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Índice
1. Agradecimentos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4
2. Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5
3. Uma palavra para as novas famílias . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6
4. Família Wolf-Hirschhorn no Brasil . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9
5. Mapa da distribuição da SWH no Brasil. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12
6. O que é a Síndrome de Wolf-Hirschhorn (SWH): Um resumo. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13
7. Gráficos de crescimento específicos para a SWH (0-4 anos) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15
8. Guia Básico para Pais e Profissionais de Saúde (tradução do guia desenvolvido pela AESWH,
Associação Espanhola da SWH, 2012) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19
9. Atualização sobre as Características Clínicas e a História Natural da Síndrome de Wolf–
Hirschhorn (2008) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39
10. Síndrome de Wolf–Hirschhorn: Revisão e Atualização (2015) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 48
11. Anticonvulsivantes para o tratamento da SWH . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 58
11. 1 Pesquisa sobre medicamentos antiepiléticos com eficácia potencial para o controle de
crises convulsivas (2018) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 58
11. 2 Apresentação de slides : Conferência sobre a SWH, com foco em tipos de crises
convulsivas e melhores anticonvulsivantes na SWH . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 69
12. Etiologia da SWH . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 83
13. Epilepsia e padrões de Eletroencefalograma na SWH . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 94
14. Deficiência de Anticorpos associada a SWH (Complicações Imunológicas). . . . . . . . . . 101
15. Manifestações oculares na SWH. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 104
16. Comprometimento renal na SWH (refluxo vesicouretal associado a displasia renal) . . 108
17. Compromentimento auditivo na SWH . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 111
18. Padrões de Cognição na SWH (Características cognitivo-comportamentais) . . . . . . . . 116
19. Uso de hormônio de crescimento na SWH (relato de caso) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 121
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1. Agradecimentos
Essa apostila foi elaborada com muito carinho para todas as famílias Brasileiras que possuem um filho
portador da Síndrome de Wolf-Hirschhorn (SWH). Sua realização somente foi possível graças ao
trabalho solidário de algumas pessoas queridas e a todos que contribuíram com uma rifa organizada
por mim em meados de 2019. O valor arrecadado com essa rifa permitiu custear as traduções dos
estudos científicos, a diagramação do texto, a impressão, a encadernação e o envio por correios para
todas as famílias interessadas.
Agradeço imensamente a todos que contribuíram participando desta rifa e a aqueles que contribuíram
com seu trabalho, tempo e dedicação. Agradeço especialmente a minha família, meus amigos, ao
Movimento Wolf-Hirschhorn Rio (@movimentoswhrio), a família SWH Brasil (@SWHBrasil) e
aqueles que acompanham a trajetória da minha filha, Luísa, através do meu diário nas mídias sociais @
sonhodiferente.
Agradeço a Deus por ter me dado de presente a Luísa, mais conhecida como “Lulubinha”, minha
florzinha que alegra e inspira meus dias.
Espero que a informação contida nessa apostila possa ajudar a muitas famílias, em especial as novas
famílias, que precisam muito de todo nosso apoio, ajuda, e informação de qualidade.
Um abraço,
Daniela Figueiredo - mãe da Luísa, Rio de Janeiro - @sonhodiferente
Eu, Daniela, com minha filha Luísa (também carinhosamente conhecida como Lulubinha), em seu
aniversário de 3 aninhos.
CONTATOS:
@sonhodiferente @SWHBrasil @movimentoswhrio
facebook.com/umsonhodiferente danilf2002@yahoo.com.br
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2. Introdução
Porque esta apostila é importante?
Por ser uma condição rara que afeta apenas cerca de 1 em cada 50.000 pessoas no mundo, a informação
médica existente sobre a Síndrome de Wolf-Hirschhorn (SWH) é muito escassa. E quando existe,
encontra-se disponível apenas em outros idiomas e possui acesso restrito. No entanto, ter acesso aos
estudos científicos sobre a SWH pode fazer uma enorme diferença. Estes estudos favorecem a busca por
melhores opções de tratamentos, terapias e pela melhora global da qualidade de vida dos indivíduos
portadores da SWH e suas famílias.
Partindo desta premissa, surgiu a idéia de traduzir para o português alguns dos estudos mais importantes
sobre a SWH, e reuni-los nesta apostila, de maneira organizada e prática. O intuito é que este livro possa
representar fonte de consulta não apenas para os pais, mas também para os profissionais de saúde, tais
como como médicos e terapeutas.
Espera-se que com a informação aqui encontrada, os pais e profissionais de saúde possam ter um
melhor entendimento sobre essa condição rara e, assim, poder proporcionar tratamentos, intervenções
e terapias mais eficazes o quanto antes possível, a partir do momento do diagnóstico.
2. Mantenha esta apostila com você, em sua casa. Mas sempre que necessário, leve-a para as consultas
com os especialistas, sejam eles médicos ou terapeutas. Ex: neurologista, pediatra, fisioterapeuta,
cardiologista, nutrólogo, entre outros. Mostre uma visão geral da informação contida na apostila.
3. Eu não recomendaria entregar o seu original da apostila para o profissional, mas sugiro que você
sempre tire cópias das seções mais relevantes para cada especialista e deixe essa cópia com eles.
4. Sublinhe o que for mais importante. Peça ao profissional de saúde para ler a informação de interesse e
considera-las para o tratamento de seu filho(a), se for aplicável a situação em específico. Lembre-se que
cada criança é diferente e que cada caso é distinto.
5. Não espere que o profissional saiba de antemão tudo sobre a SWH. Isto não o torna um profissional
ruim ou desatualizado, tendo em vista a raridade da condição. A SWH é muito rara e muitos não a
conhecem. No entanto, o profissional pode se informar com a sua ajuda. O bom profissional de saúde
estará disposto a ler e estudar o material que você levar.
6. Por exemplo, para o pediatra, tire cópias dos gráficos de crescimento. E até mesmo peça para ampliá-
los, se for possível. Estes gráficos são de extrema importância para acompanhar o desenvolvimento
de seu filho(a), uma vez que os gráficos usados para crianças típicas não são aplicáveis no caso da
SWH. Tire cópias do gráfico de peso, de altura e de perímetro cefálico e coloque junto na carteirinha
de vacinação. Peça para o pediatra marcar o crescimento por esse gráfico específico da SWH. Para o
neurologista, tire uma cópia do estudo sobre anti-convusivantes e do estudo sobre padrões de epilpsia e
EEG (eletroencefalograma), e assim por diante.
7. Se profissional de saúde tiver interesse no estudo original, os documentos no idioma original bem
como os traduzidos estão disponíveis e podem ser enviados por email. Basta entrar em contato. (@
sonhodiferente ou @movimentoswhrio ou @swhbrasil)
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3. Uma palavra para as novas famílias
Querida nova família,
Seu eu pudesse lhe dizer apenas uma frase, eu lhe diria: A SWH não é o que você pensa.
Muito provavelmente, ao receber o diagnóstico, você entrou no google para obter informações,
certo ? Não se preocupe. Eu também fiz isso (e não faz tanto tempo assim). Todos nós fazemos
examente a mesma coisa. E o que lemos por lá ? Algo assutador e que não nos traz esperança e nem
conforto. O que eu queria que você entedesse agora são três pontos fundamentais para que você
possa seguir a diante e proporcionar o melhor para seu filho (a):
1) Não é bem assim: A SWH não é tudo aquilo você leu no google.
2)Não leve ao pé da letra os prognósticos absolutamente negativos que você pode ter recebido de
alguns profissionais de saúde: A SWH é uma condição muito rara e eles podem não dispor de
conhecimento suficiente. Podem nunca ter visto antes outra pessoa com essa condição. Além disso,
eles são instruídos a nos preparar para as situações mais dificeis, e por vezes, acabam exagerando
sem querer.
3) Nunca perca sua esperança. Nossos filhos são mais fortes do que pensamos. Tenha em mente
que, a cada minuto em que estivermos afundados na tristeza ou no desespero, estamos deixando de
lado um tempo precioso que poderia estar sendo investido em obtenção de melhores condições de
tratamento ou qualidade de vida para nossos filhos.
Você pode estar pensando que eu estou sendo otimista demais, não é ? Eu te endendo. Realmente
não é nada fácil conviver com a SWH e isso precisa ser dito. É um dasafio diário. E nós lutamos para
vencer, todos os dias, batalha por batalha, e uma de cada vez. Nossos filhos nos ensinam diariamente
o significado do verdadeiro amor incondicional. Embora seja realmente difícil conviver com os
desafios que a SWH pode trazer, queria apenas colocá-los em perspectiva: Não é tão deseperador
quanto você pode ter lido na internet, ou escutado de alguém. E muito importante: existe ajuda,
existem profissionais capacitados, existem grupos de apoio, e muito amor envolvido. Onde há amor,
há esperança. Lembre-se: você não está sozinho (a).
Espero que, com a informação aqui reunida, você e os profissionais de saúde que cuidam de seu
filho(a), possam entender, que sim, a SWH pode ser uma condição complexa e algumas vezes,
grave. Mas que, desde que a com ajuda adequada, com toda certeza pode ser gerenciada de forma
a minimizar os obstáculos e os riscos a saúde. Assim como, pode-se buscar terapias e tratamentos
voltados para estimular , desde cedo, o desenvolvimento motor e cognitivo e a melhora global da
qualidade de vida.
Não deixe de procurar ajuda sempre que precisar. Aqui no Brasil temos nosso grupo de apoio que
se chama “SWH Brasil”, onde diariamente compartilhamos conhecimento e experiências. Temos
um grupo de Whatasapp e o instagram @SWHBrasil. Temos também mamães e papais aqui no
Brasil com perfis no instagram compartilhando diariamente a vida de seus filhotes. Há também
muitos outros grupos de apoio no mundo, assim como sites e blogs, tais como o 4p Support Group ,
Estados Unidos (https://4p-supportgroup.org/) , a Associação Espanhola da SWH (AESWH; https://
wolfhirschhorn.com/) , e o grupo de apoio do Reino Unido e Irlanda (http://whs4pminus.co.uk/ ),
entre outros. Se quiser encontrar uma família Brasileira bem pertinho de você, dê uma olhada no
mapa da SWH no Brasil e entre em contato para maiores detalhes.
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Veja agora os depoimentos de algumas mamães do nosso grupo SWH Brasil:
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“Se eu queria que ela fosse “normal” ? É claro que
sim. Queria que ela pudesse me chamar de mamãe,
correr pela casa, não precisar de remédios e terapias
e ser mais independente. Mas quantas outras coisas
nós gostaríamos de ter e não temos porque o destino
assim não quis? Há coisas nessa vida que não
podemos controlar. A melhor escolha é aceitar de
coração, acreditar, lutar e seguir em frete, ao invés de
perder tempo afundando-se num mar de lamúrias.
Minha maior força para seguir em frente ? É muito
simples. É só olhar para essa doçura de menina.
Ah, essa garotinha... Ela é forte , ela é feliz, ela é
extraordinária. Ela me fez crescer, mudar e amar ao
próximo como nunca teria acontecido se não fosse por
ela. Ela sabe sorrir com os olhos. Ela é meu coração,
meu tudo, meu mundo. Ela nos faz ser gratos por
cada dia, ou por cada ar que entra nos pulmões. Ela
faz cada pessoa ao seu redor sorrir, ser mais grato
pela vida, e ser uma pessoa melhor. Seja a moça
da recepção, o senhor do elevador, a tia que vibra a
cada conquista, os avós que a amam, os seguidores
das redes sociais, os terapeutas e cuidadoras que tem
por ela o carinho maior do mundo...! Ela encanta
por onde ela passa. Ela traz paz, acolhimento, amor.
Certamente acredito que essa é uma das suas missões
nesse mundo: tocar a alma das pessoas e fazer desse
um mundo melhor, através magia e encantamento
que ela transmite. Todos os dias quando acordo,
a saúdo dizendo: oi, minha Bênção ! Ela sorri de
volta como quem diz: oi mamãe, bom dia pra você
também.”
Daniela, Mãe da Luísa (Rio de Janeiro)
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4. Família Wolf-Hirschhorn no Brasil
Em março de 2021, já somos 149 famílias ! Sempre unidas e trocando diariamente experiências sobre
nosso filhos. Já realizamos inúmeros encontros e iniciativas, visando não apenas nos conhecermos e
estarmos mais próximos, como também para contribuir para a divulgação da SWH. Abaixo veja um
texto em homenagem a família SWH Brasil e em seguida algumas fotos deste encontros tão especiais.
Especiais não por suas limitações, mas pela capacidade de nos fazer alcançar dimensões de amor jamais
Eles nos fazem enxergar o milagre da vida. Milagre em cada gota de chuva, cada sorriso, cada barreira
ultrapassada. São eles que nos fazem fortes e nos ensinam o significado da vida. São eles que nos trazem
sabedoria e iluminam nossa alma. São eles que nos fazem mover montanhas.
Não importa o que já tivemos que ouvir dos médicos. Não importam prognósticos ruins de estudos
ultrapassados. Não importa a falta de esperança que já nos apontaram. Não importa se já nos disseram
Nós acreditamos nas nossas crianças. Nós celebramos a vida e agradecemos pelo privilégio de tê-las em
nossos braços.
Nós nunca perderemos a esperança. Nós nunca nos resignaremos. Nós lutamos e jamais desistimos. Nós
nos unimos e vamos nos unir cada vez mais. Vamos continuar nos reinventando, movendo redes sociais,
Vamos continuar formando essa grande família , semeando amizade, trocando experiências e ajudando
Uma homenagem a família SWH Brasil, por Daniela Figueiredo (Abril de 2018)
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Fotos de alguns encontros e iniciativas da família SWH Brasil:
“Juntos somos mais fortes”
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5. Mapa da distribuição da SWH no Brasil
(última atualização em março de 2021, com 149 famílias pertencentes ao grupo SWH Brasil)
REGIÃO CENTRO-OESTE
REGIÃO NORTE
MATO GROSSO: Rondonópolis
TOCANTINS: Ponte Alta do Tocantins e
GOIÁS: Goiânia, Anápolis, Pontalina, Senador
Tocantinia
Canedo, Aparecida de Goiânia, Orizona,
Campinorte e Chap. do Céu
REGIÃO NORDESTE
DISTRITO FEDERAL: Brasília
MARANHÃO: Pindaré Mirim, Vitória e Pio
MATO GROSSO DO SUL: Campo Grande e
XII
Porto Murtinho
PIAUÍ: Teresina
CEARÁ: Fortaleza, Pacatuba, Sobral e Cascavel
REGIÃO SUL
PARAÍBA: João Pessoa e Campina Grande
PARANÁ: Curitiba, Maringá, Verê, Colombo,
PERNAMBUCO: Recife e Palmares
Marechal Rondon, Quatro Barras, Joaquim
ALAGOAS: Piaçabuçu
Távora, Londrina, Piraquara , Tapejará e Toledo
BAHIA: Salvador, Vitória da Conquista,
SANTA CATARINA: Urussanga, Joinville,
Guanambi, Araçás e Feira de Santana
Timbó, Blumenau, Indaial, Videira, Lontras e
RIO GRANDE DO NORTE: Natal
Marassanduba.
RIO GRANDE DO SUL: Porto Alegre, São
REGIÃO SUDESTE
Pedro do Sul, Rio Grande, Caxias do Sul,
MINAS GERAIS: Ibiá, Pouso Alegre, Três
Garibaldi, Lajeado, Passo Fundo, Três de Maio
Marias, Itabirito, Poços de Caldas, Carmopólis
e Sobradinho
de Minas, Janaúba, Braunas, Barbacena,
Ribeirão das Neves, Contagem, Curvelo, Ouro * Última atualização em março de 2021
Preto, Pouso Alegre, Piraporã e Patrocínio ** Estão incluídas apenas as famílias participantes do
RIO DE JANEIRO: Rio de Janeiro, São Gonçalo, grupo SWH Brasil, que concordaram em fornecer sua
Nova Iguaçu, Duque de Caxias, Guapimirim, localização.
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6. O que é a Síndrome de Wolf-Hirschhorn: Um Resumo
Nesta síndrome, ocorre uma deleção da porção terminal do braço curto do cromossomo 4, que
pode variar de tamanho e posição. Para definir o diagnóstico, é necessário que ocorra deleção da
região crítica da SWH localizada na região 4p16. Esta região crítica chama-se WHSCH. O fenótipo
(características visíveis) da SWH inclui, dentre as características principais:
Uma série de outras características físicas também podem (ou não) estar presentes, como por
exemplo: hipertelorismo (olhos afastados), microcefalia, alterações no formato da boca e orelhas,
fenda labial e/ou palatina, problemas oculares (como colobomas e alteração de nervo ótico), má
formações na parte óssea/do esqueleto, desenvolvimento atípico dos dentes, alterações na pele,
entre outras.
50% dos indivíduos com a SWH também possuem algum tipo de problema cardíaco (no coração),
em geral não muito grave, mas podendo requerer intervenção cirúrgica. Aproximadamente 1/3
apresentam problemas renais (nos rins e/ou urina). 40% podem ter algum tipo de perda auditiva, e
69% podem apresentar deficiência na produção de anticorpos (imunodeficiência).
Estima-se que a SWH ocorra em 1 para cada 50.000 nascimentos, com uma predominância de 2:1
para o sexo feminino. Não existe correlação da SWH com a idade dos pais. A grande maioria dos
casos (85-90%) ocorre de forma aleatória (deleção denovo), não sendo transmitida por nenhum dos
pais. O restante dos casos poder ter sido herdada dos pais através de translocação cromossômica.
O retardo no crescimento, caracterizado pela baixa estatura e demorado ganho de peso ao longo da
vida, é uma característica comum, mesmo quando ocorre ingesta adequada de calorias e proteínas.
Ainda assim, algumas dificuldades alimentares podem contribuir para o baixo peso, como
dificuldade de sugar, engolir e refluxo gastro-esofágico. Em muitos casos os bebês nascem a termo,
porém pequenos para a idade gestacional (PIG). Ou seja, nascem de tempo normal, porém com
baixo peso, geralmente requerendo cuidados na UTI neonatal. Por este motivo, existem gráficos
de crescimento específicos para a crianças com a SWH com idades entre 0 e 4 anos . Estes gráficos
podem ser utilizados por profissionais de sáude para comparação entre crianças com a mesma
condição. Gráficos disponíveis em: http://wolfhirschhorn.org.
Todos os indivíduos com a SWH apresentam atraso global do desenvolvimento. A grande maioria fala
poucas palavras ou emite alguns sons. Alguns não conseguem falar e comunicam-se apenas através
de gestos. A compreensão é limitada a ordens simples. As habilidades cognitivas são geralmente
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severamente impactadas. Um outro marco da SWH é a hipotonia, em geral associada a hipotrofia
dos músculos das pernas. Cerca de 45% dos pacientes são capazes de andar, de forma independente
ou com algum tipo de ajuda. No entanto, somente uma minoria consegue vestir-se, alimentar-se
sozinha, ou ter controle do esfíncter (controle das idas ao banheiro para urinar ou evacuar).
A maior preocupação dos pais e profissionais de saúde é em relação à epilepsia, e aos quadros
convulsivos dela decorrentes. Mais de 90% dos pacientes apresentam convulsões, com o início em
algum momento entre os três primeiros anos de vida. O pico de ocorrências das crises convulsivas
é entre os 6 e 12 meses de idade. Essas convulsões são geralmente desencadeadas por febre (mesmo
que baixa).Existem estudos recentes que demostraram que, apesar de frequentes e muitas vezes
de difícil controle, as convulsões geralmente são controladas com o passar dos anos, desde que a
criança tenha o tratamento e acompanhamento adequados.
Ao longo dos anos, foi reportada grande melhora das habilidades motoras dos pacientes, assim
como comportamentais/cognitivas, sendo a inclusão precoce destes pacientes em programas
de reabilitação de extrema importância. Hoje sabe-se que muitos indivíduos já conseguem, por
exemplo: andar sem ajuda, ter um controle dos movimentos melhor muito melhor do que o previsto,
falar frases mais longas, frequentar escolas e ter certo grau de independência. Apesar de existirem
estatísticas antigas de que 33% (1/3) dos pacientes com SWH não sobrevivem aos dois primeiros
anos de vida, estudos recentes apontam que, na ausência de má-formações maiores ou mais graves,
a expectativa de vida parece ser similar a de qualquer outra pessoa com epilepsias e deficiências do
desenvolvimento. Há muitos relatos de pacientes adultos com a SWH, muitos na faixa dos 20-40
anos. Segundo o site wolfhirschhorn.org , o adulto vivo mais idoso que se tem conhecimento com a
SWH nasceu em 1955 e vive nos Estados Unidos.
Fontes Bibliográficas:
- Battaglia A,Carey JC, South ST. 2015. Wolf–Hirschhorn syndrome: A review and update. Am J Med Genet
Part C Semin Med Genet 169C:216–223.
- http://wolfhirschhorn.org.
Resumo por:
Daniela Figueiredo
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7. Gráficos de crescimento para a Síndrome de Wolf-Hirschhorn
(0-4 anos de idade)
T. Antonius & J. Draaisma & E. Levtchenko & N. Knoers & W. Renier & C. van Ravenswaaij
Fig 2: Gráfico de Crescimento para Altura, em meninas Fig 3: Gráfico de Crescimento para Altura, em meninos
Nascimento até aos 48 meses: Meninas , Altura. Nascimento até aos 48 meses: Meninos , Altura.
A figura 6 representa o gráfico de crescimento do e está além do escopo deste estudo. Até o momento,
perímetro cefálico de meninos e meninas. A média do não há gráficos de crescimento específicos para
perímetro cefálico ao nascimento foi de 30,5 cm para SWH disponíveis, em contraste com os distúrbios
meninas e meninos, correspondendo a −3,5 SDS para cromossômicos mais comuns, como a síndrome de
ambos os sexos nos gráficos de crescimento normal. Down, a síndrome de Turner e a síndrome de Prader-
O perímetro cefálico médio aos 4 anos foi de 45,8 cm Willi. Embora a maneira ideal de construir gráficos de
para meninas e meninos, correspondendo a −3,5 SDS, crescimento seja um estudo prospectivo, longitudinal,
respectivamente. baseado em um grande grupo de estudo, esse método
não pode ser aplicado para síndromes raras, como
Discussão a SWH. Para aumentar o número de observações,
O crescimento é utilizado na pediatria como um combinamos os dados longitudinais disponíveis com
marcador de saúde e é uma ferramenta importante medidas transversais. Nós usamos dados de todas as
no atendimento médico para as crianças. Retardo de crianças com SWH, incluindo aquelas que possuíam
crescimento severo é uma das características principais gastrostomia. Diversas outras doenças associadas,
da SWH [1]. Pode ser causado por fatores genéticos, como doença cardíaca ou renal, teoricamente poderiam
má-alimentação, fatores parentais herdados e doenças influenciar o crescimento dos pacientes. Embora 33%
associadas. Se os pacientes com SWH sofrem de um das crianças com SWH tenham defeitos cardíacos
distúrbio endócrino adicional , isto não é conhecido congênitos, esses defeitos não são, na maioria dos casos,
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Fig 4: Gráfico de Crescimento para Peso, em meninas Fig 5: Gráfico de Crescimento para Peso, em meninos
Nascimento até aos 48 meses: Meninas , Peso. Nascimento até aos 48 meses: Meninos , Peso.
Referências:
1. Battaglia A, Carye JC, Cederholm P, Viskochill DH, Brothman AR, Galasso C (1999) Natural history of Wolf-
Hirschhorn syndrome: experience with 15 cases. Pediatrics 103:830–836
2. Battaglia A, Carey JC, Wright TJ (2001) Wolf-Hirschhorn (4p-) syndrome. Adv Pediatr 48:75–113
3. Cooper H, Hirschhorn K (1961) Apparent deletion of short arms of one chromosome (4 or 5) in a child with defects
of midline fusion. Mamm Chrom Nwsl 4:14
4. Hirschhorn K, Cooper H, Firschein IL (1965) Deletion of short arms of chromosome 4–5 in a child with defects of
midline fusion. Humangenetik 1:479–482
5. Lurie IW, Lazjuk GL, Ussova I, Presman EB, Gurevich DB (1980) The Wolf-Hirschhorn syndrome. Clin Genet
17:375–384
6. TNO/LUMC (1997) Fourth dutch growth study. Bohn Stafleu van Loghum 90.000.3862.6
7. Wolf U, Reinwein H, Porsh R, Schroter R, Baitsch (1965) Defizienz am den kurze Armen eines chromosomes nr. 4.
Humangenetik 1:397–413
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8. Guia Básico para Pais e Profissionais de Saúde
Tradução para o Português do Guia Desenvolvido pela Associação deles, podem chegar a desenvolver todo seu potencial
Espanhola da Síndrome de Wolf-Hirschhorn – Madri - 2012 e alcançar objetivos que, com os diagnósticos médicos
que tiveram ao nascer, jamais havíamos sonhado.
