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UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MOÇAMBIQUE

FACULDADE DE DIREITO

BÚRIA SALIMO ABDALA

ESTRUTURA FUNDAMENTAL DO PROCESSO


PENAL MOÇAMBICANO

NAMPULA

2023
UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MOÇAMBIQUE

FACULDADE DE DIREITO

BÚRIA SALIMO ABDALA

ESTRUTURA FUNDAMENTAL DO PROCESSO


PENAL MOÇAMBICANO
Trabalho de carácter avaliativo submetido na cadeira de
Direito Processual Penal, leccionado pelo Dr. Sezinho
Muachana, curso de Direito, no período Laboral, 1º
semestre do 4º ano.

NAMPULA

2023
FOLHA DE ABREVIATURA

Ob. Cit – Obra Citada

Nº - Número

Art.º – Artigo

Pág. – Página

CPP – Código de Processo Penal


Índice
Introdução...................................................................................................................................2
ESTRUTURA FUNDAMENTAL DO PROCESSO PENAL MOÇAMBICANO....................3
Processo penal como conceito forma de parte............................................................................3
Posição da parte acusadora.........................................................................................................3
Posição do arguido, a parte acusada...........................................................................................3
Conceito de parte em sentido material........................................................................................4
ESTRUTURA FUNDAMENTAL DO PROCESSO PENAL MOÇAMBICANO....................4
DA NOTÍCIA DO CRIME.........................................................................................................4
Conceito......................................................................................................................................4
Aquisição da notícia do crime.....................................................................................................4
Denúncia Obrigatória..................................................................................................................4
Auto de Notícia...........................................................................................................................5
Denúncia Facultativa..................................................................................................................6
Forma e Conteúdo da Denúncia..................................................................................................6
Das Medidas Cautelares e de Polícia..........................................................................................6
Providências Cautelares Quanto aos Meios de Provas...............................................................7
Revistas e Buscas........................................................................................................................7
Apreensão de Correspondência...................................................................................................8
Detenção.....................................................................................................................................8
Detenção em flagrante delito......................................................................................................9
Flagrante delito.........................................................................................................................10
Detenção fora de flagrante delito..............................................................................................10
Formas e Tramitação do Processo Penal..................................................................................10
Formas de processo...................................................................................................................10
INSTRUÇÃO............................................................................................................................11
Conceito....................................................................................................................................11
Finalidade e Âmbito da Instrução.............................................................................................11
Direcção da instrução................................................................................................................12
Competência.............................................................................................................................12
Dos Actos de Instrução.............................................................................................................12
Actos do Ministério Público.....................................................................................................12
Actos a praticar pelo juiz de instrução......................................................................................12
Actos a ordenar ou autorizar pelo juiz de instrução..................................................................13
Acusação pelo Ministério Público............................................................................................14
Requisitos da Acusação............................................................................................................15
Audiência Preliminar................................................................................................................15
Finalidade da Audiência Preliminar..........................................................................................15
Requerimento para abertura da audiência preliminar...............................................................16
Direcção e natureza da audiência preliminar............................................................................16
Do Encerramento da Audiência Preliminar..............................................................................17
Prazos de duração máxima........................................................................................................17
Recursos....................................................................................................................................17
JULGAMENTO........................................................................................................................17
Conceito....................................................................................................................................17
Saneamento do processo...........................................................................................................18
Contestação e meios de prova...................................................................................................18
Audiência..................................................................................................................................19
Publicidade da Audiência.........................................................................................................19
Intervenção e competência do tribunal.....................................................................................19
Dos Actos Introdutório.............................................................................................................20
Chamada e abertura da audiência.............................................................................................20
Falta do Ministério Público, do defensor e do representante do assistente ou das partes civis 20
Presença do Arguido.................................................................................................................21
Da produção da Prova...............................................................................................................22
Princípios Gerais.......................................................................................................................22
Ordem de produção da prova....................................................................................................22
Identificação do arguido...........................................................................................................23
Confissão...................................................................................................................................23
Documentação da audiência.....................................................................................................23
Sentença....................................................................................................................................24
Deliberação e votação...............................................................................................................24
Leitura da sentença...................................................................................................................24
Requisitos da sentença..............................................................................................................25
Sentença condenatória..............................................................................................................26
Sentença absolutória.................................................................................................................26
Conclusão..................................................................................................................................28
Referências Bibliográficas........................................................................................................29
Introdução

As pessoas e as entidades que actuam no processo penal chamam-se de um modo geral


participantes processuais. São aquelas pessoas ou entidades que sendo investidas das mais
diversas funções actuam juridicamente no processo.
A estes participantes processuais a quem competem determinados direitos e deveres,
chamam-se sujeitos processuais, e têm-se: O Tribunal; O Ministério Público, e na sua
dependência os órgãos de polícia criminal, O arguido, associado ao defensor; O assistente; As
partes civis.
Tem-se depois aqueles a que se chama simples participantes processuais. São pessoas que
intervêm no processo, mas que de forma alguma vão co-determinar a sua tramitação. Eles
intervêm e com a sua intervenção contribuem para a boa decisão da causa, são eles: As
testemunhas; Os peritos; Os intérpretes.
Objectivo Geral:
 Abordar sobre o tema que me foi confiada, para conseguir de certa forma
desenvolvimento do meu conhecimento, juntamente com os colegas.
Objectivo Especifico:
 Trazer de uma forma clara, concisa, aquele que é a estrutura fundamental do direito
processual penal Moçambicano.
Quanto aos métodos usados na pesquisa é o método dedutivo, uma vez que visa
descobrir conhecimentos particulares através do conhecimento geral, é um processo de análise
de informação que nos leva a uma conclusão. E, para melhor compreensão do trabalho este
obedece a seguinte estrutura:

Introdução, Desenvolvimento, Conclusão e referências Bibliográfica. Em relação, a


metodologia usada para aquisição do conteúdo para posterior elaboração do trabalho, fez-se
uma leitura esgotada de manuais e documentos relativos ao tema.

