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Universidade do Vale do Taquari - Univates

Disciplina de Atelier Integrado V - Semestre 2021A


Prof. Arq. Dra. Jamile Weizenmann
Nathália Casagrande

Estudo Independente 3 - Texto crítico/reflexivo sobre o projeto

A disciplina de Atelier Integrado V nos foi apresentada em fevereiro de 2021 como algo
que ainda não havíamos acompanhado de perto na nossa jornada acadêmica, e como algo
que realmente muitas vezes vivemos com pouco ou até mesmo sem ter contato, isso nos
deixou empolgados logo de cara. E é incrível como a arquitetura pode ser expressada e
ampliada de diversas formas, mudar a vida de tantas pessoas, e o quanto isso é
importante… O tema desse projeto foi Habitação de Interesse Social, e teve como objetivo
desenvolver a prática projetual estabelecendo relações entre estrutura formal, programa e
lugar, na escala urbana; Conscientização sobre o papel social da habitação e sua inserção
na cidade e capacitação do estudante para o uso de sistemas construtivos racionalizados.
Hoje, infelizmente pouco se vê a atuação da nossa profissão quando se trata de questão
social. No Brasil parecem reduzir a profissão tão somente a arquitetura autoral, destinada
quase exclusivamente às pessoas de alta renda, claro que sempre com suas exceções,
mas esse é o perfil que vemos quando percorremos o que se considera a atual produção
arquitetônica “de sucesso” no nosso país. Em outras palavras, o universo em que se coloca
a atuação do arquiteto no Brasil é fenomenalmente reducionista.
“Não estaríamos, ao exacerbar cada vez mais o culto à atividade profissional autoral
destinada à alta renda, correndo o risco de limitar perigosamente nosso campo de atuação
a um mercado que é estruturalmente reduzido? Não estaríamos nos arriscando a repetir os
erros do passado que levaram nossa profissão a se distanciar da realidade urbana
brasileira, uma tragédia em que quase a metade da população sequer tem acesso à casa,
quanto menos à arquitetura? Pois é disso que se trata: da constatação de que a arquitetura
brasileira, não obstante seu inegável sucesso internacional, fracassou no seu papel social.
É a única conclusão que se pode tirar ao olhar para um país onde, em média, 40% da
população urbana vive precariamente, sem arquitetura nem urbanismo. Uma tragédia, que
deveria tirar o sono dos arquitetos. A arquitetura e o urbanismo, quando vistos como uma
profissão central na sociedade, que reflete e propõe a organização do território e do espaço
construído, tem uma vocação indiscutivelmente transformadora. Porém, para além das boas
obras de autores individuais, ela indiscutivelmente não foi capaz de sustentar uma
urbanização decente no nosso país.” - Trecho retirado do texto Perspectivas e desafios para
o jovem arquiteto no Brasil. Qual o papel da profissão? (Whitaker João,12, jul. 2011).

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Por isso e por tantas coisas mais o tema desse projeto é de tamanha importância na
nossa formação. A disciplina iniciou com muitos debates acerca do tema, com a
apresentação da alvenaria estrutural e referenciais arquitetônicos, definimos unidades
mínimas de apartamento, calculando juntos ambiente por ambiente, e assim fomos
seguindo o cronograma com nossas ideias e terreno apresentados com a proposta de
projeto de Habitação de Interesse Social.
Terreno este que fica localizado na cidade de Lajeado, no Rio Grande do Sul. Cidade com
uma população de 71.445 habitantes e densidade demográfica de 793.07 hab/km2 (Censo
2010). O bairro Jardim do Cedro, onde está inserido a área de implantação do projeto,
possui uma população de 3.692 habitantes. (CENSO 2010), o terreno de 20.325m² está
localizado na quadra formada pelas ruas Avenida Henrique Stein Filho, via primária, Rua
Octavio Trierweiler, Rua Antônio Silvestre Arenhart e Rua João Fernando Schneider, vias
secundárias.

Fonte Google Maps.

