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RESUMO
Nosso projeto abordou a contribuição das aulas de Música na vida de um grupo
de crianças com TEA (Transtorno do Espectro Autista) e como esta pode ser utilizada
para melhorar a qualidade de vida, o desenvolvimento intelectual e sua prática musical.
Para entender como a música age em nosso cérebro, recorremos a Howard Gardner
(1994) e à psicologia cognitva que nos auxilia com sua Teoria das Inteligências
Múltiplas, aqui, a Inteligência Musical. Nos apoiamos nos conceitos do neurologista
Salomão Schwartzman (2011) para entender com mais precisão sobre o transtorno e
Viviane Louro (2006), educadora e pesquisadora em educação musical e inclusão, com
sua contribuição nesta área. Por fim, apresentamos nossa pesquisa de campo realizada
em uma escola de Educação Especial, durante as aulas de Musicalização e Expressão
Corporal, com a confecção de instrumentos musicais e apresentação artística do grupo
de dança formado somente por crianças autistas.
PALAVRAS CHAVE – educação musical, musicoterapia, autismo, aprendizagem.
ABSTRACT
Our project addressed the contribution of music classes in the life of a group of children
with ASD (Autistic Spectrum Disorder); How it can be used to improve the quality of
life, intellectual development and its musical practice. To understand how music works
in our brain, we turn to Howard Gardner (1994) - cognitive psychologist who assists us
with his Multiple Intelligences Theory, here, Musical Intelligence. We support the
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Graduada em Pedagogia , formação em canto lírico; pós graduada em Musicoterapia e
Deficiência Intelectual; graduanda em Educação Musical.
Trabalha como Professora de Música e Musicoterapeuta com crianças e adolescentes com
deficiência intelectual e TEA.
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Graduado em Pedagogia e pós graduado em Educação musical
Trabalha como educador social há 20 anos.
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theoretical concepts of the neurologist Salomão Schwartzman (2011) to explain and
understand a little more about the disorder and, Viviane Louro (2006), educator and
researcher in music education and inclusion, with his great contribution in this area.
Finally, we present our field research carried out in a special education school, during
Musicalization and Body Expression classes, with the making of musical instruments
and an artistic presentation of the dance group formed only by autistic children.
KEY WORDS - music therapy, music education, autism, learning, case study.
Introdução
Este projeto aborda a temática das aulas de música e o que isso traz de benefício
e mudanças no desenvolvimento cognitivo e social das crianças com o transtorno do
espectro do autista. Pretendemos possibilitar algum conhecimento acerca do que falam
alguns pensadores sobre a influência do ensino da música no desenvolvimento das
crianças – Violeta de Gainza – como ela age no cérebro – e o que faz com o nosso
corpo, H. Gardner – como pode contribuir para o desenvolvimento e a capacidade
intelectual e artística da criança autista, Salomão Schwartzman – quais as características
de uma criança autista, Viviane Louro – não só como terapia mas como disciplina que
trabalha com conceitos teóricos que vão promover uma maior desenvolvimento neste
individuo, levando-o a se expressar experimentando, tocando, cantando, dançando como
fazem tantos outros sem autismo.
Mostramos as diferenças e semelhanças entre Educação Musical e
Musicoterapia, muitas vezes confundidas quando se fala em autismo.
Por fim, mostramos a pesquisa de campo realizada nos meses de abril a junho de
2017, em uma escola de Educação Especial, no município de Ribeirão Pires – São
Paulo, fundada em 1967 para atender crianças e adolescentes com deficiência intelectual
e autismo. Este experimento foi realizado em uma das unidades da instituição que
atende também, crianças com TEA.
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Para Piaget, o indivíduo é produto do meio e a construção do conhecimento se
dá mediante a interação deste sujeito com o ambiente ao qual ele está inserido, isso
levando em consideração as suas condições cognitivas e as condições ambientais, esse
ambiente deve oferecer estímulos para que o sujeito possa desenvolver suas capacidades
de forma rica e significativa. Segundo ele, o indivíduo interage com o meio de forma
diferente conforme suas faixas etárias.
No ensino da música não é diferente, a criança deve receber estímulos ricos em
cada fase do seu desenvolvimento que a ajude a construir seu aprendizado e
consequentemente ampliar suas capacidades. Uma das primeiras pesquisadoras no
Brasil a lançar hipóteses sobre a relação da psicogenética com a música foi Esther Beyer
(1998).
