos por todos, a começar pelo próprio Estado bra-
direitos humanos (art. 4º, ii) e a autodetermina- sileiro:
ção dos povos (art. 4º, iii). Quinhentos anos depois, [...] apesar de a socieda-
Nesse breve panorama da carta magna pá- de envolvente pensar que este já foi exterminado
tria, verifica-se a preocupação que teve a As- há muito tempo, houve uma surpresa na História
do Brasil: ele se fez presente [...]. Até o momento,
sembleia Nacional Constituinte em instituir ninguém tinha reconhecido o índio como primeiro
um estado democrático de direito calcado em habitante, dentro da Constituição, mas hoje ele
princípios e fundamentos humanos, compre- manifesta sua sobrevivência e a existência de vários
grupos étnicos, indo para Brasília acompanhar de
endendo a importância de assegurar e proteger perto, no Congresso Nacional, todo o processo da
direitos de todos os indivíduos, sem distinção. Constituinte, [...] e isso é a primeira vez na História.
Nesse sentido, a lei maior de 1988 “revela um [O índio] sempre foi imaginado como um animal ir-
racional, incapaz de desenvolver e progredir confor-
grande esforço da Constituinte no sentido de
me a sua decisão, [...] sem poder dar opinião sobre
preordenar um sistema de normas que pudesse o que ele próprio deseja. [...] A maior parte das lide-
efetivamente proteger os Direitos e interesses ranças ficou satisfeita com a nova Constituição, por
dos índios”21. motivo de que dialogaram diretamente com aqueles
que eram responsáveis por toda a sociedade brasi-
Entre essas normas desse sistema, identifi- leira. Por motivo também de que tiveram direito de
camos dispositivos que salvaguardam direitos opinar, através do projeto de lei, sobre como deve
e interesses dos povos indígenas, a exemplo: funcionar ou como deve ser o futuro dos índios, e
eles não são donos do seu destino. Não como an-
art. 49, xvi (competência exclusiva do Congres- tes, que o Conselho de Segurança Nacional, junta-
so Nacional para autorizar, em terras indígenas, mente com o Ministério do Interior e a FUNAI, tinha
a exploração e o aproveitamento de recursos que decidir quem é índio e quem não é índio, como
hídricos e a pesquisa e lavra de riquezas mi- ele deve viver, se é nu, com paletó, ou rico. Com a
sua presença na Constituinte, mostraram que quem
nerais); art. 210, § 2º (assegura às comunidades é o dono do seu destino é o próprio índio.22
indígenas a utilização de suas línguas mater-
nas e processos próprios de aprendizagem no Além da carta magna de 1988, outros diver-
ensino fundamental regular); art. 215, § 1º (o Es- sos documentos legais que integram o nosso or-
tado protegerá as manifestações das culturas denamento jurídico visam proteger os direitos
populares, indígenas e afro-brasileiras, e das de e interesses dos povos indígenas. Elencamos os

106 REVISTA BONIJURIS I ANO 35 I EDIÇÃO 685 I DEZ23/JAN24


Vanessa Mascarenhas de Araújo DOUTRINA JURÍDICA

No âmbito internacional, no que tange ao tratamento jurídico dos povos


indígenas, destaca-se a Convenção 169 da Organização Internacional
do Trabalho (OIT), elaborada a partir da revisão da Convenção

seguintes: o Estatuto do Índio (Lei 6.001/73), que índios proteção especial por meio da tutela do
regula a situação jurídica dos índios ou silvíco- Estado, até que assimilassem a cultura brasi-
las e das comunidades indígenas, o propósito leira e fossem definitivamente absorvidos pela
de preservar a sua cultura e integrá-los, pro- sociedade nacional”25.
gressiva e harmoniosamente, à comunhão na- Felizmente, com o advento da crfb/88, ao re-
cional; a Lei 5.371/67, que autoriza a instituição vés, reconhece-se que os povos indígenas não
da Fundação Nacional do Índio – funai, que, devem assimilar a “cultura brasileira”, tampou-
entre as suas finalidades, é quem exerce, em co serem “absorvidos pela sociedade nacional”,
nome da União, a tutela dos índios e das comu- mas sim têm o direito de ter a sua própria cultu-
nidades indígenas; a Lei Complementar 75/93, ra (organização social, costumes, línguas, cren-
que dispõe sobre a organização, as atribuições ças e tradições) preservada e respeitada por
e o Estatuto do Ministério Público da União, es- todos, competindo à União demarcar as terras
tabelecendo no seu art. 6º, vii, c, a competência que tradicionalmente ocupam, fazendo respei-
do Ministério Público da União em promover o tar todos os seus bens (art. 231, caput, crfb/88).
inquérito civil e a ação civil pública para a pro-
teção dos interesses individuais indisponíveis, 3. OS POVOS INDÍGENAS E O ORDENAMENTO
difusos e coletivos, relativos às comunidades JURÍDICO INTERNACIONAL
indígenas. No âmbito internacional, no que tange ao trata-
No que tange ao Estatuto do Índio, verifi- mento jurídico dos povos indígenas, destaca-se
ca-se que foi instituído em momento anterior a Convenção 169 da Organização Internacional
à crfb/88, no qual o país era governado pelo do Trabalho (oit), elaborada a partir da revisão
regime militar, quando não se permitia a par- da Convenção 107, que já tratava, especifica-
ticipação dos diversos segmentos da sociedade mente, das populações indígenas e tribais, in-
na elaboração e execução de suas políticas ofi- formando sobre seus direitos à terra, garantias
ciais23. sociais e trabalhistas, contudo, com uma visão
O referido documento incorporava de forma integracionista.
integral o protecionismo e a ideologia integra- A Convenção 169 da oit sobre Povos Indí-
cionista24 dominante à época, “garantindo aos genas e Tribais, adotada em Genebra, em 27 de

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REVISTA BONIJURIS I ANO 35 I EDIÇÃO 685 I DEZ23/JAN24 107


MEDIDAS ESTRUTURANTES E A PROTEÇÃO DE DIREITOS FUNDAMENTAIS

Quanto aos direitos internacionais dos povos indígenas, a doutrina


propõe uma classicação em direitos gerais e especiais. Os gerais estão
previstos nos tratados; os especiais tratam de normas especícas

junho de 1989, entrou em vigor, internacional- lidades específicas dos grupos e dos indivíduos
mente, em 5 de setembro de 1991 e, para o Brasil, em questão, como, por exemplo, os direitos pre-
em 25 de julho de 2003. vistos além da Convenção oit 169, tais como: o
A partir da promulgação mediante o Decreto direito à proteção de valores e práticas sociais,
5.051/0426, a referida convenção tornou-se parte culturais, religiosos e espirituais próprios dos
integrante da legislação interna do Brasil, além povos indígenas, art. 5º; o direito sobre recur-
de se tornar relevante instrumento para fins de sos naturais existentes nas suas terras, art. 15; o
interpretação de casos que abordam essa temá- direito à saúde, organizado preferencialmente
tica. em nível comunitário e em cooperação com os
O documento legal internacional apontou povos interessados, considerando métodos de
dois parâmetros para o reconhecimento dos prevenção, práticas curativas e medicamentos
povos indígenas e tribais: um que diz respeito à tradicionais, art. 25; e aqueles previstos também
diferenciação social, cultural e econômica, onde no Pacto Internacional sobre Direitos Civis e
existem especificidades, costumes e tradições Políticos – o direito a medidas especiais contra
que colocam o povo como uma comunidade a discriminação, o direito do povo à liberdade
com necessidade de reconhecimento próprio, de religião e o direito de minorias, previstos no
recorrendo-se à autodeclaração; já o outro diz referido pacto.
respeito à ancestralidade das pessoas que se É válido referir-se, também, à Convenção
reconhecem como indígenas ou tribais, voltan- Americana de Direitos Humanos como docu-
do-se, assim, ao reconhecimento social de sua mento internacional integrante do sistema
origem. regional americano, no qual constam direitos
Outro documento internacional que versa gerais dos povos indígenas. Afinal, embora seja
sobre a temática é a Declaração das Nações um ser titular de peculiaridades, o indígena não
Unidas sobre os Direitos dos Povos Indígenas perde a condição de ser “pessoa humana”.
de 2008, consagrando-se, em âmbito universal, No que diz respeito ao desenvolvimento da
como opinião formadora dos Estados-mem- proteção a esses diretos perante a Comissão
bros, erigida a título de so� law. Interamericana de Direitos Humanos, Daniela
Quanto aos direitos internacionais dos po- Ikawa29 apresenta quatro estágios: (i) um está-
vos indígenas e dos indivíduos pertencentes a gio de “quase indiferença”, que vigorou da cria-
esses povos, a doutrina27 propõe uma classifica- ção do sistema até 1984; (ii) um estágio de “atitu-
ção em direitos gerais e especiais. des erráticas”, o qual perdurou até 1997; (iii) um
Os gerais são aqueles previstos, generica- estágio de vontade política sem uma proteção
mente, em tratados internacionais de direitos consistente, até 2001; e, por fim, (iv) um estágio
humanos28 e, em grande parte, consolidados na de proteção consistente, que dura até os dias
Convenção 169 da oit, a saber: os direitos so- atuais.
ciais (art. 2º); liberdades fundamentais (art. 3º); Não obstante esse estágio atual de proteção
direito ao meio ambiente (art. 4º); direitos ge- no âmbito internacional, no nosso meio social
rais da cidadania (art. 4º); direitos reconhecidos ainda persiste a aversão à cultura dos povos
a todos os cidadãos do país (art. 8º, 3); direito de indígenas, de modo a ocasionar violações aos
petição (art. 12); direito à saúde (art. 25); e direito seus direitos, sobretudo, à vida e às suas terras.
à educação (art. 26). Dessa forma, faz-se necessária uma proteção
Os especiais são os direitos específicos que mais ampla e efetiva, seja no âmbito nacional,
visam responder às demandas e às vulnerabi- seja no âmbito internacional, dos direitos hu-

108 REVISTA BONIJURIS I ANO 35 I EDIÇÃO 685 I DEZ23/JAN24


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MEDIDAS ESTRUTURANTES E A PROTEÇÃO DE DIREITOS FUNDAMENTAIS

É necessária uma proteção mais ampla e efetiva dos direitos humanos


fundamentais dos povos indígenas no Brasil, seres “que apresentam uma longa
conexão com a região e o desejo de manter uma identidade distinta”

manos fundamentais dos povos indígenas no Em junho de 1995, o Estado da Nicarágua


Brasil: seres que dividem “uma experiência his- reconheceu um convênio firmado entre a em-
tórica, uma vulnerabilidade contingente, um presa Companhia Sol del Caribe S.A. (solcarsa)
deslocamento severo ou uma exploração se- e o Governo Regional de modo a permitir a ex-
vera; que apresentem uma longa conexão com ploração de madeira em terras que pertenciam
a região e o desejo de manter uma identidade à comunidade indígena Mayagna (Sumo) Awas
distinta”30. Tingni da Costa Atlântica de Nicarágua. Após o
Conforme destaca Norberto Bobbio, “o pro- processamento, a corte declarou a responsabi-
blema grave de nosso tempo, com relação aos lidade do Estado por violar o direito à proteção
direitos humanos, não é mais o de fundamen- judicial (cadh, art. 25) e o direito à propriedade
tá-los, e sim o de protegê-los”31. É necessário, (cadh, art. 21) dos membros da comunidade in-
portanto, que as funções essenciais à justiça dígena Awas Tingni.
busquem instrumentos adequados para essa Esse julgamento foi mencionado no Caso
proteção de modo a alterar essa situação de Raposa Serra do Sol, caracterizando, assim, o
constante violação aos direitos dos povos na- diálogo das cortes e a proteção de tais direitos
tivos, além da mera previsão em documentos no âmbito nacional, especificamente mediante
solenes, tais como o Pacto Internacional sobre a atuação do Supremo Tribunal Federal, a ser
Direitos Civis e Políticos, o Pacto Internacional apresentada a seguir.
sobre Direitos Econômicos, Sociais e Culturais,
a Convenção para a Eliminação da Discrimina- 4. O STF E O CASO RAPOSA SERRA
ção Racial, entre outros já citados: DO SOL: “CONDICIONANTES”,
[O] problema que temos diante de nós não é fi- “SALVAGUARDAS INSTITUCIONAIS” OU
losófico, mas jurídico e, num sentido amplo, po- “MEDIDAS ESTRUTURANTES”?
lítico. Não se trata de saber quais e quantos são
esses direitos, qual é a sua natureza e seu funda- O Caso Raposa Serra do Sol teve início com a
mento, se são direitos naturais ou históricos, ab- ação popular proposta por senador da repúbli-
solutos ou relativos, mas sim qual é o modo mais ca, Augusto Affonso Botelho Neto, que impug-
seguro para garanti-los, para impedir que, apesar
nou o modelo de demarcação contínua da Terra
das solenes declarações, eles sejam continuamen-
te violados.32 Indígena Raposa Serra do Sol, tendo sido julga-
da pelo stf por caracterizar conflito federativo
Como exemplo, no âmbito internacional, entre a União e o estado de Roraima.
destacamos a atuação da Corte Interamerica- Para o autor da demanda, a demarcação con-
na de Direitos Humanos ao julgar o Caso Awas tínua traria consequências negativas ao estado
Tingni vs. Nicarágua, o primeiro a envolver a de Roraima, de modo a comprometer a seguran-
relação entre as comunidades tradicionais e a ça e a soberania nacionais, a produção agrope-
propriedade de suas terras. cuária e a possibilidade de uma futura expan-
O tribunal internacional, ao analisar o direi- são de fronteira agrícola, com reflexos no nível
to de propriedade previsto no art. 21 da Conven- em empregabilidade e na oferta de alimentos.
ção Americana de Direitos Humanos, conferiu No mérito, requereu a declaração de nulidade
uma “interpretação evolutiva”33 para o disposi- da Portaria 534/0534 do Ministro da Justiça e do
tivo ao reconhecer que, além do direito à pro- Decreto de Homologação da Demarcação, de 15
priedade privada, o texto abrange a proteção da de abril de 2005.
propriedade comunal dos povos indígenas em De acordo com o ministro Gilmar Mendes,
suas peculiaridades. o Caso Raposa Serra do Sol é um dos mais difí-

110 REVISTA BONIJURIS I ANO 35 I EDIÇÃO 685 I DEZ23/JAN24


Vanessa Mascarenhas de Araújo DOUTRINA JURÍDICA

ceis e complexos já enfrentados pela corte em


toda a sua história, ao considerar que “os múl-
tiplos e diversificados fatores sociais envolvi-
dos numa imbricada teia de questões antropo-
lógicas, políticas e federativas”35 fizeram, desse Novo Divórcio
julgamento, um marco na jurisprudência cons-
titucional.
Brasileiro
A ação foi julgada parcialmente procedente Teoria e prática
pelo stf, declarando constitucional a demarca-
Inacio
nacio de Carvalho Neto
Net
ção contínua da Terra Indígena Raposa Serra do
Sol, de modo a determinar a retirada imediata
dos ocupantes não indígenas – no caso, fazen-
deiros, produtores de arroz; os que ocuparam
de boa-fé foram indenizados ou reassentados.
Neste julgado, foi consagrado o termo “cons-
titucionalismo fraternal ou solidário”, que
corresponde à concretização da igualdade ma-
terial ao assegurar aos povos indígenas um es-
paço fundiário propício à garantia dos meios
dignos de subsistência e, por conseguinte, à
afirmação e à preservação da identidade somá-
tica, linguística e cultural.
O ministro Menezes Direito, ao proferir o seu
voto-vista, foi favorável à demarcação contínua
das terras, cuja natureza é ato declaratório de
uma situação jurídica ativa preexistente, reco- Esta 15ª edição de uma obra
nhecendo os direitos dos povos indígenas como seminal no direito de família
direitos originários, isto é, “direito mais antigo conta com a nova legislação e
do que qualquer outro”36; contudo, apresentou a jurisprudência mais recente
condições a serem observadas para que o refe- sobre o tema. Comentários bem
rido ato fosse devidamente efetivo. Na verdade, fundamentados sobre a Lei da
tais condições foram denominadas como “con- Palmada, da Alienação Parental,
dicionantes” ou “salvaguardas”, entre elas: de Alimentos Gravídico e da
o usufruto dos índios não abrange o aproveitamen- Guarda Compartilhada.
to de recursos hídricos e potenciais energéticos, que
dependerá sempre de autorização do Congresso
Nacional; não abrange a garimpagem nem a faisca-
ção, devendo, se for o caso, ser obtida a permissão
de lavra garimpeira; não impede a instalação, pela Compre através do QR Code
União Federal, de equipamentos públicos, redes de
comunicação, estradas e vias de transporte, além
das construções necessárias à prestação de serviços
públicos pela União, especialmente os de saúde e
educação.37

Consideramos, aqui, que essas “condicionan-


tes” ou “salvaguardas institucionais” tiveram
41 3323 4020
como o principal fim criar uma simbiose38 en- 0800 645 4020
tre os direitos originários dos povos indígenas, livrariabonijuris.com.br
os interesses da União e a tutela do meio am-
biente.

REVISTA BONIJURIS I ANO 35 I EDIÇÃO 685 I DEZ23/JAN24 111


MEDIDAS ESTRUTURANTES E A PROTEÇÃO DE DIREITOS FUNDAMENTAIS

Para o ministro Roberto Barroso, “sem elas [as condicionantes], seria


impraticável pôr m ao conito existente na região. As salvaguardas foram
uma espécie de regime jurídico a ser seguido para a execução do decidido”

Tratam de normas decorrentes da interpre- bém entendido pelos ministros Marco Aurélio
tação do texto da Constituição da República Fe- e Joaquim Barbosa, para quem o stf traçou pa-
derativa do Brasil, especificamente dos arts. 231 râmetros alheios ao que foi proposto na ação
e 232; de elementos considerados pressupostos original45 ao estabelecer as chamadas condicio-
para o reconhecimento da demarcação válida nantes.
que decorreram do próprio sistema constitu- O ministro relator, Carlos Ayres Brito, elo-
cional, de modo a representar as “premissas do giou a solução encontrada pelo ministro Mene-
raciocínio jurídico desenvolvido pelo Supremo zes Direito, por “fugir um pouco [...] das técnicas
Tribunal para a solução do caso Raposa Serra tradicionais de comandos decisórios ou dispo-
do Sol”39. sições decisórias, com o propósito de deixar
Entendemos que as “condicionantes” ou “sal- clara a postura da Corte a respeito das questões
vaguardas institucionais”, assim denominadas ora suscitadas e prevenindo outras que possam
por juristas, possuem características ou corres- surgir em demarcações futuras”46.
pondem a um “apanágio”40 de um instrumento No mesmo sentido, a ministra Cármen Lúcia
técnico-jurídico conceituado, no seu conjunto, destacou que as condicionantes indicadas per-
medidas estruturantes, as chamadas structural mitiram a definição de como devem ser conci-
injunctions ou sctructural reform41. liadas, em princípio, as pretensões antagônicas,
De origem americana, com o julgamento do além de reconhecer que “de ordinário essa ta-
Caso Brown v. Board of Education of Topeka, refa compete ao legislador, mas, na ausência de
347 u.s. 483, no qual a Suprema Corte dos eua disposições claras sobre essas questões, coube
declarou a inconstitucionalidade da segrega- à Corte discorrer sobre o sentido das exigências
ção nas escolas públicas, em 17 de maio de 1954, constitucionais na matéria”47.
pode-se afirmar que, hoje, a essência das medi- Já para o ministro Roberto Barroso, “sem
das estruturantes encontra-se, exatamente, na elas, seria impraticável pôr fim ao conflito exis-
busca da simbiose, isto é, na busca de solucio- tente na região. As salvaguardas foram uma
nar conflitos mediante “tomada de iniciativas”42 espécie de regime jurídico a ser seguido para
que reflitam, além da mudança de uma deter- a execução do decidido, explicando o sistema
minada estrutura até então imposta por moti- constitucional incidente na matéria”48.
vo cultural, econômico, político ou legal, como Os referidos comentários acerca das condi-
a reforma estrutural para a desagregação racial cionantes ou salvaguardas institucionais aca-
nos eua43, a convivência entre as partes envol- bam por ressaltar algumas das peculiaridades
vidas ao efetivar direitos fundamentais postos das medidas estruturantes, configurando uma
em concreto. decisão atípica por não se tratar de um coman-
As semelhanças com as medidas estruturan- do único; por não estar a atuação do Poder
tes também foram verificadas a partir da lei- Judiciário condizente com o princípio da con-
tura, seja no seu aspecto negativo, seja no seu gruência ou da adstrição; por visar a ajustar
aspecto positivo, que juristas fizeram acerca comportamentos futuros no tocante ao proces-
das condicionantes constantes no dispositivo so demarcatório de terras indígenas. Contudo,
da decisão do Caso Raposa Serra do Sol e que não verificamos a totalidade das características
foram impugnadas por meio de embargos de atinentes a este instrumento técnico jurídico49,
declaração44. sobretudo no que diz respeito à imprescindível
Para a Procuradoria-Geral da República, o participação das partes50 diretamente ou indire-
stf extrapolou os limites da causa, assim tam- tamente afetadas com as medidas em questão.

112 REVISTA BONIJURIS I ANO 35 I EDIÇÃO 685 I DEZ23/JAN24


Vanessa Mascarenhas de Araújo DOUTRINA JURÍDICA

O estabelecimento de condicionantes pelo STF mostrou-se necessário


diante da omissão dos demais poderes competentes, prioritariamente,
para solução da questão do “choque de direitos constitucionais”

Conforme destaca Sérgio Cruz de Arenhart, vando a compressões e preferências”54. Entre


“somente com a mais completa satisfação do esses direitos constitucionais e fins públicos
contraditório pode-se ter a mais exata dimen- relevantes, destacam-se os direitos originários
são do problema – e das consequências da deci- dos povos indígenas, a soberania, a defesa e o
são judicial – e, assim, tomar a providência mais desenvolvimento nacional e a tutela do meio
adequada”51. ambiente.
A partir desta verificação, adotamos, então, o De acordo com o Conselho Indigenista Mis-
posicionamento de que essas condicionantes se sionário (cmi)55, após uma década dessa histó-
referem ao conteúdo da denominada decisão- rica decisão do stf, houve vários avanços nos
-núcleo, isto é, “primeira decisão, que se limitará aspectos cultural, social, ambiental, político e
a fixar em linhas gerais as diretrizes para a pro- econômico na região.
teção do direito a ser tutelado, criando o núcleo Os povos indígenas organizaram-se para a
da posição jurisdicional sobre o problema a ele produção e comercialização na Raposa Serra do
levado”52. Nesta, o Poder Judiciário consigna a Sol, com destaque para o Plano de Gestão Terri-
“primeira impressão” no que tange às necessi- torial e Ambiental das Terras Indígenas (pgta)
dades da efetiva tutela jurisdicional, o que acar- e para a autonomia de decisão, produzindo de
retará, forçosamente, em decisões posteriores forma consciente e sustentável.
para problemas e questões pontuais surgidas Criou-se um ambiente mais favorável para a
ao implementar a decisão-núcleo ou para es- elaboração dos planos comunitários de manejo
pecificar algum procedimento mais adequado ambiental e territorial, de acordo com os cos-
à solução do caso53 com a participação efetiva tumes, crenças e tradições de cada povo, com
das partes. o auxílio de órgãos públicos, instituições e en-
No caso em análise, o estabelecimento tidades da sociedade civil. Ainda, por iniciativa
dessas condicionantes pelo stf mostrou-se do Tribunal de Justiça do Estado de Roraima e
necessário diante da omissão dos demais po- com o apoio do stf, foi inaugurado o primeiro
deres competentes, prioritariamente, para polo indígena do Centro Judiciário de Solução
solução da questão e do “choque de direitos de Conflitos e Cidadania (cejusc), na comuni-
constitucionais e fins públicos relevantes, le- dade do Maturuca.

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REVISTA BONIJURIS I ANO 35 I EDIÇÃO 685 I DEZ23/JAN24 113


MEDIDAS ESTRUTURANTES E A PROTEÇÃO DE DIREITOS FUNDAMENTAIS

Enquanto o julgamento do Caso Raposa Serra do Sol estava sendo


encerrado em 2009, nesse mesmo ano, especicamente em janeiro,
a reserva foi invadida por aproximadamente 100 indígenas

No momento presente, os olhos voltaram-se janeiro, alega a autora que a Reserva Biológica
ao conflito instaurado no sul do país. Sassafrás foi invadida por aproximadamente
Retomou-se a discussão das teses do indige- cem indígenas; e que, em 2006, também tinha
nato e do marco temporal, no stf, a partir do sido invadida; contudo, a ação da Polícia Militar
Recurso Extraordinário 1.017.365/sc com reper- de Santa Catarina proporcionou a desocupação
cussão geral reconhecida. Cabe verificarmos, e a apreensão de motosserras – que estavam
agora, se há semelhanças nos julgados, aqui, sem registro – utilizadas pelos indígenas. Por
analisados, sobretudo quanto à adoção das con- outro lado, a funai argumentou que a terra ob-
dicionantes e se podemos, também, tratá-las jeto de litígio caracteriza-se por ser de ocupação
como integrantes da decisão-núcleo. imemorial dos indígenas das etnias Xokleng e
Guarani, com base em documentos históricos,
5. O STF E O RECURSO EXTRAORDINÁRIO etnográficos, arqueológicos e antropológicos,
1.017.365/SC: POSSÍVEL EMBASAMENTO que relatam essa ocupação e os maus-tratos
A PARTIR DA DECISÃO DO CASO RAPOSA que sofreram ao longo da história.
SERRA DO SOL A “Portaria 1.128/03 do Ministro de Estado da
Os argumentos apresentados pelos ministros Justiça” formaliza os atos de demarcação da Re-
da suprema corte em torno do re 1.017.365/sc, serva Indígena Ibirama-La Klãnõ. Na ação cível
majoritariamente56, não se voltaram, especifi- 1.100, ajuizada contra a União e a funai, a vali-
camente, ao caso que o originou. De fato, o tema dade do mencionado ato administrativo e dos
1.031 tratou em definir o estatuto jurídico-cons- demais correlatos que ratificam a demarcação
titucional das relações de posse das áreas de está sendo analisada.
tradicional ocupação indígena à luz das regras Baseando-se nas provas apresentadas nos
dispostas no artigo 231 do texto constitucional. autos, como fotografias58, o juízo federal con-
Contudo, compartilhando das interferências firmou a decisão liminar, julgando procedente
do ministro Luís Roberto Barroso ao destacar o pedido, no sentido de, a depender da situação
a importância de se ater ao caso concreto, bem fática no momento da prolação da sentença,
como a fim de verificarmos se há possibilidade reintegrar a autora na posse do imóvel rural,
de a decisão do stf no Caso Raposa Serra do Sol matriculado sob o n. 12.266 no Registro de Imó-
embasar o julgamento do Recurso Extraordi- veis da Comarca de Itaiólopis/sc.
nário 1.017.365/sc, é necessário, primeiramente, Ademais, ressaltou que a Reserva Biológica Es-
explanar o conflito que o originou57. tadual do Sassafrás é legalmente destinada à pre-
Trata-se de ação de reintegração de posse servação ambiental, tendo sido qualificada como
ajuizada pela Fundação do Meio Ambiente (fat- “Unidade de Conservação de Proteção Integral”.
ma) do Estado de Santa Catarina em face dos Embasando-se na Lei 9.985, de 18 de julho de
povos indígenas, da União e da Fundação Na- 2000, que instituiu o Sistema Nacional de Uni-
cional do Índio. O motivo da demanda encon- dades de Conservação da Natureza, constituído
tra-se na alegada invasão dos povos indígenas pelo conjunto das unidades de conservação fe-
na Reserva Estadual Biológica do Sassafrás, derais, estaduais e municipais, o juízo destacou
unidade de conservação integral, criada por na sentença o art. 10:
meio do Decreto Estadual 2.221/97. Art. 10. A Reserva Biológica tem como objetivo a
Enquanto o julgamento do Caso Raposa preservação integral da biota e demais atributos na-
turais existentes em seus limites, sem interferência
Serra do Sol estava sendo encerrado no ano de humana direta ou modificações ambientais, excetu-
2009, nesse mesmo ano, especificamente, em ando-se as medidas de recuperação de seus ecossis-

114 REVISTA BONIJURIS I ANO 35 I EDIÇÃO 685 I DEZ23/JAN24


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MEDIDAS ESTRUTURANTES E A PROTEÇÃO DE DIREITOS FUNDAMENTAIS

À luz do sistema legal há uma prioridade do legislador no tocante à tutela


efetiva dos direitos [dos povos indígenas], qual seja, a tutela do meio ambiente,
com a preservação da unidade de conservação, e da proteção integral

temas alterados e as ações de manejo necessárias Contudo, na mesma área, também há regis-
para recuperar e preservar o equilíbrio natural, a
diversidade biológica e os processos ecológicos na-
tro de demarcação da Terra Indígena (ti) Ibi-
turais. rama-La Klãnõ, declarada mediante a Portaria
§ 1º. A Reserva Biológica é de posse e domínio pú- 1.128/03, tendo o seu procedimento iniciado no
blicos, sendo que as áreas particulares incluídas em
seus limites serão desapropriadas, de acordo com o ano de 199661.
que dispõe a lei. As fases do processo de demarcação, com
§ 2º. É proibida a visitação pública, exceto aquela respaldo no art. 231 da crfb/88 e no Decreto
com objetivo educacional, de acordo com regula-
mento específico. § 3º A pesquisa científica depen- 1.775/66, correspondem basicamente aos (i) es-
de de autorização prévia do órgão responsável pela tudos de identificação mediante trabalho do
administração da unidade e está sujeita às condi- antropólogo/grupo técnico especializado no-
ções e restrições por este estabelecidas, bem como
àquelas previstas em regulamento. meado pela funai; (ii) aprovação do relatório
do estudo antropológico pela presidência da
De fato, conforme dispõe o art. 22 da referida funai, que, em 15 dias, fará com que seja publi-
lei, a unidade de conservação (uc) é criada por cado; (iii) manifestação das partes interessadas
ato do poder público; e, ao tratar das populações pelo prazo de até 90 dias após a publicação do
tradicionais, a lei estabelece regras atinentes ao relatório; (iv) declaração dos limites da área e
tratamento a ser dado aos povos que necessitam determinação da demarcação física ou desa-
utilizar os recursos naturais que se encontram provação pelo ministro da justiça em 30 dias;
no interior da uc, ou que a ocupam, havendo ca- (v) promoção da demarcação física pela funai,
pítulo específico que trata do reassentamento dentro dos limites declarados pelo ministro da
das populações tradicionais que se encontram justiça; (vi) submissão à Presidência da Repú-
nas respectivas unidades de conservação. blica para homologação por decreto; e, por fim,
Portanto, à luz do sistema legal apresentado, (vii) a terra demarcada e homologada, em até
há uma prioridade do legislador no tocante à 30 dias após a homologação, será registrada no
tutela efetiva dos direitos em questão, qual seja, cartório de imóveis da comarca corresponden-
a tutela do meio ambiente, com a preservação te e na Secretaria de Patrimônio da União (spu).
da unidade de conservação, sobretudo, de pro- De acordo com o Instituto Socioambiental
teção integral, em detrimento de uma proteção (isa), há 2.057 pessoas que vivem nesta ti, espe-
efetiva dos direitos dos povos originários. cificamente os povos indígenas Guarani, Kain-
No caso analisado, o Decreto Estadual 2.221/77, gang e Xokleng62. Contudo, o Poder Judiciário
publicado no dia 7, criou a Reserva Biológica de de sc, nas duas instâncias, decidiu de forma
Sassafrás, com a área de 50.436.413,00 m2. O sas- contrária aos interesses dos povos tradicionais,
safrás é considerado uma essência florestal já na não considerando a terra indígena, mas sim a
fronteira da extinção de genótipos altamente reserva ecológica do estado de sc, com base na
necessários à criação de variedades melhoradas tese do marco temporal, isto é, não reconhece-
para reposição florestal em Santa Catarina59. En- ram a presença dos indígenas na área em con-
contra-se em uma zona de transição entre a Flo- flito em 5 de outubro de 1988.
resta Ombrófila Densa e a Floresta Ombrófila Também no estado de Santa Catarina63, a
Mista, que a torna uma região rica em biodiver- Justiça Federal anulou a portaria da União –
sidade e apresenta diversas espécies ameaçadas, Portaria 790 do Ministério da Justiça, que criou,
como xadim-bugio (Dicksonia sellowiana), cane- em 2007, uma área indígena de 2,7 mil hectares
la-preta (Ocotea catharinensis), imbuia (Ocotea entre os municípios de Saudades e Cunha Porã,
porosa) e a canela-sassafrás (Ocotea odoriiera)60. no oeste de sc. O trf4 acolheu os argumentos

116 REVISTA BONIJURIS I ANO 35 I EDIÇÃO 685 I DEZ23/JAN24


Vanessa Mascarenhas de Araújo DOUTRINA JURÍDICA

apresentados pela Procuradoria-Geral do Esta-


do (pge) junto com os agricultores detentores
de títulos de propriedade no local, de modo a re-
formar a deliberação de 2012, do mesmo tribu-
nal, que reconhecia a Reserva Indígena Araçaí.
Segundo a Justiça Federal, a demarcação da
ti implicaria a saída do local de 131 famílias de
pequenos agricultores, que trabalham em re- MOR AR
R EM CO
ONDDOMÍNIO
gime de subsistência, totalizando 417 pessoas.
Ademais, destacou que as terras em discussão
GAR
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não eram ocupadas pelos povos indígenas des- GAR
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de 1963 e que, em 5 de outubro de 1988, a área não TER
R MU
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TO MAAIS
S
era objeto de litígio e não estava judicializada.
Acolhendo o entendimento da pge, afirmou
que as poucas famílias indígenas que viviam na qualiddade
área até 1962 não constituíam uma aldeia, onde
se cultuava e se preservava a cultura indíge- de vid
da.
na, mas, sim, eram pequenos agricultores, sem
qualquer vínculo com a manutenção das tradi-
ções dos povos indígenas.
Esse caso guarda mais semelhança com o
Caso Raposa Serra do Sol, uma vez que o con-
flito envolveu interesses divergentes, apresen-
tados, de um lado, pelos povos indígenas, de ou-
tro, pelos agricultores, fazendeiros, produtores.
Já o caso atual envolve interesses apresentados
pelos povos indígenas e pelo estado de sc, mas,
aqui, não consideramos interesses divergentes
na substância, sendo essa representada pela
proteção e preservação do meio ambiente em
todos os seus aspectos, notadamente, o natural
ou físico, constituído pela atmosfera, pelos ele-
mentos da biosfera, pelas águas, pelo solo, pelo
subsolo, fauna e floras; e o cultural, que traduz a
história de um povo, a sua formação e tradições.
O equilíbrio do meio ambiente é um dos fato-
res determinantes para que todos possam viver
e sobreviver dignamente, sendo dever não só
do Estado, mas, também, da sociedade, garanti-
-lo, sempre visando a um desenvolvimento sus-
tentável da nação presente e futura.
Conforme declara a Declaração da Confe-
rência das onu no Ambiente Humano, produ-
to da Conferência das Nações Unidas sobre o
Meio Ambiente Humano, realizada em Estocol- 12 3346 3819
mo nos dias 5 a 16 de julho de 1972, “o homem 12 98123 0083
é ao mesmo tempo obra e construtor do meio garantesaojose.com.br
ambiente que o cerca, o qual lhe dá sustento
material e lhe oferece oportunidade para de-

REVISTA BONIJURIS I ANO 35 I EDIÇÃO 685 I DEZ23/JAN24 117


MEDIDAS ESTRUTURANTES E A PROTEÇÃO DE DIREITOS FUNDAMENTAIS

A Constituição eliminou qualquer pretensão particular sobre terras indígenas,


considerando nulos e extintos, sem produzir efeitos jurídicos, os atos que
tenham como objeto a ocupação, o domínio e a posse dessas terras

senvolver-se intelectual, moral, social e espiri- medidas essas que foram extraídas do texto
tualmente”64. constitucional para a manutenção da demarca-
Quando se trata dos povos indígenas, esse ção homologada pelo governo federal.
conceito que se refere ao “homem” torna-se No caso instaurado na região Sul do país, a
mais ainda evidente e traduz a importância da aplicação dessas medidas será para a convivên-
sua relação com a terra indígena, notadamente cia harmônica dos interesses dos povos indíge-
quanto ao desenvolvimento intelectual, moral, nas, que têm como norte a salvaguarda da vida,
social e espiritual. das condições de sobrevivência, respaldando o
As terras dos povos originários perpassam meio ambiente cultural, e dos interesses dos ór-
aquelas terras habitadas no sentido de mo- gãos ambientais do estado de sc, substancian-
radia ou desenvolvimento econômico; elas se do o meio ambiente natural.
referem, sobretudo, àquelas necessárias para Uma das peculiaridades das medidas estrutu-
a reprodução física, social, cultural dos povos rantes é que não há um vencedor e um perdedor.
indígenas. É necessário o diálogo, além de aprovar medidas
A Constituição da República Federativa do que visem à solução efetiva, adequada e justa,
Brasil de 1988 eliminou qualquer pretensão quando se verifica que as partes envolvidas le-
particular sobre terras indígenas, considerando vam ao judiciário direitos e interesses constitu-
nulos e extintos, sem produzir efeitos jurídicos, cionais. Mais do que serem caracterizados como
os atos que tenham como objeto a ocupação, o constitucionais, eles são fundamentais.
domínio e a posse dessas terras ou a exploração De modo a não corresponder ao pamprin-
das riquezas naturais do solo, dos rios e dos la- cipiologismo, o qual, nas palavras de Lênio
gos ali situadas; constatando a boa-fé do não Streck, consiste em um álibi para decisões que
indígena, caberá indenização quanto às benfei- ultrapassam os próprios limites semânticos do
torias ali realizadas. texto constitucional68 – tampouco, ao ativismo
Quanto à tese do marco temporal fixado no judicial, que, como destaca George Abboud,
julgamento no Caso Raposa Serra do Sol, não corresponde à atuação pautada em convicções
consideramos ser a adequada para ser aplicada pessoais, ou no senso de justiça do intérprete,
no caso atual, a ser julgado no stf, e, consequen- contrariando a legitimidade do sistema jurídi-
temente, nos demais casos semelhantes. co69 – o stf deve estabelecer medidas estrutu-
À luz do princípio hermenêutico da máxima rantes por meio do diálogo institucional e do
efetividade da Constituição65, compartilhamos diálogo intercultural.
do entendimento de que o reconhecimento da As medidas estruturantes seriam responsá-
originalidade do direito às terras indígenas tem veis por orientar as atividades tanto dos povos
fundamento na teoria do indigenato66; trata-se indígenas, organizações e afins quanto as dos
de um direito anterior a todos os demais reco- órgãos ambientais do estado de sc, visando à
nhecidos pelo ordenamento jurídico: “o título dos proteção e preservação do meio ambiente eco-
índios sobre suas terras é um título originário, logicamente equilibrado, seja no seu aspecto
que decorre do simples fato de serem índios”67. natural, seja no seu aspecto cultural.
Contudo, a referida tese não se pode aplicar
isoladamente. Faz-se necessário o estabeleci- CONSIDERAÇÕES FINAIS
mento das condicionantes, salvaguardas, medi- Seja na região Norte, seja na região Sul, os po-
das estruturantes, nesse aspecto, baseando-se vos indígenas e toda a sua riqueza cultural ain-
no julgamento do Caso Raposa Serra do Sol; da estão presentes nas terras brasileiras; outro-

118 REVISTA BONIJURIS I ANO 35 I EDIÇÃO 685 I DEZ23/JAN24


Vanessa Mascarenhas de Araújo DOUTRINA JURÍDICA

ra, terra brasilis, terra dos índios. Os casos que competência recursal, com fixação de tese com
foram, aqui, apresentados ratificam uma das repercussão geral. Portanto, diferente das condi-
principais peculiaridades desses povos: tradi- cionantes do Caso Raposa Serra do Sol, que ser-
cionalidade. viram como orientação com caráter flexível para
Verificamos que o conflito atual instaurado os procedimentos demarcatórios e que, aqui, as-
no estado de Santa Catarina gira em torno de sociamos a uma decisão-núcleo, a tese firmada
uma área, até então, amparada pelo Decreto deve ser aplicada pelos juízos e tribunais em ca-
Estadual 2.221/77, que criou a Reserva Estadu- sos idênticos, não a um caso análogo70.
al Biológica do Sassafrás, local de preservação Não é suficiente, portanto, a aplicação da
onde a visitação é restrita, mas também ampa- atual tese fixada para a solução de todos os
rada pela Portaria 1.128/03, que demarca a Re- conflitos que ocorrem e que venham a ocorrer
serva Indígena Ibirama-La Klãnõ. em torno das terras indígenas, o que abrange
Já no Caso Raposa Serra do Sol, tratava-se de diferentes circunstâncias fáticas e interesses
uma área demarcada, amparada pela Portaria amparados na Constituição, incluindo o rele-
534 e homologada pela Presidência da Repú- vante interesse público da União, questões da
blica em 15 de abril de 2005; contudo, a referida exploração dos recursos hídricos e energéticos,
área foi invadida por não indígenas, fazendeiros da pesquisa e da lavra das riquezas minerais e
e produtores de arroz, visando a fins econômi- outros pontos previstos nos parágrafos do ar-
cos, de produção e desenvolvimento da região. tigo 231 da crfb/1988, pontos esses que foram
Nos debates de ambos os julgados foi veri- trazidos nas condicionantes do Caso Raposa
ficada a necessidade de não somente definir a Serra do Sol.
tese do indigenato ou a tese do marco temporal, Dessa forma, o Poder Judiciário deve apli-
mas, também, o propósito de estabelecer dire- car a tese firmada, mas desde que se observe
trizes para efetivar o procedimento de demar- a efetividade do diálogo entre as partes envol-
cação das terras indígenas e lidar com a prote- vidas e interessadas na solução do conflito, a
ção dos demais direitos também amparados na implementação de medidas estruturantes que
Constituição. venham a fortalecer o cenário que comporte
Enquanto, no caso do norte do país, a atuação a proteção não só dos direitos originários dos
do stf deu-se em sua competência ordinária, povos tradicionais, mas, também, dos demais
com a prolação de decisão sem efeito vinculan- direitos constitucionais fundamentais, quando
te e, portanto, não se estendendo, obrigatoria- conciliáveis no caso concreto levado ao juízo,
mente, a outros litígios que envolviam terras notadamente nos casos não idênticos ao que
indígenas, no caso do sul, a atuação deu-se na originou a tese. 

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MEDIDAS ESTRUTURANTES E A PROTEÇÃO DE DIREITOS FUNDAMENTAIS

NOTAS
1. Segundo o Ministro Roberto Barroso, relator único – 6. ed. Reform. São Paulo: Saraiva, 2002, (NDI). Disponível na obra “Os direitos indígenas
dos embargos de declaração no Caso Raposa p. 198), entende-se por guerra justa a guerra e a constituição”. Porto Alegre, 1993, p. 232
Serra do Sol, embora a decisão não tenha efeitos contra os indígenas, autorizada pelo governo 26. Este Decreto foi revogado pelo Decreto
vinculantes em sentido formal, o acórdão desse português ou seus representantes, justificada, 10.088/19.
caso ostenta a força moral e persuasiva de uma basicamente, nos casos em que os indígenas 27. Cf. IKAWA, Daniela. Direito dos povos indí-
decisão da mais alta Corte do País, do que de- (que eram politeístas) se recusavam à conver- genas. In: SARMENTO, Daniel; IKAWA, Daniela;
corre um elevado ônus argumentativo nos casos são à fé cristã – imposta pelos colonizadores PIOVESAN, Flávia (coords.). Igualdade, diferen-
em que se cogite de superação das suas razões. – ou impediam a divulgação dessa religião, ça e direitos humanos. Rio de Janeiro: Lumen
2. RE 219.983-3/98. Informação disponível quebravam acordos ou agiam com hostilidade Juris, 2008, p. 509.
em: https://www.conjur.com.br/ 2021-ago-30/ contra os portugueses. 28. Embora não sejam específicos no que se
opiniao-julgamento- historico- povos-indige- 10. COTRIM, Gilberto. História global: Brasil e refere à matéria indígena, tratados podem ser
nas -parte2#:~:text= Em%201993%2C%20 Geral – volume único – 6. ed. Reform. São Pau- invocados pelos povos indígenas, em especial:
no%20julgamento%20do,j%C3%A1%20 lo: Saraiva, 2002, p. 199. o Pacto Internacional sobre Direitos Civis e
na%20d%C3%A9cada%20de%201910. Aces- 11. COTRIM, Gilberto. História global: Brasil e Políticos (art. 27 dispõe sobre os direitos das
so em: 28 jul. 2023. geral – volume único – 6. ed. Reform. São Pau- minorias étnicas) e o Pacto Internacional sobre
3. Repercussão geral no recurso extraordiná- lo: Saraiva, 2002, p. 200. Direitos Econômicos, Sociais e Culturais.
rio n.º 1.017.365/SC, Plenário, 21/02/2019: “É 12. ANTUNES, Paulo de Bessa. Direito ambien- 29. IKAWA, Daniela. Direito dos povos indíge-
dotada de repercussão geral a questão cons- tal. 20 ed., ver. E atual. Rio de Janeiro: Lumen- nas. In: SARMENTO, Daniel; IKAWA, Daniela;
titucional referente à definição do estatuto Juris, 2015, p. 1096. PIOVESAN, Flávia (coords.). Igualdade, diferen-
jurídico constitucional das relações de posse 13. ANTUNES, Paulo de Bessa. Direito ambien- ça e direitos humanos. Rio de Janeiro: Lumen
das áreas de tradicional ocupação indígena à tal. 20 ed., ver. E atual. Rio de Janeiro: Lumen- Juris, 2008, p. 509.
luz das regras dispostas no artigo 231 do texto Juris, 2015, p. 1097. 30. IKAWA, Daniela. Direito dos povos indíge-
constitucional. Repercussão geral da questão 14. PORTELA, Paulo Henrique Gonçalves. Di- nas. In: SARMENTO, Daniel; IKAWA, Daniela;
constitucional reconhecida.” reito Internacional público e privado. Salvador: PIOVESAN, Flávia (coords.). Igualdade, diferen-
4. Ver ARENHART, Sérgio Cruz. Decisões estru- JusPodivm, 2021, p. 60-63. ça e direitos humanos. Rio de Janeiro: Lumen
turais no direito processual civil brasileiro. Re- 15. PORTELA, Paulo Henrique Gonçalves. Di- Juris, 2008, p. 497.
vista de Processo, v. 38, n. 225, p. 389-410, nov. reito Internacional público e privado. Salvador: 31. BOBBIO, Norberto. Era dos direitos. Tradu-
2013; FERRARO, Marcella Pereira. Do processo JusPodivm, 2021, p. 63. ção de Carlos Nelson Coutinho. Rio de Janeiro:
bipolar a um processo coletivo estrutural. 2015. 16. ANTUNES, Paulo de Bessa. Direito ambien- Campus, 1992, p. 25.
Dissertação (Mestrado em Direito) – Faculda- tal. 20 ed., ver. E atual. Rio de Janeiro: Lumen- 32. BOBBIO, Norberto. Era dos direitos. Tradu-
de de Direito, Universidade Federal do Paraná, Juris, 2015, p. 1097. ção de Carlos Nelson Coutinho. Rio de Janeiro:
Curitiba, 2015; JOBIM, Marco Félix. As medi- 17. De acordo com o artigo 8º da Convenção Campus, 1992, p. 25.
das estruturantes na jurisdição constitucional: 169 da OIT, ao aplicar a legislação nacional aos 33. Nesse sentido, decidiu a Corte Interame-
da Suprema Corte estadunidense ao Supremo povos interessados, devem ser levados em con- ricana de Direitos Humanos: “Através de uma
Tribunal Federal. 3 ed. Porto Alegre: Livraria do sideração seus costumes ou seu direito consue- interpretação restritiva dos direitos, esta Corte
Advogado, 2022.; DIDIER JR., Fredie; ZANETI tudinário, respeitando-se os direitos humanos considera que o artigo 21 da Convenção pro-
JR., Hermes; OLIVEIRA, Rafael Alexandria. Notas nacional e internacionalmente reconhecidos. tege o direito à propriedade num sentido que
sobre as decisões estruturantes. In: ARENHART, 18. LACERDA, Roseane. Os povos indígenas e compreende, entre outros, os direitos dos mem-
Sérgio Cruz; JOBIM, Marco Félix (Org.). Proces- a constituinte. Brasília: CIMI – Conselho Indige- bros das comunidades indígenas no contexto da
sos estruturais. 2ª ed. Salvador: Juspodivm, 2019; nista Missionário, 2008, p. 28. propriedade comunal, a qual também está reco-
DIDIER JR., Fredie; ZANETI, Hermes; OLIVEIRA, 19. ANTUNES, Paulo de Bessa. Direito ambien- nhecida na Constituição Política da Nicarágua.”
Rafael Alexandria. Elementos para uma teoria tal. 20 ed., ver. E atual. Rio de Janeiro: Lumen- 34. A Portaria n.º 534, do Ministério da Justi-
do processo estrutural aplicada. In Processos Juris, 2015, p. 1110. ça, demarcou a área de 1,7 milhão de hectares
Estruturais (Coords: Sergio Cruz Arenhart e Mar- 20. LACERDA, Roseane. Os povos indígenas e como Terra Indígena Raposa Serra do Sol, em
co Félix Jobim), 4. ed. ver., atual. e ampl. – São a constituinte. Brasília: CIMI – Conselho Indige- Roraima. Trata-se de uma área que abriga 194
Paulo: Juspodivm, 2022; ARENHART, Sérgio Cruz; nista Missionário, 2008, p. 29. comunidades com uma população de cerca de
OSNA, Gustavo; JOBIM, Marco Félix. Curso de 21. Cf. SILVA apud ANTUNES, Paulo de Bessa. 19 mil indígenas dos povos Macuxi, Taurepang,
Processo Estrutural. São Paulo: Thomson Reuters Direito ambiental. 20 ed., ver. E atual. Rio de Patamona, Ingaricó e Wapichana.
Brasil, 2021; MARÇAL, Felipe Barreto. Processos Janeiro: LumenJuris, 2015, p. 1099. 35. Cf. https://www.conjur.com.br/dl/parecer-a-
estruturantes. 1. ed. Salvador: Juspodivm, 2021. 22. Cf. CIMI. Porantim, Brasília, ano XI, nº 110, gu-raposa-serra-sol.pdf. Acesso em: 24 dez. 2022.
5. CAMINHA, Pero Vaz de. A Carta, de Pero Vaz jul. ago. 1988; p. 2 apud Lacerda, 2008, p. 141. 36. Cf. RAMOS, André de Carvalho. Curso de
de Caminha. Disponível em http://objdigital. 23. LEITÃO, Ana Valéria Nascimento Araújo. Di- direitos humanos. 9 ed. São Paulo: SaraivaJur,
bn.br/Acervo_Digital/Livros_eletronicos/carta. reitos culturais dos povos indígenas – aspectos 2022, p. 1081.
pdf Acesso em: dezembro de 2018. do seu reconhecimento. Assessora jurídica do 37. Ver https://portal.stf.jus.br/noticias/verNo-
6. Conforme destaca André de Carvalho Ra- Núcleo de Direitos Indígenas (NDI). Disponível ticiaDetalhe.asp?idConteudo=105036
mos, o termo “índios”, para denominar os na obra “Os direitos indígenas e a constitui- 38. O termo simbiose foi utilizado, pela primei-
habitantes originários das Américas, é fruto ção”. Porto Alegre, 1993, p. 230. ra vez, por Anton Bary, em 1879, para se referir
da equivocada crença de Cristóvão Colombo, 24. A ideologia integracionista, também co- a uma relação na qual indivíduos de espécies
que, ao chegar ao Caribe, em 1492, imaginou nhecida como indigenista, conforme aponta diferentes vivem juntos em uma associação ín-
ter encontrado a Índia por nova rota maríti- Ikawa (2008, p. 517), vigorou nos anos de tima. Significa “viver junto”; é usado para fazer
ma, pelo Oceano Atlântico. A denominação foi 1940 aos anos de 1970, tendo nascido com o referência a uma associação íntima estabeleci-
mantida pelos europeus para todos os grupos Primeiro Congresso Indigenista Interamericano da entre seres de espécies diferentes; relações
de ascendência pré-colombiana, mesmo após organizado em Pátzcuaro, no México, em 1940. onde há benefício mútuo.
terem se convencido de que se tratava de outro Tal ideologia refletiu-se internacionalmente 39. Cf. BAURMANN, Desirê. Structural injuc-
continente e mesmo diante da diversidade das na Convenção OIT n.º 107 de 1957, com dois tions no Direito norte-americano. Processos
comunidades entre si. enfoques diversos: o culturalista, que alocava Estruturais. Sérgio Cruz Arenhart e Marco Fé-
7. ANTUNES, Paulo de Bessa. Direito ambien- a cultura indígena como inferior a uma cultu- lix Jobim (coord.). 1ª ed. Juspodivm: Salvador,
tal. 20 ed. ver. E atual. Rio de Janeiro: LumenJu- ra nacional; e o estruturalista, que abordava o 2017, p. 282.
ris, 2015, p. 1095. “problema indígena” como uma questão socio- 40. Cf. DIDIER JR., Fredie; ZANETI, Hermes;
8. COTRIM, Gilberto. História global: Brasil e econômica e não como uma questão cultural. OLIVEIRA, Rafael Alexandria. Elementos para
geral – volume único – 6. ed. Reform. São Pau- 25. OLIVEIRA, 1985 apud LEITÃO, Ana Valéria uma teoria do processo estrutural aplicada. In
lo: Saraiva, 2002, p. 197. Nascimento Araújo. Direitos culturais dos povos Processos Estruturais (Coords: Sergio Cruz Are-
9. De acordo com Cotrim (In: COTRIM, Gil- indígenas – aspectos do seu reconhecimento. As- nhart e Marco Félix Jobim), 4. ed. ver., atual. e
berto. História Global: Brasil e Geral – volume sessora jurídica do Núcleo de Direitos Indígenas ampl. – São Paulo: Juspodivm, 2022, p. 467.

120 REVISTA BONIJURIS I ANO 35 I EDIÇÃO 685 I DEZ23/JAN24


Vanessa Mascarenhas de Araújo DOUTRINA JURÍDICA

41. Cf. Professor da Universidade de Yale, Owen 49. Cherles Pachciarek Frajdenberg não compar- 60. Cf. ISA. Instituto do Meio Ambiente. Bio-
Fiss. Tradução utilizada por Marco Félix Jobim tilha do entendimento de que as condicionantes diversidade. Unidades de Conservação Reserva
na sua tese de doutorado em Teoria Geral da do Caso Raposa Serra do Sol são medidas estrutu- Biológica Estadual do Sassafrás. Disponível em:
Jurisdição e Processo – Pontifícia Universidade rantes. Ele parte do conceito de que as “medidas /index.php/biodiversidade/unidades-de-conser-
Católica do Rio Grande do Sul, Rio Grande do estruturantes de natureza prospectiva para alte- vação. Acesso em: 29 dez. 2022.
Sul, 2012: As medidas estruturantes e a legitimi- ração de uma realidade, adotadas pela Suprema 61. Cf. Histórico jurídico da TI Ibirama-La Klãnõ
dade democrática do Supremo Tribunal Federal Corte, são aquelas que inauguram uma fase de – Atos Normativos. Terra Indígena Ibirama-La
para sua implementação. Também nesse sentido: monitoramento, que estão umbilicalmente liga- Klãnõ. Terras Indígenas no Brasil. Disponível em:
Humberto Dalla Bernardina de Pinho e Victor das à necessidade de supervisionamento do pla- terrasindigenas.org.br. Acesso em: 28 dez. 2022.
Augusto Passos Villani Côrtes (In As medidas es- no de ação de superação de falhas estruturais”; 62. Cf. Terra Indígena Ibirama-La Klãnõ. Terras
truturantes e a efetividade das decisões judiciais portanto, “medidas determinadas pelo STF que Indígenas no Brasil. Disponível em: terrasindi-
no ordenamento jurídico brasileiro. Processos Es- não implicam o surgimento dessa fase continuati- genas.org.br.
truturais (Coords: Sergio Cruz Arenhart e Marco va não podem ser enquadradas como de natureza 63. In: Disponível em: https://www.pge.sc.gov.
Félix Jobim), 1ª Ed., Salvador: Juspodivm, 2017). estrutural” (In A efetivação de medidas estrutu- br/ noticias/ justica-anula-a- criacao-de-re-
42. Cf. BAURMANN, Desirê. Structural injuc- rantes pelo Supremo Tribunal Federal em proces- serva- indigena-no-oeste- de-santa-catarina/.
tions no Direito norte-americano. Processos sos de competência originária. Dissertação (Mes- Acesso em: 28 dez. 2022.
Estruturais. Sérgio Cruz Arenhart e Marco Fé- trado) – Universidade Nove de Julho – UNINOVE, 64. Declaração da Conferência de ONU no Am-
lix Jobim (coord.). 1ª ed. Juspodivm: Salvador, São Paulo, 2022, p. 55). Ainda, o autor compar- biente Humano, Estocolmo, 1972.
2017, p. 281. tilha com o entendimento de Edilson Vitorelli no 65. Conforme destaca Dirley da Cunha Júnior
43. Conforme aponta Edilson Vitorelli (In Pro- sentido de que “não se pode confundir medidas (In: CUNHA JÚNIOR, Dirley da. Curso de direito
cesso Civil Estrutural: teoria e prática, 3 ed., judiciais para esclarecimentos interpretativos do constitucional – 17. ed. rev. ampl. e atual. Sal-
ver., atual. E ampl. – São Paulo: Editora Juspo- alcance de decisões judiciais com medidas judi- vador: Juspodivm, 2023, p. 226), o princípio da
divm, 2022, p. 437), a reforma estrutural para a ciais que definam um plano de reestruturação máxima efetividade ou da interpretação efetiva
desagregação racial nos Estados Unidos durou prospectivo para mudança da realidade de uma orienta o intérprete a atribuir o sentido que
décadas e há evidências de que, cinquenta anos estrutura complexa falha” (Ibidem). maior efetividade lhe dê, visando (sic) otimizar
depois, não esteja totalmente concluída; mais 50. Como destaca Marcella Pereira Ferraro, no ou maximizar a norma para dela extrair todas
do que produzir uma decisão impactante, o que âmbito do processo estrutural, “a participação as suas potencialidades.
se exige do processo estrutural é a entrega de tem de ser ampla, possibilitando a presença de 66. Tese idealizada pelo ministro e jurisconsul-
resultados sociais relevantes, os quais só po- diferentes atores, espontaneamente ou pro- to João Mendes de Almeida Junior (1856-1923),
dem ser moldados com o tempo. vocados. Pode ter-se uma interação interinsti- que foi recepcionada pelas constituições políti-
44. Na ementa dos embargos de declaração tucional, dando abertura aos demais poderes, cas do Brasil desde a de 1834. Cf. CERQUEIRA,
opostos pelo autor, por assistentes, pelo Minis- para que de uma maneira conjunta viabilizem o Bruno da Silva Antunes de. Marco Temporal e
tério Público, pelas comunidades indígenas, pelo dimensionamento do problema e a construção segurança jurídica: por que e para quem? Con-
Estado de Roraima e por terceiros, fixou-se o se- de potenciais soluções”. (In Do processo bipo- sultor Jurídico. Disponível em: https://www.
guinte entendimento: “as chamadas condições lar a um processo coletivo-estrutural. Disserta- conjur.com.br/ 2023-jun-09/bruno-cerqueira-
ou condicionantes foram consideradas pressu- ção (Mestrado) – Programa de Pós-graduação marco-temporal- seguranca=-juridica#:~:text-
postos para o reconhecimento da validade da em Direito, Setor de Ciências Jurídicas, da Uni- O%20%22 marco%20temporal%22%2
demarcação efetuada. Não apenas por decorre- versidade Federal do Paraná, 2015, p. 19. 0que%20a,civil%2 Fcivilista%2C%20mas%20
rem, em essência, da própria Constituição, mas 51. ARENHART, Sérgio Cruz. Decisões estru- origin%C3%A1rio. Acesso em: 28 jul. 2023.
também pela necessidade de se explicitarem as turais no direito processual civil brasileiro. In 67. Cf. CARNEIRO DA CUNHA, Manuela (org.).
diretrizes básicas para o exercício do usufruto Revista de Processo. Vol. 225/2013, p. 389-410. História dos índios no Brasil. 2 ed. São Paulo:
indígena, de modo a solucionar de forma efetiva Nov./2013, 391. Companhia das Letras; Secretaria Municipal de
as graves controvérsias existentes na região”. 52. Idem, p. 394. Cultura; FAPESP, 1998, p. 141-142.
Cf. Embargos de declaração. Ação Popular. De- 53. Idem, p. 395. 68. In: Verdade e Consenso: Constituição,
marcação da terra indígena raposa serra do 54. Cf. RAMOS, André de Carvalho. Curso de Hermenêutica e Teorias Discursivas. 4. ed. São
sol, STF, 23/10/2013, p. 2. Disponível em https:// Direitos Humanos. 9 ed., São Paulo: SaraivaJur, Paulo: Saraiva, 2011, p. 538.
redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?doc- 2022, p. 1084. 69. In: Processo constitucional brasileiro. 4 ed.
TP=TP&docID=5214423. Acesso em 4/10/2023. 55. In: “Raposa Serra do Sol: como está a Terra ver., atual. e ampl. São Paulo: Thomson Reuters
45. In “Plenário mantém condicionantes fixa- Indígena após uma década da histórica decisão Brasil, 2020, p. 1.386.
das no caso Raposa Serra do Sol”, 23/10/2013. do STF”, 22/10/2019. Disponível em: https:// 70. Segundo Teresa Arruda Alvim e Fábio Victor
Disponível em: <https://stf.jusbrasil.com.br/ cimi.org.br/2019/10/raposa-serra-do-sol-como- da Fonte Monnerat, “cabe ao STF, na sua função
noticias/111984637/plenario-mantem-condi- -esta-a-terra-indigena-apos-uma-decada-da- de criar precedentes vinculantes, orientar não só
coes-fixadas-no-caso-raposa-serra-do-sol#:~:- -historica-decisao-do-stf/. Acesso em: 26 dez. as decisões dos demais órgãos do Poder Judiciá-
text=O%20Plen%C3%A1rio%20do%20 2022. rio brasileiro, mas também a conduta do próprio
Supremo%20Tribunal,PET)%203388%20 56. O Ministro Luis Roberto Barroso, durante jurisdicionado. Preencher a tese com a funda-
n%C3%A3o%20tem%20efeito>. Acesso em a apresentação dos votos pelos Ministros, mos- mentação do caso e com a decisão propriamen-
25/9/2023. trou a sua preocupação em atrelar a tese às te dita ou optar por sintetizar apenas a solução
46. Cf. Embargos de declaração. Ação Popular. circunstâncias do conflito original. da questão submetida, são opções possíveis.
Demarcação da terra indígena raposa serra 57. Processo n.º 2009.72.14.000168-0 (JFSC). Mas, em qualquer caso, o ponto central é a im-
do sol, STF, 23/10/2013, p. 43. Disponível em 58. De acordo com a sentença, fl. 5/7, “as foto- possibilidade de se inserir na tese a resolução de
https://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador. grafias das fls. 144/149, datadas de 30.7.2009, questões que não foram objeto de discussão”.
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4/10/2023. cas montadas nas terras da autora.” ral. Disponível em https://www.migalhas.com.
47. Idem, p. 44. 59. Cf. REBIO do Sassafrás. Unidades de Con- br/depeso/394608/sobre-a-fixacao-da-tese-na-
48. Ibidem. servação no Brasil. Disponível em: socioambien- -repercussao-geral. Acesso em 4/10/2023.
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FICHA TÉCNICA // Revista Bonijuris


Título original: O julgamento do re 1.017.365/sc e as condicionantes do Caso Raposa Serra do Sol: campos
férteis para adoção de medidas estruturantes? Title: The judgment of re 1.017.365/sc and the conditions
of the Raposa Serra do Sol Case: fertile fields for the adoption of structuring measures? Autora: Vanessa
Mascarenhas de Araújo. Mestra em Direito Público pela Faculdade de Direito da Universidade Federal da
Bahia. Especialista em Política e Estratégia pela Universidade Estadual da Bahia. Especialista em Direito
Processual Civil pela Universidade Católica do Salvador. Pesquisadora. Advogada – Juizados Especiais Cí-
veis/tjba. Resumo: Em julho de 2017, parecer da Advocacia-Geral da União determinou que o governo fe-
deral observasse as “salvaguardas institucionais” ali estabelecidas em todos os processos de demarcação,
como a proibição de expandir as áreas demarcadas e a determinação de que os direitos dos povos indíge-
nas não poderiam se sobrepor a questões de segurança nacional. Para evitar violações aos seus direitos,
sobretudo, à vida e às suas terras, faz-se necessária uma proteção mais ampla e efetiva, seja no âmbito
nacional, seja no âmbito internacional, dos direitos humanos fundamentais dos povos indígenas no Brasil:
seres que dividem uma experiência histórica, uma vulnerabilidade contingente, um deslocamento incle-
mente ou uma exploração severa. Abstract: In July 2017, an opinion from the Federal A�orney General’s
Office determined that the federal government observed the “institutional safeguards” established therein
in all demarcation processes, such as the prohibition on expanding demarcated areas and the determi-
nation that the rights of indigenous peoples they could not override national security issues. To avoid
violations of their rights, above all, to life and their lands, it is necessary to have broader and more effective
protection, whether at the national or international level, of the fundamental human rights of indigenous
peoples in Brazil: beings who share a historical experience, a contingent vulnerability, an inclement displa-
cement or severe exploitation. Data de recebimento: 11.09.2023. Texto atualizado pela autora em 12.10.2023.
Data de aprovação: 10.10.2023. Fonte: Revista Bonijuris, vol. 35, n. 6 – #685 – dez23/jan24, págs 100-122. Editor:
Luiz Fernando de Queiroz, Ed. Bonijuris, Curitiba, pr, Brasil, issn 1809-3256 (juridico@bonijuris.com.br).

