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3ª Edição

Rio de Janeiro
2018
Copyright © 2004 – Eliane Potiguara
Todos os direitos reservados.

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escrito do proprietário do copyright.

Revisão: Eliane Potiguara – Obra revisada conforme o Acordo Ortográfico


da Língua Portuguesa
Texto de orelhas: Marcello Pereira Borghí
Diagramação de capa e miolo: Lenca Marques – Imagem art studio
Fotografia da capa: Antonio Carlos Banavita
Foto da contracapa: Ana Cota (https://www.flickr.com/photos/ana_cotta)
Ilustrações: obra Jabuti de Aline Ngrenhtabare Lopes Kayapó – presente
carinhosamente oferecido à autora.

Dados internacionais de catologação da publicação (CIP):

P863m Potiguara, Eliane


Metade cara, metade máscara / Eliane Potiguara.
Rio de Janeiro, RJ – 3ª edição – Grumin, 2018.
160 pp.

ISBN: 978-85-54397-00-5

1. Índios da América do Sul – Brasil – Condições sociais 2. Índios da


América do Sul – Brasil – Cultura 3. Índios da América do Sul – Brasil
– História 4. Índios Potiguara – Brasil 5. Povos indígenas – Brasil
I. Título. II Autor

CDD 306.089.981

Índices para catálogo sistemático:


1. Índios Potiguara : Cultura : Brasil : Sociologia - 306.089981
2. Índios Potiguara : História : Brasil : Sociologia - 306.089981

GRUMIN EDIÇÕES
E-Mails: elianepotiguara@gmail.com
elianepotiguara@uol.com.br
Sites: www.elianepotiguara.org.br e www.grumin.org.br
FAnPAgE: https://www.facebook.com/elianepotiguaraescritora
Quer ser lacaio prostituído,
Quer ser caniça bêbada
Ou escorregar num parque
BICHO-MARIONETE?
Pra agradar o poder, esconder o grito
Pra servir de história social...
E virar herói nacional!

Eles criticam
Por nos encontrar nas estradas
Alegrem-se
Por não nos encontrar ainda nos hospícios!...

Meu coração em tua ausência arde


E diverge minha mente confusa.
Naquele rio erguia meus braços
Eu não era eu.
Eu mesma
Fugia de mim na outra margem...

Dentro de mim essa ausência forja


Uma mulher fatal e louca
Desgarrada me toma essa fera e age
E mancha a várzea verde do meu ser
E mancha a essência branca do meu lar...

A incerteza gera em mim todos os males


E temia o medo de nadar nos rios
E tinha medo de andar nas matas
E ganhava medo de existir nos vales
Eu era o próprio medo da minha viagem...

Gritou meu medo de ver gente


Tua despedida me matou de verdade
Rugiu ainda minha voz rouca
Fraca, anêmica, covarde...

Quebrou-se um destino
Fora de combate
Num desvio que eu mesma repugnei:
É a mulher de fibra que um dia imerge
Nas falsas e corruptas personagens...
Mágoas, lágrimas rolam dessa existência
Num pedido de perdão, amor primeiro.
Perdoe-me a triste sina, a violência,
Meu medo, minha carência
Minha sorte!
Antes que tudo em mim se transforme em morte...
À amada tia Severina, índia Potyguara,
grande anciã guerreira que muito me incentivou e
me amou com a força da mulher indígena.

No passado, nossas avós falavam forte


Elas também lutavam
Aí, chegou o homem branco mau
Matador de índio
E fez nossa avó calar
E nosso pai e nosso avô abaixarem a cabeça.
Um dia eles entenderam
Que deviam se unir e ficar fortes
E a partir daí eles lutaram
Para defender sua terra e cultura.
Durante séculos
As avós e mães esconderam na barriga
As histórias, as músicas, as crianças,
As tradições da casa,
O sentimento da terra onde nasceram,
As histórias dos velhos
Que se reuniram pra fumar cachimbo.
Foi o maior segredo das avós e das mães.
Os homens, ao saberem do segredo,
Ficaram mais fortes para o amor, lutaram
E protegeram as mulheres.
Por isso, homens e mulheres juntos
São fortes
E fazem fortes os seus filhos
Para defenderem o segredo das mulheres.
Pra que nunca mais aquele homem branco
Mate a história do índio!

(Texto publicado na cartilha de apoio, um “complemento político” à alfabetização


Potyguara e a todos os índios do Brasil, de autoria de Eliane Potiguara, em 1984,
com apoio da Unesco e da Universidade do Estado do Rio de Janeiro – Uerj.)

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