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CENTRO UNIVERSITÁRIO DE JOÃO PESSOA – UNIPÊ

CURSO DE GRADUAÇÃO EM DIREITO

GUARDA COMPARTILHADA E SUA APLICAÇÃO AOS ANIMAIS


DOMÉSTICOS EM CONSEQUÊNCIA DA DISSOLUÇÃO DO MATRIMÔNIO
OU UNIÃO ESTÁVEL

SHARED CUSTODY AND ITS APPLICATION TO DOMESTIC ANIMALS AS


A RESULT OF THE DISSOLUTION OF MARRIAGE OR STABLE UNION

VICTOR HUGO MARTINS GONÇALVES FILHO

JOÃO PESSOA-PB
2021
1

VICTOR HUGO MARTINS GONÇALVES FILHO

GUARDA COMPARTILHADA E SUA APLICAÇÃO AOS ANIMAIS


DOMÉSTICOS EM CONSEQUÊNCIA DA DISSOLUÇÃO DO MATRIMÔNIO OU
UNIÃO ESTÁVEL

SHARED CUSTODY AND ITS APPLICATION TO DOMESTIC ANIMALS AS A


RESULT OF THE DISSOLUTION OF MARRIAGE OR STABLE UNION

Artigo Científico apresentado ao Curso de


Graduação em Direito do Centro Universitário
de João Pessoa (UNIPÊ), como requisito
parcial para a obtenção do título de
Bacharel(a) em Direito.

Orientador(a): Ms. Lucilene Solano de Freitas


Martins

JOÃO PESSOA-PB
2021
2

G635g Gonçalves Filho, Victor Hugo Martins


Guarda Compartilhada e sua aplicação aos animais
domésticos em consequência da dissolução do matrimônio ou
união estável/ Victor Hugo Martins Gonçalves Filho. - João
Pessoa, 2021.
24f.

Orientador (a): Prof. Lucilene Solano de Freitas Martins.


Artigo Científico (Curso de Direito) –
Centro Universitário de João Pessoa – UNIPÊ.

1. Família. 2. Multiespécies. 3. pets. 4. Sencientes. 5. Guarda


I. Título.

UNIPÊ / BC CDU – 347.6


3

FOLHA DE APROVAÇÃO

TCC – Trabalho de Conclusão de Curso,


apresentado ao Curso de Graduação em
Direito do Centro Universitário de João Pessoa
(UNIPÊ), como requisito parcial para obtenção
do título de Bacharel (a).

Atribuição de nota: ______________________

BANCA EXAMINADORA

________________________________________
Professor Ms. Lucilene Solano de Freitas Martins
Orientador(a)

________________________________________
Membro da Banca Examinadora

________________________________________
Membro da Banca Examinadora

João Pessoa, ___ / _______________ / _____.


4

GUARDA COMPARTILHADA E SUA APLICAÇÃO AOS ANIMAIS


DOMÉSTICOS EM CONSEQUÊNCIA DA DISSOLUÇÃO DO MATRIMÔNIO OU
UNIÃO ESTÁVEL

SHARED CUSTODY AND ITS APPLICATION TO DOMESTIC ANIMALS AS A


RESULT OF THE DISSOLUTION OF MARRIAGE OR STABLE UNION

Victor Hugo Martins Gonçalves Filho 1

RESUMO

Neste trabalho se analisará o status jurídico dado aos animais domésticos,


verificando-se a definição e o tratamento jurídico dado atualmente aos pets, assim
como se estudará a definição dada a família e suas mais variadas e possíveis
formações, dando enfoque a uma formação relativamente recente, a da família
multiespécie. Ainda será examinada a problemática do por que os animais domésticos
continuam sendo tratados como meros objetos financeiramente divisíveis dentro da
partilha de bens apesar de diariamente serem tratados por seus donos e familiares
como se filhos fossem, utilizando-se como referências principais a pesquisa
bibliográfica, como artigos, doutrinas e a própria legislação e trazendo definições de
autores atuantes na área do Direito Animal como Andreia de Oliveira Bonifácio Santos,
além de autores renomados na área cível como Flávio Tartuce e Maria Berenice Dias.
Tudo isto objetivando-se uma análise sobre a possibilidade de aplicação do instituto
da guarda, de forma análoga, nos casos que envolvam animais domésticos
entendidos por seus donos como filhos, ao menos até que uma legislação específica
seja desenvolvida e/ou aprovada e claro, buscando como resultado a viabilidade de
aplicação citada ou a criação e aprovação de leis específicas que tratem sobre o tema.

Palavras-chave: família. multiespécie. pets. sencientes. guarda.

ABSTRACT

This paper will analyze the legal status given to pets, verifying the definition and the
legal treatment currently given to pets, as well as studying the definition given to the
family and its most varied and possible formations, focusing on a relatively recent
formation, the multi-species family. We will also examine the problem of why pets are
still treated as mere objects financially divisible within the division of property despite
being daily treated by their owners and family members as if they were children, using
as main references the bibliographic research, such as articles, doctrines and the
legislation itself and bringing definitions of authors active in the area of Animal Law as
Andreia de Oliveira Bonifácio Santos, as well as renowned authors in the civil area as
Flávio Tartuce and Maria Berenice Dias. All this with the purpose of analyzing the
possibility of applying the custody institute, in an analogous way, in cases involving
domestic animals understood by their owners as children, at least until a specific
legislation is developed and/or approved, and of course, seeking as a result the
feasibility of the application mentioned or the creation and approval of specific laws
that deal with the subject.

