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UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MOCAMBIQUE

FACULDADE DE DIREITO

BÚRIA SALIMO ABDALA

ELEMENTOS DO CONTENCIOSO
ADMINISTRATIVO

NAMPULA

2023
UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MOCAMBIQUE

FACULDADE DE DIREITO

BÚRIA SALIMO ABDALA

ELEMENTOS DO CONTENCIOSO
ADMINISTRATIVO
Trabalho de carácter avaliativo, da cadeira de
Contencioso Administrativo I, leccionada pela
docente, Pincha Morais António, 4º ano, Pós -
laboral, curso de Direito.

NAMPULA

2023
Índice
Introdução..........................................................................................................................1
ELEMENTOS DO CONTENCIOSO ADMINISTRATIVO............................................2
Origem do Contencioso Administrativo............................................................................2
Conceito de Contencioso Administrativo..........................................................................3
ELEMENTOS DO CONTENCIOSO ADMINISTRATIVO............................................4
OS SUJEITOS...................................................................................................................5
As partes............................................................................................................................6
O Autor..............................................................................................................................6
O pedido............................................................................................................................7
O Ministério Público.........................................................................................................7
O Juiz.................................................................................................................................8
O OBJECTO......................................................................................................................8
A CAUSA DE PEDIR.......................................................................................................9
Conclusão........................................................................................................................11
Referências Bibliográficas...............................................................................................12
Introdução

O recurso contencioso nasceu da necessidade de conciliar o principio da separação de


poderes com o controlo da actividade administrativa, pode dizer- se que esta conciliação
indispensável se faz em torno de três conceitos básicos:

Conceito de acto administrativo, espécie de criação jurídica de um alvo em direcção ao


qual se vai orientar a garantia contenciosa.

O conceito de tribunal administrativo, como órgão especializado da administração e da


jurisdição.

O conceito de recurso contencioso, como meio de apreciação da conformidade legal de


um acto administrativo- o processo feito ao acto.

Objectivo Geral:

 Abordar de forma clara e concisa os elementos do contencioso administrativo.

Objectivo específico:
 Apresentar as limitações dos tribunais no que concerne aos processos;
 Estudar até que ponto as acções administrativas são eficazes;
 Mostrar a importância do processo administrativo.
Quanto aos métodos usados na pesquisa é o método dedutivo, uma vez que visa descobrir
conhecimentos particulares através do conhecimento geral, é um processo de análise de
informação que nos leva a uma conclusão. E, para melhor compreensão do trabalho este
obedece a seguinte estrutura:

Introdução, Desenvolvimento, Conclusão e referências Bibliográfica. Em relação, a


metodologia usada para aquisição do conteúdo para posterior elaboração do trabalho, fez-se
uma leitura esgotada de manuais e documentos relativos ao tema.

1
ELEMENTOS DO CONTENCIOSO ADMINISTRATIVO

Origem do Contencioso Administrativo

O contencioso administrativo tem a sua origem histórica em França onde começa a ser
construído a partir da Revolução Francesa e como reacção aos abusos dos “parlamentos” Os
revolucionários oitocentistas entendiam que o respeito pelo princípio da separação dos
poderes, que entretanto tinham proclamado como princípio básico da organização do Estado,
impedia que à jurisdição ordinária fosse confiada a tarefa de julgar as questões contenciosas
da Administração, razão pela qual a Assembleia rejeitou uma proposta no sentido de confiar o
contencioso administrativo aos Tribunais comuns, preferindo instituir Tribunais
administrativos pela Lei 16-24 de 1790.1

Estes Tribunais eram constituídos por magistrados oriundos da própria administração


activa — Rei, Ministros, Administradores de Departamento —, e com eles o contencioso
administrativo era confiado à própria Administração activa. Criava-se uma “jurisdiction
d’exception”, para usarmos a expressão de René Chapus, com administradores-Juízes ou, por
outras palavras, instituía-se o sistema de “administrationjuge”.2

Acontece que, em 1790, a Lei 7-16 de Outubro e a Lei 6-11 de Novembro acabaram
por consagrar que as reclamações contra actos ilegais da Administração deveriam ser
deduzidas junto do Rei e, mais tarde, com a monarquia constitucional, essa competência era
atribuída aos Ministros.3