Prólogo Aqueles que já interagiram, de uma forma ou de outra,
A síndrome de Wolf‐Hirschhorn (síndrome de Wolf, com crianças com SWH, sabemque eles têm esse
síndrome 4p, SWH) designa o conjunto de características potencial e que é nossa obrigação e, ao mesmo tempo,
patológicas que apresentam os indivíduos com uma nossa maior alegria, ajudá-los a desenvolvê-lo. Este guia
alteração genética pouco frequente, causada pela perda pretende ajudá-los com a parte mais difícil que envolve
de material genético do braço curto do cromossoma o SWH. Para entender a outra parte, o maravilhoso que
4. Quando os pais, ou inclusive alguns médicos, é viver com nossas crianças e a sorte imensa que temos
escutam este diagnóstico, sobre uma síndrome da qual de poder compartilhar nossas vidas com elas, lhes
provavelmente nunca haviam ouvido falar, surgem animamos a que leiam as histórias dos pais na página
muitas dúvidas e perguntas. A informação disponível wed da Associação (http://www.aes‐wolfhirschhorn.
sobre a síndrome de Wolf‐Hirschhorn (SWH) está es/?page_id=226).
restrita basicamente a revistas biomédicas altamente
especializadas em inglês, ou em um tom de divulgação, Características físicas externas associadas à síndrome
em páginas web de associações de familiares de de Wolf-Hirschhorn
pacientes com SWH que também não estão disponíveis Assim como crianças com síndrome de Down têm
em espanhol (NT: nem em português). Este texto, características físicas comum a todos elas, as crianças
preparado por membros da Associação Espanhola da com SWH também apresentam uma fisionomia
Síndrome de Wolf‐Hirschhorn (AESWH), pretende característica, o que faz com que todos se pareçam em
preencher esse vazio e servir de guia informativo para certa medida. De forma geral, as características faciais
as famílias com crianças com SWH, principalmente mais marcantes, presentes em praticamente todos os
para aquelas que enfrentam pela primeira vez este afetados pelo SWH (e também na maioria dos pacientes
diagnóstico. Também pretende servir como primeira com a síndrome de Pitt-Rogers-Danks, uma forma mais
fonte de introdução à SWH para aqueles profissionais branda e menos freqüente, que hoje é englobada na
de saúde que a desconheçam. Para isso, incluímos SWH) são: a face em forma de “capacete de guerreiro
ao final do texto uma lista exaustiva das referências grego”, com a parte superior do nariz e a área da testa
dos artigos mais relevantes da bibliografia médica largas, os olhos separados, o lábio superior estreito,
especializada. Com o objetivo de não perder o caráter a mandíbula inferior pequena e os cantos da boca
primariamente didático do texto, não incluímos no curvados para baixo. A seguir, enconstra-se uma lista
seu corpo as citações a estas referências, porém as detalhada de todas as características físicas externas que
agrupamos em blocos temáticos na lista bibliográfica foram descritas como associadas à síndrome, embora
final, de forma a facilitar a busca pelos profissionais de seja importante indicar que nem todos os afetados
saúde que estejam interessados em um determinado apresentam todas elas, e que algumas delas dependem
aspecto das patologias associadas com a SWH. Dado do grau de gravidade da síndrome:
o caráter fundamentalmente informativo e técnico • Baixa estatura
do texto, e os diversos problemas de saúde que os • Microcefalia (pequeno perímetro craniano) e / ou
paciente com SWH podem apresentar, este guia pode, assimetria do crânio
em algumas ocasiões, parecer frio e as vezes um tanto • Nariz grande ou “bico de papagaio”
desolador. Nada mais distante da realidade. Se bem é • Rosto em forma de “capacete de guerreiro grego”:
certo que a principio o diagnóstico nos assusta e que, glabela proeminente (isto é, parte superior do nariz e
como qualquer outra deficiência, nos obriga a repensar área da testa largas)
totalmente nossa vidas, todos os que tivemos a sorte • Hemangiomas (áreas mais vascularizadas da pele,
de conhecer, amar e cuidar de pacientes com SWH, como verrugas vermelhas. As vezes elas cobrem
sabemos que não há experiencia mais enriquecedora grandes extensões e ficam mais vermelhas com o calor
do que compartilhar nossas vidas com eles, e que eles, ou com o choro. As vezes elas parecem apenas áreas
com a nossa ajuda, podem viver muitos anos (30, 40... mais avermelhadas da pele)
quem saberá o que a vida reserva para cada pessoa?). • Orelhas implantadas mais abaixo do habitual
Uma vida feliz e na qual, com seus problemas, e apesar • Fossa pré-auricular (buraco ou cavidade na frente da
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orelha) de genética.
• Excrescência cutânea nas orelhas (como “casquinhas”) Cromossomos e cariótipo
• Orelhas pouco desenvolvidas Os seres vivos são formados por milhões de células.
• Orelhas proeminentes Dentro das células, no núcleo, encontra-se o DNA
• Hipertelorismo (olhos muito separados) (Ácido Desoxirribonucleico, em inglês), no qual está
• Estrabismo armazenada toda a informação genética. O DNA é uma
• Ptose palpebral (pálpebras superiores “caídas”) molécula longa e em espiral, e contém os genes que, como
• Microftalmia (olhos menores do que deveriam ser, em um manual de instruções, têm toda a informação
geralmente um olho menor que o outro) para que o nosso corpo seja como é. Os cromossomos
• Coloboma na pupila (a pupila, ao invés de ser redonda, são formados pelo enrolado de todos os genes que estão
tem alterações na sua forma) em cada célula, como se fossem pequenos carretéis
• Fenda palpebral oblíqua e dobra epicântica (pálpebras de linha (Figura 1), e ao microscópio eles podem ser
semelhantes às das pessoas com síndrome de Down e distinguidos uns dos outros através do uso de certos
pessoas de origem asiática) corantes, que lhes conferem uma aparência de bandas
• Arco superciliar muito arqueado (sobrancelhas muito ou franjas características (Figura2).
arqueadas)
• Canal lacrimal obstruído (as lágrimas não correm dos
olhos para o dentro do nariz).
• Filtro labial curto (é a ranhura entre o centro do lábio
superior e o nariz). Isto faz com que lábio superior seja
curto e os dentes superiores sejam visíveis.
• Lábio leporino frequente
• Abertura no céu da boca
• Cantos da boca curvados para baixo
• Dentição muito atrasada
• Dentição incompleta, deformação ou fusão dentária
• Micrognátia (mandíbula pequena, pouco queixo)
• Impressões digitais pouco marcadas
• Impressões digitais com dois “redemoinhos”
• Prega palmar transversal
• Unhas muito curvas
• Clinodactilia (curvatura de dedos no plano da palma
da mão)
• Dedos finos e longos
• Polegares longos
• Covinhas nos ombros e cotovelo
• Covinha sacral
• Tronco alongado
• Braços e pernas finas
• Malformações nos dedos dos pés
• Pés deformados
• Puberdade precoce
• Hipotonia (diminuição do tônus muscular)
Figura 1. Organização do DNA em cromossomos. A
• Defeitos nos órgãos genitais externos (por exemplo,
cadeia de DNA vai se condensando progressivamente em
hipospádia: nos homens, a uretra não termina na ponta
uma estrutura compacta.
do pênis, mas na parte inferior dele.
O conjunto de todos os cromossomos de um indivíduo é
A síndrome de Wolf-Hirschhorn é uma doença
chamado de cariótipo. O ser humano tem um total de 46
genética
cromossomos: 22 autossomos (não relacionados ao sexo
Antes de poder aprofundar em questões como
do indivíduo) em duplicata e 2 cromossomos sexuais. O
diagnóstico, prognóstico ou probabilidade de ter mais
sexo feminino tem duas cópias do cromossoma X e o
filhos que sofram de SWH, precisamos entender qual
sexo masculino, uma cópia do cromossoma X e uma
a causa dessa síndrome. E para isso, precisamos fazer
do cromossomo Y. Praticamente todas as informações
primeiramente uma breve revisão de alguns conceitos
contidas nos cromossomos são necessárias para
20
Figura 3. Esquema de uma deleção ou
perda de material de um cromossomo.
26
aparece no desenvolvimento embrionário e se mantem diferentes umas das outras do que são pessoas saudáveis,
ao longo da vida. Como já dissemos, o fato de que já que pessoas saudáveis têm a mesma quantidade de
crianças frequentemente recusam os alimentos não é material genético, e isso pode variar muito de pacientes
o único fator responsável pelo atraso no crescimento. com SWH para outros), e isso se traduz em grandes
De fato, em crianças alimentadas com sonda, seja diferenças em todos os aspectos.
sonda nasogástrica ou sonda de PEG (gastrostomia Algumas crianças com SWH nascem com lábio
endoscópica percutânea), a administração direta leporino e/ou alterações no palato que dificultam o ato
de nutrientes não costuma resolver o problema de da sucção habitual. Embora a cirurgia seja a melhor
crescimento, embora garanta, em geral, uma correta opção, às vezes não é possível ou tem que ser adiada.
hidratação e nutrição (pelo menos básica) do paciente. Nesse caso, é possível usar mamadeiras especiais,
Seja qual for a causa, uma má nutrição pode levar a como as mamadeiras de Haberman, projetadas para
problemas clínicos. O grau de atraso no crescimento crianças com deficiências de sucção, nas quais o bico
é muito variável e, em casos muito graves, pode não é preenchido com ar e a ação da língua é favorecida,
comprometer a vida, especialmente quando a criança em vez de um forte reflexo de sucção. O fluxo de leite
tem que enfrentar situações de risco (doenças, cirurgia, é moderado e, se o bebê parar de sugar, o desenho da
etc.). garrafa permite que os pais controlem o fluxo de leite. Este
tipo de garrafa é comercializado
pela empresa Medela.
Em outras ocasiões, as crianças
simplesmente se recusam a
serem alimentadas por via oral,
por razões indeterminadas. Se
a criança não puder alimentar-
se de modo adequado por via
oral, seja devido a problemas no
palato, sucção inadequada, pouca
coordenação dos movimentos
da deglutição (com consequente
risco de aspiração de leite,
que chegaria aos pulmões) ou
rejeição de alimentos, pode
ser necessário e conveniente
recorrer à alimentação via sonda.
Uma opção temporária é o uso
de uma sonda nasogástrica, um
pequeno tubo que é inserido
Figura 7. Curvas de crescimento de altura versus idade para crianças com SWH. através do nariz ou da boca e
Extraído de Antonius et al., 2008. atinge o estômago ou intestino
delgado. O tubo é deixado fixo e
É muito importante lembrar, portanto, que todas as toda vez que a criança é alimentada é preciso verificar
crianças com SWH têm uma baixa estatura (inerente à se está na posição correta, para evitar riscos da comida
síndrome, o que faz com que eles sejam menores que as fluir para o lugar errado. No hospital se ensinará aos pais
crianças da sua idade não afetadas) e que a “dificuldade como alimentar a criança via sonda, sendo importante
de crescimento” em crianças com SWH não deve ser manter um ritmo determinado (não se deve fornecer
confundido com a sua “baixa estatura”. A dificuldade toda a comida de uma só vez, mas com intervalos).
de crescimento requer tratamento médico, enquanto a Algumas crianças são alimentadas com sonda até que
baixa estatura é apenas uma característica associada à estejam em idade suficiente para iniciar outro tipo de
síndrome. A pergunta a ser feita, portanto, é se a idade alimentação. Em outros casos, quando a única opção
e altura da criança estão de acordo com as tabelas. Para para a alimentação passa a ser através de sonda, pode
isso, existem tabelas de crescimento desenvolvidas se realizar uma operação para colocar uma sonda mais
especificamente para crianças com SWH, mostradas na durável e que não interfira na atividade diária como a
Figura 7 (tiradas de Antonius e colaboradores, 2008). sonda nasogástrica. Para isso geralmente se recorre a uma
Mesmo neste caso, deve ser lembrado que todas as gastrostomia (sonda PEG: gastrostomia endoscópica
crianças com SWH são diferentes umas das outras (mais percutânea) ou duodenostomia. Nestes casos, a sonda é
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inserida através de um pequeno orifício no abdômen da longo de seu caminho, e os dados são armazenados em
criança, que flui diretamente para o estômago ou para um dispositivo portátil. Em casos extremos de refluxo
o duodeno. A cirurgia é muito simples e requer apenas (persistência além de 15 meses, início de pneumonia
alguns dias de hospitalização. Embora a princípio possa ou sangramento gástrico) a realização de uma cirurgia
parecer estranho, as crianças se acostumam a serem deve ser considerada como opção para solucionar o
alimentadas com a sonda, e a levar uma vida normal problema. Para alguns médicos, quando a criança com
sem o fato de que ter o tubo lhes afeta mais do que o refluxo também tem lesão cerebral, a cirurgia é a melhor
necessário (também levando em consideração que a opção, pois eles consideram que o risco de aspiração
mobilidade de crianças com SWH é geralmente bastante nesses casos é maior. A técnica utilizada é conhecida
reduzida). Entre as vantagens da sonda gástrica versus como fundoplicatura de Nissen-Hill e, de forma
a sonda nasogástrica é o fato de que se evita o risco simplificada, consiste numa redobragem do estômago.
da sonda se mover para os pulmões, é mais higiênica, Esta, em contraposição à implantação de uma sonda de
menos irritante para a criança e, do ponto de vista PEG, é uma cirurgia maior, portanto, existem médicos
estético, não precisa ser visível externamente, apenas que consideram essa operação como último recurso. De
no momento da alimentação da criança. Requer uma qualquer forma, chegando a este ponto, é conveniente
higienização diária, mas nada exagerado, e pode durar que antes de decidir, os pais tenham mais de uma
vários anos. Na verdade, aproximadamente 50% dos opinião médica, e é aconselhável também falar com pais
pacientes com SWH acabam tendo que implantar uma de crianças que já foram submetidas a esta operação.
sonda PEG e, em geral, é muito bem avaliada pelos pais Em geral, portanto, crianças com SWH tendem a
e cuidadores porque tem um impacto muito positivo na crescer a uma taxa mais lenta que a habitual. O ideal é
saúde da criança e na sua qualidade de vida. controlar que a altura/peso da criança esteja em uma boa
Em alguns casos, o atraso no crescimento pode ser relação, certificando-se de que se dê a ela uma nutrição
consequência de uma doença cardíaca, que provoca adequada para se manter saudável. Por fim, também
um aumento das necessidades calóricas da criança. se deve levar em consideração que a atividade dessas
Nestes casos, após a cirurgia para corrigir a alteração no crianças é geralmente bastante reduzida em comparação
coração (que geralmente precisa ser feito de qualquer com a de crianças não afetadas (tônus muscular mais
maneira, por razões óbvias), a criança pode melhorar baixo, hipotonia ...) e, portanto, é possível que a ingesta
sua capacidade de ganhar peso. calórica total necessária seja menor, pois elas não
Outra causa frequente do atraso no crescimento é consomem tanta energia. De qualquer forma, é muito
o vômito persistente. O vômito pode ser devido ao importante ter a ajuda de um especialista em nutrição
refluxo gastroesofágico (RGE). O refluxo ocorre para nos aconselhar sobre a dieta da criança, bem
geralmente (entre outras causas) quando o esfíncter, como também é muito importante que o especialista
que fecha a parte inferior do esôfago, não funciona bem entenda as particularidades do SWH para adaptar seus
e acontece o retorno do conteúdo do estômago de volta conhecimentos a essa síndrome rara.
ao esôfago. O vômito é uma consequência, mas nem
sempre acontece; Em muitos casos, existe refluxo, mas Alterações do sistema digestivo
não é fácil detectar em um bebê. O conteúdo ácido do Na boca, além da presença ocasional de lábio leporino
estômago danifica o tecido do esôfago e também pode ou fenda no palato, as alterações mais frequentes nos
causar irritação na garganta. O refluxo é comum na pacientes com SWH (em mais de 50% dos indivíduos)
infância em crianças saudáveis e não chega a ser um são anomalias da dentição. Muito frequentemente os
problema sério, mas em crianças com a SWH, se se dentes saem muito tarde, ou nem todos saem, e eles têm
mantiver ao longo do tempo, pode causar pneumonia posições e formas incomuns.
e outras doenças respiratórias, além de problemas No restante do sistema digestivo, do ponto de vista
nutricionais. Para controlar o refluxo você pode recorrer funcional, os principais problemas são o refluxo
ao uso de alimentos mais espessos e certas posturas gastroesofágico, como já mencionado, ou prisão
durante a alimentação da criança (posição supina, com de ventre, devido em geral a problemas mecânicos
a cabeça levantada cerca de 30 graus). No hospital é derivados do baixo tônus muscular e corrigível pelo
possível realizar um teste para verificar se a criança tem uso de laxantes ou um aumento no consumo de fibra.
refluxo, que se baseia na medição da acidez ao longo do Outro problema menos frequente pode ser a má
esôfago (pHmetria) após comer, e durante um período rotação intestinal, que acontece quando o intestino não
de várias horas. Para isso, uma sonda é inserida através possui todas as curvas que deveria ter, ou as tem de
do nariz até que chegue ao estômago (semelhante à que forma anômala, que interfere em sua função. Isso pode
descrevemos como sonda nasogástrica), conectada a resolvido por cirurgia em casos graves.
um sensor que permite medir os valores de acidez ao
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Convulsões crise.
As convulsões são um dos maiores e mais frequentes Outro tipo de crise menos perigosa e às vezes difícil
problemas que apresentam as crianças com SWH e de detectar é a crise de ausência, também conhecida
são, em geral, um dos sinais que definem a síndrome. como “petit mal”. Durante uma crise de ausência a
Quase todas as crianças antes de completar quatro anos criança para de fazer qualquer atividade e, às vezes
já tiveram algum tipo de crise. As convulsões podem olha, em um ponto por alguns segundos antes de tomar
variar de “leve” (crise de ausência, “petit mal”), a mais conhecimento da realidade ao seu redor. As crises de
severas (tônico-clônicas, “grande mal”). Elas começam e ausência não são particularmente graves por si só, mas,
acabam de forma espontânea, tendem a ser recorrentes embora não tão urgente quanto os anteriores, é preciso
e duram cerca de 15 minutos. A febre é o gatilho informar ao médico da criança. Esse tipo de crise pode
mais frequente de convulsões. As convulsões estão interferir com a capacidade da criança de responder aos
relacionadas: i) ao fato de o eletroencefalograma de estímulos das pessoas e do ambiente que as rodeiam.
pacientes com SWH apresente padrão anormal em 90% Depois de sofrer uma crise tônico-clônica pode se
dos casos e ii) com o fato de que a maioria das pessoas iniciar um tratamento para controlar convulsões. No
afetadas tem defeitos estruturais e anatômicos graves entanto, se há suspeita de que a crise foi desencadeada
que afetam o sistema nervoso central, principalmente o por febre alta pode ser decidido não prescrever nenhum
cérebro. Essas malformações geralmente são detectadas tratamento, já que apesar da maior suscetibilidade a
por estudos de ressonância magnética nuclear, e são crises de crianças com SWH, é importante, de qualquer
consistentemente encontradas em mais de 80% das forma, avaliar os benefícios potenciais contra os riscos
pessoas com SWH. de estabelecer um tratamento farmacológico. Portanto,
O tipo mais comum de convulsões são aquelas é necessário sempre que um tratamento farmacológico
conhecidas como tônico-clônicas (grande mal). Essa for realizado que haja um monitoramento periódico
crise tem três fases: o primeiro momento, a fase tônica, pela equipe médica (neurologista), que inclui a
é caracterizada por uma rigidez geral do corpo com determinação dos níveis sanguíneos dos medicamentos,
os braços e pernas estendidas; às vezes as crianças bem como observar como a medicação afeta a atitude
emitem um grito, e também se perde o controle dos da criança (sonolência ...). Atualmente existem vários
esfíncteres. Na segunda fase, conhecida como fase medicamentos usados no tratamento de convulsões, o
clônica, a criança começa a ter as convulsões. Essa fase que permite testar qual é o mais adequado para o nosso
pode durar desde alguns segundos até alguns minutos e filho. Os pais devem consultar um neurologista sobre
em seguida para abruptamente. Finalmente, na terceira como agir em casos de crise, pois às vezes é possível
fase, chamada pós-crítica, a criança está muito cansada administrar medicamentos no início da crise, para
e provavelmente fica adormecida. Se a criança sofre prevenir ou interromper o estado epilético. Geralmente
pela primeira vez uma crise tônico-clônica, é muito se recomenda iniciar o tratamento com Valproato após
importante receber atenção médica urgente. Uma a primeira convulsão. Em geral, as ausências são bem
febre alta ou uma febre que apareça de repente, pode controladas com administração de valproato sozinho
ajudar a desencadear uma crise. A crise descontrolada ou em combinação com etosuccimida. Convulsões
pode levar a um “estado epilético” no qual ocorre uma clônicas ou tônico-clônicas são controladas com
única convulsão prolongada e descontrolada. Uma crise bezodiazepinas. Uma abordagem que alguns pais usam
prolongada pode significar um grande risco, pois pode para tratar convulsões é a dieta cetogênica. Esta é uma
causar parada respiratória e outras complicações graves. dieta rica em gorduras e pobre em carboidratos que,
Essas crises causam, em geral, atrasos na evolução de maneira simplificada, altera o metabolismo global
e no desenvolvimento cognitivo das crianças, e elas do organismo e, em um terço dos casos, tem efeitos
frequentemente perdem habilidades ou capacidades claramente benéficos no controle das convulsões. A
que já haviam desenvolvido. É por isso que o controle dieta tem a vantagem de permitir reduzir os níveis
através de medicamentos é tão importante. de medicação, o que é especialmente importante nas
Uma crise mioclônica consiste na breve perda de crianças que precisam de doses altas que interferem em
controle de uma parte do corpo e geralmente aparece sua atividade e seu desenvolvimento. Porém, devemos
e desaparece subitamente. Durante estas crises as esclarecer que a dieta cetogênica é um procedimento
crianças têm espasmos musculares. É importante complexo e com seus riscos (desidratação, hipoglicemia)
informar ao médico se são detectados sinais na criança que, embora possa ser muito benéfica, nunca deve ser
como: prender a respiração, se a criança perde o contato iniciada se não estiver sob supervisão médica rigorosa.
com o ambiente ao redor ou se ela realiza movimentos Em geral, e ainda que as convulsões possam ser difíceis
incomuns ou contrações repetitivas de algum músculo. de controlar durante os primeiros anos, se tratadas
Todos esses sinais podem indicar a presença de uma corretamente, tendem a desaparecer com idade na
29
maioria dos pacientes com SWH. Outro aspecto que cirurgia para fechar o canal.
frequentemente é alterado em crianças com SWH é - Dextrocardia: o coração está deslocado em direção ao
o sono, em geral escasso e superficial, havendo casos hemitórax direito (ao invés do esquerdo, sua posição
descritos de pacientes adolescentes que passaram normal).
até quatro dias sem dormir. Em geral, no entanto, o O prognóstico para uma criança com cardiopatia está
problema não é tão grave e também melhora com o relacionado à gravidade do defeito, ao sucesso do
crescimento. tratamento e ao tempo necessário para aplicar o mesmo.