2
ESTRUTURA FUNDAMENTAL DO PROCESSO PENAL

MOÇAMBICANO

Processo penal como conceito forma de parte

Conceito formal, adjectivo ou processual de parte em processo penal, são aqueles sujeitos
processuais que discutem a causa e esperam do juiz uma apreciação de mérito.1
O conceito adjectivo está ligado ao conceito formal de parte, isto é, dois sujeitos: o
acusador e o acusado, que exercem funções formalmente contrapostas. O acusador pretende a
condenação do arguido: o arguido pretende afastar essa mesma condenação.2

Posição da parte acusadora

O Ministério Público não poderá ser visto como uma verdadeira parte em sentido formal,
isto é, ele não tem como finalidade pura e exclusiva obter a condenação do arguido na medida
em que toda a sua actuação é conduzida sob critérios de estrita objectividade. O Ministério
Público não poderá ser uma verdadeira parte em processo penal, só o seria se ele pudesse
dispor do processo e sempre pretendesse o custo obter uma condenação.3

Posição do arguido, a parte acusada

O arguido seria parte em processo penal se ele em vez de ter um direito de defesa, tivesse
um dever de defesa, isto é, se o arguido perante uma acusação tivesse obrigatoriamente de se
defender sob pena de se considerarem provados os factos que ele não contestasse. Ele não é
uma verdadeira parte, não tem o dever de se defender, ele tem o direito de se defender.4
Do ponto de vista formal não se tem nem uma verdadeira parte acusadora nem uma
verdadeira parte defensora, na medida em que um não tem um dever de defesa, mas apenas
um direito de defesa.

1
HIPÓLITO, Maló Mafalda Ana. Estrutura do processo penal, Lisboa, 2018, pág. 6.
2
HIPÓLITO, Maló Mafalda Ana. Ob. Cit. Pág. 6.
3
HIPÓLITO, Maló Mafalda Ana. Ob. Cit. Pág. 6.
4
HIPÓLITO, Maló Mafalda Ana. Ob. Cit. Pág. 7.
3
Conceito de parte em sentido material : são titulares de interesses contrapostos que
no processo se discutem e que se encontram concretamente em jogo.5

ESTRUTURA FUNDAMENTAL DO PROCESSO PENAL

MOÇAMBICANO

 Da Noticia do Crime;
 Instrução;
 Julgamento.

DA NOTÍCIA DO CRIME

Conceito

Notícia do crime é o facto criminoso que chega ao conhecimento da autoridade


competente para investiga- ló.6

Aquisição da notícia do crime

O Ministério Público adquire notícia do crime por conhecimento próprio, por


intermédio dos órgãos de polícia criminal ou mediante denúncia, nos termos dos artigos
seguintes, art.º 284 do CPP.7

Denúncia Obrigatória

A denúncia é obrigatória, ainda que os agentes do crime não sejam conhecidos, Nº 1 do


art.º 285 CPP:

a) Para as entidades policiais, quanto a todos os crimes de que tomarem conhecimento;

5
HIPÓLITO, Maló Mafalda Ana. Ob. Cit. Pág. 8.
6
SANCHEZ, Salazar. Conselho de Ministério Publico, Brasília, 2015, pág. 3.
7
BOLETIM DA REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE, Código de Processo Penal, Lei nº 25/2019, de 26 de
Dezembro.
4
b) Para os funcionários públicos, quanto a crimes de que tomarem conhecimento no
exercício das suas funções e par causa delas.8

Quando várias pessoas forem obrigadas à denúncia do mesmo crime, a sua apresentação
por uma delas dispensa as restantes, nº 2 do art.º 285 do CPP.9

O disposto nos números anteriores não prejudica o regime dos crimes cujo procedimento
depende de queixa ou de acusação particular, nº 3 art.º 285 do CPP.10

Auto de Notícia

Sempre que uma autoridade judiciária, órgão dos serviços de investigação criminal,
entidade policial ou qualquer por lei revestida da competência de fiscalização presenciarem
qualquer crime de denúncia obrigatória, levantam ou mandam levantar auto de notícia, onde
se mencionem, nº 1 do art.º 286 do CPP:

a) Os factos que constituem o crime;


b) O dia, a hora, o local e as circunstâncias em que o crime foi cometido: e
c) Tudo o que puderem averiguar acerca da identificação dos agentes e dos ofendidos,
bem como os meios de prova conhecidos, nomeadamente as testemunhas que puderem
depor sobre os factos.11
1) O Auto de notícia é assinado pela entidade que o levantou e pela que o mandou
levantar.
2) O Auto de notícia é obrigatoriamente remetido ao Ministério Público no mais curto
prazo e vale como denúncia.
3) O Nos casos de conexão, nos termos dos artigos 28.° E seguintes, pode levantar-se um
único auto de notícia.12

8
BOLETIM DA REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE, Código de Processo Penal, Lei nº 25/2019, de 26 de
Dezembro.
9
BOLETIM DA REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE, Código de Processo Penal, Lei nº 25/2019, de 26 de
Dezembro.
10
BOLETIM DA REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE, Código de Processo Penal, Lei nº 25/2019, de 26 de
Dezembro.
11
BOLETIM DA REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE, Código de Processo Penal, Lei nº 25/2019, de 26 de
Dezembro.
12
BOLETIM DA REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE, Código de Processo Penal, Lei nº 25/2019, de 26 de
Dezembro.
5
Denúncia Facultativa

Qualquer pessoa que tiver noticia de um crime pode denunciá-lo ao Ministério


Público, ao juiz, aos órgãos dos serviços de investigação criminal qua entidade policial, salvo
se o procedimento respectivo depender de queixa ou acusação particular, art.º 287 do CPP.13

Forma e Conteúdo da Denúncia

Segundo artigo 289 do CPP, as formas de denúncias podem ser:

1) A denúncia pode ser feita verbalmente ou por escrito e não está sujeita formalidades
especiais.
2) A denúncia verbal é reduzida a escrito e assinada pela entidade que a receber e pelo
denunciante, devidamente identificado. E correspondentemente aplicável no disposto
no número 3 do artigo 105.
3) A denúncia contém, na medida passível, a indicação dos elementos referidos nas
alíneas do número 1 do artigo 286.".
4) O denunciante pode declarar, na denúncia, que deseja constituir-se assistente
Tratando-se de crime cujo procedimento depende de acusação particular, a declaração
é obrigatória, devendo, neste caso, a autoridade judiciária ou o órgão de serviços de
investigação criminal a quem a denúncia for feita verbalmente advertir a denunciante
da obrigatoriedade de constituição de assistente e dos procedimentos a observar, sem
prejuízo, a final, do estatuído no número 4 do artigo 330.14

Das Medidas Cautelares e de Polícia

Comunicação da notícia do crime


Os órgãos de polícia criminal que tiverem notícia de um crime, por conhecimento
próprio ou mediante denúncia, transmitem-na ao Ministério Público no mais curto prazo, nº 1
do art.º 291 CPP.15