1 Discente do Curso de Direito do Centro Universitário de João Pessoa (UNIPÊ). E-mail:


10679871@microsoft.unipe.br; Orientador/a: Ms. Lucilene Solano de Freitas Martins. E-mail:
lucilenesolano@gmail.com
5

Keywords: family. multi-species. pets. sentient. Guardianship

1 INTRODUÇÃO

Durante toda a evolução das espécies os seres humanos sempre dividiram


suas vidas com outros animais, surgindo assim um vínculo entre aqueles e algumas
poucas espécies. Tal ligação entre homem e animal, em determinados casos, evoluiu
tão significativamente que animais, antes selvagens, se desenvolveram e
transformaram-se no que hoje chamamos de domésticos ou domesticáveis. Com o
passar dos séculos os animais domésticos acabaram se popularizando e se tornando
quase que indispensáveis nas vidas das famílias, essa evolução continuou a crescer
até que suas vidas se tornassem tão importantes quanto a de qualquer outro membro
da família, tão importantes que tal relação vem ganhando destaque, principalmente
quando a pauta que vem a tona é a referente a guarda e divórcio, visto que nos dias
atuais a ligação entre os animais e esses institutos passou a ter grande relevância.
Diante desta nova realidade enfrentada, diversos especialistas surgiram e se
aprofundaram na área, da mesma forma, com a chegada da nossa Carta Magna e
diversas outras legislações ambientais, diversos debates surgiram a respeito dos
direitos dos animais. Tais questionamentos tomaram tanta força que hoje tramitam em
tribunais brasileiros e internacionais processos que visam exclusivamente tratar sobre
esses direitos, muitos deles tratando sobre a guarda dos animais domésticos
adquiridos no decurso do relacionamento e seus destinos após a dissolução desses.
Sendo esse o porquê de diversos países virem estudando e criando legislações
próprias para tratar sobre o tema ou mudando as interpretações de leis já existentes.
Nos dias atuais a legislação mais utilizada para definir e tratar os animais no
Brasil é o Código Civil, nele define-se os animais como bens móveis, neste caso bens
moveis semoventes, ou seja, bens que possuem a capacidade de mover-se por
vontade própria, não dependo de seu possuidor legal para tanto. Por tal definição, os
animais acabam sendo tratados como bens, e ficando a cargo do juiz a
responsabilidade de determinar a partilha dos bens móveis e imóveis, incluindo-se
aqui a partilha dos animais adquiridos no decurso do relacionamento. Restando claro
a necessidade de se salientar que os animais precisam ser reconhecidos como seres
passíveis de emoções e sentimentos e, portanto, de direitos, não mais devendo-se
tratá-los como meras coisas pelo poder judiciário nacional. Desta forma, utilizando-se
como referências principais a pesquisa bibliográfica, como artigos, doutrinas e a
própria legislação - incluindo-se aqui a análise de jurisprudências que defendam o
mesmo ponto de vista deste trabalho - e trazendo definições de autores atuantes na
área do Direto Animal, além de autores renomados na área cível. Tem-se como
objetivo demonstrar e defender a necessidade de aplicação do instituto da guarda,
presente em nosso código civil, nos casos que envolvam pets e dissoluções das
sociedades conjugais, ao menos enquanto não houver legislações específicas para
tratar do assunto, visando sempre a garantia, para os animais tratados e criados como
filhos, dos mesmos direitos garantidos aos filhos humanos em relação a manutenção
do vinculo entre os ex-companheiros com seus pets.
O presente trabalho de conclusão de curso se divide em quatro capítulos,
excluindo-se a introdução. No primeiro momento se tratará da família, suas definições
legais, evolução histórica e suas mais diversas formas de formação, dando especial
destaque a família multiespécie, infelizmente ainda não reconhecida oficialmente pela
legislação vigente, além disso será tratado do princípio da afetividade e do pluralismo
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familiar. Ainda dentro do primeiro capítulo será tratado sobre o status jurídico dado
aos animais domésticos pela atual legislação e seu enquadramento dentro da
definição de bens, em especial os bens semoventes e sencientes. Em segundo
momento se abordará o núcleo familiar entendido pelo casamento e/ou união estável
e sua dissolução formal. Já no terceiro capítulo se concentrará nas consequências
legais dessas dissoluções, nesse caso na guarda compartilhada, fazendo uma ligação
dessa guarda com os animais domésticos criados pelos casais. Além disso, se
apresentará os projetos de lei que tratam sobre o tema e que são possíveis soluções
para o problema demostrado no decorrer deste trabalho. Diante do exposto será́
analisada a possibilidade de aplicação da legislação do direito de família, aos pets,
indo de encontro a condição de bens semoventes enquadráveis na partilha de bens,
como previsto no código civil vigente, até que uma legislação especifica seja editada.
Utilizando para isso projetos de leis já existentes. A metodologia utilizada será a da
pesquisa bibliográfica, em que serão utilizados autores da área do direito animal e do
direito de família, assim com análise da legislação vigente.

2 FAMÍLIA E BENS

O Direito de família é uma das ramificações do Direito Civil, cujo conteúdo versa
sobre os mais diversos conteúdos relacionados as manifestações familiares, tais
como: “a) casamento; b) união estável; c) relações de parentesco; d) filiação; e)
alimentos; f) bem de família; g) tutela, curatela e guarda” (TARTUCE, 2019, p. 1055)
De acordo com Tartuce (2019), o Direito de Família contemporâneo pode ser
entendido em duas vertentes: uma no campo existencial e outra no patrimonial.
Aquela que trata sobre o direito existencial de família, baseia-se na dignidade da
pessoa humana, cujas normas são de ordem pública. Enquanto, que as normas de
ordem patrimonial, as normas são regidas através de uma questão de ordem privada.
A determinadação da vertente do Direito de Família Contemporâneo auxilia numa
melhor compreensão das possibilidades e alterações estruturais no decorrer dos
anos, onde se encontra o “bem de ordem pública” e o “bem de ordem privada”.

2.1 BREVE RESUMO SOBRE A FAMÍLIA

O Código Civil de 1916, não mais vigente, possui uma definição ultrapassada
do núcleo familiar, em que reconhecia sua formação, exclusivamente pelo casamento,
sendo vedada sua dissolução, esse entendimento se deu devido a interferência da
Igreja Católica, a época extremamente influente, dentre dos poderes dos Estados.
Além disso, o código trazia consigo diversas distinções, muitas delas discriminatórias,
como diversas regras e condições matrimoniais decididas unilateralmente pela lei,
onde as partes não possuíam quase ou nenhum poder de opinar, ditavam assim todo
o casamento do casal. Segundo Dias (2021) era uma legislação que instituía uma
família patriarcal, hierárquica, patrimonializada, heterossexual, protegida e gerada
pelo matrimônio, que tinha como objetivo a procriação com o intuito de manutenção e
conservação do nome, status e bens da família.
Com as mudanças sociais, houve a necessidade da elaboração do Estatuto da
Mulher Casada, em 1962, o que contribuiu para o início da diminuição de tais
discriminações. Em 1977, com a Emenda Constitucional 09 e a Lei 6.515 do mesmo
ano, vieram para revolucionar o comportamento tradicionalista e instituíram o divorcio
como forma oficial de dissolução da relação matrimonial, além de trazer a comunhão
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parcial de bens como opção de regime de bens e a facultatividade de acolhimento do