No estágio operatório-concreto de 7 a 11/12 anos, que é a faixa etária dos nossos
alunos estudados nesta pesquisa, as estruturas cognitivas já devem estar mais
desenvolvidas, passando a ter uma abstração total do que vê, já diferenciando os
parâmetros sonoros. No caso da criança autista, quando ela tem uma deficiência
intelectual associada, esses estágios não acontecem da mesma maneira, o que acontece é
um atraso no desenvolvimento cognitivo desta criança que não permite muitas vezes
que ela realize as atividades propostas, nem consiga aprender no mesmo tempo que uma
criança na mesma faixa etária, dita normal.
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Música e o cérebro: Gardner e a inteligência musical
Como será que a música chega ao nosso cérebro? Ainda hoje, há pesquisadores
que debatem para entender como a música chega a nossa estrutura cerebral e, porque,
nos afeta em todo o organismo. É através do ouvido que assimilamos nosso organismo
com o meio em que vivemos e, conexões de grande poder em níveis neuronais se
encarregam de interligar o ouvido com os outros centros superiores cerebrais.
Os estímulos que atuam sobre o ouvido nos afetam por inteiro como se todo o
corpo fosse um complexo instrumento de ressonâncias. Compreender uma música é
decodificar uma estrutura, então, é necessária a existência e o domínio de um código,
ora é um trabalho mental e não simplesmente auditivo. O ouvido é a porta da entrada do
material e da informação sonora. Pode-se afirmar que a atividade musical envolve quase
todas as regiões do cérebro e os subsistemas neurais; quando uma música emociona, são
ativadas estruturas que estão nas regiões instintivas do verme cerebelar (estrutura do
cerebelo que modula a produção e liberação pelo tronco cerebral dos
neurotransmissores dopamina e noradrenalina), e da amídala (principal área do
processamento emocional no córtex).
O ato de acompanhar uma música é capaz de ativar o hipocampo (responsável
pelas memórias) e o córtex frontal inferior. Já para a execução de músicas, são
acionados os lobos frontais - o córtex motor e sensorial. A música repercute em todo o
indivíduo induzindo-o às várias reações, inclusive a criança com TEA. Seu estímulo
abala nosso sistema sensorial, motor, mental, efetivo; provoca mudanças em todo o
nosso metabolismo, acelera a respiração, repercute sobre as glândulas de secreção
interna, atua no córtex cerebral, no ritmo cardíaco, na respiração, na pressão arterial e,
com sons mais agudos, desperta um efeito mais positivo em quem ouve; motiva,
emociona, move a química cerebral e influencia a conduta. (SEKEFF, 2002)
A exposição ao som desperta os processos sensório perceptível do cérebro e,
sabendo usá-lo há o estímulo da atenção, principalmente quando o som se faz em forma
de música. A música pode tensionar ou relaxar, e isto se dá independentemente de nossa
capacidade ou vontade. Dependendo do estilo musical, ela pode dar vigor, melhorar o
ânimo ou deprimir. (SEKEFF, 2002). Porém, não se pode esquecer: a música traz
influência positiva, mas seu emprego deve respeitar as diferentes necessidades de cada
um, os objetivos que se pretende com sua utilização devem ser rigorosamente
estabelecidos e observados, pois ela não traz somente efeitos benéficos. Dependendo do
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grau de autismo, a criança pode gostar ou não de música, pode suportar ou não alguns
sons.
Esta regra se vale para qualquer pessoa, principalmente para os autistas, que na
maioria das vezes, têm uma grande sensibilidade a alguns sons; mesmo que não se tenha
consciência de seu efeito, o organismo pode sofrer prejuízos com o aumento de
adrenalina, aceleração do ritmo cardíaco, aumento de pressão arterial, levando-o a crises
de comportamento. Isso trará ainda mais prejuízos para a sua saúde.
Os exercícios musicais estimulam o potencial do cérebro, levando-o a maior
eficiência e, alimentando a memória, a música é sem dúvida, um poderoso auxiliar no
desenvolvimento pessoal e da saúde do indivíduo. Com base em experiências vividas no
dia a dia com crianças com TEA, percebe-se que a música pode transformá-los de
alguma maneira, cada um de seu jeito respeitando seu grau de compreensão.
Na década de 80, uma equipe de pesquisadores da Universidade de Harward,
liderada pelo psicólogo Howard Gardner, desenvolveu a Teoria das Inteligências
Múltiplas. A pesquisa identificou e descreveu nove tipos de inteligência nos seres
humanos, e acabou ganhando grande repercussão no campo da educação. Foram assim
classificadas as seguintes inteligências: linguística, lógica matemática, corporal
sinestésica, intrapessoal, interpessoal, existencial, naturalista, espacial e musical.