13
BOLETIM DA REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE, Código de Processo Penal, Lei nº 25/2019, de 26 de
Dezembro.
14
BOLETIM DA REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE, Código de Processo Penal, Lei nº 25/2019, de 26 de
Dezembro.
15
BOLETIM DA REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE, Código de Processo Penal, Lei nº 25/2019, de 26 de
Dezembro.
6
Em caso de urgência, a transmissão a que se refere o número 1 pode ser feito por
qualquer meio de comunicação para o efeito disponível. A comunicação deve, porém, ser
seguida de comunicação escrita, nº 2 do art.º 291 CPP.16

Providências Cautelares Quanto aos Meios de Provas

Compete aos órgãos de polícia criminal, mesmo antes de receberem ordem da


autoridade judiciária competente para procederem a investigações, praticar actos cautelares
necessários e urgentes para assegurar os meios de prova, nº 1 do art.º 292 do CPP.17

Compete-lhes, nomeadamente, nos termos do número 1, nº 2 do artigo 292 do CPP:

a) Proceder a exames dos vestígios do crime, em especial às diligências previstas no


número 2, do artigo 206. E no artigo 208, assegurando manutenção do estado das
coisas e dos lugares:
b) Colher informações das pessoas que facilitem a descoberta dos agentes do crime e a
sua reconstituição;
c) Proceder a apreensões no decurso de revistas ou buscas ou em caso de urgência ou
perigo na demora, bem como adoptar as medidas cautelares necessárias à conservação
ou manutenção dos objectos apreendidos.

Mesmo após a intervenção da autoridade judiciária, cabe aos serviços de investigação


criminal assegurar novos meios de prova de que tiverem conhecimento, sem prejuízo de
deverem dar dela notícia imediata aquela autoridade, nº 3 do art.º 292 do CPP.18

Revistas e Buscas

Para além dos casos previstos no número 4 do artigo 209 órgãos de polícia criminal
actuam sem prévia autorização da autoridade judiciária: nº 1 do artigo 294 do CPP.

a) À revista de suspeitos em caso de fuga iminente ou de detenção e a bucet no lugar em


que se encontrarem, salvo tratando-se de busca domiciliar sempre que tiverem fundada

16
BOLETIM DA REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE, Código de Processo Penal, Lei nº 25/2019, de 26 de
Dezembro.
17
BOLETIM DA REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE, Código de Processo Penal, Lei nº 25/2019, de 26 de
Dezembro.
18
BOLETIM DA REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE, Código de Processo Penal, Lei nº 25/2019, de 26 de
Dezembro.
7
razão para crer que eles se ocultam objecto relacionados com o crime, susceptíveis de
servirem a prova e que de outra forma poderiam perder-se;
b) À revista de pessoas que tenham de participar ou pretendam assistir a qualquer acto
processual, sempre que houver razões para crer que ocultam armas ou outros objectos
com os quais possam praticar actos de violência.

É correspondentemente aplicável o disposto no número 5 do artigo 209, nº 2 do art.º 294 do


CPP.19

Apreensão de Correspondência

Nos casos em que deva proceder-se à apreensão de correspondência, os órgãos de


polícia criminal transmitem-na intacta ao juiz que tiver autorizado ou ordenado a diligência,
nº 1 do art.º 295 do CPP.

Tratando-se de encomendas ou valores fechados susceptíveis de serem apreendidos,


sempre que tiverem fundadas razões para crer que eles podem conter informações úteis à
investigação de um crime ou conduzir à sua descoberta, e que podem perder-se em caso de
demora, os órgãos de polícia criminal informam do facto, pelo meio mais rápido, o juiz, o
qual pode autorizar a sua abertura imediata, nº 2 do art.º 295 do CCP.

Verificadas as razões referidas no número 2, os órgãos de polícia criminal podem


ordenar a suspensão da remessa de qualquer correspondência nas estações de correios e de
telecomunicações. Se, no prazo de 48 horas, a ordem não for convalidada por despacho
fundamentado do juiz, a correspondência é remetida ao destinatário, nº 3 do art.º 295 do
CPP.20

Detenção

A detenção a que se referem os artigos seguintes é efectuada: nº 1 do art.º 297 do


CPP.21

19
BOLETIM DA REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE, Código de Processo Penal, Lei nº 25/2019, de 26 de
Dezembro.
20
BOLETIM DA REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE, Código de Processo Penal, Lei nº 25/2019, de 26 de
Dezembro.
21
BOLETIM DA REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE, Código de Processo Penal, Lei nº 25/2019, de 26 de
Dezembro.
8
Para, no prazo máximo de 48 horas, o detido ser apresentado a julgamento sob forma
sumária ou ser presente ao juiz competente para primeiro interrogatório judicial ou para
aplicação ou execução de uma medida de coacção.

Para assegurar a presença imediata ou, não sendo possível, no mais curto prazo, mas
sem nunca exceder 24 horas, do detido perante a autoridade judiciária em acto processual.22

O Arguido detido fora de flagrante delito para aplicação ou execução da medida de prisão
preventiva é sempre apresentado ao juiz, sendo correspondentemente aplicável o disposto no
artigo 175 do CPP, nº 2 do art.º 297 do CPP.

Detenção em flagrante delito

Em caso de flagrante delito, por crime punível com pena de prisão: nº 1 do art.º 298.

a) Qualquer autoridade judiciária ou entidade policial procede à detenção;


b) Qualquer pessoa pode proceder à detenção, se uma das entidades referidas na alínea
anterior não estiver presente nem puder ser chamada em tempo útil.23

No caso previsto na alínea b) do número 1, a pessoa que tiver procedido à de- tenção
entrega imediatamente o detido a uma das entidades referidas na alínea a). a qual redige auto
sumário da entrega e procede de acordo com o estabelecido no artigo 302, nº 2 do art.º 298 do
CPP.

Tratando-se de crime cujo procedimento dependa de queixa, a detenção só se mantém


quando, em acto a ela seguido, o titular do direito respectivo o exercer. Neste caso, a
autoridade judiciária ou a entidade policial levantam ou mandam, nº 3 do art.º 298 do CPP.