122 REVISTA BONIJURIS I ANO 35 I EDIÇÃO 685 I DEZ23/JAN24


DOUTRINA JURÍDICA

Rafaela Mendonça Alves PÓS-GRADUANDA EM ADVOCACIA TRABALHISTA E PREVIDENCIÁRIA


Cid Capobiango Soares de Moura PROFESSOR DA FACULDADE DE PARÁ DE MINAS

IMPORTÂNCIA DA TRANSMISSÃO
AO VIVO DOS PREGÕES
PARA COMBATER AS FRAUDES NAS LICITAÇÕES, É NECESSÁRIO
PROGRAMAR UMA SÉRIE DE MEDIDAS PREVENTIVAS E DE
FISCALIZAÇÃO, COM A APLICAÇÃO DA TRANSPARÊNCIA TOTAL

O
presente artigo versa sobre a impor- pios da publicidade, da eficiência, da economici-
tância da transmissão ao vivo das dade, da celeridade e da transparência.
licitações na modalidade de pregão No entanto, existem diversos fatores que,
presencial para efetivar o princípio da consequentemente, influenciarão e prejudica-
publicidade previsto na Lei 14.133/21, co- rão o atendimento pleno e eficaz desse disposi-
nhecida como a Nova Lei de Licitações e Con- tivo legal, assim como a própria forma eletrôni-
tratos (nllc), que iniciou sua vigência em 1º de ca do pregão presencial e as demais alterações
abril de 2021, trazendo diversas atualizações e trazidas pela nllc, pois esta trouxe atualiza-
mudanças que afetam principalmente a admi- ções relevantes e necessárias que, porém, são
nistração pública. difíceis de serem institucionalizadas.
Dessas diversas atualizações e mudanças, Descrito o embasamento legal, referente à
vamos abordar especificamente a previsão dis- Nova Lei de Licitações e Contratos Adminis-
posta nos termos do art. 17, § 2º e § 5º, da nllc, trativos, pode-se, então, perceber que haveria
os quais determinam que as licitações sejam falhas no procedimento, tais como possíveis di-
realizadas preferencialmente sob a forma ele- ficuldades de adaptações na infraestrutura tec-
trônica, admitida a utilização da forma presen- nológica, manipulações, fraudes, edições seleti-
cial, desde que seja motivada – e, ainda, que, na vas, violações de privacidade e de informações
hipótese excepcional de licitação sob a forma do procedimento, entre outras.
presencial, a sessão pública de apresentação de Tem-se como resposta preliminar que, ape-
propostas deverá ser gravada em áudio e vídeo, sar dos diversos desafios que serão enfrenta-
sendo essa gravação juntada aos autos do pro- dos, é indispensável haver maior responsabi-
cesso licitatório depois de seu encerramento. lidade com a transparência total e eficaz dos
Nesta senda, verificam-se as vantagens que a procedimentos licitatórios, assim como adotar
administração pública tem quanto à realização medidas preventivas de fiscalização, assegurar
do pregão na forma eletrônica, pois o procedi- o fortalecimento dos órgãos de controle e bus-
mento licitatório trouxe efetividade aos princí- car maior seletividade dos fornecedores, com

124 REVISTA BONIJURIS I ANO 35 I EDIÇÃO 685 I DEZ23/JAN24


Rafaela Mendonça Alves, Cid Capobiango Soares de Moura DOUTRINA JURÍDICA

As licitações e os contratos administrativos são assuntos de extrema relevância,


porque é por meio deles que a administração pública dispõe de insumos,
materiais, serviços e obras para a realização de suas atividades

uma análise mais minuciosa dos documentos uma das principais mudanças está relacionada
e das informações fornecidas nas licitações à expansão do uso da tecnologia e do comércio
– bem como buscar a conscientização dos ser- eletrônico, não podendo, assim, ser excluída
vidores com treinamentos regulares e o cres- desse avanço a modernização dos processos
cimento participativo da população de forma licitatórios.
geral, para ajudar na fiscalização.
Nesse sentido, de maneira geral, objetiva-se 1. ASPECTOS GERAIS DAS LICITAÇÕES E
estudar a efetivação do princípio da publicida- DOS CONTRATOS ADMINISTRATIVOS
de nos atos realizados durante as transmissões 1.1 Aspectos gerais das licitações e dos
ao vivo das licitações na modalidade de pregão contratos administrativos
presencial, trabalhando as vantagens e desvan- A administração pública, para contratar ser-
tagens para os órgãos da administração pública viços ou adquirir produtos, encontra-se obri-
e abordando os principais desafios em busca da gada a realizar previamente um processo de
transparência pública e das possíveis medidas licitação, conforme previsão legal que se extrai
preventivas a serem adotadas para combater do art. 37, inc. xxi, da Constituição da Repúbli-
eventuais fraudes e manipulações nessa moda- ca/1988, o qual aduz que, ressalvados os casos
lidade licitatória. especificados na legislação, as obras, serviços,
Destarte, as licitações e os contratos admi- compras e alienações serão contratados me-
nistrativos são assuntos de extrema relevância, diante processo de licitação pública.
porque é por meio deles que a administração Em análise à legislação vigente e à doutrina
pública dispõe de insumos, materiais, serviços moderna, a licitação é, portanto, um procedi-
e obras para a realização de suas atividades. mento administrativo disciplinado por lei e por
Nesse aspecto, a nova lei é impactante na me- um ato administrativo prévio, para estabelecer
dida em que promove mudanças substanciais critérios objetivos em busca de assegurar a se-
no cotidiano de milhares de órgãos, entidades leção da proposta mais vantajosa para a admi-
administrativas e empresas que contratam nistração pública e promover o desenvolvimen-
com a administração pública. Nesse sentido, to nacional sustentável.

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REVISTA BONIJURIS I ANO 35 I EDIÇÃO 685 I DEZ23/JAN24 125
IMPORTÂNCIA DA TRANSMISSÃO AO VIVO DOS PREGÕES

Para se analisar a proposta mais vantajosa, cumpre observar outros critérios


de escolha, como ciclo de vida do objeto, qualidade do bem ou do serviço,
matéria-prima, sobrepreço e faturamento, entre outros fatores

Destaca-se que a finalidade da licitação, qual Atualmente, esse procedimento adminis-


seja, viabilizar a melhor contratação possível trativo é regulamentado pela Lei 14.133/21, que
para o poder público, buscando sempre a pro- dispõe sobre as normas gerais de licitação e
posta mais vantajosa, não induz necessaria- contratação para as administrações públicas di-
mente à proposta de melhor/menor preço, uma retas, autárquicas e fundacionais da União, dos
vez que a melhor contratação nem sempre é a estados, do Distrito Federal e dos municípios.
que possui o menor custo para o órgão público.
Coincidente com o exposto, Marçal Justen 1.2 Vigência e período de transição – Lei
Filho (2023, p. 258) afirma que a melhor propos- 8.666/93 e Lei 14.133/21
ta seria aquela que traga o maior custo-benefí- A Lei 14.133/21 entrou em vigor na data de sua
cio para a administração pública. Vejamos: publicação, em 1º de abril de 2021, apresentando
A maior vantagem se apresenta quando a Adminis- vigência imediata. No entanto, conforme deter-
tração Pública assume o dever de realizar a presta- mina seu dispositivo legal, art. 193, as demais
ção menos onerosa e o particular se obriga a realizar
a melhor e mais completa prestação. Configura-se, leis que regem a mesma matéria não foram
portanto, uma relação custo-benefício. […] De imediatamente revogadas. Assim, a Lei 8.666/93
modo geral, a vantagem buscada pela Administra- (antiga Lei de Licitações e Contratos Adminis-
ção Pública deriva da conjugação dos aspectos da
trativos), bem como a Lei 10.520/02 (Lei do Pre-
qualidade e da onerosidade patrimonial. Significa di-
zer que a Administração Pública busca a maior qua- gão) e a Lei 12.462/11 (Lei do Regime Diferencia-
lidade da prestação e o maior benefício econômico. do de Contratações), continuaram vigentes por
(JUSTEN FILHO, Marçal. Curso de Direito Administra- mais dois anos após a publicação oficial da Lei
tivo. 14. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2023, p. 258)
14.133/21.
Assim, para se analisar a proposta mais van- Diante disso, até o decurso desse prazo de
tajosa, cumpre observar outros critérios de es- dois anos, a administração poderia optar por li-
colha, como o ciclo de vida do objeto, qualidade citar de acordo com a Lei 14.133/21 ou conforme
do bem ou do serviço, matéria-prima, sobre- o regime anterior (Lei 8.666/93).
preço, faturamento, entre outros fatores que Ocorre que, pouco antes de sua entrada em
variam de acordo com a necessidade e caracte- vigor definitiva, muito ainda se discutia sobre
rização do objeto, devendo a administração pú- as grandes dificuldades de institucionaliza-
blica realizar esse filtro, observando, inclusive a ção da nllc. Assim, em 31 de março de 2023,
longo prazo, se determinada escolha será van- foi publicada, pelo governo federal, a Medi-
tajosa ou se acarretará danos ao erário, apesar da Provisória 1.167, alterando a Lei 14.133/21,
do menor preço. para prorrogar a possibilidade de uso da Lei
Noutra senda, em observância ao princípio 8.666/93, da Lei 10.520/02 e dos arts. 1º a 47-A da
da isonomia, o art. 37, inc. xxi, da Constituição Lei 12.462/11 (Regime Diferenciado de Contra-
da República/1988 dispõe que as licitações pú- tações Públicas).
blicas devem buscar sempre assegurar igualda- Desse modo, o art. 193 da Nova Lei de Licita-
de de condições a todos os concorrentes, com ções e de Contratos Administrativos, que pre-
cláusulas que estabeleçam obrigações de pa- via revogação desses dispositivos supracitados
gamento e mantidas as condições efetivas da até 1° de abril de 2023, foi alterado a fim de pror-
proposta, nos termos da lei, o que permitirá que rogar esse prazo até 30 de dezembro de 2023,
haja somente exigências de qualificação técni- possibilitando a milhares de órgãos públicos
ca e econômicas indispensáveis à garantia do um maior período de adequação e adaptação
cumprimento das obrigações. para a institucionalização da Lei 14.133/21.

126 REVISTA BONIJURIS I ANO 35 I EDIÇÃO 685 I DEZ23/JAN24


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IMPORTÂNCIA DA TRANSMISSÃO AO VIVO DOS PREGÕES

Para aqueles que escolherem licitar ou contratar de acordo com o regime antigo,
terão que ser atendidos alguns requisitos legais, entre as quais: deverá ser
feita a publicação do edital ou do ato autorizativo de contratação direta

A Medida Provisória 1.167 não apenas buscou da licitação e estabelece as regras para partici-
a prorrogação do prazo de aplicação da nllc, pação, que podem incluir critérios de qualifi-
mas, também, alterou outros dispositivos para cação técnica, jurídica, econômico-financeira,
que se adequassem a essa prorrogação. entre outros.
O art. 191, agora, dispõe que, até o decurso do A concorrência, por sua vez, é definida como
prazo de que trata o inc. ii do caput do art. 193 mais ampla e utilizada para contratações de
(30 de dezembro de 2023), a administração públi- grande vulto econômico, como no caso de con-
ca terá a opção de escolher licitar ou contratar tração de obras e serviços de engenharia, tendo
diretamente de acordo com a Lei 14.133/21. Ou, por objetivo selecionar a proposta mais vanta-
ainda, poderá optar por licitar ou contratar de josa, sendo que os critérios de julgamento, de
acordo com as leis 8.666/93, 10.520/02 e 12.462/11. acordo com a legislação (Lei 14.133/21), serão o de
No entanto, para aqueles que escolherem lici- menor preço, melhor técnica ou conteúdo artís-
tar ou contratar de acordo com o regime antigo, tico, técnica e preço, maior retorno econômico
terão que ser atendidos alguns requisitos legais, ou, ainda, o de maior desconto.
quais sejam: deverá ser feita a publicação do edi- O concurso é destinado para a seleção de
tal ou do ato autorizativo de contratação direta trabalhos técnicos, artísticos ou científicos,
até 29 de dezembro de 2023; a opção escolhida podendo envolver remuneração ou premiação
deverá ser expressamente indicada no edital ou aos vencedores, sendo essa modalidade comu-
no ato autorizativo da contratação direta; se a mente adotada em áreas como arquitetura, en-
administração pública optar por licitar de acor- genharia, design, entre outras.
do com o regime antigo, o respectivo contrato Já o leilão é realizado para alienação de bens
será regido pelas regras nele previstas durante móveis ou imóveis que sejam inservíveis para a
toda a sua vigência; sendo, ainda, vedada a com- administração pública, ou que sejam legalmente
binação da nllc com as leis que disponham do apreendidos ou penhorados, sendo destinados a
regime anterior e que estariam sendo revogadas, quem oferecer a maior oferta ou o maior lance.
podendo optar-se apenas por uma legislação. Por último, o diálogo competitivo é indicado
para contratação de obras, serviços e compras de
1.3 Modalidades de licitação grande complexidade técnica ou que envolvam
Marçal Justen Filho (2023, p. 274) explica que a inovação tecnológica, quando a administração
modalidade de licitação se refere à disciplina não possuir solução pronta para o objeto preten-
procedimental adotada em vista das necessida- dido. Nessa modalidade, a administração pública
des da contratação e do critério de julgamento. busca realizar diálogos com licitantes antecipa-
Nessa senda, o art. 28 da Lei 14.133/21 prevê cinco damente escolhidos mediante critérios objetivos,
modalidades licitatórias: o pregão, a concorrên- com o intuito de desenvolver alternativas que se-
cia, o concurso, o leilão e o diálogo competitivo. jam capazes de suprir às suas necessidades.
O pregão é uma modalidade licitatória de- A legislação anterior (Lei 8.666/93) previa ain-
finida para a aquisição de bens e serviços co- da as modalidades convite e tomada de preço,
muns, podendo ser realizado tanto na forma que eram definidas para contratações de valo-
presencial, quanto na forma eletrônica, por res baixos. No entanto, essas foram suprimidas
meio de plataforma digital, na qual os interes- pela nova lei, uma vez que o valor não é mais
sados apresentam suas propostas, buscando um critério de definição da modalidade licitató-
oferecer o menor preço. Nesse tipo de procedi- ria, sendo incluído o diálogo competitivo como
mento, a administração pública define o objeto uma modalidade licitatória mais moderna.

128 REVISTA BONIJURIS I ANO 35 I EDIÇÃO 685 I DEZ23/JAN24


Rafaela Mendonça Alves, Cid Capobiango Soares de Moura DOUTRINA JURÍDICA

1.4 Princípios norteadores das licitações e dos


contratos administrativos
Em vista do exposto, não se pode deixar de men-
cionar que a Lei 14.133/21, em seu art. 5º, elenca Atuação
os princípios norteadores das licitações e dos centrada em entregar
resultados
contratos administrativos, devendo-se observar
para sua aplicação os princípios da legalidade, da

aos clientes,
impessoalidade, da moralidade, da publicidade,
da eficiência, do interesse público, da probidade
administrativa, da igualdade, do planejamento,
da transparência, da eficácia, da segregação de de forma ética,
funções, da motivação, da vinculação ao edital,
do julgamento objetivo, da segurança jurídica,
transparente
da razoabilidade, da competitividade, da pro- e segura.
porcionalidade, da celeridade, da economicida-
de e do desenvolvimento nacional sustentável.
Comparando-se o rol de princípios do novo
diploma com os princípios elencados no art. 3º
da Lei 8.666/93, constata-se que foram reedita-
dos os princípios da legalidade, da impessoalida-
de, da moralidade, da publicidade e da eficiência.
Inclusive, esses princípios norteadores das li-
citações e dos contratos administrativos estão
expressos nos termos do art. 37, caput, da carta
magna, sendo de suma importância para o di-
reito administrativo, possibilitando sua melhor
organização.
Este trabalho visa analisar necessariamente
o princípio da publicidade, o qual se apresenta Nossa atuação é voltada
como indispensável para os atos e procedimen-
à prestação de serviços
tos licitatórios.
jurídicos para empresas
Destarte, o princípio da publicidade é aquele
que assegura aos cidadãos o direito de ter aces- dos mais variados segmentos
so a todas as informações relativas da adminis- econômicos, nas áreas de
tração pública, não podendo ser os seus atos Contencioso Tributário,
sigilosos. O art. 5º da lei maior consigna que Administrativo e Judicial
todos têm o direito de receber, dos órgãos pú-
e Consultivo Tributário.
blicos, informações de seu interesse particular
ou, ainda, as de caráter coletivo e geral, sendo
estas sempre prestadas nos prazos instituídos
por lei, sob pena de responsabilização desses
órgãos públicos, com exceção daqueles atos em
que é resguardada a segurança da sociedade ou
do Estado. A respeito desse princípio, Marçal
Justen Filho (2023, p. 72) aduz que:
www.queirozmiotto.adv.br
A publicidade desempenha duas funções comple-
mentares. Por um lado, assegura a todos o poder de 49 3533 7701
obter informações relativamente às ações e omis-
sões praticadas por agentes estatais e mesmo não
estatais, quando na gestão de recursos públicos. Por

REVISTA BONIJURIS I ANO 35 I EDIÇÃO 685 I DEZ23/JAN24 129


IMPORTÂNCIA DA TRANSMISSÃO AO VIVO DOS PREGÕES

O pregão é uma modalidade licitatória denida para a aquisição


de bens e serviços comuns, podendo ser realizado tanto na forma
presencial quanto na digital, buscando oferecer o menor preço

outro lado, a garantia do conhecimento por quais- preço, mas, também, a qualidade, a capacidade
quer terceiros é um fator de desincentivo à prática
de atos reprováveis, eis que eleva a possibilidade de
técnica, o prazo de entrega, entre outros aspec-
que as práticas reprováveis sejam reveladas. (JUSTEN tos relevantes para o objeto da contratação.
FILHO, Marçal. Curso de Direito Administrativo. 14. Segundo Alexandre de Moraes (2023, p. 414),
ed. Rio de Janeiro: Forense, 2023, p. 72)
esse princípio é aquele que impõe à administra-
Sobre o assunto, Meirelles e Filho (2016, p. ção pública direta e indireta e a seus agentes a
315) preconizam que: persecução do bem comum, por meio do exer-
A publicidade dos atos da licitação é o princípio que cício de suas competências. Tudo isso deve ser
abrange desde os avisos de sua abertura até o co- feito de forma imparcial, neutra, transparente,
nhecimento do edital e seus anexos, o exame da participativa, eficaz, sem burocracia e sempre
documentação e das propostas pelos interessados
e o fornecimento de certidões de quaisquer peças, em busca da qualidade. A respeito desse princí-
pareceres ou decisões com ela relacionadas. (MEIREL- pio o autor preconiza que:
LES, Hely Lopes; FILHO, José Emmanuel Burle. 42. ed.
O administrador público precisa ser eficiente, ou
São Paulo: Malheiros, 2016, p. 315) seja, deve ser aquele que produz o efeito desejado,
que dá bom resultado, exercendo suas atividades
O próprio Tribunal de Contas da União já sob o manto da igualdade de todos perante a lei,
sumulou entendimento de que o princípio da velando pela objetividade e imparcialidade. [....]
primando pela adoção dos critérios legais e morais
publicidade deve ser aplicado efetivamente nas necessários para a melhor utilização possível dos re-
licitações. A Súmula 177 do tcu dispõe que a cursos públicos, de maneira a evitar-se [que haja]
definição precisa e suficiente do objeto licitado desperdícios e garantir-se uma maior rentabilidade
social. (MORAES, Alexandre de. Direito Constitucio-
constitui-se em regra como sendo indispensá- nal. 39. ed. São Paulo: Atlas, 2023, p. 414)
vel à competição, até mesmo como pressuposto
do postulado de igualdade entre os licitantes Dito isso, o princípio da eficiência possui uma
(princípio da impessoalidade) do qual é subsi- relação de sentido com a racionalidade, com a
diário o princípio da publicidade, sendo que, efetividade e com a economicidade. Vejamos, a
nesse sentido, este princípio é o que envolve o eficiência como racionalidade busca a atuação
conhecimento, pelos concorrentes potenciais, da administração pública de forma organizada
das condições básica da licitação. e objetiva para atingir da maneira mais rápida o
O princípio da eficiência, por sua vez, se refe- interesse público, por meio de medidas de auto-
re à atuação da administração pública de forma mação, padronização, uniformização e elimina-
eficiente, ou seja, esse princípio busca a obten- ção de retrabalho, medidas que viabilizam essa
ção dos melhores resultados possíveis, levando racionalidade do serviço público. A eficiência,
em consideração o custo-benefício, a qualidade como efetiva busca à atuação de modo planeja-
e a economicidade dos bens, serviços ou obras do e estratégico, para garantir a efetiva entrega
que serão contratados pelo poder público por dos serviços à sociedade. A eficiência, como eco-
meio de um processo licitatório. nomicidade, é aquela em que se procura atingir
Esse princípio visa garantir que a administra- as finalidades públicas com o melhor custo-be-
ção pública realize uma gestão dos recursos pú- nefício, como veremos mais à frente ao tratar-
blicos de forma racional e eficiente, buscando a mos do princípio da economicidade.
melhor utilização dos recursos financeiros, ma- Assim, ao realizar uma licitação, o órgão pú-
teriais e humanos disponíveis. Na prática, esse blico ou a entidade pública deve buscar a máxi-
princípio implica a adoção de critérios objeti- ma eficiência na escolha do fornecedor ou pres-
vos e transparentes para a seleção da proposta tador de serviços, considerando não apenas o
mais vantajosa, levando em conta não apenas o preço mais baixo, mas, também, a qualidade,

130 REVISTA BONIJURIS I ANO 35 I EDIÇÃO 685 I DEZ23/JAN24


Rafaela Mendonça Alves, Cid Capobiango Soares de Moura DOUTRINA JURÍDICA

O princípio da eciência se refere à atuação da administração pública de forma


eciente, ou seja, esse princípio busca a obtenção dos melhores resultados possíveis,
levando em consideração a qualidade dos bens ou serviços contratados

a capacidade técnica e a adequação às neces- exigindo dos agentes responsáveis maior cele-
sidades da administração. Vale ressaltar que o ridade na tomada de decisões. Fabrício Bolzan
princípio da eficiência não se aplica apenas ao de Almeida (2022, p. 24) afirma que a celeridade
momento da licitação, mas, também, durante a processual decorre, sobretudo, do princípio da
execução do contrato, exigindo uma gestão efi- eficiência, trabalhado anteriormente. No que
ciente dos recursos públicos ao longo de todo o se refere às licitações e contratos administrati-
processo de contratação. vos, segundo o autor, a fixação de prazos para
a resposta do Poder Público às solicitações efe-
1.5 Princípios inovadores aplicados à Lei tivadas é exemplo dos critérios norteadores da
14.133/21 duração razoável do processo.
O princípio da economicidade é aquele que viabi- O princípio da transparência está ligado de
liza a redução dos custos do procedimento, sem certa forma ao próprio princípio da publicida-
comprometer a qualidade e padronização alme- de, pois exige que a divulgação de informações
jadas. Esse princípio exige dos agentes públicos seja realizada sempre da forma mais acessível
um gasto racional dos recursos estatais, na bus- e neutra possível, podendo ser compreendida
ca de melhores resultados, ao desempenharem com facilidade por todos. Assim, torna-se um
as atividades administrativas. Dalmo de Azeve- dever da administração pública não manter em
do Meirelles (2023, p. 182) explica que é possível sigilo as informações, comunicações e diligên-
realizar a supressão de certas etapas do procedi- cias, em especial com relação aos procedimen-
mento licitatório, de forma justificável, para que, tos licitatórios ou entre os licitantes.
assim, possa ser resguardado o erário. Dessa for-
ma, seria possível, por meio do princípio da eco- 2. PRINCIPAIS ASPECTOS DA LEI 14.133/21,
nomicidade, o fracionamento da licitação, desde NOVA LEI DE LICITAÇÕES E CONTRATOS
que tal princípio respeite o regime jurídico. ADMINISTRATIVOS
O princípio da celeridade por sua vez visa 2.1 Principais mudanças
tornar o trâmite dos procedimentos licitatórios Podemos dizer que a nova lei é impactante à
e dos contratos administrativos mais dinâmico, medida que promove mudanças substanciais

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REVISTA BONIJURIS I ANO 35 I EDIÇÃO 685 I DEZ23/JAN24 131


IMPORTÂNCIA DA TRANSMISSÃO AO VIVO DOS PREGÕES

Podemos dizer que a nova lei é impactante à medida que promove mudanças
substanciais no cotidiano de milhares de órgãos públicos, entidades
administrativas e empresas que contratam com a administração pública

no cotidiano de milhares de órgãos públicos, ção, como o credenciamento, a manifestação


entidades administrativas e empresas que con- do interesse, a pré-qualificação e o sistema de
tratam com a administração pública. registro de preços.
Uma das principais mudanças é aquela que Outra mudança interessante se relacio-
está relacionada com a expansão do uso da tec- na com o novo rol de critérios de julgamento,
nologia e do comércio eletrônico, não podendo conforme art. 33. Agora, fazem parte do rol os
se excluir, desse avanço, a modernização dos critérios de maior desconto e menor preço,
processos licitatórios. Nesse contexto, aborda- maior retorno econômico, melhor técnica, me-
remos sucintamente algumas dessas principais lhor conteúdo artístico e, também, o critério de
mudanças, para melhor esclarecer o tamanho maior lance.
do impacto da nova Lei de Licitações. Por fim, a Lei 14.133/21 cria, nos termos do art.
O primeiro grande impacto é justamente a 174, o Portal Nacional de Contratações Públi-
revogação das legislações anteriores, previs- cas (pncp), que é um sítio eletrônico proposto
ta no art. 193 da Lei 14.133/21, que revoga a Lei para a efetiva e obrigatória publicação dos atos
8.666/93, a Lei 10.520/02 (conhecida como lei do exigidos em lei, contendo informações sobre os
pregão) e os arts. 1º a 47-A da Lei 12.462/11, conhe- planos de contratação anual, os catálogos ele-
cida como a lei do regime diferenciado de con- trônicos de padronização, os editais de creden-
tratações públicas. ciamento e pré-qualificação, atas de registro de
Ademais, foi acrescentado à nova lei o capí- preços, publicação dos contratos e dos termos
tulo que versa sobre os crimes em licitações e aditivos, as notas fiscais eletrônicas, entre ou-
contratos administrativos, que são previstos no tras informações.
Código Penal. Reinaldo Couto e Álvaro Capagio (2021, p.
Outra grande mudança é o fato de a nova 460) esclarecem que o pncp tem abrangência
lei de licitações dispor que as licitações serão nacional, abarcando todos os entes federados e
realizadas preferencialmente sob a forma ele- poderes da república, de modo a centralizar o
trônica, sendo que sua realização na forma pre- meio de divulgação, otimizando a gestão públi-
sencial se torna a exceção, permitida apenas se ca, o engajamento dos licitantes, a atuação dos
devidamente motivada e gravada em áudio e órgãos de controle e a participação social.
vídeo. O pncp inclusive poderá ser usado para as li-
A nova lei também prevê que as fases pre- citações e contratações públicas, haja vista que
paratórias das licitações devem ser planejadas, a nova lei determinou que estas fossem realiza-
compatibilizando-se com o plano de contrata- das preferencialmente sob a forma eletrônica.
ções anuais e com as leis orçamentárias. Bem Essas são apenas algumas das principais mu-
como adota a inversão das fases como regra, danças trazidas pela Lei 14.133/21. Outro aspec-
sendo que primeiro será realizado o julgamento to interessante a respeito da nllc é referente
e, depois, a análise da habilitação da proposta ao art. 176, o qual versa sobre o cumprimento
mais bem classificada, podendo essa ordem ser da nova lei, para os municípios com até 20 mil
alterada apenas com justificativa plausível. habitantes.
São extintas as modalidades de licitação co- O art. 176 dispõe que esses municípios terão o
nhecidas como “tomada de preços” e “convite”, prazo de seis anos, contados da data de publica-
porquanto se acrescenta a modalidade “diálogo ção da nova legislação, para o cumprimento de
competitivo”. E, além dessas, há previsão no art. todos os requisitos estabelecidos no art. 7º e no
28, § 1º, dos procedimentos auxiliares da licita- caput do art. 8º; para o cumprimento da obriga-

132 REVISTA BONIJURIS I ANO 35 I EDIÇÃO 685 I DEZ23/JAN24


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IMPORTÂNCIA DA TRANSMISSÃO AO VIVO DOS PREGÕES

O pregão presencial refere-se a uma das modalidades de licitação previstas


para a aquisição de bens e serviços comuns, cujos padrões mínimos de
qualidade são estipulados de antemão no instrumento convocatório

toriedade de realização da licitação sob a forma essa obrigatoriedade não era prevista na própria
eletrônica a que se refere o § 2º do art. 17; e para lei, mas, sim, por regulamento, já que pela Lei
o cumprimento das regras relativas à divulga- 10.520/02 não havia a possibilidade da adoção do
ção em sítio eletrônico oficial. critério de maior desconto, como prevê a nllc.
E, por fim, define em seu parágrafo único Conforme prevê o art. 1º da Lei 10.520/02, a
que os municípios com até 20 mil habitantes, administração pública fica autorizada a reali-
enquanto não adotarem o pncp, deverão publi- zar licitação na modalidade de pregão presen-
car, em diário oficial, as informações que a nova cial quando se tratar de aquisição de bens e
legislação exige que sejam divulgadas em sítio serviços comuns, os quais os padrões de desem-
eletrônico oficial, admitida a publicação de ex- penho e de qualidade são objetivamente defi-
trato. Além disso, devem, ainda, disponibilizar a nidos pelo edital, por meio das especificações
versão física dos documentos em suas reparti- usuais no mercado. A respeito do que se consi-
ções, vedada a cobrança de qualquer valor, sal- dera como bens e serviços comuns, o autor Ra-
vo o referente ao fornecimento de edital ou de fael Carvalho Resende (2022, p. 172) se posiciona
cópia de documento, que não será superior ao da seguinte maneira:
custo de sua reprodução gráfica. Consideram-se bens e serviços comuns “aqueles
cujos padrões de desempenho e qualidade possam
2.2 Pregão presencial ser objetivamente definidos pelo edital, por meio de
especificações usuais no mercado” (art. 1.º, parágra-
O pregão presencial refere-se, como já tido, a fo único, da Lei 10.520/2002). É possível perceber
uma das modalidades de licitação previstas na que o conceito é aberto, sendo inviável o estabeleci-
Lei 14.133/21, mais precisamente nos termos do mento de um rol taxativo de todos os bens e serviços
comuns. [...] O conceito (indeterminado) de “bem
art. 28, inc. i, sendo essa modalidade indispensá-
ou serviço comum” possui as seguintes característi-
vel para a aquisição de bens e serviços comuns, cas básicas: disponibilidade no mercado (o objeto é
cujos padrões mínimos de qualidade são esti- encontrado facilmente no mercado), padronização
pulados de antemão no instrumento convoca- (predeterminação, de modo objetivo e uniforme, da
qualidade e dos atributos essenciais do bem ou do
tório. A respeito dessa modalidade, o professor serviço) e casuísmo moderado (a qualidade “comum”
e procurador da Fazenda Nacional Matheus deve ser verificada em cada caso concreto, e não em
Carvalho (2022, p. 594) afirma, em seu Manual termos abstratos). (OLIVEIRA, Rafael Carvalho R. Lici-
tações e contratos administrativos: teoria e prática.
de Direito Administrativo, que: 11. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2022, p. 172)
O pregão surgiu para aperfeiçoar o regime de li-
citações, levando a uma maior competição e am-
pliando a oportunidade de participar das licitações, Coincidente com o exposto, Benedicto de To-
contribuindo para desburocratizar os procedimen- losa Filho (2012, p. 5) afirma:
tos para a habilitação e etapas do procedimento, Ao cuidar do objeto a ser licitado, a legislação do
por ser mais célere e também visando à busca pelas pregão, no inciso II do art. 3º, foi mais técnica, ao
contratações de preços mais baixos pelos entes da
prever que a “definição do objeto deverá ser pre-
Administração Pública. (CARVALHO, Matheus. Manual
de direito administrativo. 10. ed. São Paulo: Juspo- cisa, suficiente e clara, vedadas as especificações
divm, 2022, p. 594) que, por excessivas, irrelevantes ou desnecessárias,
limitem a competição”. Ao prever a precisão como
indispensável à descrição do objeto da licitação, o
Atualmente, a licitação, na modalidade de legislador sinalizou que ela deve conter todas as
pregão, sempre terá como critério de julgamen- características técnicas do objeto, que a torne su-
to o de menor preço ou o de maior desconto, ficientemente clara aos interessados, que de posse
conforme prevê o art. 6º, xli, da Lei 14.133/21. dessas informações podem disputar o certame em
igualdade de condições. (FILHO, Benedicto de Tolosa.
No regime anterior, nos casos em que se ad- Pregão – Uma Nova Modalidade de Licitação. 5.
mitia a utilização do pregão como obrigatório, ed. Rio de Janeiro: Forense, 2012, p. 5)

134 REVISTA BONIJURIS I ANO 35 I EDIÇÃO 685 I DEZ23/JAN24


Rafaela Mendonça Alves, Cid Capobiango Soares de Moura DOUTRINA JURÍDICA

Esclarecidos os principais aspectos relacio-


nados à modalidade de pregão presencial, pas-
samos a analisar o pregão eletrônico.

2.3 Pregão eletrônico

TRANQUILIDADE
A respeito da modalidade de licitação, na forma

NO CONDOMÍNIO.
de pregão, pode-se dizer que o pregão eletrô-
nico já vem sendo obrigatório na esfera fede-
ral desde 2019, de acordo com o art. 1º, § 1º, do

GARANTIDA
Decreto Presidencial 10.024/19, apesar de a Lei

TOTALIZE.
10.520/02 estabelecer esse critério como sendo
facultativo.
Assim, a Lei 14.133/21 prevê expressamente, nos
termos do art. 17, § 2º e § 5º, que as licitações serão
realizadas preferencialmente sob a forma eletrô-
nica, admitida a utilização da forma presencial,
desde que seja motivada, e que, na hipótese ex-
cepcional de licitação sob a forma presencial, a
sessão pública de apresentação de propostas
deverá ser gravada em áudio e vídeo, sendo que
essa gravação será juntada aos autos do processo
licitatório depois de seu encerramento.
Nesta senda, verificam-se as vantagens que a Seu condomínio
administração pública terá quanto à realização em dia com todos
do pregão na forma eletrônica, pois o procedi-
mento licitatório dará efetividade aos princípios os compromissos
da celeridade, da transparência, da publicidade
e da economicidade, que veremos mais à frente.
financeiros e com
Lado outro, o pregão eletrônico é um proce- 100% da receita
dimento utilizado pela administração pública,
tendo como principal característica a realização garantida.
da licitação por meio de plataforma eletrônica,
o que possibilita, inclusive, a participação de
fornecedores de todo o país. Assim, o princípio
da publicidade, tema principal desta pesquisa,
está relacionado ao pregão eletrônico, no que
se refere à obrigação de divulgar amplamente
todas as informações relacionadas ao processo
de licitação por meio eletrônico.
A efetivação desse princípio garantirá tanto
a transparência do processo licitatório quanto a
igualdade de oportunidades entre os interessa-
dos em participar, vez que ele determina que to-
41 3244-5622
das as informações relevantes sobre o pregão ele-
41 98497-6434
trônico sejam devidamente divulgadas de forma R. Silveira Peixoto, 1040
ampla, clara e acessível a todos os interessados. Curitiba | Paraná
A publicidade no pregão eletrônico também totalizecondominios.com.br
está relacionada ao princípio da impessoalida-
de, que determina que as decisões devam ser to-

REVISTA BONIJURIS I ANO 35 I EDIÇÃO 685 I DEZ23/JAN24 135


IMPORTÂNCIA DA TRANSMISSÃO AO VIVO DOS PREGÕES

Ambas as modalidades de pregão têm seus pontos positivos e podem


serbutilizadas pela administração pública, não obstante ser a intenção da
Lei 14.133/21, migrar todo o procedimento para a forma eletrônica

madas com base em critérios objetivos e impar- mento é realizado de forma virtual – inclusive,
ciais, sem privilegiar ou discriminar qualquer o envio das propostas, dos documentos, a par-
participante. Portanto, a publicidade nessa mo- ticipação dos lances. Tudo é feito por meio ele-
dalidade de licitação colabora para o controle trônico, o que amplia a concorrência e a trans-
social sobre os atos administrativos públicos parência dessa modalidade.
e para a garantia de uma gestão pública mais Ambas as modalidades de pregão têm seus
transparente e eficiente. pontos positivos e podem ser utilizadas de acor-
do com a conveniência da administração públi-
2.4 Diferenças práticas entre o pregão ca até o presente momento, não obstante ser a
presencial e o pregão eletrônico intenção da Lei 14.133/21, como já abordado, mi-
O pregão presencial e o pregão eletrônico são grar todo o procedimento do pregão para a for-
duas modalidades semelhantes e, conforme já ma eletrônica, a fim de garantir maior efetivida-
exposto, são utilizadas para a aquisição de bens de da publicidade e da transparência pública.
e serviços por órgãos públicos. No entanto, o pregão presencial pode ser
O pregão presencial é realizado de forma físi- mais adequado em situações específicas, como
ca, em um local específico, onde os licitantes se quando a natureza do objeto licitado requer de-
reúnem para apresentar suas propostas e lan- monstração física; ou quando a quantidade de
ces, pessoalmente na data e horário marcados licitantes é pequena e a interação pessoal é va-
previamente por edital. Durante uma sessão, lorizada, ao passo que o pregão eletrônico ofe-
são realizados os lances verbais entre os par- rece outras vantagens, como a agilidade para a
ticipantes e o pregoeiro é quem acompanha e economia de recursos e a extensão do acesso a
conduz o pregão, realizando a avaliação e a clas- fornecedores.
sificação das propostas.
Já o pregão eletrônico é realizado por meio 3. TRANSMISSÃO AO VIVO DAS
de uma plataforma eletrônica específica, aces- LICITAÇÕES NA MODALIDADE DE PREGÃO
sível pela internet, onde os licitantes podem PRESENCIAL
participar de qualquer lugar e apresentar suas
propostas e lances por meio do sistema eletrô- 3.1 Aspectos gerais das transmissões ao vivo
nico. O pregão eletrônico possui uma série de das licitações
etapas online, como a divulgação do edital, o A Lei 14.133/21 determina de forma clara e obje-
cadastro dos participantes, a apresentação das tiva que as licitações na modalidade de pregão
propostas e a realização dos lances. Todo o pro- devem ocorrer preferencialmente na forma ele-
cesso é controlado de forma eletrônica e os li- trônica. No entanto, quando não for possível
citantes podem acompanhar em tempo real as essa realização, a lei estabelece que a licitação
informações sobre as propostas e lances reali- na modalidade do pregão possa ser presencial,
zados pelos concorrentes. de forma justificada e, ainda, gravada e trans-
Entre as principais diferenças práticas des- mitida ao vivo.
sas duas modalidades licitatórias, podemos Essa transmissão é realizada por meio da in-
citar algumas, como, por exemplo, a acessibi- ternet, permitindo que todos os interessados
lidade fornecida pelo pregão eletrônico, que acessem o processo remotamente e acompa-
permite a participação de licitantes à distância, nhem todas as etapas em tempo real. Isso geral-
sem que haja a necessidade de se locomoverem mente é feito por meio de plataformas de strea-
para o local da sessão, vez que todo o procedi- ming ou sites específicos para esse fim.

136 REVISTA BONIJURIS I ANO 35 I EDIÇÃO 685 I DEZ23/JAN24


Rafaela Mendonça Alves, Cid Capobiango Soares de Moura DOUTRINA JURÍDICA

A adoção da transmissão ao vivo das licitações contribui de forma


signicativa para a transparência e a publicidade dos processos licitatórios,
aumentando a conança dos cidadãos na administração pública

A adoção da transmissão ao vivo das licita- pois a qualidade da conexão deve ser satisfató-
ções contribui de forma significativa para a ria. Se uma conexão for interrompida, pode ser
transparência e a publicidade dos processos que aconteça a continuidade do processo de li-
licitatórios, evitando possíveis irregularidades citação no local da disputa, o que pode causar a
e aumentando a confiança dos cidadãos na ad- perda de lances ou outras informações impor-
ministração pública. tantes por quem a assiste à distância.
No entanto, essa prática pode vir a apresen- Por fim, outra possível complicação é a rela-
tar algumas possíveis dificuldades durante o cionada ao deslocamento dos fornecedores até o
processo, como o fato de o tempo ser restritivo, local onde a licitação está sendo realizada. Essa
vez que as licitações transmitidas ao vivo geral- situação acaba por muitas vezes se tornar insus-
mente possuem um cronograma controlado e o tentável a depender da distância da localidade,
tempo para a análise e tomada de decisões pode o que prejudica consequentemente a participa-
ser limitado, o que dificulta, sobretudo, a avalia- ção e a maior concorrência de fornecedores.
ção completa das propostas e das tomadas de
decisões ponderadas. 3.2 Principais diferenças entre as licitações
Outra questão é a concorrência acirrada, transmitidas ao vivo e o pregão eletrônico
pois, em licitações ao vivo, há uma competição As licitações transmitidas ao vivo ocorrem, as-
direta e imediata entre os participantes, o que sim como o pregão eletrônico, para a aquisição
pode aumentar a pressão e exigir uma prepa- de bens e serviços pelos órgãos públicos. Em-
ração mais rigorosa para se destacar entre os bora sejam semelhantes, também apresentam
concorrentes, assim como podem ocorrer casos diferenças significativas.
de concorrentes que venham a obter vantagens As licitações transmitidas ao vivo possuem
por meio de práticas desleais, como a troca de um formato diferente daquele do pregão eletrô-
informações privilegiadas ou, ainda, a manipu- nico, pois todo o processo de licitação ocorre pre-
lação dos lances, o que compromete a integrida- sencialmente e é transmitido em tempo real pela
de do processo e dificulta a justa concorrência. internet, permitindo apenas que os interessados
A conexão de internet também é uma das acompanhem a sessão pública remotamente. Já
principais preocupações nas licitações ao vivo, o pregão eletrônico é realizado inteiramente por

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REVISTA BONIJURIS I ANO 35 I EDIÇÃO 685 I DEZ23/JAN24 137
IMPORTÂNCIA DA TRANSMISSÃO AO VIVO DOS PREGÕES

O pregão eletrônico utiliza-se do acesso remoto, em que os participantes


podem participar de qualquer lugar, desde que tenham acesso à internet
e cumpram as exigências de cadastro na plataforma digital

meio de plataforma eletrônica na internet e os 3.3 A efetivação do princípio da publicidade


participantes podem acessar a plataforma para na Lei 14.133/21
realizar lances e apresentar suas propostas. O princípio da publicidade é um dos pilares do
As licitações transmitidas ao vivo proporcio- estado democrático de direito e tem como ob-
nam maior transparência e publicidade ao pro- jetivo garantir a transparência e o acesso às
cesso licitatório, uma vez que qualquer pessoa informações públicas. É ele que estabelece que
pode assistir e verificar como ocorrem as eta- os atos da administração pública devam ser
pas da licitação. No entanto, possui uma maior divulgados de forma clara e acessível a todos
probabilidade de fraudes e manipulações do os cidadãos. Não obstante, até que ponto esse
que o pregão eletrônico. princípio é realmente efetivo?
O pregão eletrônico, por sua vez, utiliza-se do Em teoria, a efetivação do princípio da publi-
acesso remoto, em que os participantes podem cidade é fundamental para assegurar a presta-
participar de qualquer lugar, desde que tenham ção de contas dos governantes, prevenir a cor-
acesso à internet e cumpram as exigências de rupção e permitir a participação dos cidadãos
cadastro na plataforma eletrônica. Além de ser na tomada de decisões. No entanto, na prática,
mais ágil, em comparação com outras modali- nem sempre o princípio da publicidade funcio-
dades de licitação, permite a realização de lan- na de maneira plena e eficaz. Existem diversos
ces de forma rápida e simplificada. Além disso, desafios e obstáculos que podem comprometer
possui vantagens tecnológicas, o que facilita o a efetivação do princípio da publicidade. Alguns
controle, a segurança e a rastreabilidade dos desses desafios incluem os abaixo mencionados.
processos, proporcionando uma maior abran- A falta de transparência real, pois, mesmo
gência e facilidade de acesso aos licitantes. quando as informações são divulgadas, elas
Outra diferença são as etapas seguidas em nem sempre são disponibilizadas de forma
cada modalidade. Nas licitações transmitidas completa e clara, para serem compreendidas
ao vivo, são realizadas as etapas tradicionais pelo público.
de uma licitação, como a divulgação do edital, As exceções à publicidade, pois existem ca-
a habilitação dos licitantes, a abertura e ava- sos em que a lei permite que certas informa-
liação das propostas, além da análise técnica ções sejam mantidas em sigilo por motivos de
e jurídica. Já o pregão eletrônico possui uma segurança nacional, proteção da privacidade
etapa única de lances, em que os licitantes ca- pessoal ou para evitar prejuízos ao inquérito
dastrados podem apresentar suas propostas em andamento.
de forma eletrônica. Após essa etapa, ocorre a A publicidade tem o propósito de permitir que
negociação, na qual são solicitados lances su- os cidadãos conheçam as ações dos órgãos públi-
cessivos aos licitantes para que sejam obtidos cos, promovendo a transparência e a responsa-
preços mais vantajosos. bilidade, o que pode ajudar a prevenir abusos de
Em resumo, as licitações transmitidas ao poder e a corrupção, fomentando a confiança na
vivo são processos licitatórios tradicionais administração pública. No entanto, é importan-
com a transmissão online, ao passo que o pre- te reconhecer que a aplicação do princípio da pu-
gão eletrônico é uma modalidade específica blicidade deve ser equilibrada e ponderada com
de licitação realizada totalmente por meio de outros valores, como a proteção da privacidade,
plataforma eletrônica na internet, oferecendo segurança nacional e interesses legítimos.
vantagens como agilidade, acesso remoto e co- Além disso, a evolução do princípio da pu-
municação eletrônica. blicidade depende da capacidade de as institui-

138 REVISTA BONIJURIS I ANO 35 I EDIÇÃO 685 I DEZ23/JAN24


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IMPORTÂNCIA DA TRANSMISSÃO AO VIVO DOS PREGÕES

A fraude em licitações ocorre quando um processo de contratação pública é manipulado


de forma ilegal em favor de beneciário de uma empresa especíca ou indivíduo,
comprometendo a igualdade de oportunidades e a transparência do processo

ções divulgarem informações de forma clara, namento de requisitos durante o procedimento


acessível e compreensível para o público em configurado, para favorecer um determinado
geral. É necessário o desenvolvimento de capa- concorrente, estabelecendo requisitos que só
cidade para garantir que as informações sejam esta empresa pode atender; por fim, a avaliação
divulgadas de maneira eficiente e que os cida- parcial das propostas, mostrando favoritismo a
dãos tenham meios efetivos de acesso a essas um concorrente específico ou, ainda, ignorando
informações. intencionalmente propostas que são legítimas.
Portanto, embora possa haver desafios na A manipulação de documentos em licita-
aplicação prática do princípio da publicidade, ções pode, inclusive, comprometer a boa-fé do
ele continua sendo um pilar capital da demo- procedimento e dificulta a concorrência entre
cracia e da administração pública responsável. os participantes. Além disso, ela pode resultar
na escolha de propostas desvantajosas para a
3.4 Manipulação e fraudes nas licitações administração pública, causando prejuízos fi-
gravadas e transmitidas ao vivo nanceiros e comprometendo a qualidade dos
As licitações presenciais gravadas geralmente serviços ou produtos contratados. Nesse senti-
são registradas em áudio e vídeo para garantir do, é fundamental que as licitações presenciais
a transparência e a integridade do processo. No gravadas sejam conduzidas de forma transpa-
entanto, ainda assim, estão sujeitas a manipu- rente e sigam todos os procedimentos legais
lações e fraudes dentro do procedimento. impostos pela legislação em vigor.
A fraude em licitações ocorre quando um
processo de contratação pública é manipulado 3.5 As vantagens e desvantagens para os
de forma ilegal em favor de beneficiário de uma órgãos da administração pública
empresa específica ou indivíduo, comprome- Outro ponto que merece destaque são as vanta-
tendo a igualdade de oportunidades e a trans- gens e as desvantagens que as licitações grava-
parência do processo. das podem trazer aos órgãos da administração
Nesse contexto, qualquer tipo de manipu- pública.
lação de documentos, tais como adulteração Como já exposto, as licitações gravadas e
de propostas, falsificação de documentos ou transmitidas ao vivo fornecem um registro ob-
qualquer outra forma de fraude, é considerado jetivo e imparcial de todo o processo, o que con-
crime e pode levar a punições graves, incluindo tribui para a transparência das ações do órgão
multas, processos criminais e até mesmo prisão. público. Os participantes têm acesso às infor-
Exemplos de manipulações em licitações mações de forma mais satisfatória, garantindo
incluem: o conluio, que se refere à combinação a igualdade de tratamento e possibilitando uma
de preços entre os participantes ou a divisão análise mais detalhada dos procedimentos.
de contratos entre si, eliminando a concorrên- O acesso é amplo, vez que é mais aberto ao
cia justa; o vazamento de informações confi- público interessado, como potenciais fornece-
denciais sobre a licitação, dando vantagens a dores, órgãos de controle, cidadãos e outros,
alguns concorrentes; a apresentação de docu- que podem assistir e verificar se a licitação está
mentos falsificados ou manipulados para obter sendo conduzida de maneira justa e imparcial.
uma vantagem competitiva ou ocultar infor- A transmissão ao vivo inibe também práticas
mações relevantes; os pagamentos ilegais feitos de conspiração entre licitantes, uma vez que to-
a funcionários responsáveis pela condução da das as propostas e discussões são documenta-
licitação, para influenciar o resultado; o direcio- das publicamente. Os licitantes são incentivados

140 REVISTA BONIJURIS I ANO 35 I EDIÇÃO 685 I DEZ23/JAN24


Rafaela Mendonça Alves, Cid Capobiango Soares de Moura DOUTRINA JURÍDICA

a apresentar suas melhores ofertas e a seguir as


regras, sabendo que estão sendo observados em
tempo real. Também, há melhoria da concorrên-
cia, vez que, com a transmissão ao vivo das lici-
tações, os potenciais fornecedores têm a opor-
tunidade de ver os concorrentes em ação, o que
pode estimular a competição saudável e apri- MOR AR
R EM
morar a qualidade das propostas apresentadas. CON
NDOOMÍN
NIO É BOM.
Ademais, percebe-se que, assim, ter um registro
oficial pode ser útil como prova, em caso de dis-
MOR AR
R EM CO
ONDDOMÍNIO
putas ou contestações. Isso facilita a resolução GAR
R ANTID
DO PELAA
de litígios e garante uma documentação mais GAR
R ANTE
E TAU
UBAATÉ É
completa e confiável do processo licitatório.
No entanto, existem preocupações relacio-
nadas como o investimento em infraestrutura mel
lhor
técnica, como equipamentos de gravação de
qualidade, sistemas de armazenamento de da- ain
nda.
dos e recursos de transmissão de áudio e vídeo.
É preciso garantir que a infraestrutura esteja
disponível e funcionando corretamente duran-
te todo o processo de licitação. Serão necessá-
rias câmeras de vídeo de alta qualidade para
capturar as imagens e os eventos da licitação
– inclusive, a depender do tamanho do local,
várias câmeras podem ser demandadas para
cobrir todos os ângulos do ambiente.
É altamente recomendável que o órgão pú-
blico tenha um sistema de transmissão ao vivo
confiável para enviar o vídeo gravado para os
participantes da licitação que estejam acompa-
nhando remotamente, o que pode ser feito por
meio de uma plataforma de streaming online
ou de uma solução personalizada, dependendo
das características e da escala da licitação. Nesse
sentido, é também importante ter uma conexão
de internet estável e de alta velocidade, tanto no
local da licitação quanto no local de recepção
dos participantes remotos, pois a transmissão
ao vivo exigirá uma conexão adequada para ga-
rantir uma qualidade adequada de vídeo e áudio.
Outras possibilidades são o acesso a uma
plataforma de comunicação para permitir a in-
teração entre os participantes remotos e o res-
ponsável pela condução da licitação. Isso pode
incluir recursos como chat ao vivo, perguntas e 12 3634 6565
respostas em tempo real, levantamento de mão 12 99773 3595
virtual, entre outros, além de um sistema de re- garantetaubate.com.br
gistro e arquivamento, o que inclui a criação de
um banco de dados para armazenamento, ga-

REVISTA BONIJURIS I ANO 35 I EDIÇÃO 685 I DEZ23/JAN24 141


IMPORTÂNCIA DA TRANSMISSÃO AO VIVO DOS PREGÕES

rantindo que eles possam ser acessados e con- No entanto, como já exposto, embora as
sultados posteriormente, se necessário. licitações gravadas ao vivo ofereçam várias
Deve-se atentar ainda às possibilidades de vantagens em termos de transparência e pre-
manipulação e edições seletivas, para alterar venção de fraudes, também existem algumas
ou omitir partes do processo que podem ser desvantagens a serem consideradas, tais como
comprometedoras ou desfavoráveis a determi- possíveis dificuldades de adaptações na infra-
nados participantes. estrutura tecnológica, manipulações, fraudes,
É essencial garantir a segurança e a privaci- edições seletivas e violações de privacidade e
dade das informações, o que pode incluir me- de informações do procedimento, entre outras.
didas de segurança cibernética para proteger a Para combater as fraudes nas licitações gra-
transmissão ao vivo contra-ataques, bem como vadas ao vivo, é necessário programar uma
a execução de políticas e práticas adequadas série de medidas preventivas e de fiscalização,
para garantir a confidencialidade dos dados en- como a aplicação da transparência total, rea-
volvidos no processo licitatório. lizada com mais confiabilidade pelos órgãos
A violação de privacidade nas gravações de públicos, e o fortalecimento dos órgãos de con-
licitações pode ocorrer quando as informações trole, investindo em capacitação e autonomia.
sensíveis e confidenciais divulgadas durante o Afinal, essas instituições devem ter poderes e
processo de licitação são acessadas, divulgadas recursos adequados para fiscalizar e auditar as
ou usadas indevidamente por terceiros não au- licitações, garantindo a conformidade com as
torizados. regras estabelecidas.
Para evitar violações de privacidade nas gra- Pode ser realizada, também, a seleção de par-
vações de licitações, é crucial programar medi- ticipantes de forma mais rigorosa, mediante
das de segurança adequadas, como restrições critérios claros e objetivos para a seleção dos
de acesso aos arquivos de gravação, criptogra- fornecedores, levando em consideração sua
fia de dados, políticas claras de privacidade e capacidade técnica, experiência, idoneidade e
treinamento dos envolvidos sobre a importân- capacidade financeira.
cia da proteção das informações confidenciais. Também é crucial realizar uma análise minu-
ciosa dos documentos e das informações forne-
CONCLUSÃO cidas pelos concorrentes, para evitar empresas
A transmissão ao vivo das licitações é uma prá- de fachada ou com histórico de irregularidades.
tica que contribui para efetivar o princípio da É fundamental, ainda, envolver a sociedade
publicidade nesses processos, sendo que esse no processo de controle e fiscalização das lici-
princípio é um dos pilares fundamentais da ad- tações, criando mecanismos de participação
ministração pública, confirmando que os atos social, como conselhos de acompanhamento
realizados pelos órgãos públicos devem ser e auditoria cidadã, que podem contribuir para
transparentes e acessíveis aos cidadãos, além aumentar a transparência dos atos licitatórios.
de permitir que qualquer pessoa interessada Por fim, é primordial a correta capacitação
possa acompanhar o processo em tempo real, o e conscientização dos servidores responsáveis
que possibilita um maior controle social sobre pelas licitações, oferecendo treinamentos re-
as atividades públicas, promovendo a transpa- gulares para que estejam atualizados sobre as
rência e prevenindo possíveis irregularidades. boas práticas, leis e normas relacionadas ao
Ao transmitirem as licitações ao vivo, os ór- processo licitatório. Além disso, é necessário
gãos públicos fornecem aos cidadãos informa- conscientizar os participantes sobre as conse-
ções sobre os procedimentos, critérios de sele- quências legais e éticas das fraudes.
ção, participantes e resultados das licitações. Essas medidas, combinadas, podem ajudar
Isso ajuda a evitar a ocorrência de fraudes, a combater as fraudes nas licitações gravadas
favorecimentos indevidos e corrupção, já que ao vivo, promovendo uma maior transparência,
qualquer pessoa pode acompanhar o processo responsabilidade e confiança no processo de
e denunciar possíveis irregularidades. contratação pública. 

142 REVISTA BONIJURIS I ANO 35 I EDIÇÃO 685 I DEZ23/JAN24


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IMPORTÂNCIA DA TRANSMISSÃO AO VIVO DOS PREGÕES

REFERÊNCIAS
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Tema. Publicado em 04/04/2023. Atualizado em 03/05/2023. Bra- toledo-algumas-principais-mudancas-lei-licitacoes. Acesso em: 08
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compras/pt-br/nllc/legislacao-14-133-por-tema. Acesso em: 08 jun. REVISTA CONSULTOR JURÍDICO. Rol objetivo de mudanças promovidas
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LANCE FÁCIL. Bens e serviços comuns: entenda essa expressão usada cial-e-eletrnico.pdf. Acesso em: 13 jun. 2023.
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https://blog.lancefacil.com/bens-e-servicos-comuns. Acesso em: 16 co: como combater? Universidade Federal Fluminense. Instituto de
jun. 2023. Ciências Humanas e Sociais. Rio de Janeiro, 2017. Disponível em:
LANCE FÁCIL. Pregão eletrônico: tudo o que você precisa saber sobre https://app.uff.br/riuff/bitstream/handle/1/6395/Diego%20dos%20
essa modalidade. Santos%20-%20Luane%20Paix%E3o.pdf;jsessionid=CD620760F-
Lance Fácil, Jundiaí-SP, 26 out. 2021. Disponível em: https://blog.lancefa- 3F074C0A15C848155C92FA1?sequence=1. Acesso em: 15 jun.
cil.com/pregao-eletronico. Acesso em: 05 jun. 2023. 2023.

144 REVISTA BONIJURIS I ANO 35 I EDIÇÃO 685 I DEZ23/JAN24


Rafaela Mendonça Alves, Cid Capobiango Soares de Moura DOUTRINA JURÍDICA

VIEIRA, Michele Roque. Licitações: A vantagem do pregão eletrônico nas br/bitstream/handle/10183/27211/000763386.pdf?sequence=1&i-


licitações. Universidade do Rio Grande do Sul. Faculdade de Ciências sAllowed=y. Acesso em: 15 jun. 2023.
Econômicas. Porto Alegre, 2010. Disponível em: https://lume.ufrgs. ZAFFARI, Eduardo. FERREIRA, Gabriel B. LIMA, Náthani S.; et al. Licitações
e contratos. Porto Alegre: SAGAH, 2021.

FICHA TÉCNICA // Revista Bonijuris


Título original: Importância da transmissão ao vivo das licitações na modalidade de pregão presen-
cial para efetivar o princípio da publicidade na nova lei de licitações. Autores: Rafaela Mendonça Al-
ves. Graduada em Direito pela Faculdade de Pará de Minas. Pós-Graduanda em Advocacia Trabalhista
e Previdenciária. Cid Capobiango Soares de Moura. Professor da Faculdade de Pará de Minas, Mestre
em Gestão e Auditoria Ambiental. Especialização em Direito Civil e Processual Civil pela Faculdade
de Direito do Vale do Rio Doce, Governador Valadares – mg. Especialização em Direito Público pelo
Centro Universitário Newton Paiva. Graduado em Direito pela Faculdade de Direito Milton Campos.
Resumo: Na nova Lei de Licitações e Contratos (nllc), vigente desde 1º de abril de 2021, destaca-se a
previsão disposta no art. 17, §§ 2º e 5º, que determina que as licitações sejam realizadas preferencial-
mente sob a forma eletrônica, admitida a utilização da forma presencial, desde que motivada e que
a sessão pública de apresentação de propostas seja gravada em áudio e vídeo, sendo essa gravação
juntada aos autos do processo licitatório. Essas medidas combinadas podem ajudar a combater as
fraudes nas licitações gravadas ao vivo, promovendo uma maior transparência, responsabilidade e
confiança no processo de contratação pública. Mas é necessário que os servidores públicos estejam
treinados para isso. Palavras-chave: licitação; pregão presencial; publicidade; transparência
pública. Abstract: In the new Bidding and Contracts Law (nllc), in force since April 1, 2021, the provi-
sion set out in art. 17, §§ 2 and 5, which determines that tenders are preferably carried out in electronic
form, the use of in-person form is permi�ed, provided that it is motivated and that the public ses-
sion for the presentation of proposals is recorded in audio and video, this recording being a�ached to
the records of the bidding process. These combined measures can help combat fraud in live recorded
bids, promoting greater transparency, accountability and trust in the public procurement process.
But public servants need to be trained to do this. Keywords: bidding; face trading; advertising; public
transparency. Data de recebimento: 25.07.2023. Data de aprovação: 10.10.2023. Fonte: Revista Bonijuris,
vol. 35, n. 6 – #685 – dez23/jan24, págs 124-145. Editor: Luiz Fernando de Queiroz, Ed. Bonijuris, Curitiba, pr,
Brasil, issn 1809-3256 (juridico@bonijuris.com.br).

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REVISTA BONIJURIS I ANO 35 I EDIÇÃO 685 I DEZ23/JAN24 145


SELEÇÃO DO EDITOR

Josélia Aparecida Küchler ADVOGADA

CIDADES INTELIGENTES E O
PAPEL DA SOCIEDADE CIVIL
Enquanto a revolução digital está oferecendo uma janela de
oportunidades para milhões de residentes urbanos, não há garantia
de que a tecnologia os beneficiará automaticamente

N
as últimas duas décadas, o conceito de mudanças climáticas. Para reduzir os impactos
“Smart City” ou “Cidade Inteligente” negativos, deverá haver um plano de cidade
tornou-se cada vez mais popular na sustentável.
literatura científica e nas políticas pú- A segunda questão a ser analisada são as tec-
blicas. Os primeiros projetos de cida- nologias de informação e comunicação, cami-
des inteligentes tendiam a ser orientados para nhando para a digitalização total, o uso de in-
a tecnologia, concebendo o cidadão como um teligência artificial e aprendizado de máquina.
provedor de dados. Surgiram novos projetos A terceira questão diz respeito à participa-
centrados no cidadão que desafiam o papel do ção de empresas privadas e sociedade civil. Elas
indivíduo nessas cidades inteligentes de segun- também têm um papel importante a desempe-
da geração. nhar na ponte tecnologia, inovação e inclusão.
Para entender esse conceito, cumpre reco- Os cidadãos devem ser ativos na gestão e gover-
nhecer por que as cidades são consideradas nança de suas cidades, pois conhecem os pro-
elementos-chave para o futuro. Atualmente, há blemas das comunidades onde vivem, e podem
um processo de urbanização massiva. A onu es- avaliar as ações da administração municipal.
tima que cidades abriguem 70% da população Fortalecer a educação pública, discutir sobre as
mundial até 20501. Os serviços e infraestrutu- cidades inteligentes no currículo escolar e edu-
ras das cidades estão sendo levados ao limite car o público para usar tecnologias inteligentes
para suportar o crescimento populacional. As são elementos essenciais para o fortalecimento
cidades estão ficando cada vez maiores, os des- da participação pública (Zeadally, 2016).
locamentos mais longos, estradas maiores e o Em quarto lugar, as discussões sobre cidades
impacto negativo no meio ambiente aumen- inteligentes não devem ser exclusivamente téc-
tando. As cidades também estão no centro das nicas, sendo imprescindível incluir a avaliação

146 REVISTA BONIJURIS I ANO 35 I EDIÇÃO 685 I DEZ23/JAN24


Josélia Aparecida Küchler SELEÇÃO DO EDITOR

Atualmente, há um processo de urbanização massiva. A ONU estima que cidades


abriguem 70% da população mundial até 2050. Os serviços e infraestruturas das
cidades estão sendo levados ao limite para suportar o crescimento populacional

de benefícios sociais e individuais, o design de Por fim, serão demonstrados alguns benefí-
novos aplicativos e a melhoria dos dados cole- cios das cidades inteligentes. Com tecnologia
tados para o seu bom funcionamento. A ênfase de ponta, as cidades se tornam mais eficientes,
no desenvolvimento sustentável, bem como as conectadas e sustentáveis. Por exemplo: melho-
preocupações com a proteção e uso de dados, ria na infraestrutura – sistemas de transportes
devem estar presentes. Esta perspectiva mais inteligentes, estradas melhores; consumo de
ampla reflete a diversidade de interesses envol- energia otimizado, reduzindo custos e impacto
vidos no desenvolvimento de cidades inteligen- ambiental; serviços públicos eficientes, respon-
tes, incluindo o lucro de empresas que buscam sivos e personalizados; proteção e segurança;
capitalizar em aplicativos de cidades inteligen- qualidade de ar mais limpo e melhor saúde dos
tes e uma perspectiva sociopolítica que prioriza cidadãos.
o alinhamento dos avanços tecnológicos com
as necessidades da sociedade. 1. DEFINIÇÃO DE CIDADES
Em quinto lugar, serão mostrados os desa- INTELIGENTES
fios das cidades inteligentes relacionados à Existem várias definições de “Smart Cities” ou
infraestrutura, parcerias e políticas. Para se “Cidades Inteligentes” e variam de acordo com
tornar uma cidade inteligente, as cidades pre- o contexto geopolítico e com as questões espe-
cisam superar os desafios associados ao mape- cíficas em questão. O termo “cidade inteligente”
amento de uma estratégia complexa que en- é um conceito difuso e não existe uma defini-
volve participantes públicos e privados, partes ção única para o conceito.
interessadas diretas e indiretas, integradores, O termo “cidade inteligente” apareceu pela
rede e provedores de serviços gerenciados, for- primeira vez na década de 1990. Desde então,
necedores de produtos e provedores de infra- surgiram várias definições de “cidades inteli-
estrutura de tecnologia da informação (ti). As gentes”. Em diferentes períodos de desenvol-
cidades também devem proteger os dados dos vimento, várias partes interessadas darão de-
residentes para amenizar as preocupações com finições diferentes. Entre as definições mais
a privacidade. amplas, estão relacionadas às seis dimensões:

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REVISTA BONIJURIS I ANO 35 I EDIÇÃO 685 I DEZ23/JAN24 147


CIDADES INTELIGENTES E O PAPEL DA SOCIEDADE CIVIL

Embora a inovação digital permaneça central para o conceito de cidade inteligente, uma
questão-chave é saber se o investimento em tecnologias inteligentes e as inovações
digitais contribuem, em última análise, para melhorar o bem-estar dos cidadãos

pessoas inteligentes, economia inteligente, go- ciente e habitável para o benefício de seus ha-
vernança inteligente, mobilidade inteligente, bitantes e negócios.
vida inteligente e ambiente inteligente, para O “British Standards Institution” (bsi)2 defi-
medir o desenvolvimento de cidades inteligen- ne a cidade inteligente como “a integração efe-
tes (Desouza et al., 2020). tiva de sistemas físicos, digitais e humanos no
As cidades inteligentes podem fazer ajustes ambiente construído para proporcionar um fu-
e melhorias adicionais de acordo com suas pró- turo sustentável, próspero e inclusivo para seus
prias condições reais de desenvolvimento. De- cidadãos”.
fine-se, também, como uma cidade na qual um Na literatura, muitos autores apresentam
conjunto de sensores (normalmente centenas conceitos de cidades inteligentes.
ou milhares) é implantado para coletar dados Embora a inovação digital permaneça cen-
eletrônicos de e sobre pessoas e infraestrutura tral para o conceito de cidade inteligente, uma
de modo a melhorar a eficiência e a qualidade questão-chave é se o investimento em tecno-
de vida. Moradores e trabalhadores da cidade, logias inteligentes e as inovações digitais con-
por sua vez, podem contar com aplicativos que tribuem, em última análise, para melhorar o
permitem acessar os serviços da cidade, receber bem-estar dos cidadãos. A abordagem centra-
e emitir relatórios de interrupções, acidentes e da no ser humano é considerada a chave para
crimes, pagar impostos, taxas e afins (Kummi- tornar uma cidade mais inteligente (Mohan-
tha et al., 2017). ty, 2016).
O desenvolvimento de cidades inteligentes
1.1 Conceito tem como objetivo fundamental focar no cida-
Desde que os humanos começaram a viver em dão e melhorar a qualidade de vida dos residen-
aglomerações urbanas, tiveram que enfrentar tes e alcançar a tríade de desenvolvimento eco-
os mesmos problemas: saneamento básico, nômico, social e ambiental no desenvolvimento
criminalidade, congestionamento, escassez de longo prazo. As tecnologias emergentes,
alimentar, cobrança de impostos, manutenção como ferramentas para o desenvolvimento ur-
de instalações públicas e serviços de emer- bano adquirem dados e conhecimento o tempo
gência. todo em todo o mundo, produzem mudanças
A sociedade foi evoluindo, surgiu a ele- qualitativas em quantidades substanciais de
tricidade, comunicação e novos problemas dados e promovem inovação e mudança (De-
surgiram relacionados à infraestrutura: rede souza et al., 2020).
elétrica; redes telefônicas e celulares; internet Uma cidade passa a ser inteligente quando
(incluindo redes de fibra ótica e cabo); água os investimentos em capital humano e social
corrente quente e fria; tratamento de água e em infraestruturas de comunicação tradicio-
resíduos; remoção de lixo e reciclagem; par- nais (transportes) e modernas (tic) alimentam
ques públicos e instalações recreativas; ruas; o crescimento econômico sustentável e uma
ferroviárias, ferroviárias leves e automotivas, elevada qualidade de vida, com uma gestão
estradas e vias públicas. Nas últimas duas inteligente dos recursos naturais, através de
décadas, com a rápida evolução da tecnolo- uma governança participativa (Caragliu et al.,
gia, surgiu novo termo para as cidades, sendo 2011). Além disso, são características fundamen-
denominadas “Smart City”, que seria a cidade tais para uma cidade inteligente:
que integra tecnologias digitais em suas redes, – Ser preparada para oferecer condições
serviços e infraestrutura, tornando-a mais efi- para uma comunidade saudável e feliz nas con-

148 REVISTA BONIJURIS I ANO 35 I EDIÇÃO 685 I DEZ23/JAN24


O Esquadrão Suicida
da Justiça
De um sonho de liberdade ao pesadelo
do Estado policial
Max Paskin Neto

Max Paskin Neto põe o dedo na ferida ao revelar a epidemia


incontida de vícios do esquadrão suicida da justiça: juízes,
promotores e agentes públicos que respondem a uma atuação
criminal contaminada pelo afã por punir, prender e condenar,
gerando efeitos nefastos e o desrespeito a princípios constitucionais.