A cirurgia pode ser completamente curativa, porém o
Cardiopatias fato de que se possa ou não realizá-la depende muito
Mais de 50% das crianças com SWH têm um defeito das condições gerais do bebê (por exemplo, seu peso).
cardíaco, embora na maioria dos casos, eles não são Em alguns casos em que um defeito grave não pode
complexos e geralmente é possível a correção por ser tratado pode levar à morte logo após o nascimento,
cirurgia. Algumas das malformações mais comuns mas em muitos casos, porém, o defeito não é grave e a
são defeitos do septo atrial, estenose pulmonar, cirurgia é possível.
comunicação interventricular, canal arterial persistente
ou dextrocardia: Problemas renais e geniturinários
- Defeitos do septo atrial: neste caso, o que acontece Crianças com SWH podem ter problemas renais em
é que o septo que separa os dois átrios apresenta um 30% dos casos: em alguns casos, as crianças podem
buraco, de modo que se produz uma mistura anormal nascer com apenas um rim. Isto não necessariamente
de sangue (oxigenado e não oxigenado), o que dificulta significa um problema, desde que esse único rim
que o coração bombeie sangue oxigenado suficiente esteja funcionando corretamente. A avaliação da
para os tecidos do corpo. Um ruído cardíaco anormal função renal geralmente é feita na maior parte dos
está quase sempre associado a esse defeito. casos, além do exame de urina, medindo os níveis de
- Estenose pulmonar: é uma malformação na qual há creatinina no sangue. De uma maneira simplificada, a
um estreitamento anormal da válvula entre o ventrículo creatinina é um produto do metabolismo dos músculos
direito e a artéria pulmonar que vai aos pulmões, e é eliminada na urina. Se o rim não funcionar bem,
dificultando a chegada de sangue até eles. as concentrações de creatinina são mais altas do que
- Defeitos do septo ventricular: semelhante aos defeitos deveriam. Porém, além da função renal, existem outros
do septo atrial, o que acontece é a presença de um aspectos que podem alterar o valor de creatinina no
orifício no septo que separa os dois ventrículos, o que sangue (dieta, por exemplo, ou atividade física). A
impede o coração de bombear sangue adequadamente. presença de malformações renais são uma das primeiras
Novamente, esse defeito está associado a um ruído características que podem se
característico do coração. observar por ultra-som no desenvolvimento
- Canal arterial persistente: quando o bebê está dentro embrionário. Nos casos de displasia renal, um ou
do útero da mãe, seus pulmões não fazem a troca de ambos os rins têm um tamanho pequeno ou um
oxigênio porque ele o recebe através da placenta de sua desenvolvimento anormal (rins multicísticos ou
mãe. Devido a isso, não é necessário enviar sangue aos policísticos). Nestes casos, os rins podem funcionar
pulmões do bebê no útero para que se oxigenem. O de modo aparentemente normal sem se detectar a
duto arterial é um vaso sanguíneo, presente em todos doença até que o sistema renal não consiga mais filtrar
os bebês enquanto estão dentro do útero, que permite adequadamente. Portanto, quando uma criança nasce
ao sangue ignorar o caminho para pulmões porque faz com displasia renal, não é fácil prever até quando os
com que o sangue circule da artéria pulmonar para a rins funcionarão bem e quando ocorrerá a insuficiência
aorta. Depois que o bebê nasce e o cordão umbilical é renal. Infelizmente, a falta de ambos os rins é letal, mas,
cortado, os pulmões já recebem oxigênio e se expandem, como dito antes, muitas vezes há um rim funcional.
seus vasos sanguíneos relaxam para receber mais fluxo Outro problema geniturinário é o refluxo vesicoureteral:
sanguíneo e o canal arterial geralmente se fecha nas consiste em um retorno da urina desde a bexiga para
primeiras horas de vida do bebê. No entanto, às vezes cima através de um ou ambos os ureteres, em direção
o canal arterial não se fecha por si só e isso é conhecido os rins, em vez de ser expelida para fora. O refluxo
como canal arterial persistente (PDA). A presença do em crianças com SWH geralmente é devido a alguma
PDA faz com que o sangue não flua corretamente e, malformação em algum lugar do trato urinário. O grau
dependendo do tamanho do canal, pode causar graves do refluxo pode variar muito, e quanto maior for, maior
complicações circulatórias e de oxigenação. Algumas será a possibilidade de que exista uma lesão renal, pois o
crianças nascem com PDA e logo depois se fecha, refluxo causa infecções no trato urinário e normalmente
enquanto em outros casos pode ser necessária uma só é diagnosticado após a criança ter uma infecção
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do trato urinário. Nos primeiros anos, uma diferença para fora e para baixo ou para cima. O diagnóstico
de tamanho entre os dois rins é frequentemente um precoce e o tratamento imediato após o nascimento é
sintoma de refluxo. Um aumento na pressão nos rins, essencial para a correção de deformidades. Quando o
devido à retenção de urina, pode causar doença renal tratamento demora, pode precisar de terapia intensiva
crônica. Geralmente, leva muito tempo para detectar e, posteriormente, o uso de calçados especiais. Se o pé
a existência de refluxo e, portanto, pode ser que já não responde bem a esse tratamento, a cirurgia é uma
tenha causado um dano renal, antes que os sintomas opção.
apareçam. Portanto, a função renal e a anatomia renal é - Luxação congênita do quadril: ocorre quando a
um aspecto importante para se controlar desde cedo em extremidade superior do fêmur, em forma de bola,
pacientes com SWH. não está dentro da cavidade da articulação do quadril.
O tratamento do refluxo depende da idade da criança Com tratamento adequado, o quadril pode retornar à
no momento da detecção, da duração do problema e do sua posição normal, mas isso está intimamente ligado
número e da gravidade das infecções do trato urinário à mobilidade geral do indivíduo e seu tônus muscular.
que a criança apresente. Quase todas as crianças Em um estágio tardio, pode requerer uma correção
com o refluxo se recuperam completamente sem cirúrgica.
complicações. Em geral, é feito o tratamento profilático - Escoliose: muito comum em crianças com SWH
com administração continuada de antibióticos para porque seu baixo tônus muscular não permite que eles
prevenir infecções. Em outras ocasiões: se a infecção se mantenham eretos. A escoliose é uma curvatura
não desaparecer após o uso de antibióticos, se o lateral da coluna vertebral, geralmente na forma de
refluxo for muito grave, se o rim não se desenvolver letra “s”. O tratamento envolve a manutenção de uma
adequadamente, ou, finalmente, se o refluxo persistir posição correta, utilizando cadeiras ou espartilhos
mesmo após a puberdade, se recorre à cirurgia. especiais; em outras ocasiões, é preciso recorrer à
Outro problema que ocorre às vezes é a acidose tubular cirurgia.
renal, devido a que o rim não é capaz de reabsorver - Cifose: consiste em uma curvatura excessiva da coluna
o bicarbonato, o que provoca um excesso de retenção vertebral, formando uma corcunda. Como na escoliose,
de ácido nos rins. Esse problema é resolvido por o tratamento consiste em manter uma posição correta,
administração de bicarbonato de sódio ou substância o uso de espartilho e às vezes, recorrer à cirurgia.
similar.
O trato genital também pode apresentar anomalias: Hipotonia - tônus muscular reduzido
- No caso dos meninos, a hipospádia é frequente. Crianças com SWH frequentemente sofrem de tônus
Consiste em que a uretra da criança (o tubo que sai da muscular baixo em diferentes graus. O tônus muscular
bexiga já para fora) se abre na parte inferior do pênis ou baixo afeta não somente a capacidade da criança de se
no escroto, em vez de na ponta do pênis. Frequentemente, sentar, estar em pé ou andar, mas também habilidades
a hipospadia está associada a anormalidades renais. Se que um bebê desenvolve muito antes, como sugar, engolir
o menino não puder urinar normalmente, pode ser ou chorar. Assim, o baixo tônus muscular pode ser uma
necessária cirurgia para mudar de posição a abertura das causas subjacentes dos problemas alimentares.
da uretra para a ponta do pênis. A cirurgia geralmente Hipotonia pode causar também constipação, então
é realizada com um ano de idade. algumas crianças precisam de uma dieta rica em fibra
- Na criptorquidia, os testículos não descem bem ou a administração de laxantes ou supositórios.
ao escroto, e o menino pode ter mais risco de A fisioterapia e a reabilitação já nos primeiros meses de
desenvolver uma hérnia. As vezes os testículos descem vida são fundamentais para melhorar o tônus muscular
espontaneamente durante o primeiro ano de vida, sem e ajudar a criança a desenvolver todo seu potencial.
necessidade de tratamento. Estes exercícios são simples de fazer e o fisioterapeuta
- Nas meninas, pode ocorrer que o útero ou os ovários ensinará como mover o bebê para ajudá-lo a melhorar
estejam ausentes, assim como malformações nos órgãos seu tônus muscular.
genitais externos.
Deficiências imunes e suscetibilidade a infecções
Problemas esqueléticos e ortopédicos Crianças com SWH geralmente têm problemas
Algumas crianças com SWH nascem com deformidades imunológicos devido à incapacidade de produzir certos
dos ossos, músculos e articulações, como por exemplo tipos de anticorpos (imunoglobulinas), um problema
pé equinovaro ou alterações do quadril: presente em 69% dos pacientes estudados. Geralmente,
- Pé equinovaro: também conhecido como pé torto, por isso, eles são mais propensos a infecções das vias
é causado por um desenvolvimento anormal dos respiratórias, o que é particularmente importante
tecidos moles do pé, levando a uma contorção do pé durante a infância. Em alguns casos podem exigir
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hospitalização e requerer um tratamento com oxigênio, Problemas oftalmológicos
aspiração de secreção, etc. Problemas oculares são muito comuns em crianças com
Muitas crianças têm canais auditivos fechados ou mais SWH. Às vezes eles podem ser simplesmente problemas
estreitos que o habitual, o que pode afetar a capacidade de graduação (geralmente miopia), mas geralmente são
auditiva e aumentar o risco de infecções de ouvido malformações, como:
crônicas. Preventivamente contra infecções de ouvido - Microftalmia: olho anormalmente pequeno.
médio, às vezes é usado tratamento com baixas doses de - Coloboma: um orifício ou defeito em qualquer uma
antibióticos. Em casos de infecções recorrentes e graves, das estruturas oculares, frequentemente na pupila,
os médicos podem recomendar a realização de uma que parece um buraco de fechadura, mas também nas
miringotomia. Esta intervenção consiste em realizar camadas internas do olho.
uma pequena incisão no tímpano para a aplicação - Atrofia do nervo óptico: geralmente envolve cegueira
de um pequeno tubo, que permite a drenagem mais do olho afetado.
eficiente do ouvido médio e, assim, evita o acúmulo de - Obstrução do canal nasolacrimal: o canal no lado
líquido e recorrência de infecções do ouvido médio. interno do olho através do qual as lágrimas fluem para
Quando as crianças são um pouco mais velhas e têm dentro do nariz é obstruído desde o nascimento. Por
mais força, a tosse pode ajudar a superar infecções causa disso, o olho parece “choroso” porque as lágrimas
respiratórias crônicas e também auditivas. transbordam. Além disso, o canal bloqueado é causa
frequente de infecções oculares. Esse defeito é reparável
Problemas de audição com uma cirurgia muito simples, mas requer anestesia.
Eles aparecem com uma frequência de cerca de 40% dos De qualquer forma, uma avaliação oftalmológica
casos. Em muitas ocasiões são complicados por otites completa é uma parte essencial dos exames médicos o
frequentes devido a problemas imunes, mas também mais cedo possível, mesmo para crianças que princípio
pode haver malformações básicas, que frequentemente não apresentem problemas. Existem vários tipos de
afetam os ossículos do ouvido médio e tímpanos, testes que não envolvem a participação do paciente e
causando o que é chamado de problemas auditivos que permitem determinar, aproximadamente, qual é a
condutivos. Isto significa que o som que entra no ouvido capacidade visual da criança, desde bem pequenos.
externo não é transmitido corretamente ao ouvido
interno, o que não estimula os terminais nervosos, e Deficiência intelectual e atraso no desenvolvimento
não há audição. Felizmente, a eficiência da transmissão Todas as crianças com SWH têm um atraso no
pode ser medida sem a necessidade de resposta do desenvolvimento intelectual e psicomotor, de maior
paciente, utilizando uma audiometria que dura apenas ou menor grau. Foi calculado que o grau de deficiência
10 a 15 minutos. intelectual é moderado em 10% dos casos, médio em
25% e profundo em 65% dos indivíduos. Assim, uma
Reações adversas à vacinação porcentagem relativamente alta das pessoas afetadas
Em alguns casos, foram descritas reações adversas do tem a capacidade de se comunicar e ser compreendido
tipo de crises convulsivas logo após a administração em um nível básico, embora o uso da linguagem seja
de vacinas infantis (difteria, tosse convulsa, tétano) em limitado a uma minoria.
crianças com SWH. Alguns médicos não dão vacinas Como indicamos anteriormente, o grau de incapacidade
contra difteria e tétano em crianças em risco de epilepsia, está correlacionado até certo ponto com o tamanho
ainda que nunca tenham apresentado nenhum ataque da deleção no cromossomo 4 e com a região onde
anteriormente. Por outro lado, as vacinas representam ocorre. No entanto, apesar dos avanços no diagnóstico,
uma ferramenta importante para combater infecções nenhuma técnica é capaz de indicar o grau de atraso das
especialmente no caso de crianças mais propensas a pessoas afetadas. Por isso, é fundamental não se deixar
sofre-las. É de grande importância avaliar as possíveis levar por comentários como: “... nunca será capaz de
vantagens das vacinas contra os possíveis riscos que interagir devido ao retardo mental e motor que possui”,
estas podem desencadear. Em alguns casos, por uma vez que apenas dando-lhes todas as oportunidades
exemplo, é possível recorrer a outros tratamentos como poderemos descobrir tudo o que essas crianças serão
a administração de anticorpos específicos e dada a capazes de alcançar e transmitir. Além disso, elas (no
maior suscetibilidade a infecções do trato respiratório, seu próprio ritmo) mostram progresso constante, de
tratamento com anticorpos contra o vírus sincicial modo que, aos 12 anos, 45% dos pacientes podem
respiratório. Em qualquer caso, as vacinas em crianças andar, de forma independente (25%) ou com apoio
com SWH são algo que precisa ser avaliado de maneira (20%). Da mesma forma, 30% das pessoas afetadas
muito personalizada em função dos riscos potenciais de adquirem ao longo do tempo uma certa autonomia na
exposição do paciente. sua alimentação, na hora de se vestir e se despir, ou na
32
realização de tarefas simples. para que se possa decidir qual tratamento é o mais
É lógico que ninguém queira ouvir sobre deficiência apropriado ou como proceder em cada caso. Nunca se
intelectual (ou termos semelhantes) quando falam deve permitir que, pelo fato de que a literatura diga que
sobre seu filho, mas devemos pensar nisso como meras a sobrevida é baixa, que elas são pouco reativas etc., os
“palavras” para uma avaliação, em função de algumas médicos parem de dedicar todos os seus esforços para
diretrizes estabelecidas de habilidades que as crianças atendê-las da melhor maneira possível. Nem devemos
são ou não são capazes de fazer. Na prática, se tudo em nenhum momento deixar de perguntar ao médico
isso serve para ter acesso a determinadas ajudas e sobre o diagnóstico de nosso filho, porque somos
tratamentos que melhorem o tratamento e a qualidade seus pais e devemos ser perfeitamente informados de
de vida de nossos filhos, devemos aprender a ignorar tudo e entender o que está acontecendo com ele, quais
esses “rótulos”, e sejamos nós quem avaliemos o quão possíveis tratamentos existem e como eles podem afetar
capazes eles são, seus progresso e realizações dia a a nossos filhos.
dia, sem a necessidade de compará-los com ninguém, Dados os sérios problemas de saúde que as crianças
apenas com eles mesmos. com o SWH podem apresentar, os pais muitas vezes
Algumas crianças não falam, mas se fazem entender precisam enfrentar a difícil situação de decidir questões
perfeitamente com o riso, sons, gestos, movimentos; que geralmente não são necessárias com uma criança
alguns não conseguem andar, mas eles sempre nos não afetada. É muito possível que durante a vida de
acompanham onde quer que estejamos; alguns precisam nossos filhos tenhamos que decidir se sejam submetidos
da nossa ajuda constante para todas as atividades diárias a operações cirúrgicas complicadas que requerem
e ainda assim somos nós que não sabemos fazer nada anestesia geral e que intrinsecamente representam
se eles não estiverem lá. E todos eles são verdadeiros um risco para a vida da criança, ou que tenhamos que
lutadores que desde seus primeiros dias de vida nos dão decidir se queremos administras certos tratamentos
um amor que somente alguém tão especial como eles é com medicamentos que podem ter efeitos colaterais
capaz de dar. importantes,etc. Nós devemos avaliar cuidadosamente
os prós e contras, sempre pensando, como qualquer pai,
Educação especial no que é melhor para o nosso filho, pedindo conselhos
Desde os primeiros meses de vida é importante que a de diferentes médicos, se necessário, conversando
criança faça terapias de estimulação precoce, baseada com outras famílias ... Às vezes, um inconveniente
no estímulo dos sentidos (audição, toque, visão ...), para de uma intervenção cirúrgica pode supor um grande
melhorar, entre outros, os problemas de tônus muscular aumento em sua qualidade de vida (por exemplo, uma
baixo, interação com o entorno, etc. A estimulação gastrostomia). Outras vezes, os benefícios são mais
precoce pode ser realizada em centros especializados, duvidosos, ou a intervenção pode ser adiada para uma
onde os fisioterapeutas nos dirão quais exercícios fazer idade mais avançada.
em casa de uma maneira habitual, que posições podem Se conhecemos o diagnóstico da síndrome de SWH
beneficiá-la, que jogos podem estimular sua visão, antes do nosso filho nascer, é possível que já tenhamos
audição ... Existem diferentes tipos de terapias para considerado anteriormente a difícil questão se seguir
estimulação (hidroterapia, musicoterapia, terapia com adiante ou não. Talvez em algum momento tenhamos
cavalos e outros animais, mesmo com golfinhos e leões que enfrentar novamente essa difícil situação de decidir
marinhos ...) que visam melhorar a interação da criança sobre a vida e a morte de nosso filho, e dentro do
com o entorno e com seu próprio corpo. Ao mesmo impossível que algo semelhante aconteça, ainda assim,
tempo, a criança deve estar integrada à rotina da vida devemos tentar estar preparados para isso. Se esse
familiar e ter seus ciclos de atividades, estimulação, momento chegar, é preciso ter claridade de que cada
descanso, etc. Apesar de sua falta de mobilidade, é criança é única e diferente. As crianças devem ter a
preciso tentar que sua vida seja a mais plena possível, possibilidade de receber toda a atenção rotineira dada
sem julgar antecipadamente suas possibilidades de a qualquer criança, sem que o fato de seu atraso no
aproveitar o que a vida (SUA vida) oferece. desenvolvimento físico/psíquico implique, a priori, uma
Para conhecer os serviços e ajuda disponíveis, é diferença na maneira de agir. Em geral, se os benefícios
aconselhável solicitar informações no hospital e nas da cirurgia excederem riscos, deve-se tentar seguir em
associações (AESWH, FEDER). frente, mas pode acontecer que, dado o estado de saúde,
as chances de sucesso são poucas e um procedimento
CONSIDERAÇÕES FINAIS de “rotina” se torna algo de grande risco. É possível que
As crianças com SWH devem ter muitos controles após superar um episódio grave (crise ...) o estado geral
para garantir sua saúde e seu correto desenvolvimento, da criança varie e requeira um tratamento diferente do
e cada criança deve ser avaliada individualmente, anterior, que terá que ser novamente e como sempre,
33
adaptado a cada caso. Toda criança é diferente, toda
família, todo ambiente e situação também e cada
caso requer uma avaliação individualizada, nunca
esquecendo o esforço que nossos filhos fazem para estar
conosco, dia após dia, desde o início.
Referências:
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38
9. Atualização sobre as Características Clínicas e a História
Natural da Síndrome de Wolf–Hirschhorn (2008)
O Dr. Agatino Battaglia é Professor Contratado de Neuropsiquiatria Pediátrica de Pós-Graduação da Faculdade de Medicina, Universidade
de Pisa, Itália; e Professor Adjunto de Pediatria do Centro de Ciências da Saúde da Universidade de Utah, Divisão de Genética Médica,
Departamento de Pediatria, Salt Lake City, UT. Ele tem certificação pelo Conselho de Neurologia e Pediatria Clínica. É Diretor da Unidade de
Dismorfologia Clínica, Chefe do Centro para Estudo de Síndromes de Malformações Congênitas e Diretor de Pesquisa em Neuropsiquiatria,
no Instituto de Pesquisa Clínica Stella Maris de Neurologia e Psiquiatria em Crianças e Adolescentes, Calambrone (Pisa), Itália. Possui um
grande interesse de pesquisa em dismorfologia clínica, genética neuropsiquiátrica e neurofisiologia clínica.
A Dra. Tiziana Filippi tem certificação pelo Conselho de Neuropsiquiatria Infantil. Possui um contrato profissional temporário no Instituto
de Pesquisa Clínica Stella Maris de Neurologia e Psiquiatria em Crianças e Adolescentes, Calambrone (Pisa), Itália. Ela se interessa por
pesquisa em Genética Neuropsiquiátrica e dismorfologia clínica.
O Dr. John C. Carey é Geneticista Clínico, Professor de Pediatria do Centro de Ciências da Saúde da Universidade de Utah, Divisão de
Genética Médica, Departamento de Pediatria, Salt Lake City, UT. É Editor-Chefe do American Journal of Medical Genetics.
*Correspondência para: Agatino Battaglia, Stella Maris Clinical Research Institute for Child and Adolescent Neurology and Psychiatry, via
dei Giacinti, 2, 56018 Calambrone (Pisa), Itália. Email: abattaglia@inpe.unipi.it
DOI 10.1002/ajmg.c.30187
Publicado online em 16 de outubro de 2008 em Wiley InterScience (www.interscience.wiley.com)
39
INTRODUÇÃO idade no momento do diagnóstico variou entre 7 meses
A síndrome de Wolf–Hirschhorn (SWH) é uma de gestação e 16 anos.
síndrome de múltiplas anomalias congênitas/deficiência A maioria dos pacientes apresentava pelo menos um
intelectual bem conhecida, descrita pela primeira vez cariótipo antes de ter recebido o diagnóstico, e um
em 1961 por Cooper e Hirschhorn [1961]. Estima- número significativo deles havia recebido diagnóstico
se que sua frequência seja entre 1/50.000 e 1/20.000 incorreto.
nascimentos, com predileção feminina de 2:1 [Lurie As informações clínicas foram obtidas a partir de um
et al., 1980; Maas et al., 2008]. O distúrbio é causado questionário abrangente enviado às famílias por meio
pela perda parcial de material da porção distal do braço dos grupos de apoio nacionais dos EUA e da Itália. Além
curto do cromossomo 4 (4p16.3) [Battaglia et al., 2001] disso, 42/87 indivíduos foram observados pessoalmente
e é considerada uma síndrome de genes contíguos. A por dois de nós (A.B. e J.C.C.). Esse estudo foi aprovado
região crítica foi limitada a uma região de 200 kb, cerca pelo nosso Comitê de Ética em Pesquisa.
de 1,9 Mb do telômero de 4p, e inclui as duas regiões
atualmente propostas, WHSCR1 e WHSCR2 [Wright et DADOS CLÍNICOS GERAIS
al., 1997; Zollino et al., 2003]. Deleções de gene único Cerca de 75% dos pacientes nasceram a termo e 81%
ou mutações intragênicas não demonstraram conferir eram pequenos para a idade gestacional. As idades dos
o fenótipo completo da SWH. Desde que a síndrome pais foram semelhantes àquelas na população geral.
chegou ao conhecimento de geneticistas [Hirschhorn Os históricos familiares e de gestação não foram
et al., 1965; Wolf et al., 1965], muitos casos adicionais contributivos. Foram relatados graus variados de
foram publicados [Arias et al., 1970; Miller et al., 1970; sofrimento perinatal, em cerca de 30% dos casos.