Completa-se então o sistema de solução dos conflitos de natureza jurídico-


administrativo, que ficou conhecido por sistema de “justice retenue” ou de justiça reservada
nas mãos do Governo, sistema que no ano VIII (1799) vai evoluir com a criação, pelo
Consulado, de uma administração consultiva ao lado da administração activa. Na verdade, a
Constituição do ano VIII criou o Conselho de Estado como um órgão consultivo do Chefe de
Estado com competência para apreciar e emitir parecer sobre as questões contenciosas,
parecer que carecia da homologação do Chefe de Estado. No mesmo ano, foram criados, nos

1
WLADIMIR, Augusto Correia Brito. O contencioso administrativo: generalidades, vol. 13, Lisboa, 2012, pág.
18-19.
2
WLADIMIR, Augusto Correia Brito. Ob. Cit. Pág.19.
3
WLADIMIR, Augusto Correia Brito. Ob. Cit. Pág.19.
2
Departamentos, os Conselhos de Prefeitura com funções contenciosas junto do Prefeito, que
as exerciam sem necessidade de homologação.4

Conceito de Contencioso Administrativo

Tradicionalmente, o contencioso administrativo era concebido como uma garantia dos


particulares não contra a Administração, mas sim contra os actos por esta praticados
considerados como ofensivos dos seus direitos e legítimos interesses. A tónica do contencioso
residia na legalidade do acto da Administração. Por essa razão, dizia Marcello Caetano que no
contencioso não se fazia o “julgamento do órgão que praticou o acto ou da pessoa colectiva a
que ele pertence. O que está em causa é a legalidade do acto, não o comportamento das
pessoas. Reexamina-se o processo gracioso e a sua decisão à luz dos preceitos legais
aplicáveis, a fim de emitir a final não uma condenação ou absolvição do pedido, mas um
juízo de confirmação ou de anulação, meramente declaratório”.5

Como decorre deste conceito de contencioso ou de recurso contencioso, este é antes de


mais uma segunda fase do processo administrativo, que, de acordo com Marcello Caetano,
tem duas fases, a graciosa e a contenciosa, sendo esta última caracterizada pela apreciação
jurisdicional da legalidade do acto administrativo. Segunda fase do processo administrativo
esta que decorre junto dos Tribunais administrativos e que denota um conflito entre o
particular e a Administração provocado por acto desta considerado ilegal e lesivo dos direitos
e interesses legalmente protegidos.6

Assim, podemos dizer que o contencioso administrativo confundia-se com regras


processuais reguladoras da actividade da jurisdição administrativa tendentes a apreciar a
legalidade de acto da Administração ofensivo dos interesses ou direitos do particular. Ou,
mais especificamente, o contencioso nasce como uma garantia de natureza jurisdicional
contra acto da Administração e, como diria Charles Debbasch , “regroupe l’ensemble des
règles applicables à la solution juridictionelle des litiges soulevés par l’activité
administrative.7

4
WLADIMIR, Augusto Correia Brito. O contencioso administrativo: generalidades, vol. 13, Lisboa, 2012, pág.
19.
5
Marcello Caetano, Manual de Direito Administrativo, Vol. II, Ed. Almedina, 1980, pág. 1327.
6
WLADIMIR, Augusto Correia Brito. O contencioso administrativo: generalidades, vol. 13, Lisboa, 2012, pág.
16.
7
WLADIMIR, Augusto Correia Brito. Ob. Cit. Pág. 16.
3
É esta garantia jurisdicional, ou este conjunto de meios de reacção, que se coloca à
disposição do particular para jurisdicionalmente reagir contra actos da Administração em
defesa dos seus direitos e legítimos interesses, que começa por ser concebida como uma
garantia dos particulares contra a Administração e que vai evoluir, embora lentamente, para
uma garantia concedida a todos os sujeitos de direito (particulares ou pessoas colectivas,
mesmo que de direito público) contra actos definitivos e executórios da Administração
ofensivos de direitos ou de interesses legítimos.8

De seguida, o contencioso sofre uma evolução para passar a ser entendido como uma
garantia jurisdicional contra todos os actos ofensivos de direitos e de interesses legítimos,
mantendo-se ainda no quadro da ideia de que só a legalidade do acto e, em consequência, a
sua confirmação ou anulação estariam em causa e poderiam ser apreciadas e declaradas pelo
Tribunal. Finalmente, com a novíssima reforma do contencioso administrativo acaba por se
admitir, como iremos ver, um novo conceito, segundo o qual o contencioso se confunde com
a justiça administrativa, concepção esta que é, de certa forma, advogada por Sérvulo Correia
quando adopta uma concepção institucionalista de contencioso para o definir como “a
instituição caracterizada pelo exercício, por uma ordem jurisdicional administrativa, de
jurisdição administrativa segundo meios processuais predominantemente específicos.9