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CIDADES INTELIGENTES E O PAPEL DA SOCIEDADE CIVIL

No Brasil, o PL 976/2021 institui a Política Nacional de Cidades Inteligentes (PNCI)


com o uso de tecnologias disponíveis para aprimorar e interconectar os serviços e a
infraestrutura das cidades, de modo inclusivo, participativo, transparente e inovador

dições desafiadoras que as tendências globais, seus autores, é tornar os serviços públicos mais
ambientais, econômicas e sociais podem trazer eficientes e melhorar a qualidade de vida dos
(Harrison et al, 2011). cidadãos3.
– Monitorar e integrar condições de todas Conclui-se dos conceitos de cidade inteli-
as suas infraestruturas críticas, incluindo es- gente que alguns autores se concentram na
tradas, pontes, túneis, ferrovia, metrôs, aero- tecnologia, enquanto outros têm uma visão
portos, portos marítimos, comunicações, água, mais ampla. Também há referências frequen-
energia, ar, resíduos, moradias, mesmo grandes tes a modelos helicoidais de desenvolvimento
edifícios, podem otimizar melhor seus recur- – exemplos de abordagens duplas (público-pri-
sos, planejar suas atividades de manutenção vadas), triplas (mais instituições de ensino) e
preventiva e monitorar os aspectos de seguran- quádruplas (mais cidadãos e comunidade).
ça, maximizando os serviços aos seus cidadãos Todas essas abordagens são úteis para en-
(Dameri, 2016). tendermos as cidades inteligentes.
– Utilizar tecnologias para melhorar a qua-
lidade de vida de seus habitantes, oferecendo 1.2 Características principais
serviços públicos mais eficientes, gerenciamen- O conceito de cidade inteligente enfatiza cinco
to de recursos mais sustentável e maior conec- questões principais:
tividade. Essas tecnologias podem ajudar a – Tecnologias da informação e comunicação
resolver muitos dos desafios urbanos que as ci- (tics): as tics são a base para a criação de uma
dades enfrentam, incluindo o congestionamen- cidade inteligente, permitindo que dados sejam
to do tráfego, a poluição e a falta de moradias. coletados, processados e compartilhados em
Os componentes de uma cidade inteligente in- tempo real. Algumas tecnologias que são es-
cluem pessoas, governança, casas inteligentes, senciais para cidades inteligentes incluem sen-
infraestrutura inteligente, tecnologia, econo- sores, redes de comunicação sem fio, análise de
mia inteligente, mobilidade inteligente, vida in- dados, inteligência artificial, big data e internet
teligente, estacionamento inteligente e ambien- das coisas (IoT).
te inteligente (Sessa, 2021). – Planejamento urbano e desenvolvimento
No Brasil, o Projeto de Lei (pl) 976/2021 ins- sustentável: o planejamento urbano é um ele-
titui a Política Nacional de Cidades Inteligen- mento crucial para o desenvolvimento de cida-
tes (pnci) e conceitua cidade inteligente como de inteligente, pois essas cidades precisam ser
“espaço urbano orientado para o investimento projetadas de forma sustentável, com infraes-
em capital humano e social, o desenvolvimento trutura adequada e espaços públicos seguros e
econômico sustentável e o uso de tecnologias acessíveis.
disponíveis para aprimorar e interconectar – Participação cidadã: uma cidade inteligente
os serviços e a infraestrutura das cidades, de deve incluir a participação dos cidadãos em to-
modo inclusivo, participativo, transparente e das as fases do planejamento e desenvolvimen-
inovador, com foco na elevação da qualidade to da cidade. Isso envolve a criação de canais
de vida e do bem-estar dos cidadãos”. Entre os de comunicação para a participação pública e
princípios que deverão reger as cidades inteli- o uso de tecnologias que permitem a cocriarão
gentes estão: a inovação na prestação de ser- de soluções.
viços públicos, o respeito à privacidade, a sus- – Políticas públicas: são essenciais para pro-
tentabilidade ambiental e a economia baseada mover o desenvolvimento das cidades inteli-
no conhecimento. O objetivo final, segundo os gentes, incluindo a criação de incentivos fiscais,

150 REVISTA BONIJURIS I ANO 35 I EDIÇÃO 685 I DEZ23/JAN24


Josélia Aparecida Küchler SELEÇÃO DO EDITOR

Pouco se demonstra sobre como os cidadãos


podem se envolver nos processos de
governança em torno de cidades inteligentes
Garante Rio
programas de capacitação e investimentos em A garantia que
infraestrutura.
– Economia digital: cidades inteligentes todo síndico
são impulsionadas pela economia digital, in-
cluindo a criação de empregos na indústria
procura
de tecnologia e o uso de plataformas digitais
para fornecer serviços eficientes e baratos aos
cidadãos.

1.3 Exemplos de cidades inteligentes4


Alguns exemplos específicos de iniciativas de
cidades inteligentes impulsionadas pelos go-
vernos nacionais da Coreia do Sul, do Japão e
do Canadá:
– A Coreia do Sul tem incentivado cidades
inteligentes liderando projetos de grande es-
cala neste setor. A iniciativa inclui quatro pila-
res principais: i) pesquisa e desenvolvimento;
ii) desafio de soluções inteligentes (empresas
privadas podem receber até 20 milhões de dó-
lares por três anos para desenvolver projetos
de cidades inteligentes); iii) desregulamenta-
ção; e iv) um programa piloto nacional para ci-
dades inteligentes. A iniciativa tem sido muito
bem-sucedida, principalmente graças ao alto
nível de aceitação de smartphones (95% dos
coreanos usam um telefone celular), unindo
desenvolvimento urbano e o desenvolvimento Receita assegurada em
do ecossistema industrial de ti. Além disso, o contrato para os gastos mensais
surgimento de iniciativas locais dos governos, do condomínio.
a criação de equipes dedicadas a cidades inte-
ligentes nas administrações locais, o envolvi-
mento do cidadão e o rápido crescimento cor-
porativo foram fundamentais para o sucesso
da iniciativa de cidade inteligente. O governo
agora está repensando como “viver de forma
inteligente” em um ambiente da era digital.
Estão enfrentando três preocupações princi-
pais: privacidade; o compartilhamento inteli-
gente; e custo. A Coreia do Sul está abordando garanterio.com.br
o compartilhamento inteligente por meio de
redes públicas de cftv e serviços sociais in-
21 3173 1445 • 21 98493 6785
tegrados. Por exemplo, sk Telecom e a Korea

REVISTA BONIJURIS I ANO 35 I EDIÇÃO 685 I DEZ23/JAN24 151


CIDADES INTELIGENTES E O PAPEL DA SOCIEDADE CIVIL

No século 21, muitas cidades brasileiras enfrentam o desao de modernizar


sua infraestrutura e serviços enquanto lidam com questões de desigualdade
social e econômica. A sustentabilidade tornou-se uma preocupação central

Land and Housing Corporation trabalham capacitar as comunidades a adotar uma abor-
juntas para equipar idosos com alto-falante dagem de cidade inteligente para melhorar a
que reconhece voz e fornece informações, di- vida de seus residentes por meio de inovação,
versão e companhia. dados e tecnologia conectada. Esta competi-
– O Japão define cidades inteligentes como ção foi concebida para envolver todas as co-
“uma cidade ou região sustentável que incor- munidades, incluindo comunidades rurais e
pora Tecnologia da Informação e Informática remotas que têm pouco ou nenhum acesso à
e outras novas tecnologias para resolver vá- internet. O desafio oferece quatro prêmios de
rios desafios que ela enfrenta e gerencia (pla- até 50 milhões de dólares canadenses, que es-
nejamento, desenvolvimento, gestão e opera- tão abertos a todas as comunidades, indepen-
ção) para a sua otimização global”. Além disso, dentemente do tamanho da população. Para
as cidades inteligentes precisam ser interseto- garantir que todas as comunidades possam
riais e abranger setores como energia, trans- participar, o governo implementou uma série
porte, saúde e assistência médica. Mudar de de incentivos para ajudar as pequenas cidades
uma abordagem liderada pelo governo para a aumentar sua capacidade e desenvolver suas
a colaboração público-privada é uma priori- propostas. No total, o governo recebeu 130
dade. Os projetos de cidades inteligentes só candidaturas abrangendo uma vasta gama de
podem ser bem-sucedidos se envolverem uma soluções em áreas como a segurança alimen-
variedade de partes interessadas, como desen- tar, redução do isolamento da população idosa,
volvedores de tecnologia e provedores de ser- integração de migrantes e acessibilidade para
viços (que fazem tecnologia); desenvolvedores pessoas com deficiência. Um dos principais as-
da cidade (quem adicionar tecnologia); admi- pectos da competição é que todas as ideias de-
nistradores municipais (que usam tecnologia); vem ser compartilhadas e aplicáveis a outras
moradores e empresas locais (que compram comunidades. Em maio de 2019, um júri inde-
tecnologia). Em 2019, o Ministério da Terra, In- pendente selecionou os quatro vencedores: i)
fraestrutura, Transporte e Turismo no Japão a cidade de Town of Bridgewater, Nova Scotia
apoiou 15 ‘Leading Model Projects’ e 23 ‘Prio- e sua proposta abordando a pobreza energéti-
ritised Projects para Implementação’, que são ca, ii) Nunavut Communities e seu projeto de
baseados em consórcios com o setor privado prevenção do suicídio, iii) a cidade de Guelph
e governos para resolver desafios urbanos e and Wellington County, Ontario e seu projeto
regionais por meio de novas tecnologias e da- de economia alimentar circular para reduzir o
dos. Esse e outros ministérios designaram 71 desperdício e aumentar a produção de alimen-
consórcios como “Parceiros para Promoção tos e iv) a cidade de Montréal, Quebec e seu
de Cidades Inteligentes”, que tenham capaci- plano para melhorar a mobilidade de todos os
dade e seriedade suficientes e os apoiarão por residentes. Quando o “desafio” foi lançado no
meio de parceria público-privado. A ideia sub- ano de 2017, comunidades de todo o Canadá
jacente a estes projetos é encorajar as cidades respondeu em grande número. Desde as maio-
a tomarem as suas próprias iniciativas e res- res áreas metropolitanas até algumas das me-
ponder aos desafios dos lugares que ficaram nores cidades, até comunidades indígenas, co-
para trás. munidades de todo o país demonstraram que a
– No Canadá, o programa “Smart Cities inovação e a mudança possibilitadas pela tec-
Challenge” é uma competição aberta a parti- nologia podem melhorar as realidades locais
cipantes locais e governos regionais, que visa de maneiras significativas.

152 REVISTA BONIJURIS I ANO 35 I EDIÇÃO 685 I DEZ23/JAN24


Josélia Aparecida Küchler SELEÇÃO DO EDITOR

A sociedade civil deve ser integrada nos processos de tomada de


decisão como participante ativa em vez de ser apenas participante
passiva no fornecimento de diferentes tipos de dados

1.4 Participação da sociedade comércio, estudantes e cidadãos, que visa a


Empresas privadas e sociedade civil também transformar a cidade em um espaço muito me-
têm um papel importante a desempenhar na lhor para se viver.
ponte tecnológica inovação e inclusão. Qua- Em Curitiba, capital do estado do Paraná, o
se toda a literatura sobre cidades inteligentes programa de consultas públicas “Fala Curitiba”
destaca a necessidade da participação dos cida- é a principal ferramenta municipal para intera-
dãos na inovação da cidade inteligente. ção social e governo participativo.
No entanto, pouco se demonstra sobre Em um momento em que as disparidades en-
como os cidadãos podem se envolver de ma- tre e dentro das cidades continuam a crescer,
neira mais significativa nos processos de go- criando cidades inteligentes sem considerar
vernança em torno de cidades inteligentes. seus efeitos distributivos poderia exacerbar as
Para aumentar a participação, algumas cida- desigualdades humanas já existentes. Os cida-
des aderem às tendências do século 21. Por dãos devem ser ativos na gestão e governança de
exemplo, duas cidades no Reino Unido (Lon- suas cidades, pois conhecem os problemas das
dres e Plymouth) estão experimentando o cro- comunidades onde vivem e trabalham e podem
wdfunding para possíveis projetos urbanos. avaliar as ações das autoridades municipais. A
As propostas de projetos urbanos são listadas sociedade civil deve ser integrada nos processos
em sites populares de crowdfunding, de forma de tomada de decisão como participante ativa
aberta e transparente, permitindo que mora- em vez de ser apenas participante passiva no
dores e investidores contribuam com recursos fornecimento de diferentes tipos de dados. O
para projetos e iniciativas de seu interesse na objetivo da participação social é estabelecer um
localidade. Em alguns casos, as autoridades mecanismo para atender às necessidades dos ci-
locais apoiarão as propostas vencedoras com- dadãos e conseguir sua aceitação cidadãos das
binando os fundos arrecadados (Pavlik, 2019). ações da administração pública. Ainda, de gran-
A capital holandesa – Amsterdam -– desenvol- de importância, é o fortalecimento da educação
veu uma iniciativa conhecida como Amster- pública, incluindo aprendizado e discutindo ci-
dam Smart City, uma parceria entre governo, dades inteligentes nos currículos escolares.

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REVISTA BONIJURIS I ANO 35 I EDIÇÃO 685 I DEZ23/JAN24 153
CIDADES INTELIGENTES E O PAPEL DA SOCIEDADE CIVIL

As cidades inteligentes, embora fortemente associadas às tecnologias


avançadas, vão além, englobando o uso estratégico de recursos para melhorar
a qualidade de vida, a eciência dos serviços urbanos e a competitividade

O Instituto de Tecnologia de Massachuse�s à saúde, além da insegurança da posse. Porém,


(mit) tem um centro de pesquisa dedicado ao nem toda a população com baixa renda nas ci-
estudo das cidades inteligentes – Senseable dades mora em favelas e nem todos os morado-
City Lab. O Lab está criando projetos inovado- res da comunidade são pobres.
res para transformar cidades tradicionais em Além da dificuldade de acesso à moradia,
cidades inteligentes. A abordagem é multidis- existe um padrão global dominante de expul-
ciplinar: pesquisadores designers, planejado- são da população com baixa renda do centro
res, engenheiros, físicos, biólogos e cientistas das cidades. Até o início da década de 1980, an-
sociais5. tes da explosão das comunidades periféricas, a
A participação da sociedade no desenvolvi- maioria da população com baixa renda morava
mento de cidades inteligentes é indispensável. nos centros, em cortiços construídos para esse
As cidades inteligentes, embora fortemen- fim ou constituídos nos antigos casarões. No
te associadas às tecnologias avançadas, vão entanto, em meados dos anos 1990, as cidades
além, englobando o uso estratégico de recur- passaram a gentrificar seus centros, aumen-
sos para melhorar a qualidade de vida, a efici- tando a “periferização” da população de baixa
ência dos serviços urbanos, a competitividade, renda e trabalhadores informais e segregando
enquanto se garante que atendam às necessi- o meio urbano. Desse modo, o lugar dos pobres
dades das presentes e futuras gerações no que foi definido como qualquer lugar, seja ade-
diz respeito a aspectos biológicos, sociais e quado ou não à moradia, desde que seja longe
ambientais. dos bairros centrais. Atualmente, a maioria
da população com baixa renda na cidade não
2. ENTENDENDO AS CIDADES mora nos centros, ou quando mora, encontra-
BRASILEIRAS -se ameaçada pelos processos possessórios
No Brasil, a urbanização se deu de maneira rá- movidos a partir da valorização dos terrenos.
pida e desordenada. Desde o início do século O crescimento populacional urbano passou a
passado, as pessoas começaram a sair do cam- ser absorvido pelas comunidades de baixa ren-
po para morar nas cidades. A falta de plane- da, muitas vezes em áreas sem moradia digna,
jamento e o crescimento acelerado trouxeram saúde, educação, meio ambiente, ao transporte,
diversas consequências para esses centros ur- aos serviços públicos, infraestrutura urbana,
banos. ao saneamento ambiental, ao trabalho, ao lazer
A partir dos anos 1970, desponta o cresci- e à cultura6.
mento das favelas (hoje denominadas “comuni- No século 21, muitas cidades brasileiras en-
dades”) como um fenômeno expressivo da so- frentam o desafio de modernizar sua infraes-
ciedade brasileira. A “favelização” ocorreu não trutura e serviços enquanto lidam com ques-
só no Brasil, mas em todo o hemisfério sul. Atu- tões de desigualdade social e econômica. A
almente, um terço da população urbana global sustentabilidade tornou-se uma preocupação
mora em comunidades periféricas, as quais his- central, com várias cidades buscando manei-
toricamente foram associadas à pobreza, à mi- ras de se tornarem mais verdes e resilientes.
séria e à criminalidade. Sua definição clássica A ideia de cidades inteligentes, que utilizam a
é dada pelo excesso de população, habitações tecnologia para melhorar a qualidade de vida
pobres ou informais, com acesso inadequado à e a eficiência dos serviços urbanos, começou a
infraestrutura urbana, ao saneamento básico e ganhar força.

154 REVISTA BONIJURIS I ANO 35 I EDIÇÃO 685 I DEZ23/JAN24


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CIDADES INTELIGENTES E O PAPEL DA SOCIEDADE CIVIL

A IA e o aprendizado de máquina são utilizados para automatizar processos, melhorar


a eciência e personalizar serviços. Isso pode variar desde a otimização de rotas de
trânsito até a detecção de padrões de uso de energia e previsão de tendências urbanas

3. TECNOLOGIAS FUNDAMENTAIS luzes da rua que visa a melhorar a eficiência do


A cidade inteligente possui uma ampla gama sistema de iluminação pública8.
de tecnologias eletrônicas e digitais como in- Inteligência artificial (ia) e aprendizado de
ternet das coisas (IoT), big data, interfaces de máquina são utilizados para automatizar pro-
programação de aplicativos (apis), inteligência cessos, melhorar a eficiência e personalizar
artificial (ia), robótica, serviços de computação serviços em cidades inteligentes. Isso pode
em nuvem, redes 5G, tecnologias geoespaciais, variar desde a otimização de rotas de trânsito
que permitem que seus dispositivos se comuni- até a detecção de padrões de uso de energia e
quem para melhorar os serviços para cidadãos previsão de tendências urbanas. 5G e outras
e empresas. Destas, duas tecnologias intima- tecnologias de rede avançada, redes de alta ve-
mente relacionadas, a internet das coisas (IoT) locidade e baixa latência, são essenciais para
e o big data7 permitem a transformação de ci- suportar a grande quantidade de dados e as
dades tradicionais em cidades inteligentes. aplicações em tempo real de uma cidade inte-
Cidades inteligentes têm sido equipadas com ligente. Isso inclui o controle de veículos autô-
dispositivos eletrônicos heterogêneos basea- nomos, videovigilância em tempo real e auto-
dos na internet das coisas (IoT), que é uma rede mação industrial. Muitas cidades inteligentes
mundial de objetos físicos, usando a internet estão adotando tecnologias de energia limpa,
como rede de comunicação. A IoT é a espinha como painéis solares, turbinas eólicas e redes
dorsal técnica das cidades inteligentes. É a rede de energia inteligentes.
de dispositivos interconectados (chamados coi- Blockchain, embora menos comum, essa
sas), e pode incluir qualquer coisa, desde com- tecnologia também tem potencial para uso em
putadores, smartphones, sensores, edifícios, es- cidades inteligentes, especialmente quando se
truturas, veículos, eletrodomésticos, e sensores trata de garantir a transparência e a segurança
de rua. Tem quatro componentes: as “coisas”, a dos dados.
rede local, a internet e a nuvem (Sadiku et al., Outra das tecnologias mais inovadoras são
2016). A grande quantidade de dados gerados as tecnologias geoespaciais, que se referem a
por milhares de sensores e dispositivos em uma uma variedade de ferramentas modernas que
cidade inteligente cria um “Big Data”. contribuem para o mapeamento geográfico e
O big data refere-se a um grupo de gran- a análise da Terra e das sociedades humanas.
des conjuntos de dados que seriam difíceis de Isso inclui câmeras, câmeras aéreas, satélites
processar usando o processamento de dados etc. Estas tecnologias são usadas para entender
tradicional. É uma informação de alto volume, melhor as configurações urbanas, para ver qual
alta velocidade e alta variedade que requer fer- espaço está disponível e como ele pode ser mais
ramentas especiais de processamento de infor- bem usado, bem como para prever como as es-
mações. Os dados coletados desses dispositivos tradas e edifícios atuais podem se comportar
são armazenados na nuvem ou em servidores, em caso de desastres entre outros.
por meio dos quais uma cidade pode melho-
4. DESAFIOS
rar substancialmente sua acessibilidade e mo-
bilidade urbana, promover a inclusão social, Para se tornar uma cidade inteligente, as cidades
aumentar a eficiência energética e, eventual- precisam superar os desafios complexos que vão
mente, atingir o objetivo de praticar a sustenta- desde questões técnicas e logísticas até preocu-
bilidade. Um exemplo típico de IoT em cidades pações mais amplas sobre equidade, inclusão e
inteligentes são os sensores inteligentes nas privacidade associadas ao mapeamento de uma

156 REVISTA BONIJURIS I ANO 35 I EDIÇÃO 685 I DEZ23/JAN24


Josélia Aparecida Küchler SELEÇÃO DO EDITOR

O reconhecimento facial é uma


tecnologia que requer infraestrutura
capaz de oferecer alto desempenho
em armazenamento e análise

estratégia complexa que envolve participantes O adeus


públicos e privados, partes interessadas diretas
e indiretas, integradores, rede e provedores de def initivo
para a
serviços gerenciados, fornecedores de produtos
e provedores de infraestrutura de ti.
A infraestrutura deve ser um elemento fun-
damental. Os elementos básicos de uma cidade inadimplência
inteligente hoje são ligados por várias partes
interessadas, fornecedores e tecnologias, o que
no condomínio!
cria um ecossistema fragmentado. À medida que
a iniciativa aumenta, esse ambiente não será ca-
paz de atender às suas demandas, apoiar novas Com a Idealle o condomínio
tecnologias ou alinhar-se efetivamente com os recebe antecipado o valor que iria
serviços municipais planejados ou esforços de receber aos poucos durante o mês,
construção. A infraestrutura de ti da cidade in- independente das unidades atrasarem
teligente deve ser ágil e flexível para escalar. Em- seus boletos ou os pagarem em dia.
bora os componentes modulares sejam de fato Todos saem ganhando!
blocos de construção necessários para cidades
inteligentes, a quantidade de dados usada para
alimentar esses componentes modulares deve
ser capaz de aumentar à medida que a quanti-
dade de dados produzidos cresce. Por exemplo, à
medida que as cidades continuam combinando
rotas de ônibus, aplicativos de compartilhamen-
to de viagens e padrões de engarrafamento com
infraestrutura de transporte como semáforos, o
uso de dados se amplificará. Sem a capacidade
de dimensionar e conectar os dados extraídos
de cada um desses dispositivos, todos os benefí-
cios de uma cidade inteligente conectada podem
não se manifestar totalmente.
As cidades precisam de processamento e
análise de dados eficazes e eficientes. A capa-
cidade de capturar, armazenar e analisar com 41 3013.3724 • 41 98775.5920
eficácia e eficiência quantidades cada vez maio- ideallecobranca.com.br
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res de dados IoT é o que realmente acelera os
benefícios das cidades inteligentes. As cidades
serão tão boas quanto sua capacidade de pro-
cessar dados, o que requer uma infraestrutura
inteligente e automatizada que possa lidar com 13 4042.3817 . 13 99141.9481
a criação exponencial de dados e fornecer os ideallelitoral.com.br
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recursos necessários para suportar armazena-
mento, processamento e análise de longo prazo.

REVISTA BONIJURIS I ANO 35 I EDIÇÃO 685 I DEZ23/JAN24 157


CIDADES INTELIGENTES E O PAPEL DA SOCIEDADE CIVIL

A colaboração e a cooperação entre municípios e o setor privado podem ser um obstáculo.


Agências governamentais e organizações particulares relutam em compartilhar
dados condenciais ou padronizar redes, ferramentas e infraestrutura comuns

O reconhecimento facial é um exemplo de e outros. Coordenar esses esforços pode ser um


uma tecnologia emergente que requer uma in- grande desafio. A dinâmica intrincada e o ciclo
fraestrutura capaz de oferecer o mais alto de- contínuo da política é um desafio contínuo que
sempenho em armazenamento e análise. Deve pode impedir as iniciativas de cidades inteligen-
armazenar grandes quantidades de imagens de tes. Projetos de cidades inteligentes em grande
vídeo, processar essas imagens, procurando por escala costumam ser difíceis de financiar, pois
marcadores específicos (Vacca, 2020). A instala- exigem a adesão de várias partes interessadas
ção dessa infraestrutura pode exigir um inves- envolvidas em um mecanismo de financiamen-
timento significativo, o que pode gerar obstá- to público-privado, que combina interesses dos
culo, especialmente para cidades em países em níveis nacional, estadual e local com empresas
desenvolvimento ou com orçamentos restritos, privadas. As organizações dos setores público e
a exemplo do Brasil. privado precisam coordenar.
Segurança e privacidade. Com o aumen- A colaboração e a cooperação entre as prin-
to da coleta e análise de dados, surgem sérias cipais partes interessadas nos municípios e no
preocupações sobre segurança e privacidade. setor privado podem ser outro obstáculo. Agên-
As cidades inteligentes devem ser capazes de cias governamentais e organizações do setor
garantir que os dados dos cidadãos sejam pro- privado geralmente relutam em compartilhar
tegidos e que sua privacidade seja respeitada, o dados confidenciais ou padronizar redes, ferra-
que pode ser difícil, pois coletam e usam uma mentas e infraestrutura comuns. Essa política
grande quantidade de dados muitas vezes sen- de compartilhamento de dados “necessário sa-
síveis. Isso inclui tudo, desde dados de sensores ber” pode impedir o tipo de colaboração cruzada
em edifícios e infraestrutura até dados pesso- que pode ajudar as cidades a prevenir ataques
ais sobre os movimentos e comportamentos terroristas, melhorar a água potável e a coleta
dos cidadãos. Embora a infraestrutura forneça de lixo e reduzir a poluição sonora e luminosa.
a base comum e ofereça recursos avançados, A adesão dos departamentos de polícia e
os dados abertos e a confiança do público pe- bombeiros, escolas, serviços públicos e presta-
sam muito no sucesso de um projeto de cidade dores de serviços pode ser conquistada com a
inteligente. Atualmente, entidades governa- criação de grupos de partes interessadas, ofere-
mentais e empresas privadas enfrentam cres- cendo incentivos para encorajar a colaboração
cente escrutínio sobre a coleta de dados, com aberta e destacando os benefícios para cada
crescente demanda pública por transparência grupo. Um exemplo disso seria a construção
e supervisão9. de infraestrutura digital para apoiar o “policia-
Interoperabilidade e padrões. As cidades mento liderado por inteligência”, que permite
independentes dependem de sistemas diferen- que a aplicação da lei monitore dados, estabe-
tes e, muitas vezes, complexos, trabalhando leça padrões, tendências e insights acionáveis
em conjunto. Garantir que esses sistemas pos- (Stimmel, 2015).
sam se comunicar e interagir efetivamente uns Equidade digital e inclusão. Há um risco de
com os outros é um desafio significativo. Isso que as cidades inteligentes possam, inadverti-
é agravado pela falta de padrões uniformes na damente, aumentar as desigualdades existen-
indústria de cidades inteligentes. Requer cola- tes ao oferecer benefícios desiguais. Todos os
boração entre muitas partes interessadas dife- cidadãos devem ter acesso igual e justo às opor-
rentes, incluindo governos municipais, empre- tunidades criadas pelo uso da tecnologia. Em
sas, organizações sem fins lucrativos, cidadãos relação à equidade digital, trata-se da distribui-

158 REVISTA BONIJURIS I ANO 35 I EDIÇÃO 685 I DEZ23/JAN24


Josélia Aparecida Küchler SELEÇÃO DO EDITOR

ção igual de recursos e serviços digitais entre os


cidadãos, independentemente de sua situação
socioeconômica, etnia, idade, gênero ou locali-
zação. Isso é particularmente relevante em ci-
dades inteligentes, onde muitos serviços e fun-
cionalidades dependem do acesso à internet de
alta velocidade e dispositivos digitais. COM A GARANTE
Já a inclusão digital se refere ao processo de
garantir que todas as pessoas tenham as habili- BELO HORIZONTE
dades necessárias para usar efetivamente essas
tecnologias. Em uma cidade inteligente, significa A INADIMPLÊNCIA
oferecer treinamento e suporte para ajudar os
cidadãos a utilizar serviços digitais, ou projetar
NÃO ATRAPALHA
interfaces que sejam acessíveis e fáceis de usar
para pessoas de todas as idades e habilidades.
O DIA A DIA DOS
Todas as partes interessadas devem vê-lo
como um projeto de infraestrutura de longo
MORADORES.
prazo, abordando a necessidade imediata de so-
luções de curto prazo para simplificar o mundo
cada vez mais digital, conectado e complexo. A
maximização do potencial das cidades inteli-
gentes só acontecerá com a confiança dos cida-
dãos combinada com empresas e governos que
priorizem questões sociais, éticas, segurança,
eficiência e sustentabilidade (Green, 2019).

5. BENEFÍCIOS
São muitos os benefícios que resultam da cons-
trução ou transformação de uma cidade em
uma cidade inteligente. Especialistas afirmam
que cidades inteligentes podem ser lugares efi-
cientes e mais agradáveis para se viver. As ini-
ciativas de cidades inteligentes têm objetivos
elevados de melhorar a governança e melhorar
a qualidade de vida dos seus cidadãos.
As cidades inteligentes oferecem benefícios
incalculáveis para o governo e os cidadãos:
Eficiência. Por meio do uso de tecnologias
como a internet das coisas (IoT), big data e ia,
as cidades inteligentes podem melhorar a efi-
Conte com a nossa
ciência de uma ampla variedade de serviços e
Cobrança Garantida
operações urbanas. Por exemplo, podem usar para uma parceria
sensores inteligentes para otimizar a coleta de de sucesso!
resíduos, melhorar o gerenciamento do tráfego 31 2511 1187
e reduzir o uso de recursos, melhorando a efici-
ência energética e reduzindo o desperdício.
portalgarant
Sustentabilidade: as cidades inteligentes econdominio
s. com.br
podem contribuir para a sustentabilidade ao
promover práticas ambientalmente amigáveis,

REVISTA BONIJURIS I ANO 35 I EDIÇÃO 685 I DEZ23/JAN24 159


CIDADES INTELIGENTES E O PAPEL DA SOCIEDADE CIVIL

Para maximizar os benefícios das cidades inteligentes e minimizar os


potenciais riscos, é preciso que se promova a transparência, a colaboração e
as implicações éticas e sociais das tecnologias que serão implementadas

como a utilização de energia renovável, gestão CONCLUSÃO


de resíduos eficiente, tecnologia de baixa emis- Análise da literatura revela que o significado de
são de carbono, sistemas de transporte público uma cidade inteligente é multifacetado. As des-
eficientes e ecológicos, minimizar o desperdí- crições de cidades inteligentes agora estão in-
cio e incentivar a mobilidade sustentável; cluindo qualidades de pessoas e comunidades,
Segurança: por meio do uso de tecnologias bem como tics.
como a vigilância por vídeo e a análise de dados Muitos elementos e as dimensões que caracte-
em tempo real, as cidades inteligentes podem rizam uma cidade inteligente emergiram da aná-
melhorar a segurança pública como a preven- lise da literatura. Em todo o mundo, as cidades
ção de crimes, gestão de desastres; querem ser inteligentes e estão implementando
Qualidade de vida: ao tornar os serviços pú- iniciativas de cidades inteligentes. As cidades
blicos mais eficientes e acessíveis, as cidades típicas que buscam ativamente a estratégia de
inteligentes podem melhorar a qualidade de cidade inteligente ao redor do mundo incluem
vida dos cidadãos. Isso pode incluir sistema de Zurique, Oslo, Camberra, Copenhague, Lausan-
transporte integrado, redução do tempo de des- ne, Londres, Cingapura, Helsinque, Genebra, Es-
locamento, instalações educacionais, assistência tocolmo, Hamburgo, Pequim, Abu Dhabi, Praga e
médica inteligente, casas inteligentes, infraestru- Amsterdã, entre outras10. Cidades inteligentes es-
tura inteligente, patrimônio digital e aumento da tão sendo impulsionadas por grandes empresas
produtividade habilitada para conectividade. de alta tecnologia, remodelado significativamen-
Nas cidades inteligentes, o Wi-Fi estará dis- te o tecido das cidades modernas, impulsionan-
ponível para todos gratuitamente. E com a IoT do o desenvolvimento das cidades. Os gover-
chegando a tudo (incluindo carros), essa infra- nos locais enfrentam agora a necessidade de se
estrutura Wi-Fi aumentará a produtividade e a transformar em cidades inteligentes. No entan-
eficiência nas cidades inteligentes, melhorando to, é crucial encarar os desafios inerentes a essa
a economia. Isso inclui, entre outros, compras transformação de forma consciente e inclusiva.
e entregas sem contato, carros se comunicando Para maximizar os benefícios das cidades in-
entre si, semáforos, trens etc. (Green, 2020). teligentes e minimizar os potenciais riscos, é pre-
Resiliência: As cidades inteligentes podem ciso que se promova a transparência, a colabora-
usar a tecnologia para se tornarem mais resilien- ção e a consideração cuidadosa das implicações
tes a uma variedade de desafios, desde desastres éticas e sociais das tecnologias que serão imple-
naturais até mudanças climáticas. Isso pode in- mentadas. Com essa abordagem, as cidades inte-
cluir coisas como monitoramento em tempo real ligentes têm o potencial de catalisar uma era de
de condições climáticas e infraestrutura crítica, inovação urbana que engloba várias dimensões,
bem como a utilização de análise de dados para incluindo infraestrutura, mobilidade, serviços
antecipar e responder a possíveis problemas. públicos, sustentabilidade e governança. 
Participação cidadã: As cidades inteligen-
tes também podem usar a tecnologia para pro- Josélia Aparecida Küchler. Advogada; inscrita
mover uma maior participação cidadã e enga- na oab/pr sob o n. 21.674. Bacharel em Direito
jamento na governança da cidade. Isso pode pela Faculdade de Direito Curitiba. Pós-Gra-
envolver coisas como plataformas de feedback duada em Direito Administrativo pela Facul-
online, aplicativos para relatar problemas lo- dade de Direito Curitiba. Atuação no âmbito
cais e ferramentas digitais para facilitar a par- da advocacia privada em Direito Civil e Direito
Imobiliário.
ticipação em processos de tomada de decisão.

160 REVISTA BONIJURIS I ANO 35 I EDIÇÃO 685 I DEZ23/JAN24


Josélia Aparecida Küchler SELEÇÃO DO EDITOR

NOTAS
1. Disponível em http://news.un.org/pt/ 5. Urban imagination and social innovation https://www.insiderintelligence.com/insights/iot-
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2023. senseable.mit.edu/ Acesso em: 30 jun. 2023. 9. Privacy in the Information Society: The
2. BSI (British Standards Institution) Smart Ci- 6. Urbanização; Brasil Escola. Disponível em: Case of Smart Cities e Sara Degli Esposti. Dis-
ties Overview – Guide. Available online. https://brasilescola.uol.com.br/brasil/urbaniza- ponível em https://journals.sagepub.com/doi/
3. Projeto para implantação das Cidades Inte- cao.htm Acesso em: 8 jun. 2023. abs/10.1177/0963662510376886. Acesso em:
ligentes. Disponível em: https://www.camara. 7. Internet of Everything and Big Data: Major 9 jun. 2023.
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-gerais-para-implantacao-das-cidades-inteli- Disponível em: https://www.oracle.com/in/inter- en.wikipedia.org/wiki/List_of_smart_cities
gentes-no-brasil/ Acesso em: 30 jun. 2023. net-of-things/what-is-iot/ Acesso em: 9 jun. 2023. Acesso em: 30 jun. 2023.
4. Smart Cities and Inclusive Growth. Dispo- 8. How IoT and smart city technology works: De-
nível em: https://www.oecd.org/governance/- vices, applications and examples. Disponível em:
9789264298880-en.htm. Acesso em: 2 jun. 2023.

REFERÊNCIAS
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jun. 2023. Communications of the ACM, vol. 59, no. 8, https://scholar.google.com.br/scholar?q=BSI+(
DAMERI, Renata Paola. Smart City Definition, Aug. 2016, pp. 46-57 [Google Academic]. British+Standards+Institution)+Smart+Cities+
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Future. MIT Press: 2020. 0963662510376886. Acesso em: 9 jun. 2023. em: https://brasilescola.uol.com.br/brasil/urba-
HALL, R.E. The Vision of a Smart City. 2nd Inter- POPULAÇÃO MUNDIAL ATÉ 2050. Disponí- nizacao.htm. . Acesso em: 8 de jun. 2023.
national Life Extension Technology Workshop, vel em: https://news.un.org/pt/story/2019/ VACCA, John R. Solving. Urban Infrastructure
Paris, France, September, 2000. 02/1660701. Acesso em: 31 maio 2023. Problems Using Smart City Technologies: Han-
HARRISON, C. and DONNELLY, I.A. (2011) A Theory Projeto de Lei para implantação das cidades dbook on Planning, Design, Development, and
of Smart Cities. Proceedings of the 55th Annual inteligentes no Brasil. https://www.camara. Regulation. Países Baixos: Elsevier Science, 2020.
Meeting of the ISSS-2011, Hull, 17-22 July 2011. leg.br/noticias/763860-projeto-preve-regras-

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Reis Friede
Apresenta onze facetas cruéis do nosso país,
recolocando a questão democrática no centro do debate
jurídico-político. Mais do que uma contundente análise
41 3323 4020
de aspectos da realidade nacional, a obra desponta como
0800 645 4020
um sublime ato de patriotismo por parte do autor, que livrariabonijuris.com.br
defende a consolidação da democracia brasileira. REVISTA BONIJURIS I ANO 35 I EDIÇÃO 685 I DEZ23/JAN24 161
LEGISLAÇÃO

EMENDAS CONSTITUCIONAIS
Emenda 131, de 3 de outubro de 2023

NACIONALIDADE

Altera o art. 12 da Constituição Federal para suprimir a perda da nacionalidade brasileira em razão da
mera aquisição de outra nacionalidade, incluir a exceção para situações de apatridia e acrescentar a
possibilidade de a pessoa requerer a perda da própria nacionalidade.
[Art. 12, § 4º, I – tiver cancelada sua naturalização, por sentença judicial, em virtude de fraude re-
lacionada ao processo de naturalização ou de atentado contra a ordem constitucional e o Estado
Democrático;]

Emenda 130, de 3 de outubro de 2023

JUÍZES

Altera o art. 93 da Constituição Federal para permitir a permuta entre juízes de direito vinculados a
diferentes tribunais.
[Art. 93. VIII-A – a remoção a pedido de magistrados de comarca de igual entrância atenderá, no que
couber, ao disposto nas alíneas “a”, “b”, “c” e “e” do inciso II do caput deste artigo e no art. 94 desta
Constituição;]

LEIS ORDINÁRIAS
Lei 14.701, de 20 de outubro de 2023

TERRAS INDÍGENAS

Regulamenta o art. 231 da Constituição Federal, para dispor sobre o reconhecimento, a demarcação,
o uso e a gestão de terras indígenas.
[Art. 4º. § 6º É facultado a qualquer cidadão o acesso a todas as informações relativas à demarcação
das terras indígenas, notadamente quanto aos estudos, aos laudos, às suas conclusões e fundamenta-
ção, ressalvado o sigilo referente a dados pessoais, nos termos da Lei n. 13.709, de 14 de agosto de 2018
(Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais).]

Lei 14.697, de 11 de outubro de 2023

PROCESSO PRODUTIVO BÁSICO

Estabelece prazo máximo para análise de proposta de Processo Produtivo Básico (PPB).
[Art. 7º: “§ 6º O Poder Executivo fixará os processos produtivos básicos, com base em proposta con-
junta dos órgãos competentes do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, do
Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação e da Superintendência da Zona Franca de Manaus (Su-
frama), no prazo máximo de 120 (cento e vinte) dias, contado da data de protocolização junto ao Gru-
po Técnico Interministerial de Análise de Processos Produtivos Básicos (GT-PPB).”]

162 REVISTA BONIJURIS I ANO 35 I EDIÇÃO 685 I DEZ23/JAN24


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LEGISLAÇÃO

Lei 14.695, de 10 de outubro de 2023

CONCESSÃO DE BOLSAS

Proporciona acesso a bolsas de pesquisa, de desenvolvimento, de inovação e de intercâmbio a alunos,


a docentes, a ocupantes de cargo público efetivo, a detentores de função ou emprego público e a pes-
quisadores externos ou de empresas efetivamente envolvidos nessas atividades, e a Lei n. 11.091, de 12
de janeiro de 2005, para prever a concessão das mesmas bolsas a ocupantes de cargo público efetivo
de técnico-administrativo que atuem em instituições federais de ensino e que estejam envolvidos
nas referidas atividades.
[Art. 5º, § 6º: “Os Institutos Federais poderão conceder, nos termos de regulamentação a ser editada
por órgão técnico competente do Ministério da Educação, bolsas de pesquisa, de desenvolvimento, de
inovação e de intercâmbio a alunos, a docentes, a ocupantes de cargo público efetivo, a detentores de
função ou de emprego público e a pesquisadores externos ou de empresas efetivamente envolvidos
nessas atividades.”]

Lei 14.691, de 3 de outubro de 2023

FUNDOS PARA REPARAÇÃO DE DANOS

Destina parcela das arrecadações de recursos financeiros advindos do pagamento de multas por cri-
mes e infrações ambientais e de acordos judiciais e extrajudiciais de reparação de danos socioam-
bientais para o Fundo Nacional para Calamidades Públicas, Proteção e Defesa Civil (Funcap).
[Art. 73: “Os valores arrecadados em pagamento de multas por infração ambiental serão reverti-
dos ao Fundo Nacional do Meio Ambiente, criado pela Lei n. 7.797, de 10 de julho de 1989, ao Fundo
Naval, criado pelo Decreto nº 20.923, de 8 de janeiro de 1932, ao Fundo Nacional para Calamidades
Públicas, Proteção e Defesa Civil (Funcap), criado pela Lei n. 12.340, de 1º de dezembro de 2010, e
aos fundos estaduais ou municipais de meio ambiente, ou correlatos, conforme dispuser o órgão
arrecadador.”]

Lei 14.690, de 3 de outubro de 2023

DESENROLA BRASIL

Institui o Programa Emergencial de Renegociação de Dívidas de Pessoas Físicas Inadimplentes –


Desenrola Brasil; estabelece normas para facilitação de acesso a crédito e mitigação de riscos de
inadimplemento e de superendividamento de pessoas físicas; altera a Consolidação das Leis do
Trabalho.
[Art. 8º: “O devedor cujas dívidas forem contempladas no processo competitivo disciplinado pelo art.
15 desta Lei poderá aderir ao Desenrola Brasil – Faixa 1, por meio da plataforma digital a que se refere
o inciso II do caput do art. 11 desta Lei, e terá a possibilidade de acessar curso de educação financeira
e de escolher as dívidas que serão renegociadas, o agente financeiro da operação de crédito e a forma
de parcelamento, assegurada ao devedor a opção de quitar os seus débitos à vista e com recursos
próprios.”]

164 REVISTA BONIJURIS I ANO 35 I EDIÇÃO 685 I DEZ23/JAN24


LEGISLAÇÃO

Lei 14.685, de 20 de setembro de 2023

LISTA DE ESPERA NA EDUCAÇÃO BÁSICA

Determina ao poder público a obrigação de divulgar a lista de espera por vagas nos estabelecimentos
de educação básica de sua rede de ensino.
[Art. 5º, § 1º, IV: “divulgar a lista de espera por vagas nos estabelecimentos de educação básica de sua
rede, inclusive creches, por ordem de colocação e, sempre que possível, por unidade escolar, bem como
divulgar os critérios para a elaboração da lista.”]

Lei 14.679, de 18 de setembro de 2023

PROTEÇÃO DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES

Inclui a proteção integral dos direitos de crianças e adolescentes entre os fundamentos da formação
dos profissionais da educação e para incluir a proteção integral dos direitos humanos e a atenção
à identificação de maus-tratos, de negligência e de violência sexual contra crianças e adolescentes
entre os princípios do Sistema Único de Saúde (SUS).
[Art. 61, § único, IV: “a proteção integral dos direitos de crianças e adolescentes e o apoio à formação
permanente dos profissionais de que trata o caput deste artigo para identificação de maus-tratos, de
negligência e de violência sexual praticados contra crianças e adolescentes.”]

Lei 14.674, de 14 de setembro de 2023

AUXÍLIO-ALUGUEL

Altera a Lei Maria da Penha para dispor sobre auxílio-aluguel a ser concedido pelo juiz em decorrên-
cia de situação de vulnerabilidade social e econômica da ofendida afastada do lar.
[Art. 23, VI – conceder à ofendida auxílio-aluguel, com valor fixado em função de sua situação de vul-
nerabilidade social e econômica, por período não superior a 6 (seis) meses.” (NR).]

Lei 14.684, de 20 de setembro de 2023

AUTORIDADES DE TRÂNSITO

Acrescenta inciso ao art. 193 da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), aprovada pelo Decreto-Lei
n. 5.452, de 1º de maio de 1943, para considerar perigosas as atividades desempenhadas pelos agentes
das autoridades de trânsito.
[Art. 193, III – colisões, atropelamentos ou outras espécies de acidentes ou violências nas atividades
profissionais dos agentes das autoridades de trânsito.] 

REVISTA BONIJURIS I ANO 35 I EDIÇÃO 685 I DEZ23/JAN24 165


SÚMULAS MAIS RECENTES

STJ TRF1

SÚMULA 662 SÚMULA 15


Prazo de permanência Perícia socioeconômica
Para a prorrogação do prazo de permanência no Em ação que verse sobre benefício de prestação
sistema penitenciário federal, é prescindível a continuada (art. 20, Lei 8.742/93) requerido a partir
ocorrência de fato novo; basta constar, em decisão de 26 de agosto de 2009, data da promulgação da
fundamentada, a persistência dos motivos que Convenção Internacional sobre os Direitos das
ensejaram a transferência inicial do preso. Pessoas com Deficiência e seu Protocolo Facultativo
(Decreto 6.949/2009), constatada, pelo perito-
SÚMULA 661 médico, enfermidade de longo prazo, mesmo que
Celular apreendido clinicamente não incapacitante, é indispensável a
A falta grave prescinde da perícia do celular realização de perícia socioeconômica para avaliar a
apreendido ou de seus componentes essenciais. possível existência de outras barreiras capazes de
obstruir a participação plena e efetiva do autor na
SÚMULA 660 sociedade em igualdade de condições com as demais
Falta grave pessoas.
A posse, pelo apenado, de aparelho celular ou de
seus componentes essenciais constitui falta grave. SÚMULA 14
Segurado especial
Em caso de cônjuge aposentado como segurado
TSE especial, há presunção relativa dessa condição em
favor do outro cônjuge.

SÚMULA 72 SÚMULA 13
Recurso especial eleitoral Benefício diverso do requerido
É inadmissível o recurso especial eleitoral Nos casos de ações previdenciárias aforadas no
quando a questão suscitada não foi debatida na Juizado Especial Federal por segurado não assistido
decisão recorrida e não foi objeto de embargos de por advogado, é admissível o deferimento de
declaração. benefício diverso do requerido ou de revisão de
benefício diferente da demandada, desde que o juiz
SÚMULA 71 ou a Turma Recursal observe estarem presentes nos
Contrarrazões autos provas suficientes para tanto.
Na hipótese de negativa de seguimento ao recurso
especial e da consequente interposição de agravo,
a parte deverá apresentar contrarrazões tanto ao TRF3
agravo quanto ao recurso especial, dentro do mesmo
tríduo legal.
SÚMULA 38
SÚMULA 70 Seguridade social
Inelegibilidade Ausente controvérsia a respeito dos requisitos
O encerramento do prazo de inelegibilidade antes para a concessão ou revisão de benefício da
do dia da eleição constitui fato superveniente que seguridade social, cumpre à unidade judiciária
afasta a inelegibilidade, nos termos do art. 11, § 10, da com competência cível o julgamento de demanda
Lei 9.504/97. que verse sobre a regularidade de processo
administrativo previdenciário.

166 REVISTA BONIJURIS I ANO 35 I EDIÇÃO 685 I DEZ23/JAN24


SÚMULAS MAIS RECENTES

SÚMULA 37 SÚMULA 83
Devolução de valores Precedente
Compete à 3ª Seção julgar as ações referentes à Julgada procedente a Reclamação, ajuizada
devolução dos valores recebidos indevidamente com fundamento no Código de Processo Civil, o
a título de benefício previdenciário, Tribunal cassará a decisão exorbitante proferida
independentemente do tipo de ação proposta. e determinará que o órgão originário profira nova
decisão em observância ao precedente indicado pelo
SÚMULA 36 acórdão, não sendo cabível o julgamento da causa
Redistribuição de valores em seu mérito pelo Tribunal.
É incabível a redistribuição de ações no âmbito dos
Juizados Especiais Federais, salvo no caso de Varas SÚMULA 82
situadas em uma mesma base territorial. Intimação pessoal
Observadas as regras do artigo 392 do CPP, a
intimação da sentença se fará, alternativamente, ao
TRF5 réu ou ao seu defensor constituído quando se livrar
solto ou sendo afiançável a infração, tiver prestado
fiança, ressalvada a necessidade de dupla intimação
SÚMULA 22 para os casos em que lhe for nomeado defensor
Aposentadoria de professor dativo ou defensor público.
O fator previdenciário incide na aposentadoria
de professor (art. 201, § 8º, da CF/88; art. 56, da Lei
8.213/91), salvo em relação ao beneficiário que tenha TJSP
adquirido o direito à jubilação antes da edição da Lei
9.876/99.
SÚMULA 165
SÚMULA 21 Reparação de dano
Autarquia e empresa pública Compete à Seção de Direito Público o julgamento
Compete às Varas Federais processar e julgar dos recursos referentes às ações de reparação de
as execuções fiscais propostas pela União, suas dano, em acidente de veículo, que envolva falta ou
autarquias e empresas públicas, salvo aquelas deficiência do serviço público.
ajuizadas perante a Justiça Estadual, em exercício
de competência delegada, até 13 de março de 2015. SÚMULA 164
Entrega de imóvel
SÚMULA 20 É valido o prazo de tolerância não superior a cento e
Cooperativa de crédito oitenta dias, para entrega de imóvel em construção,
Incide imposto de renda sobre os juros pagos pelas estabelecido no compromisso de venda e compra,
cooperativas de crédito aos seus cooperados, mesmo desde que previsto em cláusula contratual expressa,
em montante inferior a 12% ao ano. clara e inteligível.

SÚMULA 163
TJPR Compromisso de compra e venda
O descumprimento do prazo de entrega do imóvel
objeto do compromisso de venda e compra não
SÚMULA 84 cessa a incidência de correção monetária, mas tão
Competência somente dos encargos contratuais sobre o saldo
A competência para o processamento e julgamento devedor. 
das ações de cobrança das contribuições instituídas
pelo Decreto-Lei 4.048/1942 – promovidas pelo
SENAI – Serviço Nacional de Aprendizagem
Industrial é da Justiça Estadual.

REVISTA BONIJURIS I ANO 35 I EDIÇÃO 685 I DEZ23/JAN24 167


EMENTÁRIO TITULADO

representaria incursão no mérito (TJPR – Rec. Inominado n.


administrativo. Inexistência 0002142-05.2019.8.16.0029 – 4a. T. –
de ofensa à razoabilidade e à Dec. Monocrática – Rel.: Juiz Marco
proporcionalidade. Decisão Vinícius Schiebel – desig. – Fonte:
mantida. Recurso conhecido e não DJ, 15.09.2023).
ADMINISTRATIVO provido.
(TJAL – Ag. de Instrumento
NOTA BONIJURIS: O art. 157 da
n. 0804064-86.2023.8.02.0000 – 3a.
RISCO ADMINISTRATIVO Câm. Cív. – Ac. unânime – Rel.: Des.
Lei Municipal 1.348/14 dispõe que
“o servidor público efetivo que
Alcides Gusmão da Silva – Fonte:
685.001 Pessoas jurídicas concluir cursos de extensão e/ou
DJ, 18.09.2023).
prestadoras de serviços de aperfeiçoamento com carga
públicos respondem pelos horária mínima de 200 horas e o
danos que seus agentes, PROMOÇÃO VERTICAL servidor que concluir segunda
nessa qualidade, causarem a 685.003 A qualquer tempo graduação ou segundo curso
terceiros poderá realizar-se a de pós-graduação, terá direito
promoção vertical e sua a um adicional de incentivo de
Responsabilidade civil – Pedido mérito na proporção a seguir
concessão se dará no mês
de reparação material por estabelecida”.
subsequente ao deferimento
danos causados na remoção de do requerimento
veículo acidentado da autopista
– Aplicação do artigo 37, § 6º, da Decisão monocrática – Recurso VACÂNCIA DE CARGOS
Constituição Federal – Caminhão inominado – Juizado Especial
que ficou com a cabine inutilizada da Fazenda Pública – Servidor 685.004 Surgimento de novas
– Falha na prestação do serviço público municipal de Colombo/ vagas ou a abertura de novo
– Procedimento inadequado de PR – Progressão vertical – Sentença concurso para o mesmo
retirada – Manutenção da sentença de improcedência – Benefícios cargo não gera o direito à
de procedência – Apelação da previstos no art. 10 da Lei Municipal nomeação dos candidatos
concessionária não provida. n. 1.349/2014 e art. 157 da Lei aprovados
(TJSP – Ap. Cível n. 1008422- Municipal 1.348/14 – Requisitos
29.2022.8.26.0566 – 5a. Câm. Dir. preenchidos – Ato vinculado Direito administrativo – Concurso
Públ. – Ac. unânime – Rel.: Des. – Atraso na implantação dos público – Cerceamento de
Fermino Magnani Filho – Fonte: DJ, benefícios – Diferenças salariais defesa inexistente – Suposta
19.09.2023). devidas desde o preenchimento vacância de cargos na vigência do
dos pressupostos legais (data certame – Preterição arbitrária
NORMAS EM EDITAL do protocolo administrativo) – não comprovada. 1. O Supremo
Desnecessidade de prévia dotação Tribunal Federal, em repercussão
685.002 Normas postas no orçamentária – Aplicação da tese geral (Tema 784), assentou que “o
edital vinculam os firmada no tema 1075 do STJ – surgimento de novas vagas ou a
concorrentes sem Sentença reformada. Recurso da abertura de novo concurso para
relativização parte reclamante conhecido e o mesmo cargo, durante o prazo
provido. Com arrimo no art. 932 de validade do certame anterior,
Agravo de instrumento. Concurso do Código de Processo Civil, em não gera automaticamente o
público da polícia civil de alagoas. liame com a Súmula sob o n. 568 direito à nomeação dos candidatos
Edital nº 1 – PC/AL, de 27 de maio do Superior Tribunal de Justiça aprovados fora das vagas previstas
de 202. Ingresso condicionado e na forma estabelecida do art. no edital, ressalvadas as hipóteses
à aptidão física e intelectual 12, inciso XIII, do Regimento de preterição arbitrária e imotivada
comprovadas através de exames Interno das Turmas Recursais dos por parte da administração,
específicos. Possibilidade. Expressa Juizados Especiais deste Tribunal, caracterizadas por comportamento
previsão editalícia. Candidato os quais permitem ao relator dar tácito ou expresso do Poder Público
portador de surdez unilateral. prosseguimento ao recurso quando capaz de revelar a inequívoca
Doença elencada no rol de houver entendimento dominante necessidade de nomeação do
condições clínicas incapacitantes. acerca do tema, passo a julgar aprovado durante o período
Relativização que não cabe ao monocraticamente o caso abordado de validade do certame, a ser
poder judiciário, uma vez que nos autos. demonstrada de forma cabal pelo

168 REVISTA BONIJURIS I ANO 35 I EDIÇÃO 685 I DEZ23/JAN24


EMENTÁRIO TITULADO

candidato”. O crucial para embasar agravo em recurso especial. Tribunal Administrativo. Reexame
a pretensão de nomeação, na de Contas da União. Tomada de necessário. Mandado de
vigência de concurso, é a preterição contas especial. Regularidade segurança. Remoção de veículo.
arbitrária e imotivada, seguindo técnico-formal. Malversação Infração à legislação de trânsito –
expressão cunhada pela Suprema do dinheiro público. Revisão. Estacionamento em local proibido
Corte, para além da existência de Impossibilidade. Reexame de fatos e – Irregularidade sanada no local.
cargos vagos ou da necessidade de provas. Súmula 7/STJ. Irregularidade Impossibilidade de remoção.
imediato preenchimento em razão da prestação de contas. Suspensão Inteligência do art. 271, § 9º do
de uma demanda por pessoal. É o de novas subvenções. Poder de CTB. Sentença confirmada. 1 – Nos
desvio administrativo, por assim autotutela da administração termos do Código de Trânsito
dizer, o responsável por convolar pública. Súmula 83/STJ. Provimento Brasileiro, a remoção do veículo
a expectativa em direito. 2. Não se negado. 1. O Tribunal de origem, constitui medida administrativa
comprovou a conduta arbitrária ao analisar as provas dos autos, (arts. 269, inc. II, e 271) destinada
na admissão de servidores concluiu que não houve qualquer à regularização de situações que
temporários para ocupar cargo irregularidade técnico-formal no embaracem o trânsito ou que
de magistério, muito menos que procedimento de Tomada de Contas coloquem em risco a segurança
os autores (aprovados fora do Especial instaurado pelo TCU, dos usuários, assim justificada
número de vagas) foram preteridos. ficando provada a malversação enquanto a irregularidade subsistir.
Tampouco o fato de o Município da aplicação do dinheiro público. 2 – Mostra-se ilegal o ato do
de Urussanga possuir servidores Entendimento diverso, conforme agente de trânsito, e até mesmo
temporários em número superior pretendido, implicaria o reexame desarrazoado, a remoção do veículo
ao de servidores efetivos confere o do contexto fático-probatório dos ao depósito, na hipótese em que
direito de nomeação, que tem outros autos, incidindo no presente caso a o autor, proprietário do veículo
parâmetros. 3. Recurso desprovido. Súmula 7 do STJ, segundo a qual “a autuado por estacionamento em
(TJSC – Ap. Cível n. 0003978- pretensão de simples reexame de local proibido pela sinalização,
54.2020.8.16.0004 – 5a. Câm. Dir. prova não enseja recurso especial”. encontrava-se no local para a
Públ. – Ac. unânime – Rel.: Des. 2. A conclusão veiculada no acórdão, retirada do veículo e desobstrução
Hélio do Valle Pereira – Fonte: DJ, de que a Administração Pública, em da via, nos termos do art. 271, § 9º
14.09.2023). razão de seu poder de autotutela, do CTB.
pode suspender a concessão de (TJMG – Reex. Necessário n.
novas subvenções, verificada a 5001279-69.2020.8.13.0624 (1) – 1a.
NOTA BONIJURIS: O Tema irregularidade da prestação de Câm. Cív. – Ac. unânime – Rel.: Juiz
de Repercussão Geral do STF contas, está em harmonia com a Roberto Apolinário de Castro –
n. 784 versa sobre o direito orientação do Superior Tribunal conv. – Fonte: DJ, 27.09.2023).
à nomeação de candidatos de Justiça sobre o tema, incidindo
aprovados fora do número de na hipótese o disposto na Súmula PROVENTOS DE SERVIDOR PÚBLICO
vagas previstas no edital de 83/STJ (“não se conhece do recurso
concurso público no caso de especial pela divergência, quando 685.007 Reconhecido o
surgimento de novas vagas a orientação do Tribunal se firmou enriquecimento indevido
durante o prazo de validade do no mesmo sentido da decisão com o recebimento de
certame. recorrida”). 3. Agravo interno a que aposentadoria de servidora
se nega provimento. falecida, o beneficiário
(STJ – Ag. Interno n. 1.628.038/RJ irregular deve restituir os
TOMADA DE CONTAS – 1a. T. Cív. – Ac. unânime – Rel.: Min. valores ao erário
Paulo Sérgio Domingues – Fonte:
685.005 Administração DJ, 14.09.2023). Apelação cível. Proventos de
pública, em razão de seu aposentadoria de servidor
poder de autotutela, pode LEGISLAÇÃO DE TRÂNSITO público. Falecimento do servidor.
suspender a concessão de Continuidade de pagamento.
novas subvenções, 685.006 Remoção do veículo Erro operacional administrativo.
verificada a irregularidade ao depósito por Filha. Recebimento de boa-fé.
da prestação de contas estacionamento em local Impertinência. Restituição ao
proibido é ilegal quando o erário devida. Sentença mantida.
Processo civil. Direito proprietário estava presente 1. Na hipótese, restou apurado que
administrativo. Agravo interno no para retirá-lo a requerida, filha da ex-servidora

REVISTA BONIJURIS I ANO 35 I EDIÇÃO 685 I DEZ23/JAN24 169


CIVIL

falecida, recebia e movimentava infração de trânsito e exclusão ônus sucumbenciais. Não acolhido.
em conta corrente conjunta os dos registros das multas impostas. Recurso de apelação cível conhecido
créditos da titular dos proventos O Tribunal de origem manteve a e não-provido.
de aposentadoria, portanto, se sentença, que julgara procedente a (TJPR – Ap. Cível n. 0008411-
apropriou indevidamente de demanda, sob o fundamento de que 05.2019.8.16.0112 – 20a. Câm. Cív. – Ac.
valores após o óbito da instituidora “é de se presumir que após o ato de unânime – Rel.: Desa. Ana Lúcia
da aposentadoria. 2. Reconhecido compra e venda houve a tradição Lourenço – Fonte: DJ, 15.09.2023).
o enriquecimento indevido da do veículo a seu novo proprietário
parte requerida, decorrente do e, considerando as infrações são HABITAÇÃO VITALÍCIA
recebimento indevido do benefício posteriores a data da venda do
de proventos de aposentadoria de veículo, escorreita a r. sentença 685.010 Direito real de
sua genitora após o falecimento que anulou os autos de infração habitação tem natureza de
desta, revela-se lícito o dever da e as correspondentes multas”. III. direito real, vitalício e
parte ré de ressarcir ao Erário O acórdão recorrido encontra-se personalíssimo, devendo
o montante devido. 3. Apelação em dissonância com a orientação respeitar o princípio da
conhecida e não provida. firmada pela Primeira Seção do tipicidade
(TJDFT – Ap. Cível n. STJ, que, no julgamento do PUIL
07006427120218070018 – 7a. T. 3.248/SP, consolidou entendimento Recurso especial. Direito civil.
Cív. – Ac. unânime – Rel.: Des. sobre o tema, no sentido de que Direito real de habitação. Cônjuge
Mauricio Silva Miranda – Fonte: DJ, “a não comunicação acerca da supérstite. Novo casamento.
18.09.2023). transferência de propriedade do Possibilidade. Aplicação da regra
veículo ao órgão competente atrai do art. 1.831 do CC de 2002. Caráter
INFRAÇÃO DE TRÂNSITO a responsabilidade solidária do vitalício e personalíssimo do
alienante por eventuais infrações direito real. Prescindibilidade da
685.008 Não comunicação de trânsito, consoante a inteligência manutenção do estado vidual
acerca da transferência de do art. 134 do Código de Trânsito do cônjuge sobrevivente. Não
propriedade do veículo ao Brasileiro”. IV. Agravo interno incidência do art. 7º, parágrafo
órgão competente atrai a improvido. único, da Lei n. 9.278/1996 ao caso
responsabilidade solidária (STJ – Ag. Interno n. 2.277.297/ concreto. Princípio da especialidade.
do alienante por eventuais SP – 2a. T. Cív. – Ac. unânime – Rel.: Impossibilidade de equiparação
infrações de trânsito Min. Assusete Magalhães – Fonte: do casamento à união estável.
DJ, 14.09.2023). Diferença legal existente. Recurso
Administrativo e processual especial provido. 1. Tendo sido o
civil. Agravo interno no agravo direito real de habitação constituído
em recurso especial. Ação na vigência do Código Civil de
anulatória. Alienação de veículo. 2002, a situação concreta deve ser
Débitos vinculados ao bem. regulada pelo seu art. 1.831, afastada
Responsabilidade solidária. a incidência da regra prevista
Dever do alienante de informar, no art. 1.611, parágrafo único, do
ao DETRAN, a transferência da CC de 1916. 2. O direito real de
propriedade do bem. Art. 134 do CIVIL habitação tem natureza de direito
Código de Trânsito Brasileiro. real, vitalício e personalíssimo,
Acórdão de 2º grau em dissonância JUROS DE MORA devendo respeitar o princípio da
com a jurisprudência do STJ. tipicidade, só podendo ser extinto,
Agravo interno improvido. I. Agravo 685.009 Inadimplemento da em termos naturais, com a morte
interno aviado contra decisão obrigação constitui de pleno da pessoa viúva e, em termos
que julgara recurso interposto direito em mora o devedor legais, pelas hipóteses de extinção
contra decisum publicado na do usufruto naquilo que não for
vigência do CPC/2015. II. Trata-se, Apelação cível. Ação monitória. contrário à sua natureza (art. 1.416
na origem, de Ação Anulatória c/c Demanda julgada parcialmente do CC de 2002). 3. O art. 1.831 do
Obrigação de Fazer ajuizada pela procedente. Insurgência. Termo CC de 2002 confere ao cônjuge
parte ora agravante, em face da inicial dos juros de mora e correção supérstite a utilização do bem para
Agência Nacional de Transportes monetária. Data de vencimento que nele mantenha sua residência,
Terrestres – ANTT, com o objetivo do título. Regra do artigo 397 do independentemente do regime de
de obter a anulação dos autos de Código Civil. Pleito de alteração dos bens do casamento e da titularidade

170 REVISTA BONIJURIS I ANO 35 I EDIÇÃO 685 I DEZ23/JAN24


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CIVIL

do imóvel, afastado, inclusive, o REVISÃO DE TAXAS atendimento dos requisitos. Dever de


caráter vidual estabelecido na informação. Comunicação individual
legislação precedente. 4. O estado 685.011 Juros remuneratórios de cada associado. Não observância.
vidual, embora seja pressuposto consignados acima da taxa Recurso conhecido e não provido.
para a aquisição do direito real média de mercado não são (TJAL – Ag. de Instrumento
de habitação previsto no art. abusivos por si só n. 0803880-33.2023.8.02.0000 – 3a.
1.831 do CC de 2002, deixou de ser Câm. Cív. – Ac. unânime – Rel.: Des.
requisito para a manutenção e Apelação cível. Ação revisional de Alcides Gusmão da Silva – Fonte:
exercício desse direito, que passou taxa anual de juros com restituição DJ, 18.09.2023).
a ter como exigência apenas o dos valores pagos a maior.
requisito objetivo atrelado à figura Empréstimo pessoal. Sentença de AÇÃO DE USUCAPIÃO
do imóvel, que, nos termos da parcial procedência. Prejudicial de
lei, precisa ser o único daquela mérito. Prescrição. Inocorrência. 685.013 Desnecessidade de
natureza – residência familiar – a Demanda de caráter pessoal. esgotamento da via
inventariar. 5. Em decorrência Prescrição decenal. Incidência do administrativa para o
do princípio da especialidade, art. 205 do Código Civil de 2002. ajuizamento de ação de
não incide o disposto no art. 7º, Mérito. Juros remuneratórios. usucapião
parágrafo único, da Lei n. 9.278/1996, Abusividade caracterizada. Taxa
restrita às hipóteses de união pactuada que supera o dobro da taxa Agravo de instrumento – Ação de
estável, nos casos em que o cônjuge média divulgada pelo Bacen à época usucapião – Decisão que indeferiu
supérstite tenha sido casado da contratação. Pedido subsidiário o pedido de extinção do feito
com o de cujus. 6. Ressalvadas as de fixação da taxa de juros ao por ausência de justa causa e
hipóteses de equiparação quanto percentual equivalente a uma vez interesse de agir – Irresignação da
ao regime sucessório decididas e meia a taxa média de mercado. Municipalidade – Não acolhimento
em repercussão geral pelo STF, Impossibilidade. Repetição do – Hipótese em que, regularmente
permanecem as diferenças legais indébito devida. Sentença mantida. citada, a Municipalidade agravante
entre os institutos do casamento Recurso conhecido e não provido. pleiteou sua habilitação nos autos,
e da união estável. 7. O direito (TJPR – Ap. Cível n. 0036543- posteriormente pleiteando a
real de habitação previsto no art. 49.2022.8.16.0021 – 13a. Câm. Cív. extinção do feito, por ausência de
1.831 do CC de 2002 é destinado – Ac. unânime – Rel.: Des. Fábio justa causa e interesse de agir, sob o
às pessoas formalmente casadas, André Santos Muniz – Fonte: DJ, fundamento de que a agravada não
não podendo seu exercício ser 15.09.2023). comprovou a existência de prévio
limitado por proibições previstas pedido administrativo, na forma
na legislação especial e restritas aos do artigo 216-A da Lei n. 6.105/1973
companheiros que convivam em NOTA BONIJURIS: Art. 205/ – Argumentações genéricas
união estável. 8. Recurso especial CC: “A prescrição ocorre em dez da agravante, sem comprovar
provido. anos, quando a lei não lhe haja eventual interesse jurídico na
(STJ – Rec. Especial n. 2.035.547/ fixado prazo menor.” causa, tampouco que o imóvel
SP – 4a. T. Cív. – Ac. unânime – Rel.: usucapiendo constitui área pública
Min. João Otávio Noronha – Fonte: municipal, não se evidenciando as
DJ, 27.09.2023). PLANO DE SAÚDE nulidades e violações apontadas
– Prévio esgotamento da via
685.012 Tratando-se de administrativa que não constitui
NOTA BONIJURIS: Confere
transtorno do espectro requisito para o ajuizamento da
o art. 1.831 do Código Civil “Ao
autista, o plano de saúde ação de usucapião, especialmente
cônjuge sobrevivente, qualquer
deve oferecer a cobertura quando não está lastreada em justo
que seja o regime de bens,
irrestrita ao tratamento título – Não justificada a extinção
será assegurado, sem prejuízo
indicado pelo profissional de liminar do feito, como pretende a
da participação que lhe caiba
saúde Municipalidade agravante – Decisão
na herança, o direito real de
mantida – Recurso desprovido.
habitação relativamente ao
Agravo de instrumento. Plano de (TJSP – Ag. de Instrumento n.
imóvel destinado à residência
saúde. Pacientes com transtorno do 2233749-87.2023.8.26.0000 – 6a. Câm.
da família, desde que seja
espectro autista – TEA. Alteração Dir. Priv. – Ac. unânime – Rel.: Des.
o único daquela natureza a
da rede conveniada. Art. 17, § 1º Marcus Vinicius Rios Gonçalves –
inventariar.”
da Lei n. 9.656/98. Necessidade de Fonte: DJ, 19.09.2023).

