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CAPA

POTIGUARA, UM POVO DE MEMÓRIAS

Maria Fabiana Pereira de Sousa


Tamara rodrigues da Silva

Ideia
João Pessoa
2018
UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA
CURSO DE COMUNICAÇÃO EM MÍDIAS DIGITAIS – DEMID EBOOK DO PROJETO DE
CONCLUSÃO DE CURSO – TCC/2018

Fotografia da Capa Professor Orientador Co-Orientadora Arte e Editoração


Tamara Rodrigues da Silva Marcos Nicolau Kelly Oliveira Digital
Kálio Arquimedes

Atenção: As imagens usadas neste trabalho o são para efeito de estudo,


de acordo com o artigo 46 da lei 9610, sendo garantida a propriedade
das mesmas aos seus criadores ou detentores de direitos autorais.

C794q Da Silva, Tamara Rodrigues


De Sousa, Maria Fabiana Pereira
Potiguara, um povo de memórias/ Maria Fabiana Pereira de
Sousa e Tamara Rodrigues da Silva.- João Pessoa: Ideia, 2018.
53p.
ISBN:
CDU: 556:504

EDITORA

Av. Nossa Senhora de Fátima, 1357, Bairro Torre


Cep.58.040-380 - João Pessoa, PB
www.ideiaeditora.com.br
POTIGUARA, UM POVO DE MEMÓRIAS

OFERECIMENTO
Capa
Sumário Oferecemos este trabalho ao Povo Potiguara, que nos propor
cionou histórias de lutas e conquistas de um povo guerreiro e
Autor foi através deles que tornamos um sonho em realidade.
eLivre

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POTIGUARA, UM POVO DE MEMÓRIAS

AGRADECIMENTO

Agradecemos em primeiro lugar a Deus que nos iluminou durante esta cami
Capa nhada. As nossas famílias que sempre nos apoiou nos momentos mais difí

Sumário ceis dessa jornada. Agradecemos ao povo Potiguara da Paraíba, em especial:


Capitão Potiguara, Poran Potiguara, Leuzinha, Pedro Lobo. Aos professores
Autor
Estêvão Palitot, Marcos Nicolau, Kelly Oliveira.
eLivre

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POTIGUARA, UM POVO DE MEMÓRIAS

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO.........................................................................................................8
O povo Potiguara na Paraíba.................................................................................12

TERRITÓRIO INDÍGENA POTIGUARA DA PARAÍBA..........................................15

PONTOS TURÍSTICOS POTIGUARA...................................................................19


Aldeias dos Potiguara............................................................................................22

AS PRINCIPAIS FESTIVIDADES..........................................................................25

Capa Dia do Índio............................................................................................................26


Jogos indígenas da Paraíba..................................................................................28
Sumário
Novenários nas aldeias Potiguara.........................................................................31
Autor
eLivre

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POTIGUARA, UM POVO DE MEMÓRIAS

MEMÓRIAS DE NÓS.............................................................................................33
Manoel Santana.....................................................................................................35
Severino Fernandes...............................................................................................38
Pedro Ciríaco.........................................................................................................44
Joana Ferreira da Silva..........................................................................................46
O protagonismo da lapinha com a cultura indígena...............................................47

EDUCAÇÃO DO POVO POTIGUARA...................................................................51


O fortalecimento da Língua Tupi............................................................................54
Biblioteca Indígena.................................................................................................57

O FUTURO DOS POTIGUARA.............................................................................60

Capa REFERÊNCIAS......................................................................................................62
Sumário
Autor SOBRE AS AUTORAS...........................................................................................63

eLivre

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POTIGUARA, UM POVO DE MEMÓRIAS

INTRODUÇÃO

Este ebook intitulado “Potiguara, um povo de Memórias” foi realizado como


trabalho de conclusão do curso Comunicação em Mídias Digitais da Universidade
Federal da Paraíba (UFPB) e tem como objetivo deixar registrado o conhecimento
do povo Potiguara na Paraíba a partir das histórias de vida dos indígenas que tive-
ram papel importante na formação da comunidade.
A proposta é valorizar essas lideranças, retratando a partir de imagens e tex-
tos a história delas, buscando informações de familiares e companheiros de luta.
A ideia é que essas memórias possam auxiliar no conhecimento dessas pessoas,
não apenas como indivíduos, mas como todo o percurso de suas lutas, associadas
a luta do próprio Povo. Com a produção do ebook estaremos levando à comunida-
Capa de indígena e não indígena o acesso à história de vida de pessoas importantes do
Sumário povo Potiguara, seja por sua atuação política, ritualística ou até mesmo de apoio
comunitário. Este material poderá ser usado como uma ferramenta de estudo para
Autor utilização nas escolas, uma vez que existe pouco material didático que forneça in-
eLivre formações sobre seu povo.

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POTIGUARA, UM POVO DE MEMÓRIAS

Através de relatos de familiares, coletamos dados dessas pessoas, buscando


retratar a verdadeira raiz dos Potiguara, dando ênfase, à seus históricos de luta e
militância. Importante frisar, que este povo sempre resistiu com muita persistência
para permanecer no seu habitat natural, e que toda esta resistência é fruto de uma
luta coletiva que perpassa as gerações desse povo.
Estes indígenas são donos de uma diversidade cultural riquíssima, a qual po-
demos encontrar relatos das culturas ancestrais, da religião, do empoderamento
político e da militância pela demarcação de suas terras. Hoje estes também bus-
cam pelo resgate da sua língua ancestral, o Tupi Antigo.
O referido documento, além de trazer a memória das lideranças, faz uma breve
apresentação da realidade do Povo Potiguara.