ELEMENTOS DO CONTENCIOSO ADMINISTRATIVO

Para a interposição de um recurso contencioso, todo o causídico tem de fazer, logo de


início, uma operação bastante simples que se equaciona da seguinte maneira:10

a) Quem poder recorrer?


b) De que se recorre?
c) Para quem se recorre?
d) Que fundamento ou fundamentos devem ser apresentados?
e) Que pedidos podem ser formulados?
f) Quando é que o recurso deve ser apresentado?

8
WLADIMIR, Augusto Correia Brito. Ob. Cit. Pág. 16.
9
WLADIMIR, Augusto Correia Brito. Ob. Cit. Pág. 16.
10
CHABULE, Alfredo. As Garantias dos Particulares, vol. I, Editora- Imprensa Universitária, Maputo, 2002,
pág. 101.
4
Caso falhe um destes elementos, é muito provável que a possibilidade de triunfo seja
reduzida. Quais são os elementos do recurso contencioso? Constituem elementos do recurso
contencioso:

a) Os sujeitos;
b) O objecto;
c) A causa de pedir;
d) O pedido.11

OS SUJEITOS

Na categoria de sujeitos no recurso contencioso, temos as figuras de recorrente ou


recorrentes, por um lado, e recorrido ou recorridos, por um outro lado. Isto quer dizer que as
partes, num recurso contencioso, designam-se de recorrente, por um lado, e recorrido, por
outro, Recorrente é a pessoa que interpõe o recurso, impugnando o acto administrativo que
considera de inválido e, como tal, solicita que o Tribunal Administrativo, no uso dos seus
poderes jurisdicionais, conheça, por sentença, a invalidade daquele acto, Recorrido é a pessoa
contra quem se interpõe o recurso. Que tem interesse em que se mantenha o acto contra o qual
se recorre Situa-se no polo oposto ao do recorrente. Vai defender no Tribunal Administrativo
a manutenção do acto recorrido.12

A pessoa Na categoria dos recorridos, pode-se falar e muitas vezes fala-se, da


autoridade recorrida," para se referir ao órgão da Administração Pública que praticou o acto
administrativo impugnado ou cuja validade ataca.13

Também podemos encontrar os recorridos particulares, também designados de contra-


interessados, sendo estes aquelas pessoas que podem ser afectadas pela anulação do acto
administrativo. Se o recorrente está interessado em que o acto seja considerado inválido e
como tal anulado, os recorridos particulares ou contra-interessados, estão interessados em que
o acto seja declarado válido e mantido. É que eles podem ser prejudicados pela sentença do
tribunal, daí que tenham de ser chamados ao processo para deduzir oposição.14

11
CHABULE, Alfredo. Ob. Cit. Pág. 101.
12
CHABULE, Alfredo. As Garantias dos Particulares, vol. I, Editora- Imprensa Universitária, Maputo, 2002,
pág. 102.
13
CHABULE, Alfredo. Ob. Cit. Pág. 102.
14
CHABULE, Alfredo. Ob. Cit. Pág. 102.
5
Marcelo Rebelo de Sousa diz que são elementos do recurso o pedi- do e a causa de
pedir, que integram o seu objecto. Não se confunda, no entanto, objecto do recurso, matéria
jurídica sobre que incide, com o objecto do direito ou bem protegido através deste. Também,
segundo este autor, são elementos do recurso, o recorrente e o autor do acto recorrido, pois,
apesar de preexistirem ao recurso, ganham nova feição jurídica após a sua interposição.15

Como se pode inferir trata-se de uma definição bastante criticável na medida em que
diz que...são elementos do recurso contencioso o pedido e a causa de pedir, que integram o
seu objecto. É irrelevante a ressalva que logo de seguida faz, pois que, mesmo assim, acaba
misturando os conceitos o que dificulta a compreensão. Por outro lado, o mesmo autor terá
olvidado a existência dos contra-interessados, com as consequências negativas da crítica que
ora se faz.16