Levantar auto em que a queixa fique registada. Tratando-se de crime cujo procedimento
dependa de acusação particular, não há lugar a detenção em flagrante delito, mas apenas à
identificação do infractor, Nº 4 do art.º 298 do CPP.24

22
BOLETIM DA REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE, Código de Processo Penal, Lei nº 25/2019, de 26 de
Dezembro.
23
BOLETIM DA REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE, Código de Processo Penal, Lei nº 25/2019, de 26 de
Dezembro.
24
BOLETIM DA REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE, Código de Processo Penal, Lei nº 25/2019, de 26 de
Dezembro.
9
Flagrante delito

E flagrante delito todo o crime que se está cometendo ou se acabou de cometer, nº 1


do art.º 299 do CPP.

Reputa-se também flagrante delito o caso em que o agente for, logo após o a ordem
crime, perseguido por qualquer pessoa ou encontrado com objectos ou sinais que cia é remita
mostrem claramente que acabou de o cometer ou nele participar, nº 2 do art.º 299 do CPP.

Em caso de crime permanente, o estado de flagrante delito só persiste enquanto se


mantiverem sinais que mostrem claramente que o crime está a ser cometido e o agente está
nele a participar, nº 3 do art.º 299 do CPP.25

Detenção fora de flagrante delito

Fora de flagrante delito, a detenção só pode ser efectuada por mandado de juiz se tratar
de caso em que é admissível a prisão preventiva e existirem elementos que tornem fundado o
receio de fuga.26

Formas e Tramitação do Processo Penal

Formas de processo

O processo pode ser comum ou especial, nº 1 do art.º 305 do CPP.

O processo especial aplica-se aos casos expressamente designados na lei processo


comum é aplicável a todos os casos a que não corresponda processo especial, nº 2 do art.º
305.

Os processos especiais regulam-se pelas disposições que lhes são próprias pelas
disposições gerais e comuns, em tudo quanto não estiver prevenido nume noutras, observar-
se-á o que se acha estabelecido para o processo comum, nº 3 do art.º 305 do CPP.27

25
BOLETIM DA REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE, Código de Processo Penal, Lei nº 25/2019, de 26 de
Dezembro.
26
BOLETIM DA REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE, Código de Processo Penal, Lei nº 25/2019, de 26 de
Dezembro.
27
BOLETIM DA REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE, Código de Processo Penal, Lei nº 25/2019, de 26 de
Dezembro.
10
INSTRUÇÃO

Conceito

É uma fase de discussão dos fundamentos desta decisão, no decurso da qual a vítima e
o arguido podem apresentar provas que, por qualquer razão, não tenham sido tidas em conta
durante a fase de inquérito como por exemplo novas testemunhas ou documentos.28

Instrução é a fase facultativa pretende avaliar se há indícios suficientes para levar uma
pessoa acusada de um crime a julgamento, normalmente não demora mais de alguns meses.29

Finalidade e Âmbito da Instrução

A instrução compreende o conjunto de diligências que visam investigar a existência de


um crime, determinar os seus agentes e a responsabilidade deles e descobrir e recolher as
provas, em ordem à decisão sobre a acusação, nº 1 do art.º 307 do CPP.

Na instrução devem, tanto quanto possível, investigar-se os motivos e circunstâncias


da infracção, os antecedentes, o estado psíquico dos agentes e os elementos de facto que
importe conhecer para fixar a indemnização por perdas e danos, nº 2 do art.º 307 do CPP.

Na instrução devem efectuar-se não só as diligências conducentes a provar a


culpabilidade dos arguidos, mas também aquelas que possam concorrer para demonstrar a sua
inocência e irresponsabilidade, nº 3 do art.º 307 do CPP.

Ressalvadas as excepções previstas neste Código, a notícia de um crime dá sempre


lugar à abertura de instrução, nº 4 do art.º 307 do CPP.30

Direcção da instrução

A direcção da instrução cabe ao Ministério Público, assistido pelos serviços de


investigação criminal, nº 1 do art.º 307 do CPP.

28
OLIVEIRA, Mariana. Estrutura Fundamental do Processo Penal, Lisboa, 2018, pág. 6.
29
CASTRO, Henrique Gustavo Ribeiro Ferreira de Antas. Estrutura Fundamental do Processo
Penal, Brasil, 2015, pág. 9.
30
BOLETIM DA REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE, Código de Processo Penal, Lei nº 25/2019, de 26 de
Dezembro.
11
Para efeito do disposto no número 1, os órgãos dos serviços de investigação criminal
actuam sob a directa orientação do Ministério Público e na sua dependência funcional, nº 2 do
art.º 307 do CPP.31

Competência

E competente para a realização da instrução o Ministério Público que exercer funções


no local em que o crime tiver sido cometido.32

Dos Actos de Instrução

Actos do Ministério Público

O Ministério Público pratica os actos e assegura os meios de prova necessários à


realização das finalidades referidas no número 1, do artigo 307. Nos termos e com as
restrições constantes dos artigos seguintes, art.º 312 do CPP.33

Actos a praticar pelo juiz de instrução

Durante a instrução, compete exclusivamente ao juiz de instrução criminal, art.º 313 do CPP.

a) Proceder ao primeiro interrogatório judicial de arguido detido:


b) Validar e manter captura;
c) Proceder à aplicação de uma medida de coacção ou de garantia patrimonial à excepção
da prevista no artigo 237, a qual pode ser aplicada pelo Ministério Público;
d) Proceder a buscas e apreensões em escritório de advogado, consultório médico,
instalação de órgão de comunicação social ou estabelecimento bancário, nos termos do
número 3 do artigo 212, número 1 do artigo 215, e artigo 216.
e) Aplicar provisoriamente medidas de segurança;
f) Admitir a constituição de assistente;

31
BOLETIM DA REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE, Código de Processo Penal, Lei nº 25/2019, de 26 de
Dezembro.
32
BOLETIM DA REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE, Código de Processo Penal, Lei nº 25/2019, de 26 de
Dezembro.
33
BOLETIM DA REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE, Código de Processo Penal, Lei nº 25/2019, de 26 de
Dezembro.
12
g) Tomar conhecimento, em primeiro lugar, do conteúdo da correspondência apreendida,
nos termos do número 3, do artigo 214, b) Condenar em multa e imposto de justiça,
h) Declarar a perda, a favor de Estado, de bens apreendidos, quando o Ministério Público
proceder ao arquivamento dos autos nos termos dos artigos 324, 327 e número 2 do
artigo 329;
i) Decidir o pedido de habeas corpus por detenção legal;
j) Decidir nos incidentes relativos a impedimentos, suspeições, falsidade alienação
mental do arguido;
k) Praticar quaisquer outros actos que a lei expressamente reservar ao juiz de instrução.34

O juiz pratica os actos referidos no número 1 a requerimento do Ministério Público,


dos serviços de investigação criminal, em caso de urgência ou de perigo na demora, do
arguido ou do assistente, nº 2 do art.º 313 do CPP.