Capa
Sumário
Autor
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Capa
Sumário
Autor Imagem 1 - Mapa da Paraíba

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Sumário
Autor Imagem 2 - Fotografia: Tiuré.
Demarcação da Tribo Potiguara na Baia da Traição, 1981
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O POVO POTIGUARA NA PARAÍBA

Conhecidos historicamente desde 1501, os Potiguara ocupavam um território


que se estendia pela costa do Nordeste, entre as cidades de Fortaleza/CE até João
Pessoa/PB. Na Paraíba, ocupavam todo o vale do rio Mamanguape, litoral norte,
desde a Baia da Tradição até a atual Serra da Raiz (na época Serra da Cupaoba).
De acordo com cronistas portugueses, possuíam 50 aldeias na ‘terra do caju aze-
do’, também conhecido como Acajutibiró, hoje Baía da Traição. (Palitot, 2005)
Conhecidos como catadores de camarão ou pescadores de camarão, os Poti-
guara sempre ocuparam o litoral norte da Paraíba. Estando reconhecidos historica-
mente em 1501. Sua população está em torno de 20.554 indígenas, e se divide em
33 aldeias, dentro dos três municípios: Rio Tinto – PB, Marcação – PB e Baía da
Traição - PB. Além dos Potiguara também contamos com a presença de indí- gena
no litoral sul da Paraíba, na cidade de Conde, que são os Tabajaras.
Capa Quando falamos em povos indígenas devemos ter em mente uma grande di-
Sumário versidade de cultura, tradições e costumes que são passados de geração em ge-
ração. Esses povos detentores de grandes sabedorias e conhecimentos são guar-
Autor diões da sua própria história e carregam consigo a preocupação de manter suas
eLivre memórias vivas.

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POTIGUARA, UM POVO DE MEMÓRIAS

Capa
Sumário
Autor
eLivre Imagem 3 - Fotografia: Tamara Rodrigues.
Abertura dos Jogos Indígenas, Aldeia Tracoeira. Baía da Traição_2018
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POTIGUARA, UM POVO DE MEMÓRIAS

Habitantes tradicionais do litoral norte da Paraíba, o povo Potiguara de-


senvolve diversas atividades produtivas, com destaque para agricultura, pes-
ca, artesanato, turismo e trabalho urbano, (comércios e serviços públicos).
Após séculos de perda territorial o povo Potiguara tem conseguido recuperar às
terras indígenas, através de demarcações, com muita luta.
A organização social do Potiguara se dá através de caciques e lideranças.
Em cada aldeia existe uma ou ambas figuras como uma representação política da
comunidade. Além, dos caciques/lideranças das aldeias existe um cacique geral,
que representa todas as aldeias, sendo a maior liderança política do povo. Juntos,
esses representantes (líderes), formam o conselho de lideranças dos indígenas no
qual são tomadas às decisões sobre às demandas envolventes, como: território,
educação, saúde e até mesmo para apaziguar algumas brigas internas que sur-
gem vez ou outra na comunidade.
No processo histórico e de fortalecimento de sua identidade, o povo Potiguara
teve muitas lideranças importantes, que atuaram em diversas áreas – política, reli-
giosa, de apoio comunitário etc. E que trazem em suas histórias de vida a explica-
Capa ção de momentos chaves para compreendermos melhor o povo Potiguara. Desta-
Sumário co Dona Joana, Seu Severino Fernandes, Pedro Ciriaco e Manoel Santana, dentre
outras lideranças que tiveram sua colaboração dentro e fora da comunidade.
Autor
eLivre

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POTIGUARA, UM POVO DE MEMÓRIAS

TERRITORIO INDÍGENA POTIGUARA DA PARAÍBA

Ao falar da presença indígena na Paraíba, devemos sempre fazer memorias a


um dos povos mais aguerrido deste litoral brasileiro e que não mudou do seu local
originário desde de que se há relatos de sua presença. Os relatos da nossa pre-
sença no litoral brasileiro datam de 1501, ao qual Américo Vespúcio mapeando o
litoral, chega numa baía e têm alguns de seus tripulantes, inclusive padres, devo-
rados pelos nativos. Ele descreve que duas índias distraíram os padres, enquanto
outras duas os atacavam por detrás. Vespúcio achou o acontecido uma traição e
resolveu denominar aquele local de Baía da Traição (Vespúcio,1501).
Os nativos que estiveram naquele encontro são os ancestrais Potiguara de hoje,
a cidade de Baía da Traição carrega o nome dado por Vespúcio. Os relatos apontam
que o território indígena Potiguara se estendia pelo litoral da Paraíba, Rio Grande do
Norte, Ceará e partes do Maranhão (Moonen, 1992). No começo do século passado
Capa existia relatos da presença Potiguara apenas no estado da Paraíba, justamente em
Baía da Traição. Forma inumeras investidas colonizadoras no território Potiguara de
Sumário Baía da Traição, mas foi no século XVIII que os Potiguara conseguem um avanço sig-
Autor nificativo na posse do seu território, algo ainda relatado com marco da luta territorial.
Foi no ano de 1742 (data registrada nos marcos utilizados para marcar o território
eLivre
Potiguara), que em visita a Paraíba, na cidade de Mamanguape, sendo mais preciso.
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POTIGUARA, UM POVO DE MEMÓRIAS

Dom Pedro II recebe uma comitiva de 17 lideranças Potiguara e na ocasião as li-


deranças conseguiram o titulo de duas sesmarias de terras em forma de doação,
sesmaria de Monte-mór e São Miguel.
Este acontecimento influenciou no processo territorial Potiguara algumas dé-
cadas depois. Devido ao fato de que foi enviado o engenheiro Antônio Gonçalves
da Justa, para realizar a “demarcação” deste território doado pelo imperador e que
deveria seguir um modelo de títulos individuais de terras. Coincidências ou não,
Justa Araújo conseguiu terminar apenas a delimitação da sesmaria de Monte-Mór,
a loteou e doou os títulos aos Potiguara. Então, se tinha Potiguara de São Miguel
com uma terra coletiva e Potiguara de Monte-Mór com uma terra loteada e com
títulos, inclusive registrados nos cartórios locais.
Pós metade do século passado, o território indígena Potiguara da Paraíba sofre
uma redução de 57 para 21 mil hectares, ficando de fora a sesmaria de Monte-mór.
Esta redução foi proposta pelo antigo SPI – Serviço de Proteção aos Indios, hoje
Funai, Como solução para acabar com os conflitos fundiários no território.