Os sujeitos são os elementos subjectivos do processo; as partes o autor e o réu (ou o


exequente e o tratando-se de processo executivo); o tribunal, composto por um ou vários
juízes; e o Ministério Público.17

As partes

As partes no processo administrativo contencioso são o autor e o réu.18

A qualificação como parte no processo administrativo contencioso como em qualquer


processo judicial-resulta da configuração da relação processual feita por quem se dirige ao
tribunal - o autor. Quem se apresenta em tribunal na qualidade de autor de uma acção funda a
sua legitimidade para pedir aquilo que pede na suposta titularidade da relação material
controvertida.19

O Autor

A lógica da composição judicial dos conflitos é uma lógica essencialmente egoísta:


cada pessoa vai a juízo defender os seus interesses ou os interesses daqueles que representa -
os filhos menores, a sociedade de que é sócio gerente, etc. O sistema judicial opera sobre esta

15
CHABULE, Alfredo. Ob. Cit. Pág. 103.
16
CHABULE, Alfredo. Ob. Cit. Pág. 103.
17
COUPERS, João. Introdução ao Direito Administrado, 11ª Edição, Âncora Editora, Lisboa, 2013, pág. 396.
18
COUPERS, João. Introdução ao Direito Administrado, 11ª Edição, Âncora Editora, Lisboa, 2013, pág. 396.
19
COUPERS, João. Ob. Cit. Pág. 396.
6
base, impedindo, como princípio, o acesso à justiça quando aquele que se lhe dirige não
consegue demonstrar que o litígio por si configurado afecta os seus interesses.20

Na grande maioria dos casos, a legitimidade do autor - ou legitimidade activa - assenta


na titularidade de um interesse egoísta, no sentido de que o autor procura obter uma vantagem
pessoal: o pagamento de uma indemnização, a destruição de um acto administrativo que o
prejudicou ilegalmente, a tomada de uma decisão a que considera ter direito, etc.21

O Réu

Como se disse já, é o autor quem "escolhe" o réu: é ele que aponta ao tribunal com
quem quer litigar, isto é, quem é, na sua versão do caso, o outro sujeito da relação material
controvertida. A legitimidade passiva pertence a este.22

O pedido

O pedido ou pretensão é aquilo que o interessado quer podemos considerar seis


espécies diferentes de pretensões, do tribunal. De forma propositadamente simplificada que se
distinguem entre si por aquilo que se pede. Conforme o artigo 135, lei n07/2014 de 28de
Fevereiro.23

O Ministério Público

Ministério Público as funções de representação do Estado, de defesa da legalidade


democrática e de promoção da realização do interesse público. Neste quadro, o Ministério
Público continua a exercer a acção pública, assistindo-lhe igualmente legitimidade para
interpor recursos para suscitar ao que proceda à uniformização de jurisprudência.24

O Ministério Público conserva também tem a faculdade de se substituir ao autor da


acção, nos casos em que este se tenha afastado do processo, nomeadamente por desistência
isto, naturalmente, quando defesa da legalidade entender que a impõe que o processo seja
levado até ao seu termos.

20
COUPERS, João. Ob. Cit. Pág. 397.
21
COUPERS, João. Ob. Cit. Pág. 397.
22
COUPERS, João. Ob. Cit. Pág. 399.
23
CAUPERS, João, Introdução ao Direito administrativo, 11° edição, ancora, 2013, pág., 405
24
Idem, pág., 402
7
O Juiz

Ao juiz tratando-se de tribunal singular - no caso de tribunal colectivo - cabe a


delicada missão de solucionar o litígio. Ou aos juízes.25

O OBJECTO

O objecto do recurso contencioso de anulação é o acto administrativo. Mas, tem de se


ter em conta que a noção de acto administrativo tem de ser entendida de uma forma didáctica,
no sentido de que dimana de uma autoridade, porque só dessa forma se abrirá o leque maior
com vista à protecção dos direitos subjectivos e interesses legítimos dos particulares. Uma
menor latitude do acto administrativo nos modelos tradicionais defendidos por Marcelo
Caetano, terá apenas como condão a diminuição das garantias dos particulares. Só há recurso
contencioso de anulação quando se está em face de um acto administrativo. Nesta medida,
fixemos que não é admissível o pedido de anulação de actos que ainda não foram praticados,
ainda que se preveja a sua prática, como consequência directa e necessária do acto recorrido.26