O requerimento, quando proveniente do Ministério Público ou de autoridade de polícia


criminal, não está sujeito a quaisquer formalidades, nº 2 do art.º 313 do CPP.

Nos casos referidos nos números anteriores, o juiz decide, no prazo máximo de 24
horas, com base na informação que, conjuntamente com o requerimento, for prestada,
dispensando a apresentação dos autos sempre que a não considerar imprescindível, nº 2 do
art.º 313 do CPP.35

Actos a ordenar ou autorizar pelo juiz de instrução

Durante a instrução, compete exclusivamente ao juiz de instrução ordenar ou autorizar,


nº 1 do art.º 314 do CPP:

a) Buscas domiciliárias, nos termos e com os limites do artigo 212:


b) Apreensões de correspondência, nos termos do número 1 do artigo 214.P
c) Intercepção, gravação ou registo de conversações ou comunicações, nos termos dos
artigos 222 e 225.
d) A prática de quaisquer outros actos que a lei expressamente fizer depender de ordem
ou autorização do juiz de instrução.

34
BOLETIM DA REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE, Código de Processo Penal, Lei nº 25/2019, de 26 de
Dezembro.
35
BOLETIM DA REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE, Código de Processo Penal, Lei nº 25/2019, de 26 de
Dezembro.
13
É correspondentemente aplicável o disposto nos números 2, 3 e 4 do artigo 313.36

Acusação pelo Ministério Público

Se durante a instrução tiverem sido recolhidos indícios suficientes de existência de um


crime e de quem foi o seu agente, o Ministério Público deduzirá, no prazo de 8 dias, acusação
contra aquele, se para isso tiver legitimidade, nº 1 do art.º 330 do CPP.

Até 5 dias após a notificação da acusação do Ministério Público, o assistente ou quem


no acto se constitua assistente, poderá também deduzir acusação pelos factos acusados pelo
Ministério Público, por parte deles ou por outros, desde que não tenham como efeito a
imputação ao arguido de um crime diverso ou a agravação dos limites máximos da pena
aplicável, nº 2 do art.º 330 do CPP.

Quando a prossecução do processo penal depender de acusação particular da a


instrução, o Ministério Público notificará o assistente para que este, m 5 dias, deduza,
querendo, acusação particular, nº 3 do art.º 330 do CPP.

Se, nos casos previstos no número 3, o denunciante ainda se não tiver constituído
assistente, o Ministério Público notificá-lo-á para que, em 5 dias, se constitua como tal e
deduza acusação particular, nº 4 do art.º 330 do CPP.

O Ministério Público poderá, nos 5 dias posteriores à apresentação da acusação


particular, acusar pelos mesmos factos, por parte deles ou por outros, desde que não tenham
por eleito o disposto na parte final do número 2, nº 5 do art.º 330 do CPP.37

Requisitos da Acusação

A acusação conterá, sob pena de nulidade: nº 1 do art.º 331 do CPP.

a) O nome do acusador, sua profissão e morada, se não for o Ministério Publico;


b) O nome do acusado, sua profissão e morada, quando conhecidos e quais- quer outras
indicações necessárias à sua identificação;

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BOLETIM DA REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE, Código de Processo Penal, Lei nº 25/2019, de 26 de
Dezembro.
37
BOLETIM DA REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE, Código de Processo Penal, Lei nº 25/2019, de 26 de
Dezembro.
14
c) A narração discriminada e precisa dos factos que integram a infracção ou infracções,
com inclusão dos que fundamentam a imputação subjectiva, a titulo de dolo ou de
negligência, e, se possível, o lugar, tempo e motivação da sua prática, o grau de
participação que o agente neles teve e quaisquer circunstâncias relevantes para a
determinação da gravidade dos factos, da culpa do agente e da sanção que lhe deverá
ser aplicada:
d) A indicação dos meios de prova que sustentam a imputação ao arguido dos factos e
circunstâncias referidos na alínea antecedente;
e) A indicação das disposições legais aplicáveis; A indicação de provas a produzir ou a
requerer, nomeadamente o rol das testemunhas e dos peritos a serem ouvidos em
julgamento, com a respectiva identificação;
f) A data e assinatura do acusador.

Audiência Preliminar

Finalidade da Audiência Preliminar

A audiência preliminar tem por finalidade obter uma decisão de submissão ou não da
causa a julgamento, através da comprovação da decisão de deduzir acção ou de arquivar os
autos da instrução, nº 1 do art.º 332 do CPP.

A audiência preliminar tem carácter facultativo e não pode ter lugar nas formas de
processo especiais, nº 1 do art.º 332 do CPP.38

Requerimento para abertura da audiência preliminar

A audiência preliminar pode ser requerida, no prazo de 8 dias a contar da ficção da


acusação ou do arquivamento: nº 1 do art.º 333 do CPP.

a) Peto arguido, relativamente a factos pelos quais o Ministério Público seus assistentes,
em caso de procedimento dependente de acusação particular tiverem deduzido
acusação; ou

38
BOLETIM DA REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE, Código de Processo Penal, Lei nº 25/2019, de 26 de
Dezembro.
15
b) Pelo assistente, se o procedimento não depender de acusação particular relativamente
a factos pelos quais o Ministério Público não tiver deduzido acusação.39

Direcção e natureza da audiência preliminar

A direcção da audiência preliminar compete ao juiz de instrução, assistido pelos

órgãos dos serviços de investigação criminal. nº 1 do art.º 334 do CPP.

Quando a competência para a audiência preliminar pertencer ao Tribunal Supremo ou

ao tribunal superior de recurso, o instrutor é designado, por sorteio, de entre os juízes da

secção e fica impedido de intervir nos subsequentes actos d processo. nº 2 do art.º 334 do

CPP.

O juiz de instrução investiga autonomamente o caso submetido à audiência preliminar,

tendo em conta a indicação, constante do requerimento da abertura audiência preliminar, a

que se refere o número 2 do artigo 333, nº 3 do art.º 334 do CPP.40

Do Encerramento da Audiência Preliminar

Prazos de duração máxima

O juiz de instrução encerra a audiência preliminar nos prazos máximos de 2 meses, se


houver arguidos presos ou sob obrigação de permanência na habitação, ou de 4 meses, se os
não houver. Nº 3 do art.º 334 do CPP.