(Gardner, 1985).
Ele acreditava que cada uma dessas inteligências é relativamente independente,
têm origem e limites genéticos próprios e dispões de processos cognitivos próprios, mas
elas raramente funcionam isoladamente, na maioria dos casos, é necessária uma
combinação de inteligências. Ele acredita que os seres humanos dispõem de graus
variados de cada uma dessas inteligências.
A inteligência musical pode ser percebida em separado das demais, ela é
independente e, também em sua localização cerebral tem limites genéticos e processos
cognitivos próprios. Se manifesta através de uma habilidade para compor, apreciar ou
reproduzir uma peça musical, discriminar sons, ritmos, texturas e timbres. A criança
com habilidade musical especial, desde pequena percebe variados sons no ambiente e
canta bastante.
Para estimular a inteligência musical propõe-se jogos como: ensinar a criança a
ouvir (jogos de percepção auditiva); diferenciar timbres e ruídos (jogos estimuladores
da discriminação de ruídos e sons) e, compreensão dos sons para o domínio da estrutura
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rítmica. A finalidade essencial do trabalho com jogos não é tornar o aluno "um músico"
e sim, abri-lo à descoberta da linguagem sonora. Após essa descoberta, cabe ao aluno
aprender música ou não.
Mas, existe mesmo a inteligência musical? Na área da deficiência intelectual é
considerado "um milagre, um dom", mas é preciso saber que, existem os fatores
genéticos, existe a pré-disposição, mas que, se for trabalhada esta musicalidade, alguns
serão capazes de sobressaírem nessa área (Antunes, 1998).
Sendo a música um meio para educar e desenvolver o indivíduo em todas as
áreas (afetiva, psicomotor e cognitivo), deve o profissional da música (educador ou
musicoterapeuta) estimulá-lo e lhe permitir experiências que ampliem seus
conhecimentos.
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A existência de sintomas que permitam reconhecer critérios diagnósticos para
transtornos num mesmo indivíduo, caracteriza uma comorbidade. Cabe sempre lembrar,
como são muito importantes o aconselhamento genético e a prevenção.
As causas do autismo ainda são desconhecidas, porém, existem relatos de
anormalidades orgânicas, neurológicas, biológicas, além de fatores genéticos, imunológicos
e perinatais, achados bioquímicos e neuro anatômicos relacionados o autismo. No entanto,
ainda não há uma explicação concreta em termos neurológicos do que é o autismo.
Alguns comportamentos atípicos, repetitivos e estereotipados severos, indicam
a necessidade de encaminhamento para avaliação diagnóstica de TEA. De acordo com
as Diretrizes de Atenção à Reabilitação da Pessoa com TEA (Ministério da Saúde),
algumas características nas áreas motora, sensorial, emocional e social, são comuns nas
crianças autistas:
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s) Pode estudar um tema único até saber tudo a respeito, falando incessantemente
sobre o assunto;
t) Podem ter deficiência intelectual associada;
u) Podem ser super ou sub-responsivos aos estímulos sensoriais;
v) Alguns têm boa coordenação motora, enquanto outros, têm déficits motores
variados;
w) Muitos têm resposta alterada à dor, podendo ferir-se gravemente sem chorar;
x) Podem apresentar distúrbios do sono e epilepsia;
y) Muitos são alegres, outros, porém, irritadiços, demonstram descontentamento
crônico, outros agressivos podendo bater sem provocação.
O comprometimento destas áreas deve estar presente aos 3 anos de idade, quando
então pode ser dado o diagnóstico. Muitas destas características também podem ser
vistas em outros distúrbios do desenvolvimento e em certas doenças psiquiátricas. O
que distingue o autismo são o número, a gravidade, a combinação e a interação de
problemas, os quais resultam em danos funcionais importantes. Somente um
profissional especializado se encarregará de confirmar ou negar o diagnóstico.
Alguns casos podem ter limitações funcionais e interações sociais e podem
necessitar de cuidados específicos de habilitação e reabilitação. O projeto terapêutico
para esta criança deverá ser individual e de acordo com pacientes e familiares; não há
propriamente um tratamento, o que há é um treinamento para o desenvolvimento de
uma vida tão independente quanto possível. Basicamente a técnica mais usada é a
comportamental, além dela, programas de orientação aos pais. Deve ter livre acesso a
educação, cultura, lazer, trabalho, melhorando sua autonomia e independência.