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Autor
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POTIGUARA, UM POVO DE MEMÓRIAS

Em face da falta de recursos, da presença de muitos ocupantes não-índios o


SPI propõe a redução da área indígena como uma forma de expulsar os inva-
sores às avessas. Esta política, levada a cabo ao longo das décadas seguin-
tes é chamada por Peres (1992, p.111) de insularização de áreas indígenas
onde o órgão toma como procedimento demarcar apenas aquelas terras que
estão ocupadas permanentemente pelos índios, evitando assim o confronto
judicial com os ocupantes que apresentavam documentos de propriedade das
terras. Tal política teve como resultado o recrudescimento dos conflitos entre
administração, particulares e índios. (Palitot, 2005)

Assim, uma parcela importante da população e do território Potiguara foi ex-


cluída da demarcação, ensejando novas mobilizações para a regularização
das terras restantes. A primeira, entre 1985 e 1993, para a área de Jacaré de
São Domingos e a segunda, desde 1993 até hoje, para os Potiguara de Mon-
te-Mór, cujas terras não haviam sido contempladas nem mesmo com aquela
Capa autodemarcação de 1981. (Palitot, 2005)

Sumário
Autor
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POTIGUARA, UM POVO DE MEMÓRIAS

Foram as investidas da Lideranças Potiguara da Paraíba frente a luta pelo seu


território, que transformaram seus limites territoriais aos que existem hoje. Sendo
as investidas mais acirrada começando na década de 1980 até 2003, justamente
frente aos órgãos responsáveis pela demarcação em áreas da antiga sesmaria de
Monte-Mór. Interessante citar que constituíram uma nova TI, que foi a de Jacaré de
São Domingos (dentro das antigas Sesmarias de Monte-Mór e São Miguel), mas
não demarcaram a TI Monte-Mór. Sendo assim o povo Potiguara passou a ter três
Terras Indígenas: Potiguara de São Miguel, São Domingos e Monte-Mór.
Atualmente todas demarcadas, apenas a TI Monte-Mór não é homologada.
São 32 aldeias nas TI’s e o território Potiguara abrange três municípios: Baía da
Traição, Marcação e Rio Tinto. Com uma população estimada em 20 mil pessoas.

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Sumário
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PONTOS TURÍSTICOS POTIGUARA

Como já foi mencionado os Potiguara estão situados nos municípios de Rio


Tinto, Marcação e Baía da Traição. A última citada é onde a população indígena é
maior, na zona urbana e nas aldeias.
Com lindas paisagens, principalmente por ser cidade praieira, a Baía está lo-
calizada no litoral norte da Paraíba onde se destacam praias belíssimas, dunas,
falésias multicoloridas e uma linha de recifes. Há vários pontos turísticos que va-
lem a pena serem explorados, citamos alguns em diferentes aldeias. Além das
variedades de barzinhos, nas aldeias Camurupim e Tramataia, com variedades de
comidas típicas, e crustáceos.

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Sumário
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eLivre

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Capa Imagem 4 -
Sumário Fotografia: Poran
Potiguara.
Autor As falésias do
eLivre Tambá, aldeia Alto
do Tambá
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Capa
Sumário
Autor
Imagem 5 - Fotografia: Fabiana Sousa.
eLivre Rio do Gozo, aldeia Tracoeira

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Capa
Sumário
Autor
eLivre
Imagem 6 - Fotografia: Poran Potiguara.
Praia de Coqueirinho, litoral Norte 22
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Aldeias dos Potiguara

Rio Tinto: Marcação: Baía da Traição:

Monte-Mor Caieiras Forte


Jaraguá Camurupim Alto do Tambá
Silva de Belém Tramataia Lagoa do Mato
Mata Escura Val Cumaru
Brejinho São Francisco
Jacaré de César Santa Rita
Carneira Tracoeiras
Grupiuna Laranjeiras

Capa Ybikuara Bento


Lagoa Grande Silva
Sumário
Três Rios Akajutibiró
Autor
Jacaré de São Domingos Bem Fica
eLivre Coqueirinho São Miguel

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Sumário
Autor Imagem 7 - Mapa Etno Mapeamento Potiguara

eLivre

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AS PRINCIPAIS FESTIVIDADES

Assim como toda comunidade, o território Potiguara também tem suas festivi-
dades que sempre são realizadas com muita alegria e agrega uma riqueza cultural
inestimável.
Os jogos são realizados sempre no mês de abril, geralmente uma semana an-
tes do Dia do Índio. Na semana seguinte ao término dos jogos tem a comemoração,
no dia 19 de abril, Dia do Índio na aldeia São Francisco, em Baía da Traição, local
onde os indígenas e não indígenas se reúnem para o ritual do Toré. Já na cidade,
na Semana do Índio (mês de abril) inicia-se o Festival Indígena Potiguara, o mes-
mo está em sua segunda edição, com muitas atividades para toda a comunidade
e visitantes.
Durante todo o ano há as festas católicas dos padroeiros, em seu respectivo
mês e aldeia. Uma das mais faladas é o do padroeiro São Miguel Arcanjo, que
acontece no mês de setembro, na aldeia que traz o mesmo nome dos dias 19 a 29,
Capa
encerrando os festejos no último dia com uma missa e procissão. A mesma reúne
Sumário pessoas de todas as aldeias dos três municípios, levando-se em conta que São
Miguel é o padroeiro do povo indígena Potiguara.
Autor
eLivre

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Dia do Índio

Os Potiguara comemoram no dia 19 de abril a Resistência Indígena, reúnem-


--se e celebram o seu dia na aldeia São Francisco, no terreiro sagrado, em Baía
da Traição. Participam os indígenas Potiguara de todas as aldeias e municípios
circunvizinhos, assim como também contamos com a presença de muitos visitan-
tes não indígenas de várias regiões. Neste dia, a sociedade, de modo geral, tem a
oportunidade de conhecer e participar dos costumes e crenças do povo Potiguara,
apreciar e levar para casa artesanatos criados pelos indígenas, visitar as aldeias e
desfazer esse paradigma de que índio anda nu e vive em ocas, como as histórias
que são contadas em livros didáticos, que hoje, não condiz com nossa realidade,
não ficamos no passado, somos sonhadores do presente e lutamos por um futuro
digno e honroso. Os livros didáticos retratam os índios no passado, como se “este
povo” não mais existisse. E eles provam o contrário, com suas lutas e persistências
mostrando ao mundo que estão aqui. São donos das suas histórias.
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Sumário
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eLivre

