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A Hospitalidade Brasileira
Não havia como interpretar seus desígnios, tanto podiam ser ferozes
como pacíficos, espoliadores ou doadores
Pouco mais tarde, essa visão idílica se dissipa. Nos anos seguintes, se
anula e se reverte no seu contrário: os índios começam a ver a
hecatombe que cairá sobre eles.
Maíra, seu deus, estaria morto? Como explicar que seu povo predileto
sofresse tamanhas provações? Tão espantosas e terríveis eram elas,
que para muitos índios melhor fora morrer do que viver.
O que o povo brasileiro aprendeu disso? Provavelmente nada. Tanto que nos dias
de hoje o brasileiro ainda se mostra altamente hospitaleiro e principalmente em
relação aos estrangeiros oriundos de nações com tradições imperialistas
romanas, países esses que saquearam as riquezas de inúmeros povos nas
Américas, na Ásia, na Oceania e na África.
Não estamos dizendo de forma alguma que o povo brasileiro deveria adotar
posições xenófobas aos estrangeiros vindos de qualquer lugar do mundo, ou que
não deva ser um povo hospitaleiro e aproveitar essa característica como
vantagem competitiva no setor de turismo, mas, o que vemos muitas vezes na
postura do povo brasileiro em relação a brancos de olhos azuis é uma atitude não
de hospitalidade como nas leis descritas no artigo de Luiz Otávio de Camargo,
mas, uma atitude de cordialidade e completa submissão.
O povo brasileiro parece ter uma séria crise de identidade e tende a se identificar
mais com os seus algozes do que com os seus iguais. Atitude essa que foi muito
bem retratada no Filme Bacurau em uma das cenas mais emblemáticas para
discutir a questão da identidade racial no Brasil. Nela, uma personagem brasileira,
que se apresenta como Teresa (Bárbara Colen), tenta se aliar aos estrangeiros,
que estão caçando os moradores de Bacurau. Ela diz que é branca e que não tem
nada a ver com os sertanejos, mas é ridicularizada e morta pelos gringos, que
afirmam que ela não é branca como eles.
Essa cena revela a ilusão de muitos brasileiros que se consideram brancos, mas
que não são reconhecidos como tais pelos padrões eurocêntricos e racistas. Ela
também mostra a violência e o preconceito que os brasileiros sofrem por parte
dos estrangeiros, que os veem como inferiores, exóticos e descartáveis. Além
disso, ela evidencia a diversidade e a mestiçagem do povo brasileiro, que é
formado por diferentes origens e influências étnicas e culturais.
Identidade essa que tem sido objeto de pesquisas em várias épocas envolvendo
muitos dos nossos melhores pensadores como Gilberto Freyre, Guimarães Rosa,
Sérgio Buarque de Holanda, Florestan Fernandes, Oliveira Viana, Caio Prado Jr,
Celso Furtado, Darcy Ribeiro, etc.
Oliveira Viana desenvolveu sua análise da identidade brasileira em sua obra Raça
e Assimilação, publicada em 1932, e em outros textos posteriores. Um dos
conceitos centrais da sua obra é o de eugenia, que se refere à ideia de que as
raças humanas possuem características físicas e psicológicas distintas e
hierarquizadas, e que a miscigenação entre elas pode gerar degeneração ou
melhoria da população. O autor também aponta as influências da colonização
portuguesa, do patriarcado rural, da escravidão, da religião e da educação na
formação do povo brasileiro. O autor também defende a necessidade de uma
intervenção estatal para orientar e controlar o processo de assimilação das raças
no Brasil. A identidade brasileira conforme Oliveira Viana é uma identidade elitista,
conservadora e autoritária, que reflete a visão de uma classe dominante, que
busca preservar seus interesses e privilégios com coerção social.
Caio Prado Junior desenvolveu sua análise da identidade brasileira em sua obra
Formação do Brasil Contemporâneo, publicada em 1942, e em outros textos
posteriores. Um dos conceitos centrais da sua obra é o sentido da colonização,
que se refere à ideia de que o Brasil foi colonizado pelos portugueses, com o
objetivo de explorar as suas riquezas naturais e humanas, sem se preocupar com
o desenvolvimento interno do país. O autor também aponta as influências da
estrutura agrária, da escravidão, da dependência externa e das lutas de classe na
formação do povo brasileiro. O autor também defende a necessidade de uma
revolução socialista para superar os problemas históricos e estruturais do Brasil.
A identidade brasileira de acordo com Caio Prado Junior é uma identidade crítica,
marxista e revolucionária, que reflete a visão de um intelectual comprometido com
a transformação da realidade brasileira.
Celso Furtado foi um dos mais importantes intelectuais brasileiros do século XX,
que se dedicou a estudar e promover o desenvolvimento do país, especialmente
do Nordeste. Ele foi economista, historiador, professor, escritor, ministro e
fundador da SUDENE (Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste).