Para Marcello Caetano, "O objecto do recurso é sempre um acto definitivo e


executório cuja legalidade se impugna." O mesmo autor, continua ensinando que: "Assim, o
recurso dirá respeito a um certo acto administrativo, com determinado conteúdo, não sendo
admissíveis pedidos vagos, nem a ampliação do pedido inicial a factos que não estejam
contidos no acto recorrido ". Todavia, esta velha concepção defendida por este autor já foi
objecto de muitas críticas.27

Presentemente, já não faz furor como em tempos fez a teoria do acto administrativo
definitivo e executório. Hoje parte-se da noção do dano ou da lesão. Havendo dano ou lesão,
haverá recurso contencioso. Deste modo, o Anteprojecto de Código do Processo
Administrativo dispunha no sentido de que São recorríveis quaisquer actos que lesem os
direitos ou interesses legalmente protegidos dos administrados. Assim, o que se pretende e
numa primeira análise, é saber se um determinado acto causa lesão ao particular. Porque, se
esse mesmo acto causa lesão na situação jurídica do particular, tem este o direito de o atacar
em tribunal. Não temos dúvidas de que este acto será acto administrativo, mas apenas no

25
COUPERS, João. Ob. Cit. Pág. 400.
26
CHABULE, Alfredo. As Garantias dos Particulares, vol. I, Editora- Imprensa Universitária, Maputo, 2002,
pág. 103.
27
CHABULE, Alfredo. Ob. Cit. Pág. 103.
8
sentido de que foi praticado pela Administração Publica, sem necessariamente trazer consigo
todos aqueles condimentos que já conhecemos e ensinados pela doutrina tradicional.28

O recurso não tem objecto, ou fica sem objecto quando não há acto administrativo, ou
porque não foi praticado ou entretanto já foi revogado.29

Nesta matéria é importante a lei vigente na altura da prática do acto administrativo


cuja validade se ataca. O Tribunal Administrativo analisará e decidirá em face da lei em vigor
e aplicável na altura da prática do acto e não em função da lei que eventualmente estará em
vigor na altura da decisão.30

O recurso tem de ter por objecto o acto já praticado, sendo um absurdo em Direito que
se peça a anulação de actos futuros, portanto ainda não praticados, apesar de que se possa
prever a sua prática como consequência necessária daqueles cuja anulação se requerer.31

O presente não poderia ter-nos dado mais razão: numa formulação inequívoca, artigo
32 da Lei n.º 7/2014 de 28 de Fevereiro, dispõe Os recursos contenciosos são de mera
legalidade e têm por objecto a declaração de anulabilidade, nulidade e inexistência jurídica
dos actos recorridos, exceptuada qualquer disposição em contrário. Esta disposição suscita
duas observações.32

A CAUSA DE PEDIR

A causa de pedir num recurso contencioso de anulação, que é sempre o seu


fundamento, consiste sempre na invalidade do acto administrativo, podendo consistir, nesta
medida, numa nulidade ou anulabilidade.33

Não basta aludir que um dado acto administrativo é inválido: é necessário que se
especifique o tipo de invalidade, se é uma anulabilidade ou se é uma nulidade. Terá de se
especificar a fonte dessa invalidade, se é um vício do acto ou qualquer outra das fontes de
invalidade.34

28
CHABULE, Alfredo. Ob. Cit. Pág. 103-104.
29
CHABULE, Alfredo. Ob. Cit. Pág. 104.
30
CHABULE, Alfredo. As Garantias dos Particulares, vol. I, Editora- Imprensa Universitária, Maputo, 2002,
pág. 104.
31
CHABULE, Alfredo. Ob. Cit. Pág. 104.
32
. CHABULE, Alfredo. As Garantias dos Particulares, vol. I, Editora- Imprensa Universitária, Maputo, 2002,
pág. 107.
33
CHABULE, Alfredo. Ob. Cit. Pág. 104.
34
CHABULE, Alfredo. Ob. Cit. Pág. 107.
9
A causa de pedir num processo cautelar é bastante menos variada do que o pedido:
relaciona-se sempre com a probabilidade de o tempo necessário à decisão do processo
principal possibilitar ou consolidar a lesão do interesse do autor ou com a aparência da
situação jurídica do autor como sendo de uma situação que irá merecer protecção do tribunal
no processo definitivo (ou ambas as coisas).35