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Sumário
Autor
eLivre Imagem 8 - Fotografia: Tamara Rodrigues.
Jogos Indígenas, Aldeia Tracoeira
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Jogos Indígenas na Paraíba

A cada ano o evento acontece em uma aldeia diferente e sempre fazendo um


ciclo entre as cidades, ou seja, a cada ano se realiza em uma das cidades que en-
globam o território Potiguara. O objetivo dos jogos é fortalecer a cultura indígena
em todos as aldeias e unir seu povo através do esporte.
Nos jogos há várias modalidades indígenas e não indígenas, sendo elas: arre-
messo de flecha, canoagem, corrida de tora, futebol, futsal dentre outras. Partici-
pam dos jogos tanto os homens como mulheres das comunidades indígenas, além
dos Potiguara que moram na cidade. O critério de participação dos jogos é ser Po-
tiguara.
Os jogos indígenas é uma parceria do governo do Estado com a comunidade
indígena que acontecem desde 2012 e dão visibilidade ao povo Potiguara, mos-
trando sua história nas atividades da população. Esse ano cerca de 350 indígenas
participaram dos jogos nesta edição, sendo eles dos municípios de Marcação, Rio
Capa
Tinto e Baía da Traição, cidade sede dos jogos. Uma novidade esse ano foi a par-
Sumário ticipação dos Tabajaras da cidade do Conde, litoral sul da Paraíba. Foi um convite
dos Potiguara e os jogos passaram a ser chamado de jogos indígenas da Paraíba.
Autor
O evento já faz parte do calendário dos Potiguara, como também do governo do
eLivre Estado.

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Capa
Sumário
Imagem 9 - Fotografia: Tamara Rodrigues.
Autor Abertura dos Jogos Indígenas Potiguara
eLivre

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Sumário
Autor
eLivre Imagem 10 - Fotografia: Tamara Rodrigues.
Jogos Indígenas Potiguara
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POTIGUARA, UM POVO DE MEMÓRIAS

Notamos que umas das modalidades mais comum entre esses jovens indíge-
nas é o futebol, pois tanto as mulheres como os homens exibem seus trajes e sua
garra com muito orgulho ao entrar em campo. Ainda assim, as outras modalidades
também são muito importantes e fortalecem os valores culturais, como o arco e
flecha e a canoagem.

Novenários nas aldeias Potiguara

As realizações das festas, de origem católica, acontecem nas aldeias em me-


ses diferentes, cada uma tem seu Santo de devoção e no respectivo mês de cada
Santo é organizado o novenário em uma das aldeias e as demais são convidadas
a participar.
Novenário de São Miguel Arcanjo - aldeia São Francisco e aldeia São Miguel. No-
venário Santa Luzia - aldeia Camurupim.
Capa Novenário São João Batista - aldeia Alto do Tambá.

Sumário Novenário Nossa Senhora dos Navegantes - aldeia Coqueirinho. Novenário de


Santa Edwiges – aldeia Caieiras.
Autor Novenário de São Sebastião – aldeia Tramataia.
eLivre Novenário de Nossa Senhora de Guadalupe – aldeia Forte.

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Sumário
Autor
Imagem 11 - Fotografia: Tamara Rodrigues.
eLivre Ruínas da igreja de São Miguel, aldeia São Miguel

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MEMÓRIAS DE NÓS

A memória do povo Potiguara sempre esteve presente dentro da comunidade,


assim como fora dela também, sempre foi retratada tanto pelos Potiguara que vi-
vem dentro da comunidade, como por pessoas que admiram e gostam da história
desse povo.
A memória da luta por suas terras, o reconhecimento como indígena, além do
forte protagonismo indígena que esses têm, é um dos dados mais importante para
curiosos estarem sempre interessados em conhecer e trabalhar com esse povo.
Quanto importante são os povos indígenas para história do Brasil e quanto in-
teressante é a luta diária que vivem. Os Potiguara foram os únicos povos no Brasil
a permanecer no seu habitat desde a sua descoberta, ou melhor desde a invasão
que estes sofreram.
E, por este fato existe uma grande miscigenação nesse povo, os traços, os ca-
Capa belos, as características já não são as mesmas. Mas isso não muda o sangue, a
tradição, a cultura que está impregnada na alma. Os estereótipos desse povo não
Sumário mudam quem eles são.
Autor
eLivre

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POTIGUARA, UM POVO DE MEMÓRIAS

Assim a memória do povo Potiguara continua forte dentro da comunidade, e


muitas lideranças que já passaram pelo seu povo são fortes exemplos do quanto
guerreiro é esse povo, é através dessa memória que os indígenas buscam inspira-
ções para suas lutas diárias.
A memória dos Potiguara é a maior herança que esses podem carregar, é atra-
vés dela que eles batem no peito e afirmam suas histórias, seu empoderamen- to
político e seu protagonismo como indígena. E através dessa memória onde re- la-
tamos a vida de algumas lideranças indígenas, que por aqui passaram.
Os Potiguara vivem, resistem e se reinventam através das dificuldades que
surgem, mas jamais deixam de ser verdadeiros índios desse Brasil.