O prazo de 2 meses referido no número 1 é elevado para 3 meses quando a audiência


preliminar tiver por objecto um dos crimes referidos no número 2 do artigo 256, Nº 3 do art.º
334 do CPP.

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BOLETIM DA REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE, Código de Processo Penal, Lei nº 25/2019, de 26 de
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BOLETIM DA REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE, Código de Processo Penal, Lei nº 25/2019, de 26 de
Dezembro.
16
Para efeito do disposto nos números anteriores, o prazo conta-se a partir da data de
recebimento do requerimento para abertura da audiência preliminar, Nº 3 do art.º 334 do
CPP.41

Recursos

A decisão preliminar que pronunciar o arguido pelos factos constantes da acusação do


Ministério Público é irrecorrível e determina a remessa imediata dos autos ao tribunal
competente para o julgamento, nº 1 do art.º 356 do CPP.

E recorrível o despacho que indeferir a arguição da nulidade cominada no artigo 355,


nº 1 do art.º 356 do CPP.42

JULGAMENTO

Conceito

Julgamento é acto ou efeito de julgar ou emitir um juízo. Ou seja a decisão final de um


tribunal sobre um processo, sentença.43

Saneamento do processo

Recebidos os autos no tribunal, o juiz da causa pronuncia-se sobre as nulidades e


outras questões prévias ou incidentais que obstem à apreciação do mérito da causa de que
possa desde logo conhecer, nº 1 do art.º 357 do CPP.

Se o processo tiver sido remetido para julgamento sem ter havido audiência
preliminar, o juiz despacha no sentido de rejeitar a acusação, se a considerar manifestamente
infundada, nº 2 do art.º 357 do CPP.

Para efeitos do disposto no número 2, a acusação considera-se manifestamente


infundada: nº 3 do art.º 357 do CPP.
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BOLETIM DA REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE, Código de Processo Penal, Lei nº 25/2019, de 26 de
Dezembro.
42
BOLETIM DA REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE, Código de Processo Penal, Lei nº 25/2019, de 26 de
Dezembro.
43
BELMIRO, Ramos. Curso de direito processual penal, Brasil, 2020, pág. 20.
17
a) Quando não contenha a identificação do arguido;
b) Quando não contenha a narração dos factos:
c) Se não indicar as disposições legais aplicáveis ou as proves que a funde mentam; ou
d) Se os factos não constituírem crime.44

Contestação e meios de prova

O arguido, em 10 dias a contar da notificação do despacho que designa dia para a


audiência, apresentará, querendo, a contestação, acompanhada do rol de teste munhas, dos
documentos de suporte da defesa e da indicação dos peritos e consultores técnicos que
deverão ser notificados para a audiência, nº 1 do art.º 359 do CPP.

A contestação poderá ser apresentada na audiência de julgamento, mas, neste caso, o


rol de testemunhas será apresentado e a indicação dos peritos será fé no prazo referido no
número 1, nº 2 do art.º 359 do CPP.

Se, entre as testemunhas indicadas houver alguma que tenha de ser ouvida per
deprecada, mencionar-se-ão logo os factos sobre que deverá depor, nº 3 do art.º 359 do CPP

A contestação não está sujeita a formalidades especiais, nº 4 do art.º 359 do CPP.

Quando deduzida na audiência de julgamento, a contestação será apresentada por


escrito pelo defensor, nº 5 do art.º 359 do CPP.

Se o defensor tiver sido nomeado ou constituído durante a audiência de julgamento,


poderá requerer algum tempo para conferenciar com o arguido e elaborar a contestação, sem
que, por esse motivo, seja adiada a audiência, nº 6 do art.º 359 do CPP.45

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BOLETIM DA REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE, Código de Processo Penal, Lei nº 25/2019, de 26 de
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Audiência

Publicidade da Audiência

A audiência de julgamento é pública, sob pena de nulidade insanável, salvo nos casos
em que o juiz da causa decidir a exclusão ou a restrição da publicidade, nº 1 do art.º 365 do
CPP.

É correspondentemente aplicável o disposto no artigo 97, nº 2 do art.º 365 do CPP.

A decisão de exclusão ou de restrição da publicidade é, sempre que possível


precedida de audição contraditória dos sujeitos processuais interessados, nº 3 do art.º 365 do
CPP.46

Intervenção e competência do tribunal

A discussão e julgamento da causa são feitos composto o tribunal nos termos da lei, nº
1 do art.º 366 do CPP.

Os juízes eleitos participam nos julgamentos em 1.ª instância em todos os casos


previstos na lei ou sempre que a sua intervenção for determinada pelo juiz da causa,
promovida pelo Ministério Público ou requerida por um dos sujeitos processuais, nº 2 do art.º
366 do CPP.

A participação dos juízes eleitos é restrita à discussão e decisão da matéria de facto, nº


3 do art.º 366 do CPP.47

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BOLETIM DA REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE, Código de Processo Penal, Lei nº 25/2019, de 26 de
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Dos Actos Introdutório

Chamada e abertura da audiência

Na hora a que deva realizar-se a audiência, a oficial de justiça, de viva voz e publicamente,
começa par identificar o processo e chama, em seguida, as pessoas que nele devam intervir, nº
1 do art.º 374 do CPP.

Se faltar alguma das pessoas que devam intervir na audiência, o oficial de jus- tica faz
nova chamada, após o que comunica verbalmente ao presidente o rol dos presentes e dos
faltosos, nº 2 do art.º 374 do CPP.

Seguidamente, o tribunal entra na sala e o presidente declara aberta a audiência, nº 3


do art.º 374 do CPP.48

Falta do Ministério Público, do defensor e do representante do assistente ou

das partes civis

Se, no início da audiência, não estiver presente a Ministério Público ou o defensor, a


presidente procede, sob pena de nulidade insanável, à substituição do Ministério Público pelo
substituto legal e do defensor por um nomeado, aos quais pode conceder, se assim o
requererem, algum tempo para examinarem o processo, nº 1 do art.º 375 do CPP.