A causa de pedir consiste nos factos constitutivos da situação jurídica que o autor
pretende fazer valer em juízo. São, em termos simples, as razões pelas quais se pede aquilo
que se pede. Aqueles factos podem variar muito, dependendo das circunstâncias.
Exemplificando:36

Se o autor pede a anulação de um acto administrativo ou de uma cláusula contratual ou


a declaração de nulidade de uma norma regulamentar, a causa de pedir são os factos em que,
em seu entender, assenta a invalidade do acto, da cláusula ou da norma, por desrespeitarem as
regras ou princípios jurídicos com que deveriam conformar-se;37

Se o autor pede a condenação da administração: pagamento de uma prestação de


segurança social ou à prática ao de um acto administrativo, a causa de pedir são os factos que,
em seu entender, lhe conferem um direito a tal prestação ou à prática desse acto;38

Se o autor pede ao juiz que determine uma providência cautelar destinada a evitar a
consumação da lesão de um interesse para o qual pediu protecção judicial, lesão essa tornada
provável, ou até mesmo certa, pelo decurso do tempo, a causa de pedir reside nas
circunstâncias que estão na origem da probabilidade ou da certeza da produção de tal lesão.39

35
CHABULE, Alfredo. Ob. Cit. Pág. 107.
36
COUPERS, João. Introdução ao Direito Administrado, 11ª Edição, Âncora Editora, Lisboa, 2013, pág. 407.
37
COUPERS, João. Ob. Cit. Pág. 407.
38
COUPERS, João. Ob. Cit. Pág. 407.
39
COUPERS, João. Ob. Cit. Pág. 408.
10
Conclusão

Após a o término do presente trabalho, é relevante salientar que a acção de


impugnação de actos administrativos é uma subespécie – ou subacção” – da acção
administrativa especial, que o legislador da reforma tratou com todo o “desvelo” e “carinho”,
expresso em numerosas e detalhadas disposições. Esse especial cuidado no tratamento da
impugnação de actos administrativos justifica-se, a meu ver, como uma espécie de
“homenagem póstuma” do legislador ao anterior recurso de anulação.

O recurso contencioso, trata-se de um meio de impugnação de um acto administrativo,


interposto perante o Tribunal Administrativo competente, a fim de obter a anulação ou a
declaração de nulidade ou inexistência desse acto. Com efeito:

Trata-se de um recurso, ou seja, de um meio de impugnação de actos unilaterais de


uma autoridade pública, é um recurso e não uma acção;

Trata-se de um recurso contencioso, ou seja, de uma garantia que se efectiva através


dos Tribunais;

Trata-se de um recurso contencioso de anulação, isto é, o que com ele se pretende e se


visa é eliminar da ordem jurídica de um acto administrativo inválido, obtendo, para o efeito,
uma sentença que reconheça essa invalidade e que, em consequência disso, o destrua
juridicamente.

A actual regulamentação do recurso contencioso revela, por um lado, uma confluência


de elementos de índole objectivista e de índole subjectivista; por outro, a existência de dois
modelos principais de tramitação, um mais subjectivista do que o outro. Principais elementos
de índole subjectivista: O recurso interpõe-se contra o órgão autor do acto e não contra a
pessoa colectiva pública.

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Referências Bibliográficas

Legislação

 BOLETIM DA REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE. lei 7/2014 de 28 de Fevereiro –


Regula os procedimentos atinentes ao processo administrativo contencioso, I SÉRIE
— Número 18, in Boletim da República de Moçambique.

Doutrina

 COUPER, João. Introdução ao Direito Administrativo, 11ª Edição, Âncora Editora,


Lisboa, 2013.
 CHABULE, Alfredo. As Garantias dos Particulares, vol. I, Editora- Imprensa
Universitária, Maputo, 2002.
 WLADIMIR, Augusto Correia Brito. O contencioso administrativo: generalidades,
vol. 13, Lisboa, 2012.
 MARCELLO, Caetano. Manual de Direito Administrativo, Vol. II, Ed. Almedina,
Lisboa, 1980.
 GILLES, Cistac. Direito Processual Administrativo Contencioso, Teoria e Pratica, Vol. I, Introdução,
Escolar Editora, Maputo, 2010.
 VIEIRA, José Carlos de Andrade, A Justiça Administrativa, 12ª Edição, Almedina, Lisboa, 2012.

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