Capa
Sumário
Autor
eLivre

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POTIGUARA, UM POVO DE MEMÓRIAS

MANOEL SANTANA

Ficou bastante conhecido por liderar a luta dos Potiguara no reconhecimento


frente ao SPI-Serviço de Proteção ao Índio, no início do século passado. Pelo fato
de estar à frente da luta foi nomeado primeiro regente do Povo Potiguara, este títu-
lo foi dado pelo fato do mesmo exercer atividades políticas e ser o responsável por
recolher as doações para a festa do santo padroeiro dos Potiguara, São Miguel
Arcanjo.
Morava na aldeia São Francisco, na cidade de Baía da Traição. Liderava as fa-
mílias que moravam na área da sesmaria Potiguara de São Miguel. Na década de
1920 Manoel Santana lidera um grupo de Potiguara que vai até o Rio de Janeiro
em busca de apoios contra a invasão de suas terras pelos irmãos Dantas em Baía
da Traição. No Rio, eles encontram o Marechal Rondon e pedem apoio ao SPI con-
tra as invasões. Esta foi considerada uma das viagens políticas mais importantes
do povo Potiguara, pois resultou no reconhecimento do órgão responsável pelos
Capa indígenas da época. Assegurando uma “proteção” do território e melhorias futuras
Sumário na qualidade de vida dos Potiguara.

Autor
eLivre

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POTIGUARA, UM POVO DE MEMÓRIAS

Os mais velhos fazem referência a esse período como o tempo de “Mané San-
tana”, que foram tempos em que a figura do líder (regente) exercia seu papel com
grande autoridade sobre as famílias. Inclusive contam, que “Mané Santana” era
um ótimo conciliador dos conflitos internos e um ótimo articulador político, visando
sem- pre melhorias para seu povo. Após a instalação do Posto Indígena na Baía
da Traição, Manoel muda-se para as proximidades do Posto com sua família e
passa a ser chamado de Chefe dos Potiguara pelo pessoal do SPI. O professor
Palitot diz que o nome de chefe dos Potiguara foi dado pelo inspetor Dagoberto de
Castro e Silva, durante a visita aos Potiguara no ano de 1923. Ele faz referências a
família de Manoel Santana que é casado com Porfiria Thereza, sendo seus filhos:
Sebastiana (13 anos), Josefa (10), Severina (8), Rosa (6), Daniel (5) e Maria (2). O
inspetor ainda faz referências ao grupo liderado por “Mané Santana”, algo em torno
de 400 indígenas.
Manoel Santana foi o grande responsável pelo reconhecimento e força do so-
brenome Santana dentro dos Potiguara. Tempos mais tardes os Santanas ocupam
cargos de chefes, caciques e até mesmo prefeito da cidade de Baía da Traição.
Capa Sendo Daniel Santana, seu filho, um outro nome de grande destaque e valor na
Sumário luta pelo território Potiguara.

Autor
eLivre

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POTIGUARA, UM POVO DE MEMÓRIAS

Imagem 12 -
Capa Fotografia: Tiuré.
Acervo Arandú.
Sumário Marco de pedra da
Autor área doada por D.
Pedro II em 1859
eLivre na Baia da Trai-
ção.
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POTIGUARA, UM POVO DE MEMÓRIAS

Severino Fernandes

Seu Severino como era conhecido, foi


um grande líder para o povo Potiguara, era
desbravador e não tinha medo de enfren-
tar a justiça, enfrentou com garra a todos,
para defender suas terras, as terras do
povo Potiguara.
Em 1982, Severino Fernandes, diri-
giu-se ao posto da Funai para fazer uma
denúncia ao ato violento que a família do
índio Manoel Francisco havia sofrido. A fa-
mília de Manoel teve sua casa destruída,
policiais chegaram e atearam fogo na casa
Imagem 13 - Severino Fernandes deles, levaram a mulher de Manoel presa,
Capa em uma reportagem de jornal ela que estava grávida de quatro meses.
Sumário Ao saber do ato, o Cacique dos Potiguara não amedrontou, e logo tomou as
Autor providências necessárias para denunciar tamanha crueldade que seu parente indí-
gena, havia sofrido.
eLivre

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POTIGUARA, UM POVO DE MEMÓRIAS

Em outubro de 1983, Severino Fernandes aproveitou a visita do Deputado Má-


rio Juruna, no território Potiguara, e foi junto com uma delegação de 30 lideranças
para a cidade de João Pessoa, para fazer reivindicações das terras do povo Poti-
guara.
Ainda no mesmo ano, mais precisamente em 14 de junho, Severino Fernandes
foi preso sobre a acusação de invadir terras, roubar madeiras, causar danos à pro-
priedade alheia e incitar outras práticas criminais. A população indígena se reuniu,
e foi para João Pessoa para reivindicar, a liberdade de Fernandes.

“O cacique não pode ser responsabilizado por uma questão que envolve todos
os índios que lutam por suas terras, das quais são os legítimos donos”.
(João Batista Faustino)

A atuação do Cacique era algo impecável, em plena época da Ditadura, Se-
verino Fernandes, não estava preocupado com as represálias que ele iria sofrer,
Capa e sim, estava preocupado com a demarcação das terras indígenas, que estavam
Sumário sendo invadidas por posseiros, donos de usinas, que de certa forma queriam tomar
a terra dos Potiguara. Com essa atuação, seu Severino passou a ser alvo principal
Autor
para que autoridades, quisessem de alguma forma prejudicá-lo, pois sabiam que
eLivre ele era a peça fundamental na luta do seu povo.

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POTIGUARA, UM POVO DE MEMÓRIAS

Capa
Sumário
Autor
Imagem 14 - Fotografia: Tiuré. Acervo Arandú.
eLivre Período da autodemarcação Potiguara, 1988

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POTIGUARA, UM POVO DE MEMÓRIAS

Capa
Sumário
Autor
Imagem 15 - Fotografia: Tiuré. Acervo Arandú.
eLivre Período da autodemarcação Potiguara, 1988

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POTIGUARA, UM POVO DE MEMÓRIAS