172 REVISTA BONIJURIS I ANO 35 I EDIÇÃO 685 I DEZ23/JAN24


EMENTÁRIO TITULADO

VÍCIO OCULTO oculto, adquirido completamente geral as balizas fixadas no § 2º do


novo, com zero quilômetros art. 85 do CPC/15, com a expressa
685.014 Fornecedores de rodados, prevista no art. 18, § 1º, definição pelo legislador da ordem
produtos de consumo inciso I, do CDC, deve ser efetivada decrescente de preferência de
duráveis ou não duráveis por bem equivalente também critérios acerca da base de cálculo
respondem solidariamente novo na data da substituição. 3. da verba: i) havendo condenação,
pelos vícios que os tornem Resta evidenciado o dano moral sobre o montante daquela; ii)
impróprios ou inadequados vivenciado pelo consumidor que, inexistente condenação, sobre
ao consumo dois meses após a compra de veículo o proveito econômico obtido
novo, constatou problemas no pelo vencedor; e iii) imensurável
Apelação cível. Direito do funcionamento do motor, com a o proveito econômico, sobre o
consumidor. Aquisição de veículo apresentação de falhas para dar valor atualizado da causa. 6. Por
novo. Zero quilômetros. Vício a partida do automóvel, e mesmo ser baixo o valor da condenação,
oculto. Problema no funcionamento após diversas idas à concessionária, atrai-se a fixação dos honorários
do motor. Constatação por laudo não teve seu problema solucionado, sucumbenciais de forma equitativa,
pericial. Vício não sanado pela especialmente se trata-se de nos termos do art. 85, § 8º, do Código
concessionária. Substituição consumidor idoso, com 79 de Processo Civil. 7. Apelação da
do veículo. Devida. Troca por anos e que utilizava do carro ré conhecida e não provida. 8.
outro veículo novo. Dano moral. rotineiramente para comparecer a Apelação do autor conhecida e
Configurado. Consumidor idoso. consultas médicas e tratamentos parcialmente provida.
Inúmeras idas à concessionária. clínicos. 4. Considerando-se a (TJDFT – Ap. Cível n.
Honorários de sucumbência. capacidade econômica das partes, as 07030337920198070014 – 5a. T.
Valor da condenação. Irrisório. circunstâncias do caso concreto e os Cív. – Ac. unânime – Rel.: Desa.
Arbitramento por equidade. 1. Na parâmetros adotados por esta Corte Lucimeire Maria da Silva – Fonte:
hipótese de vício, desconhecido de Justiça, tem-se que o valor de R$ DJ, 19.09.2023).
pelo consumidor, que torna o 3.000,00 (três mil reais) se mostra
veículo impróprio, inadequado adequado a satisfazer a justa ÁLBUM DE FIGURINHAS
ao consumo ou que lhe diminua proporcionalidade entre a conduta
o valor, ante a comprovada e o dano moral sofrido, levando-se 685.015 Utilização de imagem
dificuldade do motor entrar em em conta a gravidade do ocorrido, sem autorização para fins
funcionamento, e não sanado no o nível de angústia experimentada comerciais enseja dano
prazo de trinta dias, abre-se ao pelo autor, e as consequências dos moral
consumidor as possibilidades do art. fatos narrados. 5. Nos termos da
18, § 1º, do CDC, sendo procedente à jurisprudência da Segunda Seção Agravo interno no recurso especial.
pretensão à substituição o veículo do c. Superior Tribunal de Justiça Direito civil. Álbum de figurinhas.
por equivalente, em perfeitas (REsp nº 1.746.072/PR), a fixação Ausência de autorização de
condições de uso. 2. A substituição dos honorários advocatícios publicação de imagem de jogador.
de veículo que apresentou vício sucumbenciais possui como regra Intuito comercial. Prática ilícita.

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REVISTA BONIJURIS I ANO 35 I EDIÇÃO 685 I DEZ23/JAN24 173


IMOBILIÁRIO

Reparação do dano. Cabimento. DANOS MORAIS Natureza meramente indenizatória,


Súmula 83 do STJ. Matéria fático- prefixando o valor das perdas
probatória. Súmula 7 do STJ. 685.016 Arbitramento da e danos. Prefixação razoável,
Revisão do montante de danos indenização deve ser tomando-se em conta o período
morais. Incabível. Agravo interno significativo de modo a não de inadimplência. Cumulação com
não provido. 1. O artigo 1.037, só compensar a dor da lucros cessantes. Inviabilidade. 1.
II, do atual Código de Processo vítima, mas também a A tese a ser firmada, para efeito do
Civil não previu a necessidade penalizar o causador do dano art. 1.036 do CPC/2015, é a seguinte:
de sobrestamento nesta Corte A cláusula penal moratória tem
do julgamento de recursos que Recurso inominado. Transporte a finalidade de indenizar pelo
tratem de matéria afeta como aéreo. Ação de indenização por adimplemento tardio da obrigação,
representativa de controvérsia danos morais. Cancelamento de e, em regra, estabelecida em valor
repetitiva, mas somente da voo. Aviso prévio no prazo de sete equivalente ao locativo, afasta-
suspensão dos recursos nos quais dias que não exime o transportador se sua cumulação com lucros
a controvérsia esteja estabelecida de fornecer a realocação em voo cessantes. 2. No caso concreto,
nos tribunais de segunda próprio ou de outra companhia recurso especial não provido.
instância. Precedentes. 2. Ausente aérea. Falha na prestação dos (STJ – Rec. Especial n. 1.635.428/
o prequestionamento, exigido serviços. Parte ré que não se SC – 2a. S. – Ac. unânime – Rel.: Min.
inclusive para as matérias de desincumbiu do ônus probatório Luis Felipe Salomão – Fonte: DJ,
ordem pública, incidem os óbices que lhe cabia, nos termos do art. 25.06.2019).
dos enunciados n. 282 e 356 da 373, II, CPC. Situação excepcional
Súmula do STF. 3. A exploração comprovada. Danos morais
não autorizada da imagem de NOTA BONIJURIS: O acórdão
configurados. Perda de viagem de
jogador de futebol em álbum de é tema de discussão que firmou
férias. Indenização devida. Dicção
figurinhas, publicado com intuito a Tese de n. 970 do STJ, que
do art. 944 do Código Civil. Recurso
comercial, constitui prática ilícita, dispõe que “a cláusula penal
conhecido e provido.
que enseja reparação do dano. 4. moratória tem a finalidade de
(TJPR – Rec. Inominado n.
O Tribunal de origem seguiu no indenizar pelo adimplemento
0006401-20.2022.8.16.0035 – 2a. T.
mesmo posicionamento desta tardio da obrigação, é, em
Rec. – Ac. unânime – Rel.: Juiz Irineu
Corte, ao reconhecer o ato ilícito regra, estabelecida em valor
Stein Junior – Fonte: DJ, 15.09.2023).
pela exploração de imagem equivalente ao locativo, afasta-
sem autorização. Incidência da se sua cumulação com lucros
Súmula 83 do STJ. 5. Modificar as cessantes.”
premissas fáticas que levaram à
conclusão do Tribunal de origem
de que houve dano específico, bem VAGA DE GARAGEM
como ausência de autorização
685.018 Divergência entre a
expressa pela parte contrária,
demandaria reexame de matéria
IMOBILIÁRIO metragem dos imóveis
fático-probatória, o que é vedado constantes da escritura
em sede de recurso especial, a ENTREGA DE IMÓVEL pública e a medida no local
teor da Súmula 7 do STJ. 6. O não respalda a suspensão de
valor arbitrado pelas instâncias 685.017 Cabe indenização pagamento de taxas
ordinárias a título de danos morais pelo adimplemento tardio da condominiais
somente pode ser revisado em obrigação de entrega de
sede de recurso especial quando imóvel Apelação cível. Civil. Processual
irrisório ou exorbitante, o que não civil. Ação de obrigação de fazer
é o caso em questão. Ausentes tais Recurso especial representativo c/c pedido liminar. Preliminar de
circunstâncias, a análise encontra de controvérsia. Compra e venda inovação recursal. Acolhimento.
óbice na Súmula 7 do STJ. 7. Agravo de imóvel na planta. Atraso na Preliminar de ilegitimidade passiva
interno a que se nega provimento. entrega. Novel Lei n. 13.786/2018. acolhida em relação ao pedido
(STJ – Ag. de Instrumento Contrato firmado entre as partes de regularização de registro
n. 2.060.914/SP – 4a. T. Cív. – Ac. anteriormente à sua vigência. imobiliário. Mérito. Divergência
unânime – Rel.: Min. Maria Isabel Não incidência. Contrato de entre a metragem de imóveis
Gallo�i – Fonte: DJ, 14.09.2023). adesão. Cláusula penal moratória. constantes da escritura pública

174 REVISTA BONIJURIS I ANO 35 I EDIÇÃO 685 I DEZ23/JAN24


IMOBILIÁRIO

e a medida no local. Definição de acolhida em relação ao pedido de das despesas administrativas.


área maior que a consignada em regularização de registro imobiliário Rescisão do contrato por culpa do
escritura. Pedido de suspensão de e, na extensão, provido. promitente comprador. Reexame
pagamento de taxas condominiais. (TJDFT – Ap. Cível do conjunto fático-probatório dos
Inviabilidade. 1. Fundamentos 07161752420218070001 – 5a. T. Cív. autos. Impossibilidade. Súmula
jurídicos que não foram submetidos – Ac. unânime – Rel.: Desa. Maria 7 do STJ. Termo inicial dos juros
a debate e apreciação no juízo a quo Ivatônia – Fonte: DJ, 15.09.2023). a partir do trânsito em julgado.
(necessidade de participação dos Decisão mantida. Agravo não
demais condôminos no processo), AVALIAÇÃO IMOBILIÁRIA provido 1. Não cabe, em recurso
inovação recursal, não podem ser especial, reexaminar matéria
apreciados nesta sede sob pena 685.019 Sem comprovação de fático-probatória (Súmula 7/STJ).
de se incorrer em supressão de nexo causal, a mera demora 2. Nos termos da jurisprudência
instância. 2. Rejeição de preliminar de análise de crédito para desta Corte, no julgamento do
de ilegitimidade passiva não financiamento imobiliário Tema Repetitivo n. 1.002/STJ, “nos
é hipótese de interposição de não constitui dano material compromissos de compra e venda de
agravo de instrumento (art.1.015, unidades imobiliárias anteriores à
CPC), razão pela qual o tema não Recurso inominado. Matéria Lei n. 13.786/2018, em que é pleiteada
precluiu (§1º, artigo 1.009, CPC). bancária. Ação indenizatória. a resolução do contrato por
2.1.O Condomínio/réu pode, em Alegação de que a demora na iniciativa do promitente comprador
tese, responder pelos efeitos da liberação de financiamento de forma diversa da cláusula
sentença em relação ao pleito imobiliário causou danos de ordem penal convencionada, os juros de
de suspensão do pagamento de material e moral. Ausência de prova mora incidem a partir do trânsito
taxas condominiais, mas não em mínima das alegações autorais. em julgado da decisão”. 3. Agravo
relação ao pedido de regularização Inexistência de demonstração do interno a que se nega provimento.
imobiliária dos imóveis. 2.2. A nexo causal entre o dano alegado e (STJ – Ag. Interno no Rec.
pretensão de reclamar a diferença a atitude do réu. Parte consumidora Especial n. 2.033.324/SP – 4a. T.
entre a área real dos imóveis e a que permaneceu negociando com Rec. – Ac. unânime – Rel.: Min.
que consta nos registros públicos o banco mesmo após o advento Maria Isabel Galloti – Fonte: DJ,
deve ser deduzida não em face da mencionada data limite para 14.09.2023).
do Condomínio/réu, mas de quitação sem reajuste. Ato ilícito
quem transmitiu por permuta o não constatado. Sentença de
bem à autora 2.3. Preliminar de improcedência mantida por NOTA BONIJURIS: A Lei
ilegitimidade passiva acolhida em fundamento diverso. Recurso 13.786/18 altera as leis 4.591, de
relação ao pedido de “regularização conhecido e desprovido. 16 de dezembro de 1964, e 6.766,
imobiliária dos imóveis”. 3. Na (TJPR – Rec. Inominado n. de 19 de dezembro de 1979,
espécie, a conclusão constante 0012719-70.2022.8.16.0018 – 3a. T. para disciplinar a resolução do
em laudo pericial de divergência Rec. – Ac. unânime – Rel.: Juiz contrato por inadimplemento
entre a metragem dos imóveis Fernando Swain Ganem – Fonte: DJ, do adquirente de unidade
constantes da escritura pública 04.09.2023). imobiliária em incorporação
e a medida no local (as áreas dos imobiliária e em parcelamento
bens da autora são maiores que COMPRA E VENDA de solo urbano.
as constantes do registro público,
e não menores como alegado) 685.020 Nos compromissos
não respalda a suspensão de de compra e venda de IMÓVEL IRREGULAR
pagamento de taxas condominiais. unidades imobiliárias
Como muito bem definido em anteriores à Lei 13.786/18 os 685.021 Verificada a
sentença, a autora “realmente juros de mora incidem a existência de irregularidade
tem que pagar um valor superior partir do trânsito em julgado em matrículas, o registrador
a taxa condominial de imóveis da decisão imobiliário fará menção
cujo registro era equivalente ao específica por ocasião da
registro dos imóveis da requerente, Agravo interno. Recurso especial. expedição de certidões
pois esses são na verdade muito Ação declaratória de nulidade
maiores que os registrados.” 4. de ato jurídico c/c restituição de Processo civil. Agravo de
Recurso parcialmente conhecido, quantias pagas. Abusividade na instrumento. Execução de
preliminar de ilegitimidade passiva retenção a título de ressarcimento título extrajudicial. Lei n.

176 REVISTA BONIJURIS I ANO 35 I EDIÇÃO 685 I DEZ23/JAN24


EMENTÁRIO TITULADO

6.015/73. Provimento n. 2/2010 sub-roga-se nos limites do ALIENAÇÃO DE IMÓVEL


da corregedoria. Averbação de valor pago
penhora judicial na matrícula 685.023 Medida de
do imóvel que não se confunde Apelação cível. Ação regressiva indisponibilidade de bem
com procedimento de retificação de cobrança. Contrato de fiança imóvel evita a transferência
do registro ou da averbação. locatícia. Sentença de procedência. fraudulenta a terceiro
Desnecessária prévia retificação ou Apelo dos réus. Assistência
regularização. Decisão reformada. judiciária gratuita concedida. Agravo de instrumento. Execução
1. Prevê o art. 3º do Provimento n. Presunção de veracidade da de título extrajudicial. Imóvel.
2/2010 da Corregedoria do TJDFT declaração de hipossuficiência Alienação em fraude à execução.
que “Verificada a existência de financeira roborada pelos Indisponibilidade. Transferência do
irregularidade em matrículas, ou documentos existentes nos autos. bem a terceiros. Arresto. Requisitos.
quando nelas houver indício de Manutenção da procedência da I – Os elementos dos autos
parcelamento irregular do solo, o ação. Seguradora que arcou com o evidenciam a probabilidade do
registrador imobiliário fará menção pagamento das verbas locatícias direito e o perigo iminente de dano
específica por ocasião da expedição no cumprimento do contrato quanto à alegação de alienação de
de certidões, condicionando a de garantia e se sub-rogou nos imóvel em fraude à execução, art.
prática de atos de registro ou direitos e ações da credora (art. 300, caput, do CPC, o que ensejou
averbação à prévia ou concomitante 786, CC). Apelação não conhecida o deferimento da medida de
retificação ou regularização quanto à alegação de que a rescisão indisponibilidade, com a respectiva
da matrícula, na forma deste antecipada se deu por culpa da averbação do registro imobiliário,
Provimento”. 2. A penhora constitui autora e da imobiliária, que diz de modo a evitar a transferência
ato judicial por meio do qual se respeito ao próprio contrato de do bem a terceiros, o que, por
individualiza determinado bem locação e deveria ter sido deduzida consequência, exclui o requisito do
do patrimônio do executado para em ação própria em relação perigo de dano para o deferimento
responder pela satisfação do à locadora, não à seguradora. do pedido de arresto cautelar. II –
crédito, sendo possível a penhora Apelação parcialmente provida na Agravo de instrumento desprovido.
de direitos aquisitivos derivados de parte conhecida. (TJDFT – Ag. de Instrumento
promessa de compra e venda, nos (TJSP – Ap. Cível n. 1084759- n. 07202902320238070000 – 6a. T.
termos do art. 835, XII, do Código de 02.2022.8.26.0100 – 26a. Câm. Cív. – Ac. unânime – Rel.: Desa. Vera
Processo Civil. 3. A “averbação” da Dir. Priv. – Ac. unânime – Rel.: Andrighi – Fonte: DJ, 05.09.2023).
penhora deferida judicialmente no Des. Morais Pucci – Fonte: DJ,
registro do imóvel não se confunde 19.09.2022). PROMESSA DE COMPRA
com a “averbação” a que se refere
o art. 3º do Provimento n. 2/2010. 685.024 É possível abater da
NOTA BONIJURIS: O dívida de aluguéis as
Não se trata de procedimento
art. 786 da Lei n. 10.406/02 parcelas pagas de
de retificação do registro ou da
institui: “Paga a indenização, financiamento de imóvel
averbação com fundamento no art.
213 da Lei n. 6.015/73, e sim mera o segurador sub-roga-se, nos
consequência da decisão judicial limites do valor respectivo, Agravo de instrumento. Liquidação
que autoriza a penhora dos direitos nos direitos e ações que de sentença. Título judicial que
aquisitivos de determinado imóvel, competirem ao segurado contra rescindiu contrato de promessa
com a consequente “averbação” da o autor do dano. de compra e venda e determinou
constrição judicial no registro do § 1º Salvo dolo, a sub-rogação o retorno das partes ao status quo
imóvel. 4. Agravo de Instrumento não tem lugar se o dano foi ante, reintegrando os promitentes
conhecido e provido. Unânime. causado pelo cônjuge do vendedores na posse do imóvel
(TJDFT – Ag. de Instrumento n. segurado, seus descendentes e condenando a promitente
07371945520228070000 – 3a. T. Cív. ou ascendentes, consanguíneos compradora ao pagamento de
– Ac. unânime – Rel.: Desa. Fátima ou afins. aluguéis no período da ocupação.
Rafael – Fonte: DJ, 11.09.2023). § 2º É ineficaz qualquer ato Abatimento dos valores referentes
do segurado que diminua a parcelas do financiamento
ou extinga, em prejuízo do imobiliário. Laudo pericial que
RESCISÃO DE ALUGUEL
segurador, os direitos a que se não contabilizou, na apuração do
685.022 Pagando a refere este artigo.” débito, valores de aluguéis desde a
indenização, o segurador ocupação, incorrendo em violação

REVISTA BONIJURIS I ANO 35 I EDIÇÃO 685 I DEZ23/JAN24 177


PENAL

ao comando judicial transitado em – Impossibilidade – Existência (STJ – Ag. Regimental no Rec.


julgado. Pretensão de que valores a de vertente probatória quanto à em Mand. de Segurança n. 70.520/
serem abatidos considerem parcelas atividade ilícita anterior – Indícios RS – 6a. T. – Ac. unânime – Rel.: Min.
do financiamento cujo pagamento suficientes para configuração do Antonio Saldanha Palheiro – Fonte:
restou efetivamente comprovado, crime de lavagem de capital – Provas DJ, 20.09.2023).
em detrimento do extrato da suficientes – Prevalência do voto
instituição financeira. Medida vencedor – Embargos rejeitados.
MEDIDA CAUTELAR
descabida. Documento fornecido (TJPR – Embs. Infringentes n.
pela credora hipotecária que é 0022391-83.2023.8.16.0013 – 1a. Câm. 685.027 Pena pode ser
hábil a retratar o montante pago Crim. – Ac. unânime – Rel.: Des. reduzida de um a dois terços
a título de obrigação por força de Subst. Sergio Luiz Patitucci – Fonte: em virtude de perturbação
financiamento. Pretensão recursal DJ, 15.09.2023). de saúde mental
que deve ser acolhida em parte,
a fim de que seja elaborado novo AÇÃO PENAL INCONDICIONADA Homicídio triplamente qualificado
laudo pericial, quando observar-se-á e furto majorado – Absolvição
todo o período determinado pela 685.026 Tratando-se de crime sumária imprópria – Insurgência
coisa julgada. Recurso provido em cuja ação penal é pública do Ministério Público – Postulada
parte. incondicionada, o pronúncia – Acolhimento – Réu semi-
(TJSC – Ag. de Instrumento destinatário das imputável – Aplicação do art. 26-par.
n. 5060534-44.2021.8.24.0000 – 6a. investigações é o Ministério único do Código Penal – Remessa
Câm. Cív. – Ac. unânime – Rel.: Juiz Público do julgamento da causa para o
Renato Luiz Carvalho Roberge – tribunal do júri – Restabelecimento,
Fonte: DJ, 19.09.2023). Processo penal. Agravo regimental por efeito, das medidas cautelares
no recurso em mandado de anteriormente cominadas pelo juízo
segurança. Comunicação falsa de sumariante – Recurso provido.
crime ou contravenção. Inquérito (TJPR – Ap. Cível n. 0000030-
policial arquivado a pedido do 30.2022.8.16.0006 – 1a. Câm. Crim.
Ministério Público. Pretensão do – Ac. unânime – Rel.: Des. Telmo
ofendido de desarquivamento. Cherem – Fonte: DJ, 15.09.2023).
Ausência de direito líquido e certo.

PENAL Agravo regimental desprovido. 1.


Não há ilegalidade ou teratologia, NOTA BONIJURIS: Dispõe o
passível de correção por mandado art. 26, par. único do CP: “A pena
MATERIALIDADE DELITIVA de segurança, na decisão judicial pode ser reduzida de um a dois
que concorda com a conclusão terços, se o agente, em virtude
685.025 Investigação tardia do Ministério Público, quanto à de perturbação de saúde
não enseja a atipicidade das ausência de elementos suficientes mental ou por desenvolvimento
condutas ilícitas praticadas para o oferecimento da denúncia, mental incompleto ou
anteriormente e determina o arquivamento de retardado não era inteiramente
inquérito policial. 2. “Conforme capaz de entender o caráter
Embargos infringentes – Exploração entendimento desta Corte, em se ilícito do fato ou de determinar-
de jogos de azar (art. 50, LCP) e tratando do suposto cometimento se de acordo com esse
lavagem de capital (art. 1º, § 1º, inc. de crime cuja ação penal é pública entendimento;”
I, e § 4º, Lei n. 9.613/1998) – Acórdão incondicionada, o destinatário das
da 2ª Câmara Criminal que, por investigações é o Ministério Público,
maioria de votos, absolveu os que possui a condição de titular da TRÁFICO PRIVILEGIADO
embargantes da contravenção ação penal, de tal sorte que a vítima
penal por insuficiência de provas não possui o direito líquido e certo 685.028 Não se aplica a
e manteve a condenação pelo de impedir eventual pedido de benesse do tráfico
crime de lavagem de capital – arquivamento do inquérito ou das privilegiado a réu
Voto vencido que concluiu pela peças de informação” (AgRg no RMS reincidente
atipicidade da contravenção penal, n. 69.802/PR, relator Ministro Rogerio
com a absolvição do crime acessório Schie�i Cruz, Sexta Turma, julgado Agravo regimental no habeas
de lavagem de capital – Pedido em 13/2/2023, DJe de 15/2/2023). 3. corpus. Tráfico de drogas.
de prevalência do voto vencido Agravo regimental desprovido. Pena-base. Maus antecedentes.

178 REVISTA BONIJURIS I ANO 35 I EDIÇÃO 685 I DEZ23/JAN24


PENAL

Minorante. Negada incidência. REGRESSÃO DE PENA delitiva. Inocorrência. Não


Dedicação a atividades criminosas. preenchimento dos requisitos
Regime fechado. Vetorial negativa. 685.029 Comete falta grave o previstos no art. 71, do Código Penal.
Ausência de constrangimento condenado a pena privativa Caracterizada mera reiteração
ilegal. 1. Quanto à pena, “por se de liberdade que descumprir, criminosa. Recurso defensivo
tratar de questão afeta a certa no regime aberto, as desprovido. 1. No presente caso,
discricionariedade do magistrado, condições impostas observa-se que, embora os dois
a dosimetria da pena é passível crimes de tráfico de drogas e o
de revisão em habeas corpus Agravo em execução. Falta grave. crime de associação para o tráfico
apenas em hipóteses excepcionais, Reiterado descumprimento tenham sido praticados na mesma
quando ficar evidenciada flagrante da condição de comparecer comarca e em datas próximas, não
ilegalidade” (AgRg no HC n. 577.396/ mensalmente ao complexo se constatou nexo de causalidade
RJ, rel. Min. Antonio Saldanha penal para informar e justificar entre os delitos, haja vista que um
Palheiro, Sexta Turma, julgado em suas atividades, mesmo depois crime não fazia parte da execução
27/4/2021, Dje 30/4/2021). 2. “Nos de imposta anterior sanção do outro. Além disso, nota-se que
termos da jurisprudência desta de advertência. Regressão do o crime subsequente não resultou
Corte, ‘a condenação definitiva por regime prisional, do aberto de aproveitamento da situação de
fato anterior ao crime descrito na para o semiaberto, na mesma crime anterior. Não se olvide, ainda,
denúncia, com trânsito em julgado oportunidade harmonizado. que a lei reclama que, além das
posterior à data do ilícito de que Motivos invocados pelo reeducando condições de tempo, lugar e maneira
ora se cuida, embora não configure que não são aptos a afastar as de execução, outras semelhanças
a agravante da reincidência, pode consequências das suas condutas. devem concorrer para que os crimes
caracterizar maus antecedentes e Inteligência dos arts. 50, inciso v, subsequentes sejam havidos como
ensejar o acréscimo da pena-base” e 118, inciso I, da Lei de Execução continuação do primeiro, de modo
(AgRg no HC n. 607.497/SC, relator Penal. Proporcionalidade na perda que, no presente caso, constatou-se
Ministro Rogerio Schie�i Cruz, de dias remidos. Decisão escorreita. apenas mera reiteração criminosa.
Sexta Turma, julgado em 22/9/2020, Precedentes deste Tribunal de (TJSP – Ag. em Execução Penal
Dje 30/9/2020.) 3. A minorante do Justiça. Recurso não provido. n. 0010276-12.2023.8.26.0996 – 6a.
tráfico privilegiado foi negada (TJPR – Ag. em Execução n. Câm. Crim. – Ac. unânime – Rel.: Des.
com fundamentação válida, com 4000112-78.2023.8.16.0031 – 1a. Câm. Airton Vieira – Fonte: DJ, 19.09.2023).
alusão à dedicação a atividades Crim. – Ac. unânime – Rel.: Des.
criminosas, ressaltando a prova oral Adalberto Jorge Xisto Pereira – CRIME DE RESISTÊNCIA
colhida, segundo a qual “o amigo Fonte: DJ, 15.09.2023).
do acusado que foi ouvido em 685.031 Oposição a ato legal
juízo afirmou que teria comprado com resistência não pode
droga do acusado há 3 (três) anos e, NOTA BONIJURIS: Dispõe configurar mero delito de
diante da existência de informações o Art. 50, inciso V, da Lei de desobediência
pretéritas destacadas pela agência Execuções Penais: “Comete
de inteligência”, além da referência falta grave o condenado à pena Apelação criminal. Artigo 329 do
a outras oportunidades nas quais privativa de liberdade que: V – Código Penal. Crime de resistência.
teria oferecido o fornecimento descumprir, no regime aberto, Sentença condenatória. Insurgência
de 1kg de droga a um primo e a as condições impostas;” do réu. Pleito absolutório. Não
venda de maconha e cocaína às acolhimento. Provas suficientes para
testemunhas. 4. Regime mais a condenação. Relatos dos policiais
gravoso devidamente justificado, CONCORRÊNCIA CRIMINAL que se demonstram coerentes,
ainda que não se trate de réu harmônicos e que são corroborados
reincidente, haja vista a existência 685.030 Ainda que haja com outros meios de prova. Oposição
de circunstância judicial negativa, semelhança entre os crimes, à ato legal praticado por policiais. Réu
nos termos do art. 33, § 3º, do CP. 5. deve haver nexo de que se opôs à realização de revista
Agravo regimental desprovido. causalidade entre eles para pessoal, mediante socos e chutes.
(STJ – Ag. Regimental no constatar a continuidade Impossibilidade de desclassificação
Habeas Corpus n. 811.839/SC – 6a. delitiva para o delito de desobediência.
T. – Ac. unânime – Rel.: Des. Jesuíno Sentença condenatória mantida por
Rissato – conv. TJDFT – Fonte: DJ, Agravo de execução penal. seus próprios fundamentos. Recurso
15.09.2023). Unificação de penas. Continuidade conhecido e desprovido.

180 REVISTA BONIJURIS I ANO 35 I EDIÇÃO 685 I DEZ23/JAN24


EMENTÁRIO TITULADO

(TJPR – Ap. Criminal n. 0000244- (TJSP – Ap. Criminal n. 1501622- acolhimento, apenas para fins
27.2020.8.16.0156 – 4a. T. – Ac. 69.2022.8.26.0616 – 15a. Câm. Crim. de esclarecimento, sem efeitos
unânime – Rel.: Juiz Leo Henrique – Ac. unânime – Rel.: Des. Willian modificativos. Esta Corte Superior
Furtado Araujo – Fonte: DJ, Campos – Fonte: DJ, 19.09.2023). já se pronunciou a respeito da
15.09.2023). concessão de aposentadoria
rural por idade, em regime de
TRÁFICO DE DROGAS economia familiar, sobre as
notas fiscais de produção, que a
685.032 Simples conduta de condição de segurança especial
trazer consigo, somada ao fica descaracterizada, caso haja
contexto probatório, é volume de produção incompatível
suficiente para com a condição especial (AgInt
caracterização de tráfico de
drogas
PREVIDENCIÁRIO no AREsp n. 763.511/SP, relator
Ministro Napoleão Nunes Maia
Filho, Primeira Turma, julgado
Tráfico de drogas – Sentença de SERVIÇO RURAL em 24/4/2018, DJe de 10/5/2018;
procedência – Insurgência defensiva AgRg no AREsp n. 754.937/
– Absolvição – Impossibilidade 685.033 Comprovação de SP, relator Ministro Herman
– Conjunto probatório robusto atividade rural para fins Benjamin, Segunda Turma, julgado
em desfavor do acusado – previdenciários exige, ao em 1/10/2015, DJe de 2/2/2016.)
Condenação mantida – Inviável a menos, início de prova II – A evidência, os argumentos
desclassificação para o art. 28, da Lei documental do embargante relacionados a
de Drogas – Quantidade, variedade alegação de que o Tribunal de
e forma de acondicionamento Embargos de declaração. Na origem. origem teria criado requisito não
dos entorpecentes, somadas ao Previdenciário. Aposentadoria previsto em lei, a saber, o regime
conteúdo do aparelho celular rural por idade. Atividade rural. de economia familiar da atividade
do réu, que demonstram a Regime de economia familiar ou rural, para exigência do requisito
finalidade espúria das substâncias trabalhador “boia-fria”. Requisitos de aposentadoria por idade rural,
apreendidas. Dosimetria – Retorno legais. Início de prova material. não prevalece, porquanto embora o
da pena-base ao mínimo legal Complementação por prova requisito diga respeito a economia
– Quantidade e natureza dos testemunhal. Não comprovação. familiar, esta descaracteriza a
entorpecentes normais ao tipo Renda elevada do grupo familiar. condição de trabalhador rural boia-
penal em apreço – Manutenção Descaracterização também como fria (trabalhador rural individual),
do aumento de 1/3 pela nódoa trabalhadora rural individual. a qual a autora da ação pretendia
recidiva, em se tratando de réu Embargos parcialmente acolhidos, se enquadrar. III – Em resumo, a
multirreincidente – Regime inicial apenas para fins de esclarecimento, trabalhadora não se enquadra nas
fechado mantido – Recurso provido sem efeitos modificativos. I – hipóteses descritas no art. 143 da
em parte. Os embargos merecem parcial Lei n. 8.213/1991, a saber “na forma

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REVISTA BONIJURIS I ANO 35 I EDIÇÃO 685 I DEZ23/JAN24 181


PREVIDENCIÁRIO

da alínea “a” do inciso I, ou do já analisadas com o nítido intuito reformatio in pejus, ante a ausência
inciso IV ou VII do art. 11 desta Lei”. de promover efeitos modificativos de recurso do INSS.
Eis o dispositivo legal: “Art. 143. O ao recurso. No caso dos autos, não (TRF-4a. Reg. – Ap. Cível n.
trabalhador rural ora enquadrado há omissão de ponto ou questão 5000574-54.2018.4.04.7114 – 11a. T. Rec.
como segurado obrigatório no sobre as quais o juiz, de ofício ou a – Ac. unânime – Rel.: Desa. Federal
Regime Geral de Previdência Social, requerimento, devia pronunciar- Eliana Paggiarin Marinho – Fonte:
na forma da alínea “a” do inciso I, ou se, considerando que a decisão DJ, 15.09.2023).
do inciso IV ou VII do art. 11 desta apreciou as teses relevantes para
Lei, pode requerer aposentadoria o deslinde do caso e fundamentou PREVIDÊNCIA PRIVADA
por idade, no valor de um salário sua conclusão. VIII – Embargos de
mínimo, durante quinze anos, declaração acolhidos parcialmente, 685.035 Entidade fechada de
contados a partir da data de sem efeitos modificativos. (STJ – previdência privada pode
vigência desta Lei, desde que Embs. de Declaração no Ag. Int. no alterar os regulamentos dos
comprove o exercício de atividade Ag. em Rec. Especial n. 2.208.003/ planos de custeio e de
rural, ainda que descontínua, no PR – 2a. T. – Ac. unânime – Rel.: benefícios
período imediatamente anterior Min. Francisco Falcão – Fonte: DJ,
ao requerimento do benefício, 13.09.2023). Processo civil. Agravo interno.
em número de meses idêntico à Razões que não enfrentam o
carência do referido benefício.” IV ALUNO-APRENDIZ fundamento da decisão agravada.
– Segundo o art. 1.022 do Código de Ausência de impugnação de
Processo Civil de 2015, os embargos 685.034 Não se pode fundamentos autônomos.
de declaração são cabíveis para equiparar seminarista ao Previdência privada. Revisão de
esclarecer obscuridade; eliminar aluno-aprendiz, devendo benefício. Alteração do regulamento
contradição; suprir omissão de este contribuir da FUNCEF. Recomposição de
ponto ou questão sobre as quais o facultativamente perdas inflacionárias. Legalidade.
juiz devia pronunciar-se de ofício Precedentes. Reexame de provas.
ou a requerimento; e/ou corrigir Previdenciário. Aposentadoria por Súmulas 5 e 7/STJ. Não impugnação.
erro material. V – Conforme tempo de contribuição. Seminarista. Incidência do verbete n. 283/
entendimento pacífico desta Corte: Aluno-aprendiz. Equiparação. STF. Violação não demonstrada.
“O julgador não está obrigado a Impossibilidade. Exigência de Súmula n. 284/STF. 1. As razões
responder a todas as questões contribuições. 1. Com a edição do agravo interno não enfrentam
suscitadas pelas partes, quando já da Lei 6.696, de 08/10/1979, os adequadamente o fundamento da
tenha encontrado motivo suficiente ministros de confissão religiosa decisão agravada. 2. Nos termos da
para proferir a decisão. A prescrição e os membros de institutos de jurisprudência desta Corte Especial,
trazida pelo art. 489 do CPC/2015 vida consagrada, congregação é “dever da parte de refutar “em
veio confirmar a jurisprudência já ou ordem religiosa foram tantos quantos forem os motivos
sedimentada pelo Colendo Superior equiparados aos trabalhadores autonomamente considerados”
Tribunal de Justiça, sendo dever autônomos, passando, então, a para manter os capítulos decisórios
do julgador apenas enfrentar as serem considerados segurados objeto do agravo interno total ou
questões capazes de infirmar a obrigatórios da Previdência parcial (AgInt no AREsp 895.746/SP,
conclusão adotada na decisão Social. 2. Não há como equiparar relator Ministro Mauro Campbell
recorrida.” EDcl no MS 21.315/DF, o seminarista ao aluno-aprendiz e Marques, Segunda Turma, julgado
relatora Ministra Diva Malerbi enquadrar o período de seminário em 9.8.2016, DJe 19.8.2016)” (EREsp
(Desembargadora convocada TRF como segurado da Previdência, n. 1.424.404/SP, relator Ministro
3ª Região), Primeira Seção, julgado salvo na condição de estudante, Luis Felipe Salomão, Corte Especial,
em 8/6/2016, DJe 15/6/2016. VI – A que é segurado facultativo e, como DJe de 17/11/2021). 3. Nos termos da
pretensão de reformar o julgado tal, dependeria de ter havido o jurisprudência do Superior Tribunal
não se coaduna com as hipóteses de recolhimento das contribuições de Justiça, “’sempre foi permitida
omissão, contradição, obscuridade necessárias na época devida, o que à entidade fechada de previdência
ou erro material contidas no art. não se verifica no presente caso. privada alterar os regulamentos dos
1.022 do CPC/2015, razão pela qual 3. Não obstante a impossibilidade planos de custeio e de benefícios
inviável o seu exame em embargos de equiparação do seminarista ao como forma de manter o equilíbrio
de declaração. VII – Cumpre aluno-aprendiz, deve ser mantida atuarial das reservas e cumprir os
ressaltar que os aclaratórios não se a sentença quanto aos intervalos compromissos assumidos diante
prestam ao reexame de questões já reconhecidos, sob pena de das novas realidades econômicas

182 REVISTA BONIJURIS I ANO 35 I EDIÇÃO 685 I DEZ23/JAN24


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e de mercado que vão surgindo adquire o direito à contagem na aposentadoria híbrida por idade,
ao longo do tempo. Por isso é que forma estabelecida, bem como à ainda que não tenha sido efetivado o
periodicamente há adaptações e comprovação das condições de recolhimento das contribuições, nos
revisões dos planos de benefícios a trabalho como então exigido, não se termos do art. 48, § 3º da Lei 8.213/1991,
conceder, incidindo as modificações aplicando retroativamente lei nova seja qual for a predominância
a todos os participantes do fundo que venha a estabelecer restrições do labor misto exercido no
de pensão após a devida aprovação à admissão do tempo de serviço período de carência ou o tipo de
pelos órgãos competentes especial. 2. Conforme Tema 555 trabalho exercido no momento do
(regulador e fiscalizador), observado, do STF, na hipótese de exposição implemento do requisito etário ou
em qualquer caso, o direito do trabalhador a ruído acima do requerimento administrativo”.
acumulado de cada aderente. Daí dos limites legais de tolerância, 3. O acórdão prolatado a fls. 445-447
o caráter estatutário do plano de a declaração do empregador, no não destoa do entendimento firmado
previdência complementar, próprio âmbito do Perfil Profissiográfico sob o rito dos recursos repetitivos, de
do regime de capitalização’ (REsp Previdenciário (PPP), da eficácia do modo que fica prejudicado o pleito
1443304/SE, Rel. Ministro RICARDO Equipamento de Proteção Individual formulado nos presentes Embargos
VILLAS BÔAS CUEVA, TERCEIRA (EPI), não descaracteriza o tempo de de Declaração. 4. Embargos de
TURMA, julgado em 26/5/2015, serviço especial para aposentadoria. Declaração prejudicados.
DJe 2/6/2015)” (AgInt no AREsp n. 3. A Lei de Benefícios da Previdência (STJ – Embs. de Declaração no
1.120.296/RJ, relatora Ministra Maria Social não excepcionou o Rec. Especial n. 1.793.682/PR – 2a.
Isabel Gallo�i, Quarta Turma, DJe contribuinte individual como T. Rec. – Ac. unânime – Rel.: Min.
de 23/4/2021). 4. Não cabe, em recurso eventual não beneficiário da Herman Benjamin – Fonte: DJ,
especial, reexaminar matéria aposentadoria especial ou conversão 10.12.2021).
fático-probatória e a interpretação do tempo especial em comum.
de cláusulas contratuais (Súmulas (TRF-4a. Reg. – Ap. Cível n. LOAS
5 e 7/STJ). 5. Ante a deficiência 5014690-09.2019.4.04.9999 – 11a. T.
na motivação e a ausência de Rec. – Ac. unânime – Rel. Desa. 685.038 Possui direito ao
impugnação de fundamento Federal Ana Cristina Ferro Blasi – LOAS o idoso ou portador de
autônomo, aplica-se, por analogia, Fonte: DJ, 19.09.2023). deficiência em situação de
os óbices das Súmulas n. 284 e 283, risco social
do STF. 6. Agravo interno a que se APOSENTADORIA MISTA
nega provimento. Trata-se de recurso especial
(STJ – Ag. Interno no Ag. em 685.037 Concessão do interposto pelo INSS com
Rec. Especial n. 2.062.603/PR – 4a. benefício de aposentadoria apoio no art. 105, III, a, da
T. Rec. – Ac. unânime – Rel.: Min. por idade híbrida não exige o Constituição Federal, contra
Maria Isabel Gallo�i – Fonte: DJ, cumprimento simultâneo dos acórdão proferido por Órgão
14.09.2023). requisitos idade e carência Colegiado desta Corte cuja
ementa estampa: previdenciário.
SAQUE INDEVIDO Embargos de declaração. Pleito Benefício assistencial. Condição
de sobrestamento do feito até o socioeconômica. Miserabilidade.
685.036 Eficácia de julgamento do Tema 1.007/STJ. Preenchimento de requisitos. 1. O
equipamento de proteção Recursos repetitivos julgados. direito ao benefício assistencial,
não descaracteriza tempo de Acórdão recorrido em conformidade previsto no art. 203, V, da
serviço especial com o repetitivo. 1. O Embargante Constituição Federal, e nos arts. 20 e
postula a reconsideração do acórdão 21 da Lei 8.742/93 (LOAS) pressupõe o
Previdenciário. Aposentadoria de fls. 445-447 ou o sobrestamento do preenchimento de dois requisitos: a)
especial. Contribuinte individual. feito até o julgamento dos Recursos condição de pessoa com deficiência
Ruído. 1. O reconhecimento Especiais 1.674.221/SP e 1.788.404/PR ou idosa e b) situação de risco social,
da especialidade obedece à submetidos ao rito dos repetitivos. ou seja, de miserabilidade ou de
disciplina legal vigente à época 2. Os recursos acima referidos desamparo. 2. É de flexibilizar-se
em que a atividade foi exercida, foram julgados, consolidando a tese os critérios de reconhecimento da
passando a integrar, como direito de que “o tempo de serviço rural, miserabilidade, merecendo apenas
adquirido, o patrimônio jurídico do ainda que remoto e descontínuo, adequação de fundamento frente à
trabalhador, de modo que, uma vez anterior ao advento da Lei 8.213/1991, deliberação do Supremo Tribunal
prestado o serviço sob a vigência pode ser computado para fins da Federal, que, por maioria, ao
de certa legislação, o segurado carência necessária à obtenção da analisar os recursos extraordinários

184 REVISTA BONIJURIS I ANO 35 I EDIÇÃO 685 I DEZ23/JAN24


EMENTÁRIO TITULADO

567.985 e 580.963, ambos submetidos mínimo mensal à pessoa com Processo Civil e dos arts. 5º, II, e 6º,
à repercussão geral, reconheceu a deficiência e ao idoso da Resolução STJ n. 08/2008.
inconstitucionalidade do § 3º do art. (STJ – Rec. Especial n. 1.355.052/
20 da Lei 8.742/1993 – LOAS, assim Previdenciário. Recurso SP – 1a. S. – Ac. unânime – Rel.: Min.
como do art. 34 da Lei 10.741/2003 – representativo de controvérsia. Benedito Gonçalves – Fonte: DJ,
Estatuto do Idoso. 3. A Lei 13.146/2015 Concessão de benefício assistencial 05.11.2015).
introduziu o § 11 no referido artigo previsto na Lei n. 8.742/93 a pessoa
20 da LOAS, o qual dispõe que para com deficiência. Aferição da NOTA BONIJURIS: O Tema
concessão do benefício assistencial hipossuficiência do núcleo familiar. 640 do STJ afirma que se aplica
poderão ser utilizados outros Renda per capita. Impossibilidade “o parágrafo único do artigo
elementos probatórios da condição de se computar para esse fim o 34 do Estatuto do Idoso (Lei n.
de miserabilidade do grupo familiar benefício previdenciário, no valor 10.741/03), por analogia, a pedido
e da situação de vulnerabilidade, de um salário mínimo, recebido por de benefício assistencial feito
conforme regulamento. Verifica-se idoso. 1. Recurso especial no qual se por pessoa com deficiência
que a parte recorrente interpôs discute se o benefício previdenciário, a fim de que benefício
dois recursos especiais (ev. 130, recebido por idoso, no valor de um previdenciário recebido por
RECESPEC1 e ev. 154, RECESPEC1), salário mínimo, deve compor a renda idoso, no valor de um salário
ambos em face da mesma decisão familiar para fins de concessão mínimo, não seja computado
(ev. 120, RELVOTO2). Assim, diante ou não do benefício de prestação no cálculo da renda per capita
da preclusão consumativa e do mensal continuada a pessoa prevista no artigo 20, § 3º, da
princípio da unirrecorribilidade deficiente. 2. Com a finalidade Lei n. 8.742/93”.
das decisões, deixo de conhecer do para a qual é destinado o recurso
recurso especial interposto no ev. especial submetido a julgamento
154, RECESPEC1. Ante o exposto, não pelo rito do artigo 543-C do CPC, PENSÃO POR MORTE
conheço do recurso especial do ev. define-se: Aplica-se o parágrafo
154, RECESPEC1. Intimem-se. único do artigo 34 do Estatuto do 685.040 É constitucional a
(TRF-4a. Reg. – Ap. Cível n. Idoso (Lei 10.741/03), por analogia, vedação de continuidade da
5005587-70.2022.4.04.9999 – Vice- a pedido de benefício assistencial aposentadoria especial se o
presidência – Ac. unânime – Rel.: feito por pessoa com deficiência a beneficiário permanece
Des. João Batista Pinto Silveira – fim de que benefício previdenciário laborando em atividade
Fonte: DJ, 03.10.2023). recebido por idoso, no valor de um especial ou a ela retorna
salário mínimo, não seja computado
PRESTAÇÃO CONTINUADA no cálculo da renda per capita Previdenciário. Aposentadoria
prevista no artigo 20, § 3º, da Lei n. especial. Concessão. Afastamento
685.039 Benefício de 8.742/93. 3. Recurso especial provido. compulsório. Tema STF 709.
prestação continuada é a Acórdão submetido à sistemática Repercussão geral reconhecida.
garantia de um salário- do § 7º do art. 543-C do Código de Consectários legais. Correção

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REVISTA BONIJURIS I ANO 35 I EDIÇÃO 685 I DEZ23/JAN24 185
PROCESSO CIVIL

monetária. Juros de mora. (TRF-4a. Reg. – Ap. Cível n. suficientes que autorizem o
Honorários advocatícios. Custas 5077390-90.2016.4.04.7100 – 6a. T. Rec. exercício da pretensão
processuais. 1. Tem direito – Ac. unânime – Rel.: Des. Federal
à aposentadoria especial o Altair Antonio Gregório – Fonte: DJ, Agravo de instrumento.
segurado que possui 25 anos 15.09.2023). Consumidor e processual civil.
de tempo de serviço especial e Tutela provisória. Requisitos
implementa os demais requisitos NOTA BONIJURIS: O Tema ausentes. Provas insuficientes.
para a concessão do benefício 709 do STF (Repercussão Geral) HURB. Pacote turístico. Emissão
a partir da data de entrada do versa sobre a possibilidade de passagens aéreas. Reservas de
requerimento administrativo, de percepção do benefício da hospedagem. Recurso desprovido. 1.
respeitada a prescrição quinquenal. aposentadoria especial na A hipótese consiste em examinar a
2. É constitucional a vedação hipótese em que o segurado possibilidade de impor à agravada,
de continuidade da percepção permanece no exercício de por meio de antecipação dos efeitos
de aposentadoria especial se o atividades laborais nocivas à da tutela, a emissão imediata de
beneficiário permanece laborando saúde: passagens aéreas e efetivação de
em atividade especial ou a ela Tese: “É constitucional a vedação reservas de hospedagem alusivas
retorna, seja essa atividade especial de continuidade da percepção a “pacote de viagem” adquirido
aquela que ensejou a aposentação de aposentadoria especial pelos agravantes. 2. A antecipação
precoce ou não. 3. A correção se o beneficiário permanece dos efeitos da tutela exige, como
monetária das parcelas vencidas laborando em atividade especial requisito, a demonstração unilateral
dos benefícios previdenciários será ou a ela retorna, seja essa das provas suficientes que
calculada conforme a variação atividade especial aquela que autorizem o exercício da pretensão,
do IGP-DI de 05/96 a 03/2006, e ensejou a aposentação precoce a denotar a existência do critério de
do INPC, a partir de 04/2006. 4. ou não. II) Nas hipóteses em verossimilhança, além do perigo de
Os juros de mora devem incidir a que o segurado solicitar a dano ou o risco ao resultado útil do
contar da citação (Súmula 204 do aposentadoria e continuar a processo (art. 294, em composição
STJ), na taxa de 1% (um por cento) exercer o labor especial, a data com o art. 300, ambos do CPC).
ao mês, até 29 de junho de 2009. A de início do benefício será a data 3. No caso em exame as provas
partir de 30 de junho de 2009, os de entrada do requerimento, produzidas unilateralmente pelos
juros moratórios serão computados, remontando a esse marco, consumidores são insuficientes,
uma única vez (sem capitalização), inclusive, os efeitos financeiros. no atual momento do curso do
segundo percentual aplicável à Efetivada, contudo, seja na via processo, para subsidiar a pretensão
caderneta de poupança. 5. A partir administrativa, seja na judicial a recursal de imediata emissão de
de 9/12/2021, para fins de atualização implantação do benefício, uma passagens aéreas e de efetivação de
monetária e juros de mora, deve ser vez verificado o retorno ao labor reservas de hospedagem (art. 373,
observada a redação dada ao artigo nocivo ou sua continuidade, inc. I, do CPC). 4. Recurso conhecido
3º da EC 113/2021, a qual estabelece cessará o pagamento do e desprovido.
que haverá a incidência, uma benefício previdenciário em (TJDFT – Ag. de Instrumento n.
única vez, até o efetivo pagamento, questão.” 07198018320238070000 – 2a. T. Cív.
do índice da taxa referencial do – Ac. unânime – Rel.: Des. Alvaro
Sistema Especial de Liquidação Ciarlini – Fonte: DJ, 19.09.2023).
e de Custódia (Selic), acumulado
mensalmente. 6. Sucumbente JUÍZO COMPETENTE
deverá o INSS ser condenado ao
pagamento das custas processuais e 685.042 Competência para
dos honorários advocatícios fixados dar cumprimento à sentença
em conformidade com o disposto é, via de regra, do juízo de
na Súmula 76 deste Tribunal e de PROCESSO CIVIL primeiro grau que a proferiu
acordo com a sistemática prevista
no artigo 85 do Código de Processo TUTELA PROVISÓRIA Cumprimento de sentença. Declínio
Civil de 2015. 7. O INSS é isento do de competência do 19º Juízo da
pagamento das custas processuais 685.041 Antecipação dos Unidade Estadual de Direito
quando demandado na Justiça efeitos da tutela exige, como Bancário para o Juízo da 2ª Vara
Federal e na Justiça do Estado do requisito, a demonstração Cível da Comarca de Porto União,
Rio Grande do Sul. unilateral das provas com fundamento no art. 516,

186 REVISTA BONIJURIS I ANO 35 I EDIÇÃO 685 I DEZ23/JAN24


PROCESSO CIVIL

inciso II, do Código de Processo (TJDFT – Ag. Interno n. fim de afirmar a inexistência de


Civil. Viabilidade. Supremacia 07207256720188070001 – 5a. T. Cív. impedimento para que o imóvel
da competência do juízo que – Ac. unânime – Rel.: Desa. Maria urbano, com área inferior ao módulo
decidiu a causa no primeiro grau Ivatônia – Fonte: DJ, 19.09.2023). mínimo municipal, possa ser objeto
de jurisdição. Exegese do art. 516, da usucapião extraordinária.
inciso II, do Código de Processo (STJ – Rec. Especial n. 1.667.842/
NOTA BONIJURIS: O Código
Civil. Precedentes desta corte. O SC – 2a. S. – Ac. unânime – Rel.: Min.
de Processo Civil estabelece,
simples fato de conter instituição Luis Felipe Salomão – Fonte: DJ,
no art. 223, a hipótese de
financeira em um dos polos da ação 05.04.2021).
cabimento de recurso
não implica, necessariamente, na
intempestivo:
competência do juízo especializado,
após a sua instalação. Competência “Decorrido o prazo, extingue- NOTA BONIJURIS: O tema
do juízo suscitante, qual seja, 2ª se o direito de praticar ou de do presente acórdão foi alvo
Vara Cível da Comarca de Porto emendar o ato processual, de discussão em tese para
União. Conflito negativo julgado independentemente de definir se o reconhecimento
improcedente. declaração judicial, ficando da usucapião extraordinária,
(TJSC – Confl. de Competência n. assegurado, porém, à parte mediante o preenchimento
5036164-30.2023.8.24.0000 – 6a. Câm. provar que não o realizou por de seus requisitos específicos,
Dir. Com. – Ac. unânime – Rel.: Des. justa causa. pode ser obstado em razão de
Osmar Mohr – Fonte: DJ, 14.09.2023). § 1º Considera-se justa causa a área usucapienda ser inferior
o evento alheio à vontade ao módulo estabelecido em
da parte e que a impediu de lei municipal, firmada pelo
INTEMPESTIVIDADE praticar o ato por si ou por Superior Tribunal de Justiça no
685.043 Parte é responsável mandatário.” Tema Repetitivo n. 985.
pela qualidade do material
transmitido, bem como pela
entrega, dentro do prazo USUCAPIÃO EXTRAORDINÁRIA JULGAMENTO ANTECIPADO
legal, de documentos não
corrompidos 685.044 Não se pode obstar o 685.045 Juiz julgará
reconhecimento de antecipadamente o pedido,
Agravo interno. Apelação não usucapião por área inferior à proferindo sentença com
conhecida. Intempestividade. Artigo estabelecida em lei municipal resolução de mérito, quando
1.003 caput e § 5º do Código de não houver necessidade de
Processo Civil. Recurso conhecido Recurso especial representativo produção de outras provas
e não provido. 1. Apelação deve ser de controvérsia. Usucapião
interposta no prazo de 15 (quinze) extraordinária. Imóvel usucapiendo Apelações cíveis. Ação de
dias úteis a contar da intimação com área inferior ao módulo urbano rescisão contratual c/c danos
da sentença – Art. 1.003, caput, e disposto na legislação municipal. morais com pedido de tutela de
§ 5º do CPC, observado, se o caso, Requisitos previstos no art. 1.238 do urgência. Compra e venda de
o prazo em dobro nos termos do CC: posse, animus domini, prazo de veículo zero quilômetro. Vício
art. 186 do diploma processual. 15 (quinze) anos. Reconhecimento no produto. Sentença de parcial
2. Sentença publicada no dia do direito à aquisição da procedência. Recursos de ambas
28/10/2022, termo inicial do prazo propriedade não sujeito a as partes. Aventada preliminar
para apelação o dia 03/11/2022, termo condições postas por legislação de ilegitimidade passiva ad
final o dia 24/11/2022, arquivo ilegível diferente daquela que disciplina causam pelo segundo réu. Não
protocolado em 23/11/2022, apelação especificamente a matéria. 1. acolhimento. Comprovação nos
legível protocolada somente Tese para efeito do art. 1.036 do que a instituição financeira está
em 02/02/2023. Manifestamente CPC/2015: O reconhecimento da vinculada à concessionária/
intempestiva. 2.1. Registre-se, por usucapião extraordinária, mediante fabricante vendedora, integrando a
fim, não haver qualquer indicação de o preenchimento dos requisitos cadeia de fornecedores. Preliminar
ter ocorrido “evento alheio à vontade específicos, não pode ser obstado de ilegitimidade passiva rejeitada.
da parte e que a impediu de praticar em razão de a área usucapienda ser Preliminar de cerceamento de
o ato por si ou por mandatário” (art. inferior ao módulo estabelecido em defesa. Não reconhecimento.
223, § 1º, CPC). 3. Agravo interno lei municipal. 2. No caso concreto, Julgamento antecipado da lide.
conhecido e não provido. recurso especial não provido, a Demanda que já se encontra

188 REVISTA BONIJURIS I ANO 35 I EDIÇÃO 685 I DEZ23/JAN24


EMENTÁRIO TITULADO

instruída com provas necessárias ao Ato de interposição do recurso.


enfoque da matéria. Possibilidade I – Na origem, trata-se de ação
de julgamento antecipado. ordinária objetivando ressarcimento
Incidência do art. 355, I, do de danos materiais orçados em
Código de Processo Civil. Mérito. R$31.600,00, referentes a 158 horas
Almejada a reforma da sentença de trabalho, com valor médio
pelas rés, sob o argumento de não fixado em R$200,00; indenização
cometimento de ato ilícito. Não por danos morais em valor não Almanaque
do Consumidor
acolhimento. Automóvel que não inferior a R$ 31.600,00. Na sentença
foi consertado no prazo previsto o pedido foi julgado procedente.
em lei. Restituição imediata da No Tribunal a quo, a sentença foi
quantia paga, monetariamente reformada para julgar improcedente
L. F. Queiroz
atualizada, sem prejuízo de a demanda. III – A Corte Especial,
eventuais perdas e danos. no julgamento do AREsp 957.821,
Escolha que cabe ao consumidor. em 20/11/2017, chegou à conclusão
Inteligência do art. 18 do CDC. de que, na vigência do Código de
Mantida a responsabilidade civil Processo Civil de 2015, não é possível
objetiva. Requerido afastamento a pretensão de comprovação da
dos danos materiais. Insubsistência. tempestividade após a interposição
Documentação carreada aos do recurso. IV – Recentemente, a
autos que são suficientes para Corte Especial decidiu que a regra
comprovar os danos materiais da impossibilidade de comprovação
suportados pelo autor. Danos da tempestividade, posteriormente
morais. Insurgência dos réus acerca à interposição do recurso, não
do valor arbitrado na sentença. deveria ser aplicada no caso em que
Quantum indenizatório, todavia, se trate do feriado de segunda-feira A legislação
que deve ser mantido, porquanto de carnaval. Permite-se assim, que consumerista explicada
razoável, proporcional ao caso. a parte comprove, posteriormente de forma direta e
Pleito de afastamento da multa à interposição do recurso, na VLPSOLŝFDGD5H°QH
de 2% atribuído ao segundo primeira oportunidade, a ocorrência
regras da Constituição,
apelante em sede de embargos do feriado local, nessa hipótese. O
de declaração. Não acolhimento. entendimento foi fixado no REsp do CDC e da legislação
Penalidade aplicada em atenção 1.813.684/SP e, posteriormente, IHGHUDO0ŸWRGR
ao caráter puramente protelatório ratificado no julgamento da questão temático idealizado pelo
dos aclaratórios. Decisão mantida. de ordem no mesmo recurso, DGYRJDGR/)4XHLUR]
Honorários recursais devidos à quando se explicitou que a mesma
autora (art. 85, § 2º, do CPC), em interpretação não poderia ser
essencial para todos
20% (vinte por cento) do montante estendida para outros feriados, que os polos da relação de
arbitrado na sentença. Recursos não fossem o feriado de segunda- consumo: fornecedores,
conhecidos e desprovidos. feira de carnaval. V – Assim, em prestadores de serviço e
(TJSC – Ap. Cível n. 5015247- se tratando de interposição de
FRQVXPLGRUHV
31.2019.8.24.0064 – 2a. Câm. Cív. – Ac. recurso em datas que não se
unânime – Rel.: Des. Volnei Celso referem ao feriado da segunda-
Tomazini – Fonte: DJ, 14.09.2023). feira de carnaval, é aplicável a Compre através
jurisprudência desta Corte, no do QR Code
TEMPESTIVIDADE RECURSAL sentido já indicado acima, de
impossibilidade de comprovação da
685.046 Não é possível a tempestividade após a interposição
pretensão de comprovação do recurso. VI – Agravo interno
da tempestividade após a improvido.
interposição do recurso (STJ – Ag. Interno nos Embs.
de Decl. no Ag. em Rec. Especial
Processual civil. Administrativo. n. 2349923/SP – 2a. T. Cív. – Ac. livrariabonijuris.com.br
Ação ordinária. Reparação civil. unânime – Rel.: Min. Francisco
Intempestividade. Comprovação. Falcão – Fonte: DJ, 27.09.2023).