Zona:2 Setor:10 UTP: 3; IA (Índice de aproveitamento): 3,00 3x20.325 = 60.975m2; TO


(Taxa de Ocupação): 75% Área: 15.243,75; TP (Taxa de permeabilidade): 12,5%; Recuo de
jardim: 4m; Afastamentos em função da altura: Lateral: Base de 13,20m de altura - isenta;
Insolação e ventos: Com o norte em direção a Avenida Stein Filho, essa é a fachada mais
favorável no quesito insolação (verão das 6h às 13h; inverno desde o nascer até o pôr do
sol; equinócios nascer até o meio da tarde). A face voltada para a Rua João Fernando
Schneider recebe o sol da tarde no verão, e nos equinócios as duas últimas horas do sol da
tarde, sem sol no inverno, tornando-se menos favorável. A fachada voltada para a Rua

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Antônio Silvestre Arenhart irá receber sol da tarde no inverno, equinócios e pegará muito o
sol de verão, já na última fachada analisada, a da Rua Octavio Trierweiler podemos
considerar também como uma insolação razoável, pois pega todo o sol da manhã no verão
e equinócios e até as 10h da manhã no inverno, onde pode se tornar uma fachada mais fria.
Os ventos predominantes de verão vem do Sudeste e os ventos predominantes de inverno
vem do Nor-Noroeste.
O entorno do terreno tem predominância em casas de um pavimento, com bastante
arborização. A Avenida Stein Filho é asfaltada e as demais ruas que compõem a quadra do
terreno são pavimentadas com paralelepípedos, há uma ciclovia na Avenida Stein Filho, o
que possibilita a maior circulação de pessoas na quadra. A Rua Benno José Zart que
“divide” a quadra não é pavimentada. A Rua Antônio Silvestre Arenhart e parte da Rua
Octavio Trierweiler até o presente momento não possuem calçadas, então projetamos uma
previsão.
O terreno possui um desnível no sentido sul-sudoeste para nor-nordeste, o ponto central é
o ponto mais alto do terreno, já que as curvas começam praticamente no eixo central
descendo para suas laterais. Os maiores ruídos são gerados pelos veículos na Avenida
Henrique Stein Filho. Temos a presença de uma metalúrgica e uma recuperadora de
embreagem na mesma avenida, que podem gerar também possíveis ruídos. Nas demais
ruas os ruídos são menores.
Quanto às vias e passeios, Avenida Stein Filho tem 8,5m, as outras vias que compõem a
quadra são todas de 10 metros. As calçadas construídas até hoje são de 2m.

Terreno modelado em SketchUp.

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- Intenções de projeto
Gestão: Projetar espaços que não sejam de difícil manutenção para os habitantes. Sempre
que possível ouvi-los entendendo as reais necessidades, desejos, e anseios. Prestando
atenção na superlotação e viabilidade econômica;
Acessibilidade: Espaços bem pensados e planejados, tanto privado quanto compartilhado,
acessibilidade para todos;
Integração: Espaços de convívio entre os usuários. Integração com o restante da cidade,
para que quem mora ali não se sinta deslocado;
Segurança: Garantir segurança a essas pessoas de maior vulnerabilidade, ações como o
cuidado com a iluminação dos conjuntos à noite, de forma a atingir todas as áreas
vulneráveis, a não utilização de paredes cegas voltadas para vias de circulação dos
usuários, dentre outras;
Entorno: Ter um lar, um espaço de uso não é apenas a unidade de habitação, é todo um
entorno, é ter trabalho perto, é ter mercado, ter lazer, segurança, ter acessibilidade a tudo
que a cidade tem para oferecer, por isso o local deve ser muito bem pensado e analisado,
não somente jogado em um canto da cidade.
Como vamos construir? Como vamos manter? Como vai ser o dia a dia das pessoas que
usufruem deste espaço? Esses questionamentos foram bem presentes nas decisões do
projeto, afinal a ideia sempre foi considerar a viabilidade econômica e social, e a inserção
urbana.
A presente proposta de implantação para
um conjunto de Habitação de Interesse
Social é composta por treze edifícios, sendo
onze de uso residencial e dois de uso
comercial e especial do condomínio. Neste
conjunto são abrigados duzentos
apartamentos, de um, dois e três dormitórios.
Seis destes apartamentos são dedicados a
portadores de necessidades especiais.
Todos os edifícios residenciais são de quatro
pavimentos, com estrutura formal em barra,
e entre eles temos três diferentes tipologias.
Já os edifícios de uso especial são de duas
tipologias diferentes, uma de três pavimentos
alocado estrategicamente na praça pública,