Guthrie et al., 1971; Centerwall et al., 1975; Wilcox e
Bercovitch, 1978; De Grouchy e Turleau, 1984; Stengel- ACHADOS CLÍNICOS
Rutkowski et al., 1984; Reid et al., 1996]. Contudo, foi Todos os pacientes exibiam aspecto craniofacial
apenas em 1999 que os primeiros dados sobre a história característico com a aparência do nariz do tipo “capacete
natural chegaram ao conhecimento da comunidade de guerreiro grego”, com testa alta, glabela proeminente,
médica [Battaglia et al., 1999]. A finalidade do presente hipertelorismo, sobrancelhas altamente arqueadas,
estudo é ajudar a delinear a história natural da SWH em olhos protuberantes, dobras epicânticas, filtro curto,
mais detalhes e durante um período mais longo, a fim de boca distinta com cantos para baixo, micrognatia. Essas
estabelecer supervisão apropriada da saúde e orientação características pareceram menos acentuadas em
antecipada para indivíduos com essa síndrome. crianças com deleção menor (Fig. 1). Outras
características craniofaciais incluíram certo grau de
PACIENTES E MÉTODOS assimetria (60%); microcefalia (90%); orelhas simples,
Coletamos informações sobre 87 pacientes com com angulação posterior ou baixa, ocasionalmente
diagnóstico de SWH. Havia 54 do sexo feminino e 33 com pavilhão auricular sem lobo ou com cartilagem
do sexo masculino. A primeira observação variou entre subdesenvolvida ou ausente ou apêndices/depressões
recém-nascidos e os 17 anos de idade. Vinte pacientes (80%); fenda labial e/ou palatina unilateral ou bilateral
foram acompanhados dos 4 meses até os 23 anos de (~30%); defeitos oculares ou no nervo óptico, como
idade. O ponto de interrupção da deleção proximal exodesvio, hipoplasia foveal, coloboma da pálpebra
variou entre 4p15.32 e 4p16.3, e pela técnica de FISH, superior/ íris/ coriorretiniano e microcórnea (40%);
foi terminal e incluiu ambas as WHSCR. A deleção foi ptose da pálpebra (50%); e hemangiomas na testa (50%).
detectada por citogenética padrão em 44/87 (50,5%) Hipoplasia palpebral, com necessidade de enxerto
pacientes, ao passo que técnica de FISH foi necessária cutâneo e glaucoma foram raramente observados.
para os outros 43 pacientes (49,5%). A técnica de Deficiência de crescimento com início pré-natal
CGH-Array a 1 Mb de resolução foi realizada em acompanhada por baixa estatura e lento ganho de
34/87 pacientes e, em 15/34 (44%) pacientes, exibiu peso, apesar de ingestão calórica e proteica adequada,
translocação desequilibrada levando à monossomia 4p e foi observada em 80% dos indivíduos. Um certo grau
a uma trissomia parcial em outro braço de cromossomo de ‘‘envelhecimento prematuro’’ foi relatado por vários
[South et al., 2008]. Foi demonstrado anteriormente pais e foi observado pessoalmente em alguns pacientes
que outros seis pacientes apresentavam translocação adultos em uma recente ‘‘reunião de um grupo de apoio
desequilibrada pela análise de cariótipo ou FISH com de 4p- nos EUA’’, em Washington DC (17-19 de julho de
uma sonda específica para SWH. Sessenta e cinco dos 2008). Dificuldades para se alimentar estavam presentes
87 pacientes apresentavam deleção terminal aparente em mais de 75% de nossa amostra, e sua gravidade foi
pura, de novo; e 1/87 apresentou duplicação em tandem superada com gastrostomia em 50%.
de 4p16.1p16.3 associada à deleção de 4p16.3pter. A Defeitos cardíacos congênitos foram constatados em
40
50% dos pacientes e, com relação à frequência, foram e, em sua maioria, causadas por febre. Estado de mal
representados por CIA (comunicação interatrial, epiléptico foi relatado em 50% das crianças com
menos de 3 anos de idade. Pouco mais de um terço dos
A síndrome é causada pela perda parcial pacientes desenvolveu crises de ausências atípicas entre
de material da porção distal do braço curto 1 e 6 anos de idade. Anormalidades distintivas do EEG
do cromossomo 4 (4p16.3) e é considerada foram observadas em 90% das crianças, adolescentes e
uma síndrome de genes contíguos. A região os poucos jovens adultos estudados ao longo do tempo.
crítica foi limitada a uma região de 200 Características detalhadas de registros, tanto das crises
kb, cerca de 1,9 Mb do telômero de 4p, e quanto de EEG e suas evoluções, foram descritas em
inclui as duas regiões atualmente propostas, outro estudo [Battaglia et al., in press].
Estudos de neuroimagem, realizados em 56 dos 87
WHSCR1 e WHSCR2
pacientes, foram relatados como normais apenas em
11/56 (20%). Defeitos na estrutura do SNC (sistema
EP (estenose pulmonar), CIV (comunicação nervoso central) foram observados nos outros 45/56
interventricular, PCA (permeabilidade do canal (80%), incluindo, em ordem de frequência, hipoplasia
arterial), associados à insuficiência aórtica. do corpo caloso (55%), aumentos dos ventrículos
Uma diversidade de defeitos do trato urinário estava laterais (33%), atrofia cortical/ subcortical (29%),
presente em apenas 1/3 de nossa amostra, e foram mielinização tardia (15%), anomalias cerebelares
representados por refluxo vesicoureteral grau 3–4, (0,04%) e esquizencefalia (0,02%).
agenesia renal uni/bilateral, displasia cística ou
hipoplasia renal, rim em ferradura, taxa de filtração ACHADOS DE DESENVOLVIMENTO
glomerular reduzida, acidose tubular, extrofia da bexiga Todos os pacientes exibiam atraso global do
e uropatia obstrutiva. Anomalias genitais incluíram desenvolvimento. Quarenta e cinco por cento dos
hipospádia com criptorquidia uni-bilateral em homens, pacientes conseguiam andar, de maneira independente
aplasia/hiperplasia do clitóris, disgenesia gonadal e ou com suporte (faixa: 2–12 anos); 18% conseguiam
ausência de útero/vagina em mulheres. vestir-se ou despir-se e realizar tarefas domésticas
Anomalias esqueléticas, relatadas em cerca de 60% simples (por e tirar a mesa do jantar; limpar quartos;
de nossos pacientes, variaram entre malformações tirar pó e colocar roupas sujas nos cestos).
clinicamente significativas (pé torto equinovaro, mão Pouco mais de 10% das crianças conseguiam alimentar-
fendida) a anomalias menores, de membros e do se sozinhas entre os 4–12 anos de idade, e cerca de 20%
esqueleto (clinodactilia, primeira falange dupla do ajudavam com a comida entre os 8–14 anos de idade.
primeiro raio do pé esquerdo, pequenas estruturas
ilíacas), associadas a idade óssea com atraso grave. Todos os pacientes exibiam aspecto
Cifose e escoliose foram comumente observadas em craniofacial característico com a aparência
crianças mais velhas. do nariz do tipo “capacete de guerreiro
Perda auditiva foi detectada em pouco mais de 40% grego”, testa alta, glabela proeminente,
dos pacientes, sendo condutiva, e em 25%, decorrente hipertelorismo, sobrancelhas altamente
da alta ocorrência de otite média e neurossensorial em arqueadas, olhos protuberantes, dobras
15%. epicânticas, filtro curto, boca distinta com
Desenvolvimento dentário anormal foi relatado em
cantos para baixo, micrognatia.
cerca de 50% dos indivíduos e consistiu em erupção
dentária tardia com persistência de dente decíduo,
dentes com formato de cavilha, agenesia de caninos O controle do esfíncter diurno foi atingido em 10% das
superiores ou incisivos laterais inferiores. crianças (faixa: 4–14 anos). O perfil cognitivo, avaliado
Alterações cutâneas, como cutis marmorata, pele seca por teste formal, dependendo da idade do paciente,
e covinhas com distribuição variável foram observadas mostrou grau severo de comprometimento cognitivo
em 70%. em 65%; grau moderado em 25% e grau leve em 10%.
ACHADOS NEUROLÓGICOS A linguagem expressiva era, na maioria das vezes,
Hipotonia generalizada estava presente em praticamente limitada a sons guturais e/ou dissilábicos, ocasionalmente
todos os pacientes e foi associada, na maioria dos casos, modulados de maneira comunicativa. Contudo, cerca
à hipotrofia muscular das pernas inferiores. Convulsões de 6% das crianças conseguiam pronunciar frases
ocorreram em 81/87 (93%) dos pacientes, com início simples. O entendimento era geralmente contextual ou
nos primeiros três anos de vida. As primeiras convulsões limitado a ordens simples. A intenção de comunicar-se,
foram principalmente tônico-clônica generalizada embora insatisfatória ou ausente nos primeiros anos em
41
INTRODUÇÃO foram acompanhados dos 4 meses até os 23 anos de
A síndrome de Wolf–Hirschhorn (SWH) é uma idade. O ponto de interrupção da deleção proximal
síndrome de múltiplas anomalias congênitas/deficiência variou entre 4p15.32 e 4p16.3, e pela técnica de FISH,
intelectual bem conhecida, descrita pela primeira vez foi terminal e incluiu ambas as WHSCR. A deleção foi
em 1961 por Cooper e Hirschhorn [1961]. Estima- detectada por citogenética padrão em 44/87 (50,5%)
se que sua frequência seja entre 1/50.000 e 1/20.000 pacientes, ao passo que técnica de FISH foi necessária
nascimentos, com predileção feminina de 2:1 [Lurie para os outros 43 pacientes (49,5%). A técnica de
et al., 1980; Maas et al., 2008]. O distúrbio é causado CGH-Array a 1 Mb de resolução foi realizada em
pela perda parcial de material da porção distal do braço 34/87 pacientes e, em 15/34 (44%) pacientes, exibiu
curto do cromossomo 4 (4p16.3) [Battaglia et al., 2001] translocação desequilibrada levando à monossomia
e é considerada uma síndrome de genes contíguos. A 4p e a uma trissomia parcial em outro braço de
região crítica foi limitada a uma região de 200 kb, cerca cromossomo [South et al., 2008]. Foi demonstrado
de 1,9 Mb do telômero de 4p, e inclui as duas regiões anteriormente que outros seis pacientes apresentavam
translocação desequilibrada pela análise
de cariótipo ou FISH com uma sonda
específica para SWH. Sessenta e cinco
dos 87 pacientes apresentavam deleção
terminal aparente pura, de novo; e 1/87
apresentou duplicação em tandem de
4p16.1p16.3 associada à deleção de
4p16.3pter. A idade no momento do
diagnóstico variou entre 7 meses de
gestação e 16 anos.
A maioria dos pacientes apresentava
pelo menos um cariótipo antes de ter
recebido o diagnóstico, e um número
significativo deles havia recebido
diagnóstico incorreto.
As informações clínicas foram obtidas
a partir de um questionário abrangente
enviado às famílias por meio dos grupos
atualmente propostas, WHSCR1 e WHSCR2 [Wright et de apoio nacionais dos EUA e da Itália. Além disso,
al., 1997; Zollino et al., 2003]. Deleções de gene único 42/87 indivíduos foram observados pessoalmente por
ou mutações intragênicas não demonstraram conferir dois de nós (A.B. e J.C.C.). Esse estudo foi aprovado
o fenótipo completo da SWH. Desde que a síndrome pelo nosso Comitê de Ética em Pesquisa.
chegou ao conhecimento de geneticistas [Hirschhorn
et al., 1965; Wolf et al., 1965], muitos casos adicionais DADOS CLÍNICOS GERAIS
foram publicados [Arias et al., 1970; Miller et al., 1970; Cerca de 75% dos pacientes nasceram a termo e 81%
Guthrie et al., 1971; Centerwall et al., 1975; Wilcox e eram pequenos para a idade gestacional. As idades dos
Bercovitch, 1978; De Grouchy e Turleau, 1984; Stengel- pais foram semelhantes àquelas na população geral.
Rutkowski et al., 1984; Reid et al., 1996]. Contudo, foi Os históricos familiares e de gestação não foram
apenas em 1999 que os primeiros dados sobre a história contributivos. Foram relatados graus variados de
natural chegaram ao conhecimento da comunidade sofrimento perinatal, em cerca de 30% dos casos.
médica [Battaglia et al., 1999]. A finalidade do presente
estudo é ajudar a delinear a história natural da SWH em ACHADOS CLÍNICOS
mais detalhes e durante um período mais longo, a fim de Todos os pacientes exibiam aspecto craniofacial
estabelecer supervisão apropriada da saúde e orientação característico com a aparência do nariz do tipo “capacete
antecipada para indivíduos com essa síndrome. de guerreiro grego”, com testa alta, glabela proeminente,
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10. Síndrome de Wolf–Hirschhorn: Revisão e Atualização (2015)
AGATINO BATTAGLIA,* JOHN C. CAREY E SARAH T. SOUTH
Desde que a síndrome 4p- foi descrita pela primeira vez, em 1961, ocorreram progressos significativos no nosso
entendimento desse distúrbio de deleção clássico. Conseguimos estabelecer um quadro mais completo do fenótipo
da SWH (Síndrome de Wolf-Hirschhorn), associada à monossomia 4p distal, e estamos trabalhando para traçar
os efeitos fenotípicos quando cada gene em 4p distal é homozigoto. Nossa meta é proporcionar orientações e
recomendações preventivas específicas sobre o genótipo às famílias de indivíduos com diagnóstico de SWH.
Além disso, o estabelecimento de bases moleculares do distúrbio possivelmente indicará alvos para tratamentos
moleculares. Assim, a próxima etapa é determinar os efeitos precisos de deleções de genes específicos. Como
esperamos aprofundar nossa compreensão sobre a deleção 4p distal, nosso foco continuará sendo o estabelecimento
de correlações robustas entre genótipo e fenótipo e a penetrância desses fenótipos. Continuaremos a acompanhar
nossa coorte de SWH atentamente ao longo dos anos para determinar a presença ou ausência de algumas dessas
comorbidades, incluindo neoplasias hepáticas, disfunção hematopoiética e reincidência de convulsões. Também
continuaremos refinando as regiões críticas para outros fenótipos à medida que incluímos participantes adicionais
(esperamos que apenas informativos) no estudo de pesquisa e conforme os mecanismos dos genes nessas regiões
forem esclarecidos. Novos modelos animais também serão desenvolvidos para aumentar nosso entendimento
sobre os efeitos da homozigosidade e também servirão como modelos para o desenvolvimento de tratamentos.
© 2015 Wiley Periodicals, Inc.
Agatino Battaglia, MD é Professor Adjunto de Pediatria da Faculdade de Medicina da Universidade de Utah, Divisão de Genética Médica,
Departamento de Pediatria, Salt Lake City, UT, EUA; e da Faculdade de Medicina da Universidade da South Dakota-Sanford, Divisão de
Genética Médica, Departamento de Pediatria, Sioux Falls, SD, EUA. Ele tem certificação pelo Conselho de Neurologia e Pediatria Clínica. É
Chefe de Pesquisa Clínica em Genética Neuropsiquiátrica, no Instituto de Pesquisa Clínica Stella Maris de Neurologia e Psiquiatria em Crianças
e Adolescentes, Calambrone (Pisa), Itália. Possui um grande interesse de pesquisa em dismorfologia clínica, genética neuropsiquiátrica e
neurofisiologia clínica. Atua como Editor Associado do American Journal of Medical Genetics, Parte A
John C. Carey, MD é Professor de Pediatria, Divisão de Genética Médica, Faculdade de Medicina da Universidade de Utah e Editor-chefe
do American Journal of Medical Genetics, Parte A & C. Como pediatra e geneticista clínico, ele tem um interesse há bastante tempo em
síndromes de malformação e suas definições e delineamentos.
Sarah T. South, PhD é Professora Associada, Departamento de Patologia, Faculdade de Medicina da Universidade de Utah. Ela tem
certificação pelo conselho de Citogenética Clínica e é Diretora dos Laboratórios de Citogenética e Microarray dos ARUP Laboratories, um
empreendimento da Universidade de Utah em Salt Lake City. Atua como Editora Associada do American Journal of Medical Genetics, Parte
A.
*Correspondência para: Agatino Battaglia, Stella Maris Clinical Research Institute for Child and Adolescent Neurology and Psychiatry, via
dei Giacinti, 2, 56128 Calambrone (Pisa), Itália. E-mail: agatino.battaglia@fsm.unipi.it
DOI 10.1002/ajmg.c.31449
Artigo publicado primeiro online em 4 de agosto de 2015 em Wiley Online Library (wileyonlinelibrary.com).
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se houver. A maioria dos indivíduos com SWH e na disponibilidade de histonas durante a fase S. É
(aprox. 55%) apresenta deleção sem outra aberração importante observar que WHSC2 (NELF-A) também
citogenética; os demais apresentam uma aberração pode direcionar SLBP na extremidade 3’ de pré-mRNA
citogenética mais complexa, como cromossomo 4 em de histonas, indicando uma conexão funcional entre as
anel, mosaicismo 4p- ou um cromossomo derivativo 4 duas proteínas, ambas superexpressas na SWH [Narita
resultante de uma translocação desequilibrada [South et al., 2007].
et al., 2008b; Zollino et al., 2008]. As translocações Inicialmente, LETM1 foi proposto como um gene
desequilibradas podem ser de novo ou herdadas de um candidato para convulsões. Sua posição imediatamente
progenitor com rearranjo equilibrado. distal à região crítica significa que é deletado em quase
A translocação mais comumente observada envolve todos os indivíduos afetados. Funciona na troca iônica
rearranjo distal em 4p e 8p. Os pontos de interrupção com possíveis funções na sinalização celular e produção
em 4p e 8p variam em ambos os cromossomos, mas de energia [Nowikovsky et al., 2004; Schlickum et al.,
geralmente (não sempre) se aglomeram ao redor dos 2004; Hasegawa e van der Bliek, 2007; Dimmer et al.,
loci de aglomerados de genes de receptores olfativos 2008; Jiang et al., 2009; Kuum et al., 2012]. No entanto,
localizados em ambos os cromossomos [Zollino et al., foram descritos pacientes com deleções 4p incluindo
2008]. LETM1 e sem convulsões, e também pacientes com
Há ampla evidência de que o fenótipo central da convulsões com deleção 4p excluindo LETM1 [Van
SWH (atraso no crescimento, deficiência intelectual, Buggenhout et al., 2004; Faravelli et al., 2007; Maas et al.,
convulsões e características craniofaciais distintivas) se 2008; Misceo et al., 2012; Bayindir et al., 2013; Andersen
deva à haploinsuficiência de vários genes intimamente et al., 2014]. Portanto, é provável que LETM1 não seja
ligados, em oposição a apenas um único gene [Maas et o único gene envolvido na ocorrência de convulsões.
al., 2008; Zollino et al., 2008]. Discutiremos esses genes A partir da observação de 3 pacientes com deleção
nos parágrafos seguintes. intersticial de novo inferior a 400 Kb em 4p16.3, com
WHSC1 é um gene recém-descoberto que se estende sobreposição de WHSC1 e LETM1, exibindo deficiência
por uma região genômica de 90 kb, dois terços dele de crescimento, dificuldades para se alimentar e atrasos
são mapeados na extremidade telomérica final da motores e na fala, mas sem convulsões e características
WHCR. A expressão temporal e espacial do WHSC1 no craniofaciais típicas da SWH, foi possível concluir
desenvolvimento inicial e nas identidades do domínio que é necessária a deleção de genes adicionais para a
proteico sugerem que WHSC1 pode exercer um papel expressão completa do fenótipo [Andersen et al., 2013].
significativo no desenvolvimento normal. Sua deleção Genes adicionais incluem CTBP1, CPLX1, PIGG e
provavelmente contribui para o fenótipo da SWH. FGFRL1.
Contudo, a variação na gravidade e no fenótipo da SWH FGFRL1, que codifica um receptor chamariz do fator
sugerem possíveis funções para os genes que ficam de crescimento de fibroblastos putativo, foi relacionado
proximal e distalmente à WHSCR, inclusive WHSC2 e ao fenótipo craniofacial e possivelmente a outras
características esqueléticas e baixa estatura relacionada
Inicialmente, LETM1 foi proposto como
à SWH [Engbers et al., 2009; Catela et al., 2009;
um gene candidato para convulsões. Sua Hammond et al., 2012].
posição imediatamente distal à região Recentemente, CPLX1 tem sido sugerido como
crítica significa que é deletado em quase um possível gene candidato para epilepsia na SWH
todos os indivíduos afetados. Funciona [Zollino et al., 2014]. CPLX1 pertence a uma família
na troca iônica com possíveis funções na de proteínas citosólicas que atuam na exocitose de
sinalização celular e produção de energia. vesículas sinápticas e codificam a complexina 1. As
complexinas são proteínas reguladoras pré-sinápticas
que exercem uma função importante na modulação da
LETM1 [Zollino et al., 2003; Bergemann et al., 2005; liberação de neurotransmissores [Cho et al., 2010].
Rodríguez et al., 2005; South et al., 2007]. Modelos em camundongos e ratos comprovaram que
WHSC2 (também chamado de NELF-A) está envolvido o gene CTBP1 (um correpressor transcricional) é um
em múltiplos aspectos do processamento de mRNA e bom candidato para a epilepsia na SWH [Misceo et al.,
do ciclo celular. Esse gene pode exercer uma função nos 2012].
aspectos mais globais da síndrome de Wolf–Hirschhorn O gene PIGG (biossíntese de âncora de fosfatidilinositol-
[Kerzendorfer et al., 2012]. glicano, classe G), envolvido na biogênese de proteínas
SLBP, um gene que codifica a Proteína de Ligação com âncora GPI, foi recentemente envolvido na
Stem-Loop, reside na região telomérica de WHSC2, e ocorrência de convulsões [Bayindir et al., 2013]. Modelos
exerce uma função essencial na regulação da síntese animais mostraram que as alterações na biogênese de
50
proteínas com dos movimentos fetais foram registrados durante a
âncora GPI gravidez em quase todos os casos. O histórico familiar
podem alterar a não é contributivo e as idades dos pais são semelhantes
expressão de Na1.1 àquelas constatadas na população geral.
codificado por
SCN1A [Nakano CARACTERISTICAS FENOTÍPICAS
et al., 2010]. Achados Clínicos
A característica craniofacial mais notável é representada
D A D O S pela ponte nasal ampla com continuidade até a fronte (a
C L Í N IC O S chamada “aparência de capacete de guerreiro grego”).
GERAIS Isso é facilmente reconhecível em todos os indivíduos
Embora os com SWH, desde o nascimento até a infância, tornando-
p a c i e n t e s se menos evidente na puberdade [Battaglia et al., 2000].
mencionados Testa alta, glabela proeminente, sobrancelhas altamente
acima com arqueadas, olhos amplamente espaçados, dobras
microdeleções de epicânticas, filtro curto, boca distinta e micrognatia
4p16 de menos de 5 Mb sejam altamente importantes estão presentes em todos (vide Fig. 2) e compreendem os
para ajudar no esclarecimento de regiões cruciais atributos faciais distintivos e característicos destacados
responsáveis pelo fenótipo central da SWH, eles acima na discussão do fenótipo central. Mais de 80% dos
representam menos de 3% de todos os casos relatados. pacientes apresentam microcefalia e as orelhas são, em
A maioria dos indivíduos com SWH apresenta uma geral, pouco diferenciadas, baixas ou posteriormente
deleção maior de 4p. As frequências resumidas abaixo e anguladas; podem apresentar pavilhão auricular sem
na Tabela I se referem principalmente a esses casos mais lobo, com apêndices e depressões e com cartilagem
comumente determinados [Battaglia et al., 2010]. subdesenvolvida ou ausente. Fenda labial e palatina
Estima-se que a frequência da SWH seja de 1 em 50.000 uni-bilateral foi relatada em cerca de um terço dos
a 1 em 20.000 nascimentos, com predileção feminina de pacientes, geralmente portando deleções maiores que
2:1 [Lurie et al., 1980; Maas et al., 2008]. De modo geral, 3,5 Mb (Fig. 3). Quarenta por cento apresentam defeitos
indivíduos com SWH nascem a termo e são pequenos oculares/no nervo óptico (exodesvio, hipoplasia foveal,
para a idade gestacional; sendo relatado algum grau de coloboma da pálpebra superior/ íris/ coriorretiniano,
sofrimento perinatal em um terço deles. Diminuição microcórnea). Ptose da pálpebra pode ser observada em
51
cerca de 50%; e hipoplasia palpebral, exigindo enxerto SWH, ao invés de comparar com crianças normais.
cutâneo, foi ocasionalmente observada [Battaglia e Aumento de enrugamento cutâneo com aparência
Carey, 2000; Battaglia et al., 2008, 2010]. Glaucoma, facial envelhecida foi relatado por alguns pais [Amanda
às vezes de grau severo, parece ser um achado pouco Lortz, comunicação pessoal] e observado pessoalmente
frequente. A frequência de defeitos na linha média em alguns pacientes adultos em uma reunião recente
do couro cabeludo varia de 0% a 50% em diferentes de um Grupo de Apoio de 4p- nos EUA (4p Support
amostras [Centerwall et al., 1975; Wilson et al., 1981; Group).