nome do marido para as mulheres.
Com o passar o tempo, o Estado deixa de lado a interferência religiosa sobre o
tema familiar e foca no bem estar social, cujo bem estar e felicidade não encontrava-
se mais atrelado a exclusividade do tradicionalismo excludente imposto. E, nessa
contextualização, foi promulgada a Constituição Federal de 1988 em que houve uma
equiparação de qualquer forma de relação familiar, na busca pela eliminação de
definições preconceituosas ultrapassadas, extinguindo trechos e leis arcaicos e não
mais usadas devido aos avanços sociofamiliares.
Com a Magna Carta, surge em definitivo a normatização da igualdade entre
homens e mulheres, garantida pelo artigo 5º, inciso I (BRASIL, 1988), tendo ambos
iguais direitos e deveres perante a lei e trazendo consigo a proteção não só da família
gerada pelo casamento, mais também o instituto da união estável gerada pela
convivência familiar de casais. Assim como no mesmo artigo, surge a possibilidade
de formações familiares monoparentais.
Reforçasse ainda, no parágrafo 4º do artigo 216, da Constituição Federal de
1988, a responsabilidade igualitária dentro da sociedade conjugal. E apesar da nossa
Carta Magna trazer consigo apenas a família decorrente do casamento civil, da união
estável e da família monoparental, Tartuce (2019, p.1074) assinala que “tem-se
prevalecido, na doutrina e na jurisprudência, especialmente na superior (STF e STJ),
o entendimento pelo qual o rol constitucional familiar é exemplificativo (numerus
apertus) e não taxativo (numerus clausus).”
Segundo Maria Berenice Dias (2021, p. 443):

É necessário ter uma visão pluralista da família, que abrigue os mais


diversos arranjos familiares. Buscar o elemento que permita enlaçar no
conceito de entidade familiar todos os relacionamentos que têm origem em
um elo de afetividade, independentemente de sua conformação. Esse
referencial só pode ser identificado no vínculo que une seus integrantes.
(grifos nossos)

Sendo assim, conceitualmente falando, “Designa-se família o conjunto de


pessoas que possuem grau de parentesco ou laços afetivos e vivem na mesma casa
formando um lar” (FAMÍLIA, 2018). Já segundo Dias (2021, p.443), “A família é um
grupo social fundado essencialmente nos laços de afetividade (...)”. (LOBÔ, Paulo,
XXXX, p.96). Para reforçar ainda mais tais definições tem-se o artigo 5º, incisos II e III
da Lei Maria da Penha (11.340/2006) que reforçam respetivamente como família “a
compreendida como a comunidade formada por indivíduos que são ou se consideram
aparentados, unidos por laços naturais, por afinidade ou por vontade expressa” e
aquela em que há “(...) qualquer relação íntima de afeto (...) (BRASIL, 2006).
Esses laços afetivos e convivência em um mesmo local é uma das formas mais
antigas de formação familiar, assim como uma das mais antigas formas de unidade
social, já que como exposto por CUNHA (2009) “antes do homem se organizar em
comunidades sedentárias, constitui-se em um grupo de pessoas”. Nesse mesmo
sentido temos
Perreira (2015, p.8) que diz:

a família não é fruto da natureza, mas da cultura. Por isso, ela pode sofrer
inimagináveis variações no tempo e no espaço, transcendendo sua própria
historicidade. O direito não pode fechar os olhos a esta realidade.
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Com base nisso surgem diversas formas e conceitos de famílias, entre elas
podemos citar a Família Nuclear, aquela formada pelos pais e filhos e a Família
Extensa ou Ampliada, formada pelos pais, filhos, avós, tios, primos e demais
membros e que está consagrada pela lei, no artigo 25 do Estatuto da Criança e do
Adolescente (8.069/1990). Essas duas formas merecem destaque, pois ambas as são
mutáveis, já que avós, tios e primos podem fazer parte da família nuclear quando
estes vivem todos sobre o mesmo teto que aqueles e a Família Nuclear também pode
ser formada sem a presença de um dos pais, por qualquer motivo que seja.
Além dessas famílias verifica-se ainda a existência da Família Matrimonial,
aquela formada pela oficialização do casamento, seja no civil ou no religioso, e que
se faz garantida por nossa Constituição Federal; a Família Informal, aquela gerada
pela união estável de um casal e que foi abraçada pelo Código Civil de 2002, em seu
artigo 1.723, §1º, garantindo as partes direitos e deveres, assegurando alimentos,
estabelecendo o regime de bens padrão e garantindo os direitos sucessórios; a
Família Monoparental, formada pelos filhos e apenas um dos genitores e também
protegida pela Carta Magna em vigor; a Família Reconstituída ou Mosaico, formada
pelo novo casamento ou união entre pessoas que já possuem filhos de
relacionamentos anteriores; a Família Unipessoal, formada por uma única pessoa
que devido a viuvez, divórcio ou por não ter formado um núcleo familiar durante toda
sua vida vive só; a Família Anaparental, que configura a família sem país, ou seja,
formada pela ausência de seus genitores e onde os filhos vivem em uma família sem
a presença de seus país por qualquer motivo que seja e a Família Homoafetiva, que
como o próprio nome sugere é formada pela união de pessoas do mesmo sexo e que
já teve decisões judiais do STF e STJ favoráveis, garantindo a esses casais o direito
ao matrimônio e fazendo com que o Conselho Nacional de Justiça emitisse uma
Resolução, 175/2013, que proíbe que todo e qualquer órgão negue acesso ao
casamento para casais homoafetivos.
Temos ainda a Família Poliafetiva, formada pela relação de 3 ou mais
cônjuges que dividem o mesmo teto e vivem como se casados fossem; a Família
Paralela, formada pelo indivíduo que mantém duas relações ao mesmo tempo e onde
uma não conhece da existência da outra; a Família Eudemonista, formada pela
afetividade e solidariedade de um indivíduo com o outro; a Família Coparental,
formada por um casal que deseja ter filhos, mas que não vivem como se casados
fossem e/ou não possuem desejo carnal um pelo outro e que através de um acordo
ou contrato decidem gerar um filho através de inseminação artificial; a Família
Substituta, aquela para onde os órfãos ou as crianças que foram retiradas de seus
lares por problemas relacionados aos seus genitores são encaminhadas quando não
há a possibilidade de retorno para os a família nuclear ou para a família extensa e por
fim, o foco desse trabalho, a Família Multiespécie, que nada mais é que a família
onde seus integrantes são membros humanos (donos) e membros não humanos
(seus animais de estimação).
Segundo Andreia de Oliveira Bonifácio Santos (2019, p.137):

Ao se falar no surgimento da família multiespécie, nasce a perspetiva da


responsabilidade e da solidariedade assimétrica interespécie, o que sustenta
a relação afetiva entre seres humanos e animais, desdobrando-se em
estreitos vínculos, razōes pelas quais os casais passam a oferecer aos
animais os mais diversos sentimentos, sobretudo o de “filhos” não humanos.