Na sociedade atual, a inclusão assume um grande protagonismo no cotidiano das
nossas escolas e na vida da criança; tal como preconiza a Declaração de Salamanca
(1994), o seu principal objetivo deverá ser tornar o ensino regular num espaço de
acolhimento à diferença e de equidade de oportunidades.
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A inclusão não pode ser assumida como um privilégio, ou uma mera opção
estratégica, é um direito e, sobretudo, um exercício de cidadania a executar diariamente
e que abre caminho rumo a uma escola na qual todas as crianças devem ter um lugar,
independentemente das suas diferenças.
Em 2014, o Ministério da Saúde lançou as “Diretrizes de Atenção à Reabilitação da
Pessoa com Transtornos do Espectro do Autismo (TEA)”, e desta forma explica:
Na vida de todo ser humano o ouvir, cantar e dançar são ativamente presentes no
seu cotidiano: existem músicas para dormir, dançar, comer, acordar, brincar, chorar,
festejar, e isto faz com que, desde muito cedo a criança tenha contato com a cultura
musical do seu povo. A criança brinca de roda, aprende canções, participa de
brinquedos rítmicos e assim desenvolve sua percepção utilizando a música. Ela faz
música brincando.
Não há dúvidas de que ensinar música em uma sala de aula com crianças com
TEA é um ponto crítico apontado por professores que trabalham com a educação
inclusiva. Viabilizar esta aprendizagem é um desafio que pode ser enfrentado atentando
para o fato de que muitas vezes, algumas dessas crianças vivenciam este fenômeno da
aprendizagem de maneira mais lenta devido a dificuldade que tem, necessitando que se
enfatize mais todos os conteúdos, ou até mesmo, não conseguem acompanhar os outros
colegas de classe devido a seus comportamentos atípicos. E é aí que entra a figura do
musico terapeuta, como mais um profissional que irá auxiliar no desenvolvimento, não
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só musical, mas pessoal desta criança, valendo-se de seus conhecimentos e técnicas para
tanto.
A maioria das crianças autistas respondem de maneira positiva à música, pois o
ritmo favorece disciplina e coordenação, estas muitas vezes, ausentes: a melodia leva à
expressão emocional que é de grande importância tanto para ele como para o
profissional que trabalhe com ele; a harmonia estimula ordem e lógica ao pensamento,
alimentando o equilíbrio de suas funções psíquicas. (SEKEFF, 2002)
A música ainda aumenta o poder de atenção, o que nessa criança não é tão fácil
conseguir, ela satisfaz algumas necessidades inconfessas, permitindo que este indivíduo
às vezes consiga se envolver entre a fantasia e a realidade através de experiências
musicais.
Ela estimula a criatividade, integra experiências que levarão esta criança a um
armazenamento de material em seu consciente.
Seus benefícios fisiológicos e psicológicos são muitos; ao ter a possibilidade de
fazer música, escutar, cantar, vivenciá-la, esta criança poderá mudar seus pensamentos,
alterando suas emoções, trazendo uma maior harmonia entre a saúde física e mental. A
música pode mudar o comportamento desta pessoa.
A música deve agir na vida destas pessoas como um “agente mediatizador” para
auxiliá-las na construção de um diálogo com a realidade.
O acesso à música favorece o indivíduo, integrando-o com o mundo,
propiciando seu desenvolvimento como ser social. E é aí que entra o profissional, ele irá
instruir, auxiliar esta criança a se colocar em ordem, não só seu pensamento, como
também seu corpo, permitindo e inventando atividades musicais que o façam acordar,
descobrir suas emoções, sentimentos, algo além do fazer musical, algo que o faça sentir-
se bem junto com os demais.
O desenvolvimento não é um processo solitário, mas construído na inter-relação
entre as pessoas; a criança autista vive este processo de desenvolvimento dentro de sua
peculiaridade, dentro de um mundo só seu, que envolve dificuldades na compreensão,
linguagem, atenção, memória, raciocínio abstrato, pensamento lógico.
A criança com TEA, assim como qualquer outra, precisa compreender que vive
em um mundo cheio de significados e que estes são apreendidos a partir da relação com
as pessoas, mas, devido as suas características pessoais, esse processo não se dá com
facilidade. Nem sempre o caminho seguido pelos demais será eficiente para esta pessoa,
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nem sempre os integrantes do grupo irão gostar da mesma música, do mesmo
instrumento; muitas vezes, se faz necessária a construção de caminhos alternativos de
pensamento e ação, cabe ao profissional, observar bem a cada um e escolher qual
caminho tomar.
