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ESCOLA DA MAGISTRATURA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

-EMERJ-

CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM DIREITO PARA A


CARREIRA DA MAGISTRATURA

PROGRAMA DO CURSO

CPIII B 1 2023 – TÉCNICA DE SENTENÇA

As aulas do módulo serão ministradas nas seguintes datas: 26/05, 29/05 e


30/05.

SESSÃO I: Dia 26/05/2023 - 8h às 9h 50min

Prof. Dr. Daniel Konder de Almeida

TEMA: Direito Penal. Receptação. Art. 180, caput, do Código Penal.

CASO CONCRETO:

O Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro ofereceu denúncia


em face de Rodolindo Sicrésio, imputando-lhe a prática de delito previsto no
artigo 180, caput, do Código Penal, narrando que, em data que não pode ser
precisada, mas certo que entre os dias 13/05/2021 e 07/02/2022, o denunciado,
de forma livre e consciente, recebeu, em proveito próprio, o veículo
Hyundai/HB20, placa ABC 1234 - de propriedade da locadora de veículos
Localiza - que sabia ser produto de crime, uma vez que proveniente de
apropriação indébita ocorrida em 13/05/2021, conforme boletim de ocorrência nº
00123/2021, da 103ª DP de Itaquera, São Paulo, às fls.17-22.
O Ministério Público alega que, na oportunidade, policiais rodoviários
federais em patrulhamento na Avenida Brasil, altura do nº 1.900, deram ordem de
parada ao denunciado, que conduzia o veículo Hyundai/HB20, placa ABC 1234.
Sendo assim, após o início da abordagem, verificou-se que o carro estava em
nome da locadora de veículos Localiza.
O Ministério Público afirma que, ao ser indagado sobre a
documentação, o denunciado relatou que não a possuía e que havia comprado o
veículo de uma pessoa identificada por ele apenas como Sérgio. Na sequência,
em consulta junto à Localiza, restou verificado que o veículo era produto de
apropriação indébita, considerando que havia sido locado em 10/05/2021 e
deveria ter sido devolvido em 13/05/2021. Por isso, requer a condenação nos
termos da inicial acusatória.
A denúncia veio instruída com os autos do flagrante oriundos da 27ª
Delegacia de Polícia, do qual destacam-se a decisão do flagrante, o auto de
prisão em flagrante, o termo de declaração, o registro de ocorrência, o auto de
apreensão e o auto de entrega. FAC do acusado sem anotação.
Em audiência de custódia, foi deferida a liberdade provisória.
Em resposta à acusação, Rodolindo Sicrésio alegou a falta de justa
causa para a ação penal e a atipicidade do crime, requerendo a absolvição
sumária.
Audiência de instrução e julgamento realizada na data de 19/07/2021,
conforme assentada às fls.181-182, oportunidade em que foram colhidos os
depoimentos das testemunhas Eduardo e Carlos Silva.
A testemunha Eduardo, policial rodoviário federal, narrou: "que estava
em patrulhamento na Avenida Brasil, quando deu ordem de parada ao acusado,
que conduzia o veículo Hyundai/HB20; que se tratava de uma abordagem de
rotina, pois na localidade há grande incidência de circulação de veículos
roubados; que fez buscas no veículo enquanto seu colega Carlos apurava os
fatos, ocasião em que o réu declarou que comprou o carro por vinte mil reais de
um amigo chamado Sérgio e que não possuía a documentação do bem; que,
diante das informações repassadas, Carlos verificou que o veículo estava em
nome da locadora Localiza; que, ao proceder à consulta, constatou que o veículo
era produto de crime."
A testemunha Carlos, policial rodoviário federal, narrou: "que estava
em patrulhamento de rotina na Avenida Brasil quando abordaram o réu na
condução do veículo Hyundai/HB20; que, ao buscar informações sobre o veículo
apreendido, verificou que se tratava de produto de apropriação indébita."
Rodolindo Sicrésio, em interrogatório, afirmou: "que se
encontradesempregado; que não estava na condução do veículo; que não sabia
quem estava na condução; que não conhecia os policiais que realizaram a prisão;
que não sabia que o carro era produto de crime." Em relação às demais
perguntas, exerceu o direito de ficar em silêncio.
Em alegações finais, o Ministério Público afirma que, após as
declarações firmes e coerentes das testemunhas, em conjunto com os
documentos que comprovam a locação do automóvel, o crime restou
devidamente comprovado. Desse modo, requer a condenação nas penas do
artigo 180, caput, do Código Penal.
Em alegações finais, Rodolindo Sicrésio alega que os depoimentos
dos policiais não podem ser considerados para a condenação, uma vez que são
partes interessadas no desfecho condenatório, e, ademais, afirma que não se
demonstrou a autoria e tampouco o dolo ou a culpa na prática do crime, o que
seria indispensável, na medida em que não se admite a responsabilidade criminal
objetiva no ordenamento jurídico brasileiro. Por esses motivos, pede a
absolvição, além da concessão do perdão judicial, previsto no art. 180, §5º, do
Código Penal, com a consequente extinção da punibilidade. Subsidiariamente,
em caso de condenação, requer a desclassificação do crime para o tipificado no
artigo 180, §3º, do Código Penal. Por derradeiro, pede a substituição da pena
privativa de liberdade por restritiva de direitos.
Autos conclusos. Elabore sentença sem relatório.

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