REVISTA BONIJURIS I ANO 35 I EDIÇÃO 685 I DEZ23/JAN24 189


TRABALHISTA

AGRAVO PREJUDICADO para a realização de pesquisa de


forma reiterada visa assegurar
685.047 Incumbe ao relator a rápida tramitação processual
não conhecer o agravo de e a efetividade do processo
instrumento prejudicado por executivo. Ademais, consoante
perda superveniente do disposto no art. 835 do CPC, a TRABALHista
objeto penhora de bens deve ser realizada
preferencialmente em dinheiro,
Direito civil. Direito processual JORNADA DE TRABALHO
sendo assim, o sistema SISBAJUD,
civil. Agravo de instrumento. na forma reiterada, é o meio mais 685.049 Trabalho realizado
Ausência de interesse recursal. efetivo para buscar a penhora de após a oitava hora diária é
Perda superveniente de objeto. dinheiro. 3. A jurisprudência desta limitado sob fundamentos de
Análise recursal prejudicada. Eg. Corte de Justiça tem se firmado ordem biológica e social
Inteligência do inc. III do art.
no sentido de que o transcurso
932 da Lei n. 13.105/2015 (Código Turnos de 12 horas em escala de
do prazo de 1 (um) ano desde a
de Processo Civil). 1. Incumbe ao 4x4 prevista em norma coletiva.
realização da última pesquisa
relator não conhecer o recurso Invalidade. A sistemática adotada
caracteriza tempo razoável para
inadmissível, prejudicado ou pela ré consistente em submeter
a reiteração das diligências.
que não tenha impugnado seus empregados ao trabalho por
Precedentes. 4. A suspensão da
especificamente os fundamentos 4 (quatro) dias consecutivos, em
CNH e do passaporte do devedor,
da decisão recorrida. 2. Recurso jornadas de 12 (doze) horas diárias,
é medida desproporcional, que
de agravo de instrumento não além de violar a regra do art. 59,
não demonstra a eficácia em
conhecido. caput e § 2º, da CLT, conduz a
coagir o devedor a adimplir o
(TJPR – Ag. de Instrumento n. uma maior fadiga do empregado,
0065970-57.2022.8.16.0000 – 17a. Câm. débito, sendo incapaz de conferir
aumento de doenças ocupacionais
Cív. – Dec. Monocrática – Rel.: Des. efetividade ao processo executivo.
e acidentes de trabalho, ofendendo
Mário Luiz Ramidoff – Fonte: DJ, 5. Inviável acolher o pedido de
os fundamentos da República
15.09.2023). bloqueio dos cartões de crédito
Federativa do Brasil, constantes
do executado, uma vez que
no art. 1º, incisos III e IV, da
não existem nos autos indícios
PENHORA Constituição de 1988, além dos
mínimos que permitam concluir
direitos à saúde, razão pela qual
685.048 Permite-se a adoção pela ocultação de patrimônio de
inválida a referida jornada de
de medidas coercitivas para sua parte, muito menos indícios da
trabalho, ainda que prevista em
assegurar o cumprimento de eficácia de tal medida na obtenção norma coletiva, com o aceite
ordem legal do crédito perseguido. 6. Agravo unânime dos trabalhadores
de instrumento conhecido e envolvidos. Recurso Ordinário
Agravo de instrumento. Processo parcialmente provido. interposto pelo Ministério
civil. Cumprimento de sentença. (TJDFT – Ag. de Instrumento Público do Trabalho a que se dá
Aplicação de medidas coercitivas n. 07256252320238070000 – 5a. T. provimento.
atípicas. Consulta de bens e ativos. Cív. – Ac. unânime – Rel.: Desa. (TRT-9a. Reg. – Rec. Ordinário
SISBAJUD. Reiteração. Lapso Lucimeire Maria da Silva – Fonte: n. 0001467-30.2014.5.09.0654 – 3a. T.
temporal superior a 1 (um) ano DJ, 19.09.2023). – Ac. unânime – Rel.: Desa. Thereza
desde a última pesquisa. Juízo de Cristina Gosdal – Fonte: DJ,
razoabilidade. Suspensão da CNH 24.11.2016).
e do passaporte do executado. NOTA BONIJURIS: Dispõe o
Bloqueio dos cartões de crédito. CPC, em seu art. 139:
“IV – determinar todas as
CULPA EXCLUSIVA DA VÍTIMA
Medidas desproporcionais. Decisão
parcialmente reformada. 1. O inciso medidas indutivas, coercitivas, 685.050 Por retirar os óculos
IV do artigo 139 do CPC/15 admite mandamentais ou sub- de proteção, motorista que
a adoção de medidas indutivas ou rogatórias necessárias para perdeu visão de um olho não
coercitivas atípicas para assegurar assegurar o cumprimento de será indenizado
o cumprimento da ordem legal, ordem judicial, inclusive nas
desde que a medida seja adequada ações que tenham por objeto Agravo em Agravo de Instrumento
e razoável. 2. O deferimento da prestação pecuniária;” em Recurso de Revista.
utilização do sistema SISBAJUD Reclamante. Acórdão regional

190 REVISTA BONIJURIS I ANO 35 I EDIÇÃO 685 I DEZ23/JAN24


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TRABALHISTA

publicado na vigência da Lei n. TERCEIRIZAÇÃO de trabalho havido entre as partes,


13.467/2017. 1. Responsabilidade sendo que nos termos do art. 114, I e
civil do empregador. Acidente 685.051 Previsão em contrato IX, da CF/88, a Justiça do Trabalho
de trabalho. Culpa exclusiva da firmado entre as partes que é competente para processar e
vítima. Violações não constatadas. afasta a responsabilização julgar “as ações oriundas da relação
Óbice da Súmula n. 126 do TST. da tomadora não impede o de trabalho”, bem como “outras
Decisão monocrática do relator que reconhecimento da controvérsias decorrentes da
denega seguimento ao agravo de responsabilidade subsidiária relação de trabalho”.
instrumento. Não demonstração do (TRT-9a. Reg. – Rec. Ordinário
preenchimento dos pressupostos Terceirização. Contemporaneidade n. 0000296-58.2022.5.09.0007 – 5a.
de admissibilidade do recurso de entre o contrato de prestação de T. Rec. – Ac. unânime – Rel.: Des.
revista. Ausência de transcendência. serviços e o contrato de trabalho. Valdecir Edson Fossa�i – Fonte: DJ,
Conhecimento e não provimento. I. Aderência entre o objeto do 17.05.2023).
Fundamentos da decisão agravada contrato de prestação de serviços
não desconstituídos. II. No caso, e a função da trabalhadora. RISCO DO EMPREENDIMENTO
inviável o processamento do recurso Presunção do trabalho em prol da
quanto ao tema, uma vez que a tomadora. Uma vez comprovada 685.053 Engenheiro será
caracterização da responsabilização a contemporaneidade entre o indenizado por uso de
civil, com o dever de indenizar, contrato de prestação de serviços equipamento pessoal para
pressupõe a coexistência de ação e o contrato de trabalho e, ainda, trabalhar
ou omissão dolosa ou culposa, aderência entre o objeto do primeiro
resultado danoso e nexo de e a função da trabalhadora, Agravo de Instrumento. Recurso
causalidade. Na hipótese, o acordão presume-se o trabalho da de Revista. Processo sob a égide
regional analisou os fatos e as trabalhadora em prol do tomador. da Lei 13.015/2014 e anterior à
provas dos autos e concluiu que (TRT-9a. Reg. – Rec. Ordinário Lei 13.467/2017. 1. Preliminar de
o acidente ocorrido foi por culpa n. 0000649-57.2021.5.09.0129 – 3a. nulidade por negativa de prestação
exclusiva da vítima (Reclamante) T. Rec. – Ac. unânime – Rel.: Des. jurisdicional. Art. 896, § 1º-a, I,
que, embora devidamente treinado Eduardo Milléo Baracat – Fonte: DJ, da CLT. Exigência de transcrição
e de porte dos EPI’s, desobedeceu às 15.02.2023). dos fundamentos em que se
regras de segurança da Reclamada identifica o prequestionamento
ao retirar os óculos de proteção, VERBAS DEVIDAS da matéria objeto de recurso
o que acabou ocasionando o de revista. Óbice estritamente
acidente que resultou na perda 685.052 Mesmo após a processual. 2. Indenização por
da visão do olho esquerdo. Uma decretação da falência da uso de equipamento próprio na
vez que não configurada a ação empresa é devida a atividade desempenhada em
ou omissão culposa ou dolosa atualização monetária do prol do empregador. Risco do
da empregadora, não há como auxílio-alimentação empreendimento. Art. 2º, “caput”,
caracterizar a sua responsabilidade da CLT. 3. Indenização por uso de
civil. Ademais, decisão em sentido Pedido de auxílio alimentação feito equipamento próprio. Valor da
diverso importaria em revolver por trabalhador aposentado com indenização. Efeito devolutivo
matéria fático-probatória, o que é base em norma coletiva firmada do recurso ordinário. Recurso
inviável nesta esfera recursal nos durante seu contrato de trabalho. mal aparelhado. 4. Salário “in
termos da Súmula 126 do TST. III. Competência da justiça do trabalho. natura”. Férias. Ausência de
Agravo de que se conhece e a que Na presente hipótese, o reclamante prequestionamento. Súmula 297/
se nega provimento, com aplicação postula o pagamento de auxílio TST. A utilização de equipamentos
da multa de 1% sobre o valor da alimentação diretamente contra próprios, pelo empregado, para
causa atualizado, em favor da a ex-empregadora, com base em o desempenho de atividades
parte Agravada ex-adversa, com normas coletivas firmadas durante relacionadas ao emprego atrai a
fundamento no art. 1.021, § 4º, do seu contrato de trabalho, sem que incidência da regra do art. 2º, caput,
CPC/2015. tenha feito qualquer pedido com da CLT, no sentido de que cabe
(TST – Agravo em Ag. de relação à complementação de sua ao empregador assumir os riscos
Instrumento em Rec. de Revista n. aposentadoria. O pedido inicial, da atividade econômica. Por essa
11419-05.2021.5.03.0056 – 4a. T. – Ac. assim, não decorre de contrato razão, o empregador deve indenizar
unânime – Rel.: Min. Alexandre Luiz de previdência complementar o trabalhador pelo desgaste de
Ramos – Fonte: DJ, 25.08.2023). privada, mas do extinto contrato seu patrimônio, sob pena de

192 REVISTA BONIJURIS I ANO 35 I EDIÇÃO 685 I DEZ23/JAN24


EMENTÁRIO TITULADO

enriquecimento ilícito, uma vez que a incidência da regra do art. médios com a manutenção,
os custos do trabalho, no âmbito da 2º, caput, da CLT, no sentido documentação e seguro’.
relação de emprego, são de inteira de que cabe ao empregador Outrossim, para que se
responsabilidade do empregador. assumir os riscos da atividade pudesse chegar, se fosse
Analogicamente, vale ressaltar econômica. Por essa razão, o o caso, a conclusão fática
o entendimento jurisprudencial empregador deve indenizar diversa, seria necessário o
desta Corte no sentido de que a o trabalhador pelo desgaste revolvimento do conteúdo
utilização do veículo próprio pelo de seu patrimônio, sob pena probatório constante dos
empregado, em prol da atividade de haver enriquecimento autos, propósito insuscetível
produtiva da empregadora, gera o ilícito, uma vez que os custos de ser alcançado nessa fase
dever de indenizar pelo desgaste do trabalho, no âmbito da processual, diante do óbice da
do patrimônio pessoal do Obreiro. relação de emprego, são de Súmula 126/TST. Assim sendo, a
Na hipótese, o TRT, sopesando inteira responsabilidade decisão agravada foi proferida
a prova produzida, mormente a do empregador. No caso em estrita observância às
prova testemunhal, concluiu que “o concreto, o Tribunal Regional normas processuais (art. 557,
obreiro logrou comprovar com êxito consignou que ‘a moto, no caput, do CPC/1973; arts. 14 e
que se utilizava de instrumentos presente caso, deve ser 932, IV, ‘a’, do CPC/2015), razão
pessoais nas atividades laborais, considerada como instrumento pela qual é insuscetível de
os quais equipavam o laboratório de trabalho, pois inerente à reforma ou reconsideração.
das rés e eram imprescindíveis função desempenhada pelo Agravo desprovido’ (Ag-
para a produção da fábrica de recorrente’ – premissa fática AIRR-1000889-84.2019.5.02.0067,
emulsão asfáltica” – premissa fática inconteste à luz da Súmula 126/ 3ª Turma, Relator Ministro
inconteste à luz da Súmula 126/ TST. Nesse passo, ao concluir Mauricio Godinho Delgado,
TST. Nesse contexto, comprovada a que ‘o pagamento de valor DEJT 05/11/2021).”
conduta irregular, o empregado há pela utilização da moto é
de ser indenizado pela utilização de plenamente justificável, uma
equipamentos pessoais em prol da vez que o reclamante não pode
atividade das Reclamadas. Julgados ser obrigado a, gratuitamente, ACIDENTE DE TRABALHO
desta Corte. Agravo de instrumento utilizar-se de seu veículo
desprovido. para atender às necessidades 685.054 Compete ao
(TST – Ag. de Instrumento do empregador, que deverá empregador a adoção e uso
em Rec. de Revista n. 812- assumir os riscos de seu das medidas coletivas e
10.2016.5.23.0004 – 3a. T. – Ac. próprio negócio, nos termos do individuais de proteção e
unânime – Rel.: Min. Maurício art. 2º, CLT’, a Corte de Origem segurança da saúde do
Godinho Delgado – Fonte: DJ, decidiu em consonância trabalhador
14.08.2023). com a jurisprudência desta
Corte. Incidência do óbice da Acidente de trabalho. Prescrição
Súmula 333/TST c/c o art. 896, da legislação trabalhista. Súmula
NOTA BONIJURIS: Nesse
§ 7º, da CLT. Quanto ao valor 8, TRT9. Tratando-se de pedido
sentido é o seguinte
da indenização, o Tribunal envolvendo danos morais e
julgado: “Agravo. Agravo de
Regional, atendendo aos fatos materiais decorrentes de acidente
Instrumento em Recurso de
e às circunstâncias constantes do trabalho ocorrido após o
Revista. Processo sob a égide da
dos autos, registrou que, ‘com advento da EC 45/2004, aplica-se
Lei n. 13.015/14 e anterior à Lei
base em gastos médios com a o prazo prescricional previsto na
n. 13.467/17. Indenização por uso
manutenção, documentação e legislação trabalhista (inciso XXIX
de veículo próprio na atividade
seguro, justo fixar em R$80,00 do art. 7º da CRFB/1988), qual seja,
desempenhada em prol do
(oitenta reais) mensais o valor 5 anos até o limite de 2 anos após a
empregador. Valor arbitrado.
a qual a ré deverá reembolsar extinção do contrato de trabalho.
Matéria fática. Súmula
o reclamante pela utilização Assim, considerando que a ação foi
126/TST. O entendimento
de sua moto particular (danos ajuizada em 15/03/2021 e o contrato
jurisprudencial desta Corte é
materiais)’. Não há falar em de trabalho foi encerrado em
de que a utilização do veículo
afronta ao art. 818 da CLT, 10/06/2020, não estão prescritas as
próprio, pelo empregado, para
porquanto, como explicitado verbas decorrentes do acidente de
o desempenho de atividades
no acórdão regional, o valor foi trabalho. Recurso conhecido e não
relacionadas ao emprego atrai
arbitrado ‘com base em gastos provido.

REVISTA BONIJURIS I ANO 35 I EDIÇÃO 685 I DEZ23/JAN24 193


TRIBUTÁRIO

(TRT-9a. Reg. – Rec. Ordinário NOTA BONIJURIS: A Agravo de Instrumento – Ação


n. 0000165-68.2021.5.09.0670 – 5a. Súmula 29 do TST dispõe Declaratória – ISS – Construção
T. Rec. – Ac. unânime – Rel.: Des. sobre o assunto: “Empregado Civil – Município de São Paulo
Luiz Eduardo Gunther – Fonte: DJ, transferido, por ato unilateral – Lançamento complementar
09.06.2023). do empregador, para local mais baseado em pauta fiscal – Decisão
distante de sua residência, tem agravada de indeferimento da
LOCAL DE TRABALHO direito a suplemento salarial tutela antecipada de suspensão
correspondente ao acréscimo da exigibilidade do débito –
685.055 Empregado cujo local da despesa de transporte.” Insurgência da contribuinte
de trabalho for alterado – Acolhimento – O ISS tem
unilateralmente deve como base de cálculo o preço do
receber suplemento salarial TRABALHADOR INAPTO serviço, conforme artigo 7º da LC
116/03 – Desconsideração do valor
Alteração do local de trabalho por 685.056 É inválida a dispensa declarado pelo contribuinte que
decisão unilateral do empregador. de empregado declarado somente pode ocorrer após regular
Local distante da residência do inapto no atestado de saúde, processo administrativo em que
trabalhador. Utilização de veículo sem encaminhamento ao indicadas as razões pelas quais
particular para deslocamento INSS os documentos apresentados não
ao trabalho. Despesas com mereçam fé, nos termos do artigo
combustível, desgaste e depreciação Trabalhador inapto para o trabalho. 148 do CTN – Previsão de preços
do veículo. Indenização devida. Dispensa. Nulidade. A dispensa mínimos de serviço pelo Fisco que
Evidenciado nos autos que a efetivada de trabalhador declarado pode ter caráter apenas referencial,
alteração do local de trabalho do inapto no atestado de saúde não podendo ser utilizado como
empregado ocorreu por decisão ocupacional demissional é nula. valor mínimo para recolhimento
unilateral do empregador, no Cabe ao empregador, ao tomar do tributo, com presunção de
interesse deste, e implicou ciência da condição do trabalhador, ilegalidade de qualquer serviço
necessidade de o trabalhador encaminhá-lo para tratamento de valor inferior ao fixado
utilizar veículo particular para se de saúde junto ao INSS, com a previamente – Entender como ilegal
deslocar até o trabalho e retornar consequente suspensão do contrato qualquer serviço de valor inferior
a sua residência, fica o empregador de trabalho. Recurso da parte autora ao pré-fixado viola as dinâmicas
obrigado a custear as despesas que se dá provimento. próprias do mercado sob regime
com transporte. A necessidade (TRT-9a. Reg. – Rec. Ordinário concorrencial, na qual há flutuação
de o trabalhador se deslocar até n. 0000161-30.2022.5.09.0659 – 5a. de preços e negociação entre as
local distante de sua residência, T. Rec. – Ac. unânime – Rel.: Juíza partes do contrato – Caso concreto,
em município diverso, com trajeto Rosiris Rodrigues de Almeida em que, ao menos nesta análise
não servido por transporte público Amado Ribeiro – conv. – Fonte: DJ, preliminar, é possível afirmar que
nem por linha de transporte direto 04.07.2023). o Município realizou lançamento
entre os municípios justifica a complementar em contrariedade
utilização de veículo particular para aos ditames do art. 148 do CTN, não
deslocamento ao trabalho, quando o demonstrando qualquer ilegalidade
empregador não fornece alternativa na documentação apresentada
de transporte. Ressarcimento pela contribuinte, tampouco
de despesas com combustível, instaurando com regularidade
manutenção e depreciação do processo administrativo de
veículo que se defere. Recurso arbitramento – Decisão agravada,
ordinário do autor a que se dá
provimento para condenar à ré
TRIBUTÁRIO portanto, reformada, com
concessão da medida de urgência
ao ressarcimento das despesas requerida, para suspender a
de transporte decorrentes da EXIGIBILIDADE DE DÉBITO FISCAL exigibilidade do débito fiscal –
transferência de local de trabalho. Recurso Provido.
(TRT-9a. Reg. – Rec. Ordinário 685.057 Desconsideração do (TJSP – Ag. de Instrumento n.
n. 0000940-43.2021.5.09.0069 – 4a. valor declarado pelo 2189964-75.2023.8.26.0000 – 15a. Câm.
T. Rec. – Ac. unânime – Rel.: Desa. contribuinte somente pode Dir. Públ. – Ac. unânime – Rel.: Desa.
Marlene Teresinha Fuverki ocorrer após regulação de Tania Mara Ahualli – Fonte: DJ,
Suguimatsu – Fonte: DJ, 08.03.2023). processo administrativo 13.09.2023).

194 REVISTA BONIJURIS I ANO 35 I EDIÇÃO 685 I DEZ23/JAN24


TRIBUTÁRIO

CITAÇÃO RECEBIDA POR TERCEIRO de que, em regra, o Secretário de mandado de segurança, contém
Estado não possui legitimidade os mesmos requisitos da apelação,
685.058 Na execução fiscal, a para figurar no polo passivo de aplicando-se-lhe a disciplina própria
citação pelo correio no Mandado de Segurança em que se desta última. Assim, não se exige,
endereço do executado, discute incidência de tributos. 2. para a interposição do recurso
mesmo por terceiro, é válida, Não se desconhece o entendimento ordinário, prequestionamento nem
especialmente se firmado pelo STF em Repercussão qualquer outro requisito próprio dos
corresponder ao cadastro da Geral no RE 1.287.019DF, Tema 1.093, recursos extraordinário e especial.”
Fazenda Pública no sentido de que “A cobrança do (CUNHA, Leonardo Carneiro. A
diferencial de alíquota alusivo Fazenda Pública em Juízo. 14ª Ed.
Execução fiscal – Citação com ao ICMS, conforme introduzido Rio de Janeiro: Forense, 2017, p.
aviso de recebimento – Entrega no pela Emenda Constitucional nº 591). 5. Por fim, a recorrente aponta
endereço que consta no cadastro 87/2015, pressupõe edição de lei que não foi previamente intimada
tributário – Recepção por terceiro – complementar veiculando normas para se manifestar sobre a matéria.
Validade. Na execução fiscal é válida gerais”. 3. Contudo, no julgamento da Sobre o princípio da vedação de
a citação pelo correio recebida (ainda Repercussão Geral sobredita, salvo decisão surpresa, a jurisprudência
que por terceiro) no endereço do melhor juízo, o Supremo Tribunal do STJ é de que: i) “nos termos da
executado, tanto mais se esse é o Federal não se manifestou sobre jurisprudência do STJ, não cabe
local descrito no cadastro da Fazenda a questão relativa à legitimidade alegar surpresa se o resultado
Pública. Recurso desprovido. passiva do Secretário de Fazenda da lide encontra-se previsto
(TJSC – Ag. de Instrumento n. Estadual, de modo que não é objetivamente no ordenamento
5046885-41.2023.8.24.0000/SC – 5a. possível, na hipótese dos autos, disciplinador do instrumento
Câm. Dir. Públ. – Ac. unânime – Rel.: suplantar o referido óbice para processual utilizado e insere-se no
Des. Hélio do Valle Pereira – Fonte: adentrar no mérito da demanda âmbito do desdobramento causal,
DJ, 29.08.2023). ou, ainda, determinar a emenda da possível e natural, da controvérsia”
petição inicial para que seja indicada (REsp 1.823.551/AM, Rel. Ministro
DIFERENCIAL DE ALÍQUOTA a correta autoridade coatora, Herman Benjamin, Segunda Turma,
visto que tal indicação implicaria DJe 11/10/2019), e ii) “não há que
685.059 Cobrança do a alteração da competência se falar em violação à vedação
diferencial de alíquota jurisdicional para processamento da decisão surpresa quando o
alusivo ao ICMS pressupõe da impetração, saindo da julgador, examinando os fatos
edição de lei complementar competência originária do Tribunal expostos na inicial, juntamente
veiculando normas gerais de Justiça para o primeiro grau de com o pedido e a causa de pedir,
jurisdição, o que não se coaduna aplica o entendimento jurídico que
Processual civil e tributário. com a orientação desta Corte. A considerada coerente para a causa”
Mandado de segurança. ICMS. propósito: AgInt no RMS 63.558/ (AgInt nos EDcl no REsp 1.864.731/SC,
Cobrança de diferencial. MA, Rel. Ministro Francisco Falcão, Rel. Ministro Luis Felipe Salomão,
Ilegitimidade passiva do secretário Segunda Turma, DJe de 31.5.2021; Quarta Turma, DJe 26.4.2021). 6.
de estado. Impossibilidade de RMS 68.112/MA, Rel. Ministro Não há como se presumir prejuízo
emenda da inicial para alteração da Mauro Campbell Marques, Segunda à recorrente, de modo que o
autoridade apontada como coatora. Turma, DJe de 27.9.2022; AgInt no reconhecimento de vício que enseja
Modificação da competência. RMS 35.432/RJ, Rel. Ministro Og a anulação de decisão processual
Precedentes. Ausência da exigência Fernandes, Segunda Turma, DJe exige a efetiva demonstração de
de prequestionamento em recurso 19.11.2020; e EDcl no RMS 67.101/RJ, prejuízo por parte do recorrente (pas
em mandado de segurança. Recurso Rel. Ministra Assusete Magalhães, de nullité sans grief). No caso dos
não provido. 1. O Mandado de Segunda Turma, DJe 16.12.2021. 4. autos, a agravante não demonstra
Segurança foi impetrado contra ato Não prospera a alegação de que a imprecisão da decisão recorrida
atribuído ao Secretário da Fazenda não houve prequestionamento relativamente à ilegitimidade
do Estado da Bahia objetivando em relação à matéria referente à passiva do Secretário de Fazenda
afastar a cobrança de diferencial de ilegitimidade passiva do Secretário Estadual, de modo que não há que se
alíquota de ICMS (DIFAL) nas vendas de Fazenda Estadual. Isso porque declarar a nulidade. Nesse sentido:
para pessoas físicas e jurídicas não “o recurso ordinário, interposto REsp 1.816.332/PA, Rel. Ministro
contribuintes do ICMS. Entretanto, a na forma dos §§ 2ºe 3º art. 1.028 do Herman Benjamin, Segunda Turma,
jurisprudência do Superior Tribunal CPC para o STF ou STJ, quando DJe de 13.9.2019. 7. Agravo Interno
de Justiça firmou-se no sentido denegatória a decisão proferida em não provido.

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EMENTÁRIO TITULADO

(STJ – Ag. Interno nos Embs. comerciais em mezanino do


de Decl. no Rec. em Mand. de condomínio edilício (Edifício Office
Segurança n. 70.168/BA – 2a. T. Cív. Tower Vila Mariana) – Mezanino
– Ac. unânime – Rel.: Min. Herman que foi edificado posteriormente
Benjamin – Fonte: DJ, 04.04.2023). ao habite-se do prédio e, até o
momento, não foi regularizado,
com conversão do espaço em área
Ótimo
para ler.
NOTA BONIJURIS: O Tema
1.093 do STF versa sobre a privativa – Elementos trazidos pela
Municipalidade no sentido de que,
necessidade de edição de
lei complementar visando todavia, o aumento do valor venal do Excelente
a cobrança da Diferença de IPTU das unidades do condomínio,
decorreu apenas da majoração do
para
Alíquotas do ICMS – DIFAL
nas operações interestaduais valor do metro quadrado da área anunciar.
envolvendo consumidores comum que, diante da construção do
mezanino, sofreu um acréscimo à luz NOSSOS LEITORES
finais não contribuintes
da legislação aplicável – Aumento QUEREM CONHECER
do imposto, nos termos da
da área construída das unidades SUA EMPRESA.
Emenda Constitucional 87/2015.
dos contribuintes que, ademais, Circulação
respeitou a proporcionalidade com a impressa
fração ideal sobre a área comum de de 2ª a 6ª.
LEGITIMIDADE ATIVA cada um deles, o que se mostra lícito
685.060 Contribuinte do – Legislação municipal, ainda, que
imposto é o proprietário do prevê a possibilidade de cobrança do
imóvel, o titular do seu IPTU sobre construção irregular, já
domínio útil, ou o seu que questões administrativas nem
possuidor a qualquer título sempre devem repercutir na esfera
tributária – Sentença reformada
Apelação cível – Ação de Obrigação apenas para afastar a extinção
de Fazer C.C. Repetição do Indébito parcial do feito por ilegitimidade
– Município de São Paulo – IPTU ativa, ficando mantida quanto à
– Exercícios de 2009 em diante improcedência do pedido inicial –
– Condomínio edilício comercial Recurso provido em parte.
– Sentença de extinção parcial do (TJSP – Ap. Cível n. 1009779-
feito, em razão da ilegitimidade 31.2022.8.26.0053 – 15a. Câm.
ativa de dois dos autores, e de Dir. Públ. – Ac. unânime – Rel.:
improcedência do pedido quanto Desa. Tânia Ahualli – Fonte: DJ,
aos demais – Insurgência dos 13.09.2023).
contribuintes – Acolhimento
em parte – Ilegitimidade ativa – RESPONSABILIDADE TRIBUTÁRIA
Afastamento – Coautores cuja
ilegitimidade foi reconhecida 685.061 São solidariamente
em primeiro grau, que são responsáveis pela obrigação
compromissários compradores tributária as pessoas
do conjunto comercial, razão pela expressamente designadas
qual, nos termos do art. 34 do por lei
CTN, são legitimados a discutir o
IPTU incidente sobre a unidade, Processo civil, constitucional e
Acesse o QR Code e
na qualidade de “possuidores direito tributário. Inexistência confira nosso midia kit
a qualquer título” – Extinção de lei complementar federal. com várias informações,
afastada – mérito – Alegação dos Imposto de transmissão inter formatos e valores.
contribuintes de que sofreram vivos de bens imóveis e de direitos.
indevido aumento da área privativa Responsabilidade tributária solidária (41) 3333-9800
das suas unidades no cálculo da incorporadora (transmitente)
diarioinduscom.com.br
do IPTU devido, em razão da por força de lei distrital. Esfera
construção irregular de 8 salas de competência (suplementar)

REVISTA BONIJURIS I ANO 35 I EDIÇÃO 685 I DEZ23/JAN24 197


TRIBUTÁRIO

permitida pela Constituição Federal. Primeira Seção do Superior Tribunal setor privado, de sorte que, estando
Legitimidade da cobrança do tributo de Justiça, ao apreciar o Recurso a CDHU inserida nesta condição,
(ITBI). Recurso desprovido. I. É Especial 1.111.124/PR, sob a sistemática a sua natureza jurídica denuncia
plena a competência supletiva do prevista no art. 543-C do CPC/1973 a sua condição de contribuinte,
Distrito Federal para legislar sobre (Tema 248), consolidou a orientação não podendo se utilizar da
direito tributário ante a ausência de que o envio do carnê do IPTU e imunidade sob o argumento de
de normas gerais editadas pela de taxas municipais ao endereço do ter a sua atividade vinculada ao
União (Constituição Federal, art. 24, contribuinte configura presunção de Estado. 3) Ilegitimidade passiva –
inciso I, § 3º c/c art. 32, § 1º). II. São notificação regular do lançamento Compromisso de venda e compra
solidariamente responsáveis pela do tributo, motivo pelo qual cabe ao do imóvel não registrado – Alegação
obrigação tributária as pessoas sujeito passivo o ônus de comprovar de ilegitimidade passiva ad causam
expressamente designadas por que não recebeu, mediante serviço do promitente vendedor afastada
lei (Código Tributário Nacional, postal, o carnê da cobrança. 2. O – Possibilidade de manutenção
artigo 124, II). III. Por força da Lei Tribunal de origem reconheceu que no polo passivo da ação daquele
Distrital 3.830, de 14 de março de tinha havido a remessa da guia de cujo nome ainda ostenta, no
2006, que estatui a responsabilidade cobrança da Taxa de Fiscalização Cartório de Registro de Imóveis, a
tributária solidária do transmitente de Engenhos de Publicidade – TFEP condição de proprietário do imóvel
(no caso concreto, incorporadora), pelo ente municipal. Entendimento quando do lançamento do tributo
não subsiste a alegada diverso, conforme pretendido, – Precedentes do STJ – Decisão
inconstitucionalidade formal da implicaria o reexame do contexto mantida – Recurso improvido.
cobrança do ITBI. IV. Apelação fático-probatório dos autos, (TJSP – Ag. de Instrumento n.
em denegatória de mandado de circunstância que redundaria na 2210962-64.2023.8.26.0000 – 15a.
segurança conhecida e, no mérito, formação de novo juízo acerca dos Câm. Dir. Públ. – Ac. unânime –
desprovida. fatos e provas, e não na valoração Rel.: Des. Eutálio Porto – Fonte: DJ,
(TJDFT – Ap. Cível n. dos critérios jurídicos concernentes 19.09.2023).
07181058920228070018 – 2a T. Cív. – à utilização da prova e à formação
Ac. unânime – Rel.: Des. Fernando da convicção, o que impede o INSTITUIÇÃO DE IMPOSTO
Antonio Tavernard – Fonte: DJ, conhecimento do recurso especial
19.09.2023). quanto ao ponto. Sendo assim, incide 685.064 Adota-se a alíquota
no presente caso a Súmula 7 do interestadual quando o
NOTA BONIJURIS: A Lei STJ, segundo a qual “a pretensão de destinatário localizado em
Distrital 3.830/06 dispõe sobre simples reexame de prova não enseja outro estado for
o Imposto de Transmissão Inter recurso especial”. 3. Agravo interno a contribuinte do imposto
Vivos de bens imóveis e de que se nega provimento. destinado a bens e serviços
direitos a eles relativos. (STJ – Ag. Interno nos Embs.
de Decl. no Ag. em Rec. Especial Apelação cível. Direito tributário.
n. 1.532.450/MG – 1a. T. Cív. – Ac. ICMS. Diferencial de alíquota
unânime – Rel.: Min. Paulo Sérgio em operações interestaduais
LANÇAMENTO DE TRIBUTO
Domingues – Fonte: DJ, 22.06.2023). com bens e serviços destinados
685.062 Cabe ao sujeito a empresa domiciliada neste
passivo comprovar o não IMUNIDADE TRIBUTÁRIA estado, contribuinte do ISS.
recebimento, mediante Suposto locupletamento para
serviço postal, do carnê da 685.063 Empresas públicas e aproveitamento de alíquota
cobrança sociedades mistas não gozam interestadual menos onerosa,
de privilégios fiscais considerada a disciplina do 155,
Tributário. Agravo interno. Agravo §2º, VII e VIII, da constituição.
em recurso especial. Embargos Agravo de instrumento – Execução Circunstância que, hipoteticamente
à execução fiscal estadual. Taxa fiscal – IPTU dos exercícios de considerada, não tornaria exigível
de fiscalização de engenhos de 2017 a 2020 – Exceção de pré- a alíquota diferencial em face da
publicidade – TFEP. Lançamento executividade rejeitada. 1) Pedido destinatária. Precedentes do STF.
de ofício mediante o envio de carnê. de suspensão do feito indeferido. Apelação conhecida e desprovida.
Ônus da prova do contribuinte. 2) Imunidade tributária – Não (TJAL – Ap. Cível n. 0034734-
Necessidade de revolvimento de gozam as empresas públicas e as 31.2009.8.02.0001 – 1a. Câm. Cív. – Ac.
matéria fático-probatória. Súmula sociedades de economia mista de unânime – Rel.: Des. Tutmés Airan
7/STJ. Provimento negado. 1. A privilégios fiscais não extensivos ao – Fonte: DJ, 19.09.2023). 

198 REVISTA BONIJURIS I ANO 35 I EDIÇÃO 685 I DEZ23/JAN24


ACÓRDÃOS EM DESTAQUE

do km 132, Município de Brotas, no dia


08/11/2021 (fls. 1/10).
Administrativo 2 – Configura-se a responsabilidade
civil objetiva do Estado pela existência
de nexo de causalidade entre a condu-
RISCO ADMINISTRATIVO ta estatal e o dano. Presentes estes três
elementos, de rigor a indenização, sen-
do prescindível a análise da culpa.
685.201RESPONSABILIDADE OBJETIVA DO ESTADO Este raciocínio encontra substrato

APLICADA A ACIDENTE DE TRÂNSITO CAUSADO POR na Carta Política, cujo artigo 37, § 6º, é
explícito: As pessoas jurídicas de direi-

RESSOLAGEM DE PNEU to público e as de direito privado pres-


tadoras de serviços públicos respon-
derão pelos danos que seus agentes,
Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo nessa qualidade, causarem a terceiros,
Apelação Cível n. 1000380-64.2022.8.26.0283 assegurado o direito de regresso con-
Órgão julgador: 5a. Câmara tra o responsável nos casos de dolo ou
Fonte: DJ, 25.10.2023 culpa.
Relator: Desembargador Fermino Magnani Filho Pela teoria do risco administrativo,
a obrigação de indenizar advém do
mero ato lesivo e injusto dispensado à
EMENTA vítima. Conforme leciona José dos San-
Ação regressiva – Pedido de reembolso de indenização securitária tos Carvalho Filho que a marca caracte-
por acidente de trânsito – Colisão de veículo com ressolagem de rística da responsabilidade objetiva é a
desnecessidade de o lesado pela condu-
pneu deixado em rodovia – Aplicação do artigo 37, § 6º, da Consti-
ta estatal provar a existência da culpa
tuição Federal – Acidente comprovado – Ausência de prova sobre do agente ou do serviço. [...] Para confi-
excludente de responsabilidade – Ação julgada improcedente – gurar-se esse tipo de responsabilidade,
Apelação da seguradora provida. bastam três pressupostos. O primeiro
deles é a ocorrência do fato adminis-
trativo, assim considerado como qual-
ACÓRDÃO que julgou improcedente ação regres- quer forma de conduta, comissiva ou
Vistos, relatados e discutidos estes siva ajuizada em face da empresa Eixo omissiva, legítima ou ilegítima, singu-
autos de Apelação Cível nº 1000380- SP Concessionária de Rodovias S/A, lar ou coletiva, atribuída ao Poder Pú-
64.2022.8.26.0283, da Comarca de Iti- com pedido de reembolso de indeni- blico. Ainda que o agente estatal atue
rapina, em que é apelante ALLIANZ zação securitária paga a segurado por fora de suas funções, mas a pretexto de
SEGUROS S/A., é apelado EIXO SP acidente de trânsito colisão de veículo as exercê-las, o fato é tido como admi-
CONCESSIONÁRIA DE RODOVIAS com ressolagem de pneu deixado sobre nistrativo, no mínimo pela má escolha
S.A. ACORDAM, em sessão permanente o leito de rodovia. do agente (culpa in elegendo) ou pela
e virtual da 5ª Câmara de Direito Públi- Recurso fundado, em síntese, nes- má fiscalização de sua conduta (culpa
co do Tribunal de Justiça de São Paulo, tas teses: a) prova do evento danoso; in vigilando). O segundo pressuposto
proferir a seguinte decisão: Deram pro- b) responsabilidade objetiva; c) majo- é o dano. [...] Não importa a natureza
vimento ao recurso. ração injustificada da verba honorária do dano: tanto é indenizável o dano
V. U., de conformidade com o voto (fls. 304/319 e 326/333). patrimonial como o dano moral. [...]
do relator, que integra este acórdão. Apelo respondido (fls. 337/345). O último pressuposto é o nexo causal
O julgamento teve a participação É o relatório. (ou relação de causalidade) entre o fato
dos Desembargadores MARIA LAU- administrativo e o dano. Significa dizer
RA TAVARES (Presidente sem voto), VOTO que ao lesado cabe apenas demonstrar
FRANCISCO BIANCO E NOGUEIRA 1 – Allianz Seguros S/A acionou a Eixo que o prejuízo sofrido se originou da
DIEFENTHALER. São Paulo, 25 de ou- SP Concessionária de Rodovias S/A, conduta estatal, sem qualquer conside-
tubro de 2023. objetivando o reembolso do valor de ração sobre o dolo ou a culpa (Manual
R$2.779,02 pago ao segurado C. G. S. por de Direito Administrativo, 23ª edição,
RELATÓRIO danos causados ao veículo Honda Fit, página 605, Editora Lumen Juris, 2010).
Apelação tempestiva interposta por placas EDP 9580, em decorrência de Conclui-se que não será possível es-
Allianz Seguros S/A contra r. sentença acidente por choque com objeto (res- tender às cegas o risco integral que se
do digno Juízo da Comarca de Itirapi- solagem de pneu) deixado na faixa de extrai da responsabilidade objetiva do
na (fls. 293/296, integrada a fls. 322/323), rolamento da Rodovia SP 225, altura Estado, na medida em que tal raciocí-

200 REVISTA BONIJURIS I ANO 35 I EDIÇÃO 685 I DEZ23/JAN24


ACÓRDÃOS EM DESTAQUE

nio inexoravelmente o transformaria pa exclusiva da vítima por imperícia,


em segurador universal, responsabili- excesso de velocidade ou embriaguez
zando-o por todas as mazelas que aco- ao volante, nem tampouco a ocorrência
metêssemos cidadãos, mesmo aqueles de caso fortuito ou força maior, hipóte-
decorrentes de sua própria conduta. ses capazes de ilidir o nexo de causali- Indexador da
Segundo entendimento doutriná-
rio, é mister acentuar que a responsa-
dade entre a conduta administrativa e
o infortúnio (fls. 91). Constituição
bilidade por “falta de serviço”, falha do Por outro lado, rejeito o relatório de
serviço ou culpa do serviço (‘faute du vistoria da requerida, vez que de cunho L. F. Queiroz
service’, seja qual for a tradução que se unilateral e insuficiente para atestar
lhe dê) não é, de modo algum, modali- a devida prestação do serviço público
dade de responsabilidade objetiva, ao (fls. 107 e 249/253).
contrário do que entre nós e alhures, às O prejuízo material está demons-
vezes, tem-se inadvertidamente supos- trado e é devido à seguradora por força
to. É responsabilidade subjetiva porque de sub-rogação, consoante Súmula nº
baseada em culpa (ou dolo), como sem- 188 do Supremo Tribunal Federal (fls. 6,
pre advertiu o Prof. Oswaldo Aranha 32/34 e 265/266).
Bandeira de Mello. Com efeito, para sua Descumpre o ente público, ou seu
deflagração não basta a mera objetivi- assemelhado, no caso de concessioná-
dade de um dano relacionado com um ria de serviço público, às escâncaras, o
serviço estatal. Cumpre que exista algo dever de manutenção das vias em boas
mais, ou seja, culpa (ou dolo), elemento condições de uso. Omissão que revela a
tipificador da responsabilidade subje- negligência quanto à conservação.
tiva (Celso Antonio Bandeira de Mello Obtempera Yussef Said Cahali,
– Curso de Direito Administrativo, 29ª nesta toada, que a conservação e fis-
edição, página 1.020, Malheiros, 2012). calização das ruas, estradas, rodovias
E prossegue: se o Estado, devendo e logradouros públicos inserem-se no A obra conta com 540
agir, por imposição legal, não agiu ou âmbito dos deveres jurídicos da Ad-
o fez deficientemente, comportando- ministração razoavelmente exigíveis,
tópicos, ordenados
-se abaixo dos padrões legais que nor- cumprindo-lhe proporcionar as neces- em ordem alfabética,
malmente deveriam caracterizá-lo, sárias condições de segurança e inco- TXHUHŞHWHPRV
responde por esta incúria, negligência lumidade às pessoas e aos veículos que temas abordados pela
ou deficiência, que traduzem um ilícito transitam pelas mesmas. A omissão
ensejador do dano não evitado quando, no cumprimento desse dever jurídico,
Constituição procurando
de direito, devia sê-lo (obra supra, 27ª quando razoavelmente exigível e iden- seguir a linguagem
edição, página 1.014, Malheiros, 2010). tificada como causa do evento danoso utilizada pelo legislador.
Com efeito, tratando-se de respon- sofrido pelo particular, induz, em prin- Cada enunciado transmite
sabilidade subjetiva, ao Estado incum- cípio, a responsabilidade indenizatória
be o ônus probatório, vez que nos casos do Estado (Responsabilidade Civil do
uma informação completa
de ‘falta de serviço’ é de admitir-se uma Estado, 3ª edição, página 230, Revista sobre o assunto, auxiliando
presunção de culpa do Poder Público, dos Tribunais, 2007). a compreensão do texto
sem o quê o administrado ficaria em 4 – Consumada que está a condena- constitucional.
posição extremamente frágil ou até ção, segue-se o debate sobre os consec-
mesmo desprotegido ante a dificulda- tários legais.
de ou até mesmo impossibilidade de Inaplicável a Lei Federal nº
demonstrar que o serviço não se de- 11.960/2009, bem como os Tema nº 810 Compre através
sempenhou como deveria (obra supra, do Supremo Tribunal Federal e Tema do QR Code
página 1.015). nº 905 do Superior Tribunal de Justiça
3 – O acidente incontroverso, carac- diante da natureza jurídica da ré, pes-
terizado por colisão do veículo segura- soa jurídica de direito privado.
do com a ressolagem de pneu conforme Dessa forma, a correção monetária
descrito no Registro de Ocorrência de seguirá a Tabela Prática deste Tribunal
Trânsito, que traz a fotografia do objeto Paulista e os juros de mora serão de 1 %
(fls. 82/91). ao mês nos termos dos artigos 406 do
Saliento que a concessionária não Código Civil. livrariabonijuris.com.br
provou nenhuma excludente de res- Por meu voto, dou provimento à
ponsabilidade, como por exemplo cul- apelação da autora para o fim de jul-

REVISTA BONIJURIS I ANO 35 I EDIÇÃO 685 I DEZ23/JAN24 201


CIVIL

gar procedente a ação. Em consequên- SEGUROS S/A., é apelado EIXO SP


cia custas, despesas processuais e ver- CONCESSIONÁRIA DE RODOVIAS o ressarcimento do preço
ba honorária pela parte sucumbente. S.A. ACORDAM, em sessão permanente pago, nos moldes da senten-
Sobre os honorários advocatícios, já e virtual da 5ª Câmara de Direito Públi-
ça. II. De outra giro, mostra-
ponderados os critérios estipulados co do Tribunal de Justiça de São Paulo,
no artigo 85, §§ 2º e 4º, do Código de proferir a seguinte decisão: Deram pro-
-se insubsistente a reparação
Processo Civil, razoável a sua fixação vimento ao recurso. por danos extrapatrimoniais,
em 10% sobre o valor final da conde- V. U., de conformidade com o voto por não resultar concreta-
nação. do relator, que integra este acórdão. mente afetada a integridade
O julgamento teve a participação
moral dos direitos gerais de
DECISÃO dos Desembargadores MARIA LAU-
personalidade (Código Ci-
Vistos, relatados e discutidos estes RA TAVARES (Presidente sem voto),
autos de Apelação Cível nº 1000380- FRANCISCO BIANCO E NOGUEIRA vil, artigos 12 e 186). III. Além
64.2022.8.26.0283, da Comarca de Iti- DIEFENTHALER. São Paulo, 25 de ou- disso, não se mostra razoável
rapina, em que é apelante ALLIANZ tubro de 2023.  invocar a “Teoria do Desvio
do Tempo Produtivo” a esse
propósito, uma vez não de-
Civil monstrada a utilização de
outros meios à resolução
do imbróglio, para além do
CONSUMO único registro no site “Recla-
me Aqui”, realizado cerca de
685.202 CONSUMIDOR QUE ADQUIRIU TÊNIS quatro meses após a compra
e por pessoa que teria sido
FALSIFICADO EM PLATAFORMA DE VENDAS É presenteada com a mercado-
RESSARCIDO DO PREÇO PAGO, MAS NÃO RECEBE ria. IV. No ponto, reformada
a sentença tão somente para
INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS exclusão da condenação a
esse título. V. No mais, man-
Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios tida a fixação dos honorários
Apelação Cível n. 0709348-16.2020.8.07.0006 por apreciação equitativa
Órgão julgador: 2a. Turma Cível (Código de Processo Civil, art.
Fonte: DJ, 25.10.2023
Relator: Desembargador Fernando Antônio Tavernard Lima
85, § 8°), tendo em vista que o
valor da condenação, após a
exclusão do dano extrapatri-
EMENTA
monial, se revela ínfimo. VI.
Apelação cível. Civil e consumidor. Aquisição de tênis falsificado
Recurso conhecido e parcial-
por meio de plataforma de vendas. Vício. do produto. Responsabi-
mente provido.
lidade da intermediadora. Impositiva a restituição do preço pago.
No entanto, não violados os atributos da personalidade, nem
comprovado desvio considerável de tempo produtivo para funda- ACÓRDÃO
Acordam os Senhores Desembargado-
mentar o descaso da empresa. Danos extrapatrimoniais não con-
res do(a) 2ª Turma Cível do Tribunal
figurados (no ponto, sentença reformada). No mais, justa a fixação de Justiça do Distrito Federal e dos
dos honorários advocatícios, por apreciação equitativa, em razão Territórios, FERNANDO ANTONIO
do valor da condenação se revelar irrisório. Apelação conhecida TAVERNARD LIMA – Relator, LEONOR
e parcialmente provida. I. Comprovado, por meio de perícia, que AGUENA – 1º Vogal e RENATO RO-
DOVALHO SCUSSEL – 2º Vogal, sob a
o produto comercializado no sítio eletrônico gerido pelas “Lojas
Presidência do Senhor Desembargador
Americanas S.A.” se trata de réplica e não de mercadoria original JOAO EGMONT, em proferir a seguinte
de fábrica, resulta caracterizado o vício do produto, impróprio decisão: conhecido. Parcialmente pro-
para uso regular (Lei 8.078/1990, art. 18 e § 6º, inc. II), a fundamentar vido. Unânime., de acordo com a ata do
julgamento e notas taquigráficas.

202 REVISTA BONIJURIS I ANO 35 I EDIÇÃO 685 I DEZ23/JAN24


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CIVIL

Brasília (DF), 20 de Outubro de 2023 As questões preliminares foram mês a partir do evento lesivo (Súmula
Desembargador FERNANDO AN- endereçadas pela decisão saneado- 54/STJ).
TONIO TAVERNARD LIMA ra ao ID 112743075, de modo que, sem Em razão da sucumbência da ré
Relator outros vícios processuais ou requeri- e em nome do princípio da causali-
mentos, passo ao julgamento do pro- dade, condeno a parte requerida ao
RELATÓRIO cesso. pagamento de custas e honorários
Valho-me, por economia e celeridade O feito encontra-se apto a receber advocatícios. Esses, nos termos do art.
processuais, do bem lançado relatório sentença, uma vez que os elementos 85, § 8º, do CPC, e dos parâmetros do
produzido na sentença, ora revista, por de convicção já acostados aos autos RECURSO ESPECIAL nº 1.819.403 – DF
descrever com boa-fé processual e pre- são suficientes à compreensão da pre- (2019/0164761-5), de relatoria da Minis-
cisão os relevantes fatos jurídicos do tensão e ao desate da controvérsia ins- tra Nancy Andrighi, fixo em R$ 2.000,00
caso concreto. taurada, sendo inexistentes questões (dois mil reais).
In verbis: processuais, prejudiciais ou prelimi- Resolvo o mérito nos termos do art.
Cuida-se de ação proposta por G. nares ao mérito, pendentes de aprecia- 487, I, do CPC. Embargos de Declaração
G. de Oliveira da Silva em desfavor ção. No mais, o Juiz, como destinatário parcialmente acolhidos para autorizar
de LOJAS AMERICANAS S.A. O feito final da prova, consoante disposição “que a empresa requerida providencie
foi relatado ao ID 112743075, decisão do art. 370 do CPC, fica incumbido de a coleta do produto às suas expen-
saneadora, de onde copio o relatório: indeferir as provas inúteis ou prote- sas, isto é, não onerando o autor” (ID
“[...] o autor alega tem adquirido tênis latórias. A sua efetiva realização não 49406987).
na plataforma on-line de vendas da re- configura cerceamento de defesa, não Argumenta a apelante, em síntese,
querida, que ulteriormente revelou-se sendo faculdade do Magistrado, e sim que: a) “os fatos narrados na exordial,
uma réplica. Sem conseguir resolver o dever [STJ – REsp 2.832-RJ rel. Min. Sál- por si só não são capazes de gerar
problema extrajudicialmente, ingres- vio de Figueiredo Teixeira]. Trata-se de ofensa à honra, à dignidade, mas, tão
sou em juízo. Requer a repetição do somente inconvenientes, contrarieda-
valor dispendido e a condenação da
Importante reprisar que des, sofridas”; b) “o valor arbitrado em
requerida em danos morais. Custas re- sentença como pagamento dos danos
colhidas. A contestação de ID 75997124 o dano extrapatrimonial morais, bem como os honorários ad-
foi apresentada em nome das LOJAS exige relevante afetação vocatícios fixados (R$ 2.000,00) são de-
AMERICANAS S.A. Não há que se falar masiadamente elevados ante os fatos
em alteração do polo passivo por ra-
aos direitos gerais alegados nos autos”.
zões que adiante se expõem. A procu- da personalidade Por isso, pede a reforma da senten-
ração de ID 75997127 confere poderes
(CC,barts. 12 e 186) ça para o “afastamento da condenação
ao causídico. do pagamento de indenização por da-
No mais, agitou ilegitimidade pas- nos morais” ou a minoração do valor
siva à causa e ausência de interesse um comando normativo cogente que arbitrado.
pela não tentativa prévia de resolução se coaduna com o princípio da celeri- Requer, ainda, “que os honorários
do conflito. No mérito, pede afasta- dade e prestigia a efetividade da pres- advocatícios sejam fixados sob o valor
mento dos danos morais e materiais, tação jurisdicional. da condenação”.
da alegação de propaganda enganosa Interposta apelação por LOJAS Lado outro, o apelado se contrapõe
e discorre sobre o business da reque- AMERICANAS S.A. contra a sentença com amparo nas assertivas de que: a)
rida. Requer a improcedência dos pe- de procedência do pedido, cuja parte “foi demonstrado que o dano experi-
didos. dispositiva foi redigida nos seguintes mentado pela Recorrida ultrapassou o
Conforme ID 108442706, à parte au- termos: mero dissabor”; b) “a comercialização
tora foi dada oportunidade, mas esta (...) Ante o exposto: de produto falsificado como se original
não apresentou réplica. 1) Julgo procedente o pedido para fosse acarreta, além de violação contra-
Outras manifestações aos IDs que o autor seja ressarcido no exato tual, vulneração dos bons costumes e
109430666 e 110466497. [...]”. valor pago pelo produto (R$ 737,62 (se- da moral”; c) “o ato ilícito cometido pela
Ao ID 117507691, foi designado peri- tecentos e trinta e sete reais e sessenta Recorrente não só violou o contrato,
to pelo Juízo. e dois centavos), ID 73957285, pg. 6). 2) como maculou a esfera da personalida-
Recolhidos os honorários, apresen- Julgo procedente o pedido de indeniza- de da recorrida, devendo ser mantida a
tados os quesitos, ao ID 128792434, o ex- ção para condenar a requerida ao paga- condenação”.
pert apresentou laudo – homologado mento de R$ 7.000,00 (sete mil reais) a Em suma, reforça a anterior mani-
sem impugnação pelo ID 131536243. título de reparação por danos morais, festação para que a sentença permane-
Honorários liberados ao ID corrigidos monetariamente a partir da ça inalterada.
136321661, os autos vieram conclusos presente data (Súmula 362/STJ) e com Preparo regular (ID 49406996).
para sentença. juros de mora de 1% (um por cento) ao É o relatório.

204 REVISTA BONIJURIS I ANO 35 I EDIÇÃO 685 I DEZ23/JAN24


ACÓRDÃOS EM DESTAQUE

VOTO empresa de não controlar com rigoro- A sentença reconheceu o dano ex-
O Senhor Desembargador FERNANDO sidade a procedência e autenticidade trapatrimonial, com fundamento na
ANTONIO TAVERNARD LIMA – Rela- dos produtos que comercializa, para responsabilidade da empresa pela co-
tor I. Análise sobre o conhecimento do além de ferir direitos básicos do con- mercialização de produto falsificado,
recurso. sumidor, a coloca em posição de vanta- a gerar expectativa de credibilidade
Conheço da apelação, porque pre- gem injusta/concorrência desleal com na parte consumidora, além do desvio
enche os requisitos de admissibilidade, os demais players do mercado, que produtivo de tempo.
impugna especificamente os funda- oferecem o mesmo produto por um Importante reprisar que o dano
mentos da decisão recorrida e não se valor consideravelmente superior”, extrapatrimonial exige relevante afe-
encontra prejudicada (Código de Pro- sendo que “o tênis não possui valor tação aos direitos gerais da personali-
cesso Civil, art. 932, inc. III, a contrario módico que pudesse escancarar sua dade (Código Civil, artigos 12 e 186).
sensu). falsidade, como sói ocorrer em sites Essa afetação deve atingir vio-
II. Análise sobre o mérito recursal: estranhos da internet. A diferença de lentamente a integridade moral, psi-
fundamentação. cológica, psíquica, imagem ou outro
As matérias impugnadas devolvi-
Oferta de produto por atributo da esfera personalíssima da
das ao Tribunal centram-se nos seguin- pessoa ofendida, sob pena de ser con-
tes pontos: 1. (in)existência dos danos metade do valor praticado fundido (o dano extrapatrimonial)
extrapatrimoniais; 2. adequação dos no mercado, e sem com meras suscetibilidades ou fatos
honorários advocatícios. corriqueiros.
1. (In)existência dos danos extrapa- evidenciar “promoção”, No caso concreto, o próprio deman-
trimoniais. pode colocar em dúvida dante/apelado afirmou ter pesquisado
No caso concreto ficou provado, por pelo mesmo produto em outra plata-
meio de perícia (ID 49406957) realizada
a sua originalidade forma de “e-commerce”, que o vendia
no produto (tênis da marca Mizuno) por R$ 1.249,99 (ID 49406859), bem como
vendido por meio do sítio eletrônico valor se mostrou um atrativo de con- se dirigido à loja física que comerciali-
gerido pela apelante (Lojas America- corrência, que, infelizmente, capturou zava produto idêntico (“Mizuno Wave
nas S.A.), que, de fato, se tratava de ré- o Requerente”. Prophecy 8”), onde constatou que ele
plica e não de mercadoria original de Por sua vez, a parte demandada/ custava R$ 1.299,90 (ID 49397108), sendo
fábrica, o que caracteriza vício do pro- apelante alega que a situação viven- que adquiriu o tênis na plataforma da
duto, impróprio para uso regular (Lei ciada configura mero inadimplemento ora apelante por R$ 737,52 (incluído o
8.078/1990, art. 18 e § 6º, inc. II). Por isso, contratual e não se mostro apta a sub- valor do frete – ID 49397106).
foi deferida a devolução do produto às sidiar a condenação por danos extra- A oferta de produto por cerca de
expensas do apelante (ID 49406987), patrimoniais (ID 49406994). Assevera metade do valor praticado no merca-
além do ressarcimento do preço pago, que “condenar a empresa Recorrida do e sem a informação de se tratar de
a par da condenação por danos extra- sem que o dano moral tenha sido mini- ““promoção”, a rigor, poderia evidenciar
patrimoniais. mamente comprovado leva a excessos (ao consumidor médio) a possibilidade
O apelado narra que o “dano moral” inaceitáveis, com exageros que podem de não se tratar de produto original.
estaria centrado na violação do direito comprometer a própria dignidade do Certo é que, à luz da boa-fé obje-
de informação. Aduz que “a prática da instituto do dano moral”. tiva, desponta razoável a alegação da

REVISTA BONIJURIS I ANO 35 I EDIÇÃO 685 I DEZ23/JAN24 205


CIVIL

parte consumidora de que teria se va- do consumidor. Responsabilidade civil. põe. 6. Recurso conhecido e provido
lido da confiabilidade da plataforma Falha na prestação dos serviços. para reformar a sentença recorrida
para não se revestir de maior cautela Suposto trancamento de matrícu- e julgar improcedente o pedido apre-
à averiguação das características do la em razão de cobrança indevida de sentado na petição inicial, afastando-
produto, tudo a fundamentar o reco- dívida. Erros no sistema interno da -se, assim, a condenação da ré/ape-
nhecimento do inadimplemento con- instituição de ensino. Ofensa a direito lante ao pagamento de compensação
tratual. de personalidade. Não configurada. pecuniária por danos morais, com
Sucede, porém, que o consumidor Teoria da perda de tempo útil. Inapli- inversão do ônus da sucumbência.
teria comprado e recebido o produto cável no caso concreto. Recurso co- (0708055-20.2020.8.07.0003, Relator:
em 16 de março de 2020 para presentear nhecido e provido. Sentença reforma- SANDRA REVES, 2ª Turma Cível, DJE:
o amigo “Caio” (ID 49397106, p. 6). da para julgar improcedente o pedido 05/07/2021)
A única ocorrência no “Reclame da autora/apelada. Inversão do ônus Direito civil e processual civil. Ape-
Aqui” teria sido registrada em 15 de de sucumbência. 1. A relação jurídica lação. Obrigação de fazer com indeni-
julho de 2020, por “Caio” (“Adquirimos existente entre as partes é regida pelo zação por danos morais com pedido de
em março um tênis na plataforma Código de Defesa do Consumidor, já tutela de urgência. Pedido de revisão
Americanas.online. Foi um presente de que a autora (estudante) se amolda de conta de água. Anuência da parte
Gabriel para mim, Caio”.). E segundo a ao conceito de consumidor previsto autora quanto à revisão de conta ofe-
narrativa do presenteado, o “produto no art. 2º, caput, do referido diploma recida pela ré. Perda superveniente
ao ser colocado no pé se mostrou des- legal, por ser destinatária final dos do objeto. Falta de interesse de agir.
confortável, porém tendo em vista ser serviços prestados pela ré (instituição Teoria do desvio produtivo do consu-
novo, acreditou que mudaria com o de ensino), que se enquadra na defi- midor. Dano moral. Não comprovado.
tempo. Isso não mudou. nição de fornecedor prevista no art. Litigância de má-fé. Ausente compro-
O tênis machuca e agora vem fa- 3º, caput, do CDC. A propósito, nos vação dos requisitos do artigo 80 do
zendo um barulho muito incômodo, o CPC. Recurso improvido. 1. Ação de
que me levou a pesquisar sobre a au- obrigação de fazer cumulada com in-
tenticidade do produto” (ID 493397107,
O art. 20 do CDC estabelece denização por danos morais com pedi-
p. 1). que o fornecedor do de tutela de urgência. 1.1. Sentença
Não foi comprovado que o adqui-
responde pelos vícios que de improcedência sob fundamento da
rente/apelado tenha buscado qualquer falta de interesse de agir e dano mo-
outro meio à solução do imbróglio comprometam a qualidade ral indevido. 1.2. Na apelação, a autora
(contatos com o fabricante, serviço de dos serviços fornecidos requer a reforma da sentença. Afirma
atendimento ao consumidor, Procon, que o dano moral existe, uma vez que
entre outros) antes do ajuizamento da no mercado de consumo a ré somente fez a revisão da conta de
demanda, em 6 de outubro de 2020. água após a citação e apresentação
Desse modo, não subsiste a invoca- termos do art. 6º, VI, da lei consume- de contestação. Alega que, pela ne-
ção da “Teoria do Desvio Produtivo”[1], rista, a efetiva prevenção e reparação cessidade de ter que ingressar com a
vez que não ficou demonstrada perda de danos patrimoniais e morais, indi- presente ação para que a ré cumpris-
considerável do tempo útil da parte viduais, coletivos e difusos é um dos se a competente revisão da fatura, é
consumidora. direitos básicos do consumidor. O art. o que torna devido a indenização por
No contexto, a despeito da com- 20 do CDC, por sua vez, estabelece danos morais. Sustenta a teoria do
provada falha na prestação do serviço, que o fornecedor responde pelos ví- desvio produtivo. Por fim, requer a
não desponta relevante fato gerador cios que comprometam a qualidade condenação da requerida por litigân-
de danos extrapatrimoniais a serem dos serviços fornecidos no mercado cia de má-fé. [...] 7. A Teoria do Desvio
reparados, dada a falta de concreta de- de consumo. [...] 5. Se inexiste violação Produtivo do Consumidor, criada por
monstração de afetação considerável a atributo da personalidade hábil à Marcos Dessa une e reconhecida pelo
a quaisquer dos atributos dos direitos configuração do dano moral, nos ter- Superior Tribunal de Justiça (AREsp
inerentes da personalidade, entre eles mos do art. 12 do Código Civil, e au- 1.260.458/SP, REsp 1.737.412/SE e AREsp
a integridade moral e psicológica da sentes circunstâncias autorizadoras 1.241.259/SP), se caracteriza, nas pala-
parte consumidora (Código Civil, arti- da pretendida aplicação da teoria do vras do autor, quando o consumidor,
go 12). desvio produtivo-haja vista que não diante de uma situação de mau aten-
Nesse sentido, os acórdãos desta 2ª há quadro delineado de desgastes dimento, precisa desperdiçar o seu
Turma Cível do TJDFT (mutatis mu- desproporcionais, abusivos, ou situ- tempo e desviar as suas competências
tandis): ação que pudesse representar priva- para tentar resolver um problema
Apelação. Consumidor. Ação de ção à liberdade da consumidora de criado pelo fornecedor, a um custo de
compensação por danos morais. Con- determinar a destinação do próprio oportunidade indesejado, de natureza
trato de prestação de serviços educa- tempo-, a improcedência da preten- irrecuperável. 7.1 Na hipótese dos au-
cionais. Aplicação do código de defesa são indenizatória é medida que se im- tos, em que pese as argumentações da

206 REVISTA BONIJURIS I ANO 35 I EDIÇÃO 685 I DEZ23/JAN24


ACÓRDÃOS EM DESTAQUE

parte recorrente sobre, a violação de dos entre 10% e 20% sobre o montante
direitos e o dever de indenizar, tenho desta (art. 85, § 2º); (II) segundo, não
que o conjunto fático probatório não havendo condenação, serão também
foi capaz de demonstrar que a parte fixados entre 10% e 20%, das seguintes
ré/apelada tenha infringido os direi-
tos da personalidade da parte autora/
bases de cálculo: (II. a) sobre o proveito
econômico obtido pelo vencedor (art.
Helênia
apelante, tampouco tenha onerado 85, § 2º); ou (II. b) não sendo possível e Devília
indevidamente os recursos produti- mensurar o proveito econômico obti-
vos do recorrente ao ponto de impor do, sobre o valor atualizado da causa Civilização
ao consumidor um relevante ônus (art. 85, § 2º); por fim, (III) havendo ou e barbárie
indesejado, razão pela qual entendo não condenação, nas causas em que
na saga dos
que não restou configurado dano ca- for inestimável ou irrisório o proveito
paz de ensejar em dever de indenizar. econômico ou em que o valor da causa direitos humanos
(0705712-06.2020.8.07.0018, Relator: for muito baixo, deverão, só então, ser
JOÃO EGMONT, 2ª Turma Cível, DJE: fixados por apreciação equitativa (art.
Luiz Fernando Coelho
06/05/2021) 85, § 8º).
No capítulo, o recurso merece pro- [...] 6. Primeiro recurso especial pro-
vimento para exclusão da condenação vido para fixar os honorários advoca-
por danos extrapatrimoniais. tícios sucumbenciais em 10% (dez por
2. Revisão dos honorários advoca- cento) sobre o proveito econômico ob-
tícios. tido. Segundo recurso especial despro-
No que refere à fixação dos honorá- vido. (STJ, REsp 1.746.072/PR, Relatora
rios advocatícios, a apelante sustenta Ministra NANCY ANDRIGHI, 2ª Seção,
não ser cabível a apreciação equitativa DJE: 29/03/2019).
realizada pelo Juízo a quo, dado que a Considerando as circunstâncias
fixação dos honorários sucumbenciais da demanda e os fundamentos supra-
deveria ter como base de cálculo o va- mencionados (valor da condenação
lor da condenação (Código de Processo irrisório como base de cálculo dos
Civil, art. 85, §2°). honorários de sucumbência), é de se
Ocorre que, uma vez afastado o manter a estimativa fixada na origem É possível buscar novas
dano extrapatrimonial (ora julgado im- com fundamento na equidade (R$
formas de organização
procedente), remanesce o valor da con- 2.000,00).
denação referente ao dano material, No capítulo, o recurso não prospera. político-social baseadas
qual seja, R$ 737,62 (ID 49406978). III. Dispositivo. em liberdade, igualdade
Essa estimativa se revelaria ínfima Recurso conhecido e parcialmente e justiça? O autor
como base de cálculo à dosagem dos provido para tão somente decotar a
questiona a política e
honorários advocatícios. condenação a título de reparação por
Nos moldes do art. 85, §8°, do Código danos extrapatrimoniais. a civilização moderna,
de Processo Civil, sendo irrisório o pro- IV. Custas processuais e honorários a convivência entre os
veito econômico ou muito baixo o valor advocatícios. diferentes, o lugar da
da causa, cabe apreciação equitativa no Deixo de proceder a majoração dos
arbitramento dos honorários. honorários com base no art. 85, § 11,
dignidade humana e a
No ponto, o entendimento unifor- do Código de Processo Civil, visto ser democracia.
mizado pelo Superior Tribunal de Jus- medida restrita às hipóteses de não co-
tiça: nhecimento integral ou desprovimen-
Recurso especial. Processual civil. to do recurso, de acordo com o entendi- Compre através
Código de processo civil de 2015. Juízo mento firmado pelo Superior Tribunal do QR Code
de equidade na fixação de honorários de Justiça por ocasião do julgamento
advocatícios de sucumbência. Novas do REsp nº 1.539.725/DF.
regras: CPC/2015, art. 85, §§ 2º e 8º. Re- É o voto.
gra geral obrigatória (art. 85, § 2º). Re-
gra subsidiária (art. 85, § 8º). Primeiro DECISÃO
recurso especial provido. Segundo re- A Senhora Desembargadora LEONOR
curso especial desprovido. AGUENA – 1º Vogal Com o relator O
[...] 4. Tem-se, então, a seguinte or- Senhor Desembargador RENATO RO- livrariabonijuris.com.br
dem de preferência: (I) primeiro, quan- DOVALHO SCUSSEL – 2º Vogal Com o
do houver condenação, devem ser fixa- relator 

REVISTA BONIJURIS I ANO 35 I EDIÇÃO 685 I DEZ23/JAN24 207


IMOBILIÁRIO

ACÓRDÃO
Após o voto do relator negando pro-
Imobiliário vimento ao recurso especial, e o voto
do Ministro Raul Araújo dando provi-
mento ao recurso especial, divergindo
do relator, no que foi acompanhando
ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA
pelos Ministros João Otávio de Noro-
nha, Maria Isabel Gallo�i e Antonio
685.203 PARA PAGAMENTO DE DÍVIDA CONDOMINIAL Carlos Ferreira, a Quarta Turma, por
maioria, decide dar provimento ao re-
É POSSÍVEL A PENHORA DE IMÓVEL ALIENADO curso especial, nos termos do voto di-
vergente do Sr. Ministro Raul Araújo.
FIDUCIARIAMENTE Vencido o relator. Votou vencido o Sr.
Ministro Marco Buzzi. Votaram com o
Sr. Ministro Raul Araújo (Presidente),
Superior Tribunal de Justiça
que lavrará o acórdão, os Srs. Ministros
Recurso Especial n. 2.059.278
João Otávio de Noronha, Maria Isabel
Órgão julgador: 4a. Turma
Gallo�i e Antonio Carlos Ferreira. Bra-
Fonte: DJ, 12.09.2023
sília, 23 de maio de 2023 (Data do Julga-
Relator: Ministro Raul Araújo
mento)

EMENTA RELATÓRIO
Civil. Recurso especial. Ação de cobrança. Contribuições condomi- Cuida-se de recurso especial interposto
por RESIDENCIAL AUSTRALIS EASY
niais. Cumprimento de sentença. Natureza propter rem do débito.
CLUB com fundamento no artigo 105,
Alienação fiduciária em garantia. Penhora do imóvel. Possibilida-
inciso III, alíneas “a” e “c” da Constitui-
de. Recurso especial provido. 1. As normas dos arts. 27, § 8º, da Lei ção federal, em desafio a acórdão pro-
nº 9.514/1997 e 1.368-B, parágrafo único, do CC/2002, reguladoras do ferido em agravo de instrumento pelo
contrato de alienação fiduciária de coisa imóvel, apenas discipli- Tribunal de Justiça do Estado de Santa
nam as relações jurídicas ente os contratantes, sem alcançar re- Catarina.
lações jurídicas diversas daquelas, nem se sobrepor a direitos de Na origem, versam os autos sobre
cumprimento de sentença de obriga-
terceiros não contratantes, como é o caso da relação jurídica entre
ção de pagar despesas condominiais
condomínio edilício e condôminos e do direito do condomínio cre-
inadimplidas (Processo nº 5001242-
dor de dívida condominial, a qual mantém sua natureza jurídica 48.2020.8.24.0038) movida pelo referido
propter rem. 2. A natureza propter rem se vincula diretamente ao condomínio residencial em face de F. C.
direito de propriedade sobre a coisa. Por isso, se sobreleva ao di- R. JR.
reito de qualquer proprietário, inclusive do credor fiduciário, pois O condomínio ora insurgente in-
este, na condição de proprietário sujeito à uma condição resoluti- terpôs agravo de instrumento contra
decisão (fls. 45-48) proferida pelo Juízo
va, não pode ser detentor de maiores direitos que o proprietário
de Direito da 7ª Vara Cível da Comarca
pleno. 3. Em execução por dívida condominial movida pelo con-
de Joinville/SC que indeferiu o pedi-
domínio edilício é possível a penhora do próprio imóvel que dá do de penhora de apartamento para a
origem ao débito, ainda que esteja alienado fiduciariamente, ten- quitação das despesas condominiais de
do em vista a natureza da dívida condominial, nos termos do art. obrigação do devedor, em razão de se
1.345 do Código Civil de 2002. 4. Para tanto, o condomínio exequen- tratar de bem alienado fiduciariamen-
te deve promover também a citação do credor fiduciário, além do te à Caixa Econômica Federal, tendo
devedor fiduciante, a fim de vir aquele integrar a execução para apenas admitido a penhora de direitos
creditórios decorrentes do respectivo
que se possa encontrar a adequada solução para o resgate dos cré-
contrato de alienação fiduciária sobre
ditos, a qual depende do reconhecimento do dever do proprietário, o imóvel.
perante o condomínio, de quitar o débito, sob pena de ter o imóvel A Corte local negou provimento ao
penhorado e levado à praceamento. Ao optar pela quitação da dí- reclamo em acórdão assim ementado
vida, o credor fiduciário se sub-roga nos direitos do exequente e (fls. 77-82):
tem regresso contra o condômino executado, o devedor fiduciante.
5. Recurso especial provido. Agravo de instrumento. Ação
de execução de título extrajudicial.

