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“A insegurança é a mãe da rigidez”

Monique Augras

CASO JUDITE
Osmar (irmão), Fernando (pai), Mirtes (mãe).

Judite não gosta do nome. Contou no consultório que herdou o nome da avó paterna, mas esta não
é a sua maior questão. Solteira, 26 anos, mora em uma cidade do interior. Seus pais, empresários
na área de educação, possuem um colégio no bairro onde ela nasceu e vive com a família que se
constitui dos pais e o irmão Osmar (32 anos) que formado em administração atua como Diretor
Administrativo do Colégio.
A relação de Judite com o irmão é de intensa admiração, tendo-o como modelo de personalidade e
competência. Já com o pai, Sr. Fernando sustenta um vínculo de respeito, e só. Um respeito que
parece alimentado pelo medo de decepcioná-lo, de não corresponder às suas expectativas. O
contato dela com a mãe é constante, próximo e especial. São grandes amigas e ela admira D.
Mirtes por sua garra, força e principalmente por sua capacidade de defender seus desejos e pontos
de vista, independente da tendência autoritária do marido. Judite relata que a mãe trabalha como
professora, tendo o seu próprio dinheiro e não dependendo em tudo do marido. O fato de a mãe de
Judite não trabalhar no colégio da família cria um clima difícil (embora silencioso) na relação com
o marido que herdou o colégio do pai, o qual sempre se colocou como o grande patriarca na
condução da família.
Sr. Osmar, avô de Judite, criou o filho Fernando, pai de Judite, dentro de princípios bastante
rígidos, fundamentado em profundo conservadorismo e autoritarismo, sem agressões físicas, mas
com a exigência de uma obediência cega e sem diálogos. Fernando era uma criança impedida de
brincar e antes dos dez anos já trabalhava arduamente na limpeza do colégio do pai, dividindo a
totalidade de suas atividades entre o trabalho e os estudos. Fernando cresceu desenvolvendo uma
personalidade rígida, hipervalorizando os rígidos costumes adotados pelos seus pais Judite e
Osmar. Casou-se com Mirtes, uma mulher independente, menos tensa, mais flexível. Tiveram dois
filhos que Fernando fez questão de registrar com o nome dos avós paternos: Osmar e Judite.
Osmar, irmão de Judite é um rapaz dócil e competente no trabalho. Um discípulo do pai, embora
não seja durão como ele. Vive para o trabalho e sua vida pessoal se desenvolve sempre em torno
do colégio, onde sua noiva (estão noivos há 8 anos) trabalha como auxiliar de tesouraria, função
que aliás era exercida por Judite, que por sua vez não tem uma profissão específica, de nível
superior. Ela formou-se no segundo grau, educação geral, mas nunca conseguiu decidir por uma
Faculdade.
Hoje trabalha como secretária e recepcionista em uma Clínica Médica onde vive grandes
problemas de relacionamento com o chefe, com os clientes, com os vendedores, fornecedores...
enfim... com todo mundo.
Judite entrou no consultório calada e hesitante, embora fosse visível o seu esforço em mostrar
desinibição e comunicabilidade. Sentada na ponta da poltrona apertava um lencinho dobrado
contra o joelho. De vez em quando passava o lenço na testa e se abanava com uma revista,
demonstrando calor, embora o ar-condicionado estivesse ligado no máximo.
Enquanto relata sua história com dificuldade, Judite corta a comunicação com intervenções como:
- Vai demorar muito ? ou - Eu não sei bem por que vim aqui.
Judite relata sudorese intensa, o dia todo, independente do clima, principalmente nos pés e nas
mãos.
Diz que sofre palpitação (taquicardia) quando recebe uma incumbência séria. Por exemplo: ir ao
banco fazer um depósito ou pagar um conta importante (não soube explicar o que é pagar uma
conta importante). Na verdade parece que fica muito ansiosa ao fazer qualquer coisa que tenha
alguma importância, mesmo que mínima, mesmo que rotineira. Judite fica ansiosa quando chega
um cliente, sua muito nas mãos e borra a ficha que preenche para o cliente, fica agitada quando é
marcada uma reunião na clínica, (diz que nunca dorme nas vésperas de uma reunião quinzenal que
a diretoria faz). E não consegue ficar mais que três meses com um namorado porque “fico
pensando que não vai dar certo, que ele não vai me amar tanto quanto eu posso amá-lo, e daí acho
melhor terminar”.
Judite já consultou um psiquiatra e já fez terapia. Mas é rotineira em abandonar a medicação
(ansiolíticos) e também a terapia.
É pessimista e acha que seu problema não tem solução. Quando perguntada sobre “qual o
problema a que ela se refere como sem solução”, diz que é sua falta de sorte e a sua incapacidade
de se controlar e ser feliz.
 
Idade: 26
Sexo: Feminino
Altura: 1,60
Peso: 70 Kg
Educação: Segundo grau
Sono – Insone
Alimentação – Um pouco excessiva e sem critérios.
Queixa: Medo de tomar decisões, baixa auto-estima, queda de cabelo, sudorese intensa.

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