Essa relação afetiva entre humano e animal deriva de uma outra família já
citada no presente trabalho, a família eudemonista, onde os indivíduos do grupo são
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ligados pela afetividade existente entre eles, a diferença na família em questão é o


fato da ligação ser entre um ser humano e um não humano, mas nesse sentido temos
Andreia de Oliveira Bonifácio Santos (2019, p.142) que diz que “é de suma importância
destacar a aceitação da existência e o reconhecimento da família multiespécie como
sendo aquela composta a partir da relação afetiva entre seres humanos e animais não
humanos”. Entretanto, a afetividade em questão exclui toda e qualquer forma de
relação sexual entre os humanos e seus pets uma vez que tal tipo de relação é
considerada maus tratos e pratica de zoofilia, ambos crimes previsto na legislação
vigente.

2.1.1 Status jurídico dado aos animais pela atual legislação

Ao se tratar do status jurídico dos animais os meios internacionais trouxeram


Declarações, como a de Cambridge (2012) e a Declaração Universal de Direitos dos
Animais (1978) que visam defendê-los, tornando possível uma visão de mundo
diferenciada, a dos animais como seres possuidores de senciência. Tais
direcionamentos serviram de norte para que alguns ordenamentos jurídicos, de países
distintos, buscassem diversificar sua visão, adotando leis que versem sobre os direitos
dos animais.
Apesar do caminhar favorável aos direitos dos animais, o ordenamento jurídico
brasileiro manteve-se durante muito tempo na contramão da evolução, seja dentro do
próprio ordenamento ou de doutrinas nacionais os animais são para muitos, e por
muitos tratados como coisas ou bens, desconsiderando neles o fato de possuírem
vida e sentimentos, sendo desta forma, considerados bens semoventes, ou seja,
móvel, sendo tratados pelo direito das Coisas, sujeitos, portanto a apropriação pelo
homem (DINIZ, 2014). Porém, o entendimento majoritário sobre o termo bem, seria
de tudo aquilo que possui um valor econômico, cuja “coisa” encontra-se sob o domínio
de alguém e pode ser depreciado economicamente (OLIVEIRA, 2007)
A Magna Carta Brasileira, traz em seu artigo 225, § 1º (BRASIL, 1988), a
seguinte redação:

Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente


equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de
vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-
lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações.
§ 1º Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Poder Público:
VII - proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as práticas que
coloquem em risco sua função ecológica, provoquem a extinção de
espécies ou submetam os animais a crueldade. (grifos nossos).

Ante a legislação apresentada percebe-se uma preocupação com o dever de


todos em proteger o meio ambiente e evitar quaisquer “crueldades”, expondo,
claramente a preocupação do legislador com um ciclo ecológico equilibrado e
saudável como forma de manter a unidade social equilibrada.
Castro (2014) reforça este entendimento, visto que a preservação da fauna e
da flora é uma questão de preservação da própria espécie humana, e que, a partir do
momento em que o “homem” observar os limites fundamentais para a preservação do
ecossistema é um passo para a sobrevivência do todo. E por esta razão, há a
necessidade da imposição de regras, sanções e punições para os infratores.
Porém, ao mesmo tempo em que o art. 225 traz a proteção ecológica, o art.
215 e 216, com seus incisos I e III, trazem contradições, tais como “o pleno exercício
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dos direitos culturais”, que apoiam e valorizam as Vaquejadas, que são visualizadas
por muitos como manifestações e formas de expressões culturais2.
Sobre os animais domésticos serem vistos como objetos, de acordo com o
Código Civil de 2002 (BRASIL, 2002), em seu art. 1.228 traz a seguinte redação:

Art. 1.228. O proprietário tem a faculdade de usar, gozar e dispor da coisa, e


o direito de reavê-la do poder de quem quer que injustamente a possua ou
detenha.
§ 1 o O direito de propriedade deve ser exercido em consonância com as
suas finalidades econômicas e sociais e de modo que sejam
preservados, de conformidade com o estabelecido em lei especial, a
flora, a fauna, as belezas naturais, o equilíbrio ecológico e o patrimônio
histórico e artístico, bem como evitada a poluição do ar e das águas. (grifos
nossos)

O dono do animal ou possuidor dele, é quem pode dispor sobre a coisa, e o


artigo ainda complementa, que deve haver uma adequação da utilização desta
propriedade a uma legislação ambiental, de forma que a função social da mesma seja
atingida. Aqui está presente um primeiro passo, visto que o comportamento social está
impulsionando o legislador a adaptar as leis de acordo com as novas necessidades,
a de que os animais não são coisas, ou objetos, mas sim seres sencientes,
merecedores de proteção legal.
Apesar de existir esse primeiro passo em direção a criação de leis, existem
duas regulamentações para os animais: uma quando eles são visualizados como
animais domésticos acondicionados pelo direito a propriedade e um outro quando são
considerados um bem pertencente a coletividade, como essencial a humanidade.
O Código Civil de 2002 (BRASIL, 2002), reforça esse entendimento do animal
como um bem semovente, no art. 445:

Art. 445. O adquirente decai do direito de obter a redibição ou abatimento no


preço no prazo de trinta dias se a coisa for móvel, e de um ano se for imóvel,
contado da entrega efetiva; se já estava na posse, o prazo conta-se da
alienação, reduzido à metade.
§ 2 o Tratando-se de venda de animais, os prazos de garantia por vícios
ocultos serão os estabelecidos em lei especial, ou, na falta desta, pelos usos
locais, aplicando-se o disposto no parágrafo antecedente se não houver
regras disciplinando a matéria. (grifos nossos)

E ainda reforça a responsabilidade do dono ou detendo do animal:

Art. 936. O dono, ou detentor, do animal ressarcirá o dano por este


causado, se não provar culpa da vítima ou força maior. (grifo nosso)
(...)
Art. 1.313. O proprietário ou ocupante do imóvel é obrigado a tolerar que o
vizinho entre no prédio, mediante prévio aviso, para:
II - apoderar-se de coisas suas, inclusive animais que aí se encontrem
casualmente. (grifos nossos, BRASIL, 2002)