A aula de música precisa ter uma rotina estabelecida para todos, uma estrutura
fixa, começo, meio e fim, seguindo os objetivos, mas variando conforme necessidades
pessoais que venham surgir. É preciso observar aspectos psicomotores antes de se
programar as atividades musicais (lateralidade, esquema corporal, organização
espacial...). Utilizar vários recursos, materiais concretos, figuras, imagens para facilitar
a aprendizagem desta criança que, muitas vezes, não é verbal.
Em se tratando de comunicação, todo trabalho com canções é um estímulo para
as crianças. As danças, brincadeiras, improvisação com instrumentos musicais, jogos
musicais, canto em grupo favorecem a interação social.
Apesar das crianças de nosso experimento já terem aulas de música
frequentemente, ainda não é possível se trabalhar com aspectos teóricos da música
como leitura e escrita convencionais, devido ao comprometimento cognitivo que todas
têm. Usar dos métodos ativos da educação musical contemporânea, às vezes é um bom
recurso, mas, estas crianças na maioria das vezes, precisam de aulas muito estruturadas
e dirigidas, com rotinas para poderem prosseguir, e sem uma ajuda sistemática do
profissional a maioria não consegue realizar as atividades, muito menos criar sozinho
devido ao comprometimento intelectual. Às vezes uma mudança em sua rotina pode
causar uma crise com comportamentos agressivos, gritos, estereotipias, e daí, o apoio do
profissional é essencial como também, um ambiente favorável.
Os exercícios musicais estimulam o potencial do cérebro, levando-o a maior
eficiência e, alimentando a memória. A música é sem dúvida, um poderoso auxiliar no
desenvolvimento pessoal e da saúde do indivíduo. Com base em experiências vividas no
dia a dia com pessoas com TEA, percebemos que a música pode transformá-los de
alguma maneira, cada um de seu jeito respeitando seu grau de compreensão.
A educação musical
A educação musical também tem suas metodologias que destacam a importância
entre o contato do aluno com a música como experiência de vida. Entre os educadores
musicais mais influentes do século XX, estão: Kodaly, Dalcroze, Suzuki, Orff e
Willems, com seus métodos de educação musical (FONTERRADA, 2005). A partir da
segunda metade do século XX, outros educadores musicais surgiram dando importância
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à prática e outros aspectos da música, entre eles: Schafer, Paynter, Porena, Self, Gainza
e Fonterrada.
Todos esses educadores trouxeram suas ideias e concepções de ensino musical,
cada um a sua maneira queria que a criança fizesse música, e na maioria das vezes, o
objetivo principal era fazer o aluno adquirir conhecimentos e habilidades musicais. Mas
quando se trata de aulas de música para uma criança com TEA, é possível que o
professor necessite fazer adaptações ou adequações para facilitar a aprendizagem dos
alunos com maiores dificuldades. Em nosso caso, como todas as crianças têm autismo e
deficiência intelectual associada, foram necessárias algumas adaptações no programa e
nas atividades.
Para estas aulas é preciso a criação de materiais, equipamentos necessários,
curso de capacitação para os professores, adaptação de objetivos e conteúdos, adaptação
do método e do material, adaptações técnicas musicais - no caso de haver necessidades
físicas motoras, são feitas alterações na maneira de tocar um determinado instrumento
ou de cantar. O importante é que ninguém fique de fora das aulas.
Em se tratando de uma criança autista, mudar o tom da voz, usar material concreto,
exemplificar de diferentes maneiras, usar uma linguagem simples irá ajudar muito na
sua aprendizagem. Percebe-se que existem diferentes maneiras da música ser acessível
às crianças autistas. O professor é quem deverá adaptar o material para o seu aluno,
mudar de estratégia, objetivos mais específicos, conteúdo, a maneira de falar, criar
arranjos para facilitar a prática instrumental e vocal, criar diferentes instrumentos
musicais, tudo conforme a dificuldade e capacidade de cada um.
Algumas crianças com TEA podem apresentar problemas psicomotores assim,
não conseguem tocar um instrumento da mesma forma que os outros. Isto precisa ser
trabalhado antes de se introduzir os conceitos musicais mais elaborados, pois vai ajudar
muito em seu desenvolvimento e prepará-lo para tal aprendizagem.
A Musicoterapia
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necessidades físicas, emocionais, sociais e cognitivas. (RUDD apud
LOURO, 2016).