Em caso de falta do representante do assistente ou das partes civis audiência e


prepararem a intervenção. Prossegue, sendo o faltoso admitido a intervir logo que
comparecer, Tratando-se da falta de representante do assistente em procedimento dependente
de e particular, a audiência é adiada por uma só vez, a falta não justificada ou segundo falta
valem como desistência da acusação, salvo se houver oposição do arguido, nº 2 do art.º 375
do CPP.49

48
BOLETIM DA REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE, Código de Processo Penal, Lei nº 25/2019, de 26 de
Dezembro.
49
BOLETIM DA REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE, Código de Processo Penal, Lei nº 25/2019, de 26 de
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Presença do Arguido

É obrigatória a presença do arguido na audiência, sem prejuízo do disposto nos


números 1 e 2 do artigo 378.° e números 1 e 2 do artigo 379, nº 1 do art.º 377 do CPP.

O arguido que deva responder perante determinado tribunal, segundo as normas gerais
da competência, e estiver preso em área de jurisdição territorial diferente pela prática de outro
crime, é requisitado à entidade que o tiver à sua ordem, nº 2 do art.º 377 do CPP.

A requerimento fundamentado do arguido, cabe ao tribunal proporcionar àquele as


condições para a sua deslocação, nº 3 do art.º 377 do CPP.

O arguido que tiver comparecido à audiência não pode afastar-se dela até seu termo. O
presidente toma as medidas necessárias e adequadas para evitar o afastamento, incluída a
detenção durante as interrupções da audiência, se isso parecer indispensável, nº 4 do art.º 377
do CPP.

Se, não obstante o disposto no número 4, o arguido se afastar da sala de audiência,


pode esta prosseguir até final se o arguido já tiver sido interrogado em tribunal não considerar
indispensável a sua presença, sendo para todos os efeitos mu representado pelo defensor, nº 5
do art.º 377 do CPP.

O disposto no número 5 vale correspondentemente para o caso em que o arguido, por


dolo ou negligência, se tiver colocado numa situação de incapacidade para continuar a
participar na audiência, nº 6 do art.º 377 do CPP.

Nos casos previstos nos números 5 e 6 deste artigo, bem como no número 4 do artigo
370, voltando o arguido à sala de audiência é, sob pena de nulidade, e sumidamente instruído
pelo presidente do que se tiver passado na sua ausência, nº 7 do art.º 377 do CPP.

É correspondentemente aplicável o disposto nos números 1 e 2 do artigo e alínea b) do


número 1 do artigo 297, nº 8 do art.º 377 do CPP.50

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BOLETIM DA REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE, Código de Processo Penal, Lei nº 25/2019, de 26 de
Dezembro.
21
Da produção da Prova

Princípios Gerais

O Tribunal ordena, oficiosamente ou a requerimento, a produção de todos os meios de


prova cujo conhecimento se lhe afigure necessário à descoberta da verdade e à boa decisão da
causa, nº 1 do art.º 385 do CPP.

Se o tribunal considerar necessária a produção de meios de prova não constantes da


acusação, da pronúncia ou da contestação, dá disso conhecimento, com a antecedência
possível, aos sujeitos processuais e fá-lo constar da acta, nº 2 do art.º 385 do CPP.

Sem prejuízo do disposto no número 3, do artigo 373, os requerimentos de prova são


indeferidos por despacho quando a prova ou o respectivo meio farem legalmente
inadmissíveis, nº 3 do art.º 385 do CPP.

4. Os requerimentos de prova são ainda indeferidos se for notório que: nº 4 do art.º 385 do
CPP.

a) As provas requeridas são irrelevantes ou supérfluas;


b) O meio de prova é inadequado, de obtenção impossível ou muito duvidosa;
c) O requerimento tem finalidade meramente dilatória.51

Ordem de produção da prova

Deve respeitar a ordem seguinte: art.º 386 do CPP.

a) Declaração do arguido;
b) Apresentação dos melos de prova indicados pelo Ministério Público, assistente e pelo
lesado;
c) Apresentação dos meios de prova indicados pelo arguido e pelo responsável civil.52

51
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Dezembro.
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Identificação do arguido

O presidente começa por perguntar ao arguido pelo seu nome, filiação naturalidade,
data de nascimento, estado civil, profissão, local de trabalho e residência se necessário, pede-
lhe a exibição de documento oficial bastante de identificação, nº 1 do art.º 387 do CPP.

O presidente adverte o arguido de que a falta de resposta às perguntas feitas a falsidade


da mesma o pode fazer incorrer em responsabilidade penal, nº 1 do art.º 387 do CPP.53

Confissão

No caso de o arguido declarar que pretende confessar os factos que lhe são imputados,
o presidente, sob pena de nulidade, pergunta-lhe se o faz de livre vente e fora de qualquer
coacção, bem como se se propõe fazer uma confissão integrante sem reservas, nº 1 do art.º
389 do CPP.

A confissão integral e sem reservas implica:

a) Renúncia à produção da prova relativa aos factos imputados e conseguem


consideração destes como provados,
b) Passagem de imediato às alegações orais e, se a absolvido por outros motivos, à
determinação da sanção aplicável;
c) Redução do imposto de justiça em metade.

Exceptuam-se do disposto no número 2, nº 3 do art.º 389 do CPP.54

Documentação da audiência

Acta A acta da audiência contém: nº 1 do art.º 407 do CPP.

a) O lugar, a data e a hora de abertura e de encerramento da audiência de sessões que a


compuseram:
b) O nome dos juízes e do representante do Ministério Públicos.
c) A identificação do arguido, de defensor de assistente, das partes civis e dos respectivos
representantes.
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BOLETIM DA REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE, Código de Processo Penal, Lei nº 25/2019, de 26 de
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d) A Identificação das testemunhas das partes, dos consultores técnicos e dos intérpretes
e a indicação de todas as provas produzidas ou examinadas em audiência.
e) A decisão de exclusão ou restrição da publicidade, nos termos do artigo 97.
f) Os requerimentos, decisões e quaisquer outras indicações que, por força deles, dela
devam constar.
g) A assinatura do presidente e do oficial de justiça que a lavrar.

O Presidente pode ordenar que a transcrição dos requerimentos e protestos verbais seja feita
somente depois da sentença, se os considerar dilatórios.55

Sentença

Deliberação e votação

Salvo em caso de absoluta impossibilidade, declarada em despacho, a deliberação


segue-se ao encerramento da discussão, nº 1 do art.º 409 do CPP.

Na deliberação participam, se assim for, todos os juízes eleitos que constituem o


tribunal, sob a direcção do presidente, nº 2 do art.º 409 do CPP.