2 Por este motivo o STF não conseguiu extinguir a vaquejada, já que a mesma é pela legislação e
pela doutrina, apesar da crueldade empregada, uma forma de manifestação cultural. Ao tentar tornar
tais “manifestações culturais” inconstitucionais o STF encontrou uma barreira, o Congresso Nacional,
que derrubou a decisão que havia sido favorável a extinção e ainda votou e aprovou a PEC 96/2017,
também conhecida como “PEC da Vaquejada” que alterou a Constituição e passou a dispor que “não
se consideram cruéis as práticas desportivas que utilizem animais desde que sejam manifestações
culturais”
11

Sendo ainda possível, na mesma legislação encontrar regulamentação quanto


a dívidas envolvendo animais, tais como:

Art. 1.442. Podem ser objeto de penhor:


V - animais do serviço ordinário de estabelecimento agrícola.
Art. 1.444. Podem ser objeto de penhor os animais que integram a
atividade pastoril, agrícola ou de lacticínios.
Art. 1.445. O devedor não poderá alienar os animais empenhados sem
prévio consentimento, por escrito, do credor.
Art. 1.446. Os animais da mesma espécie, comprados para substituir os
mortos, ficam sub-rogados no penhor.
Art. 1.447. Podem ser objeto de penhor máquinas, aparelhos, materiais,
instrumentos, instalados e em funcionamento, com os acessórios ou sem
eles; animais, utilizados na indústria; sal e bens destinados à exploração
das salinas; produtos de suinocultura, animais destinados à industrialização
de carnes e derivados; matérias-primas e produtos industrializados. (grifos
nosso, (grifos nossos, BRASIL, 2002)

Percebe-se aqui uma preocupação do legislador em garantir a utilização do


animal como bem semovente, passível sim de penhora, alienação, redibição e até
mesmo abatimento de preço quando necessário.
Seguindo a influência da legislativa brasileira, existem normas
infraconstitucionais que preveem punições aqueles que praticarem ato de abuso,
maus-tratos, ferir ou mutilar animais silvestres, domésticos ou domesticados, nativos
ou exóticos é crime com pena de detenção de três meses a um ano e multa, previsto
na lei 9.605/1998, no art. 32 (BRASIL, 1998). Ainda é cabível a mesma pena para
aqueles que realizam experiências dolorosas ou cruéis em animais vivos, ainda que
para fins didáticos ou científicos, quando existirem recursos alternativos, neste caso
sendo a pena aumentada de um sexto a um terço se ocorrer a morte do animal.

2.1.2 Relaçāo afetiva entre os animais e seus donos

A necessidade de interação com o meio ambiente não é uma novidade para o


ser humano, nem muito menos a interação com os animais, que vem desde épocas
remotas, inicialmente através da necessidade da alimentação e, com o tempo, com
alguns animais, ocorreu o processo de domesticação e com outros criou-se laços
afetivos, havendo sua integração na sociedade.
Com o passar dos séculos, o vínculo desenvolvido entre os seres humanos e
algumas espécies de animais foram se intensificando, e estes adiquiriram uma maior
proteção, conforto e carinho, ocorrendo ainda mais a intensificação do vinculo afetivo
(GAZZANA, 2015).

Zwetsch (2015, p. 17) retorça esse entendimento:

Os animais de estimação dão e recebem afeto, atuando como interpretes


perfeitos que, na qualidade de substitutos emocionais, contribuem para
manter a motivação quando as pessoas estão sozinhas ou estão
atravessando por um período difícil de transição. O isolamento e a solidão
dos homens e mulheres que vivem na sociedade moderna acabam sendo,
de alguma forma, minimizados com a presença de um animal.

A afetividade, é a base do relacionamento humano. É através dela que há a


integração dos relacionamentos familiares e a formação dos núcleos. Com a
12

Constitução de 1988, houve a possibilidade de surgimento de formas diferenciadas


de familias, e na ausência da afetividade, esta, pode ser transferida para um animal,
vindo a configurar o núcleo familiar, formando uma família multiespécíe, cuja formação
se dá, segundo alguns entendimentos, pela ausência de estabilidade nos casamentos,
ou pela quantidade limitada de crianças, ou pelas dificuldades nos relacionalmentos,
e que os animais domésticos demonstram não só a necessidade da estabilidade
emocional como reforça a formação do novo tipo de núcleo familiar. (GAZZANA,
2015).
Desta forma, é possível compreender que o afeto é o que vincula a relação
familiar e se existe este sentimento entre o humano e seu animal, há a formação de
um núcleo, gerando um dever legal de tutela. (DIAS, 2021).

2.1.3 Família Multiespécie

Os avanços sociais permitiram que houvesse uma luta pelo reconhecimento da


constituição das “novas” modalidades de familias, cuja existência era ignorada e
escanteada, até a implantação da Constitução de 1988. A Magna Carta, abre
precedente para a formação de nucleos familiares baseados na felicidade, e não mais
no ditames tradicionais, e, permitiu a formação de arranjos de convivências, e, dentre
outros, ocorreu o reconhecimento da adesão do animal doméstico ao núcleo familiar.
Para Ferrari; Kaloustian (2002, p. 14), a família:

Da forma como vem se modificando e estruturando nos ultimos tempos,


impossibilita identificá-la como um modelo único ou ideal. Pelo contrário, ela
se manifesta como um conjunto de trajetórias individuais que se expressam
em arranjos diversificados e em espaços e organizações domicialiares
peculiares (apud SANTOS, p. 138, 2019).