De Grouchy and Turleau, 1984; Battaglia et al., 1999]. Uma grande variedade de anomalias esqueléticas,
Deficiência de crescimento com início pré-natal é desde malformações clinicamente significativas (mão
observada em 80% dos indivíduos com SWH. No fendida; pé torto equinovaro) a anomalias menores de
pós-natal, as crianças consistentemente continuam membros e no esqueleto, foi relatada em 60–70% dos
a exibir baixa estatura e lento ganho de peso durante indivíduos com SWH [Magill et al., 1980; Battaglia et
a vida, mesmo com a ingestão adequada de calorias e al., 1999; Battaglia e Carey, 2000; Battaglia et al., 2008].
proteínas [Estabrooks et al., 1995; Battaglia e Carey, Desenvolvimento anormal dos dentes, consistindo
1999, 2000; Battaglia et al., 1999, 2008]. Diversos fatores em erupção dentária tardia com persistência de dente
exercem um papel no atraso do crescimento, incluindo decíduo, dentes com formato de cavilha, agenesia
fendas orofaciais, dificuldade para sugar/mamar, de caninos superiores ou incisivos laterais inferiores
deglutição com pouca coordenação e consequentes e taurodontismo, foram relatados em cerca de 50%
aspirações e refluxo gastroesofágico. Algumas dessas dos indivíduos [Breen, 1998; Battaglia e Carey, 2000].
variáveis podem apresentar melhora com tratamento, Alterações cutâneas, como hemangiomas, cutis
como o uso do alimentador Haberman, tubos para marmorata, pele seca e covinhas com distribuição
gastrostomia e medicamentos para refluxo, mas as variável são observadas em 70%.
crianças continuam, de maneira consistente, abaixo Os defeitos cardíacos, relatados em 50% das crianças,
dos segundos percentis para altura e peso. Nenhuma geralmente não são complexos e são caracterizados por
causa hormonal foi determinada para a baixa estatura. defeitos do septo atrial e ventricular, estenose pulmonar
Foram elaborados gráficos de crescimento para SWH e persistência do canal arterial associado à insuficiência
(0–4 anos de idade) [Antonius et al., 2008] que podem aórtica [Battaglia et al., 1999; Battaglia e Carey, 1999,
ser utilizados no contexto clínico para comparar o 2000].
crescimento da criança com outros indivíduos com Uma variedade de defeitos do trato urinário foram
52
relatados em cerca de um terço dos pacientes com SWH, desenvolvimento.
incluindo refluxo vesicoureteral, rim em ferradura,
agenesia renal uni-bilateral, displasia/hipoplasia cística Achados de Desenvolvimento
e oligomeganefronia [Lazjuk et al., 1980; Tachdjian Todos os indivíduos com SWH exibem atraso global
et al., 1992; Park e Chi, 1993; Estabrooks et al., 1995; do desenvolvimento, com a linguagem expressiva,
Grisaru et al., 2000]. na maioria das vezes limitada a sons guturais e/
Extrofia da bexiga e acidose tubular renal parecem ser ou dissilábicos, raramente modulados de maneira
achados ocasionais [Schaefer et al., 1996; Battaglia e comunicativa. Apenas uma pequena fração das crianças
Carey, 2000]. Anomalias genitais incluem hipospádia é capaz de pronunciar frases simples. O entendimento é
com criptorquidia uni-bilateral em homens, e aplasia/ contextual e limitado a ordens simples. Recentemente,
hiperplasia do clitóris, disgenesia gonadal e ausência de Fisch et al. [2010] avaliaram 19 crianças com SWH,
útero/vagina em mulheres [Fryns, 1973; Lazjuk et al., que apresentavam habilidades de fala e linguagem
1980; Gonzalez et al., 1981; Battaglia et al., 1999]. expressivas, com uma bateria abrangente de avaliações
Perda auditiva, em sua maioria do tipo condutiva, pode cognitivo-comportamental, e as compararam a crianças
ser detectada em pouco mais de 40% dos pacientes com deleções em 2q37, 8p23 e 11q25. As habilidades
[Battaglia et al., 2008]. cognitivas e de comportamento adaptativo foram mais
Deficiências de anticorpos foram relatadas em 69% das gravemente comprometidas em crianças com SWH
crianças com SWH [Hanley-Lopez et al., 1998]. em comparação a crianças com as outras deleções. É
Disfunção hematopoiética e adenomas hepáticos foram importante observar que as crianças com SWH exibiram
relatados em alguns indivíduos [Sharathkumar et al., competência relativa nas habilidades de socialização em
2003; Prunotto et al., 2013] (vide Tabela I). comparação com suas habilidades em outros domínios
de comportamento adaptativo; mas com frequência
Achados Neurológicos exibiram problemas sociais significativos.
A epilepsia é uma das principais preocupações para Cerca de 45% das crianças são capazes de andar, seja de
pais e profissionais que cuidam de crianças com maneira independente, seja com suporte; mas apenas
SWH. Convulsões tendem a ocorrer em mais de 90% uma minoria consegue ajudar a vestir-se e despir-se,
dos pacientes, com início nos 3 primeiros anos de realizar tarefas domésticas simples, comer sozinha e
vida, e pico de incidência por volta de 6–12 meses de obter controle do esfíncter. As capacidades gráficas são
idade. Frequentemente, são provocadas por febre, limitadas a rabiscos. Mais de 50% apresentam diferentes
mesmo que de baixo grau e, em relação à frequência, tipos de estereotipias.
são representadas por tônico-clônica generalizada,
espasmos tônicos, crise parcial complexa e clônica. HISTÓRIA NATURAL
Cerca de metade das crianças apresenta crises em salvas Nas cinco décadas desde a descrição original, o
e estado de mal epiléptico clônico ou tônico-clônico conhecimento do fenótipo clínico, da citogenética
unilateral/generalizado durante os 3 primeiros anos de molecular e da história natural da SWH se expandiram,
vida. principalmente nos últimos anos. Estudos recentes de
Pouco mais de 1/3 das crianças podem desenvolver grandes amostras de indivíduos, incluindo aqueles com
ausências atípicas entre 1 e 6 anos de idade, deleções submicroscópicas e intersticiais e aqueles com
acompanhadas por um componente mioclônico leve cromossomo derivativo 4, levaram ao reconhecimento
[Battaglia e Carey, 2005; Battaglia et al., 2009]. Noventa de uma caracterização mais completa do fenótipo,
por cento dos indivíduos com SWH apresentam indicando um espectro clínico muito mais amplo
anormalidades distintivas no EEG [Battaglia e Carey, do que se pensava anteriormente [Battaglia e Carey,
2005; Battaglia et al., 2009]. 2000; Battaglia et al., 2001; South et al., 2008a, 2008b;
Hipotonia generalizada, uma marca registrada da SWH, Andersen et al., 2013]. Em uma pesquisa recente
com frequência está associada à hipotrofia muscular da [Battaglia et al., 2008], constatou-se que crianças com
parte inferior das pernas. Defeito estrutural variável no SWH apresentam saúde frágil nos primeiros 3–5 anos
SNC pode ser detectado por neuroimagem em 80% dos de vida, principalmente devido a déficit de crescimento
indivíduos com SWH, sendo representada, com relação e convulsões de difícil controle.
à frequência, por hipoplasia do corpo caloso, aumentos Depois, elas gradativamente superam essas condições,
dos ventrículos laterais, atrofia cortical/ subcortical, contanto que recebam não apenas os cuidados
mielinização tardia, anomalias cerebelares e, raramente, normais necessários a qualquer criança, como
por esquizencefalia [Battaglia et al., 2008]. também os cuidados adicionais necessários para lidar
Esses eventos não estão correlacionados com a com os problemas relacionados a SWH. Convulsões
presença de convulsões ou com o grau de atraso no constituem uma das principais preocupações médicas
53
na SWH [Battaglia e Carey, 2005; Battaglia et al., 2009]. plausível para a contribuição do fenótipo craniofacial
Grandes amostras de pacientes ilustram que, embora e, possivelmente, de outras características esqueléticas
frequentes e, às vezes, difíceis de controlar durante [Catela et al., 2009]. Além disso, não foi constatada
os primeiros anos, geralmente é possível alcançar um microcefalia nos pacientes com translocações
bom controle das convulsões, contanto que sejam desequilibradas ocultas envolvendo a duplicação de 11p
tratadas o quanto antes e com o medicamento de e 8p [South et al., 2008b]. Outros genes em 4p16.3 foram
primeira escolha [Battaglia et al., 2009]. Vale ressaltar propostos para o envolvimento específico no fenótipo
que todos os pacientes apresentam achados distintivos de SWH, por exemplo CTBP1, DGKQ, CPLX1 e PIGG,
no EEG, alguns observados apenas na SWH, e também como possivelmente responsáveis pelas convulsões/
observados em indivíduos sem convulsões [Battaglia epilepsia [Misceo et al., 2012; Bayindir et al., 2013;
et al., 2009]. Alguns de nossos pacientes vem sendo Zollino et al., 2014].
acompanhados por até 30 anos, e observamos melhora Os esforços atuais estão concentrados no
evidente em suas habilidades motoras grossas e finas, esclarecimento mais detalhado da história natural da
comportamento adaptativo e interação social ao longo do síndrome de Wolf–Hirschhorn na vida adulta, com
tempo. O encaminhamento a programas de intervenção atenção específica à frequência, ao tipo e gravidade
precoces e inclusão em um programa de reabilitação de disfunção renal; aos defeitos imunológicos e à
individualizado são de extrema importância. doença maligna (principalmente envolvendo o fígado
Na ausência de malformações maiores, a expectativa de e o sistema hematopoiético). Conforme a relação entre
vida parece, no geral, ser semelhante à de pessoas com o grau de gravidade do fenótipo clínico e o tamanho
distúrbios convulsivos e deficiência de desenvolvimento. da deleção se tornam mais definidos, os esforços se
concentram em esclarecer mais detalhadamente os
ENCERRAMENTO pontos de interrupção da região crítica em 4p16.3 que
Os diferentes componentes do fenótipo facial contém o gene ou os genes responsáveis por causar os
característico parecem ser “menos aparentes” nos diferentes aspectos do fenótipo da SWH. Além disso,
pacientes com deleção menor, sugerindo que, embora incentivamos a utilização sistemática do modelo de
WHSC1 possa ser essencial para as características camundongos “knock out” para os genes candidatos,
craniofaciais [Wright et al., 1999; Zollino et al., 2000; de forma a aumentar a busca atual pela patogênese da
Van Bug- genhout et al., 2004; Maas et al., 2008], a SWH.
homozigosidade de “genes intimamente relacionados”
pode contribuir para a gravidade das características AGRADECIMENTOS
centrais (Fig. 3). Gostaríamos de agradecer a Amanda Lortz por nos
É importante observar que o gene FGFRL1 foi fornecer a foto na Figura 3, e a todas as famílias de
recentemente proposto como um gene candidato nossos pacientes.
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11. Anticonvulsivantes para o tratamento da SWH
a Lineagen, Inc., 2677 Parleys Way, Salt Lake City, UT 84109, United States ; b Department of Pediatrics, University
of Utah School of Medicine, Salt Lake City, UT, United States; c 4p- Support Group, 1495 Forest Brooke Way,
#262, Delaware, OH 43015, United States; d University of Colorado, Boulder, CO, United States; e Department of
Neurology, University of Utah School of Medicine, 175 N Medical Dr, Salt Lake City, UT 84132, United States; f
Stella Maris Clinical Research Institute for Child and Adolescent Neuropsychiatry, Pisa, Italy
DADOS DO ARTIGO:
Recebido em 18 de Outubro de 2017
Revisado em 11 de Dezembro de 2017
Aceito em 11 de Dezembro de 2017
Disponível online
Artigo na íntegra em inglês disponível em: www.elsevier.com/locate/yebeh ;
Lista de conteúdos disponível em : ScienceDirect
A efetividade geral dos anticonvulsivantes foi calculada usando todos os usos de cada medicação, independentemente da
ordem cronológica em que foram usadas. As medicações anti-epiléticas nesta tabela estão rankeadas em ordem decrescente
de pontuação média de eficácia. Apenas aquelas medicações com N > 15 usos estão mostradas, visto que espera-se uma
resposta inconsistente a medicações com menos de 15 usos devido a ausência de poder estatístico. As medicações com melhor
performance estão marcadas em cinza claro, as de piores performances, em cinza escuro. A performance do Levetiracetam
no controle das convulsões foi significativamente melhor que a performance do grupo de medicações do tipo Carboxamida
(Oxcabazepina, fenitoína e carbamazepina).
Tabela 4
Eventos adversos. Cada evento adverso reportado pelos participantes foi registrado e puntuado como evento único enquando
em uso do medicamento, mesmo quando a reação ou evento adverso era resolvido com o tempo (assim como em reações
alérgicas, letargia, e outros). A tabela é apresentada em ordem ascendente de frequência de intolerabilidade (última coluna
na tabela), representando pela frequencia com que o evento advserso foi a razão de descontinuação. As medicações mais
altamente eficazes da tabela 3 estão ressaltadas em cinza claro, e as de menor eficácia em cinza escuro.
64
Dos oitenta e cinco indivíduos que relataram terem clobazam e lamotrigina [16,23]. A carbamazepina, a
apresentado status epilepticus, 21 relataram que um oxcarbazepina e a fenitoína (as medicações do grupo
medicamento de resgate parecia ter melhor eficácia do carboxamida) apresentam um desempenho ruim para
que outros. Este medicamento era o midazolam (Tabela indivíduos com síndrome de Dravet [16] e também
Suplementar S5). tiveram um desempenho ruim para nossa coorte de
indivíduos com
Tabela 5: Efeitos positivos observados enquanto em uso do anticonvulsivante SWH. Em
nosso estudo,
os fármacos
do grupo
carboxamida
apresentaram
e f i c á c i a
reduzida no
controle de
convulsões
do que outros
medicamentos
em geral e
au m e nt a r a m
a atividade
convulsiva
em alguns
pacientes.
Além disso,
eles também exibiram baixas taxas de retenção devido a
4. Discussão eventos adversos concomitantes.
4.1. Outros estudos que correlacionam etiologia
genética com resposta a medicações 4.2. As convulsões na SWH compartilham semelhanças
Essa investigação contribui para o crescente número com as convulsões na síndrome de Dravet
de estudos publicados que usam uma abordagem de Em um estudo de correlação genótipo-fenótipo
levantamento de dados fornecidos por cuidadores, anterior, mapeamos uma região de susceptibilidade
para avaliar a eficácia de anticonvulsivantes em uma a convulsões na região terminal de cromossomo 4,
população geneticamente bem definida, por exemplo, que inclui, entre outros três genes codificadores, um
estudos envolvendo controle de crises para síndrome gene candidato à proteína de biossíntese de âncora de
de Algelman [9,14], síndrome de duplicação 15q [ 8], gliafose fosfatidil inositol (PI) (PIGG) [24]. Mutações
síndrome de Dravet [15-18], esclerose tuberosa [19- autossômicas recessivas no gene PIGG causam uma
21] e síndrome de Rett [22]. Embora a epilepsia nestas forma de desordem congenital de glicosilação, que
condições compartilhe apresentações semelhantes, inclui convulsões como uma característica comum
envolvendo múltiplos fenótipos de convulsões, cada [25]. Mecanisticamente, o PIGG e os membros da via
grupo geneticamente definido responde coletivamente de âncora PI-glicano são necessários para a localização
de forma diferente a diferentes anticonvulsivantes. adequada do canal de sódio, voltagem-dependente,
Por exemplo, a coorte que apresenta duplicação 15q tipo I, beta b (SCN1BB) (subgrupo beta do canal beta
respondeu melhor do que o previsto para medicações de sódio ativado por voltagem de sódio (SCN1B))
que são tipicamente usadas para convulsões focais, ou em neurônios de Rohon-Beard do zebrafish [26]. Se
seja, carbamazepina e oxcarbazepina, apesar do fato de existe uma relação regulatória análoga em humanos,
que indivíduos com duplicações 15q apresentam tipos a haploinsuficiência do PIGG pode mecanicamente
de crises epilépticas generalizadas [8]. A síndrome de relacionar crises convulsivas na SWH com aquelas da
Dravet, de Algelman, e a SWH também se apresentam síndrome de Dravet [27]. As convulsões na síndrome de
com tipos generalizados de epilepsia, como a tônica- Dravet são causadas por mutações de perda de função
clônica, tônica, clônica e mioclônica, mas em contraste que podem resultar em diminuição da expressão,
com a coorte da síndrome de duplicação de 15q, os desdobramento, truncamento e localização incorreta
indivíduos de todos esses três grupos responderam do canal de sódio, canais de sódio controlados por
melhor às medicações de amplo espectro levetiracetam, voltagem ou da família de canais de sódio (SCN) [28-
65
31]. Há muito tempo se sabe que as medicações do apoio. Além disso, as famílias que passaram por mais
grupo carboxamida devem ser evitadas na síndrome de desafios e tiveram um histórico de crises convulsivas
Dravet porque elas têm como alvo os canais de sódio mais complexo podem ter sido influenciadas pelo
[32,33]. Se a função ou localização do canal de sódio da formato do nosso questionário; os participantes tiveram
família SCN é comprometida pela haploinsuficiência do que preencher a mesma seção para cada medicamento
PIGG na SWH, conclui-se que as medicações do grupo testado, tornando o questionário mais longo, e tendo
carboxamida também devem ser evitadas no SWH. maior envolvimento para os participantes cujo histórico
Nossos dados de pesquisa apoiam essa recomendação, de tratamento de crises foi mais complexo. Por último,
além de confirmar observações clínicas prévias [3]. mas não menos importante, devemos ter em mente
que há variações no uso de anticonvulsivantes em
4.3. A necessidade de tratamentos antiepilépticos para diferentes países, devido a diferenças de acessibilidade
indivíduos com SWH e treinamento clínico. Dadas essas limitações e vieses,
Apesar da observação de que, com o avanço da idade, as observações apresentadas neste estudo precisam ser
as convulsões tendem a diminuir em frequência nos confirmadas usando um estudo de pesquisa clínica, de
indivíduos com SWH, a pontuação modificada de tamanho adequado, e com controles cuidadosamente
E-Chess da gravidade da convulsão determinou que selecionados.
convulsões precoces, que ocorrem no início da vida,
são graves. Além disso, havia 5 indivíduos (de 23) com 5. Conclusão
mais de 20 anos de idade em nossa coorte, para os quais Este estudo representa a maior avaliação já feita, até
as convulsões eram intratáveis, apesar de terem tentado o momento, sobre as apresentações das convulsões
até 18 anticolvulsivantes diferentes, sugerindo que as e quanto as respostas ao tratamento das convulsões
convulsões na SWH, mesmo com melhora relacionada na SWH, relatados por cuidadores. O levetiracetam,
à idade, nem sempre são passíveis de melhora com um anticonvulsivante de amplo espectro, que já foi
os tratamentos atualmente disponíveis. A alta taxa previamente sugerido como um medicamento eficaz
de eventos adversos observados, bem como as baixas na SWH [13], supera significativamente os fármacos
taxas de retenção aos medicamentos em geral, também do grupo carboxamida (Tabelas 3–5 e estatísticas
ressaltam as necessidades de uma nova geração de acompanhantes). Além disso, o clobazam e o
medicamentos, com maior tolerabilidade e eficácia do levetiracetam emergiram com os melhores perfis de
que os atualmente disponíveis. A impressionante taxa controle de convulsões, tanto em termos de eficácia
de resposta à nossa pesquisa de membros da família do como de altas taxas de retenção. Essas medicações
Grupo de Apoio 4p (47%, com cerca de 60 pesquisas não compartilham os mesmos alvos nem mecanismos
iniciadas dentro da primeiras 24 horas), provavelmente de ação e, portanto, representam alternativas caso o
reflete o alto grau de interesse da família em encontrar paciente necessite de uma outra opção. Carbamazepina,
tratamentos seguros e eficazes para convulsões. oxcarbazepina e fenitoína apresentaram coletivamente
Embora anedóticos, os comentários sobre as melhorias o pior controle de crises e os piores perfis de eventos
observáveis nas trajetórias cognitivas, de fala e de adversos. Considerados em conjunto com estudos
desenvolvimento do membro da família afetado, com o previamente mencionados para diferentes condições
controle das crises, ressaltam a importância de se atingir geneticamente definidas, esses dados sugerem que a
o controle das convulsões o mais completamente e o etiologia genética das convulsões, juntamente com um
mais cedo possível. delineamento eletro-clínico preciso, são considerações
importantes para a escolha das medicações
4.4. Limitações e viés da pesquisa anticonvulsivantes, mesmo em síndromes de deleção
Nosso estudo não é sem limitações. Todos os estudos contíguas de genes, que podem ter complexas etiologias
de pesquisa com relatos por cuidadores compartilham de crises convulsivas.
desafios potenciais na fidelidade e reprodutibilidade dos Dados suplementares para este artigo podem ser
dados, e eles não têm devidos controles. Um estudo de encontrados online em https: // doi.org / 10.1016 /
Akman et al. [34] comparou o relato dos pais a arquivos j.yebeh.2017.12.008.
de eletroencefalograma (EEG) - monitoramento de
vídeo - e descobriram que as convulsões tendem a ser Agradecimentos
subnotificadas pelos pais. Houve também potencial para Este estudo não seria possível sem o excepcional apoio
viés de seleção com base na participação do Grupo de e participação dos membros do 4p-Support Group.
Apoio 4p, a partir do qual nós desenhamos nossa coorte, Agradecemos a eles e seus filhos por serem uma fonte
uma vez que nem todas as famílias com um membro constante de inspiração. Agradecemos sinceramente
afetado pela SWH optou por se juntar a um grupo de a Sra. Mallory R. Sdano, LCGC, por sugerir edições à
66
nossa pesquisa durante o seu desenvolvimento e por Translacionais dos Institutos Nacionais de Saúde sob
seu aconselhamento especializado. Somos gratos ao Dr. o Número UL1TR001067. O conteúdo é da exclusiva
Gregory N. Barnes, MD PhD da Escola de Medicina responsabilidade dos autores e não representa
da Universidade de Louisville pela leitura crítica do necessariamente as visões oficiais do Lineagen, da
manuscrito. Agradecemos ao Dr. Chuck Hensel e à Universidade de Utah ou dos Institutos Nacionais de
Sra. Rena Vanzo pelas discussões úteis. Agradecemos Saúde.
também aos nossos colegas de trabalho e colegas da
Lineagen que ajudam ao próximo, através de serviços Divulgação de potenciais de conflitos de interesse
de testes genéticos, divertidos e recompensadores. Os autores KSH, LMM e HT são funcionários da
Lineagen e recebem salários e opções de ações da
Financiamento Lineagen. ERWIII foi estagiário de verão na Lineagen
A pesquisa descrita nesta publicação foi financiada e recebeu apoio da Lineagen. A ERW é uma consultora
pela Lineagen, Inc .; o Programa de Pós-Graduação paga da Lineagen e recebeu opções de ações da Lineagen.
em Aconselhamento Genético da Universidade de Todos os outros autores não têm conflitos de interesse a
Utah; e o Centro Nacional para o Avanço das Ciências serem divulgados.
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68
11. 2 Apresentação de slides : Conferência sobre a SWH, com foco em tipos de crises convulsivas
e melhores anticonvulsivantes na SWH (2019, Reino Unido, Hopeful Science)
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12. Etiologia da SWH
ANDREW D. BERGEMANN1, FRANCESCA COLE2 E KURT HIRSCHHORN3
1Departamento de Patologia, The Mount Sinai School of Medicine, One Gustave L. Levy Place, Nova York, NY
10029, EUA
2Departamento de Biologia Molecular, Celular e do Desenvolvimento, The Mount Sinai School of Medicine, One
Gustave L. Levy Place, Nova York, NY 10029, EUA
3Departamento de Pediatria e Genética Humana, The Mount Sinai School of Medicine, One Gustave L. Levy
Place, Nova York, NY 10029, EUA
A síndrome de Wolf–Hirschhorn (SWH) é definida por um grupo de características centrais, que incluem
distúrbio intelectual, epilepsia, atraso no crescimento e disgenesia craniofacial. O distúrbio é causado por deleções
subteloméricas no braço curto do cromossomo 4. A gravidade das características centrais é altamente variável,
e outros problemas, incluindo falha da fusão da linha média, ocorrem em menor frequência. Apenas um gene,
o WHSC1, é deletado em todos os casos. No entanto, evidências recentes, de estudos em pacientes e modelos
murinos, indicam que a deleção de WHSC1 isolada não é suficiente para o desenvolvimento completo da SWH.
Em vez disso, está surgindo um modelo em que a deleção de WHSC1 é essencial para a patogênese, mas a deleção
de genes associados contribui tanto para a gravidade das características centrais quanto para a presença de
problemas sindrômicos adicionais. Neste artigo, descrevemos o progresso sendo feito em estudos com pacientes
e no desenvolvimento de modelos em camundongos e relacionamos as implicações deste artigo para um amplo
grupo de síndromes de deleção subtelomérica.