208 REVISTA BONIJURIS I ANO 35 I EDIÇÃO 685 I DEZ23/JAN24


IMOBILIÁRIO

Contribuições condominiais. In- cando destrancar o processamento da vel, portanto, que o devedor fiduciante
deferimento de penhora de imóvel insurgência. continua adimplente com os valores do
alienado fiduciariamente. Recurso Em decisão monocrática (fls. 203- mútuo a que se obrigou.
do exequente. 208), este signatário negou provimento A questão controvertida diz respei-
Pleito de constrição do bem imó- ao recurso, sob os seguintes fundamen- to, apenas, à relação condômino-con-
vel que originou a dívida condomi- tos: domínio e a responsabilidade pelas
nial exigida. Inviabilidade. Imóvel i) o acórdão recorrido está em con- despesas condominiais inadimplidas
alienado fiduciariamente a ente formidade com o entendimento desta quando o devedor fiduciante consta
bancário. Constrição limitada aos Corte, assente no sentido de que, nos como executado.
direitos decorrentes do contrato de contratos de alienação fiduciária em 2. Débitos condominiais como obri-
alienação fiduciária. Precedentes garantia de bem imóvel, a responsabi- gações propter rem. A possibilidade de
do superior tribunal de justiça. De- lidade pelo pagamento das despesas penhora sobre bem alienado fiduciaria-
cisão mantida. condominiais recai sobre o devedor mente por despesas condominiais tem
Recurso conhecido e desprovi- fiduciante, enquanto estiver na posse sido objeto de discussões doutrinárias
do. direta do imóvel; e jurisprudenciais, principalmente
-”não se admite a penhora do ii) consoante pacificado na jurispru- considerando a natureza propter rem
bem alienado fiduciariamente em dência do Superior Tribunal de Justiça, da obrigação e a circunstância segun-
execução promovida por terceiros o bem alienado fiduciariamente, por do a qual, em regra, para a satisfação
contra o devedor fiduciante, haja não integrar o patrimônio do devedor, do crédito, a indicação de um bem à pe-
vista que o patrimônio pertence não pode ser objeto de penhora, nada nhora deve, sempre, levar em referên-
ao credor fiduciário, permitindo-se, impedindo, contudo, que os direitos do cia o patrimônio do devedor.
contudo, a constrição dos direitos devedor fiduciante oriundos do contra- Como indicado, a obrigação de pa-
decorrentes do contrato de aliena- to sejam constritos. gamento das despesas condominiais
ção fiduciária. Precedentes” (STJ, é de natureza propter rem, ou seja, é
REsp 1.677.079/sp. Rel. Min. Ricardo “O adquirente de obrigação “da própria coisa”, ou, em ou-
Villas Bôas Cueva). tras palavras “por causa da coisa”.
unidade responde pelos Não se nega que já houve, no passa-
Irresignado, o credor/exequente débitos do alienante, em do, muitas discussões, principalmente
interpôs recurso especial (fls. 92-116),
no qual aduz, além de dissídio juris-
relação ao condomínio, doutrinárias, acerca de as obrigações
ditas propter rem estarem ou não con-
prudencial, violação ao artigo 835, § 3º, inclusive multas e tidas no universo dos direitos reais ou
do CPC/2015. Sustenta, em síntese, ser juros moratórios” se gravitariam nos institutos de direi-
penhorável o imóvel gerador das des- tos obrigacionais. Contudo, essa dife-
pesas condominiais, ainda que aliena- renciação ficou suplantada pela cons-
do fiduciariamente em garantia, pois Seguiu-se agravo interno (fls. 211- tatação de que a obrigação propter rem
referidos débitos possuem natureza 228), o qual fora provido em colegiado transita nas fronteiras entre os direitos
propter rem. Argumenta, também, que, (Quarta Turma) para converter o agra- reais e os pessoais, assimilando carac-
diante do disposto na Súmula 478/STJ, vo em recurso especial, a fim de propi- terísticas de ambos (FARIAS, Cristiano
a garantia do débito condominial é as- ciar melhor análise da controvérsia. Chaves de; ROSENVALD, Nelson. Cur-
segurada pelo imóvel que o originou. É o relatório. so de direito civil: direitos reais, 14ª ed.,
Requer, por fim, a reforma do acór- JusPodivm, 2018, p. 56).
dão recorrido “a fim de serem julga- VOTO Nesse contexto, em regra, com-
dos totalmente procedentes os pleitos O reclamo não merece prosperar. posta por despesas ordinárias e ex-
apresentados pelo recorrente nos au- Cinge-se a controvérsia em definir traordinárias, a obrigação propter
tos do cumprimento de sentença, de- se o imóvel oferecido como garantia rem possui o condão de submeter o
terminando a reforma da decisão e do em contrato de alienação fiduciária próprio imóvel gerador de despesas à
acórdão, a fim de que a penhora recaia pode ser objeto de constrição (penhora) penhora para a satisfação do crédito
sobre o imóvel objeto do débito, garan- para fazer frente a direito creditório do do condomínio. Isso porquanto se re-
tidor da dívida, e não somente sobre os condomínio (despesas condominiais) conhece que a obrigação propter rem
direitos creditórios do imóvel alienado ao qual a unidade residencial está in- possui natureza ambulatória (ambulat
fiduciariamente” (fl. 116). tegrada. cum domino), pois a sua titularidade
Sem contrarrazões. 1. Delimitação da controvérsia. acompanha a do direito real, ou seja,
Em juízo prévio de admissibilidade De início, é imprescindível men- as obrigações propter rem repercutem
(fls. 156-159), a Corte Catarinense negou cionar que inexiste notícia acerca de sobre uma pessoa por força de um de-
processamento ao recurso especial, eventual inadimplemento atinente ao terminado direito real, com o qual se
dando ensejo à interposição do agravo próprio contrato sobre o qual lastreada encontram em decorrência de vincu-
em recurso especial (fls. 164-186), bus- a alienação fiduciária, sendo presumí- lação estreita.

210 REVISTA BONIJURIS I ANO 35 I EDIÇÃO 685 I DEZ23/JAN24


ACÓRDÃOS EM DESTAQUE

Sobre o tema, assevera a e. Ministra compra e venda, mas a relação jurídica Imprescindível mencionar que
Nancy Andrighi (REsp nº 1.829.663/SP, material com o imóvel, representada alienação fiduciária de bens imóveis
Terceira Turma, julgado em 5/11/2019, pela imissão na posse pelo promissário regulamentada pela Lei nº 9.514 de 1997
DJe de 7/11/2019): comprador, dependendo das circuns- é, segundo dados mercadológicos e fi-
tâncias de cada caso concreto” (REsp nanceiros, a modalidade de garantia de
[...] caracteriza-se a obrigação 1.345.331/RS, DJe 20/04/2015). compra e venda mais utilizada no país.
propter rem pela particularidade Na oportunidade, ressaltou o e. re- Em razão da segurança jurídica pro-
de a pessoa do devedor se individu- lator Ministro Luis Felipe Salomão, que piciada pelo instituto no que tange ao
alizar única e exclusivamente pela as despesas condominiais compreen- célere procedimento executório, pro-
titularidade do direito real, desvin- didas como obrigações propter rem, movido inclusive extrajudicialmente
culada de qualquer manifestação são de responsabilidade daquele que pelos registros de imóveis, os efeitos
da vontade do sujeito. detém a qualidade de proprietário da dessa modalidade de garantia são re-
Por isso é que, em havendo unidade imobiliária, ou ainda pelo titu- putados extremamente vantajosos,
transferência da titularidade, a lar de um dos aspectos da propriedade, propiciando uma redução de risco às
obrigação é igualmente transmiti- tais como a posse, o gozo, a fruição, des- detentoras do crédito.
da. de que esse tenha estabelecido relação Segundo Melhim Chalhub, quando
Diz-se, então, que a obrigação jurídica direta com o condomínio. Por- constituída a alienação fiduciária:
propter rem é dotada de ambulato- tanto, em que pese a característica am-
riedade, ou, ainda, que se trata, ela bulatória da obrigação propter rem e a “(...) o alienante (fiduciante) fica
mesma, de obrigação ambulatória. circunstância segundo a qual, em regra, investido num direito expectati-
Assim, independentemente da von- o próprio bem se basta para o adimple- vo, que corresponde ao direito de
tade dos envolvidos, a obrigação de mento de obrigações dele decorrentes, recuperar automaticamente a pro-
satisfazer determinadas prestações admitindo-se a constrição/penhora do priedade plena, uma vez verificada
acompanha a coisa em todas as imóvel para saldar dívida originária a condição resolutiva, que, na rela-
suas mutações subjetivas. da coisa visando fazer prevalecer o ção fiduciária, constitui a própria
interesse da coletividade dos condô- causa da transmissão subordinada
No que tange a esse aspecto am- minos, é imprescindível referir que a à condição: o alienante será um pro-
bulatório das despesas condominiais, regra comporta exceções. E dentre as prietário sob condição suspensiva,
dispõe o art. 1345 do CC/2002 que: “o exceções, situa-se aquela – em seguida autorizado a praticar os atos con-
adquirente de unidade responde pe- abordada, expressamente prevista em servatórios do seu direito eventual”
los débitos do alienante, em relação ao lei – que se constata quando o bem alie- (CHALHUB, Melhim Namem. Alie-
condomínio, inclusive multas e juros nado fiduciariamente não integra a es- nação fiduciária: negócio fiduciário.
moratórios”. fera patrimonial do devedor fiduciante 6ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 2019,
Não por outra razão, em julgamento em razão de sua propriedade resolúvel, p. 104-105)
de recurso repetitivo, a Segunda Seção principalmente, considerando que os
desta Corte firmou a tese de que “o que atos executivos recaem tão somente no Como se vê, a alienação fiduciária
define a responsabilidade pelo paga- patrimônio do obrigado. tem como característica a constituição
mento das obrigações condominiais 3. Alienação fiduciária de bens imó- da propriedade resolúvel, a qual só se
não é o registro do compromisso de veis. consolidará em nome do devedor após

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IMOBILIÁRIO

o adimplemento integral do mútuo/fi- Sendo incontroversa a circunstân- Art. 1.368-B. A alienação fiduci-
nanciamento assumido. cia afeta à garantia de alienação fiduci- ária em garantia de bem móvel ou
3.1 Da (im)penhorabilidade do imó- ária e de não constar o credor fiduciário imóvel confere direito real de aqui-
vel alienado fiduciariamente por dívi- do polo passivo da demanda, afirma-se sição ao fiduciante, seu cessionário
das condominiais. que, pela sistemática de alienação fidu- ou sucessor.
Na hipótese, ao apreciar a contro- ciária, o bem não integra o patrimônio Parágrafo único. O credor fidu-
vérsia, o Tribunal de origem concluiu do devedor fiduciante. Este, enquanto ciário que se tornar proprietário
pela impossibilidade de penhora do adimplente em suas obrigações (peran- pleno do bem, por efeito de realiza-
imóvel gerador das despesas condomi- te o credor fiduciário), torna-se seu legí- ção da garantia, mediante consoli-
niais, ainda que a dívida tenha nature- timo possuidor (posse direta), ficando dação da propriedade, adjudicação,
za propter rem, pois referido bem está reservada ao credor fiduciário a posse dação ou outra forma pela qual lhe
alienado fiduciariamente em garantia, indireta. Diante dessa lógica, razoável tenha sido transmitida a proprie-
isto é, não integra o patrimônio do de- que o devedor fiduciante – na quali- dade plena, passa a responder pelo
vedor fiduciante. dade de possuidor direto, que utiliza o pagamento dos tributos sobre a
A propósito, citam-se trechos do bem e que exerce poderes de proprie- propriedade e a posse, taxas, despe-
acórdão (fls. 80-81): dade com ânimo de domínio (uso, gozo sas condominiais e quaisquer ou-
e disposição) – seja o responsável pelo tros encargos, tributários ou não,
“É que, de acordo com a jurispru- pagamento das respectivas despesas incidentes sobre o bem objeto da
dência consolidada do eg. Superior condominiais. garantia, a partir da data em que
Tribunal de Justiça, o bem objeto de Opera, nesse sentido, a determina- vier a ser imitido na posse direta
alienação fiduciária não integra o ção da Lei nº 9.514/97 (dispõe sobre o do bem. (Incluído pela lei 13.043, de
patrimônio do devedor fiduciante, sistema financeiro imobiliário, institui 2014)
não podendo, bem por isso, ser ob- a alienação fiduciária de coisa imóvel e
jeto de penhora em execuções movi- Com efeito, analisando-se os dispo-
das por terceiros contra aquele, ain-
Responde o duciante pelo sitivos de lei em comento, constata-se
da que para satisfação de dívidas de que eventual transferência de res-
natureza propter rem, como no caso pagamento dos impostos, ponsabilidade sobre os débitos con-
em apreço. taxas, contribuições dominiais ao credor fiduciário ocorre,
[...] apenas, a partir da consolidação da
Frisa-se ser, nos termos dos pre- condominiais e quaisquer propriedade, em conjunto com sua
cedentes supracitados, irrelevante outros encargos que imissão na posse. Antes disso, por-
que os débitos executados, gerados quanto despido dos poderes da plena
pelo próprio imóvel penhorado,
recaiam sobre o imóvel propriedade, não há como lhe imputar
tenham natureza propter rem. Na tal responsabilidade, na medida em
hipótese concreta, o imóvel penho- dá outras providências) que, de forma que não detém o domínio útil sobre o
rado encontra-se, de fato, gravado expressa e inequívoca, impõe ao deve- imóvel, ou seja, repita-se, é tão somente
com alienação fiduciária em ga- dor fiduciante a responsabilidade por um possuidor indireto.
rantia em favor da Caixa Econô- tais despesas no sistema da alienação 3.2 Considerações acerca da penho-
mica Federal (Matrícula De Imóvel fiduciária de bens imóveis: ra. Mesmo quando analisada sob um
2 do evento 25 na origem), o que vértice preponderantemente processu-
obsta sua penhora nos presentes Art. 27. (...) al, a controvérsia não enseja a solução
autos. Observa-se, todavia, que a § 8º Responde o fiduciante pretendida pelo recorrente.
constrição judicial poderá recair pelo pagamento dos impostos, ta- Em suas razões de recurso, o con-
sobre os direitos do devedor fidu- xas, contribuições condominiais e domínio afirma violado o disposto no
ciante, ora agravado, advindos do quaisquer outros encargos que re- artigo 835, § 3º do CPC/15, de seguinte
contrato de alienação fiduciária, caiam ou venham a recair sobre o teor:
conforme assentado nos preceden- imóvel, cuja posse tenha sido trans-
tes supracitados, e justamente na ferida para o fiduciário, nos termos Art. 835. A penhora observará,
forma como determinada pelo Ju- deste artigo, até a data em que o fi- preferencialmente, a seguinte or-
ízo de origem. duciário vier a ser imitido na posse. dem:
Postos estes argumentos, não se (Incluído pela Lei nº 10.931, de 2004, (...)
admite a penhora do bem imóvel em grifado). § 3º Na execução de crédito com
si para fins de satisfação do débito garantia real, a penhora recairá so-
exequendo, cabendo, como determi- Na mesma toada, a Lei nº 13.043, de bre a coisa dada em garantia, e, se a
nado, apenas a penhora dos direitos 2014, que incluiu no diploma civilista o coisa pertencer a terceiro garanti-
creditórios a este atrelados”. [grifou- artigo 1.368-B, também dispõe acerca dor, este também será intimado da
-se] do assunto: penhora.

212 REVISTA BONIJURIS I ANO 35 I EDIÇÃO 685 I DEZ23/JAN24


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IMOBILIÁRIO

Assevera ser clara a lei acerca da nas demais hipóteses, alterar a ordem Assim, não sendo o condomínio o
possibilidade da penhora recair sobre prevista no caput de acordo com as cir- exequente de crédito sobre o qual con-
bem dado em garantia. cunstâncias do caso concreto”. ferida originariamente a garantia real
Em síntese, a despeito da intenção É certo, também, que as disposições ou, como no caso, a alienação fiduciária,
da parte de ver explicitado o direito gerais estabelecidas para o processo não pode se valer de tal normativo (§ 3º
que sustenta com base no teor da re- executivo devem obediência a uma do artigo 835 do CPC/15) para fins de sa-
ferida norma, dela não se extrai arca- ponderação entre a maior eficácia da tisfazer o crédito decorrente do inadim-
bouço legal-processual para permitir execução, em benefício do credor, e o plemento de despesas condominiais.
a constrição de bem alienado fiducia- princípio da menor onerosidade para 3.3 Da jurisprudência firmada sobre
riamente por obrigação decorrente do o devedor, devendo ser dada especial tema.
não pagamento, pelo devedor fiduciá- atenção aos artigos 797 e 805 do CPC/15: Acerca da controvérsia tratada nes-
rio, das obrigações condominiais. tes autos, esta Corte Superior já se de-
Uma análise pouco atenta às pe- Art. 797. Ressalvado o caso de bruçou algumas vezes, tendo sopesado
culiaridades do caso, poderia ensejar insolvência do devedor, em que tem que, a despeito do direito do condomí-
a compreensão segundo a qual, em se lugar o concurso universal, realiza- nio receber as despesas indispensáveis
tratando de execução de crédito com -se a execução no interesse do exe- e inadiáveis à manutenção da coisa
garantia real, teria o legislador conce- quente que adquire, pela penhora, o comum e da natureza propter rem da
dido preferência à penhora da coisa direito de preferência sobre os bens obrigação, não se admite a penhora do
dada em garantia, independentemente penhorados. bem alienado fiduciariamente em exe-
de esta ser – ou não – de propriedade Art. 805. Quando por vários cução promovida por terceiros contra
do devedor principal, solidário ou de meios o exequente puder promover o devedor fiduciante em virtude do
terceiro garantidor. a execução, o juiz mandará que se imóvel pertencer ao credor fiduciário,
Contudo, é necessário observar o faça pelo modo menos gravoso para sendo que – como já referido – esse úl-
caput do artigo no qual se insere o alu- o executado. timo somente responde pelas dívidas
dido parágrafo, que ressalta: condominiais incidentes sobre o imó-
Em uma interpretação sistemática vel se consolidar a propriedade para si,
Art. 835. A penhora observará, de todos esses dispositivos citados, é tornando-se o possuidor direto do bem.
preferencialmente, a seguinte or- possível afirmar que a ordem de pe- Permite-se, todavia, tal como indi-
dem: nhora prevista em lei não é obrigatória, cado pelo Tribunal de origem, a cons-
I – dinheiro, em espécie ou em mas preferencial, devendo sempre ser trição dos direitos decorrentes do con-
depósito ou aplicação em institui- observado o resguardo dos direitos do trato de alienação fiduciária.
ção financeira; exequente quanto à satisfação de seu Quanto ao tema, a jurisprudência
II – títulos da dívida pública da crédito, na medida em que a execução deste Superior Tribunal de Justiça en-
União, dos Estados e do Distrito Fe- se realiza no seu interesse (artigo 797 contra-se, portanto, pacificada no sen-
deral com cotação em mercado; do CPC). tido de que, nos contratos de alienação
III – títulos e valores mobiliários Ademais, grosso modo, afigura-se fiduciária em garantia de bem imóvel,
com cotação em mercado; incompatível, no sistema da aliena- a responsabilidade pelo pagamento
IV – veículos de via terrestre; ção fiduciária, que o mesmo imóvel se das despesas condominiais recai sobre
V – bens imóveis; preste como garantia da integralida- o devedor fiduciante, enquanto estiver
VI – bens móveis em geral; de da operação de financiamento (de na posse direta do imóvel.
VII – semoventes; que decorreu a alienação fiduciária) e, Nesse sentido:
VIII – navios e aeronaves; ao mesmo tempo, e da mesma forma,
IX – ações e quotas de socieda- garanta outros débitos. Nesse quadro Agravo interno no agravo em
des simples e empresárias; fático-normativo, as eventuais garan- recurso especial. Reconsideração
X – percentual do faturamento tias reais (hipotecárias e pignoratícias) da decisão agravada. Impugnação
de empresa devedora; visam a conferir uma maior proteção aos fundamentos da decisão de ad-
XI – pedras e metais preciosos; ao crédito e ao próprio sistema econô- missibilidade do recurso especial.
XII – direitos aquisitivos deri- mico-financeiro sobre o qual lastreada Execução. Título extrajudicial. Ta-
vados de promessa de compra e a concessão de mútuo/empréstimo/fi- xas condominiais. Credor fiduciá-
venda e de alienação fiduciária em nanciamento, não tendo como proposi- rio. Responsabilidade. Acórdão em
garantia; ção, tal como aventado pela recorrente, sintonia com entendimento firma-
XIII – outros direitos. apenas conferir ao credor (quando esse do nesta corte. Súmula 83 do STJ.
for o próprio exequente, hipótese não Agravo interno provido. Agravo em
E ainda, o parágrafo 1º do mesmo verificada no caso) a possibilidade de recurso especial não provido.
normativo disciplina que “é prioritária obter seu crédito pela via da excussão 1. Nas razões do agravo em re-
a penhora em dinheiro, podendo o juiz, de tais garantias. curso especial a parte agravante

214 REVISTA BONIJURIS I ANO 35 I EDIÇÃO 685 I DEZ23/JAN24


ACÓRDÃOS EM DESTAQUE

impugnou todos os fundamentos os fundamentos que alicerçaram a devendo, em relação a ele, ser julga-
da decisão que não admitiu o seu decisão agravada. do improcedente o pedido.
recurso especial. 3. AGRAVO INTERNO CONHE- 7. Recurso especial provido.
2. A jurisprudência do STJ en- CIDO E DESPROVIDO. (REsp 1.696.038/SP, Rel. Ministro
contra-se pacificada no sentido de (AgInt no REsp n. 1.876.086/DF, RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA,
que, nos contratos de alienação Rel. Ministro PAULO DE TARSO TERCEIRA TURMA, julgado em
fiduciária em garantia de bem imó- SANSEVERINO, TERCEIRA TUR- 28/08/2018, DJe 03/09/2018) [grifou-
vel, a responsabilidade pelo paga- MA, julgado em 6/6/2022, DJe de -se]
mento das despesas condominiais 9/6/2022.) [grifou-se]
recai sobre o devedor fiduciante, Recurso especial. Ação de co- Assim, estando o devedor fiducian-
enquanto estiver na posse direta do brança. Condomínio. Alienação te (adquirente) na posse direta do bem,
imóvel. Precedentes. fiduciária. Imóvel. Pagamento. Res- cuja propriedade permanece sendo do
3. O entendimento desta Corte ponsabilidade. Despesas condomi- credor fiduciário, inviável recair a pe-
Superior é no sentido de que: “A res- niais. Devedor fiduciante. Posse di- nhora sobre o próprio imóvel, ao me-
ponsabilidade do credor fiduciário reta. Art. 27, § 8º, da lei nº 9.514/1997. nos até que haja o adimplemento inte-
pelo pagamento das despesas con- [...] gral do contrato de financiamento com
dominiais dá-se quando da conso- 2. Cinge-se a controvérsia a de- a consequente baixa do gravame ou a
lidação de sua propriedade plena finir se o credor fiduciário, no con- consolidação da propriedade em nome
quanto ao bem dado em garantia, trato de alienação fiduciária em do credor fiduciário, na hipótese de
ou seja, quando de sua imissão na garantia de bem imóvel, tem res- inadimplemento do devedor fiduciário.
posse do imóvel, nos termos do art. ponsabilidade pelo pagamento das A propósito:
27, § 8º, da Lei 9.514/97 e do art. 1.368-B despesas condominiais juntamente
do CC/02. A sua legitimidade para fi- com o devedor fiduciante. Agravo interno no recurso espe-
gurar no polo passivo da ação resu- cial – embargos de terceiro – decisão
me-se, portanto, à condição de estar Entendimento procura monocrática que negou provimen-
imitido na posse do bem.”. (REsp n. to ao reclamo. Insurgência recursal
1.731.735/SP, relatora Ministra Nancy
sopesar os diversos do embargado.
Andrighi, Terceira Turma, julgado interesses envolvidos, 1. Nos contratos de alienação
em 13/11/2018, DJe de 22/11/2018.).
garantindo, a um só tempo, fiduciária em garantia de bem imó-
4. Agravo interno a que se dá vel, a responsabilidade pelo paga-
provimento para reconsiderar a o desenvolvimento nacional mento das despesas condominiais
decisão da Presidência desta Corte pelas operações imobiliárias recai sobre o devedor fiduciante
e negar provimento ao agravo em enquanto estiver na posse direta do
recurso especial. imóvel. Precedentes.
(AgInt no AREsp n. 2.074.722/DF, 3. Nos contratos de alienação fi- 2. Nos termos da jurisprudência
relator Ministro Luis Felipe Salomão, duciária em garantia de bem imóvel, pacífica do STJ, como a propriedade
Quarta Turma, julgado em 23/8/2022, a responsabilidade pelo pagamento é do credor fiduciário, inviável re-
DJe de 9/9/2022.) [grifou-se] das despesas condominiais recai so- cair a penhora sobre o próprio imó-
Agravo interno no recurso es- bre o devedor fiduciante enquanto vel para saldar dívida do devedor
pecial. Direito civil. Embargos à estiver na posse direta do imóvel. 4. fiduciante, ressalvando-se, contudo,
execução. Alienação fiduciária. O credor fiduciário somente respon- a possibilidade de constrição dos
Responsabilidade pelo pagamento de pelas dívidas condominiais inci- direitos decorrentes do contrato de
de despesas condominiais. Respon- dentes sobre o imóvel se consolidar alienação fiduciária pelas vias ordi-
sabilidade do devedor fiduciante no a propriedade para si, tornando-se o nárias. Precedentes.
período em que o imóvel esteve na possuidor direto do bem. 3. Agravo interno desprovido.
posse. 5. Com a utilização da garantia, (AgInt no REsp n. 1.485.972/
1. Há orientação jurisprudencial o credor fiduciário receberá o imó- SC, Rel. Ministro MARCO BUZZI,
no âmbito do Superior Tribunal de vel no estado em que se encontra, QUARTA TURMA, julgado em
Justiça no sentido de que, nos casos até mesmo com os débitos condomi- 14/6/2021, DJe de 17/6/2021.) [grifou-
de alienação fiduciária de bem imó- niais anteriores, pois são obrigações -se]
vel, o devedor fiduciante é o respon- de caráter propter rem (por causa Agravo interno no recurso espe-
sável pelas despesas condominiais da coisa). cial. Direito civil e processual civil.
enquanto estiver na posse direita 6. Na hipótese, o credor fiduciá- Execução de título extrajudicial.
do bem. rio não pode responder pelo paga- Agravo de instrumento. Despesas
2. Não apresentação de argu- mento das despesas condominiais condominiais. Natureza “propter
mentos novos capazes de infirmar por não ter a posse direta do imóvel, rem”. Penhora do imóvel gerador

REVISTA BONIJURIS I ANO 35 I EDIÇÃO 685 I DEZ23/JAN24 215


IMOBILIÁRIO

do débito. Alienação fiduciária em fiduciante. Penhora do imóvel deve- fiduciária como garantia de compra e
garantia. Impossibilidade. Via- dor. Impossibilidade. venda de bem imóvel, principalmente
bilidade, contudo, da constrição 1. Cumprimento de sentença. no que tange ao financiamento imobi-
dos direitos do devedor fiduciante 2. [...] liário.
oriundos do contrato. Precedentes. 3. Não se admite a penhora do Não se nega que, caso a demanda
Manutenção da decisão agravada. bem alienado fiduciariamente em tivesse sido intentada, também, contra
Agravo interno desprovido. execução promovida por terceiros o credor fiduciário, poderia existir uma
(AgInt no REsp 1.860.416/SP, contra o devedor fiduciante, visto solução jurídica diversa. Contudo, o
Rel. Ministro PAULO DE TARSO que o patrimônio pertence ao credor entendimento ora reafirmado procura
SANSEVERINO, TERCEIRA TUR- fiduciário, permitindo-se, contudo, a sopesar os diversos interesses envol-
MA, julgado em 15/12/2020, DJe constrição dos direitos decorrentes vidos, garantindo, a um só tempo, o
18/12/2020) [grifou-se] do contrato de alienação fiduciária. desenvolvimento nacional pelas opera-
Agravo interno. Recurso espe- Precedentes. ções imobiliárias – dada a manutenção
cial. Ausência de violação ao art. 4. Agravo interno desprovido. da integridade do instituto da aliena-
1.022 do CPC/2015. Despesas con- (AgInt no AREsp 1.654.813/SP, ção fiduciária no ordenamento jurídico
dominiais. Imóvel alienado fiducia- Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, – e promove a salvaguarda do crédito
riamente. Penhora sobre o imóvel. TERCEIRA TURMA, julgado em do condomínio, ante a possibilidade de
Impossibilidade. Constrição que 29/06/2020, DJe 01/07/2020) [grifou- constrição dos direitos decorrentes da
pode recair, contudo, sobre os di- -se] alienação fiduciária.
reitos decorrentes do contrato de Por fim, é imprescindível mencio-
alienação fiduciária do imóvel. In- Assim, em conformidade com o en- nar, que a proposição aqui apresen-
cidência da súmula 83/STJ. Avalia- tendimento deste Tribunal Superior, a tada não afasta a inegável possibili-
ção do bem por perito. Revisão de ponderação dos interesses envolvidos dade do condomínio credor de, além
fatos e provas. Aplicação da súmu- em hipóteses desse jaez, o princípio de obter a constrição dos direitos
la 7/STJ. segundo o qual, em regra, os atos exe- decorrentes do contrato de alienação
1. Se as questões trazidas à dis- fiduciária, valer-se das medidas atípi-
cussão foram dirimidas, pelo Tri-
Quarta Turma do cas para a salvaguarda dos seus inte-
bunal de origem, de forma suficien- resses, podendo, também, tal como já
temente ampla e fundamentada, STJ, porbmaioria, deu estabelecido no âmbito desta Corte
apenas contrariamente ao preten- provimentobao recurso Superior, promover a penhora de sa-
dido pela parte, deve ser afastada lário do devedor para a satisfação do
a alegada violação ao art. 1.022 do
especial nos termos seu crédito.
Código de Processo Civil/2015. do voto divergente do
DECISÃO
2. Como a propriedade do bem é
ministro Raul Araújo Certifico que a egrégia QUARTA TUR-
do credor fiduciário, não se pode ad-
mitir que a penhora em decorrência MA, ao apreciar o processo em epígrafe
de crédito de terceiro recaia sobre cutivos somente recaem sobre o pa- na sessão realizada nesta data, proferiu
ele, mas podem ser constritos os trimônio do obrigado, o bem alienado a seguinte decisão:
direitos decorrentes do contrato de fiduciariamente, por não integrar o pa- Após o voto do relator negando pro-
alienação fiduciária. Incidência da trimônio do executado/devedor fiduci- vimento ao recurso especial, e o voto
Súmula 83/STJ. ário, não pode ser objeto de penhora, do Ministro Raul Araújo dando provi-
3. Não cabe, em recurso especial, permitindo-se, contudo, a constrição mento ao recurso especial, divergindo
reexaminar matéria fático-probató- dos direitos decorrentes do contrato do relator, no que foi acompanhando
ria (Súmula n. 7/STJ). de alienação fiduciária, sem prejuízo pelos Ministros João Otávio de Noro-
4. Agravo interno a que se nega de que o condomínio pleiteie a excus- nha, Maria Isabel Gallo�i e Antonio
provimento. são de outros bens (de propriedade do Carlos Ferreira, a Quarta Turma, por
(AgInt no REsp 1.832.061/SP, Rel. devedor fiduciário) para a salvaguarda maioria, deu provimento ao recurso es-
Ministra MARIA ISABEL GALLOT- dos interesses da coletividade de cre- pecial, nos termos do voto divergente
TI, QUARTA TURMA, julgado em dores que representa. do Sr. Ministro Raul Araújo, que lavrará
20/04/2020, DJe 24/04/2020) [grifou- Ressalta-se que tal compreensão o acórdão. Vencido o relator.
-se] – em que pese restrinja a regra geral Votou vencido o Sr. Ministro Marco
Processual civil. Agravo inter- decorrente das obrigações propter rem Buzzi.
no em agravo em recurso especial. – enseja forte impacto no âmbito so- Votaram com o Sr. Ministro Raul
Cumprimento de sentença. Taxas cioeconômico do país, de modo a gerar Araújo (Presidente) os Srs. Ministros
condominiais. Alienação fiduciária diversos resultados positivos constata- João Otávio de Noronha, Maria Isabel
em garantia. Direitos do devedor dos a partir da instituição da alienação Gallo�i e Antonio Carlos Ferreira. 

216 REVISTA BONIJURIS I ANO 35 I EDIÇÃO 685 I DEZ23/JAN24


ACÓRDÃOS EM DESTAQUE

Penal
ATÉ

DIMINUIÇÃO POR TENTATIVA 27/12


685.204 EM CASO DE CRIME TENTADO, DIMINUI-SE A
PENA DE FORMA INVERSAMENTE PROPORCIONAL AO
AVANÇO DO ITER CRIMINIS
Superior Tribunal de Justiça
Ag. Regimental no Habeas Corpus n. 833469/SC
Órgão julgador: 5a. Turma
Fonte: DJ, 02.10.2023
Relator: Ministro Ribeiro Dantas

EMENTA
Penal e Processo Penal. Agravo Regimental no Habeas Corpus. La-
trocínio. Apreciação da tese de desistência voluntária. Indevida
Seu leão pode
supressão de instância. Quantum de diminuição da tentativa. Iter colorir a vida
de muitas
criminis percorrido. Proporcional. Agravo regimental desprovido.
1. O capítulo acerca da ocorrência de desistência voluntária não
foi apreciado pela Corte de origem, pois apenas se pronunciou crianças
acerca da absolvição por falta de provas, desclassificação e dosi-
metria da pena. Portanto, como não há decisão de Tribunal, inviá- Doe seu
vel a apreciação do tema por esta Corte, sob pena de indevida su- Imposto de
pressão de instância e alargamento inconstitucional da hipótese Renda para
de competência do Superior Tribunal de Justiça para julgamento o Hospital
de habeas corpus, constante no art. 105, I, “c”, da Constituição da Pequeno
República, que exige decisão de Tribunal. 2. O Código Penal, em Príncipe
seu art. 14, II, adotou a teoria objetiva quanto à punibilidade da
tentativa, pois, malgrado semelhança subjetiva com o crime con-
sumado, diferencia a pena aplicável ao agente doloso de acordo
com o perigo de lesão ao bem jurídico tutelado. Nessa perspectiva,
jurisprudência desta Corte adota critério de diminuição do crime
tentado de forma inversamente proporcional à aproximação do (41) 99962-4461
resultado representado: quanto maior o iter criminis percorrido (41) 2108-3886
pelo agente, menor será a fração da causa de diminuição. Outros-
doepequeno
sim, quanto ao momento consumativo do crime de roubo, nos
mesmos moldes do crime de furto, é assente a adoção da teoria da
principe.org.br
amotio por esta Corte e pelo Supremo Tribunal Federal, segundo
a qual os referidos crimes patrimoniais consumam-se no momen-
to da inversão da posse, tornando-se o agente efetivo possuidor
da coisa, ainda que não seja de forma mansa e pacífica, sendo
prescindível que o objeto subtraído saia da esfera de vigilância da
vítima. 3. No crime de latrocínio em questão o realizou diversos

REVISTA BONIJURIS I ANO 35 I EDIÇÃO 685 I DEZ23/JAN24 217


PENAL

sob pena de incidir em indevida


disparos de arma de fogo que alvejaram a vítima, atingindo-a na supressão de instância, conforme
região cervical, não se concretizando somente por circunstâncias reiterada jurisprudência desta Cor-
alheias à vontade dos agentes. De rigor, pois, a manutenção da te.” (RHC 111.394/SP, de minha rela-
incidência do redutor de 1/3 (um meio), sob o título de causa de toria, QUINTA TURMA, julgado em
10/10/2019, DJe 15/10/2019)
diminuição de crime tentado (CP, art. 14, II). 4. Agravo regimental
desprovido. Passa-se à análise do quantum de
aumento da tentativa.
Eis o teor do acórdão impugnado:
ACÓRDÃO gunda Turma, Rel. Min. Edson Fachin,
Vistos e relatados estes autos em que julgado em 30/10/2018 – , pacificaram “Ato contínuo, no madrugada
são partes as acima indicadas, acordam orientação no sentido de que não cabe do dia 13.2.2021 os três agentes per-
os Ministros da QUINTA TURMA do habeas corpus substitutivo do recurso seguiram a van que seria objeto de
Superior Tribunal de Justiça, em ses- próprio, impondo-se o não conheci- abordagem com o veículo alugado e
são virtual de 19/09/2023 a 25/09/2023, mento da impetração, salvo quando como estavam com a luz alta acio-
por unanimidade, negar provimento constatada a existência de flagrante nada, a vítima estacionou o carro
ao recurso, nos termos do voto do Sr. ilegalidade no ato judicial impugnado. no acostamento para que efetuasse
Ministro Relator. Assim, passo à análise das razões da a ultrapassagem, sendo que nes-
Os Srs. Ministros Reynaldo Soares impetração, de forma a verificar a ocor- se momento que os apelantes A. e
da Fonseca, Joel Ilan Paciornik, Messod rência de flagrante ilegalidade a justi- E. desembarcaram e, enquanto o
Azulay Neto e João Batista Moreira ficar a concessão do habeas corpus, de primeiro anunciava o assalto, o se-
(Desembargador convocado do TRF1) ofício. gundo efetuou disparos de arma de
votaram com o Sr. Ministro Relator. O capítulo acerca da ocorrência de fogo contra M. H. da C., atingindo-
Presidiu o julgamento o Sr. Ministro desistência voluntária não foi aprecia- -o na região cervical, pretendendo
Messod Azulay Neto. do pelo Tribunal a quo, pois apenas se matar a vítima ou pelo menos assu-
pronunciou acerca da absolvição por mindo o risco de matá-lo.
RELATÓRIO falta de provas, desclassificação e dosi- [...]
Trata-se de agravo regimental inter- metria da pena. Portanto, como não há Destarte, não se pode punir com
posto por J. da S., contra decisão mo- decisão de Tribunal, inviável a aprecia- igual rigor o crime consumado e o
nocrática que não conheceu do habeas ção do tema por esta Corte, sob pena de crime tentado, sendo necessário,
corpus (e-STJ, fls. 56-58). indevida supressão de instância e alar- com relação a este último, o estu-
A parte agravante, reiterando os gamento inconstitucional da hipótese do acerca da extensão da prática
termos do writ impetrado, destaca que de competência do Superior Tribunal dos atos necessários à realização
deve ser fixada fração de redução da de Justiça para julgamento de habeas do delito, de modo que a pretensão
tentativa de 1/2, pois o projétil passou corpus, constante no art. 105, I, “c”, da punitiva estatal deve guardar pro-
de raspão, tendo deixado lesão em área Constituição da República, que exige porcionalidade com a amplitude da
não vital, de modo que a brandura da decisão de Tribunal. consumação do crime. A propósito,
lesão não impediu o ofendido de dirigir Confira-se: “por ordem do art. 14, parágrafo úni-
seu caminhão por 12 quilômetros. co, do Código Penal, ao agente de
Pede, ao final, o provimento do pre- “A questão relativa à alegada crime tentado aplica-se a pena pre-
sente agravo, para que seja concedida a demora injustificada na instrução vista para o respectivo crime consu-
ordem. processual não foi objeto de exame mado diminuída de 1/3 (um terço) a
É o relatório. pela Corte de origem, no acórdão 2/3 (dois terços), utilizando-se como
recorrido, o que obsta a sua análi- critério, para o estabelecimento do
VOTO se no presente recurso, sob pena quantum da diminuição, o quão
A decisão agravada deve ser mantida, de se incidir em indevida supres- perto da consumação do delito o
pois a parte agravante não trouxe argu- são de instância.” (RHC 107.631/CE, autor esteve.” (TJSC, Apelação Cri-
mentos suficientes para sua alteração. Rel. Ministro JOEL ILAN PACIOR- minal n. 0802449-47.2014.8.24.0038,
Como afirmei quando do julga- NIK, QUINTA TURMA, julgado em de Joinville, rel. Des. Paulo Roberto
mento monocrático, esta Corte – HC 15/10/2019, DJe 18/10/2019) Sartorato, Primeira Câmara Crimi-
535.063/SP, Terceira Seção, Rel. Minis- “Em relação à prisão preventi- nal, j. 15-03- 2018).
tro Sebastião Reis Junior, julgado em va e ao excesso de prazo, verifica- Com relação ao caso em cote-
10/6/2020 – e o Supremo Tribunal Fe- -se que as irresignações da defesa jo, ficou demonstrado que os ape-
deral – AgRg no HC 180.365, Primeira não foram objetos de cognição lantes só não lograram concluir a
Turma, Rel. Min. Rosa Weber, julgado pela Corte de origem, o que torna subtração da res furtiva, bem como
em27/3/2020; AgR no HC 147.210, Se- inviável a sua análise nesta sede, matar a vítima, por erro de pontaria

218 REVISTA BONIJURIS I ANO 35 I EDIÇÃO 685 I DEZ23/JAN24


ACÓRDÃOS EM DESTAQUE

e porque, mesmo sendo atingida, alheias à vontade dos agentes. De rigor, 19/09/2023 a 25/09 /2023, por unanimi-
a vítima empreendeu fuga no seu pois, a manutenção da incidência do dade, decidiu negar provimento ao re-
veículo, não havendo motivos para redutor de 1/3 (um meio), sob o título de curso, nos termos do voto do Sr. Minis-
acolher o argumento de que o delito causa de diminuição de crime tentado tro Relator.
esteve longe de ser concluído. (CP, art. 14, II). Os Srs. Ministros Reynaldo Soares
Logo, não se vislumbra possibi- Ante o exposto, nego provimento ao da Fonseca, Joel Ilan Paciornik, Messod
lidade de modificar a fração de 1/3 agravo regimental. Azulay Neto e João Batista Moreira
(um terço) estabelecida pelo juízo a É o voto. (Desembargador convocado do TRF1)
quo que assim bem fundamentou” votaram com o Sr. Ministro Relator.
(e-STJ, fls. 786-787). DECISÃO Presidiu o julgamento o Sr. Ministro
A QUINTA TURMA do Superior Tri- Messod Azulay Neto.
A individualização da pena é sub- bunal de Justiça, em sessão virtual de Brasília, 26 de setembro de 2023 
metida aos elementos de convicção
judiciais acerca das circunstâncias do
crime, cabendo às Cortes Superiores
apenas o controle da legalidade e da Previdenciário
constitucionalidade dos critérios em-
pregados, a fim de evitar eventuais ar-
bitrariedades. Dessarte, salvo flagrante RESSARCIMENTO DE BENEFÍCIO
ilegalidade, o reexame das circunstân-
cias judiciais e dos critérios concretos
de individualização da pena mostram- 685.205PREVIDÊNCIA SOCIAL PODERÁ AJUIZAR
-se inadequados à estreita via do habe-
as corpus, pois exigiriam revolvimento AÇÃO REGRESSIVA CONTRA O EMPREGADOR QUE
probatório.
Como regra, o Código Penal, em DESCUMPRIR AS NORMAS DE SEGURANÇA E HIGIENE
seu art. 14, II, adotou a teoria objetiva
quanto à punibilidade da tentativa, DO TRABALHO
pois, malgrado semelhança subjetiva
com o crime consumado, diferencia
Tribunal Regional Federal da 4a Região
a pena aplicável ao agente doloso de
Apelação Cível n. 5013590-29.2018.4.04.7000
acordo com o perigo de lesão ao bem
Órgão julgador: 12a Turma
jurídico tutelado. Nessa perspectiva,
Fonte: DJ, 18.10.2023
jurisprudência desta Corte adota cri-
Relator: Desembargador Federal Luiz Antonio Bonat
tério de diminuição do crime tentado
de forma inversamente proporcional
à aproximação do resultado repre- EMENTA
sentado: quanto maior o iter criminis Administrativo. INSS. Ressarcimento ao erário. Acidente de tra-
percorrido pelo agente, menor será a
balho. 1. Conforme art. 120, I, da Lei nº 8.123/1991, “a Previdência So-
fração da causa de diminuição. Outros-
cial ajuizará ação regressiva contra os responsáveis nos casos de:
sim, quanto ao momento consumativo
do crime de roubo, nos mesmos moldes I – negligência quanto às normas padrão de segurança e higiene
do crime de furto, é assente a adoção da do trabalho indicadas para a proteção individual e coletiva (...)”.
teoria da amotio por esta Corte e pelo A constitucionalidade desse dispositivo restou reconhecida pela
Supremo Tribunal Federal, segundo a Corte Especial deste Tribunal quando do julgamento do Incidente
qual os referidos crimes patrimoniais
de Arguição de Inconstitucionalidade na AC nº 1998.04.01.023654-
consumam-se no momento da inversão
da posse, tornando-se o agente efetivo 8. 2. Não demonstrada culpa concorrente ou exclusiva do empre-
possuidor da coisa, ainda que não seja gado, nem demonstrado o fornecimento de EPI pelo empregador,
de forma mansa e pacífica, sendo pres- deve ser reconhecido o dever de ressarcimento. 3. Em relação às
cindível que o objeto subtraído saia da condenações judiciais de natureza administrativa em geral, as de-
esfera de vigilância da vítima.
cisões do Supremo Tribunal Federal no Tema 810 e do Superior
No crime de latrocínio em questão
o realizou diversos disparos de arma de Tribunal de Justiça no Tema 905 permitem concluir que se sujei-
fogo que alvejaram a vítima, atingindo- tam aos seguintes encargos: (a) até dezembro/2002: juros de mora
-a na região cervical, não se concre- de 0,5% ao mês; correção monetária de acordo com os índices
tizando somente por circunstâncias

REVISTA BONIJURIS I ANO 35 I EDIÇÃO 685 I DEZ23/JAN24 219


PREVIDENCIÁRIO

nos casos de acidente de trabalho de-


previstos no Manual de Cálculos da Justiça Federal, com desta- correntes de culpa do empregador, por
que para a incidência do IPCA-E a partir de janeiro/2001; (b) no inobservância das normas de seguran-
período posterior à vigência do CC/2002 e anterior à vigência da ça e higiene do trabalho, tendo que o
art. 7º, XXVII, da Constituição Federal
Lei 11.960/2009: juros de mora correspondentes à taxa Selic, veda-
é expresso no sentido de que é direito
da a cumulação com qualquer outro índice; (c) período posterior à do trabalhador urbano e rural o seguro
vigência da Lei 11.960/2009: juros de mora segundo o índice de re- contra acidentes de trabalho, a cargo
muneração da caderneta de poupança; correção monetária com do empregador, que não exclui “a inde-
base no IPCA-E. A partir da data da publicação da Emenda Cons- nização a que este está obrigado, quan-
do incorrer em dolo ou culpa”.
titucional nº 113/2021, contudo, incidirá, para fins de atualização
Pacífico o entendimento no sentido
monetária, de remuneração do capital e de compensação da mora, de que “O fato de a empresa contribuir
inclusive do precatório, uma única vez, até o efetivo pagamento, o para o custeio do regime geral de previ-
índice da taxa referencial do Sistema Especial de Liquidação e de dência social, mediante o recolhimento
de tributos e contribuições sociais, den-
Custódia (Selic), acumulado mensalmente, reconhecendo-se sua
tre estas aquela destinada ao seguro de
aplicabilidade imediata, sem efeitos retroativos, por se tratar de acidente do trabalho (SAT), não exclui a
legislação superveniente versando sobre consectários legais. 4. responsabilidade nos casos de acidente
Os juros moratórios devem corresponder à razão de 1% ao mês, de trabalho decorrentes de negligência
e são devidos desde o evento danoso, em conformidade com o sua às normas de segurança e higiene do
trabalho, nem permite a compensação/
enunciado da Súmula nº 54 do STJ. Na espécie, o evento danoso
dedução dos valores pagos a título da
coincide com a data em que o INSS efetua o pagamento de cada contribuição prevista no artigo 22, inci-
parcela de benefício previdenciário decorrente do acidente de tra- so II, alínea “c”, da Lei 8.212/91, durante o
balho. (TRF4, AC 5013590-29.2018.4.04.7000, décima segunda tur- período em que perdurou o vínculo de
ma, Relator Luiz Antonio Bonat, juntado aos autos em 19/10/2023) emprego com o acidentado. (TRF4, AC
5001181-27.2019.4.04.7116, TERCEIRA TUR-
MA, Relatora VÂNIA HACK DE ALMEI-
DA, juntado aos autos em 14/02/2023).
Cabe, portanto, ao INSS, requerer
ACÓRDÃO do c. STJ quanto à atualização monetá-
o ressarcimento dos custos com as
Vistos e relatados estes autos em que ria, com fluência a partir do pagamento
prestações acidentárias, atuando esse
são partes as acima indicadas, a Egré- de cada prestação do benefício (data do
ressarcimento como instrumento im-
gia 12ª Turma do Tribunal Regional evento danoso).
portante de prevenção de acidentes de
Federal da 4ª Região decidiu, por una- Sem contrarrazões, vieram os autos
trabalho.
nimidade, dar parcial provimento ao conclusos.
O direito de regresso afere a respon-
recurso de apelação, nos termos do É o relatório.
sabilidade civil subjetiva do emprega-
relatório, votos e notas de julgamento Decido.
dor, de modo que, além de sua ação ou
que ficam fazendo parte integrante do
omissão, do dano experimentado pela
presente julgado. VOTO vítima e do nexo causal entre a ação ou
Curitiba, 18 de outubro de 2023. Ação de ressarcimento omissão e o dano, deve restar compro-
Conforme art. 120, I, da Lei nº 8.123/1991, vada a culpa do empregador, nos ter-
RELATÓRIO “a Previdência Social ajuizará ação re- mos dos arts. 186 e 927 do Código Civil.
Trata-se de recurso de apelação contra gressiva contra os responsáveis nos A falha do trabalhador no curso da
sentença que julgou parcialmente pro- casos de: I – negligência quanto às nor- jornada de trabalho pode ocorrer, dada
cedente ação de ressarcimento do INSS mas padrão de segurança e higiene do sua limitação física, psíquica e biológi-
em face de empresa decorrente de aci- trabalho indicadas para a proteção in- ca, devendo o sistema de segurança es-
dente de trabalho. dividual e coletiva (...)”. tar preparado para evitar eficazmente
Apela exclusivamente o INSS (a) A constitucionalidade desse dispo- as falhas humanas.
buscando para abranger na condena- sitivo restou reconhecida pela Corte Assim, em sendo a conduta negli-
ção os benefícios futuros e sucessi- Especial deste Tribunal quando do gente do empregador em relação às
vos decorrentes do mesmo ilícito, (b) julgamento do Incidente de Arguição normas regulamentares referentes à
arguindo a impossibilidade de com- de Inconstitucionalidade na AC nº segurança e higiene no ambiente de
pensação/dedução de valores pagos à 1998.04.01.023654-8. trabalho a única causa do acidente de
título da contribuição prevista no art. O recolhimento das contribuições trabalho, há responsabilidade do em-
22, II, alínea “c” da Lei nº 8.212/91 e (c) para o seguro de acidente de trabalho pregador pelo ressarcimento da totali-
pretendendo a aplicação da Súmula 43 – SAT não exclui a responsabilidade dade dos valores pagos pelo INSS a tí-

220 REVISTA BONIJURIS I ANO 35 I EDIÇÃO 685 I DEZ23/JAN24


ACÓRDÃOS EM DESTAQUE

tulo de benefício. Em sendo a conduta nar que a jurisprudência confere espe-


negligente concorrente com negligên- cial relevo às conclusões da fiscalização
cia do empregado para a causa do aci- do Ministério do Trabalho, mormente
dente de trabalho, há responsabilidade porque parte desinteressada cujos atos
do empregador pelo ressarcimento administrativos gozam de presunção Leis
Essenciais do
somente da metade dos valores pagos de legitimidade.
pelo INSS. Por fim, se a culpa for ex-
clusiva do empregado ou hipóteses de
caso fortuito ou de força maior, não há
Situação fática
No caso dos autos, conforme relatório
Condomínio
responsabilidade do empregador. da Secretaria do Trabalho, o emprega-
No que tange ao aspecto probatório do da empresa ré sofreu acidente fatal Com [notas],
da ação regressiva, importante consig- durante manutenção em elevador que grifos e negritos
nar que a jurisprudência confere espe- sobre ele despencou, não contando
cial relevo às conclusões da fiscalização com nenhuma trava de segurança para Luiz Fernando
do Ministério do Trabalho, mormente evitar acidentes.
e Queiroz
porque parte desinteressada cujos atos A sentença foi condenatória, a qual
administrativos gozam de presunção não é impugnada pela ré para ressar-
e Olga M. Krieger
de legitimidade. cimento dos valores pagos em razão
Cabe, portanto, ao INSS, requerer da pensão por morte por acidente de
o ressarcimento dos custos com as trabalho, o que corresponde ao valor
prestações acidentárias, atuando esse do benefício previdenciário dele de-
ressarcimento como instrumento im- corrente (NB 93/179.839.040-7) parcelas
portante de prevenção de acidentes de vencidas e vincendas.
trabalho. Entretanto, o MM Juízo de primei-
O direito de regresso afere a respon- ro grau afastou outros benefícios que
sabilidade civil subjetiva do emprega- vierem a ser concedidos em razão do
dor, de modo que, além de sua ação ou acidente.
omissão, do dano experimentado pela O entendimento anda na esteira
vítima e do nexo causal entre a ação ou do posicionamento deste 12º Cole-
omissão e o dano, deve restar compro- giado, conforme TRF4, AC 5021384-
vada a culpa do empregador, nos ter- 38.2017.4.04.7000, DÉCIMA SEGUNDA Indispensável para quem
mos dos arts. 186 e 927 do Código Civil. TURMA, Relator LUIZ ANTONIO BO- procura respostas rápidas
A falha do trabalhador no curso da NAT, juntado aos autos em 17/08/2023
na legislação. Neste
jornada de trabalho pode ocorrer, dada e TRF4, AC 5003030-39.2020.4.04.7006,
sua limitação física, psíquica e biológi- DÉCIMA SEGUNDA TURMA, Relator livreto você encontra
ca, devendo o sistema de segurança es- LUIZ ANTONIO BONAT, juntado aos o essencial das regras
tar preparado para evitar eficazmente autos em 29/06/2023. sobre condomínio
as falhas humanas. Assim, eventuais outros benefícios
Assim, em sendo a conduta negli- que vierem a ser concedidos em razão
com a transcrição
gente do empregador em relação às do acidente, para além da pensão por de artigos de 20 leis
normas regulamentares referentes à morte, não podem ser objeto de conde- ordinárias brasileiras,
segurança e higiene no ambiente de nação, pois se trata de dano incerto.
com destaques para o
trabalho a única causa do acidente de A sentença, então, deve ser parcial-
trabalho, há responsabilidade do em- mente reformada no mérito para afas- conteúdo mais relevante
pregador pelo ressarcimento da totali- tar a compensação com recolhimentos de cada norma.
dade dos valores pagos pelo INSS a tí- do SAT, recolhidas conforme art. 22, II,
Compre através
tulo de benefício. Em sendo a conduta “c”, da Lei nº 8.212/91, nos termos da fun-
negligente concorrente com negligên- damentação supra.
do QR Code
cia do empregado para a causa do aci-
dente de trabalho, há responsabilidade Correção monetária e juros de mora
do empregador pelo ressarcimento Em relação às condenações judiciais de
somente da metade dos valores pagos natureza administrativa em geral, as
pelo INSS. Por fim, se a culpa for ex- decisões do Supremo Tribunal Federal
clusiva do empregado ou hipóteses de no Tema 810 e do Superior Tribunal de
caso fortuito ou de força maior, não há Justiça no Tema 905 permitem concluir
responsabilidade do empregador. que se sujeitam aos seguintes encargos: livrariabonijuris.com.br
No que tange ao aspecto probatório (a) até dezembro/2002: juros de mora
da ação regressiva, importante consig- de 0,5% ao mês; correção monetária

REVISTA BONIJURIS I ANO 35 I EDIÇÃO 685 I DEZ23/JAN24 221


PROCESSO CIVIL

de acordo com os índices previstos no


Manual de Cálculos da Justiça Federal,
com destaque para a incidência do IP- Processo Civil
CA-E a partir de janeiro/2001; (b) no pe-
ríodo posterior à vigência do CC/2002 e
anterior à vigência da Lei 11.960/2009: APLICATIVO DE MENSAGEM
juros de mora correspondentes à taxa
Selic, vedada a cumulação com qual-
quer outro índice; (c) período posterior 685.206 ALEGADA DIFICULDADE DE ENCONTRAR O
à vigência da Lei 11.960/2009: juros de
mora segundo o índice de remuneração RÉU NÃO JUSTIFICA CITAÇÃO POR MEIO DE REDES
da caderneta de poupança; correção
monetária com base no IPCA-E. SOCIAIS
A partir da data da publicação da
Emenda Constitucional nº 113/2021, con- Superior Tribunal de Justiça
tudo, incidirá, para fins de atualização Recurso Especial n. 2026925/SP
monetária, de remuneração do capital e Órgão Julgador: 3a. Turma
de compensação da mora, inclusive do
Fonte: DJ, 14.08.2023
precatório, uma única vez, até o efetivo
Relatora: Ministra Nancy Andrighi
pagamento, o índice da taxa referencial
do Sistema Especial de Liquidação e de
Custódia (Selic), acumulado mensal- EMENTA
mente, reconhecendo-se sua aplicabili- Civil. Processual Civil. Execução de título extrajudicial. Citação
dade imediata, sem efeitos retroativos,
do executado por redes sociais. Comunicação de atos processu-
por se tratar de legislação supervenien-
te versando sobre consectários legais. ais por aplicativos de mensagens e de relações sociais. Decisão e
Especificamente os juros moratórios resolução do Conselho Nacional de Justiça. Existência de norma-
devem corresponder à razão de 1% ao tivos locais disciplinando a questão de modo desigual. Ausência
mês, e são devidos desde o evento dano- de autorização legal. Lei que dispõe apenas sobre a comunicação
so, em conformidade com o enunciado
de atos processuais por correio eletrônico (e-mail). Insegurança
da Súmula nº 54 do STJ. Na espécie, o
evento danoso coincide com a data em jurídica. Necessidade de disciplina da matéria por lei, estabele-
que o INSS efetua o pagamento de cada cendo critérios, procedimentos e requisitos isonômicos para os
parcela de benefício previdenciário de- jurisdicionados. Existência de projeto de lei em debate no Poder
corrente do acidente de trabalho (TRF4,
Legislativo. Nulidade, como regra, dos atos de comunicação por
AC 5012165-02.2016.4.04.7205, 4ª Turma,
rel. Des. Federal Luís Alberto D’Azevedo
aplicativos de mensagens ou redes sociais por inobservância da
Aurvalle, juntado aos autos em 29-9-2021). forma prescrita em lei. Princípio da instrumentalidade das for-
A sentença deve ser parcialmente mas. Inaplicabilidade. Convalidação de vícios em atos processuais
reformada para determinar como ter- já praticados. Impossibilidade de validação prévia para a prática
mo a quo dos juros moratórios o pa-
de atos de forma distinta daquela prevista em lei. Dificuldade ou
gamento de cada parcela de benefício
previdenciário decorrente do acidente impossibilidade de localização do executado. Indispensabilidade
de trabalho. da citação editalícia. 1 – Ação de execução de título extrajudicial
proposta em 04⁄04⁄2016. Recurso especial interposto em 08⁄06⁄2021
Sucumbência e atribuído à Relatora em 15⁄08⁄2022. 2 – O propósito recursal é
Mantida a condenação sucumbencial.
definir se é admissível a citação do executado por intermédio de
DECISÃO suas redes sociais. 3 – A possibilidade de intimações ou de cita-
Vistos e relatados estes autos em que ções por intermédio de aplicativos de mensagens ou de relações
são partes as acima indicadas, a Egrégia sociais é questão que se encontra em exame e em debate há quase
12ª Turma do Tribunal Regional Federal uma década e que ganhou ainda mais relevo depois de o CNJ ter
da 4ª Região decidiu, por unanimidade,
dar parcial provimento ao recurso de
aprovado a utilização de ferramentas tecnológicas para a comuni-
apelação, nos termos do relatório, votos cação de atos processuais por ocasião do julgamento de procedi-
e notas de julgamento que ficam fazen- mento de controle administrativo e, posteriormente, no contexto
do parte integrante do presente julgado. da pandemia causada pelo coronavírus, pelo art. 8º da Resolução
Curitiba, 18 de outubro de 2023. 