Se compreendermos que a função social da familia, antigamente era delimitada


a sua função: legitimidade na transmissão do patrimônio e na procriação (SANTOS,
2019), tal ditame foi desvinculado com os novos direcionamentos contemporâneos,
cuja estabilidade afetiva e bem estar, vem antes da função social, ou qualquer
tradicionalismo imposto pela sociedade.
Desta forma, o reconhecimento de possibilidades de novos arranjos familiares
torna viável a inserção do animal doméstico neste meio, na formação de uma família
de multiespécies, que, como qualquer outo tipo familiar é detentora de proteção
jurídica.
É importante ressaltar, que aqui há existência da afetividade, não devendo
confundir os animais com seres humanos, no que diz respeito a um relacionamento
amoroso, visto que a união sexual entre as espécies não se enquadra no ordenamento
jurídico, como algo vantajoso, mas sim como repudioso, até mesmo porque os animais
não tem nem sequer a consciência de tal ato.
O afeto é o alicerce da família multiespécie, pois sem o mesmo, a familia perde
sua principal qualidade e torna-se a familia eudemonista (SANTOS, 2019), ocorre que,
esta é uma novidade no direito de família, e sua identificação é muito delicada, visto
que os padrões que a classificam ainda são recentes. Porém, percebe-se que no
decorrer dos ultimos anos, o número de animais de estimação, ligados pela
afetividade vem crescendo, segundo o IBGE, em 5% ao ano, desde o ano de 2017,
indicando um crescimento da familia multiespecies (SANTOS, p. 145, 2019)
De fato não há só o afeto, mas a constituição de um leque de emoções
envolvendo humanos e não humanos, e que, de acordo com Santos (p. 146, 2019)
13

encontra-se envolvida em diversas questões sociológicas e psicológicas,


sendo essa relação geralmente alicerçada na segurança e no bem-estar de
ambas as partes, sobretudo nos grandes centros urbanos, onde os animais
de estimação cumprem com a função de companhia e conforto.

E, baseados na companhia e no conforto, dá-se inicio ao relacionamento entre


o humano e o animal, que vão se moldando, compartilhando experiências, e,
aprendendo linguagens para melhor se comunicar. E, no decorrer deste caminho, os
laços de afetividade e de amor, vão sendo construidos de ambos os lados.
Por outro lado, existe entendimentos contrários a família multiespécies, se
compreendermos que apesar de ter ocorrido avanços nos direitos dos animais, ainda
não existe, expressamente na lei civil a regulamentação do arranjo familiar entre seres
humanos e não humanos, porém, existe a possibilidade e o reconhecimento da
afetividade dos mesmos com seus animais domésticos, não estariamos diante de uma
familia de multiespécies, tal como explica Vieira (p. 52, 2020):

Em verdade, a aquisição do animal para mero divertimento dos filhos ou


mesmo a interação eventual da família com o animal em breves períodos de
tempos, separando-o de todos os demais momentos dos familiares,
deixando-o circular pelo quintal ou preso no canil, equivale a relegar o animal
á condição de bem, em detrimento da necessária entronização com núcleo
familiar na convivencia intima da rontina familiar que a configuração de família
multiespécie exige.

Porém, segundo Santos (2019), casais que não tem filhos, tem optado pela
adoção de animais de estimação, transferindo a afetividade, que outrora seria
direcionada a um filho, para um “pet”, que qualificaria, aqui uma família multiespécies.
Esta é uma realialidade cada vez mais presente nas famílias contemporâneas, cujos
dados levantados pela ABINPET3, acusam um crescimento da importância do
mercado, demonstrando a representatividade dos Pets, no comércio (SANTOS,
2019).
Vale lembrar, que homens ou mulheres que moram “sozinhos”, também podem
compor o núcleo familiar, assim como moradores de rua, que mantem sua relação
além da afetividade, como também na proteção mútua pela sobrevivência. E, aos
poucos, em alguns Estados, foram sendo apresentados projetos de lei em prol da
regulamentação da situação dos animais domésticos.
Diante da explanação, a familia é fundamentada no afeto, e, geralmente, é
suscintada quando ocorre a dissolução da união de um casal, que diante da
dissolução do vinculo, suscintam demandas envolvendo o aninal doméstico, porém, a
ausência de regras jurídicas mais claras sobre a situação do animal doméstico após
a dissolução da união não é clara, existindo aqui uma lacuna, tendo, o magistrado,
que decidir de forma arbitrária para não deixar de apreciar a matéria.

3 NÚCLEO FAMILIAR E SUA DISSOLUÇÃO

O núcleo familiar multiespécie base deste estudo, merece mais atenção do


legislador, como dito anteriormente, muitas vezes, esse instituto é levantando quando
ocorre a dissolução da união do casal, fazendo-se necessário a compreensão dos
institutos básicos, para se chegar no objeto deste estudo.

3 Associação Brasileira de Industria de produtos para Animais de Estimação


14

3.1 CASAMENTO

Durante muitos anos a única forma de reconhecimento da celebração da união


entre um homem e uma mulher era através do casamento, que celebrado de forma
voluntária estabelecia os vínculos legais de afetividade e responsabilidades
patrimoniais, garantidas pela legislação vigente.
Não há uma preocupação do legislador na conceituação do casamento, uma
vez que, como é uma entidade familiar antiga, coube aos doutrinadores sua
conceituação, como bem retrata Lobo (p. 86, 2017) a de um “ato jurídico negocial
solene, público e complexo, mediante o qual o casal constitui família, pela livre
manifestação de vontade e pelo reconhecimento do Estado”.
O art. 1551 do Código Civil de 2002 (BRASIL, 2002) complementa esse
entendimento:

Art. 1.511. O casamento estabelece comunhão plena de vida, com base na


igualdade de direitos e deveres dos cônjuges.

Percebe-se aqui a preocupação com a comunhão de vida, e que ambos os


nubentes possuem os mesmo direitos e deveres, para todos os atos envolvendo as
atividades inerentes ao casamento. O código Civil de 2002, disciplina ainda sobre
outras questões referentes a celebração, habilitação, capacidade, impedimentos,
suspensão, nulidade, invalidade, eficácia, havendo uma clara preocupação do
legislador em atender prováveis duvidas ou conflitos que possam ocorrer em
detrimento da união baseada no casamento.
Com a promulgação da Magna Carta, ocorreram inovações neste campo, o
casamento continua a possuir uma proteção legal, e a Constituição abre precedentes
para outras modalidades de uniões que também são fontes geradoras de famílias, tais
como a união estável.

3.2 UNIÃO ESTÁVEL

O Código Civil de 2002 (BRASIL, 2002), em seu art. 1723, traz a seguinte
redação a respeito da União estável.
Art. 1.723. É reconhecida como entidade familiar a união estável entre o
homem e a mulher, configurada na convivência pública, contínua e duradoura
e estabelecida com o objetivo de constituição de família.