85
que WHSC1, em combinação com genes intimamente Os genes candidatos teloméricos a WHSC1
associados (ou seja, em 700kb), seja responsável pelos A região localizada entre 1,2 e 2,5Mb a partir do
fenótipos centrais. Contudo, os fenótipos mais raros telômero pareceria o local mais provável para se encon-
(como fenda palatina) tendem a aparecer em deleções trar genes adicionais que contribuem para o fenótipo
maiores e são quase certamente resultado da deleção de central, pois deleções intersticiais em pacientes suger-
genes mais centroméricos. em que a maioria dos genes adicionais que contribuem
para os fenótipos centrais não pode estar longe da WH-
Quadro 2. Implicações clínicas da SWH SCR. A maioria das características centrais pôde ser
observada em dois pacientes com pequenas deleções
As características da SWH foram minuciosamente terminais (1,9 e 2,2Mb), indicando que genes adicio-
revisadas em outros lugares, incluindo descrições nais que contribuem para os fenótipos centrais muito
pictográficas detalhadas do desenvolvimento das provavelmente estão no lado telomérico de WHSC1,
características faciais durante o tempo de vida do entre 1,2 e 1,9Mb do telômero [15]. Essas considerações
paciente [55,61]. Assim, forneceremos apenas uma levam Zollino e colegas a propor a presença de uma se-
breve visão geral das características mais comuns. gunda região crítica, a WHSCR2, telomérica a WHSCR
Além das características centrais (defeitos cranio- [15]. Na região entre 1,2 e 1,9Mb do telômero, dados
faciais, epilepsia, retardo do crescimento e retar- do projeto genoma humano [21] predizem a presença
do mental) presentes na grande maioria dos casos, de aproximadamente dez genes. Embora muitos dess-
outras características ocorrem em uma grande es genes não estejam caracterizados, seis merecem uma
proporção dos casos [55]. Defeitos da linha média análise mais detalhada.
ocorrem em aprox. 50% dos casos, e incluem hipo- O LETM1 codifica uma proteína transmembrana com
spádias, defeitos cardíacos, fenda labial e palatina e motivos bobina em espiral, zíper de leucina e com mão
colobomas. De forma notável, os defeitos da linha EF (um domínio hélice-alça-hélice que pode se ligar a
média não parecem incluir espinha bífida. Defeitos um único íon de cálcio ou magnésio) [22,23]. Durante
dos componentes esqueléticos apendiculares e axi- o desenvolvimento, seu ortólogo murino é expresso de
ais também ocorrem em cerca de 50% dos casos e forma quase onipresente [24]. Tanto o LETM1 quan-
comumente incluem pé torto equinovaro, clinodac- to as proteínas relacionadas codificadas pelos genes
tilia, escoliose e cifose. Outros defeitos frequentes de leveduras YOL027 e MSR7 são proteínas integrais
incluem problemas na dentição, defeitos cardíacos, transmembranas da membrana mitocondrial interna
ptose e defeitos na audição. [25,26]. A ruptura de YOL027 em leveduras causa in-
chaço expressivo das mitocôndrias e atividade de troca
Uma segunda doença, a síndrome de Pitt–Rogers– de K+/H+ defeituosa. MSR7 foi isolado como um su-
Danks (SPRD), também foi relatada como mapeada pressor de múltiplas cópias de uma mutação que leva a
para 4p16 (OMIM #262350). No entanto, agora é defeitos no influxo de Mg2+ das mitocôndrias [25,26],
amplamente aceito que a SPRD deve ser considerada indicando uma função para essa família na regulação
parte do espectro da SWH, gerada por sua variabili- do transporte iônico na membrana mitocondrial in-
dade fenotípica [62]. terna. A possibilidade de que a haploinsuficiência de
Embora a taxa de mortalidade entre os casos de LETM1 poderia interromper a função mitocondrial
SWH nos primeiros dois anos tenha sido original- levou os pesquisadores a sugerir que ele pode ter uma
mente mensurada em 34%, um estudo mais recente função importante nos fenótipos neuromusculares e
a mensurou em 21% [13,63]. Pelo menos parte da epilépticos da SWH [10,19], pois problemas semelhan-
discrepância pode ser atribuída ao número crescen- tes ocorrem com frequência em mitocondriopatias bem
te de microdeleções sendo identificadas por meio caracterizadas [27].
de uso de técnicas aprimoradas, como hibridização O receptor 3 do fator de crescimento de fibroblastos
fluorescente in situ (FISH). As expectativas de vida (FGFR3) é o gene melhor caracterizado dessa região.
são bem maiores para casos de microdeleção do que Ele codifica uma tirosina quinase transmembrana, que
para a população geral com SWH [13]. As taxas de é um receptor para fatores de crescimento da família
mortalidade para pacientes com SWH é alta nos dois FGF. Durante o desenvolvimento, é amplamente expres-
primeiros anos de vida; contudo, aqueles que sobre- so em zonas proliferativas do tubo neural, e em ossos
vivem aos primeiros dois anos podem ter expectati- longos na ossificação endocondral. Mutações missense
vas de vida medianas além dos trinta anos de idade de FGFR3 em humanos causam deformidades dos os-
[13]. As causas frequentes de óbito incluem anoxia sos longos, o que é compatível com a função de FGFR3
perinatal, defeitos congênitos (incluindo problemas de inibir a proliferação de condrócitos [28]. A carac-
cardíacos) e infecções do trato respiratório inferior. terização molecular dos genes FGFR3 afetados sugere
86
que as mutações levam à ativação excessiva da quinase, 50% dos carcinomas de bexiga de células transicionais
com o grau de ativação presumivelmente correlaciona- [32]. No entanto, o alelo de FGFR3 remanescente com
do com a gravidade da doença [29]. Dependendo da frequência porta uma mutação de ganho de função,
mutação, a doença resultante pode variar de hipoco- idêntica àquelas observadas em fenótipos anões. Isso
ndroplasia relativamente leve, acondroplasia (a forma não é compatível com um modelo em que FGFR3 é um
mais comum de nanismo genético), até a condição neo- supressor tumoral clássico, e sugere que um supressor
natal letal de displasia tanatofórica [Online Mendelian tumoral intimamente associado possa estar presente
Inheritance in Man (OMIM), http://www3. ncbi.nlm. em 4p16 (ou, alternativamente, que 4p16 seja um pon-
nih.gov/omim/#146000, #100800 e #187600, respecti- to quente de recombinação especialmente propenso à
vamente]. Mutações homozigóticas de perda da função deleção). A presença frequente de LOH em 4p16.3 em
no ortólogo de camundongos resultam em crescimento cânceres pode levar à expectativa de que tumorigênese
excessivo dos ossos, ao passo que nas mutações hetero- excessiva seja um fenótipo não caracterizado da SWH.
zigóticas são aparentemente normais [30], mais uma Contudo, no momento há apenas evidência informal
vez indicando uma função negativa para FGFR3 na os- de uma predisposição à tumorigênese ou carcinogênese
sificação endocondral. [33–37]. Levando-se em consideração a população rela-
Mutações de ganho de função do FGFR3 provavel- tivamente pequena de indivíduos com SWH, suas vidas
mente sejam carcinogênicas e contribuam para a pa- relativamente curtas e uma multiplicidade de outros
togênese de alguns mielomas múltiplos e cânceres de problemas, uma predisposição à carcinogênese pode
bexiga [31]. O papel das mutações de perda de função não estar evidente. Assim sendo, se os pacientes com
do FGFR3 no câncer está menos claro. Perda de hetero- SWH apresentam risco elevado de câncer continua sen-
zigosidade (LOH) de 4p16.3 foi observada em aprox. do uma pergunta importante e, caso isso seja confirma-
expresso de maneira onipresente e a proteína codificada HDNTNP também pode se enquadrar em uma dessas
inclui sinais de localização nuclear funcionais e um mo- categorias. Como WHSC1 e SLBP agem no metabolis-
tivo hélice–alça–hélice, fazendo surgir a possibilidade mo das histonas, seus efeitos podem ser pleiotrópicos,
de uma função transcricional para WHSC2 [47]. modulando a expressão de muitos genes. Dessa forma,
Dos doze genes identificados pelo projeto genoma é possível que algumas dessas patologias da SWH sejam
humano entre 1,2 e 2,0Mb do telômero de 4p, cinco os efeitos combinados de haploinsuficiência em mais de
(WHSC1, WHSC2, TACC3, SLBP e HSPX153) são sus- um desses genes, complementando um ao outro para
peitos de codificar proteínas envolvidas na transcrição gerar uma alteração biologicamente significativa na ex-
ou processamento de mRNA. Considerando seus sinais pressão de genes-alvo específicos.
de localização nuclear conservados e regiões básicas, o
89
Contribuições genéticas para características relativa- tínuos e possivelmente passíveis de tratamento. Contu-
mente pouco frequentes na SWH do, o desenvolvimento desses tratamentos depende da
Pouco se sabe sobre a patogênese das características da identificação das contribuições dos genes individuais a
SWH que ocorrem apenas em uma pequena proporção sintomas específicos. Os estudos da SWH descrevem
de pacientes com SWH. No entanto, Nieminen e cole- claramente algumas das etapas importantes nesse pro-
gas [48] descobriram evidências de que a monossomia cesso. Claramente, a primeira etapa é o mapeamento
do homólogo do homeobox 1 (MSX1) do segmento preciso das deleções em grande número de pacientes
muscular do gene homeobox, poderia estar subjacen- humanos, combinado com descrições detalhadas e pre-
te à oligodontia (ausência de alguns dentes) observada cisas dos sintomas dos pacientes. No entanto, em razão
em alguns pacientes com SWH. O MSX1 mapeia 4,9Mb da variabilidade do histórico genético, estudos genéti-
a partir do telômero. Dos sete pacientes com SWH cos humanos não conseguem, sozinhos, resolver as con-
analisados, cinco apresentavam oligodontia e eram tribuições de genes individuais e, dessa forma, devem
monossômicos para MSX1, ao passo que os outros dois ser combinados com estudos em linhagens isogênicas
não apresentavam oligodontia e retinham ambas as de camundongos. Abordagens que geram linhagens de
cópias de MSX1. Anteriormente, a haploinsuficiência camundongos portadoras de mutações direcionadas
de MSX1 demonstrou causar agenesia dentária e fen- em genes candidatos [50] podem complementar e am-
das faciais em uma proporção de pacientes sem SWH pliar os resultados de estudos em humanos. Além disso,
[49], e defeitos craniofaciais são uma característica do a geração de camundongos portadores de deleções [18],
camundongo Msx-/- [50]. A fenda labial, palatina e o ou a criação de heterozigotos compostos de genes can-
retardo mental grave são raros em microdeleções ter- didatos em linhagens de camundongos pode fornecer
minais, mas são comuns em deleções >2,5Mb. Assim, informações sobre as interações aditivas de múltiplos
os genes que contribuem para esses fenótipos provavel- genes.
mente estão entre 2,5Mb e 5,0Mb do telômero. Con-
tudo, a identidade específica de qualquer desses genes Observações finais
ainda precisa ser determinada. Embora a maior parte das monossomias, como a SWH,
seja relativamente rara, o estudo dessas síndromes tem
Valor clínico da dissecção genética de doenças o potencial para impacto clínico significativo. Assim
monossômicas como o estudo de síndromes raras de câncer familiar foi
A vantagem inexplorada no tratamento dessas extremamente informativo sobre a patogênese de cânc-
monossomias, como a SWH, em oposição a doenças er esporádico, o estudo de uma doença como a SWH
genéticas recessivas, é a presença de uma cópia sadia, também pode proporcionar conhecimento sobre os
não alterada, de cada gene em todas as células do cor- mecanismos patogênicos mais gerais subjacentes ao re-
po do paciente. Esses alelos sadios são candidatos ide- tardo mental, epilepsia, doença craniofacial, atraso no
ais para a terapia medicamentosa: potencializadores de crescimento e defeitos de fechamento da linha média,
pequenas moléculas de sua expressão podem causar incluindo fenda labial e/ou palatina e hipospádias.
melhora significativa da doença. O exemplo prototípi-
co dessa abordagem é o trabalho em andamento com Agradecimentos
moléculas pequenas (por exemplo, ácido alfa-hidrox- Agradecemos aos pesquisadores no campo da SWH
ibutírico) para tratar anemia falciforme. Nesses casos, por suas importantes contribuições para a compreensão
o medicamento estimula a transcrição de um gene rel- da patogênese deste distúrbio. Também agradecemos
acionado (hemoglobina fetal γ) para substituir o gene a Robert S. Krauss pelo seu apoio e assistência. Este
da hemoglobina β patogênico. A presença de cromosso- artigo foi concluído com financiamento do NICHD
mos intactos em haploinsuficiências, incluindo a SWH, (HD36871) e Gaisman Frontiers of Biomedical Scienc-
pode torná-los candidatos ainda melhores para esse es Research Award.
tipo de tratamento. Também é possível considerar os
produtos de proteínas do cromossomo
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93
13. Epilepsia e padrões de Eletroencefalograma na SWH
1 Instituto Stella Maris de Pesquisa Clínica em Neurologia e Psiquiatria para Crianças e Adolescentes, Calambrone,
Pisa, Itália. 2 Divisão de Genética Médica, Departamento de Pediatria, Universidade de Utah, Salt Lake City, UT,
EUA. 3 Divisão de Genética Médica, Departamento de Pediatria, Universidade de Utah, Salt Lake City, UT, EUA.
Correspondência para Dr Agatino Battaglia no Instituto Stella Maris de Pesquisa Clínica em Neurologia e
Psiquiatria para Crianças e Adolescentes, via dei Giacinti, 2, 56018 Calambrone, Pisa, Itália. E-mail: abattaglia@
inpe.unipi.it
DADOS DA PUBLICAÇÃO
Aceito para publicação em 29 de setembro de 2008.
Para definir melhor o espectro da epilepsia na síndrome de Wolf–Hirschhorn (SWH), estudamos 87 pacientes (54
do sexo feminino, 33 do sexo masculino; idade mediana 5,6 anos; faixa etária de 1–25,6 anos) com deleção 4p16.3
confirmada. Com base nos prontuários clínicos, realizamos uma análise retrospectiva da evolução dos achados
de eletroencefalograma (EEG) e convulsões. Epilepsia ocorreu em 81 pacientes (93%) nos 3 primeiros anos de
vida. Sessenta de 81 (74%) pacientes apresentaram crises tônico-clônicas generalizadas, que foi o único padrão de
convulsão em 32 pacientes. Espasmos tônicos ocorreram em 15 de 81 (18%) pacientes, crises parciais complexas
em 10 de 81 (12%) pacientes e convulsões clônicas em 6 de 81 (7%) pacientes.
Frequentemente, as crises eram desencadeadas por febre (59 de 81; 73%), e ocorreram em salvas em 36 de 72 (50%)
pacientes. Nesses mesmos 36 (50%) pacientes, o estado de mal epiléptico tônico–clônico ou clônico unilateral ou
generalizado ocorreu durante os 3 primeiros anos de vida. Vinte e sete de 81 pacientes (33%) desenvolveram
ausências atípicas entre 1 e 6 anos, acompanhadas de um componente mioclônico envolvendo as pálpebras e
as mãos. Anormalidades distintas no EEG foram observadas em 73 de 81 (90%) pacientes. A epilepsia foi bem
controlada em 65 de 81 (81%) pacientes, principalmente com valproato e fenobarbital, e melhoraram com a idade
em todos os pacientes. Trinta e dois de 58 (55%) pacientes estão atualmente sem convulsões. As crises pararam na
idade mediana de 4 anos e 6 meses.
A epilepsia representa um desafio clínico importante na SWH; contudo, apresenta bom prognóstico. O diagnóstico e
tratamento precoces de ausências atípicas, sutis e frequentemente diagnosticadas incorretamente são obrigatórios.
Epilepsia e incapacidade intelectual são características dup(15),4 síndrome de deleção terminal 1p365 e
frequentes em distúrbios cromossômicos. Nesses síndrome do cromossomo 20 em anel.6
distúrbios, geralmente a epilepsia é desafiadora, pois
ocorre no contexto de uma incapacidade preexistente. A síndrome de Wolf–Hirschhorn (SWH) é uma
Além disso, sempre que anomalias cromossômicas síndrome de múltiplas anomalias congênitas/
estão associadas a convulsões frequentes e de difícil incapacidade intelectual bem conhecida. Sua frequência
controle, o resultado cognitivo a longo prazo pode ficar é estimada como 1 a cada 50.000 nascimentos, com
gravemente comprometido.1,2 Por esses motivos, os predileção feminina de 2:1. O distúrbio é causado pela
médicos devem se empenhar para caracterizar o tipo perda parcial de material da porção distal do braço
de convulsão e/ou síndrome epiléptica em pessoas curto do cromossomo 4 (4p16.3).7 As características
com aberrações cromossômicas. A análise precisa mais notáveis da SWH (del 4p) incluem a aparência de
do fenótipo epiléptico não apenas leva ao manejo ‘capacete de guerreiro grego’ do nariz (ou seja, ponte
aprimorado de pacientes, como também pode auxiliar nasal alta que continua até a testa), microcefalia, fronte
no diagnóstico. Entre os distúrbios cromossômicos, alta com glabela proeminente, hipertelorismo ocular
fenótipos epilépticos distintos foram descritos na com olhos grandes e protuberantes, dobras epicânticas,
síndrome de Angelman,3 síndrome idic(15) ou inv filtro curto, boca voltada para baixo, micrognatia e
94
orelhas com formação deficiente. Todos os indivíduos tipos, frequência e resposta ao tratamento das
afetados apresentam retardo do crescimento convulsões. As epilepsias foram classificadas de acordo
intrauterino e pós-natal com dificuldades acentuadas com a recomendação de 1989 da Liga Internacional
na alimentação, hipotonia congênita e atraso no Contra Epilepsia.
desenvolvimento/incapacidade intelectual e a maioria Sessenta e sete dos 87 pacientes (77%) foram estudados
apresenta convulsões.7 com pelo menos um registro de EEG durante a vigília
A epilepsia constitui um grande desafio médico durante e durante o sono. Registros poligráficos de vídeo-
os primeiros anos de vida e ocorre em 50 a 100% dos EEG foram realizados enquanto os pacientes estavam
pacientes com SWH.1 Embora cerca de 200 casos acordados e durante o sono a 15 ou 30mm/s em papel,
tenham sido relatados na literatura, há poucos dados com um aparelho de EEG de 10 ou 20 canais (sistema
publicados sobre o fenótipo epiléptico, achados do 10–20, de acordo com as medições de pontos ósseos)8
eletroencefalograma (EEG) e, especialmente, sobre a com montagens bipolares e referenciais usando-se
história natural da epilepsia. eletrodos de superfície de prata–cloreto de prata, no
No presente artigo, descrevemos as características início da epilepsia e durante seu curso.
eletroclínicas de 87 pacientes com SWH, a fim de se
obter melhores informações sobre as características Os resultados dos estudos de EEG de rotina realizados
da epilepsia, incluindo a semiologia das convulsões e em outras instituições foram obtidos por revisão de
características de EEG e sobre sua história natural. Até prontuários.
onde sabemos, esse estudo é o maior relatório sobre Este estudo foi aprovado pelo comitê de ética em
uma análise detalhada das características eletroclínicas pesquisa do Instituto Stella Maris de Pesquisa Clínica em
da epilepsia nessa síndrome. Neurologia e Psiquiatria para Crianças e Adolescentes,
Calambrone, Pisa, Itália e da Universidade de Utah, Salt
MÉTODO Lake City, UT, EUA.
Estudamos, de maneira retrospectiva, o padrão
eletroclínico de 87 pacientes com diagnóstico de RESULTADOS
SWH (54 do sexo feminino, 33 do sexo masculino). A Achados clínicos
idade mediana na visita final era de 5 anos e 6 meses Todos os pacientes exibiam aparências craniofaciais
(variando de 1 ano a 25 anos e 6 meses). Trinta e três características, incapacidade intelectual e hipotonia
dos 87 pacientes foram acompanhados por nós de 4 generalizada. As características dismórficas distintas
meses até 21 anos. incluíram ‘aparência de capacete de guerreiro grego’
Todos os pacientes apresentavam uma deleção do nariz, microcefalia, fronte alta com glabela
parcial do braço curto do cromossomo 4. O ponto proeminente, hipertelorismo ocular, dobras epicânticas,
de interrupção proximal da deleção variou de p15.32 sobrancelhas altamente arqueadas, filtro curto,
a p16.3. A deleção foi detectada na citogenética boca voltada para baixo, micrognatia e orelhas com
padrão em 44 dos 87 (50,5%) pacientes, ao passo formação deficiente. Todos os pacientes apresentavam
que hibridização fluorescente in situ ou hibridização atraso no desenvolvimento e graus diferentes de
genômica comparativa baseada em microarranjos foi comprometimento cognitivo, variando de profundo-
necessária nos outros 43. Sessenta e cinco dos 87 (74,7%) severo (87%) a moderado–leve (13%). Não se observou
apresentavam uma deleção terminal pura de novo; 21 dos variabilidade no resultado cognitivo.
87 (24,1%) apresentavam um cromossomo derivativo Nenhum dos 87 pacientes apresentava histórico familiar
4 como parte de uma translocação desequilibrada; e de crises epilépticas. Todos os pacientes apresentaram
1 de 87 (0,2%) apresentava duplicação em tandem de retardo do crescimento intrauterino e um terço
4p16.1p16.3 associada à deleção 4p16.3pter. apresentou sofrimento perinatal transitório.
Os detalhes clínicos foram obtidos a partir de um
questionário abrangente enviado às famílias por meio Padrão eletroclínico
dos grupos de apoio nacionais dos EUA e da Itália. As convulsões/epilepsia afetaram(ou) 81 dos 87
Também foi solicitado que as famílias enviassem pacientes (93%). A idade dos seis pacientes sem crises
cópias dos arquivos hospitalares. Além disso, 42 dos 87 variou entre 12 e 16 anos.
pacientes também foram observados pessoalmente por Em quase todos os indivíduos, as convulsões começaram
dois de nós (AB e JCC). Todos os pacientes receberam por volta dos 3 anos de vida, com incidência de pico ao
avaliação física e neurológica cuidadosa. redor dos 6 a 12 meses de idade.
Os arquivos hospitalares foram analisados de maneira Dezessete dos 81 pacientes (21%) apresentaram a
retrospectiva para determinar a história e a classificação primeira crise nos 6 primeiros meses de idade (3 de 17
das convulsões, com atenção específica à incidência, no período neonatal); 39 dos 81 (48%) entre os 6 e 12
95
meses de idade; 17 dos 81 (21%) entre os 12 e 24 meses cabeça, no fechamento dos olhos; (5) os eixos do sono,
de idade; mas apenas 4 dos 81 (5%) entre os 24 e 36 bem reconhecidos na maioria dos pacientes, foram
meses de idade. Em quatro dos 81 pacientes (5%), não dificilmente reconhecíveis em uma minoria (Fig. 5).
foi possível determinar a idade no início das convulsões Vale notar que complexos de espícula–poliespícula/
a partir do histórico clínico. onda rápida a 4 - 6Hz, desencadeadas pelo fechamento
Sessenta dos 81 pacientes (74%) apresentaram dos olhos nas regiões têmporo-paríeto-occipitais
convulsões tônico-clônica; em 32 desses 60 (40% de posteriores, também foram observados nos poucos
todos os pacientes epilépticos) esse foi o único padrão pacientes sem crises, naqueles que apresentaram apenas
convulsivo. Outros tipos de crises incluíram espasmos uma ou três crises durante os três primeiros anos de vida,
tônicos em 15 dos 81 (18%), crises parciais complexas e naqueles que ficaram sem crises durante vários anos,
em 10 dos 81 (12%) e crises clônicas em seis de 81 (7%). e não foram afetados pelo tratamento anticonvulsivo.
Com frequência, essas crises foram causadas por O EEG interictal foi normal em oito dos 81 (10%)
febre (59 de 81; 73%), mesmo que de baixo grau. pacientes.