O cacique foi responsável na luta pela demarcação das terras do povo Potigua-
ra, um processo esse conhecido como a autodemarcação do território Potigua-
ra, foi a primeira autodemarcação dos indígenas do Nordeste. Este processo
gerou dentro da comunidade muitos conflitos, e muitos foram as ações toma-
das para estes. Assim como diz Estevão Palitot:
Uma ação de aviventação de picadas foi realizada pelo chefe de posto, Hamil-
ton Lima Soares e um grupo de índios recebendo como resposta dos proprietários
do Sítio Itaúna, às margens do rio Camaratuba, um processo na justiça de Rio Tin-
to, em julho de 1978. Em novembro, segundo o professor Palitot, ocorre um grave
conflito entre os índios, liderados pelo cacique Daniel Santana e um grupo de to-
pógrafos que realizava medições no Sítio do Melo, quando estes são agredidos e
tem os instrumentos de medição quebrados e jogados no rio Sinimbu.
Grande era mesmo a lembrança desse povo que sofreu o processo de retoma-
da de seu território, as marcas da década de 80, marcada pela prisão de índios que
lutavam pelo que sempre foi seu e a esperança que mantinha viva em seu Severi-
no Fernandes, era de ver seu território demarcado. Foram causadas muitas violên-
Capa cias ao povo Potiguara durante esse processo da realização das picadas (marcos
Sumário da Terra Potiguara), inclusive diversas acusações de invasão de propriedades e
derrubada de madeiras foram feitas aos líderes do movimento, em especial ao Se-
Autor verino Fernandes.
eLivre

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POTIGUARA, UM POVO DE MEMÓRIAS

Em 1979, a Companhia Rio Tinto e os ocupantes do rio Camaratuba enviaram


car- tas ao Ministério do Interior e moveram ações na justiça contra a FUNAI, acu-
sando-a de ser responsável pela mobilização dos índios, que estariam penetrando
em suas propriedades, abrindo picadas, derrubando cercas e tirando madeira, re-
latou Palitot.
Depois de sucessivas batalhas travadas entres policiais, usineiros, demais la-
tifundiários, os indígenas conseguiram que suas terras fossem demarcadas, mais
precisamente no ano de 1983, embora tenha perdido 14 hectares de suas terras
que ficaram fora da demarcação.
Severino Fernandes foi um dos maiores líderes Potiguara, deixando seu lega-
do especialmente na luta pelo território. Contavam com entusiasmo as vezes que
foi preso durante esse período, e dizia sempre: “o líder, não deve temer nada, sua
luta é mais importante que sua vida”. Ele sabia muito bem da importância de sua
atuação a época da autodemarcação Potiguara e fazia questão de repassar isso
aos que lhes perguntasse algo sobre. Por fim o cacique vem a falecer no dia 09 de
novembro de 2012, aos 90 anos.
Capa
Sumário
Autor
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Pedro Ciríaco

Pedro Ciríaco foi um líder importante para o Povo Potiguara. Sofreu persegui-
ções internamente por ser escolhido líder da aldeia São Francisco, uma decisão
contrária a decisão do Posto do SPI – Serviço de Proteção ao Índio, entre as déca-
das de 1930 a 1940. Com falecimento de Manoel Santana, Pedro Ciríaco assumiu
a total liderança da aldeia São Francisco e passou a ser o responsável por geren-
ciar as benfeitorias do povo, especialmente os coqueiros situados nas cardosas, e
controlar os cortes de madeira dentro das comunidades Potiguara.
Ao mesmo tempo em que Ciríaco era líder da aldeia São Francisco, ele se tor- na
uma figura problemática para gestão do Posto do SPI. Chegando inclusive a ser preso
por alguns meses junto com sua família em 1949, a prisão foi solicitada pela própria
gerência do Posto do SPI. Fruto dos desentendimentos que tinha como centro da dis-
cussão as arrecadações arrendatárias e o lucro com a venda dos cocos das cardosas.
No ano de 1948 quando iniciou-se um processo de demarcação das aldeias da Baía
Capa da Traição, Pedro Ciríaco questiona o processo e alega que não está sendo respei-
tado os limites territoriais do Povo, que alguns marcos tinham sido alterado e queria
Sumário entender porque algumas terras situadas no sítio Mataraca teria ficado de fora, e o
Autor porquê que a Companhia de Tecidos Rio Tinto ocupavam algumas faixas de terras.

eLivre

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POTIGUARA, UM POVO DE MEMÓRIAS

Esse fato tornou Ciríaco figura problemática carimbada do povo Potiguara, tan-
to internamente, por não comungar com algumas decisões do Posto do SPI em
Baía da Traição. Como externamente, por não aceitar o fato de que algumas fai-
xas de terras ficassem de fora do processo da demarcação. Isso só aumentou sua
perseguição, chegando inclusive a ser acusado diversas vezes pelo posto do SPI,
de ser o “mestiço” mais problemático do Povo Potiguara e de incitar conflitos inter-
nos. Uma forma de desmerecer a luta de Pedro Ciríaco. O próprio posto chegou a
solicitar a remoção de sua família das aldeias da Baía da Traição, sob alegação de
está cortando e vendendo madeiras e de atrapalhar os trabalhos do Posto do SPI.
A liderança de Pedro Ciríaco era uma prova de resistência e uma forma de di-
zer ao Posto do SPI que nem tudo poderia ser feito como eles desejavam e que
teria que respeitar a organização social Potiguara. No ano de 1952, os indígenas
Potiguara sob comando de Pedro Ciríaco, se mostravam contrários as medições
da segunda tentativa de demarcação proposta pelo posto do SPI, alegando que
estava errada e que a medição original ficava uma légua a mais do que o marco
proposto. Ciríaco foi uma figura problemática necessária, diria. Seu falecimento foi
Capa em 1953, deixando a liderança para um dos seus filhos.
Sumário
Autor
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Joana Ferreira da Silva

Dona Joana, como era conhecida na comunida-


de, teve 12 filhos e 20 netos, aprendeu desde cedo
que a religião e a cultura poderiam andar juntas, ela
vivia no catolicismo desde pequena por influência do
seu pai, ele que era filho da aldeia São Francisco,
atuava como uma espécie de padre, existia um ter-
mo que se dava na épo- ca “confessor”, como se
fosse um padre, assim que ele era reconhecido. En-
tão, era ele que realizava as con- fissões antes dos
casamentos dos indígenas Potiguara, podemos di-
zer que era uma autoridade religiosa.
A vida religiosa de dona Joana era algo extrema-
men- te importante, ministrava a pequena Capela de
Capa São João Batista na antiga Aldeia Galego, hoje Alto do
Imagem 16 - Dona Joana Tambá, na celebrações e fazia questão de rezar o nove-
Sumário Ferreira da Silva
nário Mariano, que sempre acontece no mês de maio.
Autor As músicas que ela cantava junto com a comunidade era sempre em latim. Seu
protagonismo foi algo incomparável. Dona Joana tinha uma participação ativa a
eLivre frente da igreja de sua aldeia.
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POTIGUARA, UM POVO DE MEMÓRIAS