Cada juiz eleito enuncia as razões da sua opinião, indicando, sempre que pós, os meios
de prova que serviram para formar a sua convicção, e vota sobre cada uma das questões,
independentemente do sentido do voto que tenha expresso sobre outras. Não é admissível a
abstenção, nº 3 do art.º 409 do CPP.

Leitura da sentença

Quando, atenta a especial complexidade da causa, não for possível proceder


imediatamente à elaboração da sentença, presidente fica publicamente a date dentro de 10 dias
seguintes para a sua leitura, nº 1 do art.º 412 do CPP

Na data fixada procede-se publicamente à leitura da sentença e ao depósito na


secretaria, nos termos do artigo anterior, nº 2 do art.º 412 do CPP.

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BOLETIM DA REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE, Código de Processo Penal, Lei nº 25/2019, de 26 de
Dezembro.
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O arguido que não estiver presente considera-se notificado da sentença depois de esta
ter sido fida perante o defensor nomeado ou constituído, nº 3 do art.º 12 do CPP.56

Requisitos da sentença

A sentença começa por um relatório, que contem: nº 1 do art.º 413 do CPP.

a) As indicações tendentes à identificação do arguido:


b) As indicações tendentes à identificação do assistente e das partes civis,
c) A indicação do crime ou dos crimes imputados ao arguido, segundo a acusação ou
pronúncia se há tiver havido.
d) A indicação sumária das conclusões contidas na contestação, se tiver sido apresentada.

Ao relatório segue-se a fundamentação, que consta da enumeração dos factos provados e


não provados, bem como de uma exposição tanto quanto possível completa, ainda que
concisa, dos motivos de facto e de direito que fundamentam decisão, com indicação e exame
crítico das provas que serviram para formar convicção do tribunal.

A sentença termina pelo dispositivo que contém:

a) As disposições legais aplicáveis:


b) A decisão condenatória ou absolutória:
c) A indicação de destino a dar a coisas ou objectos relacionados com o crime a ordem
de remessa de boletins ao registo criminal: el A data as assinaturas dos membros do
tribunal.

A sentença observa o disposto neste Código e no Código das Custas Judicias em matéria de
custas.57

Sentença condenatória

A sentença condenatório especifica os fundamentos que presidiram à escolha à medida


da sanção aplicada, indicando, nomeadamente, se for caso disso, o início do regime do seu

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BOLETIM DA REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE, Código de Processo Penal, Lei nº 25/2019, de 26 de
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cumprimento, outros deveres que ao condenado sejam impe tos e a sua duração, bem como o
plano individual de readaptação social, nº 1 do art.º 414 do CPP.

Após a leitura da sentença condenatória, o presidente, quando o julgar conveniente,


dirige ao arguido breve alocução, exortando-o a corrigir-se, nº 2 do art.º 414 do CPP.

Para efeito do disposto neste Código, considera -se também sentença condenatória a
que tiver decretado dispensa da pena, nº 3 do art.º 414 do CPP.

Sempre que necessário, o tribunal procede ao reexame da situação do arguido


sujeitando-o às medidas de coacção admissíveis e adequadas às exigências cautelares que o
caso requerer, nº 4 do art.º 414 do CPP.

A leitura da sentença equivale à sua notificação aos sujeitos processuais que deverem
considerar-se presentes na audiência, nº 5 do art.º 414 do CPP.

Logo após a leitura da sentença, a presidente procede ao seu depósito na secretaria. O


oficial de justiça apõe a data, subscreve a declaração de deposite entrega cópia aos sujeitos
processuais que a solicitem, nº 6 do art.º 414 do CPP.58

Sentença absolutória

A sentença absolutória declara a extinção de qualquer medida de coacção e condena a


imediata libertação do arguido preso preventivamente, salvo s ele dever continuar peso por
outro motivo ou sofrer medida de segurança de internamento, nº 1 do art.º 415 do CPP.

Sentença absolutória condena o assistente em custas, nos termos previsto este Código
e no Código das Custas Judicias, nº 2 do art.º 415 do CPP.

Se crime tiver sido cometido por inimputável, a sentença é absolutória, mas nela ter
aplicada medida de segurança, vale como sentença condenatória para as do disposto no
número 1 do artigo 414" e de recurso de arguido Se correspondentemente aplicáveis os
números 5 e 6 do artigo 414, nº 3 do art.º 415 do CPP.59

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Conclusão

Após intensas pesquisas feitas ao longo deste trabalho cheguei as seguintes


conclusões, Não se pode falar em partes processuais no processo penal Moçambicano. O
Ministério Público e o arguido por um lado, não se encontram ao mesmo nível jurídico e
faticamente, e o Ministério Público tem todo um aparelho investigatório ao seu dispor.

Na fase da Noticia, o arguido não tem um direito igual ao do Ministério Público. O


Ministério Público vai fazer a investigação exaustivamente, o arguido suporta essa mesma
investigação e inclusivamente não se pode opor a ela. Apenas poderá, depois de ouvido,
carrear provas para o Ministério Público, no sentido de afastar a queixa ou os factos que
eventualmente lhe poderão ser imputados. Também, quer o Ministério Público, quer o
arguido, nenhum deles dispõe do processo.

O processo penal Moçambicano é um processo penal basicamente acusatório mas


integrado por um princípio de investigação. E é esta característica do processo penal, de se
dar ao Tribunal a possibilidade de, independentemente do concurso das partes em julgamento,
de investigar os factos Constantes da acusação e de valorar a prova adquirida e introduzida em
julgamento, que confere ao processo penal a estrutura de um processo sem partes. Deve-se
falar, sim, em sujeitos processuais.

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Referências Bibliográficas

Legislação

 BOLETIM DA REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE, Código de Processo Penal, Lei


nº 25/2019, de 26 de Dezembro.

Doutrina

 OLIVEIRA, Mariana. Estrutura Fundamental do Processo Penal, Lisboa, 2018.


 CASTRO, Henrique Gustavo Ribeiro Ferreira de Antas. Estrutura Fundamental do
Processo Penal, Brasil, 2015.
 HIPÓLITO, Maló Mafalda Ana. Estrutura do processo penal, Lisboa, 2018.
 DIAS, Figueiredo Jorge de. Direito Processual Penal, 1ª edição, Coimbra editora,
Lisboa, 2004.
 SANCHEZ, Salazar. Conselho de Ministério Publico, Brasília, 2015.

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