Outros fatores desencadeadores foram representados
principalmente por infecções do trato respiratório ou Resultado a longo prazo
urinário (11 de 81; 14%). Cansaço (cinco de 81; 6%) e A epilepsia foi bem controlada em 65 dos 81 (81%)
excitação (dois de 81) também foram listados pelos pais pacientes. O controle foi atingido por monoterapia
como supostos fatores desencadeadores. Em dois dos em 17 dos 81 (21%) e politerapia (dois ou três
81 pacientes, febre de alto grau (>38°C) pareceu inibir medicamentos anticonvulsivos) em 48 dos 81 (60%)
as crises. pacientes. Fenobarbital foi o medicamento mais eficaz
Convulsões ocorreram em salvas, às vezes com duração contra as crises tônico–clônicas, ao passo que valproato
de cerca de 15 minutos, em 36 dos 72 (50%) pacientes isolado ou em combinação com etossuximida foi
para os quais tais informações estavam disponíveis. Nos eficaz no tratamento de crises de ausências atípicas.
mesmos 36 pacientes (50%), estado de mal epiléptico Apenas em nove dos 81 pacientes (11%) as crises
tônico-clônico ou clônico unilateral ou generalizado de ausências atípicas precisaram da combinação de
ocorreu durante os 3 primeiros anos de vida, apesar de valproato, etossuximida e benzodiazepinas para serem
tratamento antiepiléptico adequado. controladas.
Vinte e sete dos 81 pacientes (33%) desenvolveram A epilepsia melhorou com a idade em todos os pacientes.
crises de ausências atípicas entre 1 e 6 anos de idade, Trinta e dois dos 58 (55%) indivíduos para os quais as
com frequência acompanhadas de um leve componente informações encontram-se disponíveis estão sem crises
mioclônico, envolvendo principalmente as pálpebras no momento. As convulsões pararam na idade mediana
e as mãos. Essas crises eram bastante frequentes e de 4 anos e 6 meses (entre 1 ano e 9 meses e 13 anos).
duradouras durante o dia (Fig. 1). É importante ressaltar
que mioclonias palpebrais foram erroneamente DISCUSSÃO
diagnosticadas em várias ocasiões como ‘tiques’ A presente série, até onde sabemos, é a maior amostra de
por alguns dos médicos que atenderam as crianças pacientes com SWH até hoje, com o acompanhamento
anteriormente. mais longo já relatado, permitindo um melhor
Anormalidades distintas no EEG foram observadas em delineamento do fenótipo da epilepsia e sua evolução
73 dos 81 (90%) pacientes. Elas incluíram o seguinte: nessa síndrome de microdeleção terminal. Nossos
(1) complexos de espícula-onda agudos a 2 – 3,5Hz resultados destacam que a epilepsia é um aspecto
frequentes, mal definidos, difusos ou generalizados significativo e possivelmente tratável em pacientes com
ou com predominância variável nos dois hemisférios, SWH.
de alta amplitude, ocorrendo em longas rajadas (com A prevalência da epilepsia foi de 93%, em conformidade
duração de até 25 s), ativadas por sono de ondas lentas com os dados relatados anteriormente.9–13 Na maioria
(Fig. 2) (essas anomalias também foram observadas nos dos pacientes (90%), a epilepsia começou nos 2
poucos pacientes sem convulsões; Fig. 3); (2) complexos primeiros anos
de espícula–poliespícula/onda de alta amplitude
frequentes a 4 - 6Hz, de vida, mas apenas raramente no período neonatal.
Como relatado antes, com frequência, as crises eram
nas regiões têmporo-paríeto-occipitais posteriores, desencadeadas por febre de baixo grau, geralmente
com frequência desencadeadas pelo fechamento decorrente de infecções no trato respiratório ou
dos olhos (Fig. 4); (3) alentecimento da atividade de urinário.12
base; (4) carência de atividades rítmicas usuais tanto As primeiras crises geralmente foram tônico–clônicas;
nas regiões rolândicas quanto no terço posterior da em 40%, isso representou o único padrão convulsivo.
96
Trinta e três por cento dos pacientes epilépticos com etossuximida foi bem-sucedido no tratamento de
desenvolveram crises de ausências atípicas entre 1 crises de ausências atípicas na maioria dos pacientes.
e 6 anos de idade, com frequência acompanhadas O quadro eletroclínico parece bastante semelhante ao
de um componente mioclônico leve, envolvendo descrito como epilepsia mioclônica severa da infância
principalmente as pálpebras e as mãos. Nossa ou síndrome de Dravet.14 Contudo, nos pacientes
porcentagem foi menor do que a relatada anteriormente com SWH, a epilepsia tem desfecho favorável, e não
em amostras menores,12,13 mostrando a relevância de é observado declínio cognitivo. De acordo com a
grandes séries no estudo da história natural. Outros classificação de epilepsias e síndromes epilépticas
tipos de crises, raramente observados, incluíram (recomendação de 1989 da Liga Internacional Contra
espasmos tônicos e crises parciais complexas e clônicas. Epilepsia), pacientes com SWH podem ser classificados
Não encontramos correlação entre o tamanho da em epilepsias não determinadas.15
deleção e os tipos de crises, severidade e idade no início, Em concordância com os dados relatados anteriormente,
que foram aleatoriamente distribuídos entre toda a os registros de EEG foram anormais desde o início,12
amostra. mesmo nos pacientes sem crises. Na literatura médica,
A epilepsia constitui um dos principais desafios médicos pouco se sabe sobre os achados de EEG em grandes
em indivíduos com SWH, principalmente durante os séries de SWH ou sobre sua evolução. Nossos dados
primeiros anos, com o estado de mal epiléptico clônico mostram que pacientes com SWH apresentam
ou tônico–clônico unilateral ou generalizado ocorrendo características distintas de EEG, crises duradouras e
em metade dos pacientes, apesar de tratamento não necessariamente relacionadas a elas, que são até
antiepiléptico adequado. Contudo, o desfecho da mesmo detectáveis em indivíduos sem crises.
epilepsia geralmente é favorável, e em apenas pouco
mais da metade de nossos pacientes para os quais dados Como já declarado com base em um estudo menor,12
precisos estavam disponíveis, as crises pararam entre 1 acreditamos que essa observação poderia ser altamente
ano e 9 meses e 13 anos. relevante para o manejo médico aprimorado de tais
Nossos dados confirmam que o fenobarbital é o pacientes, evitando tratamentos desnecessários. É
medicamento mais eficaz contra crises tônico–clônicas, importante ressaltar que alguns dos pacientes em nossa
ao passo que o valproato isolado ou em combinação amostra ainda recebiam medicamentos antiepilépticos,
Figura 1: Paciente 15, aos 3 anos de idade. Eletroencefalograma (EEG) durante a vigília exibe
ausência atípica caracterizada por complexos rítmicos difusos de espícula-onda de 2,5 a 3Hz mal
definidos, alcançando até 300µV, com duração de 19 s. Essa criança apresentou 15 episódios desse
tipo, com durações de até 25 s, durante um registro poligráfico de EEG de 50min. Amplitude 150µV/
cm; velocidade 1s/1,5cm.
97
Figura 2: Paciente 2, aos 4 anos e 10 meses de idade. Sono de ondas lentas. Eletroencefalograma
exibindo complexos de espícula-onda agudos frequentes, mal definidos, difusos, de alta amplitude
(até 450µV) a 3 – 3,5Hz, com duração de 8s. Amplitude 150µV/cm; velocidade 1s/1,5cm.
Figura 3: Paciente 27, aos 8 anos de idade. Sono de ondas lentas. Eletroencefalograma exibindo
complexos de espícula-onda agudos frequentes, mal definidos, difusos, de alta amplitude (até
200µV) a 3 – 3,5Hz, com duração de até 12s. O paciente, na época com 14 anos de idade, nunca
apresentou crises. Amplitude 100µV/cm; velocidade 1s/1,5cm.
98
apesar de não terem apresentado crises durante vários rápida desencadeadas pelo fechamento dos olhos
anos, em razão das anormalidades contínuas no EEG. nas regiões cerebrais posteriores na SWH não são
Sugerimos retirar os anticonvulsivos de indivíduos que observados em indivíduos com síndrome de Angelman,
não apresentam crises há 2 - 5 anos.16,17 nos quais as anormalidades detectadas posteriormente
Ao contrário do que foi declarado em outro lugar,13,15 são mais lentas e menos definidas;19 a atividade lenta
mas em concordância com Laan e Vein,18 acreditamos de grande amplitude proeminente anteriormente
que as características do EEG na SWH são diferentes observada na síndrome Angelman19 não é observada
daquelas relatadas na síndrome de Angelman. Na na SWH; por fim, a mioclonia cortical de rajada
verdade, os complexos de espícula–poliespícula/onda rápida distinta da síndrome de Angelman20 nunca foi
Figura 5: Paciente 2, aos 4 anos e 10 meses de idade. Sono de ondas lentas. Eletroencefalograma
mostrando eixos do sono bem definidos nas regiões fronto-centrais, com melhor formação no
hemisfério esquerdo. Um paroxismo semelhante àquele mostrado na Figura 2 também está presente,
no hemisfério esquerdo. Amplitude 150µV/cm; velocidade 1s/1,5cm.
100
14. Deficiência de Anticorpos associada a SWH (Complicações
Imunológicas)
JEAN HANLEY-LOPEZ, MD, LAUREL L. ESTABROOKS, PHD E E. RICHARD STIEHM, MD
Da Divisão de Imunologia, Hospital Pediátrico da UCLA, Los Angeles, Califórnia, e Genzyme, Santa Fé, Novo México. Apresentado
para publicação em 20 de outubro de 1997; revisão recebida em 27 de janeiro de 1998; aceito em 13 de fevereiro de 1998. Solicitações de
reimpressão: E. Richard Stiehm, MD, Hospital Pediátrico da UCLA, 22-387-MDCC, 10833 Le Conte Ave., Los Angeles, CA 90095-1752.
Direitos Autorais © 1998 by Mosby, Inc. 0022-3476/98/$5.00 + 0 9/22/89815
102
anormalidades neuromusculares e anormalidades sensibilidade do ensaio, a expressão relacionada à idade
estruturais do trato respiratório que contribuem para e os efeitos de outros genes na apresentação do traço.
sua suscetibilidade a infecções respiratórias. Vários A frequência muito alta de anormalidades imunológicas
dos pacientes imunodeficientes apresentaram melhora nesses 13 pacientes (9 de 13) sugere que isso não é
considerável com infusões de IVIG ou antibióticos uma ocorrência ao acaso de condições raras. Mesmo
contínuos. se usarmos a estimativa de 190 crianças contatadas
A imunodeficiência em todas as nove crianças nos Estados Unidos, essa incidência (9 de 190) é
envolveu o sistema de células B, mas em apenas um extraordinariamente alta. A deficiência de IgA ocorre
caso o número de células B era baixo (caso 1). A em 1 de 400 indivíduos e a imunodeficiência comum
associação entre imunodeficiência comum variável variável em 1 de 100.000.11 Sete das nove crianças
e a deficiência de IgA foi observada6 nas famílias, e com SWH estavam recebendo anticonvulsivantes,
uma associação entre a deficiência de IgA, deficiência incluindo duas que recebiam fenitoína (casos 1 e 6),
de IgG2 e não responsividade a polissacarídeos é que é conhecida por causar deficiência de anticorpos,
bem descrita.7,8 Assim, isso é uma tentativa de especialmente a deficiência de IgA.12
especular que uma única anormalidade genética Nenhum gene conhecido que afeta o sistema
leva ao imunocomprometimento, envolvendo o imunológico reside no braço curto do cromossomo
desenvolvimento de células B e respostas de anticorpos. 4. Genes para a doença de Huntington, nictalopia e
Alternativamente, um defeito de processamento mucopolissacaridose se encontram nessa área, mas não
antigênico pode estar presente, semelhante ao é de conhecimento que algum deles esteja associado à
presumido na síndrome de Wiskott-Aldrich9; isso imunodeficiência.3
pode explicar o motivo de alguns desses pacientes Concluindo, defeitos de células B foram identificados
apresentarem níveis normais de imunoglobulina, apesar em 9 das 13 crianças com SWH. Como essas crianças
de infecções respiratórias repetidas. A deficiência de podem se beneficiar de infusões de IVIG ou antibióticos
IgA parcial (por exemplo, <2 DP abaixo da média, mas contínuos, outras crianças com SWH devem ser
ainda detectável) conforme observado nos pacientes 4 testadas quanto à imunodeficiência. O motivo para
e 5, pode ser ocasionalmente maturacional e melhorar essa associação é desconhecido, pois não se sabe de
com a idade.6 A associação entre imunodeficiência nenhum gene na área de deleção que esteja relacionado
comum variável e a deficiência de IgA em determinadas ao desenvolvimento de células B.
famílias foi associada a determinados haplótipos de
antígenos leucocitários humanos e alelo nulo de C4A ou
alelos raros de C2 controlados por genes do complexo
principal de histocompatibilidade no cromossomo 6.10
A associação de imunodeficiência a distúrbios
genéticos não é rara. Ming et al.4 identificaram 64
síndromes genéticas associadas à imunodeficiência,
além de síndromes genéticas (por exemplo, síndrome
de Wiskott-Aldrich, ataxia- telangiectasia) a defeitos
imunológicos consistentes (as imunodeficiências
primárias). A anormalidade imunológica na maioria
desses defeitos genéticos envolve o sistema de células T,
mas 16 apresentavam, predominantemente, deficiência
de anticorpos. Muitas estão associadas a anomalias
cromossômicas, em especial, deficiência de IgA com
deficiência do cromossomo 18 e síndrome de DiGeorge
com deleções 22q11.4
Não houve correlação aparente do ponto de interrupção
nem sugestão de uma região crítica distinta para
imunodeficiência. Como pacientes com deleções
menores e maiores
INTRODUÇÃO - As anomalias congênitas múltiplas/o atraso intelectual na síndrome de Wolf-Hirschhorn (SWH) são causados pela
deleção parcial do braço curto do cromossomo 4, e a síndrome pode ser considerada uma síndrome de genes contíguos, caracterizada
por aparência facial típica, atraso intelectual, atraso do crescimento e convulsões.
MÉTODOS - Investigamos os defeitos oculares em uma população de 10 pacientes com SWH e analisamos a relação entre achados
oculares e a extensão da deleção no cromossomo 4.
RESULTADOS - As anormalidades oculares constatadas incluíram hipertelorismo, estrabismo, erros refrativos, dobras epicânticas,
proptose, fissuras palpebrais inclinadas para baixo, microftalmia, microcórnea, coloboma da íris, coloboma do nervo óptico, cisto ocular,
ptose, glaucoma e nistagmo. Pontos de interrupção diferentes do rearranjo cromossômico foram observados em pacientes individuais,
variando de 4p15.1 a 4p16.3, e o tamanho da deleção cromossômica variou de 2,6 a 26 milhões de pares de base.
CONCLUSÕES - Glaucoma congênito e cistos colobomatosos foram raramente descritos em pacientes com SWH relatados anteriormente.
Em todos os casos de estrabismo, estava presente um exodesvio. Ao comparar o genótipo com fenótipo ocular, observou-se uma relação
entre o tamanho da deleção e a severidade do envolvimento ocular em todos os casos, exceto um. (J AAPOS 2009;13:264-267)
A síndrome de Wolf-Hirschhorn (SWH) é uma entidade Helsinque. Foi obtido termo de consentimento livre e
clínica rara descrita pela primeira vez por Wolf, em esclarecido dos pais de cada paciente. Os casos foram
1961.1,2 É um distúrbio de malformação causado pela selecionados a partir de pacientes que compareciam à
deleção parcial do braço curto do cromossomo 4, sendo unidade de oftalmologia pediátrica e estrabismo em
que a deleção crítica ocorre na região de WHSCR-2 em nossa instituição durante um período de 18 meses, de
4p16.3.3,4 O rearranjo genômico básico é um evento janeiro de 2003 a junho de 2004. Um total de 10 pacientes
de novo e tem derivação paterna em aproximadamente com SWH (4 meninos e 6 meninas) com idades entre
87% dos pacientes. Nos outros 13% dos pacientes, um 2 e 9 anos (idade média de 6 anos) foi analisado
evento de novo desse tipo representa uma segregação clínica e geneticamente. Parâmetros de auxometria,
desequilibrada de uma translocação parental.2,4 As características dismórficas, avaliações neurológicas,
principais características da SWH incluem retardo do incluindo testes psicométricos, eletroencefaloma
crescimento pré-natal e pós-natal, atraso psicomotor, (EEG) e RMN cerebral, estudos cardiológicos com
convulsões e aparência facial típica (microcefalia, eletrocardiograma e ecocardiograma e ecografia
hipertelorismo, proptose, boca voltada para baixo, lábio abdominal/renal foram registrados em cada paciente.
superior curto e sulco curto entre o lábio superior e o Exame com lâmpada de fenda do segmento anterior e
nariz (filtro) ou fenda labial bilateral e queixo pequeno), testes de motilidade ocular, visão binocular e acuidade
com frequência descrita como aparência de “capacete de visual foram realizados. Refrações cicloplégicas,
guerreiro grego”.2 Dependendo da extensão da deleção exoftalmometria de Hertel e exame de fundo de olho
4p, microcefalia, anomalias cardíacas, defeitos da dilatado também foram realizados. Cada paciente
linha média e anormalidades renais são manifestações também foi submetido a análises de hibridização
importantes dessa condição.3 Anormalidades oculares fluorescente in situ para detectar anomalias no DNA
foram relatadas em aproximadamente 30% dos (consulte e-Supplements 1 e 2, disponíveis em jaapos.
pacientes,4,5 incluindo hipertelorismo, estrabismo org).3,7,8
(exodesvio), erro refrativo, dobras epicânticas, ptose,
proptose, microcórnea, coloboma do nervo óptico e RESULTADOS
da íris e cistos oculares colobomatosos.6 O objetivo Genótipo
do presente estudo foi realizar uma análise sistemática Os rearranjos genômicos associados à SWH foram
de defeitos oculares em uma população de pacientes eventos de novo em todos os pacientes. Na citogenética
com síndrome de Wolf-Hirschhorn e correlacionar os convencional e molecular, o tamanho da deleção 4p foi
achados oculares com os defeitos genômicos. classificado em pacientes individuais. O tamanho da
deleção variou de 2,6 Mb (a menor) a 20 Mb (a maior)
Participantes da Pesquisa e Métodos e o ponto de interrupção proximal ocorreu entre 4p15.1
O estudo seguiu os princípios da Declaração de e 4p16.3. Os rearranjos genômicos consistiram em
104
jaapos.org).
Tabela 1. Genótipo de pacientes com SWH Com relação às manifestações oculares, foram
observadas anormalidades em todos os pacientes
(Tabela 2). Dividimos esses sinais em duas categorias
clínicas: malformações oculares severas (anormalidades
estruturais do globo em si) e anomalias oculares
leves (malformações extrabulbares e subprodutos do
estado visual e neurológico de pacientes com SWH).
O primeiro grupo incluía glaucoma, colobomas do
nervo óptico e da íris, cisto ocular colobomatoso,
microftalmia e microcórnea. O segundo grupo incluía
hipertelorismo (distância interorbitária superior a 23
mm), proptose (exoftalmometria de Hertel > 21 mm),
dobra epicântica, ptose, estrabismo, nistagmo e erros
refrativos (hiperopia > 2,5 D, miopia >1 D, astigmatismo
>1 D e anisometropia >2 D).
Ao comparar os genótipos com os achados oculares,
constatamos que as manifestações oculares severas
ocorreram em associação com grandes deleções 4p. Por
outro lado, anomalias oculares leves foram observadas
em quase todos os pacientes, e essa observação não foi
dependente do tamanho da deleção.
Colobomas oculares, que podem resultar de um
fechamento não apropriado da fissura coroidal, foram
registrados em 4 casos (Pacientes 1, 3, 4, 8). Nos Pacientes
1 e 8, o coloboma envolvia apenas a íris. O paciente
4 exibiu coloboma de nervo óptico clássico no olho
direito, com tração retiniana que causou descolamento
da retina e perda da visão. O mesmo olho também
apresentava cisto colobomatoso que levou à proptose
progressiva. No olho esquerdo do paciente, a papila
NA, não disponível. óptica apresentava características típicas da anomalia
* Rearranjo intracromossômico resultando em deleção 4p parcial ‘morning glory’. No paciente 3, foi observado um
(20 Mb) e trissomia 4q parcial (≈ 20Mb). grande coloboma do nervo óptico bilateral associado a
† t(4p; 8p) de novo. Esse paciente é monossômico para 4p 16.1 um cisto orbitário, que causou deslocamento do nervo
pter (tamanho de deleção = 12 Mb) e trissômico para 8p23pter
óptico e deformidades no globo ocular.
(tamanho da duplicação 8p = 8 Mb).
Apenas um paciente apresentava glaucoma congênito.
deleções isoladas em 8 de 10 pacientes. Havia rearranjos Nesse paciente, buftalmo (mais grave no olho direito
duplos nos outros dois pacientes: uma translocação do que no olho esquerdo) foi observado no nascimento,
t(4p;8p) desequilibrada de novo (paciente 6) e uma que foi associado à disgenesia do segmento anterior
grande duplicação 4q translocada no 4p deletado com opacidade da córnea, coloboma da íris e catarata.
(paciente 3). Os resultados são resumidos na Tabela 1. Com relação a anomalias oculares leves, hipertelorismo
A região crítica na SWH (WHSCR-2) foi incluída no foi um achado constante em nossos pacientes. A
intervalo de deleção em cada paciente. condição exerce um papel importante na determinação
da aparência facial típica de pacientes com SWH e
Fenótipo também é observada em associação com deleções
Todos os pacientes, com exceção de um, nasceram muito pequenas.
prematuramente (tempo médio da gestação de 36,5 O estrabismo representou uma das alterações mais
semanas). Todos apresentaram retardo de crescimento frequentes em nossa pesquisa, detectado em 9 de 10
intrauterino e pós-natal, atraso psicomotor, aparência pacientes. Todos os 9 pacientes exibiram um exodesvio
facial típica, microcefalia e convulsões. Cardiopatia que pareceu não estar relacionado à extensão da deleção
congênita, hipoplasia renal e hipospádia foram 4p. Na verdade, foi observado em associação com
observadas em associação a grandes deleções 4p (>8 deleções abrangendo 23, 20, 12, 8 e 2,6Mb. Com relação
Mb) (consulte os e-Supplements 1 e 2, disponíveis em a erros refrativos, dois pacientes eram hiperópicos,
105
Tabela 2. Achados oftálmicos e do SNC em pacientes com SWH e extensão da deleção 4p
um era míope, dois apresentavam astigmatismo uma relação entre a hipoplasia do corpo caloso e
hiperópico e dois pacientes eram míopes, astigmáticos colobomas oculares.
e anisometrópicos. Refrações cicloplégicas não foram Alguns casos de glaucoma congênito em pacientes com
estimáveis em dois pacientes devido à condição ocular SWH foram relatados anteriormente.15 Nesses relatos,
patológica e, em um caso, os pais do paciente negaram o glaucoma sempre foi associado a uma deleção grande.
cicloplegia. O desenvolvimento alterado do olho pode levar a um
Discussão aumento da pressão intraocular.
A Síndrome de Wolf-Hirschhorn é uma síndrome de Também constatamos alta incidência de estrabismo
genes contíguos, bem caracterizada e causada por divergente em nossos pacientes em comparação ao que
deleção parcial do braço curto do cromossomo 4. Os geralmente é detectado em uma população geral de
fenótipos básicos incluem atraso do crescimento, pacientes com estrabismo em que há uma prevalência
aparência facial típica, atraso intelectual e convulsões. mais alta de esodesvio (eso/exo 4/1).16 Hipertelorismo
Dependendo da extensão da deleção, sinais clínicos com grande deslocamento lateral subjacente das órbitas
adicionais incluem malformações significativas, como pode ser a causa desse achado em pacientes com
defeitos cardíacos congênitos, defeitos da linha média SWH.16
e anormalidades renais.9-12 Zollino e colegas13
descreveram a correlação entre o tamanho da deleção e a Houve variabilidade na presença de hipertelorismo em
frequência das anormalidades sistêmicas. A severidade pacientes com SWH: Wu-Chen e colegas6 estudaram
do fenótipo na SWH depende, em grande parte, da dez pacientes com deleções 4p parciais e detectaram
extensão da deleção: deleções maiores que 3,5 Mb foram hipertelorismo em um paciente, ao passo que Maas e
associadas a anormalidades mais sistêmicas. Relatamos colegas17 detectaram hipertelorismo em 100% dos
aqui uma avaliação clínica e genética de 10 pacientes pacientes com grandes deleções 4p e em 80% dos
com SWH, com atenção especial às manifestações pacientes com deleções pequenas. Em nosso estudo,
oculares associadas à síndrome. observamos hipertelorismo em 100% dos pacientes.
