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REPRESENTATIVIDADE
Cida Alves
Brasil de Fato | João Pessoa - PB | 09 de março de 2022 às 12:46
Eliane Lima dos Santos – mais conhecida como Eliane Potiguara, por pertencer a esse povo
– é uma das mulheres selecionadas para o projeto internacional Mil Mulheres para o
Prêmio Nobel da Paz. A indicação aconteceu em 2005, e sua história e trajetória serão
contadas em livro este ano.
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01/02/2024, 17:16 Indígena paraibana, Eliane Potiguara, é indicada ao Prêmio | Cidades
a primeira escritora indígena do Brasil, com sete livros lançados, sendo o mais recente A
Cura da Terra, voltado ao público infantojuvenil.
A família de Eliane se viu forçada a migrar do Nordeste para São Paulo. Seu bisavô foi o
guerreiro indígena Chico Solón, desaparecido das terras indígenas paraibanas por volta de
1920, quando se instalava ali a neocolonização da agricultura algodoeira causando a fuga de
famílias indígenas, oprimidas pela escravidão moderna.
A família se estabeleceu nas ruas do Rio de Janeiro, inicialmente e, depois foi morar no
Morro da Providência, Central do Brasil e na Rua General Pedra nº 263, zona do Mangue,
onde viviam as prostitutas e os imigrantes da 2º guerra mundial, os bananeiros, carvoeiros
portugueses, italianos e gente muito pobre e sofrida.
Depois foram morar no Morro de Cavalcante, numa espécie de sítio onde tudo plantavam. A
avó era a matriarca responsável pelo repasse dos seus conhecimentos tradicionais desde a
alimentação, cura até a contação de histórias.
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Em meio a esse imenso desafio, Eliane, que é carioca, mas seu povo é originário da
Paraíba, amadureceu e encontrou um grande dom: a escrita. Aos sete anos, já redigia
correspondências para a avó, analfabeta, que precisava se comunicar com os parentes e
amigos que ficaram na Paraíba. A mesma avó que foi a responsável por custear seus
estudos. "Ela era uma empreendedora de vender bananas, chamada Maria de Lurdes de
Souza, filha de Chico Solón”, lembra, cheia de orgulho.
Na adolescência Eliane já tinha uma consciência crítica forjada na história da própria família
e “pelos cochichos que ouvia dos adultos” que faziam parte do círculo de amigos, como ela
mesma gosta de contar. E não demorou muito a ocupar um papel de destaque na luta pelo
empoderamento das mulheres indígenas. Um marco importante em sua trajetória foi a
fundação da Rede GRUMIN, na Paraíba, em 1987, organização que até hoje cumpre o papel
de educar e apoiar as mulheres indígenas. Dois anos depois, lançou seu primeiro livro A
terra é a mãe do índio.
Presidenta Dilma Rousseff entrega a Eliane Potiguara "Orden do Mérito Cultural". A Ordem do Mérito
Cultural 2014 é uma premiação do governo brasileiro/Minc que visibiliza as culturas e os saberes /
Imagem Reprodução
“O Brasil desconhece totalmente a cultura indígena, apesar da maioria do povo brasileiro ter
sangue indígena, pois somos um país miscigenado. Quem não sabe um costume indígena
utilizado em sua residência, como dormir e descansar em rede, comer beiju (tapioca), tomar
banho diariamente, tomar chá para dor de barriga, por exemplo? As crianças e jovens
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vibram quando vou a uma escola contar histórias de nossos povos, de nossas origens de
vida. Eles viajam num mundo mágico onde comungam espírito, razão e vida vivida”.
Reconhecimento e perseguições
Ela levou o caso às Nações Unidas, em Genebra, na Suíça, para denunciar as violações dos
direitos humanos. Escapou das ameaças e tornou-se conhecida mundialmente, tendo sido
convidada a discursar e a contribuir com a ONU (Organização das Nações Unidas) em
diversas ocasiões.
Trajetória
Ao longo de sua carreira, Eliane tem trabalhado para valorizar e disseminar a herança do
povo indígena potiguar, do qual é descendente. Formada em Letras (Português e Literatura)
e em Educação pela UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), ganhou o prêmio
literário do PEN CLUB da Inglaterra e do Fundo Livre de Expressão, dos Estados Unidos,
com o livro-cartilha “A Terra é a mãe do índio”, que distribuía gratuitamente aos povos
indígenas. É autora também dos livros “Metade Cara, Metade Máscara”, pela Global
Editora, e do infantil “O coco que guardava a noite”, pela editora Mundo Mirim.
Por conta da idade e dos problemas de saúde, Eliane já não participa de passeatas e outros
movimentos que exigiriam mais de seu físico, porém, afirma que jamais largará a militância.
“Hoje atuo através da literatura, produzindo rodas de conversas, debates e livros sobre o
viver indígena e a relação humana com o território”, diz.
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Em 2022, ela pretende lançar dois livros. O primeiro, de poesias, deve sair em breve. O
segundo reunirá crônicas que refletem suas histórias e experiências de vida, com lançamento
previsto para o final do ano.
Livro mais recente, A Cura da Terra, é voltado ao público infantojuvenil / Imagem Reprodução
Ao longo dos 120 anos de existência do Prêmio Nobel, no total, 947 pessoas e 28
organizações receberam o Prêmio entre 1901 e 2021. Destas, apenas 58 são mulheres.
Pensando em equilibrar esta balança, sensivelmente favorável aos homens, as mulheres
suíças iniciaram um movimento e criaram a Associação Mil Mulheres para o Prêmio Nobel
da Paz, com o objetivo de chamar a atenção pública para o importante, embora muitas vezes
pouco reconhecido, papel da mulher na construção de um mundo mais solidário e pacífico.
Entre as Mil Mulheres selecionadas estão representantes de 153 países
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