Para que haja a caracterização desta união é necessário que esta relação seja
pública e contínua, e que o intuito desta seja o da constituição de uma família, o
compartilhamento de uma vida em comum. O que diferencia a união estável de outras
modalidades de relacionamentos, como a do noivado ou do namoro, é que nestas
existe a mera expectativa da constituição de uma família, para, em um futuro, quem
sabe, pode acontecer, já na união estável não, há um relacionamento contínuo,
duradouro e com o objetivo da constituição de uma família.
No que diz respeito a mais detalhes sobre a união estável, o código Civil traz
ainda mais 4 artigos, e deixa os demais questionamentos a cargo do legislador,
quando forem levantados.
No instituto da união estável existe a possibilidade, a requerimento das partes,
da conversão da união em registro civil, cabendo as partes interessadas na
15

provocação do judiciário para que sua união seja convertida e tenha as mesmas
seguranças jurídicas que um casamento realizado no regime civil.

3.3 DISSOLUÇÃO DA SOCIEDADE CONJUGAL

A Constituição Federal de 1988, em seu art. 226 § 6º, prevê a possibilidade da


dissolução do matrimônio, porém, para que haja o divórcio era necessário a separação
de fato por pelo menos 2 anos, para depois entrar com o divórcio.
Ocorre que, em 2010, o legislador entendeu, que deveria haver uma maior
celeridade, e criou a Emenda Constitucional nº 66 (BRASIL, 2010), e nela houve a
supressão da separação judicial, alterando a redação prevista na Constituição Federal
de 1988, em que pode haver o divórcio direto. Com esta emenda, o divórcio vai se
tornando mais fácil, podendo ser consensual ou litigioso, ou extrajudicial, a depender
da coveniência dos interessados na questão (GONÇALVES, 2015).
Com a dissolução da união, surgem outras questões ligadas ao relacionamento
que devem ser discutidas se não no mesmo processo, em processo específico, sendo
analisado conforme o caso, tais como: partilha de bens, alimentos, guarda e proteção
dos filhos. Tais questões, podem ser resolvidas em comum acordo, proposta pelos
cônjuges, ou impostas judicialmente.
A inexistencia de bens, filhos ou pets, torna o divórcio mais simples e rápido de
acontecer, pois pode ser realizada tando na esfera judicial, quando extrajudicial
(GONÇALVES, 2015). Deve-se observar que no caso da união estável, reconhecida,
o processo de dissolução é o da esfera judicial.

4 GUARDA

A partir do momento que um casal, decide constituir uma família, estes, de


acordo com a Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, em seu Art.
229, tem o dever em relação a sua prole “de assistir, criar e educar os filhos menores,
e os filhos maiores têm o dever de ajudar e amparar os pais na velhice, carência ou
enfermidade” (BRASIL, 1988).
A formação do núcleo familiar é livre, porém, de acordo com o art. 4º do Estatuto
da Criança e do Adolescente (BRASIL, 1990), uma vez formada a família: “É dever de
assistir, criar e educar os filhos menores, e os filho maiores tem o dever de ajudar e
amparar os pais na velhice, carência ou enfermidade”.
E, uma vez dissolvida a união do casal, é necessário garantir o dever de
assistência de sua prole, garantida, através do estabelecimento da guarda, que pode
ser unilateral ou compartilhada, definidas no art. 1583 do Código Civil Brasileiro de
2002.

4.1 GUARDA COMPARTILHADA

A guarda compartilhada surge como uma possibilidade da manutenção da


convivência dos filhos com seus pais, que apesar de não mais desejarem manter a
união tem o dever legal e igualitário, dentro de suas possibilidades, de resguardar os
direitos de amparo e assistência estabelecidos na Constituição e Estatuto da Criança
e do Adolescente.
Com a guarda compartilhada, os filhos terão a oportunidade de conviver com
ambos os pais, mantendo uma relação saudável com vínculos afetivos fortes, cuja
16

separação dos pais não seja o suficiente para afetar nem a relação, nem o pleno
desenvolvimento saudável.
A dissolução da sociedade conjugal, não implica também na dissolução das
responsabilidades de um dos “nubentes” quanto a prole obtida durante a constância
da união, e o Código Civil de 2002, traz no art. 1634 as competências do exercício do
poder familiar.
O ordenamento jurídico brasileiro, em seu art. 1583 § 2º, entende que na
guarda compartilhada “o tempo de convívio com os filhos deve ser dividido de forma
equilibrada com a mãe e com o pai, sempre tendo em vista as condições fáticas e os
interesses dos filhos” (BRASIL, 2002). E que, nesta modalidade de guarda, o local
escolhido como base da moradia dos filhos será aquele que melhor atender as
necessidades dos menores (art. 1583 § 3º Código Civil)
Para que haja o estabelecimento da guarda compartilhada deve haver a
provocação do judiciário, para que, havendo acordo, decidam como será administrada
a vida dos filhos após a dissolução da união, possibilitando um desgaste mínimo a
vida do mais vulnerável nesta relação.

4.2 GUARDA COMPARTILHADA DOS PETS

Quando um relacionamento envolve animais domésticos, conhecidos


popularmente como pets, estamos diante de uma modalidade de núcleo familiar
conhecido como multiespécies. E, como não seria diferente, quando ocorre a
dissolução da união, a afetividade desenvolvida neste núcleo familiar, gera deveres e
necessidades do compartilhamento das responsabilidades quando ao animal.
Michele Sanches (s/p, 2018) complementa:

Em muitos processos de divórcio, os animais de estimação, que ainda são


tratados como bem móvel pelo Código Civil, alcançam status de membros da
família, não raras vezes assumindo papel de filhos, inclusive no momento em
que os casais chegam à decisão de romper o vínculo matrimonial.

Normalmente, a posse do pet fica com aquele que possui mais condições de
mantê-lo, porém, no instituto da guarda compartilhada, a outra parte, terá direito a
visitas, passeios, sendo tratado como um “filho” e não como um bem semovente, ou
móvel, como bem retrata o Código Civil de 2002 (SANCHES, 2018)
A ausência de regulamentação sobre a situação do pet, quanto a dissolução da
união, dificulta o trabalho do legislador, que deve analisar cada situação e julgar
conforme orientações baseadas em analogias, jurisprudências e até entendimentos
doutrinários para não se eximir do julgamento de uma questão tão delicada e recente
no ordenamento jurídico.
Este recente entendimento é devido a crescente demanda social em busca de
uma mudança de hábitos, na introdução de animais domésticos como companheiros
de pessoas solitárias ou de casais que não possuem filhos, cujos laços afetivos vão
se intensificando ao longo da convivência (SANTOS, 2019).
Porém, os desafios enfrentados nesta modalidade de guarda ainda são
discutidos, uma vez que há uma fragilidade neste compartilhamento, onde, muitas
vezes, aquele que fica com o “direito de posse” do pet, muitas vezes deseja, mantê-
lo de forma integral.
Sanches (s/p, 2018) complementa:
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No caso de uma das partes já ser detentora do animal de estimação antes da


celebração do matrimonio ou união estável e levar para a convivência do
casal, a regulação, em caso de desentendimento do casal quanto à guarda,
fica relativamente mais fácil, haja vista que o protetor do animal pode ter feito
o registro em seu nome assim como o possuir carteira de vacinação e fotos
do seu convívio com o animal de estimação, provando que o animal já era
seu antes do casamento devendo permanecer com o seu protetor.

