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RESUMO
Ao longo do século XX diversas visões sobre planejamento foram propostas e colocadas em práticas, algumas
delas produzindo resultados que passaram a por em questão a própria utilidade do planejamento. Para contornar,
diversos pensadores propuseram alternativas e, dentre elas, o chamado Planejamento Estratégico ganhou
notoriedade, tanto nos setores públicos e privados. Mais recentemente, com os órgãos de controle emergindo, a
preocupação com a gestão de resultados passou a ganhar força. Nesse contexto de fragmentação entre
teorias/modelos, indicadores e níveis de decisão, permanece a necessidade de se integrar essas visões num único
modelo conceitual. O modelo proposto neste artigo busca cobrir essa lacuna integrando de forma orgânica, os
níveis de decisão, os ciclos de avaliação e revisão do plano em seus diferentes horizontes e enfoques.
ABSTRACT
During the 20th Century, many different perspectives of planning have emerged and put to test. Some of those
failed and raised questions about the very utility of the planning process. Scholars tried to overcome those
problems with new approaches, including the so-called Strategic Planning framework, which rapidly gained
attention from both private and public sectors. With the advent of the audit organizations, result-oriented
approaches gained more and more relevance. In this context of shattered theories/models, indicators and decision
levels, the necessity for an integrated framework persists. The proposed model aims to overcome this problem by
effectively integrating decision levels, information, evaluation cycles and plan revisions in its different horizons
and perspectives.
1. INTRODUÇÃO
O planejamento é uma atividade essencial para a ação de Estado, principalmente quando diz
respeito a investimentos em transportes e infraestrutura. Ao longo do século XX, diversas
visões sobre o planejamento foram propostas por diversos autores e pensadores. Algumas
dessas visões, a exemplo do processo tradicional de planejamento, levaram a graves
problemas, principalmente no aspecto político do plano, colocando em questão a própria
utilidade desse processo (o plano como mero documento, ou produção de papel).
Para contornar esses fracassos, pensadores trouxeram, inclusive influenciados pela visão
militar, as ideias que foram então consolidadas no chamado Planejamento Estratégico. De
cunho marcantemente competitivo, tal linha foi abraçada por diversas organizações de
mercado e, também, pelo setor público. Contudo, essa visão de planejamento como uma
competição entre atores quase nunca é adequada ao setor público, no qual a cooperação é um
traço essencial. Nessa lacuna, o planejamento estratégico situacional do chileno Carlos Matus
ganhou notoriedade.
No Brasil, no final do século XX, com o advento dos órgãos de controle, cresceu o apelo por
formas mais eficazes de planejamento e controle. Os sistemas de indicadores foram incluídos
no método oficial do planejamento federal, o Plano Plurianual. Contudo, em meio a diferentes
correntes sobre o processo de planejamento, a teoria e epistemologia de planejamento e os
mecanismos de controle, não há, ainda, um modelo integrado de planejamento que aborde de
forma consistente e orgânica esses aspectos.
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É nessa lacuna que o presente artigo se insere. Aqui, busca-se propor um modelo integrado de
planejamento que aborde os diferentes níveis de decisão e avaliação, bem como o fluxo de
informação necessários. Nesse sentido, parte-se de uma breve revisão sobre planejamento
para, em seguida, fazer a proposição de um modelo integrado, explicando cada uma de suas
etapas. Por fim, conclui-se com comentários e indicações de futuras ações.
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Análise Interna
Caracterização
Formulação da Desenvolvimento
Início do Plano dos Modelos de Implantação
Visão Estratégica de Estratégias
Desenvolvimento
Análise Externa
Revisão
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C P Planejamento
Tático
D
C Planejamento
P
Operacional
D
C P
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P D
Decisão Estratégica
Decisão Tática
Análise Interna
Análise Externa
Diretrizes e
Planos de Ação
Informação Normas
Revisão Implantação
Ações
Decisão Operacional
Dela é possível extrair as seguintes definições: a etapa P do PDC engloba a caracterização dos
modelos de desenvolvimento, análise interna e externa e formulação da visão estratégica, que
corresponde à tomada de decisão em nível estratégico e dela resultam a missão, os objetivos e
os princípios; a etapa D, que para o nível estratégico engloba as decisões táticas e
operacionais, corresponde aos estágios de desenvolvimento de estratégias (nível tático) e
implantação (nível operacional), agregando, assim, os encadeamentos apresentados na Figura
4. Das decisões táticas resultam diretrizes e planos de ação, enquanto que das decisões
operacionais resultam atividades, ações e procedimentos; a etapa C corresponde à revisão, ou
controle do processo. Deve-se observar que este processo pode ocorrer para o planejamento
em nível tático e operacional.
Resta, ainda, especificar um modelo para estruturação das informações de planejamento:
indicadores. Neste sentido, Magalhães (2004) propôs um modelo seguindo os três níveis de
decisão: estratégico, tático e operacional.