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com espaços como cafeteria e salão de beleza. E a segunda tipologia é um bloco de
dois pavimentos com academia e mercado, que pode também ser acessado pela Rua
Antônio Silvestre Arenhart. A implantação busca em todo momento uma boa interação com
os moradores vizinhos, visitantes dos espaços públicos e bairro. Com vias que atravessam
o condomínio de fácil acesso aos quatro cantos. Conta com áreas mais privativas e
públicas. As privativas para uso especial dos usuários, estacionamentos, quadra
poliesportiva, e espaços mais sossegados de lazer, descanso e contemplação. Arborizado
do início ao fim, com visuais e bancos espalhados pelo condomínio. Com base nas análises
locais e climáticas, o espaço aberto principal (praça pública) está alocado em uma rua de
maior movimento, e com boa insolação, na esquina principal do condomínio. Esquina da
Avenida Henrique Stein Filho com a Rua Octavio Trierweiler. Fatores: Uma ciclovia
compõem o trajeto da avenida, e nestes arredores estão alocados o Posto de Saúde, uma
Escola, Barbearia, Bazar, entre outros pontos de circulação que são muito positivos para
possíveis visitações. O espaço aberto principal segue um eixo central com acessibilidade a
todos que conecta o público ao privado. Os prédios e estacionamentos circundam a área
verde, e todos os estacionamentos são acessados pelas vias já existentes.
Constituída a partir das análises do lugar, plano diretor e programa de necessidades.
Desde o início a implantação foi pensada em ângulos retos, unindo o espaço público, área
condominial e de lazer.

Esquina principal onde a praça está localizada seguindo com o conjunto habitacional.
Em marrom escuro tipologia A, marrom médio tipologia B, marrom claro tipologia C.

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Visual ao lado do edifício de uso especial da praça, seguindo para o eixo central do condomínio.

Citando algumas melhorias, eu mudaria um pouco as fachadas dos edifícios e a


composição dos estacionamentos, tentaria organizar de alguma maneira o condomínio a ter
mais espaços para arborização, fazendo assim mais sombra para os carros. No geral gostei
bastante do resultado em ângulos, tanto no privado, quanto no público, das cores, das
rampas todas funcionando, acessibilidade e dos cantos arborizados e sossegados.
Fazer esse projeto foi muito importante e essencial para a minha vida pessoal,
profissional e acadêmica. Foi desafiador, as tantas curvas de níveis para resolver (achei que
não sairia do chão), a consciência, responsabilidade, e sensibilidade nos colocando no lugar
de usuário, no que diz respeito à funcionalidade, ao baixo custo, durabilidade, à privacidade,
a um lugar gostoso de estar, com um visual bacana, com um mercado pertinho… São
muitas variantes que se unem para um resultado, e no final, mesmo com pontos a melhorar,
eu moraria fácil neste condomínio. A arquitetura vai muito além, e conforme passam os
semestres mais conseguimos ter consciência disso, do quão lindo é estar nesse curso, o
quanto esse projeto fez “iluminar” essa outra face da arquitetura e do urbanismo, tanto a
parte técnica, pela dimensão do projeto, mas quanto a parte social, eu aprendi muito e
levarei para a vida.

“Precisamos esquecer a ideia de que arquitetura para pobre é arquitetura pobre. Tem que
ser a mesma arquitetura digna. O espaço público é tão importante quanto às edificações.”
Arquiteto César Dorfmann

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