Segundo Furtado, a identidade brasileira é marcada por uma diversidade de
origens, influências e experiências, que se manifestam na cultura, na política e na
economia. Ele reconhecia a existência de um caráter nacional, que se expressa
na criatividade, na tolerância, na capacidade de adaptação e na busca de
soluções originais para os problemas do país. Mas ele também apontava as
contradições e os desafios, que o Brasil enfrentava para superar o
subdesenvolvimento, a dependência externa, a desigualdade social e a exclusão
de grandes parcelas da população. Para Furtado, o desenvolvimento não era
apenas um processo econômico, mas também social e cultural. Ele defendia que
o Brasil deveria buscar um projeto nacional que valorizasse suas potencialidades
internas, sua diversidade regional e sua soberania política. Ele propunha uma
reforma estrutural que ampliasse o mercado interno, diversificasse a produção,
fortalecesse o planejamento estatal e promovesse a integração nacional.
Roberto Gomes contrapõe a razão tupiniquim à razão ocidental, que ele considera
rígida, dogmática, abstrata e escrita, e que teria sido imposta ao Brasil pelo
colonialismo e pelo capitalismo. Ele critica a submissão dos intelectuais brasileiros
aos modelos estrangeiros, que ignoram ou desprezam a realidade e a diversidade
do país. Ele defende que o Brasil deve valorizar sua razão tupiniquim, que é mais
adequada às suas condições históricas, sociais e culturais.
Nesse sentido, Roberto Gomes propõe uma reforma da educação brasileira, que
seja baseada na razão tupiniquim. Ele afirma que a educação deve ser um
processo de libertação, participação e criação, que estimule o pensamento crítico,
a expressão oral, a imaginação e a sensibilidade dos alunos. Ele também defende
que a educação deve respeitar a diversidade regional, étnica e cultural do país, e
promover o diálogo entre as diferentes formas de saber.
Em um extremo estariam os dominadores fazendo uso das leis para seu benefício
próprio ou de seus protegidos, e no outro, os dominados utilizando-se da
cordialidade dos fortes para escaparem dos rigores legais. Nesse sentido
poder-se-ia considerar a cordialidade como uma maneira de amenizar os rigores
da lei quando há conveniência para o poder concedente. Se a lei é para todos,
então porque não se observa igual aplicabilidade delas? Vale o ditado popular:
“Aos amigos, tudo; aos indiferentes, nada; aos inimigos a lei.”
Quanto ao entendimento de atrativo turístico Beni (2001) afirma ser todo lugar,
objeto ou acontecimento de interesse turístico que motiva o deslocamento de
grupos humanos para conhecê-los e que “atrativos turísticos é outro nome para
recursos turísticos, que constituem o patrimônio turístico”. São estes recursos,
considerados os principais elementos passíveis de provocar deslocamentos de
pessoas, e que por sua vez integram o “marco geográfico-ecológico-cultural” de
um lugar.
Houve uma mudança massiva do olhar do turista mais ou menos singular, próprio
do século XIX, para a proliferação de incontáveis discursos, formas e
incorporações do olhar do turista que atua, à medida que múltiplos olhares se
tornaram centrais para a cultura global. Há, então, inúmeras mobilidades, físicas,
imaginativas e virtuais, voluntárias e coercitivas. Ademais, há muito menos
“turismo”, em si, que ocorre em tipos específicos de espaço-tempo; há cada vez
mais homogeneização de culturas e similaridade dos comportamentos, fica cada
vez mais difícil separar o comportamento “doméstico” e o “estrangeiro”.
Referências Bibliográficas:
BARROS, Betânia; PRATES, Marco Aurélio S.; DINIZ, Ulisses F. 1991. A arte
brasileira de administrar. Fundação Dom Cabra. CTE – INSEAD. Belo
Horizonte.
BARBOSA, Oliveira Lázaro; COSTA, Frederico Lustosa da; VIEIRA, Clóvis Abreu.
1982. O “jeitinho” brasileiro como recurso de poder. In: Revista de
Administração Pública. Rio de Janeiro, v.2. BENI, Mário Carlos. 2001. Análise
estrutural do turismo. 4 ed. São Paulo: Editora SENAC.
HOLANDA, Sérgio Buarque de. 1995. Raízes do Brasil. 26 ed. São Paulo:
Companhia das Letras. I COLÓQUIO SOBRE CULTURA BRASILEIRA DA
HOSPITALIDADE. In: Movimento Brasil de Turismo e Cultura. Disponível em:
Acesso em: nov 2006.
LOHMANN, Guilherme e PANOSSO NETTO, Alexandre. Teoria do turismo:
conceitos, modelos e sistemas. São Paulo: Aleph. Acesso em: 03 jul. 2023.