222 REVISTA BONIJURIS I ANO 35 I EDIÇÃO 685 I DEZ23/JAN24


ACÓRDÃOS EM DESTAQUE

Ricardo Villas Bôas Cueva, Marco Au-


nº 354⁄2020. 4 – Atualmente, há inúmeras portarias, instruções rélio Bellizze e Moura Ribeiro votaram
normativas e regulamentações internas em diversas Comarcas e com a Sra. Ministra Relatora.
Tribunais brasileiros, com diferentes e desiguais procedimentos e Brasília, 08 de agosto de 2023 (data
requisitos de validade dos atos de comunicação eletrônicos, tudo do julgamento)
Ministra NANCY ANDRIGHI
a indicar que: (i) a legislação existente atualmente não disciplina
Relatora
a matéria; e (ii) é indispensável a edição de legislação federal que
discipline a matéria, estabelecendo critérios, procedimentos e re- RELATÓRIO
quisitos isonômicos e seguros para todos os jurisdicionados. 5 – A A EXMA. SRA. MINISTRA NANCY
Lei nº 14.195⁄2021, ao modificar o art. 246 do CPC⁄15, a fim de discipli- ANDRIGHI (Relator):
nar a possibilidade de citação por meio eletrônico, isto, pelo envio Cuida-se de recurso especial inter-
ao endereço eletrônico (e-mail) cadastrado pela parte, estabeleceu posto por CARBINOX INDÚSTRIA E
COMÉRCIO LTDA., com base no art.
um detalhado procedimento de confirmação e de validação dos
105, III, alíneas “a” e “c”, da Constituição
atos comunicados que, para sua efetiva implementação, pressu- Federal, contra o acórdão do TJ⁄SP que
põe, inclusive, a pré-existência de um complexo banco de dados negou provimento ao agravo de instru-
que reunirá os endereços eletrônicos das pessoas a serem citadas, mento por ela interposto.
e não contempla a prática de comunicação de atos por aplicati- Recurso especial interposto em:
vos de mensagens ou redes sociais, matéria que é objeto do PLS nº 08⁄06⁄2021.
Atribuído ao gabinete em: 15⁄08⁄2022.
1.595⁄2020, em regular tramitação perante o Poder Legislativo. 6 – A
Ação: de execução de título extraju-
comunicação de atos processuais, intimações e citações, por apli- dicial proposta pela recorrente contra
cativos de mensagens ou redes sociais, hoje, não possui nenhuma B.S.C. R. ME, proposta em 04⁄04⁄2016.
base ou autorização da legislação e não obedece às regras previs- Decisão interlocutória: indeferiu
tas na legislação atualmente existente para a prática dos referidos o pedido de citação do recorrido por
atos, de modo os atos processuais dessa forma comunicados são, meio de redes sociais por ausência de
previsão legal (fls. 389⁄390, e-STJ).
em tese, nulos. 7 – O art. 277 do CPC⁄15, embora materialize o prin-
Acórdão do TJ⁄SP: negou provimen-
cípio da instrumentalidade das formas, atua, especificamente, no to ao agravo de instrumento, nos ter-
sentido da eventual possibilidade de convalidação dos atos pro- mos da seguinte ementa:
cessuais já praticados em inobservância da formalidade legal, mas Agravo de Instrumento. Pedido de
não para validar, previamente, a prática de atos de forma distinta citação e intimação por rede social. In-
daquela prevista em lei. 8 – A identificação e a localização de uma deferimento em 1º grau. Decisão man-
tida. Impossibilidade de realização de
parte com um perfil em rede social é uma tarefa extremamente
comunicação processual por meios não
complexa e incerta, pois devem ser consideradas a existência de previstos na legislação. Respeito aos
homônimos, a existência de perfis falsos e a facilidade com que princípios do devido processo legal e
esses perfis podem ser criados, inclusive sem vínculo com dados da ampla defesa. Recurso desprovido
básicos de identificação das pessoas, bem como a incerteza a res- (fls. 396⁄399, e-STJ).
peito da entrega e efetivo recebimento do mandado de citação nos Recurso especial: alega-se, em sín-
tese, violação aos arts. 270 e 277, am-
canais de mensagens criados pelas plataformas. 9 – Na hipótese, a
bos do CPC⁄15, e ao art. 5º, § 5º, da Lei
alegada dificuldade ou impossibilidade de localização do executa-
nº 11.419⁄2006, ao fundamento de que
do e, consequentemente, de citá-lo pessoalmente, possui solução haveria autorização legal para a práti-
específica na legislação processual, que é, justamente, a citação ca do ato citatório por intermédio das
por edital (arts. 256 e seguintes do CPC⁄15), que pressupõe o esgo- redes sociais do recorrido e, ainda que
tamento das tentativas de localização da parte a ser cientificada assim não fosse, deveria privilegiado
o princípio da instrumentalidade das
da ação. 10- Recurso especial conhecido e não-provido.
formas (fls. 402⁄412, e-STJ).
Juízo prévio de admissibilidade: o
TJ⁄SP inadmitiu o recurso especial da
ACÓRDÃO taquigráficas constantes dos autos. Por recorrente, nos termos da decisão de
Vistos, relatados e discutidos estes au- unanimidade, conhecer do recurso es- fls. 415⁄417 (e-STJ), tendo sido interposto
tos, acordam os Ministros da Terceira pecial e negar-lhe provimento, nos ter- o respectivo agravo (fls. 420⁄426, e-STJ),
Turma do Superior Tribunal de Justiça, mos do voto da Sra. Ministra Relatora. convertido para melhor exame da ma-
na conformidade dos votos e das notas Os Srs. Ministros Humberto Martins, téria de fundo, especialmente porque o

REVISTA BONIJURIS I ANO 35 I EDIÇÃO 685 I DEZ23/JAN24 223


PROCESSO CIVIL

óbice apontado pela Presidência desta do pelo acórdão recorrido (fls. 396⁄399, tenta com o duplo tique azul existente
Corte para inadmitir o recurso especial e-STJ). Tanto a decisão interlocutória, no aplicativo WhatsApp, por exemplo,
(referência ao agravo do art. 1.015 e não quanto o acórdão, estão essencial- que indicaria o recebimento da men-
ao agravo do art. 1.042) era meramente mente fundados na ausência de auto- sagem, desde que assim tenha sido
formal, na medida em que a peça apre- rização legal para que seja o recorrido configurado pelo usuário; ora se exige
sentada era, em verdade, o agravo con- citado por intermédio do envio de men- o prévio cadastro e adesão do jurisdi-
tra a decisão que inadmite o recurso sagens em suas redes sociais. cionado, ora se afirma ser possível o
especial (fls. 454⁄455, e-STJ). 04) A possibilidade de intimações ato de comunicação dessa forma para
É o relatório. ou de citações por intermédio de apli- quem não aderiu; ora se afirma que a
cativos de mensagens ou de relações validade do ato de comunicação está
VOTO sociais (como, por exemplo, WhatsApp, condicionada a alguma espécie de con-
A EXMA. SRA. MINISTRA NANCY AN- Facebook, Instagram e afins) é questão firmação prévia da identidade junto
DRIGHI (Relator): que se encontra em exame e em debate ao próprio jurisdicionado (confirma-
O propósito recursal é definir se é na sociedade há quase uma década e ção de dados, videochamada, etc.), ora
admissível a citação do executado por que ganhou ainda mais relevo depois se afirma ser possível reconhecer a
intermédio de suas redes sociais. de o Conselho Nacional de Justiça, em validade se se confirmar, em consulta
1. Da admissibilidade ou não da prá- junho de 2017, ter aprovado a utiliza- às bases de dados públicas, que aquele
tica de atos processuais por meio de re- ção de ferramentas tecnológicas para telefone pertence a quem deva ser co-
des sociais. Alegada violação aos arts. a comunicação de atos processuais municado.
270 e 277, ambos do CPC⁄15, e art. 5º, § 5º, por ocasião do julgamento do Procedi- 08) Essa profunda dispersão de
da Lei nº 11.419⁄2006. mento de Controle Administrativo nº procedimentos e de requisitos de im-
01) Os dispositivos legais alegada- 0003251-94.2016.2.00.0000. plementação e de validade dos atos
mente violados possuem o seguinte 05) Outro marco importante a res- comunicados por meio de aplicativos
conteúdo: peito do tema é a Resolução nº 354⁄2020 de mensagens é um sólido indicador
CPC⁄15 de que: (i) a legislação existente atu-
Art. 270. As intimações realizam-se, Nos casos urgentes, o almente não disciplina a matéria; (ii)
sempre que possível, por meio eletrôni- é indispensável a edição de legislação
co, na forma da lei. ato processual deverá federal que discipline a matéria, esta-
Art. 277. Quando a lei prescrever de- ser realizado por outro belecendo critérios, procedimentos e
terminada forma, o juiz considerará vá- requisitos isonômicos e seguros para
lido o ato se, realizado de outro modo,
meio que atinja a sua todos os jurisdicionados.
lhe alcançar a finalidade. nalidade, conforme 09) Perceba-se que, muito recente-
(...)
determinado pelo juiz mente, foi editada a Lei nº 14.195⁄2021
Lei nº 11.419⁄2006 que, dentre outras providências, mo-
Art. 5º As intimações serão feitas por dificou substancialmente o art. 246 do
meio eletrônico em portal próprio aos do mesmo Conselho Nacional de Justi- CPC⁄15, a fim de disciplinar a possibi-
que se cadastrarem na forma do art. 2º ça, que, em seu art. 8º, estabelece que lidade de citação por meio eletrônico,
desta Lei, dispensando-se a publicação “nos casos em que cabível a citação e isto, pelo envio ao endereço eletrônico
no órgão oficial, inclusive eletrônico. a intimação pelo correio, por oficial de (e-mail) cadastrado pela parte, estabe-
§ 5º Nos casos urgentes em que a in- justiça ou pelo escrivão ou chefe de se- lecendo um detalhado procedimento
timação feita na forma deste artigo pos- cretaria, o ato poderá ser cumprido por de confirmação e de validação dos atos
sa causar prejuízo a quaisquer das par- meio eletrônico que assegure ter o des- comunicados que, para sua efetiva im-
tes ou nos casos em que for evidenciada tinatário do ato tomado conhecimento plementação, pressupõe, inclusive, a
qualquer tentativa de burla ao sistema, do seu conteúdo”. pré-existência de um complexo banco
o ato processual deverá ser realizado 06) Desde então, proliferaram por- de dados que reunirá os endereços ele-
por outro meio que atinja a sua finali- tarias, instruções normativas e regu- trônicos das pessoas a serem citadas.
dade, conforme determinado pelo juiz. lamentações internas em inúmeras 10) É importante o registro. A referi-
02) O recorrente propôs execução de Comarcas e Tribunais brasileiros, com da lei disciplina apenas a citação envia-
título extrajudicial em face do recorrido diferentes e desiguais procedimentos da a um endereço eletrônico (e-mail) da
e, diante da dificuldade em citá-lo pesso- e requisitos de validade dos atos de co- parte. Poderia ter disciplinado também
almente, pleiteou fosse deferida a cita- municação eletrônicos. os atos de comunicação por aplicativos
ção por intermédio da remessa de men- 07) Com efeito, ora se restringe o de mensagens ou de relações sociais,
sagens eletrônicas em suas redes sociais, uso desse meio de comunicação aos que é hipótese substancialmente dis-
o que veio a ser indeferido pela decisão Juizados Especiais, ora se aplica a tinta, mas optou por não o fazer, muito
interlocutória de fls. 389⁄390 (e-STJ). qualquer espécie de processo; ora se provavelmente porque está em curso
03) Interposto o agravo de instru- exige a confirmação expressa de rece- o PL nº 1.595⁄2020 que trata, especifica-
mento pelo recorrente foi ele desprovi- bimento pelo destinatário, ora se con- mente, dessa modalidade de comunica-

224 REVISTA BONIJURIS I ANO 35 I EDIÇÃO 685 I DEZ23/JAN24


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PROCESSO CIVIL

ção de atos processuais e que traça um da titularidade do número informado, ra verse sobre matéria reservada à lei e
detalhado procedimento para a valida- salvo se a alteração tiver sido devida- que se submeteria ao crivo jurisdicional,
ção da comunicação do ato: mente comunicada ao juízo. atuou positivamente diante da existên-
Art. 2º A Lei nº 13.105, de 16 de março § 8º No ato da intimação, o servidor cia de vácuo legislativo e da situação de
de 2015 (Código de Processo Civil) pas- responsável encaminhará pelo aplicati- emergência sanitária experimentada
sa a vigorar acrescida do seguinte art. vo a imagem do pronunciamento judi- em todo o território nacional, viabilizan-
270-A: cial, informando: do a realização da atividade jurisdicio-
“Art. 270-A. Poderão ser intimados I – o processo ao qual se refere o ato; nal em tempo e modo adequados.
eletronicamente por meio de aplicativo II – os nomes das partes e de seus 15) Ademais, também não há que se
de mensagens multiplataforma os advo- advogados, com o respectivo número falar em violação à regra do art. 277 do
gados e as partes que manifestarem seu de inscrição na Ordem dos Advogados CPC⁄15, que, embora materialize o prin-
interesse por essa forma de intimação. do Brasil, ou, se assim requerido, da so- cípio da instrumentalidade das formas
§ 1º A intimação será considerada ciedade de advogados; e que atenua o rigor da forma processual
cumprida se houver confirmação de III – a necessidade de confirmação e o peso da decretação de nulidade do
recebimento da mensagem por meio de do recebimento no prazo de 24 (vinte e ato praticado em desconformidade com
resposta do intimando no prazo de 24 quatro) horas para a validação da inti- a forma prevista em lei, atua, especifica-
(vinte e quatro) horas de seu envio. mação processual. mente, no sentido da eventual possibi-
§ 2º A resposta do intimando deverá 11) Diante desse cenário, a primeira lidade de convalidação dos atos proces-
ser encaminhada por meio do aplicati- conclusão é a de que a comunicação suais já praticados em inobservância da
vo, em mensagem de texto ou de voz, de atos processuais, intimações e cita- formalidade legal, mas não para validar,
utilizando-se a expressão ‘intimado(a)’, ções, por aplicativos, hoje, não possui previamente, a prática de atos de forma
‘recebido’, ‘confirmo o recebimento’ ou nenhuma base ou autorização da legis- distinta daquela prevista em lei.
outra expressão análoga que revele a lação e não obedece às regras previs-
ciência da intimação. tas na legislação atualmente existente 2. DA HIPÓTESE DOS AUTOS.
§ 3º Ausente a confirmação de rece- para a prática dos referidos atos. 16) Na hipótese em exame, a tese recur-
bimento da intimação no prazo do § 1º, sal está assentada no fato de que te-
deverá ser realizada outra intimação Presumem-se válidas riam sido empregados diversos meios
na forma ordinariamente prevista na
legislação processual.
as intimações dirigidas com o objetivo de localizar o recorrido,
sem que tenha havido, até o momento,
§ 4º A não confirmação de recebi- ao número de telefone a possibilidade de efetivação de sua ci-
mento de intimação no mesmo proces- cadastrado pelo tação pessoal.
so por 3 (três) vezes, consecutivas ou 17) Destaca-se no recurso especial,
alternadas, autorizará a exclusão do
interessado das quais ademais, que seria perfeitamente pos-
interessado do cadastro do juízo para haja conrmação sível a identificação e localização do
intimação por meio do aplicativo de de recebimento recorrido em redes sociais (Instagram
mensagens multiplataforma, vedado e Facebook), de modo que seria igual-
o recadastramento do excluído nos 6 12) Desse modo, conclui-se que o mente admissível que o mandado de
(seis) meses subsequentes. atual art. 270 do CPC⁄15 e o art. 5º, § citação fosse a ele endereçado por es-
§ 5º No ato do cadastramento, o in- 5º, da Lei nº 11.419⁄2006, nem tampou- ses meios.
teressado deverá informar o número co qualquer outro dispositivo legal, 18) Quanto ao ponto, sublinhe-se,
de telefone por meio do qual deseja ser suportam a tese recursal de que já em primeiro lugar, que existe uma regra
intimado, responsabilizando-se pelo existiria autorização legal, no sistema específica na legislação processual des-
recebimento das informações no nú- brasileiro, para essa modalidade de co- tinada às hipóteses em que não for pos-
mero informado. municação de atos processuais. sível a localização do réu para efetivação
§ 6º O cadastramento poderá ser 13) Dito de outro modo, a comunica- de sua citação pessoal, que é, justamen-
requerido em nome da sociedade de ção de atos processuais por aplicativos te, a citação por edital (arts. 256 e seguin-
advogados, devendo ser colacionado o de mensagens ou de relações sociais, tes do CPC⁄15), que pressupõe o esgota-
ato constitutivo e o nome dos advoga- isto é, de forma distinta daquela pre- mento das tentativas de localização.
dos associados, bem como a inscrição vista em lei é portadora de um vício 19) Em segundo lugar, a identifica-
na Ordem dos Advogados do Brasil. em relação à forma apto a, em tese, ção e a localização de uma parte com
§ 7º Presumem-se válidas as intima- nulificá-la. um perfil em rede social é uma tarefa
ções dirigidas ao número de telefone 14) Ainda a respeito dessa primeira extremamente complexa e incerta.
cadastrado pelo interessado das quais constatação, é igualmente importante Para ficar apenas nos exemplos de
haja confirmação de recebimento na destacar que a Resolução nº 354⁄2020 do questões problemáticas a respeito da
forma do § 2º, ainda que posteriormen- CNJ foi editada no auge da pandemia possibilidade aventada pela recorren-
te o interessado comprove que outra que cerceou milhões de pessoas do di- te, para além da falta de autorização le-
pessoa tenha confirmado o recebimen- reito de ir e vir, o que inclui os Oficiais de gal, estão a existência de homônimos, a
to – inclusive na hipótese de alteração Justiça, de modo que a resolução, embo- existência de perfis falsos e a facilidade

226 REVISTA BONIJURIS I ANO 35 I EDIÇÃO 685 I DEZ23/JAN24


ACÓRDÃOS EM DESTAQUE

com que esses perfis podem ser criados,


inclusive sem vínculo com dados bási-
cos de identificação das pessoas, bem Trabalhista
como a incerteza a respeito da entrega
e efetivo recebimento do mandado de
citação nos canais de mensagens cria- TRABALHADOR RURAL
dos pelas plataformas que poderiam,
em tese, corroborar a ciência inequívo-
ca sobre o ato citatório. 685.207A CADA PERÍODO DE 90 MINUTOS DE
20) Assim, por qualquer ângulo que
se examine a questão, descabe a pre-
TRABALHO CONSECUTIVO CORRESPONDERÁ UM
tensão de que o recorrido seja citado
por meio do envio de mensagens ele-
REPOUSO DE 10 MINUTOS NÃO DEDUZIDOS DA
trônicas às redes sociais supostamente
por ele titularizadas.
DURAÇÃO NORMAL DE TRABALHO
3. DISPOSITIVO. Tribunal Regional do Trabalho – 9a. Região
21) Forte nessas razões, CONHEÇO e Recurso Ordinário Trabalhista n. 0000676-33.2022.5.09.0023
NEGO PROVIMENTO ao recurso es- Órgão julgador: 7a. Turma
pecial, deixando de fixar ou majorar os Fonte: DJ, 28.09.2023
honorários por não ter havido sequer a Relatora: Desembargadora Rosemarie Diedrichs Pimpão
triangularização da relação processual
e porque não houve prévia fixação nas
EMENTA
instâncias ordinárias.
Trabalhador rural. Pausas previstas na NR-31 do Ministério do
CERTIDÃO Trabalho e Emprego. Aplicação analógica do art. 72 da CLT. O tra-
Certifico que a egrégia TERCEIRA balhador rural cortador de cana de açúcar faz jus aos intervalos
TURMA, ao apreciar o processo em epí-
previstos no art. 72 da CLT, analogicamente, ante a ausência de
grafe na sessão realizada nesta data,
previsão expressa da NR nº 31 do MTE acerca do tempo das pau-
proferiu a seguinte decisão:
A Terceira Turma, por unanimi- sas ali previstas, em atividades realizadas em pé ou que exijam
dade, conheceu do recurso especial e sobrecarga muscular estática ou dinâmica. Sentença mantida.
negou-lhe provimento, nos termos do
voto da Sra. Ministra Relatora.
Os Srs. Ministros Humberto Mar- ACÓRDÃO Procurador Luiz Renato Camargo Bi-
tins, Ricardo Villas Bôas Cueva (Presi- Em Sessão Virtual realizada nesta data, garelli, representante do Ministério Pú-
dente), Marco Aurélio Bellizze e Moura sob a Presidência da Excelentíssima blico do Trabalho; computados os votos
Ribeiro votaram com a Sra. Ministra Desembargadora Rosemarie Diedrichs dos Excelentíssimos Desembargadores
Relatora.  Pimpão; presente o Excelentíssimo Rosemarie Diedrichs Pimpão, Marcus

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De acordo com o novo CPC
Antônio Martelozzo

Indispensável para quem opera o processo civil,


especialmente na defesa contra violência iminente
à posse. Este remédio judicial procura impedir a 41 3323 4020
concretização de uma ameaça, evitando maiores 0800 645 4020
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REVISTA BONIJURIS I ANO 35 I EDIÇÃO 685 I DEZ23/JAN24 227


TRABALHISTA

Aurelio Lopes e Benedito Xavier da VOTO suficiência dos valores quitados pela
Silva; ACORDAM os Desembargadores Satisfeitos os pressupostos de admis- empregadora a título de reflexos da
da 7ª Turma do Tribunal Regional do sibilidade, CONHEÇO dos Recursos produção, pois a proporção correta do
Trabalho da 9ª Região, por unanimida- Ordinários interpostos e das contrarra- crédito não foi observada. Como bem
de de votos, CONHECER DOS RECUR- zões respectivas. apontou o Autor, no mês de maio/2021
SOS ORDINÁRIOS DAS PARTES, assim a remuneração paga a título de Corte
como das respectivas contrarrazões. MÉRITO de Cana Queimada (R$523,65), Repasse
No mérito, por igual votação, NEGAR Recurso da parte CONDOMÍNIO DE plantio Manual (R$ 103,92), Diárias de
PROVIMENTO AO RECURSO DA RÉ PRODUTORES RURAIS DE CANA-DE- Capina (R$ 623,52) e Atestado Médico
e DAR PROVIMENTO PARCIAL AO -AÇÚCAR – AGROCANA e OUTRO (R$ 41,67), dias de Chuva (R$ 41,67) e Cor-
RECURSO DA PARTE AUTORA para te de Cana Palha Indus (R$ 61,00) alcan-
estabelecer como base de cálculo dos RSR´S SOBRE A PRODUÇÃO çou R$1.395,43, nos 25 dias trabalhados.
honorários sucumbenciais devidos Conta na sentença: Dessa forma, a produção média diária
pela autora o valor dos pedidos julga- para o pagamento dos repousos era de
dos improcedentes, determinando a “DIFERENÇAS DE REFLEXOS DA R$55,81. Pelos 6 repousos quitados, o
suspensão de sua exigibilidade, confor- PRODUÇÃO Reclamante teria direito ao recebimen-
me decisão do STF na ADI 5766. Tudo Alega a Autor que que na modalidade to de R$ 334,86, mas apenas recebeu R$
nos termos da fundamentação. de pagamento por feixe, ou metro de 324,90.
Custas inalteradas. cana cortada, não eram pagos corre- Constatada quitação insuficiente
tamente a obreira os valores relativos dos descansos, defiro o pagamento das
RELATÓRIO aos Repousos Semanais Remunerados. diferenças de reflexos da produção em
V I S T O S, relatados e discutidos es- Postula a condenação dos Reclamados, DSR (domingos e feriados). Observar
tes autos de RECURSO ORDINÁRIO no pagamento dos valores devidos a tí- como divisor o número de dias úteis do
TRABALHISTA (1009), provenientes tulo de DSR, com as incidências legais mês (nestes incluídos os sábados), bem
da VARA DO TRABALHO DE PARA- das diferenças devidas no saldo de sa- como, o número dos descansos sema-
NAVAÍ. nais constantes dos contracheques. As
Inconformada com a r. sentença Conforme a NR-31, diferenças integram-se à remuneração,
proferida pelo Exmo. Juiz do Trabalho gerando reflexos sobre aviso prévio
FABIANO GOMES DE OLIVEIRA, que para as atividades que indenizado, férias, 13.º salários e FGTS
acolheu parcialmente os pedidos, re- forem realizadas (11,2%).
correm as partes, tempestivamente. [...]
A parte ré, em razões recursais (fls.
necessariamente em pé, Aduz a ré que “consoante demons-
499/ 504), postula a reforma da r. sen- devem ser garantidas trado, o Recorrido Reclamante recebia
tença quanto aos seguintes pedidos: a)
pausas para descanso remuneração por produção, sendo que
RSR´S sobre a produção; b) horas ex- sempre recebeu sempre recebeu os
tras – intervalo – reflexos – ausência de RSR’s sobre a média da produção aufe-
prova; e, c) honorários. lário, aviso prévio, hora extra, adicional rida, desde que não tenha faltas, conso-
A parte autora por sua vez, em ra- noturno, 13º salário, férias e 1/3 legal, ante previsão na cláusula 6ª dos ACT’s
zões recursais (fls. 514/540), postula a FGTS de 11.2%. Afirma ainda, que não juntados com a contestação, bem como
reforma da r. sentença quanto aos se- lhe era pago de modo correto o 13º sa- as férias e 13º salários eram satisfeitos
guintes pedidos: a) horas extras; fixa- lário, férias, e FGTS. Postula a condena- sobre a média da remuneração. Portan-
ção da jornada de trabalho; e, b) hono- ção do Réus a pagar a complementação to, deve ser reformada a r. decisão” (fl.
rários advocatícios. das referidas verbas, tendo por base o 501).
Custas recolhidas. ganho mensal da obreira. Analisa-se.
Depósito recursal efetuado. Os réus negam as alegações obrei- Conforme pontuado na decisão
Contrarrazões apresentadas pela ras, reconhecem o pagamento por pro- de origem, o autor logrou êxito em
parte ré. (fls. 543/547) dução, porém afirmam que a Autora demonstrar as diferenças de reflexos
Os autos não foram remetidos ao sempre recebeu os RSR sobre a produ- de produção nos descansos semanais
Ministério Público do Trabalho, em vir- ção, bem como que os valores percebi- remunerados devidos ao longo da con-
tude do disposto nos artigos 36 da Con- dos a título de produção eram todos in- tratualidade, fundamento sequer infir-
solidação dos Provimentos da Correge- tegrados em sua remuneração. Afirma mado pela parte demandada.
doria Geral da Justiça do Trabalho e 45 inexistirem diferenças. Face ao exposto, nada a prover.
do Regimento Interno deste Tribunal. Decide-se.
Acrescente-se, ainda, que a ação O Reclamante apresentou dife- HORAS EXTRAS – INTERVALO –
trabalhista foi ajuizada em 21/06/2022, renças a tal título, vide impugnação REFLEXOS – AUSÊNCIA DE PROVAS
referindo-se a liame empregatício que à contestação (fls. 470/472). De fato, Análise conjunta pela pertinência da
vigeu entre 01/05/2018 e 02/09/2021. dos contracheques constata-se a in- matéria.

228 REVISTA BONIJURIS I ANO 35 I EDIÇÃO 685 I DEZ23/JAN24


ACÓRDÃOS EM DESTAQUE

Conta na sentença: não a via trabalhando, não sabia afir-


“Conta a petição inicial que a obrei- mar os horários de trabalho da autora,
ra durante todo o seu período contratu- tampouco fez alguma declaração de
al, em todo o dia, a obreira iniciava sua que a autora registrava incorretamen-
jornada de trabalho na lavoura, por vol- te os horários de trabalho no ponto.
ta das 06h40/06h45, e a findava por vol- Sobre a frequência, a testemunha
ta das 16h10, 16h30, ou pouco mais, além Marcos confirmou que mesmo quando
disso, usufruindo um intervalo para trabalhavam em feriado, era marcado o
um descanso e alimentação, tão somen- ponto pelo fiscal. Acerca do intervalo, a
te de 30/40 minutos, sempre no sistema testemunha não soube afirmar quanto
6 X 1. Diz que nos meses de safra, dado tempo a autora fazia de intervalo. De
ao elevado volume de trabalho, ocorria qualquer forma, muito embora a tes-
de ter que trabalhar, no mês, em um, temunha Marcos tenha dito que fazia
dois, ou mais dias de domingo, nos mes- menos de uma hora, também confir-

Informação
mos horários dos dias normais. mou que a orientação da reclamada era
A Ré afirma que a jornada de tra- de que deveriam fazer uma hora de in-

que te faz
balho da Autora era integralmente tervalo, mas o depoente decidia voltar
consignada em cartão ponto. Diz que antes por conta própria, para aumen-

pensar.
até abril/2018 a obreira cumpria jorna- tar sua produção e consequente remu-
da “das 07:00 às 15:00 horas, com 01:30 neração. Assim, não há prova de que a
hora de intervalo para as refeições, de autora tenha feito menos de uma hora
segunda à sexta feira. Aos sábados, de intervalo, e, ainda que eventualmen-
laborava das 07:00 às 13:30 horas, com te o tivesse feito por sua livre iniciativa
01:00 hora de intervalo, sempre acres- e vontade, não teria como se responsa-
cidas de 01:00h “in itinere”, comple- bilizar a reclamada por esse fato.
tando jornada de 44 horas semanais, Por outro lado, a testemunha Air-
conforme previsão dos inclusos ACTs, ton, indicada pela reclamada, confir-
firmados entre os Reclamados e o sin- mou que os trabalhadores registram
dicato de classe”. Relata que a partir de corretamente a sua jornada de traba-
maio/2018 a jornada passou a ser “das lho por meio do seu crachá no equipa-
07: 00 às 16:00 horas, com 01:30 hora de mento de ponto que fica com os apon-
intervalo para as refeições, de segunda tadores. Esclareceu, também, que é o
à sexta feira. Aos sábados, laborava das próprio trabalhador que precisa passar
07:00 às 14:30 horas, com 01:00 hora de seu crachá no equipamento de ponto
intervalo, completando jornada de 44 para registrar a jornada, não sendo per- bemparana
horas semanais, conforme previsão mitido ao próprio apontador fazer esse .com.br
dos inclusos ACTs, firmados entre os registro. Confirmou, ainda, que o in-
Reclamados e o sindicato de classe” tervalo intrajornada era regularmente
Os cartões de pontos foram anexa- cumprido por todos, de uma hora, além Por menos de
dos às fls. 258/301. do que também havia depois mais um
30 centavos por dia*
A testemunha Marcos, indicada intervalo para o café de 30 minutos.
pela Autora, não foi suficiente para Quanto ao tempo supostamente
você tem acesso
desconstituir a validade dos cartões de gasto após a parada do labor na co- ilimitado a todo
ponto. lheita, a testemunha Airton confirmou conteúdo produzido.
De fato, referida testemunha con- que o ponto somente é registrado após
firmou que os trabalhadores tinham o empregado se arrumar, limpar seu Experimente
um crachá, o qual era utilizado para facão, e ir até o ônibus para o retorno por 30 dias grátis.
registrar a jornada em um equipamen- para casa. Essas atividades, portanto,
to que ficava com o apontador/fiscal já estão computadas na jornada. Sobre
da equipe. Não obstante a testemunha eventual tempo de espera até que to-
tenha dito que muitas vezes era o pró- dos estivessem dentro do ônibus para
prio apontador que registrava o pon- sua saída, mas após o trabalhador já ter
to no equipamento com o número do encerrado seu trabalho e registrado o
crachá do trabalhador, não ficou claro ponto, entendo que não deve ser com-
* Na assinatura
que essa anotação era feita incorreta- putado na jornada. de 6 ou 12
mente. Ademais, a testemunha não tra- Desse modo, não obstante tenha meses.

balhava na mesma turma que a autora, impugnado os cartões de ponto junta-

REVISTA BONIJURIS I ANO 35 I EDIÇÃO 685 I DEZ23/JAN24 229


TRABALHISTA

dos pelas Rés (fls. 258/301), a Autora não do Ministério do Trabalho, por força do (10 minutos a cada 90 minutos traba-
se desvencilhou do seu ônus de produ- art. 8º da CLT, art. 13 da Lei nº 5.889/73 lhados), da seguinte forma: 10 minutos
zir prova hábil a desconstituí-los. (trabalho rural) e art. 4º do Decreto-lei quando houver no cartão labor entre
Considerando a validade dos con- nº 4.657/42 (LINDB), aplica-se por ana- 7h e 10h; 10 minutos quando houver no
troles de ponto, cabia à Autora demons- logia o art. 72 da CLT aos trabalhado- cartão labor entre 11h e 13h; 10 minutos
trar eventual existência de diferenças res rurais que desenvolvem atividades quando houver no cartão labor no ter-
de horas extras a seu favor, nos termos necessariamente em pé ou que exijam ceiro ciclo de trabalho entre 13h30min
do art. 818, I, da CLT, ônus do qual não sobrecarga muscular estática ou dinâ- e 15h.
se desvencilhou a contento. mica, como ocorre com o cortador de Deverão ser observados ainda os
Rejeito” cana-de-açúcar. seguintes critérios de apuração: a)
[...] Nessa perspectiva, e não compro- frequência e horários constantes dos
vada a concessão, devido o pagamento cartões juntados; b) hora normal mais
INTERVALO INTRAJORNADA das pausas de 10 minutos a cada 90 mi- adicional de 50%; c) divisor equivalen-
Da análise dos cartões de ponto, não nutos laborados, como sobre jornada te ao número de horas efetivamente
constato violação ao intervalo intrajor- (hora mais adicional), nos termos do trabalhadas no mês; d) base de cálcu-
nada mínimo de 1 (uma) hora previsto art. 72 da CLT, aplicado de forma ana- lo nos termos da Súmula 264 do c.TST,
no caput do art. 71 da CLT, razão pela lógica à espécie. O pagamento possui incluído o adicional de insalubridade
qual se torna indevido o pagamento da natureza indenizatória por expressa deferido; e) tratando-se de parcela não
indenização estabelecida pelo parágra- previsão legal. quitada, não cabe falar em dedução.
fo 4º do mesmo comando legal. Pondere-se que a condenação não se Ante a natureza indenizatória das par-
Indefiro. restringe ao pagamento apenas do adi- celas, não há se falar em pagamento de
cional de horas extras, conforme preco- reflexos.
INTERVALO ART. 72 DA CLT – NR 31 nizado na Súmula nº. 340 do c. TST, por- Acolhe-se, nestes termos.”
Diz a parte autora que não era respei- quanto o empregado cortador de cana Insurge-se a ré alegando que não
tado o intervalo mínimo de 10 minutos e remunerado por produção, hipótese houve prova acerca do labor extraordi-
a cada 90 minutos trabalhados, con- nário, já que os depoimentos das partes
forme previsto na NR-31 do MTE por e testemunhas convergiram sobre o re-
aplicação analógica do artigo 72 da CLT. A lacuna da norma gistro correto dos horários de entrada
A Ré aduz que “o Reclamante exer- regulamentar e da própria e saída. Aduz que “o Recorrido Recla-
cia a função de trabalhador rural, sen- mante exercia a função de trabalhador
do gozava de intervalos para descanso
legislação trabalhista não rural, sendo gozava de intervalos para
e refeição, sendo 01 (um) de 01:00h para pode servir de justicativa descanso e refeição, sendo 01 (um) de
almoço e descanso e 00:30h. Para café
e descanso, totalizando em 01:30h de
para a denegação de 01:30h e 02 (dois) intervalos de 15 minu-
tos, totalizando em 02:00h de intervalo.
intervalo. Ademais, o art. 72 da CLT é direitos fundamentais Ademais, o art. 72 da CLT é específico
específico para os trabalhadores exe- para os trabalhadores executam ta-
cutam tarefas permanentes de meca- dos autos, tem direito ao pagamento refas permanentes de mecanografia,
nografia, o que não é o caso. Não há que das horas extras e do adicional, na for- o que não é o caso” (fl. 502). Requer a
se falar em aplicação analógica” (fl. 114). ma da OJ nº. 235 da SBDI-1 do C. TST. reforma da r. sentença para afastar a
Quanto à aplicabilidade, por analo- A testemunha A. B. confirmou que, condenação relativa às horas extras e
gia, do intervalo previsto no art. 72 da além do intervalo intrajornada de uma reflexos.
CLT aos trabalhadores rurais em aten- hora, havia também mais um interva- A seu turno, a parte autora alega
ção às pausas estabelecidas na NR 31 lo de 30 minutos para café, das 13h às que a prova oral demonstra a infide-
do MTE, a questão está pacificada pela 13h30min, o qual, inclusive, está regis- lidade dos registros de ponto, diante
Súmula n. 79 do TRT 9ª Região, cujo trado nos cartões de ponto da autora. da marcação dos horários por meio de
entendimento está em harmonia com Como se observa dos cartões de apontador, com anotação de saída em
a jurisprudência iterativa e atual do c. ponto da Autora (por ex. fl. 283), ela tra- horário de trabalho. Sobre o intervalo
TST, verbis: balhava, em regra, na jornada das 7h às intrajornada, sustenta que eram gera-
Súmula nº 79, do TRT da 9ª região. 10h, depois fazia intervalo intrajornada dos e “não anotados pelo empregado”,
Empregado rural. Atividade de corte de das 10h às 11h, depois laborava das 11h usufruídos por apenas quarenta minu-
cana-de-açúcar. Pausas para descanso às 13h, então fazia um intervalo para tos. Requer a reforma a r. sentença com
previstas na NR 31 do MTE. Aplicação o café das 13h às 13h30min, e por fim a condenação da ré no pagamento de
analógica do art. 72 da CLT. Ante a au- laborava das 13h30min às 15h. Alguns horas extras e reflexos, inclusive pela
sência de previsão legal das pausas que dias não havia labor nesse terceiro ci- infração ao intervalo intrajornada.
devem ser observadas para o trabalho clo de trabalho. Analisa-se.
nas condições previstas nos itens 31.10.7 Ante o exposto, condeno o Réu ao Trata-se de ação movida pela tra-
e 31.10.9 da Norma Regulamentar nº 31 pagamento das pausas não concedidas balhadora rural, em que alega o labor

230 REVISTA BONIJURIS I ANO 35 I EDIÇÃO 685 I DEZ23/JAN24


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nos seguintes horários: “durante todo tarem crachá para registro de ponto, o higiene estabelecidas em portaria do
o seu período contratual, em todo o procedimento era realizado pelo apon- ministro do Trabalho e Previdência
dia, a obreira iniciava sua jornada de tador, mediante memorização de todas Social”, in casu, representadas pela pró-
trabalho na lavoura, por volta das as matrículas, considerando que a tes- pria NR-31 do Ministério do Trabalho,
06h40/06h45, e a findava por volta das temunha da ré foi categórica quanto que dispõe sobre o ambiente de traba-
16h10, 16h30, ou pouco mais, além disso, ao registro de ponto pelo próprio tra- lho nas atividades da agricultura, pecu-
usufruindo um intervalo para um des- balhador. Ademais, a testemunha não ária, silvicultura, exploração florestal e
canso e alimentação, tão somente de acompanhava o intervalo intrajornada aquicultura.
30/40 minutos, sempre no sistema 6 X da autora, não servindo seu depoimen- Sobre os intervalos em apreço, pre-
1” (fl. 12). to para demonstrar a violação ao tem- coniza a NR-31:
Vieram os autos os cartões de ponto po mínimo reservado para descanso e 31.10.7 Para as atividades que forem
de fls. 230/300 com registro de horários refeição. realizadas necessariamente em pé, de-
variáveis de entrada e saída, contendo Assim, a parte autora não se desin- vem ser garantidas pausas para des-
pré-assinalação do período do interva- cumbindo do seu encargo probatório canso.
lo intrajornada (11h às 13h), conforme quanto à invalidade dos cartões de [...] 31.10.9 Nas atividades que exijam
obrigação legal disposta no artigo 74, ponto, tampouco de infração ao inter- sobrecarga muscular estática ou dinâ-
§2°, da CLT. valo intrajornada, de modo que não mica devem ser incluídas pausas para
A testemunha M. R. de O., indicada merece reparos a decisão de origem descanso e outras medidas que preser-
pela parte autora, como trabalhador que deixou de acolher tais teses. vem a saúde do trabalhador.
rural, disse que laborava na turma A, Outrossim, deixou a parte autora Conquanto não fixada a extensão
enquanto a autora na turma B; o horá- de apontar diferenças de horas extra ou a frequência exata dos descansos,
rio de trabalho é igual; cada turma tem devidas com base nos cartões de ponto, de acordo com o entendimento desta
um fiscal; o depoente não conferia os não se dirimindo do seu encargo proba- 7ª Turma, seguindo o posicionamento
espelhos de ponto e assinava; havia o tório quanto à prorrogação de jornada firmado no C. TST, no sentido de que o
registro do ponto pelo apontador por de trabalho impaga. trabalhador rural cortador de cana de
meio do número de cada trabalhador; açúcar faz jus aos intervalos previstos
começava a trabalhar às dez para sete O art. 7º, inciso XXVI, da no art. 72 da CLT, analogicamente, ante
e parava por volta das 16h; almoçava na
Constituição prevê como a ausência de previsão expressa da
roça ou no ônibus (meia hora/40min); NR nº 31 do MTE acerca do tempo das
fazia o intervalo quando era acionada direito dos trabalhadores pausas ali previstas. Tal conclusão de
buzina, mas voltava antes porque tra- urbanos e rurais, a longa data orienta as decisões, confor-
balhava por produção; trabalhava de me se extrai do precedente de nº TRT-
segunda-feira a sábado; admitiu que “redução dos riscos -PR-02771-2014-562-09-00-3 (RO), publi-
havia pessoa designada para marcar o inerentes ao trabalho” cado em 08/12/2015, de lavra do Exmo.
ponto, declinando que o importava era Desembargador Benedito Xavier da
os metros de produção; não acompa- Silva.
nhava o intervalo intrajornada da au- As atividades exercidas pela re- No mesmo sentido, a jurisprudên-
tora; não usufruía do intervalo de café; clamante são notoriamente árduas e cia do C. TST:
havia o crachá para bater o ponto, mas extenuantes, desempenhadas impe- Horas extras. Empregado rural. Ati-
servia mais para carregar; o apontador riosamente em pé, com movimentos vidade de corte de cana-de-açúcar. Pau-
sabia o número e marcava os horários repetitivos e pouco ergonômicos que sas previstas na nr-31 do ministério do
de trabalho. exigem sobrecarga muscular dinâmica. trabalho e emprego. Aplicação analógi-
A testemunha A. B. do N., inquiri- Incontroversa a não concessão das ca do art. 72 da CLT. 1. A NR-31 do Minis-
do a convite da ré, disse que trabalha pausas pois reputados indevidos pela tério do Trabalho e Emprego, aprovada
desde 2009 como apontador; coorde- ré, consoante termos da defesa apre- pela Portaria GM nº 86, de 3/3/2005,
na uma equipe na lavoura; trabalhava sentada (fl. 114). prevê a obrigatoriedade de concessão
perto da turma do reclamante e tes- O art. 7º, XXVI, da Constituição Fe- de pausas para descanso aos empre-
temunha; o registro de horário é feito deral, prevê como direito dos trabalha- gados rurais que realizem atividades
no coletor, por meio do crachá do tra- dores urbanos e rurais, a “redução dos em pé ou submetam-se a sobrecarga
balhador; não há como fazer o registro riscos inerentes ao trabalho, por meio muscular. A norma regulamentar, no
sem passar o cartão; cada cartão tem de normas de saúde, higiene e seguran- entanto, não especifica as condições
um número; não acontece de passar ça”. ou o tempo de duração de tais pausas.
o horário e o trabalhador continuar a Da mesma forma, o art. 13 da Lei 2. A lacuna da norma regulamentar e
trabalhar; havia uma hora de intervalo. 5.889/73, que estatui normas regula- da própria legislação trabalhista sobre
Não se mostra verossímil a versão doras do trabalho rural, estabelece aspecto de menor importância, rela-
da testemunha da autora no sentido que “nos locais de trabalho rural serão tivo ao modus operandi das aludidas
de que, apesar dos trabalhadores por- observadas as normas de segurança e pausas, não pode servir de justificativa

232 REVISTA BONIJURIS I ANO 35 I EDIÇÃO 685 I DEZ23/JAN24


ACÓRDÃOS EM DESTAQUE

para a denegação de direitos funda- to predominante nesta E. Tribunal, não


mentais constitucionalmente assegu- sendo de se cogitar da restrição de sua
rados ao empregado, relativos à “redu- aplicação apenas ao período posterior
ção dos riscos inerentes ao trabalho, à sua edição.
por meio de normas de saúde, higiene Face ao exposto, mantém-se. Não Tropece
e segurança” (artigo 7º, XXII, CF) e ao
meio ambiente do trabalho equilibra- HONORÁRIOS na Língua
do (artigo 225, caput, CF). Necessidade Consta na sentença:
de utilização da técnica processual de “Considerando que houve proce- Lições e
integração da ordem jurídica, median- dência parcial na presente demanda, curiosidades
te analogia. Aplicação das disposições e que o ajuizamento da ação ocorreu do português
dos artigos 8º da CLT, 126 do CPC e 4º após a entrada em vigor da Lei nº
da Lei de Introdução ao Código Civil. 3. 13.467/2017, cabíveis honorários de su-
brasileiro
Ante a ausência de previsão, na NR-31 cumbência recíproca, nos termos do § Maria Tereza de
do MTE, quanto ao tempo de descanso 3º do art. 791-A da CLT. Queiroz Piacentini
devido nas condições de trabalho lá Assim, estando ambas as partes as-
especificadas, aplica-se ao empregado sistidas por advogado particular, são
que labora em atividade de corte de devidos honorários de sucumbência
cana-de-açúcar, por analogia, a norma aos patronos de cada parte, não sujei-
do artigo 72 da CLT. Precedentes da tos a compensação, nos termos do art.
SbDI-1 do TST. 4. Embargos de que se 791-A da CLT, que ora fixo em 10% (dez
conhece, por divergência jurispruden- por cento).
cial, e a que se dá provimento. Proces- Cumpre esclarecer que o percentu-
so: E-Ag-RR – 1714-71.2010.5.15.0011. Data al foi assim fixado haja vista os requi-
de Julgamento: 05/03/2015, Relator Mi- sitos elencados no § 2º do art. 791- A da
nistro: João Oreste Dalazen, Subseção I CLT, principalmente no que se refere
Especializada em Dissídios Individuais, ao trabalho realizado pelos advogados
Data de Publicação: DEJT 13/03/2015. e o tempo exigido para o seu serviço.
Assim, impõe a manutenção da con- Os honorários devidos ao patrono
denação da ré no pagamento do inter- do autor incidirão sobre o valor bru-
valo do artigo 72 da CLT. to atualizado da condenação relativa Neste livro a professora
A par disso, não é dado ignorar que, ao(s) pedido(s) deferido(s). Por ou- Maria Tereza soluciona
sobre o tema, o e. Plenário deste TRT da tro lado, os honorários devidos ao(s) dúvidas sobre o uso
9ª Região aprovou a Súmula nº 79, apli- patrono(s) da(s) ré(s) incidirão sobre a
cável ao caso por disciplina judiciária, soma dos valores dos pedidos da ini-
cotidiano do nosso
que assim estabelece: cial, devidamente atualizados, deduzi- idioma, por meio de
“Empregado rural. Atividade de do o valor apurado em liquidação de explicações práticas e
corte de cana-de-açúcar. Pausas para sentença relativamente ao(s) pedido(s) claras, que nem sempre
descanso previstas na NR 31 do MTE. deferido(s).
Aplicação analógica do art. 72 da CLT. Ainda, havendo pluralidade de réus
se encontram nos
Ante a ausência de previsão legal das (vencedores em parte dos pedidos) os manuais de gramática.
pausas que devem ser observadas para honorários de sucumbência devidos
o trabalho nas condições previstas nos aos seus advogados deverão ser ratea-
itens 31.10.7 e 31.10.9 da Norma Regula- dos igualmente – “pro rata”, não sendo
mentar nº 31 do Ministério do Trabalho, admissível atribuir-se o percentual aci-
por força do art. 8º da CLT, art. 13 da Lei ma arbitrado para cada um deles, nos Compre através
nº 5.889/73 (trabalho rural) e art. 4º do termos do art. 87 do CPC/2015. Nesse do QR Code
Decreto-lei nº 4.657/42 (LINDB), aplica- sentido cito as seguintes ementas:
-se por analogia o art. 72 da CLT aos tra- HONORÁRIOS DE ADVOGADO.
balhadores rurais que desenvolvem ati- PLURALIDADE DE VENCEDORES.
vidades necessariamente em pé ou que ARTS. 20 PAR. 3 E 23 DO CPC. OS HO-
exijam sobrecarga muscular estática ou NORÁRIOS LEGAIS MÁXIMOS DE
dinâmica, como ocorre com o cortador 20%. Em havendo pluralidade de ven-
de cana-de-açúcar. Editada nos termos cedores, devem ser repartidos em pro-
da Resolução Administrativa 33/2017.” porção, não sendo admissível atribuir- livrariabonijuris.com.br
O referido entendimento, insta des- -se 20% para cada um deles. Recurso
tacar, apenas consolida o entendimen- Especial Conhecido e Provido Para

REVISTA BONIJURIS I ANO 35 I EDIÇÃO 685 I DEZ23/JAN24 233


TRABALHISTA

reduzir-se a verba ao percentual Máxi- Postula a ré a reformada da r. sen- § 3o Na hipótese de procedência


mo (20%) “pro rata”. (STJ – RESP 58740 tença para afastar a condenação no parcial, o juízo arbitrará honorários de
MG 1995/0000693-5, Relator: Ministro pagamento da verba honorária em vir- sucumbência recíproca, vedada a com-
Barros Monteiro, Data do Julgamento: tude do acolhimento do pleito recursal. pensação entre os honorários.
24/04 /1995, 4ª Turma; Data Da Publica- Recorre a parte autora alegando ser § 4o Vencido o beneficiário da justi-
ção: DJ 05.06.1995). indevido os honorários sucumbenciais ça gratuita, desde que não tenha obtido
PROCESSO CIVIL. HONORÁRIOS. pelo beneficiário da justiça gratuita. Ar- em juízo, ainda que em outro processo,
PLURALIDADE DE VENCEDORES Em gumenta que “o Artigo 791-A § 4º da CLT, créditos capazes de suportar a despe-
havendo pluralidade de vencedores é ao permitir que as despesas de sua su- sa, as obrigações decorrentes de sua
razoável que se fixe pro rata os hono- cumbência sejam arcadas com o crédito sucumbência ficarão sob condição sus-
rários, embora no percentual mínimo recebido na Reclamação Trabalhista, pensiva de exigibilidade e somente po-
previsto no art. 20, §3º do CPC (TRF confronta o disposto no artigo 7º, inciso derão ser executadas se, nos dois anos
4 – AC 55359 PR 95.04.55359-1 Relator: X da Constituição Federal, pois as ver- subsequentes ao trânsito em julgado
Marga Inge Barth Tessler, Data do jul- bas recebidas em Reclamação Trabalhis- da decisão que as certificou, o credor
gamento: 21/03/1997, 3ª Turma, Data da ta possuem natureza salarial” (fl. 533). demonstrar que deixou de existir a si-
Publicação: DJ 04/06 /1997). Pleiteia, sucessivamente, a redução dos tuação de insuficiência de recursos que
PLURALIDADE DE RÉUS. HONO- honorários sucumbenciais ao valor de justificou a concessão de gratuidade,
RÁRIOS EM PROPORÇÃO. A teor do meio salário mínimo, a ser rateado en- extinguindo-se, passado esse prazo,
disposto no art. 23 do CPC, os honorá- tre os ilustres procuradores, bem como tais obrigações do beneficiário.”
rios advocatícios devem ser distribuí- a suspensão de exigibilidade da parcela. Sedimentou-se o entendimento
dos proporcionalmente em favor dos A respeito dos honorários sucum- desta 7ª Turma no sentido de que a
vencedores, de modo que, afirmada a benciais, o artigo 791-A da CLT dispõe: nova regra atinente aos honorários
legitimidade da União para figurar no “Art. 791-A. Ao advogado, ainda que advocatícios na Justiça do Trabalho é
polo passivo, não se justifica a sua ex- atue em causa própria, serão devidos aplicável às ações ajuizadas na vigên-
clusão do recebimento de honorários. cia da Lei 13.467/2017, como no presente
Apelação do autor desprovida. (TRF 2 caso.
– AC 127407996.02.41726-9, Relator: De- Os honorários são No caso, como a parte autora logrou
sembargador Guilherme Couto, Data do devidos também nas êxito em parte dos pedidos, imperiosa
Julgamento: 22/10/2003, 6ª Turma, Data a manutenção da sentença para a ré ar-
da Publicação DJU 19.09.2001, pg. 122).
ações em que a parte car com os honorários sucumbenciais
Admite-se a execução conjunta dos estiver assistida ou sobre os pedidos acolhidos, à razão de
honorários devidos ao patrono da par- 10% sobre o valor de liquidação do pe-
te autora.
substituída pelo sindicato dido, crédito a ser revertido em prol do
Por fim, considerando o deferimen- de sua categoria patrono da reclamante, conforme pre-
to da justiça gratuita à parte autora, ob- visto no artigo 85 do CPC.
serve-se o disposto no § 4º do art. 791-A honorários de sucumbência, fixados Em se tratando de sucumbência
da CLT, no sentido de que “as obriga- entre o mínimo de 5% (cinco por cento) parcial, a ser considerada relativamen-
ções decorrentes de sua sucumbência e o máximo de 15% (quinze por cento) te a cada pedido deduzido, prevalece a
ficarão sob condição suspensiva de exi- sobre o valor que resultar da liquidação condenação da parte autora ao paga-
gibilidade e somente poderão ser exe- da sentença, do proveito econômico ob- mento dos honorários sucumbenciais
cutadas se, nos dois anos subsequentes tido ou, não sendo possível mensurá-lo, para os patronos da ré, a serem calcu-
ao trânsito em julgado da decisão que sobre o valor atualizado da causa. (In- lados sobre o valor atribuído a cada
as certificou, o credor demonstrar que cluído pela Lei nº 13.467, de 2017) respectivo pedido totalmente impro-
deixou de existir a situação de insufici- § 1o Os honorários são devidos tam- cedente (considerados estes o proveito
ência de recursos que justificou a con- bém nas ações contra a Fazenda Públi- econômico da ré no processo), no im-
cessão de gratuidade”. ca e nas ações em que a parte estiver porte também de 10%, pela incidência
A esse respeito, convém registrar assistida ou substituída pelo sindicato do princípio da causalidade.
que no julgamento da ADI 5.766 o STF de sua categoria. Assim, sendo a reclamante par-
declarou a inconstitucionalidade do § § 2o Ao fixar os honorários, o juízo cialmente sucumbente nos pedidos
4º do art. 791-A da CLT apenas quanto à observará: formulados na inicial, é impositivo o
expressão “desde que não tenha obtido I – o grau de zelo do profissional; pagamento de honorários sucumben-
em juízo, ainda que em outro processo, II – o lugar de prestação do serviço; ciais em favor do advogado da parte ré,
créditos capazes de suportar a despesa” III – a natureza e a importância da a teor do art. 791-A, caput, da CLT.
(vide fl. 124 do PDF integral do acórdão causa; Dado o caráter vinculante e erga
do STF c/c acórdão de ED), permane- IV – o trabalho realizado pelo ad- omnes das decisões proferidas pelo E.
cendo incólume o restante da referida vogado e o tempo exigido para o seu STF em controle concentrado de cons-
norma legal.” serviço. titucionalidade (art. 102, § 2º, da CF), e

234 REVISTA BONIJURIS I ANO 35 I EDIÇÃO 685 I DEZ23/JAN24


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tendo em vista que a parte autora é be- Trabalho da 9ª Região, por unanimida- honorários sucumbenciais devidos
neficiária da justiça gratuita, aplica-se de de votos, CONHECER DOS RECUR- pela autora o valor dos pedidos julga-
o disposto no § 4º do art. 791-A da CLT, SOS ORDINÁRIOS DAS PARTES, assim dos improcedentes, determinando a
em conformidade com a decisão defini- como das respectivas contrarrazões. suspensão de sua exigibilidade, confor-
tiva na ADI 5766 no STF. No mérito, por igual votação, NEGAR me decisão do STF na ADI 5766. Tudo
Em sessão de julgamen- PROVIMENTO AO RECURSO DA RÉ nos termos da fundamentação.
to de 12/5/2022 (RO 0000059- e DAR PROVIMENTO PARCIAL AO Custas inalteradas.
78.2021.5.09.0005), sedimentou-se o RECURSO DA PARTE AUTORA para Intimem-se.
entendimento desta Egrégia Turma, estabelecer como base de cálculo dos Curitiba, 15 de setembro de 2023.
no sentido de que o STF julgou parcial-
mente procedente o pedido formulado
na ADI 5766, para declarar inconstitu-
cional apenas a expressão “desde que
não tenha obtido em juízo, ainda que
Tributário
em outro processo, créditos capazes de
suportar a despesa”.
TRANSPORTE DE MERCADORIA
Pelo que, cabível a suspensão da
exigibilidade dos honorários advoca-
tícios da sucumbência por dois anos,
extinguindo-se a obrigação após esse
685.208DESLOCAMENTO DE MERCADORIA ENTRE
prazo, salvo demonstrada a modifica- ESTABELECIMENTOS DO MESMO TITULAR NÃO É FATO
ção na situação econômica do recla-
mante que justifique a revogação da GERADOR DE ICMS
gratuidade de justiça.
Diante do que, acolho parcialmente
o recurso da parte autora para esta-
Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais
belecer como base de cálculo dos ho-
Remessa Necessária n. 1.0024.13.119042-3/002
norários sucumbenciais devidos pela
Órgão Julgador: 5a. Câmara Cível
autora o valor dos pedidos julgados
Fonte: DJ, 26.10.2023
improcedentes, determinando a sus-
Relator: Desembargador Fábio Torres de Sousa
pensão de sua exigibilidade, conforme
decisão do STF na ADI 5766. EMENTA
Recurso da parte L. de S.
Remessa Necessária – Apelação Cível – Ação anulatória – Direito
HORAS EXTRAS – FIXAÇÃO DA
Tributário – ICMS – Transporte de mercadoria – Estabelecimentos
JORNADA DE TRABALHO do mesmo titular – Não constitui fato gerador – Sentença mantida.
Reporto-me aos fundamentos expendi- O comportamento passível de incidência do ICMS é a circulação da
dos anteriormente. mercadoria, que pressupõe ato de mercancia, para o qual concor-
rem a finalidade de obtenção de lucro e a transferência de titulari-
HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS
A insurgência da parte autora já foi
dade. Não constitui fato gerador do ICMS o simples deslocamento
apreciada de forma conjunta com o re- de mercadoria de uma localidade para a outra, sendo imprescin-
curso da parte ré. dível a circulação econômica, com a transferência de propriedade
do bem, nos termos da Súmula 166 do STJ. Sentença mantida em
DECISÃO remessa necessária. Prejudicado os recursos voluntários.
Em Sessão Virtual realizada nesta data,
sob a Presidência da Excelentíssima
Desembargadora Rosemarie Diedrichs
Pimpão; presente o Excelentíssimo ACÓRDÃO DES. FÁBIO TORRES DE SOUSA
Procurador Luiz Renato Camargo Bi- Vistos etc., acorda, em Turma, a 5ª CÂ- (RELATOR)
garelli, representante do Ministério Pú- MARA CÍVEL do Tribunal de Justiça
blico do Trabalho; computados os votos do Estado de Minas Gerais, na confor- VOTO
dos Excelentíssimos Desembargadores midade da ata dos julgamentos, em Trata-se de Remessa Necessária e Ape-
Rosemarie Diedrichs Pimpão, Marcus CONFIRMAR A SENTENÇA, EM REE- lação Cível, interposta pelo Estado de
Aurelio Lopes e Benedito Xavier da XAME NECESSÁRIO. Minas Gerais e por Neade Indústria e
Silva; ACORDAM os Desembargadores DES. FÁBIO TORRES DE SOUSA Comércio de Produtos para Elevação e
da 7ª Turma do Tribunal Regional do RELATOR Movimentação de Cargas Ltda., em face

236 REVISTA BONIJURIS I ANO 35 I EDIÇÃO 685 I DEZ23/JAN24


ACÓRDÃOS EM DESTAQUE

de sentença proferida pelo Juízo da 3ª decidiu a ADC n. 49, bem como que seja
Vara de Feitos Tributários do Estado da declarado o direito do Estado, decor-
Comarca de Belo Horizonte, nos autos rente da CF/88, de estornar o crédito
do Ação Anulatória de Débito Fiscal, das operações anteriores (relativamen-
que julgou parcialmente procedente os te aos bens saídos sem tributação), nos O Direito de
pedidos iniciais, para declarar a inexis-
tência de relação jurídico-tributária no
termos do previstos no art. 155, § 2º, inc.
II da CF/88. Ser Rude
que concerne a incidência do ICMS/ST Ausente o preparo por prerrogativa
Liberdade de
nas transferências interestaduais de do ente público, nos termos do artigo
bens e mercadorias da autora entre o 1.007, §1° do CPC.
expressão e
seu estabelecimento matriz e sua filial Em suas razões recursais a empresa imprensa
mineira. Condenou as partes o paga- Neade, 2º apelante, aduz que todos os
mento de custas e honorários advocatí- débitos lançados pelo Estado de Mi-
Max Paskin Neto
cios, calculados sobre o proveito econô- nas Gerais questionados nestes autos
mico obtido, devidamente atualizados tratam de ICMS-ST, o qual foi integral-
até a data do pagamento, na razão de mente afastada na sentença. Afirma
50% (cinquenta por cento) para cada, que, equivocadamente, o MM Juiz a
isento o Estado das custas finais. quo “sem se atentar que a integralidade
Embargos de Declaração rejeitados dos débitos foi anulada pela sentença,
à ordem 188. entendeu que a ação seria apenas par-
Em suas razões recursais o Estado cialmente procedente, condenando a
de Minas Gerais, 1º apelante, prelimi- Apelante a pagar as custas processuais
narmente, requereu o sobrestamento e honorários sucumbenciais na pro-
do feito, até julgamento dos embargos porção de 50%, equívoco esse que não
de declaração opostos na ADC nº 49. foi corrigido mesmo após a oposição
Sustenta que “se houver reconhecimen- de aclaratórios”. Defende que “obteve
to da não incidência do ICMS nas ope- êxito integral com a presente ação, não
rações relatadas pelo Impetrante (en- há que se falar em sucumbência recí- O juiz Max Paskin Neto
tre os seus estabelecimentos de mesma proca, mesmo que um ou mais argu- questiona as amarras que
titularidade, com remessa para outros mentos por ela expedidos não tenham
estabelecimentos localizados fora do sido apreciados”. Pede provimento ao
envolvem imprensa e
Estado), o Estado de Minas Gerais pre- recurso para afastar a condenação da governo e analisa o setor
tende que, na mesma decisão, haja de- apelante nos ônus sucumbenciais. de comunicações no
claração de seu direito, decorrente da Houve recolhimento do preparo à Brasil, trazendo a lume a
CF/88, de estornar o crédito das opera- ordem 192.
ções anteriores, nos termos do previsto Ambas as partes apresentaram
censura prévia existente
no art. 155, § 2º, inc. II da CF/88”. Defen- suas contrarrazões. no texto constitucional.
de que “o contribuinte deva se sujeitar É, no essencial, o relatório. Ao defender a redução
ao estorno do correspondente crédito Presentes os pressupostos de ad- do discurso politicamente
quando da entrada da mercadoria em missibilidade, conheço do recurso vo-
seu estabelecimento (cf. art. 155, § 2º, II, luntário, bem como procedo à remessa
correto, e o direito de ser
“a” e “b”, da CF/88 e arts. 20, § 3º, I e II, e necessária, nos termos do art. 496, I, do rude, o livro mexe com os
21, caput, I e II, da Lei Complementar nº CPC. conceitos do leitor.
87/96”. Afirma que o “Superior Tribunal Os recursos voluntários e a remessa
de Justiça decidiu, no exercício de sua necessária serão analisados conjunta-
função uniformizadora da interpreta- mente. Compre através
ção e aplicação do direito federal, quan- PRELIMINAR do QR Code
do do julgamento do REsp nº 13.916/SP, Inovação Recursal
que “se o imposto é devido na primeira Da análise dos autos, verifica-se que
etapa e não o é na segunda, não pode em suas razões recursais o apelante
evidentemente haver cumulação, cujo objetiva a reforma da sentença, a fim
pressuposto é que algo sem dedução se de ser determinada a suspensão do
incorpore a algo maior, o que não ocor- presente até que o STF julgue os em-
re quando este inexiste”. Pede provi- bargos de declaração opostos em face
mento ao recurso para sobrestamento do acórdão que decidiu a ADC nº. 49 ou, livrariabonijuris.com.br
do feito até julgamento dos embargos em caso de manutenção da sentença,
de declaração opostos ao acórdão que que seja reconhecido o direito do Esta-

REVISTA BONIJURIS I ANO 35 I EDIÇÃO 685 I DEZ23/JAN24 237


TRIBUTÁRIO

do para estorno dos créditos das opera- cadastro de contribuintes do Estado de Depreende-se, assim, que o com-
ções anteriores, nos termos do previs- Minas Gerais, no período de setembro portamento passível de incidência do
tos no art. 155, § 2º, inc. II da CF/88. de 2009 à janeiro de 2011, promoveu ICMS é a circulação da mercadoria,
Sabe-se que somente serão objeto operações de venda e transferência que pressupõe ato de mercancia, para
de julgamento por este Tribunal, ques- de mercadorias constantes do item 18 o qual concorrem a finalidade de ob-
tões suscitadas e discutidas no pro- da parte 2 do anexo XV do RICMS/02 tenção de lucro e a transferência de
cesso, sendo inadmissível a inovação para o Estado de Minas Gerais sem o titularidade.
recursal. recolhimento e a retenção do ICMS à Sobre o assunto ensina Leandro
Em análise detida dos autos, per- título de substituição tributária, não Paulsen:
cebe-se que o ora apelante defendeu a observando a responsabilidade que lhe “Por isso, o STF já reconheceu que:
regularidade do lançamento e a corre- foi atribuída com a celebração do Pro- “O simples deslocamento de coisas de
ta aplicação do artigo 54, inciso I, da Lei tocolo ICMS 32/2009 implementado na um estabelecimento para outro, sem
nº 6.763/75, sob os argumentos “de falta legislação tributária mineira. Demons- transferência de propriedade, não gera
de recolhimento do ICMS/ST devido trativo do crédito tributário: ICMS: direito à cobrança de ICM. O emprego
no momento da entrada em território R$1.427.357,41, MR (100%); R$1.427.357,41, da expressão ‘operações’, bem como a
mineiro de materiais de construção, Total: R$2.854.714,82 designação do imposto, no que consa-
relacionados no item 18 da Parte 2 do Observações: grado o vocábulo ‘mercadoria’, são con-
Anexo XV do RICMS/02, no período de A) integram este auto de infração o ducentes à premissa de que deve haver
setembro de 2009 a janeiro de 2011” e de relatório fiscal e os anexos 01 a 08; o envolvimento de ato mercantil e esse
“falta de inscrição estadual, no Cadas- B) o auto de início de ação fiscal foi não ocorre quando o produtor simples-
tro de Contribuintes do ICMS da Secre- entregue via postal, mediante “aviso mente movimenta frangos, de um esta-
taria de Estado de Fazenda/MG”. de recebimento”, após credenciamen- belecimento a outro, para simples pe-
Destarte, além dos argumentos uti- to prévio dos AFRE do Estado de MG, sagem”. Ainda conforme o STF: “A não
lizados pelo Apelante na Contestação conforme oficio credencial PFC-11- incidência do imposto deriva da inexis-
e manifestações anteriores à sentença, tência de operação ou negócio mercan-
em sede de Apelação pleiteou o direito til havendo, tão somente, deslocamento
de estorno dos créditos das operações O simples deslocamento de mercadoria de um estabelecimento
anteriores. de coisas de um para outro, ambos do mesmo dono, não
Desse modo, conclui-se que parte traduzindo, desta forma, fato gerador
dos pedidos foram trazidos pelo ape-
estabelecimento para capaz de desencadear a cobrança do
lante apenas na apelação, configuran- outro, sem transferência imposto”. Em outro acórdão, a ques-
do inovação recursal, notadamente tão está igualmente clara: “O ICMS
porque não foi objeto de análise pelo
de propriedade, não gera não incide no simples deslocamento
Juízo a quo. direito à cobrança de ICMS da mercadoria entre estabelecimentos
Diante disso, deve ser acolhida a de uma mesma empresa”. Também o
preliminar de inovação recursal. SE-024/2011, de 18 de maio de 2011, emi- STJ consolidou posição nesse sentido
tido pela Chefe do Posto Fiscal da Ca- através da sua Súmula 166: “Não cons-
MÉRITO pital-DRCT-1, da Secretaria da Fazenda titui fato gerador do ICMS o simples
Cinge-se a controvérsia recursal acerca do Estado de São Paulo. deslocamento de mercadoria de um
da possibilidade de exigência de ICMS Infringência/penalidade para outro estabelecimento do mesmo
no transporte de mercadorias entre es- Infringência: Lei Estad 6763 Art. 16 contribuinte”. Há precedente em sede
tabelecimentos do mesmo titular, situ- inciso I, VI, IX – Art. 16 inciso XIII – Art. de recurso repetitivo, tornando fora de
ados em outras unidades da Federação. 22 inciso II –” dúvida que: “O deslocamento de bens
In casu, a pretensão da parte au- Inicialmente, insta salientar que a ou mercadorias entre estabelecimen-
tora era a procedência dos pedidos Constituição Federal, em seu artigo 155, tos de uma mesma empresa, por si, não
iniciais para que fosse decretada a II, atribuiu aos Estados e ao Distrito se subsume à hipótese de incidência
“insubsistência do Auto de Infração nº Federal a competência tributária para do ICMS, porquanto para a ocorrên-
01.000171010.16”. instituir impostos, in verbis: cia do fato imponível é imprescindível
Constou do AI nº 01.000171016.16 Art. 155. Compete aos Estados e ao a circulação jurídica da mercadoria
que: Distrito Federal instituir impostos so- com a transferência da propriedade”,
“Relatório bre: “A circulação de mercadorias versada
Constatou-se, mediante conferen- (...) II – operações relativas à circula- no dispositivo constitucional refere-
cia de arquivos eletrônicos e consultas ção de mercadorias e sobre prestações -se à circulação jurídica, que pressupõe
ao sistema integrado de administração de serviços de transporte interestadu- efetivo ato de mercancia, para o qual
da Receita – SIARE, que o sujeito passi- al e intermunicipal e de comunicação, concorrem a finalidade de obtenção de
vo acima identificado, estabelecido no ainda que as operações e as prestações lucro e a transferência de titularidade”.
Estado de São Paulo, não inscrito no se iniciem no exterior” Vale destacar, ainda, que não importa,