O protagonismo da lapinha com a cultura indígena

Preocupada com sua cultura, Dona Joana mantinha sempre uma ligação entre
a lapinha, a religião e a cultura indígena de seu povo. Os relatos de algumas pes-
soas que trabalharam com ela neste período cultural, retratam sobre a importância
que ela teve dentro da comunidade Potiguara. Era comum Dona Joana sair com
seu grupo para fazer apresentação do ritual indígena, lapinha, pastoril, ciranda e
coco de roda nas cidades mais próximas de Baía da Traição, até mesmo na capital
paraibana – João Pessoa.
Nessas apresentações eram arrecadadas cestas básicas para serem doadas
na própria comunidade, sempre havia uma preocupação por parte dela em ajudar
as pessoas da sua comunidade.
Suas participações foram em diversas áreas do cotidiano Potiguara, além dos
rituais sagrados de seu povo, as lapinhas, o coco de roda, a ciranda, ela teve par-
Capa ticipação em um teatro, no qual foi encenado o nascimento de uma criança indíge-
na.
Sumário “Era aquela pessoa preocupada com a cultura do povo, eu digo que ela era a
Autor matriarca daquela aldeia... Era uma mãe que todos queriam ter...”
eLivre (Pedro Lobo, 2018)

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POTIGUARA, UM POVO DE MEMÓRIAS

Capa
Sumário
Autor Imagem 17 - Apresentação da Lapinha
eLivre

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Capa
Sumário
Autor Imagem 18 - Dona Joana dançando com parentes e visitantes

eLivre

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POTIGUARA, UM POVO DE MEMÓRIAS

Na apresentação desse teatro havia três narrações, uma que era o nascimento
da criança indígena, a chegada dos holandeses e quando o indígena Pedro Poti foi
levado preso. Além das Capelas católicas, existem igrejas evangélicas nas aldeias.
O que remete uma atuação de várias religiões dentro do povo Potiguara. Mesmo
as católicas sendo maioria, a presença das evangélicas tem crescido bastante nos
últimos anos.

Capa
Sumário
Autor
eLivre

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POTIGUARA, UM POVO DE MEMÓRIAS

EDUCAÇÃO DO POVO POTIGUARA

Os índios Potiguara têm uma vida semelhante ao do povo não indígena, mas
a raiz é indígena. E, segundo Lusival Barcelos, cada vez mais, parcelas da comu-
nidade indígena concentram esforços no sentido de fortalecer ações que tragam
benefícios para toda a comunidade.
E não seria estranho pensar que esses indígenas têm uma vida comum como
qualquer pessoa civilizada. Eles estudam, trabalham e vão em busca de seus so-
nhos, atualmente já é bem comum encontrar indígenas nas universidades, seja ela
pública ou privada.
Esse processo de educação se deu algum tempo atrás, quando a comunidade
lutava para que houvesse escolas para os indígenas e foi a partir daí que surgiu
a escola diferenciada, ou a escola indígena. Diferenciada pelo fato de não só tra-
balhar a educação básica contida na grade curricular (MEC), como também de se
Capa trabalhar a história do povo Potiguara e demais povos no Brasil.
Sumário As escolas indígenas, trabalham não só com temáticas não indígenas, mas
também com assuntos relacionados ao seu território indígena, como por exemplo,
Autor
1 BARCELOS, Lusival Antonio. O ressurgir dos Potiguaras. Natal: UFRN, 2002. Disponível em: http://sbhe.org.br/novo/con-
eLivre gressos/cbhe2/pdfs/Tema6/0638.pdf. Acesso em: 02/05/2018.

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POTIGUARA, UM POVO DE MEMÓRIAS

existe uma disciplina chamada “etno-história” na qual o estudante conhece mais


um pouco da historicidade do seu povo como também no contexto nacional, além
do resgate da língua materna desses, o tupi. Uma outra disciplina conhecida nas
escolas indígenas é Arte e Cultura, que tem o objetivo de trabalhar e de desmis-
tificar a diversidade cultural dos Potiguara da Paraíba, em conjunto com o corpo
docente, discente e a comunidade envolvente.
Assim os indígenas começaram a se apropriar melhor da sua identidade e co-
meçou a perceber que era necessário que houvesse uma preocupação com sua
própria história.
Nas escolas são práticas essenciais que tanto as crianças como os jovens pos-
sam ser conhecedor de sua história, da resistência de seu povo, suas lutas e estes
aprendem a falar o tupi, a fazer artesanato e são ensinados a valorizar sua cultura.

Capa
Sumário
Autor
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Capa Imagem 19 - Fotografia: Bruno Rodrigues.


Formatura indígena, Escola Pedro Poti/ Baía da Traição
Sumário
Autor
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O fortalecimento da Língua Tupi

Atualmente a prefeitura municipal da cidade de Baía da Traição implantou den-


tro de seu projeto pedagógico o curso de Tupi para todos os professores da rede
municipal. A ideia do curso, é fazer com que todos os professores tenham acesso
a língua materna dos Potiguara e possam repassar para seus alunos. Formando
Professores bilíngues para um ensino bilíngue.
Assim como a educação indígena básica é obrigatória dentro da população Po-
tiguara, o tupi também é algo que faz parte da grade curricular de todas as escolas
indígenas da comunidade.
Sobre esse resgate do tupi, ocorreu segundo Luzival Barcelos: “Através de um
convênio com a Universidade de São Paulo, os Potiguara iniciaram um curso de
Tupi Antigo. Após o período de formação, 14 professores foram capacitados e estão
ensinando a Língua Tupi para as terceiras e quartas anos do Ensino Fundamental
I, em mais uma busca de recuperação de sua identidade. Em algumas aldeias, os
Capa
adultos também estão aprendendo otupi antigo e muito se orgulham da língua mãe
Sumário potiguara”.
Autor Atualmente boa parte da rede de ensino ofertado dentro das aldeias e nas ci-
dades, já trabalham com a Língua Tupi, são inúmeros jovens que se arriscam a
eLivre falar o tupi, da mesma forma como também repassam para a comunidade.
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POTIGUARA, UM POVO DE MEMÓRIAS