Um cisto colobomatoso intraorbitário em um paciente Essa diferença entre nosso estudo e o estudo de Wu-
com SWH apenas foi previamente descrito por Chen e colegas foi provavelmente em decorrência da
Tutunculer e colegas.14 Ressaltamos que os Pacientes extensão da deleção; analisamos pacientes que portavam
4 e 3 em nosso estudo e um caso mencionado por tanto deleções grandes quanto deleções pequenas.
Tutunculer compartilham várias características clínicas Este estudo indicou que diversas manifestações
semelhantes. Essas características incluem a presença oculares típicas definiram o fenótipo da SWH e que sua
de defeitos da linha média do sistema nervoso central gravidade dependeu, em grande parte, da extensão da
na forma de hipoplasia do corpo caloso, assim como deleção 4p.
fenótipos clínicos especialmente severos. Isso sugere
106
Afiliações do autor: aInstituto de Oftalmologia, bDepartamento de Pediatria e cInstituto de Genética, Universidade
Católica de Roma, Roma, Itália
Enviado em 15 de julho de 2008.
Revisão aceita em 9 de fevereiro de 2009.
Solicitações de reimpressão: Rosa Parrilla, MD, Istituto di Oculistica, Policlinico A. Gemelli, largo A. Gemelli 8, 00168
Roma, Itália (email: roparrilla@yahoo.it).
Direitos autorais © 2009 pela American Association for Pediatric Ophthalmology and Strabismus.
1091-8531/2009/$36.00 1 0
doi:10.1016/j.jaapos.2009.02.011
107
16. Comprometimento renal na SWH (refluxo vesicouretal
assiado a displasia renal)
SILVIU GRISARU · IAN J. RAMAGE · NORMAN D. ROSENBLUM
Resumo A síndrome de Wolf-Hirschhorn (SWH) é causada por uma deleção parcial do braço curto do cromossomo 4 (4p16.3) e
é caracterizada por retardo do crescimento pré e pós-natal, atraso do desenvolvimento e múltiplas anomalias congênitas, incluindo
malformações do sistema urogenital. Descrevemos o fenótipo renal e do trato urinário em uma série de seis crianças com SWH. O refluxo
vesicoureteral estava presente em quatro de nossos seis pacientes (5 de 10 ureteres), uma anormalidade não relatada anteriormente na
SWH.
110
17. Compromentimento auditivo na SWH
SECKIN O. ULUALP, MD; CHARLES G. WRIGHT, PHD; KAREN S. PAWLOWSKI, PHD; PETER S. ROLAND, MD
Objetivos/Hipótese: Realizar exame histológico dos ossos temporais adquiridos de uma criança com síndrome de Wolf-Hirschhorn
com ênfase na identificação de anormalidades que possam ser responsáveis pelo comprometimento auditivo nesse distúrbio. Desenho
do Estudo: Revisão retrospectiva de caso. Métodos: Ossos temporais foram coletados na necrópsia de uma criança de 10 meses de idade
com síndrome de Wolf-Hirschhorn. O osso temporal do lado direito foi estudado por microdissecção. O ouvido médio foi examinado
e os órgãos sensoriais do ouvido interno foram dissecados para análise por microscopia óptica. O osso temporal do lado esquerdo foi
embebido em celoidina e seções foram cortadas para exame microscópico. Resultados: Otite média crônica foi observada em ambos os
ouvidos. Inflamação, derrame e adesões estavam presentes no espaço do ouvido médio. O martelo apresentava malformação e constatou-
se que o nervo da corda timpânica passava através do osso do martelo bilateralmente. Havia uma área de perda de células ciliadas
externas nitidamente definida na volta basal inferior do órgão de Corti do lado direito, e foram observados defeitos no osso da lâmina
espiral óssea apical em ambas as cócleas. Conclusão: Além da presença de otite média, a probabilidade de anormalidades congênitas
do ouvido médio e interno deve ser considerada na avaliação de pacientes com síndrome de Wolf-Hirschhorn com comprometimento
auditivo. Palavras-chave: Doença do osso temporal humano, síndrome de Wolf-Hirschhorn, nervo da corda timpânica, martelo.
INTRODUÇÃO
A síndrome de Wolf-Hirschhorn, que ocorre em 1 a cada
50.000 nascimentos, com predominância feminina, é
o resultado de uma deleção parcial do braço curto do
cromossomo 4 (4p-).1–5 Tanto translocação quanto
deleções de novo foram relatadas como responsáveis
por mutações 4p-.6–8 A maioria das crianças afetadas
sobrevive até a idade adulta, mas nos primeiros anos de
vida a taxa de mortalidade pode atingir até 35%.4,9–11
As características fenotípicas da síndrome de Wolf-
Hirschhorn incluem diversas anormalidades, como
microcefalia, face de guerreiro grego, sobrancelhas
altamente arqueadas, hipertelorismo, orelhas baixas,
boca voltada para baixo, fenda labial ou palatina,
assimetria craniofacial, ptose e escoliose (Fig. 1). Os
pacientes apresentam crescimento lento, deficiência
intelectual, distúrbios convulsivos, hipotonia, anomalias
cardíacas e perda auditiva.4,5,11,12
O comprometimento auditivo ocorre em cerca de 33%
dos pacientes e possivelmente atrasa o desenvolvimento
da linguagem e educacional.4,11 Portanto, recomenda-
Fig. 1. Criança com síndrome de Wolf-Hirschhorn5 (reproduzida
se avaliação auditiva como parte da supervisão de com autorização). Várias características associadas à síndrome são
saúde e da orientação antecipada na síndrome de evidentes: sobrancelhas altamente arqueadas, base nasal larga e
Wolf-Hirschhorn.4 Ambos os tipos de perda auditiva, olhos amplamente espaçados, sugestivos da aparência de “capacete de
condutiva e neurossensorial, foram descritos.4,11 Otite guerreiro grego”. Fotografia de uma criança com síndrome de Wolf-
Hirschhorn reproduzida com autorização de Lewanda A, Jabs E.
média serosa crônica é frequentemente observada
Dysmorphology: genetic syndromes and associations. In: McMillan
nesses pacientes e foi sugerida como um fator de JA, DeAngelis CD, Feign RD, Warshaw JB, eds.
contribuição na perda auditiva condutiva.4,11 Oski’s Pediatrics Principles and Practice. Philadelphia, PA: Lippin-
Até o momento, achados histopatológicos de ossos cott Williams & Wilkins; 1999:2233.
temporais foram relatados em apenas um caso, em que criança com síndrome de Wolf-Hirschhorn. O foco do
foram descritos defeitos do ouvido médio e interno.13 presente estudo estava em identificar anormalidades
Ainda não foi estabelecido se anormalidades estruturais que podem ser responsáveis pelo comprometimento
do ouvido médio e interno ocorrem de maneira auditivo associado a esta condição.
consistente neste distúrbio. Apresentamos achados de
um par adicional de ossos temporais obtidos de uma
111
MATERIAIS E MÉTODOS horizontal a uma espessura de corte de 18 a 20 µm da
Ossos temporais foram coletados na necrópsia de uma parte superior à inferior.
criança do sexo masculino, caucasiana, de dez meses de Uma série de seções sequenciais foi corada com H&E
idade, e foram fixados em formalina ou glutaraldeído para exame por microscopia óptica.
aproximadamente 18 horas após o óbito. As amostras Especialmente em casos em que achados semelhantes
foram então preparadas para estudo histológico, são esperados nos ouvidos direito e esquerdo, pode ser
conforme segue. útil para o pesquisador processar um osso temporal
pelo método de microdissecção e o outro por fixação
em celoidina e seccionamento, conforme realizado
nessa investigação. Os dois métodos de processamento
possuem benefícios e limitações específicas, e tendem
a se complementar, permitindo uma avaliação mais
abrangente da anatomia do ossos temporais em um
paciente individual.14–16 A microdissecção é, de
certo modo, a abordagem menos familiar; contudo,
ela permite observação direta e tridimensional de
estruturas intactas do ouvido médio e interno, uma
Como um subconjunto de anormalidades genéticas, deleções subteloméricas foram constatadas em 7–10% dos indivíduos com
deficiência intelectual (DI). Uma deleção subtelomérica, a síndrome de Wolf-Hirschhorn (SWH), causa DI leve a severa, mas as
características cognitivo-comportamentais dos indivíduos com SWH não foram estudadas de maneira sistemática. Para tanto, aplicamos
uma bateria cognitivo-comportamental abrangente em 12 crianças com a SWH, entre 4–17 anos de idade, que também apresentavam
alguma linguagem expressiva. Usando o teste de Stanford-Binet (4º Edição), constatamos que os déficits cognitivos variavam de leve a
severo, com QI médio = 44,1. Ao entrevistar pais com as Escalas de Comportamento Adaptativo de Vineland, constatamos a pontuação
de comportamento adaptativo médio (DQ [quociente de desenvolvimento]) = 37,3, sendo que as mulheres apresentaram pontuações
ligeiramente mais altas do que homens. Os perfis cognitivos indicaram pontos fortes no Raciocínio Verbal e Quantitativo. Os perfis
de comportamento adaptativo indicaram pontos fortes relativos significativos no Domínio de Socialização. Esses perfis cognitivo-
comportamentais divergiram dos de crianças com outras síndromes de deleção subtelomérica, 2q37 ou 8p23. O transtorno de déficit de
atenção com hiperatividade (TDAH) foi observado em 7/12 (58%) das crianças que testamos. Uma criança obteve uma pontuação na
Escala de Classificação de Autismo na Infância (CARS) sugestiva de autismo leve. Concluímos que distúrbios genéticos diferentes, que
causam DI, produzem perfis cognitivo-comportamentais diversos. Consequentemente, os perfis cognitivo-comportamentais de crianças
com DI precisam ser avaliados de maneira mais abrangente. © 2008 Wiley-Liss, Inc.
COMO SE REFERIR A ESTE ARTIGO: Fisch GS, Battaglia A, Parrini B, Youngblom J, Simensen R. 2008. Cognitive-behavioral features
of children with Wolf–Hirschhorn syndrome: Preliminary report of 12 cases. Am J Med Genet Part C Semin Med Genet 148C:252–256.
Gene S. Fisch atualmente é Bioestatístico Sênior e Professor de Pesquisa nas Faculdades de Odontologia e Enfermagem da NYU e Professor
Adjunto da Universidade de Yeshiva. Seus interesses de pesquisa incluem distúrbios genéticos que causam dificuldades de aprendizagem e/ou
autismo. Ele estudou desenvolvimento cognitivo-comportamental em crianças com a síndrome do X frágil, síndrome de William–Beurens e
Neurofibromatose Tipo 1. Ele também se interessa por epistemologia de transtornos globais do desenvolvimento e autismo.
Agatino Battaglia é Professor Contratado de Neuropsiquiatria Pediátrica de Pós-Graduação da Faculdade de Medicina, Universidade de
Pisa, Itália; e Professor Adjunto de Pediatria do Centro de Ciências da Saúde da Universidade de Utah, Divisão de Genética Médica,
Departamento de Pediatria, Salt Lake City, UT - EUA. Ele tem certificação do Conselho de Neurologia e Pediatria Clínica. É Diretor da
Unidade de Dismorfologia Clínica, Chefe do Centro para Estudo de Síndromes de Malformações Congênitas e Diretor de Pesquisa em
Neuropsiquiatria, no Instituto Stella Maris de Pesquisa Clínica em Neurologia e Psiquiatria para Crianças e Adolescentes, Calambrone
(Pisa), Itália. Possui um grande interesse de pesquisa em dismorfologia clínica, genética neuropsiquiátrica e neurofisiologia clínica.
Dra. Barbara Parrini é psicóloga do Instituto Stella Maris de Neuropsiquiatria em Crianças e Adolescentes. Ela possui grande interesse nos
perfis neuropsicológicos e comportamentais de indivíduos com distúrbios cromossômicos e transtornos globais do comportamento.
Janey Youngblom é Professora de Biologia, Universidade Estadual da Califórnia, Stanislaus. Seus interesses incluem análise por microarray
de indivíduos com deleção 8p23 e a capacitação de consultores genéticos.
Richard Simensen é neuropsicólogo do Centro de Genética de Greenwood, Carolina do Sul. Seus interesses de pesquisa incluem estudos de
crianças com síndrome do X frágil, síndrome de William e deficiência intelectual relacionada ao cromossomo X.
*Correspondência para: Gene S. Fisch, Ph.D., Bluestone Clinical Research Center, NYU Colleges of Dentistry & Nursing, 421 First Ave., 2nd
Fl., New York, NY 10010. E-mail: gene.fisch@nyu.edu - DOI 10.1002/ajmg.c.30185 - Publicado online em 16 de outubro de 2008 em Wiley
InterScience (www.interscience.wiley.com)
MÉTODOS
Participantes
Emocionalidade/ Temperamento
Autismo
118
Para obter as medidas de suas habilidades cognitivas, 3a, as pontuações médias de SAS para RV (49,67) e RQ
um de nós (G.S.F.) administrou o teste SBFE a todas (49,86) foram maiores do que as pontuações médias de
as dez crianças recrutadas de centros nos EUA. Para SAS para RAV (43,88) e MCP (43), mas as diferenças não
as crianças recrutadas para o estudo na Itália, foram foram estatisticamente significativas. Os três genótipos
aplicadas as escalas de Griffiths (N = 1) ou Leiter subteloméricos e a Área Padrão foram comparadas de
(N = 1). As pontuações de QI de Griffiths e Leiter se maneira estatística usando-se um modelo ANOVA de
correlacionam bastante com o SBFE. Todos os pais efeitos mistos. Os resultados (vide Tabela I) mostram
ou cuidadores dos participantes foram entrevistados que há diferenças estatisticamente significativas nos
utilizando VABS e CARS. Todos os pais e cuidadores padrões de SAS de genótipos de deleção subtelomérica
também preencheram a CRS e CBCL. Todas as (P<0,02), mas as áreas de SAS individuais não foram
avaliações nos EUA foram classificadas por um de nós significativamente diferentes entre os genótipos, do
(G.S.F.). ponto de vista estatístico (Fig. 4).
Os perfis de comportamento adaptativo foram
RESULTADOS avaliados de maneira semelhante. Calculamos as
pontuações médias dos Domínios de Comunicação,
A pontuação média de QI para nossa amostra de HVD e Socialização para crianças com SWH, após
crianças com a SWH foi de 44,1 (faixa: 33–64). Quando isso, comparamos essas pontuações com as pontuações
comparamos o sexo masculino (n = 6) com o feminino de domínio médio para as outras duas deleções
(n = 6), não constatamos diferenças significativas subteloméricas. Os resultados mostram que, entre
entre os dois grupos. A pontuação média de QI para crianças com SWH, a pontuação média de Socialização
o sexo feminino foi de 45 (faixa: 33–60); para o sexo (51,75) foi significativamente mais alta do que a
masculino, o QI médio foi de 43 (faixa: 36–64). As pontuação média de Comunicação (38,42) ou HVD
pontuações médias de QI para crianças no grupo de (32,67)
SWH foram comparadas com as pontuações médias (χ2 = 5,94; P = 0,05). No entanto, quando as pontuações
de QI para crianças com duas outras síndromes de do domínio para crianças com SWH foram comparadas
deleção subtelomérica: 2q37 (n = 7) ou 8p23 (n = 7). com as outras duas deleções subteloméricas, não foram
Os resultados são exibidos na Figura 1. As pontuações constatadas diferenças estatisticamente significativas.
médias de QI para crianças com a SWH foram mais Usando a CRS, calculamos a proporção de crianças
baixas do que para aquelas com outras síndromes de cujos níveis de atividade e falta de atenção eram
deleção subtelomérica, mas as diferenças não foram compatíveis com um diagnóstico de DDA ou DDAH.
estatisticamente significativas. Entre as crianças com SWH, 7/12 (58%) das crianças
A pontuação média de comportamento adaptativo em nossa amostra atenderam a esses critérios. Entre
(DQ) para crianças com SWH foi de 37,3 (faixa: 19– as crianças com 2q37, 5/7 (72%) atenderam a esses
63). Também comparamos as pontuações de DQ para critérios, ao passo que 4/7 (58%) crianças com 8p23
homens e mulheres. Os resultados mostram que a atenderam aos critérios.
pontuação média de DQ para mulheres foi de 41,67 Usando a CBCL, computamos a proporção de crianças
(faixa: 19–63), mais alta do que a DQ média para com SWH que apresentaram problemas emocionais
homens, de 33,0 (faixa: 23 - 47), mas a diferença nas significativos. Descobrimos que, apesar de suas
pontuações médias de DQ não foi estatisticamente fortes habilidades de Socialização, 5/12 (42%) foram
significativa. As pontuações médias de DQ para reconhecidas como tendo problemas sociais, 4/12 (33%)
crianças no grupo de SWH foram comparadas com com problemas de atenção e 1/12 (8%) com problemas
as pontuações médias de DQ para crianças com a de pensamento.
deleção 2q37 e 8p23. Os resultados são mostrados na Por fim, usando CARS, entrevistamos pais e
Figura 2. As pontuações médias de DQ para crianças examinamos participantes para averiguar o status de
com a SWH foram mais baixas do que para aquelas autismo de crianças com SWH. Observamos uma
com deleções subteloméricas, porém as diferenças não criança (8%) cuja pontuação em CARS foi ≥30. Essa foi
foram estatisticamente significativas. uma proporção muito menor do que aquela observada
Para avaliar os perfis cognitivos em crianças com SWH, em crianças com a deleção 2q37 (3/7 ou 42%) ou 8p23
analisamos suas pontuações de SAS, depois, comparamos (5/7 ou 58%).
as pontuações médias de SAS para raciocínio verbal,
raciocínio abstrato/visual, raciocínio quantitativo e RESUMO E DISCUSSÃO
memória de curto prazo, com as respectivas pontuações
médias de SAS para crianças com a deleção 2q37 e 8p23. Microdeleções na região 4p16.3 são variáveis em
Os resultados são exibidos nas Figuras 3a,b. Na Figura tamanho, mas podem produzir características clínicas
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semelhantes no fenótipo que caracteriza a SWH. Zollino raciocínio quantitativo, raciocínio abstrato/visual e
et al. [2000] descobriram que a severidade do fenótipo memória a curto prazo, mas essas pontuações não
da SWH está relacionada ao tamanho e à região de foram significativamente mais baixas (dados não
deleção. No entanto, nesse estágio preliminar de nosso apresentados).
estudo, são somos capazes de determinar uma relação As habilidades comportamentais adaptativas de todas
entre o tamanho da deleção e as capacidades cognitivo- as crianças com SWH que avaliamos ficaram abaixo do
comportamentais. Além disso, ao excluir crianças adequado. No entanto, as crianças com SWH exibiram
que não apresentam fala e linguagem expressivas, uma significativa vantagem relativa em Socialização em
provavelmente estamos avaliando crianças que são comparação com comunicação e habilidades da vida
funcionais no limite da capacidade cognitiva para esse diária. Em comparação, as crianças com deleção 2q37 ou
distúrbio. Contudo, será importante estabelecer uma 8p23 exibiram um perfil baixo, relativamente uniforme,
relação genótipo-fenótipo em crianças com a SWH; e das habilidades comportamentais adaptativas. No
esperamos ampliar esse aspecto de nosso estudo. entanto, as pontuações de Socialização de crianças com
Para elaborar o fenótipo de maneira mais completa, deleção 2q37 ou 8p23 não foram significativamente
examinamos as capacidades cognitivas e o reportório diferentes daquelas com SWH. Ao realizar uma
comportamental de 12 crianças, com idades entre 4 e comparação com crianças que testamos anteriormente,
17 anos, com diagnóstico de SWH e que apresentam com diagnóstico de FRAXA ou SWB, as crianças com
alguma fala e linguagem expressivas. Descobrimos que SWH apresentaram um padrão significativamente
seus déficits cognitivos variavam de DI leve a severa. Em diferente de habilidades do domínio comportamental
geral, suas capacidades cognitivas foram menores do adaptativo (P<0,0001; dados não apresentados) e
que as de crianças com outras deleções subteloméricas, habilidades de domínio individual marginalmente
2q37 e 8p23. inferiores (P = 0,06; dados não apresentados).
Crianças com SWH exibiram vantagens relativas em Também notamos níveis de hiperatividade e desatenção
Raciocínio Verbal e Quantitativo, e desvantagens em crianças com SWH que são compatíveis com um
relativas em Raciocínio Abstrato/Visual e Memória de diagnóstico de TDA e TDAH. Entretanto, TDA e
curto prazo. O padrão das vantagens e desvantagens TDAH são características comórbidas frequentemente
constatado em crianças com SWH difere daquele observadas em indivíduos com DI. Também observamos
observado em crianças com deleções 2q37 e 8p23 que altas taxas de TDAH nas deleções subteloméricas 2q37 e
apresentam perfis cognitivos relativamente uniformes. 8p23. Problemas emocionais e de temperamento foram
A incapacidade de alcançar significância estatística considerados primariamente associados a dificuldades
entre as vantagens no raciocínio verbal e quantitativo para uma boa relação social e dificuldade de manter a
e as desvantagens no raciocínio abstrato/visual e atenção.
memória de curto prazo provavelmente se devam à O comportamento do tipo autista exerce um papel
variabilidade nas pontuações de SAS em relação ao menos proeminente em crianças com SWH do que
pequeno tamanho da amostra. entre outras crianças com deleções subteloméricas. Em
Anteriormente, caracterizamos os perfis cognitivo- nosso estudo, descobrimos que crianças com 2q37 e
comportamentais em crianças com outros distúrbios 8p23 apresentam taxas muito mais altas de autismo do
genéticos que causam DI – a síndrome do X frágil que as crianças com SWH.
(FRAXA) e síndrome de Williams-Beurens (SWB) – Nosso estudo de crianças com SWH corrobora nossa
e observamos um padrão semelhante de vantagens e convicção de que diferentes distúrbios genéticos
desvantagens [Fisch et al., 2007] no raciocínio verbal produzem perfis cognitivo-comportamentais
e quantitativo. Contudo, as pontuações de raciocínio diferentes; e que perfis cognitivo-comportamentais de
verbal para crianças com FRAXA ou SWB foram crianças com distúrbios genéticos que causam DI ou
significativamente mais altas do que naquelas com dificuldades de aprendizagem precisam ser explorados
SWH (P<0,03; dados não apresentados). As crianças de forma mais abrangente.
com SWH também tiveram menor pontuação no
Agradecemos a Wendy Trout, Presidente do Grupo de Apoio de Pais de Wolf-Hirschhorn, por convidar as famílias
de crianças com SWH para participarem de nossp estudo; Faith Callis-Daley, consultora genética de Columbus OH,
que contatou as famílias de crianças com 8p23; e Marnie Beacham, Salt Lake City, UT, que contatou as famílias de
crianças com 2q37. Somos muito gratos ao apoio da Fondation Jérôme Lejeune, Paris, França, que financiou nosso
projeto e sem essa ajuda não conseguiríamos ter realizado nosso estudo.
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19. Uso de hormônio de crescimento na SWH (relato de caso)
DEVON E. AUSTIN1, ALISTAIR J. GUNN2,3 E CRAIG A. JEFFERIES3,*
1Faculdade de Medicina de Brighton e Sussex, Brighton, Reino Unido, 2Departamento de Fisiologia, Universidade de Auckland,
Auckland, Nova Zelândia, e 3Endocrinologista Pediátrico, Hospital Pediátrico Starship, Auckland, Nova Zelândia
*Endereço para correspondência. Endocrinologista Pediátrico, Starship Children’s Hospital, Park Road, Grafton, Auckland, Nova
Zelândia. Tel: +64-9-379-7440; Fax: +64-9-3754371; E-mail: craigj@adhb.govt.nz
RESUMO: A síndrome de Wolf-Hirschhorn (SWH) é um distúrbio congênito raro que ocorre em aproximadamente 1/50.000
nascimentos, com insuficiência de crescimento pré e pós-natal acentuada. A SWH resulta da deleção hemizigótica abrangendo a região
4p16.3. Este relato de duas crianças com SWH mostra que o tratamento com hormônio do crescimento em crianças selecionadas com
SWH e baixa estatura severa pode ter um efeito significativo no crescimento em longo prazo.
Figura 2: Altura durante a terapia com GH no Caso 2, caixas azuis representam a idade óssea.
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