Impactos
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Nível Estratégico
Este é o nível responsável pela definição do que deve ser feito, definindo os requisitos da
solução que deverá ser desenvolvida ao longo do planejamento. Sua nuance é fortemente
política. A seguir cada aspecto é trabalhado em maiores detalhes.
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causa-efeito conhecidas, são oferecidas pela ciência que trata do fenômeno abordado (ver
Brasil, 2007; Magalhães et al., 2014). Ou seja, o planejamento é respaldado por uma base de
conhecimentos, seja do senso comum, seja do conhecimento científico. E, pelas propriedades
do conhecimento científico (ver Morais, 2002), é sempre preferível que este seja o elemento
tomado como base para o planejamento.
É coerente que o diagnóstico seja feito tendo como base parâmetros sintéticos (indicadores
finalísticos) que orientem à exploração das questões realmente relevantes e que sejam os
mesmos utilizados no desenvolvimento de todas as etapas do plano, desde a visão até o
processo de monitoramento. Assim, isso proporciona um processo mais ágil, econômico e
tempestivo para o planejamento. Um diagnóstico, portanto, deve apresentar uma visão
completa do estado do objeto do planejamento (preferencialmente sendo orientado pelo uso
de indicadores), em detalhe suficiente para que seja possível comparar este estado com a
imagem-objetivo, referência do deve-ser, e permitir o levantamento dos problemas e suas
causas, a etapa seguinte neste processo de planejamento.
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Resta, ainda, identificar as causas. Matus (1984 e 1993) indica algumas questões para apontar
as causas dos problemas (explicação), a saber: Como era antes? Como é hoje? Como evoluiu
do que era para o estado atual? Qual tendência segue? Que fatores impulsionam essas
mudanças? Respondendo a estas perguntas, consegue-se montar uma estrutura causa-efeito
para os problemas identificados.
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Nível Tático
O nível tático é aquele responsável por desenvolver a solução para os problemas e requisitos
postos pelas decisões de nível estratégico. Neste nível, o lado técnico ganha mais importância,
apesar de ainda ser fortemente influenciado por relações de cunho político. Agora, cada
aspecto será abordado mais detidamente.
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Nível Operacional
O nível operacional é aquele responsável pela execução do que foi estabelecido nos níveis
estratégico e tático, bem como pelo fornecimento de elementos para o acompanhamento e
avaliação do plano pelos mais diversos níveis. A seguir, cada aspecto é abordado em maiores
detalhes.
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4. COMENTÁRIOS FINAIS
No presente trabalho, partiu-se de uma visão geral sobre processos de planejamento e suas
características e sobre o fluxo de informações para o planejamento em seus diversos níveis.
Sobre esses aspectos, atenção e consideração especial deve ser dada ao chamado
Planejamento Estratégico Situacional, do chileno Carlos Matus. Dentre as visões de
planejamento, talvez seja a que desenvolve sua teoria de forma mais consistente, partindo
desde a própria epistemologia do planejamento, bem como sua natureza essencialmente social
e política.
O modelo de planejamento proposto integra elaboração e execução do plano num único
quadro, de forma que não se pode separar uma coisa da outra, sob pena de fracasso. É um
passo no sentido oposto ao que se consolidou como experiência de planejamento, no qual o
documento do plano fica, muitas vezes, apenas no papel. Outro ponto a se destacar é que o
modelo proposto integra os três níveis de decisão – estratégico, tático e operacional -,
discriminando-os. Esses três níveis de decisão, apesar de constantemente citados, raramente
aparecem juntos num único quadro conceitual e, nisso, entende-se que a proposta deste artigo
também logra êxito. Adicionalmente, equaciona a questão de indicadores de resultados, que
passam a ser elementos orgânicos ao processo, e não apenas como algo ad hoc como ocorre
na maioria dos planos, incluindo o PPA. Nessa integração, prática e teoria andam lado a lado,
pois a Ciência é quem fornece o conhecimento necessário sobre o objeto do planejamento,
bem como os instrumentos para que o planejador consiga atuar sobre a realidade posta. Neste
aspecto, a proposta aqui colocada fortalece ainda mais o lugar da pesquisa em Transportes e
seu necessário caráter de ciência aplicada.
Finalmente, cabe comentar que não se trata de proposta descolada de viabilidade prática, visto
que parte deste trabalho já serviu de base para iniciativas de planejamento, levando a
resultados relevantes. Um exemplo foi o trabalho do Ministério dos Transportes para a
elaboração de um conjunto de indicadores para o planejamento e avaliação das políticas
nacionais (Brasil, 2007).
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Tarapanoff, K. (2001). Inteligência Organizacional e Competitiva. Editora Universidade de Brasília, Brasília.
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Marcos Thadeu Queiroz Magalhães (marcosthadeu@unb.br)
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