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estudos recentes têm comprovado a eficácia do trabalho musico terapêutico e do uso da
música com esta clientela, principalmente em relação aos aspectos de comunicação e
interação social, porém ainda com caráter subjetivo, dependendo das impressões e
considerações do observador.
A música pode facilitar o desenvolvimento destas crianças por ser uma
atividade que se entrelaça a fala e a linguagem (através de canções e jogos musicais), a
interação social (atividades em grupo), e por trabalhar com a funcionalidade do
comportamento, através de aspectos psicomotores , aliás, a Psicomotricidade também é
uma área de grande importância para o desenvolvimento desta criança , pois se
preocupa com o desenvolvimento do movimento humano, das potencialidades físicas,
cognitivas, afetivas e sociais.
Fonte: http://pt.wahooart.com/@@/5ZKCND-Henri-Matisse-La-Musique
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Na visão do artista, os personagens sentados na grama verde sob o céu azul,
estão fechados e concentrados em seu mundo interior, e olham para fora na direção de
alguém imaginário; é esta visão ao imaginário, esta centralização neste mundo interior
que nos remete ao espectro do autismo – um mundo particular e genuíno, cheio de
olhares que só enxergam o seu próprio mundo. É na esperança de uma quebra nesses
olhares que trabalhamos o movimento, a espontaneidade, a criatividade escondida em
cada um deles; buscamos o contato com o outro, com o mundo exterior, queremos que
se relacionem, que joguem, cantem sua música, toquem os instrumentos que muitas
vezes são a extensão de seu próprio corpo, coloquem para fora toda a sua arte e sua
capacidade. A dificuldade do autista é a comunicação verbal, mas podemos através da
música facilitar esta expressão.
Esse experimento usou materiais e metodologias adquiridos através de pesquisas
e experiências pessoais. O primeiro, a partir da exploração de instrumentos musicais
(xilofone, clavas, maracas, tambor, castanholas, pandeiro, guizos e outros não
convencionais como oshundrum, pau de chuva, xilindró, cabuletê, kalimba) e em
seguida, a confecção de dois instrumentos - o pau de chuva e o oshundrum.
Fonte:http://noticias.universia.com.br/destaque/noticia/2012/04/05/921917/conheca-danca-
henri-matisse.html
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Figura 8 e 9 – Crianças fazendo o aquecimento
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Conclusão
Nossa proposta era de trabalhar o desenvolvimento cognitivo através da música
com um grupo de crianças com TEA, e para isso buscamos autores que nos dessem
embasamentos técnicos e teóricos e que nos ajudassem a entender como realmente isto
funciona. Como é possível a música para este público? Vimos que a construção do
conhecimento se dá através da interação do sujeito com o meio e esse meio deve ser
repleto de estímulos (PIAGET, 2002) daí nosso trabalho para que a música seja um
estímulo para auxiliar no desenvolvimento dessas crianças; aprendemos que a criança
com TEA tem afetada a sua comunicação e a interação social (SCHWARTZMAN,
1997) daí utilizar a música como um canal de comunicação desta criança com a
sociedade; vimos que as inteligências devem ser trabalhadas em cada indivíduo
(GARDNER, 1994) e que a prática musical é um caminho para isso e como é
importante garantir a expressão plena destas crianças encarando-os como seres criativos
e com potencialidades artísticas (LOURO,2006). Foram atendidos doze educandos e ao
final do experimento tivemos como principais resultados: reforço da autoestima,
estímulo da interação social e um melhor desenvolvimento psicomotor.
Referências
ANTUNES, Celso. As Inteligências múltiplas e seus estímulos, 14ªedição, Campinas,
SP: Papirus, 1998
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CORDE. Declaração de Salamanca e Linhas de ação sobre Necessidades
Educativas Especiais. Brasília: CORDE, 1994
LOURO, Viviane. ALONSO, Luís Garcia. ANDRADE, Alex Ferreira de. Educação
musical e deficiência: propostas pedagógicas - São José dos Campos, SP: Ed. do
Autor, 2006.
LOURO, Viviane. Música e Inclusão: múltiplos olhares – São Paulo: Editora Som,
2016
MANTOAN, Maria Teresa E. e colaboradores. A integração de pessoas com
deficiência: contribuições para uma reflexão sobre o tema. São Paulo:
Memnom: Editora SENAC, 1997
PIAGET, Jean. Epistemologia genética. – 1. Ed. - São Paulo: Martins Fontes, 2002.
SEKEFF, Maria de Lourdes – Da música: seus usos e recursos. Editora UNESP, São
Paulo, 2002
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