238 REVISTA BONIJURIS I ANO 35 I EDIÇÃO 685 I DEZ23/JAN24


ACÓRDÃOS EM DESTAQUE

no caso, que o deslocamento físico seja O teor da citada Súmula foi reafir- berto Martins, segunda turma, julgado
interno ou interestadual; de qualquer mado pelo c. Superior Tribunal de Jus- em 06/05/2010, DJe 17/05/2010; AgRg
modo, tratando-se de deslocamento de tiça, que formou precedente vinculan- no Ag 1068651/SC, Rel. Ministra Eliana
mercadoria entre estabelecimentos de te no julgamento do REsp 1125133/SP Calmon, segunda turma, julgado em
uma mesma empresa, não é devido o (Tema Repetitivo 259): 05/03/2009, DJe 02/04/2009; AgRg no
imposto. (PAULSEN, Leandro. Curso de PROCESSUAL CIVIL. TRIBUTÁ- AgRg no Ag 992.603/RJ, Rel. Ministro
Direito Tributário Completo. 8. ed. São RIO. RECURSO ESPECIAL REPRESEN- Benedito Gonçalves, primeira turma,
Paulo: Saraiva, 2017, P.370-371) TATIVO DE CONTROVÉRSIA. ART. julgado em 17/02/2009, DJe 04/03/2009;
A norma criada pelo constituin- 543-C, DO CPC. ICMS. TRANSFERÊN- AgRg no REsp 809.752/RJ, Rel. Ministro
te derivado, por meio da EC 03/93, foi CIA DE MERCADORIA ENTRE ESTA- Mauro Campbell Marques, segunda
regulamentada por meio da Lei Com- BELECIMENTOS DE UMA MESMA turma, julgado em 04/09/2008, DJe
plementar 87/96, em atendimento ao EMPRESA. INOCORRÊNCIA DO FATO 06/10/2008; REsp 919.363/DF, Rel. Mi-
disposto no art. 155, § 2º, XII da CF/88. GERADOR PELA INEXISTÊNCIA DE nistro Luiz Fux, Primeira Turma, jul-
No Estado de Minas Gerais o ATO DE MERCANCIA. SÚMULA 166/ gado em 19/06/2008, DJe 07/08/2008) 2.
ICMS tem previsão na Lei Estadual nº STJ. DESLOCAMENTO DE BENS DO “Não constitui fato gerador de ICMS o
6.763/1975, sendo que o regime jurídico ATIVO FIXO. UBI EADEM RATIO, IBI simples deslocamento de mercadoria
deste imposto tem, ainda, a regulamen- EADEM LEGIS DISPOSITIO. VIOLA- de um para outro estabelecimento do
tação normativa infralegal feita pelo ÇÃO DO ART. 535 DO CPC NÃO CON- mesmo contribuinte.”
RICMS (Decreto nº 43.080/2002). FIGURADA. (Súmula 166 do STJ).
Analisando o conteúdo normativo, 1. O deslocamento de bens ou mer- 3. A regra-matriz do ICMS sobre
tem-se que o fato gerador do ICMS não cadorias entre estabelecimentos de as operações mercantis encontra-se
é, propriamente, a circulação física de uma mesma empresa, por si, não se insculpida na Constituição Federal de
mercadorias e bens, mas sua circulação subsume à hipótese de incidência do 1988, in verbis: “Art. 155.
jurídica, o que só ocorre com a trans- ICMS, porquanto, para a ocorrência Compete aos Estados e ao Distrito
ferência efetiva da posse ou da pro- do fato imponível é imprescindível Federal instituir impostos sobre:
priedade da mercadoria entre pessoas a circulação jurídica da mercadoria (...) II – operações relativas à circula-
distintas, através de atos tipicamente com a transferência da propriedade. ção de mercadorias e sobre prestações
mercantis. (Precedentes do STF: AI 618947 AgR, de serviços de transporte interestadu-
Nesse sentido, não constitui fato ge- Relator(a): Min. Celso de Mello, Segun- al e intermunicipal e de comunicação,
rador do ICMS o simples deslocamento da Turma, julgado em 02/03/2010, dje- ainda que as operações e as prestações
de mercadoria de uma localidade para 055 Divulg 25-03-2010 Public 26-03-2010 se iniciem no exterior;” 4. A circulação
a outra, sendo imprescindível a circula- Ement vol-02395-07 PP-01589; AI 693714 de mercadorias versada no dispositivo
ção econômica, com a transferência de agr, Relator(a): Min. Ricardo Lewan- constitucional refere-se à circulação
propriedade do bem, aplicando-se ao dowski, Primeira Turma, julgado em jurídica, que pressupõe efetivo ato
caso o enunciado da Súmula 166 do STJ: 30/06/2009, dje-157 DIVULG 20-08-2009 de mercancia, para o qual concorrem
“Não constitui fato gerador do Public 21-08-2009 Ement vol-02370-13 a finalidade de obtenção de lucro e a
ICMS o simples deslocamento de mer- PP-02783. transferência de titularidade.
cadorias de um para outro estabeleci- Precedentes do STJ: AgRg nos EDcl É bom esclarecermos, desde logo,
mento do mesmo contribuinte”. no REsp 1127106/RJ, Rel. Ministro Hum- que tal circulação só pode ser jurídica

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REVISTA BONIJURIS I ANO 35 I EDIÇÃO 685 I DEZ23/JAN24 239


TRIBUTÁRIO

(e não meramente física). A circulação o simples deslocamento da mercadoria gurança – Direito Tributário – ICMS
jurídica pressupõe a transferência (de de um estabelecimento para outro da – Estabelecimentos do mesmo contri-
uma pessoa para outra) da posse ou da mesma empresa, sem a transferência buinte – Circulação física da mercado-
propriedade da mercadoria. Sem mu- de propriedade, não caracteriza a hipó- ria – Hipótese de incidência – Inocor-
dança de titularidade da mercadoria, tese de incidência do ICMS. Preceden- rência – Repetição de indébito – Ação
não há falar em tributação por meio de tes. 2. Agravo regimental improvido. mandamental – Inadequação.
ICMS. (RE 267599 AgR, Relator(a): Min. Ellen – O transporte de bens entre esta-
(...) O ICMS só pode incidir sobre Gracie, Segunda Turma, julgado em belecimentos do mesmo contribuinte,
operações que conduzem mercadorias, 24/11/2009, DJe-232 Divulg 10-12-2009 sem a transferência de sua titularida-
mediante sucessivos contratos mer- Public 11-12-2009 Ement vol-02386-03 de, não configura hipótese de incidên-
cantis, dos produtores originários aos PP-00558 RB v. 22, n. 555, 2010, p. 39-40) cia do ICMS (STF e STJ).
consumidores finais.” (grifou-se) – O Mandado de Segurança não
(Roque Antonio Carrazza, in ICMS, Em caso semelhante já entendeu pode ser utilizado como sucedâneo de
10ª ed., Ed. Malheiros, p.36/37) este e. TJMG: ação de repetição de indébito, visando
6. In casu, consoante assentado no EMENTA: Remessa Necessária e à restituição indébito tributário an-
voto condutor do acórdão recorrido, Apelação Cível – Mandado de seguran- terior à sua impetração. (TJMG – Ap.
houve remessa de bens de ativo imobi- ça – Transferência de bens entre esta- Cível/Rem Necessária 1.0000.21.193284-
lizado da fábrica da recorrente, em Su- belecimentos de mesmo contribuinte 3/001, Relator(a): Des.(a) Alice Birchal,
maré para outro estabelecimento seu em diferentes estados da federação – 7ª CÂMARA CÍVEL, julgamento em
situado em estado diverso, devendo- ICMS – Não incidência – Inexistência 07/12/2021, publicação da súmula em
-se-lhe aplicar o mesmo regime jurídico de fato gerador – Súmula 166 do STJ e 14/12/2021)
da transferência de mercadorias entre Resp 1.125.133/SP – Sentença confirma- Aplicando esse entendimento no
estabelecimentos do mesmo titular, da em remessa necessária. caso dos autos, verifica-se que a parte
porquanto ubi eadem ratio, ibi eadem autora figura como responsável por
legis dispositio. unidades localizadas em Minas Gerais
(Precedentes: REsp 77048/SP, Rel. O ICMS possui como fato e São Paulo, restando demonstrado o
Ministro Milton Luiz Pereira, primei- direito de realizar transferências de
ra turma, julgado em 04/12/1995, DJ
gerador a circulação de mercadorias entre as mencionadas
11/03/1996; REsp 43057/SP, Rel. Ministro mercadorias que culmine propriedades, sendo devida a declara-
Demócrito Reinaldo, primeira turma,
em proveito econômico, ção de inexigibilidade do ICMS.
julgado em 08/06/1994, DJ 27/06/1994) Neste contexto, tendo em vista que
7. O art. 535 do CPC resta incólume se sendo necessária a presença a transferência de mercadorias de um
o Tribunal de origem, embora sucin- do caráter negocial estabelecimento seu situado em Minas
tamente, pronuncia-se de forma clara Gerais para outro de sua titularidade
e suficiente sobre a questão posta nos localizado em Estado diverso da Fede-
autos. Ademais, o magistrado não está 1 – O ICMS possui como fato gerador ração não se enquadra em nenhuma
obrigado a rebater, um a um, os argu- a circulação de mercadorias que culmi- das variantes da hipótese de incidência
mentos trazidos pela parte, desde que ne em proveito econômico, sendo ne- do ICMS, a sentença deve ser mantida.
os fundamentos utilizados tenham cessária a presença do caráter negocial, Por outro lado, em que pese o incon-
sido suficientes para embasar a deci- com a transferência da propriedade. formismo da 2ª Apelante, houve corre-
são. 2 – Conforme Súmula 166 do Supe- ta distribuição dos ônus sucumben-
8. Recurso especial provido. Acór- rior Tribunal de Justiça, não há que se ciais pelo MM Juiz a quo, devendo ser
dão submetido ao regime do art. 543-C falar em incidência do ICMS na hipóte- mantida por seus próprios e jurídicos
do CPC e da Resolução STJ 08/2008. se de simples deslocamento de merca- fundamentos.
(REsp 1125133/SP, Rel. Ministro dorias entre propriedades do mesmo Cumpre salientar que, a condena-
Luiz Fux, primeira seção, julgado em titular/contribuinte, haja vista a não ção em honorários advocatícios de-
25/08/2010, DJe 10/09/2010) (grifou-se) ocorrência de fato gerador (REsp n. corre do princípio da causalidade, ou
No mesmo sentido é a jurisprudên- 1.125.133/SP – Tema 259). seja, em regra, quem foi vencido ou,
cia do Supremo Tribunal Federal: 3 – Sentença confirmada em re- em casos específicos, quem deu causa
CONSTITUCIONAL E TRIBU- messa necessária. (TJMG – Ap Cível/ à propositura da ação deve arcar com
TÁRIO. AGRAVO REGIMENTAL EM Rem Necessária 1.0000.20.590555-7/002, o pagamento das despesas processuais.
RECURSO EXTRAORDINÁRIO. DES- Relator(a): Des.(a) Maria Inês Sou- Sobre o assunto leciona a doutrina:
LOCAMENTO DE MERCADORIAS. za , 2ª Câmara Cível, julgamento em A rigor, porém, a regra aplicável é a
ESTABELECIMENTOS DO MESMO 25/01/2022, publicação da súmula em da causalidade, de que a sucumbência é,
TITULAR. NÃO-INCIDÊNCIA DE 26/01/2022) tão somente, o retrato daquilo que cos-
ICMS. 1. O Supremo Tribunal Federal EMENTA: Remessa necessária tumeiramente acontece (id quod pleru-
fixou entendimento no sentido de que – Apelações cíveis – Mandado de se- mque accidit). É que, na verdade, a obri-

240 REVISTA BONIJURIS I ANO 35 I EDIÇÃO 685 I DEZ23/JAN24


ACÓRDÃOS EM DESTAQUE

gação de arcar com o custo econômico Esgotadas as matérias devolvidas, nalidade da pretensão arrecadatória
do processo, pagando as despesas pro- diante do reexame, resta prejudicada a dos estados nas transferências de
cessuais e os honorários advocatícios, apelação. mercadorias entre estabelecimentos
deve recair sobre aquele que deu causa À luz de tais considerações, ACO- de uma mesma pessoa jurídica não
ao processo (e que, na maioria das vezes LHO a preliminar suscitada de ofício, corresponde a não-incidência prevista
– mas nem sempre – sai vencido). Casos de inovação recursal, e CONFIRMO A no art.155, §2º, II, ao que mantido o di-
há em que o causador do processo sai, R. SENTENÇA, EM REEXAME NECES- reito de creditamento do contribuinte.
afinal, vencedor na causa. (...) Incumbe, SÁRIO, ficando prejudicado os recur- 3. Em presentes razões de segurança
pois, ao juiz verificar, no momento de sos voluntários. jurídica e interesse social (art. 27, da
proferir a sentença, quem deu causa ao O Estado de Minas Gerais é isento Lei 9868/1999) justificável a modula-
processo, e a ele impor a obrigação de do pagamento de custas, nos termos ção dos efeitos temporais da decisão
arcar com o custo econômico do proces- do art. 10, inciso I, da Lei Estadual nº para o exercício financeiro de 2024
so (pagando as despesas processuais e 14.939/03, devendo, contudo, restituir ressalvados os processos administra-
os honorários advocatícios). (Câmara, à apelante em observância ao disposto tivos e judiciais pendentes de conclu-
Alexandre Freitas. O novo processo ci- no art. 12, §3º, do mesmo diploma legal. são até a data de publicação da ata
vil brasileiro. 2. ed. Versão Eletrônica. DES. ROGÉRIO MEDEIROS – De de julgamento da decisão de mérito.
São Paulo: Atlas, 2016. p.86). acordo com o(a) Relator(a). Exaurido o prazo sem que os Estados
“Pelo princípio da causalidade, DESA. ÁUREA BRASIL disciplinem a transferência de crédi-
aquele que deu causa à propositura Manifesto-me de acordo com o voto tos de ICMS entre estabelecimentos
da demanda ou à instauração de inci- do eminente Relator, pedindo vênia de mesmo titular, fica reconhecido o
dente processual deve responder pelas apenas para tecer algumas considera- direito dos sujeitos passivos de trans-
despesas daí decorrentes. Isto porque, ções em complementação. ferirem tais créditos. 4. Embargos
às vezes, o princípio da sucumbência Pugnou o primeiro apelante, Esta- declaratórios conhecidos e parcial-
se mostra insatisfatório para a solução do de Minas Gerais, pela suspensão do mente providos para a declaração de
de algumas questões sobre respon- feito até o julgamento dos embargos de inconstitucionalidade parcial, sem
sabilidade pelas despesas do proces- declaração opostos na ADC n. 49. redução de texto, do art. 11, § 3º, II, da
so. Quando não houver resolução do Em que pese tal pedido esteja pre- Lei Complementar nº87/1996, excluin-
mérito, para aplicar-se o princípio da judicado, em razão do julgamento do do do seu âmbito de incidência apenas
causalidade na condenação na verba referido recurso ocorrido em 19.04.2023, a hipótese de cobrança do ICMS sobre
honorária acrescida de custas e demais reputo importante destacar que houve as transferências de mercadorias en-
despesas do processo, deve o juiz fazer modulação dos efeitos da ADC n. 49, tre estabelecimentos de mesmo titu-
exercício de raciocínio, perquirindo so- restando assim ementado o acórdão lar. (ADC 49 ED, Relator: Edson Fachin,
bre quem perderia demanda, se a ação dos embargos declaratórios: Tribunal Pleno, julgado em 19.04.2023,
fosse decidida pelo mérito”. (JUNIOR, EMBARGOS DE DECLARAÇÃO EM PROCESSO ELETRÔNICO DJe-s/n Di-
Nelson Nery; NERY, Rosa Maria de An- RECURSO AÇÃO DECLARATÓRIA DE vulg 14.08.2023 Public 15.08.2023). (Des-
drade. Código de Processo Civil comen- CONSTITUCIONALIDADE. DIREITO taques e grifos meus).
tado e legislação extravagante. 9. ed., TRIBUTÁRIO. IMPOSTO SOBRE CIR- Como se vê, foi atribuído efeito
São Paulo: Revista dos Tribunais, 2014). CULAÇÃO DE MERCADORIAS E SER- prospectivo ao julgado, que será apli-
Nos termos do que se colhe dos VIÇOS- ICMS. TRANSFERÊNCIAS DE cado a partir do exercício financeiro
autos, a parte autora pleiteava a decla- MERCADORIAS ENTRE ESTABELE- de 2024. Contudo, ressalvaram-se os
ração de nulidade integral do Auto de CIMENTOS DA MESMA PESSOA JU- processos administrativos e judiciais
Infração nº 01.000171010.16, o que não RÍDICA. AUSÊNCIA DE MATERIALI- pendentes de conclusão até a data
ocorreu. Houve a exclusão da a inci- DADE DO ICMS. MANUTENÇÃO DO de publicação da ata de julgamen-
dência do ICMS/ST nas transferências DIREITO DE CREDITAMENTO. (IN) to da decisão de mérito, qual seja,
interestaduais de bens e mercadorias CONSTITUCIONALIDADE DA AU- 04.05.2021.
da autora entre o seu estabelecimento TONOMIA DO ESTABELECIMENTO A presente ação foi ajuizada em
matriz e sua filial mineira, mantendo- PARA FINS DE COBRANÇA. MODU- 18.03.2013, muito antes, portanto, da
-se a infração por “falta de inscrição LAÇÃO DOS EFEITOS TEMPORAIS data de publicação da ata de julgamen-
estadual, no Cadastro de Contribuin- DA DECISÃO. OMISSÃO. PROVIMEN- to da decisão de mérito da ADC 49, sen-
tes do ICMS da Secretaria de Estado de TO PARCIAL. 1. Uma vez firmada a do esta, assim, aplicável desde logo ao
Fazenda/MG”. jurisprudência da Corte no sentido da caso dos autos.
Portanto, em consonância com os inconstitucionalidade da incidência Com essas considerações, acompa-
fundamentos e a orientação jurispru- de ICMS na transferência de mercado- nho integralmente o voto do em. Re-
dencial, o julgamento originário apli- rias entre estabelecimentos da mesma lator, para confirmar a sentença, em
cou de forma correta o Princípio da pessoa jurídica (Tema 1099, RG) inequí- reexame necessário.
Causalidade e sua proporção entre as voca decisão do acórdão proferido. 2. Súmula: “CONFIRMARAM A SEN-
partes. O reconhecimento da inconstitucio- TENÇA, EM REEXAME NECESSÁRIO” 

REVISTA BONIJURIS I ANO 35 I EDIÇÃO 685 I DEZ23/JAN24 241


PRÁTICA JURÍDICA

Anderson Angelo Vianna da Costa ADVOGADO PREVIDENCIARISTA

APONTAMENTOS SOBRE
A PORTARIA MPS/INSS 6

T
razemos, neste texto, nossas considera- § 3º de seu art. 2º a possibilidade da caracteri-
ções e preocupações com a nova Porta- zação acidentária nos casos em que houvesse
ria Conjunta mps/inss 6, de 21 de setem- a emissão de cat (comunicação de acidente de
bro de 2023, publicada no dou de 25 de trabalho) pelo empregador. Confira-se:
setembro de 2023, que alterou a Portaria Portaria Conjunta MPS/INSS 38, de 20 de julho de
2023:
mps/inss 38, de 20 de julho de 2023, ante o impac-
Art. 2º A concessão de benefício de auxílio por in-
to para as empresas, de forma geral, e também capacidade temporária, com dispensa da emissão
para os cofres previdenciários. de parecer conclusivo da Perícia Médica Federal
A portaria inicial1 tinha por objetivo disci- quanto à incapacidade laboral, será realizada por
meio de recepção documental pelo INSS via canais
plinar as condições de dispensa da emissão de remotos.
parecer médico conclusivo pela perícia médica [...]
(previdenciária) quanto à incapacidade laboral § 3º A concessão de benefício por incapacidade
dos segurados e nortear a concessão dos benefí- temporária de natureza acidentária por meio do-
cumental será condicionada à apresentação de
cios de incapacidade nos casos em que a perícia Comunicação de Acidente de Trabalho (CAT) emi-
presencial não pudesse ser realizada no prazo tida pelo empregador.
de 30 dias do requerimento, casos em que a ve-
rificação da incapacidade se daria por meio dos Pois bem, por força da atuação direta dos
documentos apresentados pelo segurado na- sindicatos dos bancários junto ao Ministério
quela via eletrônica. da Previdência e ao inss, a redação acima foi
A possibilidade da perícia médica indireta e alterada, sendo excluída sua parte final, per-
documental foi estendida para além daqueles mitindo como suficiente para a caracterização
casos inicialmente previstos em que não seria acidentária a apresentação de cat, emitida por
possível a realização da perícia presencial, o que quaisquer dos legitimados. Confira-se a nova
se fez por meio da Portaria Conjunta mps/inss 38, redação:
de 20 de julho de 2023, publicada no dou de 21 de § 3º A concessão de benefício por incapacidade tem-
porária de natureza acidentária por meio documental
julho de 2023. A partir de sua publicação, a pos- será condicionada à apresentação de Comunicação
sibilidade da realização da perícia documental de Acidente de Trabalho (CAT). (Redação do pará-
passaria a ser uma opção do segurado, não vin- grafo alterada pela Portaria Conjunta MPS/INSS 6, de
21.09.2023)
culada à impossibilidade da perícia presencial2.
Outra inovação importante: na portaria ini- Vamos lembrar aqui quem são os legitima-
cial, de 2022, havia a ressalva de que não caberia dos à emissão da cat: “o próprio acidentado,
a concessão do benefício na espécie acidentária, seus dependentes, a entidade sindical compe-
restrita à perícia presencial, restrição afastada tente, o médico que o assistiu ou qualquer auto-
posteriormente pela Portaria 38, que trouxe no ridade pública” (Lei 8.213/91, art. 22, § 2º).

242 REVISTA BONIJURIS I ANO 35 I EDIÇÃO 685 I DEZ23/JAN24


Anderson Angelo Vianna da Costa PRÁTICA JURÍDICA

Por força da atuação sindical, a redação da portaria foi alterada,


permitindo como suciente para a caracterização acidentária a
apresentação da Comunicação de Acidente de Trabalho (CAT)

Quais as nossas preocupações com essa alte- pelo período de 12 meses contados da cessação
ração em relação às empresas? do benefício, que poderá ser ainda renovada
a) As cats serão lançadas e acolhidas no sis- posteriormente mediante novo requerimento
tema sem qualquer análise em relação à veraci- e concessão de um novo benefício acidentário;
dade da incapacidade, dos fatos narrados ou do d) Essa possibilidade de emissão de cat para
nexo causal nela denunciados; todos os demais legitimados provocará uma
b) Tal qual já ocorre hoje, os terceiros legiti- elevação no número de benefícios concedidos
mados não emitem as vias obrigatórias às em- na espécie acidentária, produzindo impactos
presas. Assim, as empresas não terão conheci- trabalhistas e tributários (aumento da alíquo-
mento de sua emissão. Provavelmente, somente ta fap – fator acidentário de prevenção), o que
serão informadas da acidentalidade quando da reforça a necessidade de um acompanhamento
concessão do benefício na espécie acidentária mais cuidadoso por parte das empresas;
(momento em que também não haverá a infor- e) Em relação à possibilidade de elevação
mação da cat emitida), o que tornará necessá- tributária pelo aumento do fap, devemos aten-
rio um acompanhamento mais amiúde desses tar também para o art. 6º da Portaria Conjunta
afastamentos; mps/inss 38 de 20 de julho de 2023, que assim
c) Já tínhamos uma preocupação que essa dispõe:
concessão virtual fosse utilizada como subter- Art. 6º. Para os benefícios concedidos mediante o
procedimento estabelecido nesta Portaria não se apli-
fúgio por trabalhadores recém-desligados das ca o restabelecimento do benefício anterior, previsto
empresas, permitindo-lhes requererem o bene- no § 3º do art. 75 do Regulamento da Previdência
Social, aprovado pelo Decreto nº 3.048/99, de 6 de
fício no curso do aviso prévio e, com isso, alcan-
maio de 1999.
çarem a suspensão das rescisões. Agora, com
a possibilidade da caracterização acidentária E aqui, torna-se necessária uma explicação.
pela mera apresentação de cat, além da rein- Nos termos deste citado art. 75, quando um
tegração, os empregados em processo de des- mesmo benefício for concedido no prazo de 60
ligamento alcançarão também a estabilidade dias contados da cessação do benefício anterior,
acidentária prevista no art. 118 da Lei 8.213/91, em decorrência do mesmo motivo que ensejou

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REVISTA BONIJURIS I ANO 35 I EDIÇÃO 685 I DEZ23/JAN24 243


APONTAMENTOS SOBRE AbPORTARIA MPS/INSS 6

Havendo a hipótese de emissão da CAT pelo próprio segurado, ca evidente


a possibilidade de afastar a carência exigida, obrigando o INSS a conceder
um benefício ao qual o segurado não teria direito a receber

o primeiro afastamento, o inss deveria repetir Logo, fica evidente que, havendo a hipótese
o número daquele primeiro benefício, como se de emissão da cat pelo próprio segurado, isso
tivesse havido sua prorrogação, resultando em poderá ser utilizado com o objetivo de afastar
duas consequências: a empresa não seria obri- a carência exigida, obrigando o inss a conceder
gada ao pagamento dos primeiros 15 dias quan- um benefício, ao qual o segurado não teria di-
do do segundo afastamento e, não sendo con- reito a receber.
cedido um novo número ao benefício, o novo E mais ainda: o valor do benefício de incapa-
afastamento não seria contabilizado no cálculo cidade permanente acidentária será superior ao
do fap. valor do benefício não acidentário, conforme dis-
Agora, nos termos da redação da portaria, posto no art. 26, §§ 2º e 3º, da ec 103/19, o que pro-
que afasta a aplicação do referido § 3º do art. duzirá reflexos, inclusive, num eventual posterior
75, o novo afastamento ensejará a concessão de benefício de pensão por morte, o qual será con-
um novo benefício, com um novo número. cedido ao dependente por um período maior que
Havendo um novo número, no extrato fap aquele que seria devido se o benefício não fosse
constarão os dois benefícios, como se fossem acidentário (vide texto da Lei 8.213/91, arts. 75 a 77,
distintos os motivos de seus afastamentos. com destaque para o § 2º deste último artigo).
Essa duplicidade de lançamento provocará a E, por fim: a concessão de um benefício de in-
elevação do coeficiente de frequência e de gra- capacidade temporária na modalidade aciden-
vidade e, por extensão, da alíquota fap final. tária poderá resultar na concessão indevida de
Além da certeza de que tal medida provocará um benefício indevido de auxílio-acidente, pre-
a elevação tributária, não fica afastada a pos- visto nos arts. 18 e 86 da Lei de Benefícios, o que
sibilidade de a empresa vir a ser obrigada ao não ocorreria se o benefício não fosse concedi-
pagamento redundante dos primeiros 15 dias do como acidentário.
do segundo afastamento, ante a concessão de A concessão deste benefício indevido, a ser
novo benefício. pago de forma vitalícia ou até quando o segura-
Sem qualquer sombra de dúvida, essa porta- do se aposentar, representará uma nova fonte
ria se revela ilegal e inconstitucional por vários de gastos, desequilibrando ainda mais a balan-
aspectos, que passam pela caracterização dos ça do déficit da previdência.
acidentes, pela ofensa ao direito à ampla defe- Fica evidente, assim, que o aumento indiscri-
sa e contraditório e também pelo descabimento minado no número de benefícios acidentários
em permitir uma elevação tributária pela mera resultará no aumento dos gastos previdenciá-
opção do segurado em utilizar-se da via virtual rios, com prejuízo para toda a sociedade.
ou presencial para requerer seu benefício.
Para além do impacto negativo para as em- QUAIS MEDIDAS AS EMPRESAS DEVEM
presas, causam-nos preocupação os impactos OU PODERIAM ADOTAR?
que essa nova portaria trará para a própria pre- Reiteramos que as empresas devam acompa-
vidência. nhar com mais atenção os afastamentos de seus
A requisição de benefícios com a emissão de empregados, não deixando de se manifestar, na
cat afastará a carência exigida aos novos segu- via administrativa, contra os nexos aplicados.
rados do regime geral (para a concessão dos be- Considerando que essas cats emitidas por
nefícios de incapacidade, exige-se a carência de 12 terceiros serão irregulares, sobretudo pela au-
meses, nos termos do art. 26, ii, da Lei 8.213/91, que sência de investigação do nexo causal, outra
ficará afastada se o afastamento for acidentário). medida igualmente importante a ser adotada

244 REVISTA BONIJURIS I ANO 35 I EDIÇÃO 685 I DEZ23/JAN24


Anderson Angelo Vianna da Costa PRÁTICA JURÍDICA

A portaria ofende a legislação vigente no que concerne à caracterização


dos acidentes do trabalho e das enfermidades laborativas ao
desprezar o contraditório e a ampla defesa das empresas

pelas empresas é a impugnação das referidas teralmente aos seus emitentes e acatadas pelo
comunicações quando delas tomarem conheci- inss, sem qualquer análise concreta do nexo
mento, requerendo, ao inss, a não caracteriza- causal, tornando necessária e urgente a insur-
ção acidentária. gência judicial por parte das empresas, com o
De forma mais agressiva, será possível às propósito de afastar as consequências indese-
empresas se insurgirem contra os emitentes jáveis que recairão sobre elas. 
das cats quando perceberem que sua emissão
se fez de forma leviana ou em desalinho às
normas vigentes, sobretudo contra os médicos Anderson Angelo Vianna da Costa. Advo-
emitentes, nos casos em que tiverem laudado gado previdenciarista e consultor de em-
sem observarem as resoluções do Conselho Fe- presas. Sócio do escritório Vilela Vianna
deral de Medicina. Advocacia e Consultoria. Administrador de
Por fim, em nosso olhar, a presente portaria empresas, especialista em Gestão de Recur-
ofende a legislação vigente no que concerne à sos Humanos. Professor convidado dos cur-
caracterização dos acidentes do trabalho e das sos de pós-graduação de direito previden-
enfermidades laborativas, na medida em que ciário e de direito empresarial da univali/
afasta a investigação do acidente, assim como sc, e de pós-graduação em direito tributário
ofende o texto constitucional, por afastar ou da Universidade Positivo/pr. Autor do livro
dificultar a ampla defesa e o contraditório das “Gestão dos Afastamentos e dos Benefícios
empresas em relação ao nexo causal anotado Previdenciários”, da Editora lujur.
nas cats, que passa a ser agora atribuído unila-

NOTAS
1. A primeira portaria a trazer essa perícia in- dezembro de 2022, que veio a sofrer nova alte- 2. Na prática, era possível ao segurado fazer a op-
direta foi a Portaria Conjunta MTP/INSS 7, de ração pela Portaria Conjunta MPS/INSS 38, de ção para a perícia presencial quando pretendesse
28 de julho de 2022, posteriormente alterada 20 de julho de 2023. ver reconhecido o nexo causal, ainda que a realiza-
pela Portaria Conjunta MTP/INSS 47, de 29 de ção da perícia previdenciária fosse mais demorada.

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REVISTA BONIJURIS I ANO 35 I EDIÇÃO 685 I DEZ23/JAN24 245
ALÉM DO DIREITO

“É obrigação do cidadão pleitear seus


BROCARDOS direitos. Quem pleiteia seus direitos está
Nemo contra se edere
tenetur. ajudando a garantir o direito de todos”
(Ninguém é obrigado a agir (Ruy Barbosa Nogueira)
contra os seus próprios
interesses.)
In dubio contra fiscum.
(Em caso de dúvida, deve-se
julgar contra o fisco.)
OLHO POR OLHO, DENTADURA
Ira non excusat delictum. POR DENTADURA
(A ira não justifica o crime.)

O
Pedrinho Drosófila, que recebeu esse apelido por ser
Judex est peritus peritorum.
(O juiz é o perito dos peritos.) magro e zoiúdo, perdeu um dente da frente – incisivo
central, em “odontologês” – e correu ao consultório
Homo homini lupus.
(O homem é o lobo do da doutora Akemi, na Praça 18 de Março, em Tibagi, para
próprio homem.) providenciar reposição. A doutora, recém-chegada de
Maringá, colocou uma prótese e acertou com o paciente,
Ex facto oritur jus.
(Do fato se origina o direito.) homem de poucas posses, o pagamento em vinte parce-
las mensais.
Cogitationis poenam nemo
patitur. Ele pagou as duas primeiras e deixou a dentista a ver
(Não se pode punir alguém navios. Até que um dia, tempos depois, a doutora Akemi
apenas pelo que pensou.) estava em frente ao consultório e avistou o inadimplente
do outro lado da rua. Chamou-o, disfarçando a contrarie-
dade com um sorriso forçado.
TRÊS CITAÇÕES – Que bom que você apareceu, drosófila, tá bem na
VENENOSAS época de fazer a tua revisão. Venha, tô com tempo livre
Os homens nascem iguais, agora.
mas no dia seguinte já são Constrangido, sem desconfiar do real intento da den-
diferentes. tista, o integrante da ordem dos dípteros entrou no
(Barão de Itararé) consultório. Doutora Akemi o anestesiou e removeu o
pivô.
s – Tua prótese vai ficar aqui comigo – avisou a douto-
O bom do Juízo Final é ra. – Depois que você terminar de me pagar, eu coloco de
que será sem advogados. volta. E suma daqui.
(Sofocleto) É Tibagi mais uma vez criando tendências desta feita
na seara histórico-jurídica, ao adaptar a Lei de Talião –
s aquela do olho por olho, dente por dente –, famoso dispo-
Consulte sempre um sitivo do Código de Hamurabi, a um contrato celebrado
advogado. Você tem sob a égide do nosso Código Civil. E até onde se saiba, foi
direitos. Consulte sempre a primeira busca e apreensão de chapa dental da história
um psiquiatra. Você tem
do Paraná.
avessos.
(Rubem Alves) (Eduardo Mercer)

246 REVISTA BONIJURIS I ANO 35 I EDIÇÃO 685 I DEZ23/JAN24


ALÉM DO DIREITO

A HISTÓRIA DO “PENDURA”
O “pendura” nasceu no início do, do PRA, então um partido o “convite” e a hospitalidade,
do século 20. Conta-se que era da direita, convidado por na- enaltecendo a data, os colegas,
comum os donos de restauran- morar uma das acadêmicas a faculdade de origem, o direi-
tes convidarem os acadêmicos integrante do Movimento 23 to e a justiça.
para brindar a fundação dos de Junho, apaixonado pela
cursos jurídicos, no dia 11 de moça e pela cerveja, tardou a
agosto, e oferecer-lhes, gratui- reagir e foi preso. O que moti-
APELO AO DELEGADO
tamente, comida e bebida. Só vou três estudantes a trajarem O verdadeiro “pendura” pode
depois, quando os cursos se terno e gravata, apresentarem- ser aceito ou rejeitado. No pri-
multiplicaram (e os acadêmicos -se como “advogados” chama- meiro caso, ficará incompleto.
também), a tradição se trans- dos pelo enamorado detido, Agora, se rejeitado, deve par-
formou em afronta e resultou e, lamentando o ocorrido, ex- tir dos estudantes de direito a
no clássico “pedir, comer, beber, plicarem a tradição, livrando iniciativa de chamar a polícia,
agradecer, a gorjeta nunca es- o “cliente” da polícia, sempre de preferência dirigindo-se to-
quecer, e sair sem nada pagar”. chamada nessas horas. dos à delegacia mais próxima,
Contam-se causos famosos. o que sempre é favorável dian-
te da empatia do delegado de
Como nos anos 1950, quando RECEITA DO “PENDURA” plantão.
no restaurante Carlino, loca-
Aqui cabe repassar a receita do
lizado no Largo do Paissandu,
verdadeiro “pendura”. Deve ser
em São Paulo, estudantes de
iniciado com a entrada discre- A LUTA CONTINUA
direito, passando-se por res-
ta no restaurante, em peque- Não há crime na tradição do
ponsáveis pela campanha de
nos grupos, para não chamar a “pendura”. Aqueles que despre-
Hugo Borghi ao governo do
atenção. As roupas devem ser zam a tradição, “pendureiros”
estado, marcaram um jantar
compatíveis com o local esco- frustrados que sempre deseja-
em homenagem ao candida-
lhido. Ocupa-se mesa central, ram “pendurar”, sem coragem
to. No dia, o “candidato-fake”
bem visível. O pedido deve ser para tal, confundem a tradição
e toda sua equipe chegaram e
normal, sem exageros, admi- com o tipo penal no qual o su-
entregaram-se ao banquete.
tindo-se inclusive frutos do jeito realiza refeição sem que
Após emocionado discurso,
mar e carnes raras. tenha condições para seu paga-
Borghi agradeceu e assinou a
Quanto à bebida, é neces- mento, caracterizando o crime.
conta para ser “paga” no diretó-
sária, mas de forma comedida, No “pendura”, o estudante tem
rio central do PTN. Se foi paga,
pois servirá para embalar o dis- meios para pagar a refeição, o
ninguém sabe, ninguém viu.
curso de agradecimento ao gen- que descaracteriza o delito, de
til “convite” da casa. Em demasia, modo que, embora tenha di-
SALVOU-O O ENGRAVATADO pode transformar o discurso e o nheiro no bolso, não o fará em
Outro “pendura” grandioso “pendura” num desastre. respeito à tradição e à rebeldia
aconteceu no Restaurante Ao final, após a inevitável que caracteriza um bom acadê-
Franciscano, na rua da Conso- sobremesa, pede-se a conta, mico. Sim, a luta continua.
lação, também na capital pau- lembrando-se de detalhe que
lista. A casa era famosa pelo nunca pode ser desrespeitado:
chope da Brahma e pela boa o pagamento dos 10% da gor-
VERSOS PARA FINALIZAR
carne. Teve discurso, homena- jeta do garçom. Nisso, o líder Garçom, tira a conta da mesa
gens, agradecimentos, muita e orador deverá levantar-se e E põe um sorriso no rosto
carne, cerveja, gorjeta religiosa começar a discursar, sempre Seria muita avareza
e correria na saída. Dessa vez, saudando o estabelecimento e Cobrar no 11 de agosto
um estudante de nome Ricar- seu proprietário, agradecendo (Rodrigo Portela)

REVISTA BONIJURIS I ANO 35 I EDIÇÃO 685 I DEZ23/JAN24 247


ALÉM DO DIREITO

JURISPRUDENCIAIS
Caçador SURRA DE CINTA DEVOLUÇÃO JUSTA
de Estrelas “Desferir golpes com cinto ou
‘cintadas’ não pode ser conside-
“Mãe que paga ao filho alimentos
‘in natura’, cuja obrigação era do
Coleção rado ‘ato socialmente aceitável’ pai, possui o direito a ser ressar-
quando realizado pelos pais, in- cida quando tais despesas são
Helena Kolody
clusive sob o pretexto de correi- revertidas em favor da criança/
Adélia Woellner ção tradicional, pois o legislador adolescente.” (STJ, REsp 1658165)
pátrio optou por proteger a vida
e a incolumidade de crianças e
adolescentes.” (REsp 1324976)
DEVEDOR DE ALIMENTOS
“O fato de o devedor de alimen-
tos estar recolhido à prisão pela
MULHER GRÁVIDA prática do crime não afasta a sua
“A agravante do art. 61, II, h, do CP obrigação alimentar, tendo em
(crime praticado contra mulher vista a possibilidade de desempe-
grávida) é de natureza objetiva, e nho de trabalho na prisão ou fora
deve ser aplicada independente- dela.” (STJ, REsp 1882798)
mente do conhecimento do esta-
do gravídico da vítima pelo réu.”
(AgRg no HC 582200)
IMPEDIMENTO DE NOMEAÇÃO
“É constitucional lei municipal
Com leveza e
que impede a nomeação a car-
ludicidade, os poemas CRIMES CONTINUADOS gos públicos de condenados por
de Adélia Woellner “A fração de aumento em razão crimes cometidos em contexto
nos levam à conclusão da prática de crime continuado de violência doméstica e familiar
de que cada momento deve ser fixada de acordo com contra a mulher.” (RE 1308883)
tem seu tempo, sendo o número de delitos cometidos,
inútil antecipar o que aplicando-se 1/6 pela prática de
duas infrações, 1/5 para três, 1/4 PEDOFILIA
ainda não veio à tona.
para quatro, 1/3 para cinco, 1/2 “A vasta quantidade e variedade
Cavalgando cometas para seis e 2/3 para sete ou mais do material apreendido (compu-
para caçar estrelas, o infrações.” (Súmula 659 do STJ) tadores, CDs, DVDs, HDs, pendri-
leitor descobrirá que ves) e o fato de a conduta apura-
também é uma estrela, CUIDADOS ESPECIAIS da fomentar o tráfego em sites na
e que o seu brilho é “É possível a concessão de ali-
deepweb e darkweb são elemen-
diferente e único. mentos por tempo indetermina-
tos aptos a justificar o aumento
da pena-base.” (AgRg no AREsp
do para mulher cujo filho neces-
2387464)
Compre através sita de cuidados especiais e se
do QR Code vê impossibilitada de trabalhar.”
(STJ, REsp 1188399) SEM IMPEDIMENTO
“Filhos podem atuar como tes-
VIOLÊNCIA SEXUAL NA ESCOLA temunha em processo de divór-
“A violência sexual sofrida por cio dos pais” (STJ, REsp 1947751).
aluna nas dependências de pré- Para o STJ, os impedimentos do
dio público (escola, universidade, CPC não são aplicáveis quando
livrariabonijuris.com.br etc.) gera ao Estado o dever de a testemunha possui vínculo de
indenizar.” (STJ, AgRg no REsp parentesco idêntico com ambas
1060856) as partes.

248 REVISTA BONIJURIS I ANO 35 I EDIÇÃO 685 I DEZ23/JAN24


ALÉM DO DIREITO

COISAS DO DIREITO VACILOS JURÍDICOS


Minha filha me perguntou
WALKING DEAD por que não poderia simples- Poema que
Faço estágio, trabalho, co- mente largar a escola. Eu ex- Vale a Pena
mecei meu TCC, estudo no pliquei que é contra a lei e eu
noturno e me encontro mui- poderia ser presa. Ela olhou Coleção
to bem, apesar da magreza, bem nos meus olhos e disse: Helena Kolody
“Eu vou te visitar”.
das olheiras, das rugas, do Joatan Marcos
cansaço e dessa sensação *** de Carvalho
esquisita de falência múlti- Trabalhei com um advogado
pla de órgãos. Assinado: Ga- que, para justificar sua inexpe-
briel, 22 anos. riência, dizia aos clientes: “Des-
culpe, é meu primeiro dia”. Fez
DECISÃO IMPORTANTE isso por mais de dois anos.
DO STJ ***
Motel deve pagar direitos Querido diário, hoje passei
autorais pela reprodução pela minha primeira expe-
de música em seus quartos. riência com um caso penal.
(REsp 1873611) Meu cliente foi condenado a
30 anos. Tenho certeza de que
O HORROR irá aprender com os erros.
#PartiuAcademia Poema Que Vale a Pena
De aluno para aluno: “Como
é uma antologia da
assim, você não vai partici- ***
par da formatura? É só R$ 8 obra de Joatan Marcos
É sério, fui assinar o contra-
mil por pessoa”. de Carvalho. Inclui 40
to com meu advogado e fiz
questão de ler todos os itens. versos publicados no livro
PENSOU ERRADO Depois da cláusula sexta, ele Giramundo (2010) e 47
Quando o advogado diz incluiu a cláusula “sábado”. de Punhado de Horas
“vou despachar”, o que o (2013), além de 100
***
cliente imagina? títulos inéditos. De leitura
É fácil falar para um advoga-
acessível, é uma excelente
do que só é doutor quem tem
PROIBIDO doutorado. Quero ver chegar
escolha para quem aprecia
Recuse o beijo nas condi- na roda de capoeira e dizer que a arte da poética.
ções a seguir tipificadas: po- mestre é quem tem mestrado.
licial na condição de suspei- *** Compre através
to, advogado na condição de do QR Code
Cinco anos de direito, dois de
cliente e professor na condi-
mestrado, quatro de doutora-
ção de aluno.
do e tudo o que digo quando
alguém me questiona sobre
GRANDES MOMENTOS as lides jurídicas é “depende”.
DA GRADUAÇÃO ***
Meu orientador foi como
– O que te impede de ser você livrariabonijuris.com.br
um pai para mim: totalmen-
mesmo? – O Código Penal. 
te ausente.

REVISTA BONIJURIS I ANO 35 I EDIÇÃO 685 I DEZ23/JAN24 249


NÃO TROPECE NA LÍNGUA

Maria Tereza de Queiroz Piacentini


LICENCIADA EM LETRAS E MESTRE EM EDUCAÇÃO PELA UFSC.
REVISORA DA CONSTITUIÇÃO DE SANTA CATARINA DE 1989
linguabrasil@linguabrasil.com.br

Perguntas e respostas: em madeira, que ocorrem de modo mais ou menos


bóton, shhh, nunca+ninguém espontâneo e que não derivam de outras
palavras, a exemplo de psiu!, que além
Dizer “estrutura EM madeira, tecido,
de um chamamento também exprime
malha” é aceito? Ou teria que ser
“silêncio!, calada!”
“estrutura DE madeira, tecido, malha etc.”?
Apesar de haver certa tendência a usar
***
a prep. em (por causa de traduções do
francês, principalmente), considera-se erro Fui corrigido porque falei o seguinte:
de regência dizer por exemplo “estrutura “Nunca ninguém havia me dito isso”. O
em madeira”, porque aí está subentendido argumento foi de que não se deve cumular
o particípio do verbo fazer, e em português “nunca” e “ninguém”. Procede?
se diz “feito DE alguma coisa”. Exagerou quem disse isso. Em português,
Vale observar como falamos “menos com menos dá mais”, ou seja, usam-
normalmente: anel [feito] de ouro, blusa se duas negações na mesma oração, como
de lã, casa de madeira, casaquinho de se vê nestes exemplos:
malha, colar de prata, construção de Não é nada disso.
pedra, grade de ferro, olho de vidro, pia de
aço inoxidável, taça de cristal, tecido de Nunca fez nada tão lindo.
algodão, e assim por diante. Nunca chamou ninguém para ajudá-la.
Eu te amo como ninguém nunca te
*** amou.
Qual é a forma correta de se escrever esta Não temos orgulho nenhum. [variação:
palavra: bóton ou botton? Não temos orgulho algum]
O botão ou espécie de broche (geralmente
E poderíamos dizer que Mário Quintana
redondo, com mensagens políticas, frases
errou neste poema? Está no seu livro A Cor
espirituosas, desenhos, símbolos etc.,
do Invisível, de 1989:
que se usa por modismo ou para indicar
a adesão a algum movimento, causa, Nunca
ideia) é hoje designado bóton, uma forma Nunca ninguém sabe se estou louco para
aportuguesada do inglês “button”. rir ou para chorar…
Por isso o meu verso tem
*** esse quase imperceptível tremor...
Não encontrei nos dicionários: Shhh! pode A vida é triste, o mundo é louco!
ser considerada interjeição? Nem vale a pena matar-se por isso.
Nem por ninguém.
Certamente shhh! é uma interjeição Por nenhum amor…
– usada para pedir silêncio –, pois há A vida continua, indiferente! 
interjeições de vários tipos, como aquelas

250 REVISTA BONIJURIS I ANO 35 I EDIÇÃO 685 I DEZ23/JAN24


250 REVISTA BONIJURIS I ANO 35 I EDIÇÃO 685 I DEZ23/JAN24
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AGENDA DE EVENTOS

AGENDA 2023 ABRIL


2º ICC Tokyo Arbitration Day
DIA 23.04
O Direito nos DEZEMBRO Tóquio – Japão
Tribunais I Jornada dos Direitos
Superiores Humanos – Online Congresso Baiano de Direito
das Famílias e das Sucessões
Coordenação de
DIAS 10 E 11.12
J. S. Fagundes Cunha
DIAS 25 A 27.04
Salvador/BA
ICC YAAF: Supply Chain
Disputes – Lessons Learned
and Future Trends
DIA 13.12 MAIO
Frankfurt – Alemanha XVIII Conferência de
Arbitragem Internacional do
Rio de Janeiro
DIA 14.05
AGENDA 2024 Rio de Janeiro/RJ

FEVEREIRO
IX Congresso Brasileiro de
A obra reúne 40 Direito Penal
artigos de juristas 19ª ICC Mediation Competition DIAS 17 E 18.05
renomados, doutores, DIAS 05 A 10.02 Fortaleza/CE
magistrados, convidados Paris – França
internacionais e nomes XV Simpósio Nacional de
como Arruda Alvim, 12ª ICC MENA Conference on Direito Constitucional
Flávia Piovesan, José International Arbitration DIAS 30 A 01.06
Augusto Delgado e Luiz
Guilherme Marinoni,
DIAS 26 E 27.02 Curitiba/PR
Dubai – Emirados Árabes Unidos
além dos ministros Dias
7RŜROL/XL](GVRQ)DFKLQ
e Mauro Luiz Campbell
JUNHO
Marques. MARÇO 29ª Jornada Internacional de
Direito
8ª ICC European Conference on
Compre através International Arbitration DIA 14 E 15.06
Gramado/RS
do QR Code DIAS 18 A 20.03
Paris – França

Congresso Brasileiro de Direito


do Agronegócio
AGOSTO
III Congresso de Direito
DIA 19.03 Previdenciário da AAPREV
livrariabonijuris.com.br São Paulo/SP DIAS 15 A 17.08
Recife/PE

252 REVISTA BONIJURIS I ANO 35 I EDIÇÃO 685 I DEZ23/JAN24


ÍNDICE REMISSIVO

Temático-Onomástico

A ANDERSON VIANNA DA COSTA Citação recebida por terceiro/


Apontamentos sobre a portaria ementa, 196
ACÁCIA SOARES DE SÁ MPS INSS6/prática, 242 Colaboração (delação) premiada
Conciliação na administração ANTONIO SALDANHA unilateral?/tribuna livre, 20
pública e o princípio da PALHEIRO Colisão de veículo com ressolagem
eficiência/tribuna livre, 17 Ação penal incondicionada/ de pneu deixado em rodovia/
Ação contra o empregador que ementa, 178 acórdão, 200
descumprir as normas de Apontamentos sobre a portaria Competência/súmula, 167
segurança e higiene do trabalho/ MPS INSS6/prática, 242 Compra e venda/ementa, 176
acórdão, 219 Aposentadoria de professor/ Compromisso de compra e venda/
Ação de usucapião/ementa, 172 súmula, 167 súmula, 167
Ação penal incondicionada/ Aposentadoria mista/ementa, 184 Concessão de bolsas/legislação,
ementa, 178 Aquisição de tênis falsificado por 164
Acidente de trabalho/ementa, 193 meio de plataforma de vendas/ Conciliação na administração
acórdão, 202 pública e o princípio da
Acórdão do TJ que julga agravo
Arbitragem internacional, 46 eficiência/tribuna livre, 17
interno é impugnável?/doutrina,
Arcabouço fiscal/ponto final, 258 Concorrência criminal/ementa, 180
72
ASSUSETE MAGALHÃES Contrarrazões/súmula, 166
ADALBERTO XISTO PEREIRA
Infração de trânsito/ementa, 170 Contrato intermitente, 94
Regressão de pena/ementa, 180
Autarquia e empresa pública/ Cooperativa de crédito/súmula, 167
ADELMO JOSÉ PEREIRA
Crime de resistência/ementa, 180
Acórdão do TJ que julga agravo súmula, 167
Culpa exclusiva da vítima/ementa,
interno é impugnável?/ Autoridade de trânsito/legislação,
192
doutrina, 72 165
Auxílio-aluguel/legislação, 165
Agravo prejudicado/ementa, 190
Avaliação imobiliária/ementa, 176
D
AIRTON VIEIRA
Concorrência criminal/ementa, Danos morais/ementa, 174
180 B DENIS CARAMIGO VENTURA
Álbum de figurinhas/ementa, 173 O crime de ato obsceno e os
BENEDITO GONÇALVES estudantes de medicina/
ALCIDES GUSMÃO DA SILVA
Prestação continuada/ementa, tribuna livre, 18
Normas em edital/ementa, 168
185 Desenrola Brasil/legislação, 164
Plano de saúde/ementa, 172
Benefício diverso do requerido/ Deslocamento de mercadoria não
ALEXANDRE LUIZ RAMOS
súmula, 166 é fato gerador de ICMS/acórdão,
Culpa exclusiva da vítima/
236
ementa, 192
C Devolução de valores/súmula, 167
Alienação de imóvel/ementa, 177
Diferencial de alíquota/ementa, 196
ALTAIR ANTONIO GREGÓRIO Celular apreendido/súmula, 166
Diminuição da pena no crime
Pensão por morte/ementa, 186 Cidades inteligentes e o papel da
tentado/acórdão, 217
Aluno aprendiz/ementa, 182 sociedade civil/seleção do editor,
ALVARO CIARLINI 146
Tutela provisória/ementa, 186 CID CAPOBIANGO DE MOURA
E
ANA CRISTINA BLASI Importância da transmissão ao EDUARDO MERCER
Saque indevido/ementa, 184 vivo dos pregões/doutrina, 124 Olho por olho, dentadura por
ANA LÚCIA LOURENÇO Citação do executado por redes dentadura/além do direito,
Juros de mora/ementa, 170 sociais/acórdão, 222 246

254 REVISTA BONIJURIS I ANO 35 I EDIÇÃO 684 I OUT/NOV 2023


ÍNDICE REMISSIVO

EDUARDO MILLÉO BARACAT HÉLIO DO VALLE PEREIRA


Terceirização/ementa, 192 Citação recebida por terceiro/
Circulação de sentença arbitral ementa, 196
estrangeira/doutrina, 46
ELIANA PAGGIARIN MARINHO
Vacância de cargo/ementa, 169
HERMAN BENJAMIN Dulce
Aluno aprendiz/ementa, 182 Aposentadoria mista/ementa, Fernandes
Entrega de imóvel/ementa, 174 184
Entrega de imóvel/súmula, 167 Diferencial de alíquota/ementa, de Queiroz
ERIC TADEU DO VALE LIMA 197
Vantagens e desvantagens Receitas, raízes
do contrato intermitente/ I e recordações
doutrina, 94
ICMS, 14 Mª Tereza
EUTÁLIO PORTO
Imunidade tributária/ementa, Imóvel irregular/ementa, 176 Piacentini
198 Importância da transmissão ao e Simone de
Exigibilidade do débito fiscal/ vivo dos pregões/doutrina, 124 Queiroz Yunes
ementa, 194 Imunidade tributária/ementa, 198
Inelegibilidade/súmula, 166
Infração de trânsito/ementa, 170
F INSS, 242
Instituição do tributo/ementa, 198
FÁBIO SANTOS MUNIZ Intempestividade/ementa, 188
Revisão de taxas/ementa, 172 Intimação pessoal/súmula, 167
FÁBIO TORRES DE SOUSA IRINEU STEIN JUNIOR
Deslocamento de mercadoria Danos morais/ementa, 174
não é fato gerador de ICMS/
acórdão, 236 J
Falta grave/súmula, 166
FÁTIMA RAFAEL JESUÍNO RISSATO
Imóvel irregular/ementa, 177 Tráfico privilegiado/ementa, 180
Dulce Fernandes de
FERMINO MAGNANI FILHO JOÃO BATISTA SILVEIRA
Colisão de veículo com LOAS/ementa, 185
Queiroz, que teria
ressolagem de pneu deixado JOÃO OTÁVIO NORONHA completado 100 anos em
em rodovia/acórdão, 200 Habitação vitalícia/ementa, 172 2019, é a personagem
Risco administrativo/ementa, 168 JONATHAN MARCANTONIO que inspirou a reunião
FERNANDO SWAIN GANEM Arcabouço fiscal/ponto final, 258 de receitas, raízes e
Avaliação imobiliária/ementa, Jornada de trabalho/ementa, 190
JOSÉ FERNANDO SIMÃO
recordações neste livro
176
FERNANDO TAVERNARD LIMA Jurista brasileiro tem por hábito ilustrado com fotos
Aquisição de tênis falsificado por criticar o sistema sem oferecer históricas e pratos de
meio de plataforma de vendas/ soluções/entrevista, 22 uma culinária afetiva.
acórdão, 202 JOSÉLIA APARECIDA KÜCHLER
Responsabilidade tributária/ Cidades inteligentes e o papel Compre através
ementa, 198 da sociedade civil/seleção do do QR Code
FRANCISCO FALCÃO editor, 146
Serviço rural/ementa, 182 JOSÉ VICTOR MOUTA
Tempestividade recursal/ementa, Revisão judicial dos juros
189 bancários/tribuna livre, 11
Fundos para reparação de danos/ Juiz das garantias/artigos de capa,
legislação, 164 32, 38
Juízes/legislação, 162
Juízo competente/ementa, 186 livrariabonijuris.com.br
H
Julgamento antecipado/ementa,
Habitação vitalícia/ementa, 170 188

REVISTA BONIJURIS I ANO 35 I EDIÇÃO 684 I OUT/NOV 2023 255


ÍNDICE REMISSIVO

Jurista brasileiro tem por hábito MARIA TEREZA DE QUEIROZ Penhora de imóvel alienado
criticar o sistema sem oferecer PIACENTINI fiduciariamente por dívida
soluções/entrevista, 22 Perguntas e respostas condominial/acórdão, 208
Juros de mora/ementa, 170 em madeira, bóton, shhh, Penhora/ementa, 190
nunca+ninguém/não tropece Pensão por morte/ementa, 185
L na língua, 250 Perícia socioeconômica/súmula, 166
MARIO LUIZ RAMIDOFF Plano de saúde/ementa, 172
Lançamento de tributo/ ementa, Agravo prejudicado/ementa, 190 Prazo de permanência/súmula,
198 MARLENE FUVERKI 166
Legislação de trânsito/ementa, 169 SUGUIMATSU Precedente/súmula, 167
Legitimidade ativa/ementa, 197 Local de trabalho/ementa, 194 Pregão, 124
Lei 14.592/23 é inconstitucional/ Materialidade delitiva/ementa, 178 Prestação continuada/ementa, 185
tribuna livre, 14 MAURÍCIO GODINHO DELGADO
Previdência privada/ementa, 182
LEO FURTADO ARAUJO Risco do empreendimento/
Princípio da eficiência, 17
Crime de resistência/ementa, 181 ementa, 193
Licitação, 124 Processo produtivo básico/
MAURICIO SILVA MIRANDA
Lista de espera na educação básica/ legislação, 162
Proventos do servidor público/
legislação, 165 Promessa de compra/ementa, 177
ementa, 170
LOAS/ementa, 184 Medida cautelar/ementa, 178 Promoção vertical/ementa, 168
Local de trabalho/ementa, 194 Medidas estruturantes e a proteção Proteção de crianças e
LUCAS ZAPATER BERTONI de direitos fundamentais/ adolescentes/legislação, 165
Lei 14.592/23 é inconstitucional/ doutrina, 100 Proventos do servidor público/
tribuna livre, 14 MORAIS PUCCI ementa, 169
LUCIMEIRE MARIA DA SILVA Rescisão de aluguel/ementa, 177
Penhora/ementa, 190 R
Vício oculto/ementa, 173 N
LUIS FELIPE SALOMÃO RAFAELA MENDONÇA ALVES
Entrega de imóvel/ementa, 174 Nacionalidade/legislação, 162 Importância da transmissão ao
Usucapião extraordinária/ NANCY ANDRIGHI vivo dos pregões/doutrina, 124
ementa, 188 Citação do executado por redes RAUL ARAÚJO
LUIZ ANTONIO BONAT sociais/acórdão, 222 Penhora de imóvel alienado
Ação contra o empregador Normas em edital/ementa, 168 fiduciariamente por dívida
que descumprir as normas condominial/acórdão, 208
de segurança e higiene do O Recurso especial eleitoral/súmula,
trabalho/acórdão, 219 166
LUIZ EDUARDO GUNTHER O crime de ato obsceno e os Redistribuição de valores/súmula,
Acidente de trabalho/ementa, 194 estudantes de medicina/tribuna
167
livre, 18
Reforma previdenciária/tribuna
M O debate sobre a revisão da
livre, 10
reforma previdenciária/tribuna
Regressão de pena/ementa, 180
MARCO VINÍCIUS SCHIEBEL livre, 10
RENATO CARVALHO ROBERGE
Promoção vertical/ementa, 168 OSMAR MOHR
MARCUS GOMES Juízo competente/ementa, 188 Promessa de compra/ementa, 178
Supremo reduz o papel do juiz O STF e o juiz das garantias/capa, RENEE DO Ó SOUZA
das garantias/capa, 32 38 Colaboração (delação) premiada
MARCUS RIOS GONÇALVES unilateral/tribuna livre, 20
Ação de usucapião/ementa, 172 P Reparação de dano/súmula, 167
MARIA ISABEL GALLOTTI Rescisão do aluguel/ementa, 177
Álbum de figurinhas/ementa, 174 PAULO SÉRGIO DOMINGUES Responsabilidade tributária/
Compra e venda/ementa, 176 Lançamento de tributo/ementa, ementa, 197
Previdência privada/ementa, 184 198 Revisão de taxas/ementa, 172
MARIA IVATÔNIA Tomada de contas/ementa, 169 Revisão judicial dos juros
Intempestividade/ementa, 188 Pausas previstas em lei/acórdão, bancários/tribuna livre, 11
Vaga de garagem/ementa, 176 227 RIBEIRO DANTAS
Diminuição da pena no crime
tentado/acórdão, 217

256 REVISTA BONIJURIS I ANO 35 I EDIÇÃO 684 I OUT/NOV 2023


ÍNDICE REMISSIVO

Risco administrativo/ementa, 168 Terceirização/ementa, 192


Risco do empreendimento/ementa, Terras indígenas/legislação, 162
192 THEREZA CRISTINA GOSDAL
ROBERTO APOLINÁRIO DE Jornada de trabalho/ementa, 190
CASTRO Tomada de contas/ementa, 169
Legislação de trânsito/ementa, Trabalhador inapto/ementa, 194
169 Tráfico de drogas/ementa, 181
RODRIGO PORTELA Tráfico privilegiado/ementa, 178
A história do “pendura”/além do Tutela provisória/ementa, 186
direito, 247 TUTMÉS AIRAN
ROGÉRIO SANCHES CUNHA Instituição do tributo/ementa,
Colaboração (delação) premiada 198
unilateral/tribuna livre, 20
RÔMULO DE ANDRADE U
MOREIRA
O STF e o juiz das garantias/capa, Usucapião extraordinária/ementa,
38 188
ROSEMARIE DIEDRICHS PIMPÃO
Pausas previstas em lei/acórdão, V
227
ROSIRIS AMADO RIBEIRO Vacância de cargo/ementa, 168
Trabalhador inapto/ementa, 194 Vaga de garagem/ementa, 174
VALDECIR EDSON FOSSATTI
Verbas devidas/ementa, 192
S VANESSA MASCARENHAS DE
SANDRA REGINA PIRES ARAÚJO
Circulação de sentença arbitral Medidas estruturantes e
estrangeira/doutrina, 46 a proteção de direitos
Saque indevido/ementa, 184 fundamentais/doutrina, 100
Segurado especial/súmula, 166 Vantagens e desvantagens do
Seguridade social/súmula, 166 contrato intermitente/doutrina,
SERGIO LUIZ PATITUCCI 94
Materialidade delitiva/ementa, VERA ANDRIGHI
178 Alienação de imóvel/ementa, 177
Serviço rural/ementa, 181 Verbas devidas/ementa, 192
Supremo reduz o papel do juiz das Vício oculto/ementa, 173
garantias/capa, 32 VOLNEI CELSO TOMAZINI
Julgamento antecipado/ementa,
189
T
TÂNIA AHUALLI W
Exigibilidade do débito fiscal/
WAGNER BALERA Acesse pelo
ementa, 194 QR Code
Legitimidade ativa/ementa, 197 O debate sobre a revisão da
TELMO CHEREM reforma previdenciária/
Medida cautelar/ementa, 178 tribuna livre, 10
Tempestividade recursal/ementa, WILLIAN CAMPOS
189 Tráfico de drogas/ementa, 181 n

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REVISTA BONIJURIS I ANO 35 I EDIÇÃO 684 I OUT/NOV 2023 257


PONTO FINAL

Guilherme Champs ADVOGADO, SÓCIO-FUNDADOR DO CHAMPS LAW

Arte: Giovana Tows


A NOVA REALIDADE DOS ASSESSORES DE INVESTIMENTO

P
assados mais de dez anos da indústria de investimentos figura de consultor e assessor)
da última norma regula- perante os investidores. Não se tem aproximadamente 400 mil
tória da atividade dos as- trata, portanto, de somente dar profissionais habilitados. Ou
sessores de investimento transparência aos investidores, seja, aproximadamente um ad-
– Instrução cvm 497/11, substi- mas de informá-los sobre todos visor para 800 habitantes – em
tuída pela rcvm 16/21 –, fruto de os passos do processo. comparação, o Brasil tem um
um momento conturbado do Da resolução rcvm 16/21, assessor para 9,7 mil habitantes.
mercado de capitais (pós-crash quase nada sobrou. Também Vale dizer que saímos de
mundial de 2008, iniciado pela pudera: segundo dados oficiais uma pecha de conflito aparen-
crise do subprime, termo que da Bolsa de Valores de São Pau- te para um voto de confiança
se refere a empréstimos conce- lo (B3), da Comissão de Valores do regulador brasileiro para
didos a pessoas com alto risco Mobiliários e da Associação que esses profissionais, agora
de crédito, isto é, com pouca Nacional das Corretoras de Va- reconhecidamente empresá-
estabilidade financeira para lores, atualmente o mercado de rios, dotados de real autono-
pagar contas), o mercado foi, capitais brasileiro reúne mais mia, pavimentem ainda mais
de certa forma, surpreendido a inestimável estrada do mer-
com aguardadas resoluções da O mercado de capitais cado de capitais nacional. Afi-
Comissão de Valores Mobiliá- brasileiro reúne, hoje, nal, em boa hora, prestigiou-se
rios (rcvm 178 e 179), publicadas mais de 4,5 milhões aquele que é responsável por
em fevereiro e que entraram de CPFs cadastrados democratizar o acesso do cida-
em vigor em 1º.06.23. na bolsa ante dão comum a um mundo novo
Ditas resoluções permitem, de possibilidades e opções den-
aproximadamente
entre diversos avanços, a mul- tro do mercado financeiro, ain-
800 mil em 2011
tivinculação dos assessores de da extremamente bancarizado
investimento a mais de uma de 4,5 milhões de cpfs cadas- e dominado por poucas insti-
instituição financeira, a possi- trados na bolsa ante aproxima- tuições financeiras. Estima-se
bilidade de ter em seu quadro damente 800 mil em relação a que no país cerca de 90% das
societário outros sócios, não ne- 2011, além de aproximadamente reservas financeiras para in-
cessariamente assessores certi- 22 mil assessores ante menos de vestimento estão custodiadas
ficados, e de organizar-se sob cinco mil pós-edição da norma, nas tradicionais instituições
qualquer forma societária per- em 2011. Enfim, um mercado bancárias. Ainda é cedo para se
mitida em lei, além de impor- que experimentou crescimen- dizer como serão os próximos
tantes ajustes na transparên- to substancial e atraiu novos dez anos. O fato é que, com a li-
cia e dever de informação aos players (empresas de negócios berdade conferida pelo regula-
investidores. Aliás, este último e investidores), e deve crescer dor, espera-se um mercado de
tópico fez juz a merecido des- acima de dois dígitos pelos pró- capitais cada vez mais pujante,
taque em texto exclusivo (rcvm ximos anos. Para se ter uma democrático e capilarizado,
179) e deu a tônica de como o re- ideia, nos eua atualmente a que se traduza em maiores e
gulador se preocupará cada vez profissão de advisor financei- melhores oportunidades para
mais com a real transparência ro (que equivale, juntamente, à todos os investidores. 

258 REVISTA BONIJURIS I ANO 35 I EDIÇÃO 684 I OUT/NOV 2023

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