Um educador, da etnia Potiguara, por nome Ailton Silva, fala da importância do


resgate e valorização da língua materna, o Tupi Antigo. Língua essa que lhes foi ti-
rada há séculos e hoje eles, os Potiguaras, tem a oportunidade de falar novamente
e nos diz:

[...]Uma vez introduzida no currículo escolar de todas as escolas municipais e,


graças a gestão atual, que tem como uma de suas metas “o protagonismo indíge-
na”, que por sua vez está patrocinando uma formação de dois anos do curso de
Tupi Antigo para todos os profissionais da educação. Na qual se espera que todos
os professores se engajem e se comprometam com esse novo conhecimento, que
de fato é de responsabilidade de todos nós educadores nesta magnífica (re) des-
coberta da nossa primeira língua. Mas, para que isso possa ser fluente é preciso
que o mesmo seja praticado na escola, em casa e em outros lugares.

Capa
Sumário
Autor
eLivre

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Capa
Sumário
Autor
eLivre Imagem 20 - Fotografia: Tamara Rodrigues.
Aulas de Tupi em aldeia Potiguara
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POTIGUARA, UM POVO DE MEMÓRIAS

Biblioteca Indígena

A ‘Kûatiaroka’, biblioteca municipal Raimunda Maria da Cruz Soares, localiza-


da na cidade de Marcação, é a primeira e única biblioteca indígena da Paraíba, foi
inaugurada em 2014 e passou por mudanças de ambiente recentemente. Ela, as-
sim como toda biblioteca, tem uma vasta opção de livros para diversas áreas, mas
o seu diferencial é o acervo de livros com a temática indígena para pesquisas de
estudantes do ensino fundamental, médio e ensino superior. Alguns universitários,
mestrandos e outros que trabalharam com a temática levaram seus trabalhos aca-
dêmicos, após apresentados, para a biblioteca para deixar como banco de dados.
Algo que servirá para estudos de outros que venham a pesquisar sobre o mesmo
assunto.
O espaço é bem estruturado, atrativo e literalmente criado para levar ao povo,
de modo geral, o conhecimento sobre as histórias, conceitos, lendas e cultura do
povo Potiguara.
Capa
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Capa Imagem 21 - Fotografia: Maria Fabiana.


Kûatiaroka, biblioteca indígena Potiguara
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Capa Imagem 22 - Fotografia: Maria Fabiana.


Parte interna da biblioteca indígena Potiguara
Sumário
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O FUTURO DOS POTIGUARA

Vemos os Potiguara como um povo civilizado e que durante esse tempo todo
tem mantido sua cultura e seus costumes, eles não tem perdido sua identidade,
estão cada vez mais inseridos dentro da sociedade e vivem como qualquer outra
pessoa.
Os Potiguara são autores da sua história, são os principais protagonistas de
sua identidade. Em diálogo com um jovem da comunidade, eu, Tamara Rodrigues,
perguntei para ele qual futuro ele sonha para seu povo, o jovem Bruno Potiguara
responde: “ Queremos um futuro, onde a sociedade possa ver os indígenas como
pessoas normais e não como bicho do mato, ou aquele índio que ainda mora na
casa de palha, e que anda nú...”. Sabemos o quanto esses jovens sonhadores têm
buscado esperança de um futuro melhor, tem lutado para mostrar seu povo, no seu
contexto, o que realmente fale de si próprio, com um olhar indígena.

Capa Nesse sentido este ebook é importante para compreendermos melhor o povo
Potiguara, assim como estaremos mostrando quem são os indígenas da Paraíba,
Sumário gente como gente que sonha e batalha para alcançar seus objetivos. O material
Autor deste trabalho contribui para os indígenas manterem viva sua memória.

eLivre

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Capa
Sumário
Autor
eLivre Imagem 23 - Cacique geral Potiguara, Sandro Gomes, no ritual de pajelança
em Assembléia Geral Potiguara na aldeia São Francisco
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POTIGUARA, UM POVO DE MEMÓRIAS

REFERÊNCIAS

DE SOUZA, Thomaz Oscar Marcondes. Ecos do IV Congresso de História Nacio-


nal. A expedição de 1501-1502 e Americo Vespucci. Réplica ao Prof. Damião Pe-
res. Revista de História, v. 1, n. 3, p. 391-410, 1950.

MOONEN, Frans; MAIA, Luciano Mariz. Etnohistória dos índios Potiguara. João
Pessoa: PR/PB, 1992.

PALITOT, Estêvão Martins. Os Potiguara da Baía da Traição e Monte-Mór: Histó-


ria, Etnicidade e Cultura. Dissertação de Mestrado – UPFB, João Pessoa. 2005.

Capa
Sumário
Autor
eLivre

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SOBRE AS AUTORAS

Tamara Rodrigues da Silva

TAMARA RODRIGUES DA SILVA

Concluinte do Curso de Comunicação em


Mídias Digitais-UFPB, Indígena Potiguara
da Paraíba, residente na Aldeia Alto do Tam-
bá, no município de Baía da Traição-PB.
Capa
Sumário
Autor
eLivre Imagem 24 - Tamara Rodrigues

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POTIGUARA, UM POVO DE MEMÓRIAS

Maria Fabiana Pereira de Sousa

MARIA FABIANA PEREIRA DE SOUSA

Concluinte do Curso de Comunicação em


Mídias Digitais-UFPB, não indígena, simpa-
tizante da temática indígena.

Capa
Sumário
Imagem 25 - Fabiana Sousa
Autor
eLivre

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