Complementando este entendimento:

AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO RELATIVA À UNIÃO ESTÁVEL.


PRETENSÃO DE POSSE DE ANIMAL DE ESTIMAÇÃO. REGISTRO DE
PROPRIEDADE EM NOME DO AGRAVANTE. Tendo em vista que o
animal de estimação foi adquirido em nome do agravante, conforme
Certificado de Registro Genealógico apresentado e declaração da
proprietária do canil, de ser deferida a posse do animal ao agravante.
Agravo de instrumento provido. (Agravo de Instrumento Nº 70067537589,
Sétima Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Jorge Luís
Dall'Agnol, Julgado em 18/05/2016). (grifo nosso)
(TJ-RS - AI: 70067537589 RS, Relator: Jorge Luís Dall'Agnol, Data de
Julgamento: 18/05/2016, Sétima Câmara Cível, Data de Publicação: Diário
da Justiça do dia 23/05/2016)

Aqui, há o reconhecimento de que o protetor legal é a parte que já convivia com


o pet antes da união do casal, porém, não exclui a possibilidade da regulamentação
do direito de visita após a dissolução da união, nem muito menos que haja algum
contrato pré-nupcial que estabeleça algo referente a guarda do pet em caso da
dissolução da união (SANCHES, 2018). O Tribunal de justiça do Estado de São Paulo
compreendeu que há sim a necessidade da regulamentação de visitas, desta forma:

REGULAMENTAÇÃO DE VISITAS DE ANIMAL DE ESTIMAÇÃO - Ação


ajuizada pelo ex-companheiro em face da ex-companheira - Improcedência
do pedido - Inconformismo - Acolhimento - Omissão legislativa sobre a
relação afetiva entre pessoas e animais de estimação que permite a
aplicação analógica do instituto da guarda de menores - Interpretação
dos arts. 4º e 5º da Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro -
Cadela adquirida na constância do relacionamento - Relação afetiva
demonstrada - Visitas propostas que são razoáveis - Sentença
reformada - Recurso provido. (grifo nosso)
(TJ-SP - AC: 10003988120158260008 SP 1000398-81.2015.8.26.0008,
Relator: J.L. Mônaco da Silva, Data de Julgamento: 20/04/2016, 5ª Câmara
de Direito Privado, Data de Publicação: 25/04/2016)

Existe, na guarda compartilhada um claro entendimento o da permissão da


manutenção do vínculo afetivo estabelecido entre o pet e pelo ex-casal, que, em caso
de não concordância quando ao futuro de seu animal, poderão acionar a justiça para
determinar, qual deles, possui melhores condições de atender as necessidades do
pet.
Essa relação deve ser analisada a longo prazo, cujo bem tutelado é a vida do
animal, cuja responsabilidade é compartilhada entre os “pais” de forma igualitária, que
assumiram o compromisso, ao adotarem seus pets de cuidarem e zelarem pelo seu
bem estar, e, na dissolução de sua união, esse compromisso não desaparece, a
exemplo temos:
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APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE DISSOLUÇÃO DE UNIÃO ESTÁVEL


CUMULADA COM PARTILHA DE BENS E OUTRAS AVENÇAS.
AJUIZAMENTO CONSENSUAL. CLÁUSULA QUE REGULAMENTA A
CONVIVÊNCIA DOS REQUERENTES COM OS ANIMAIS DE
ESTIMAÇÃO. HOMOLOGAÇÃO. POSSIBILIDADE. AVENÇA INSERIDA
NO BOJO DO ACORDO MAIOR DE DISSOLUÇÃO DA UNIÃO ESTÁVEL.
CLÁUSULA HOMOLOGADA. APELO PROVIDO. (Apelação Cível Nº
70072568892, Sétima Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator:
Sandra Brisolara Medeiros, Julgado em 26/07/2017). (grifo nosso)
(TJ-RS - AC: 70072568892 RS, Relator: Sandra Brisolara Medeiros, Data
de Julgamento: 26/07/2017, Sétima Câmara Cível, Data de Publicação:
Diário da Justiça do dia 08/08/2017)

No interior de São Paulo, em Jacareí, o juiz Fernando Henrique Pinto (2016),


da 2ª Vara da Família e Sucessões compreendeu que os donos de um cão, em
processo de separação judicial, que disputavam a guarda do animal incapaz, teria que
realizar o julgamento através da analogia, chegando ao seguinte entendimento:

Diante da realidade científica, normativa e jurisprudencial, não se poderá


resolver a 'partilha' de um animal (não humano) doméstico, por exemplo, por
alienação judicial e posterior divisão do produto da venda, porque ele não é
mera 'coisa'. Como demonstrado, para dirimir lides relacionadas à 'posse' ou
'tutela' de tais seres terrenos, é possível e necessário juridicamente, além de
ético, se utilizar, por analogia, as disposições referentes à guarda de humano
incapaz.

Desta forma, a guarda compartilhada vem para proteger o animal, garantindo


um lar seguro, com continuidade do afeto e das proteções legais que desfrutava
quando o ambiente era estável na união do casal.

4.3 PROJETOS DE LEI SOBRE GUARDA DE ANIMAIS DOMÉSTICOS NO BRASIL


E SUAS APLICAÇÕES JUNTO AO CÓDIGO CIVIL BRASILEIRO

Diante do exposto, é notória a necessidade do animal doméstico deixar de ser


visualizado pelo ordenamento jurídico como uma coisa, um objeto semovente, mas
ser observado com um ser vivo merecedor de dignidade e de respeito, possuidor de
sentimentos e emoções, um ser senciente. Se visualizado desta forma porque não
adaptar o ordenamento jurídico a nova realidade e necessidade social?

4.3.1 Projeto de Lei nº 1.058/2011

Houve, em 2015, a apresentação de um projeto de Lei nº 1.058, na cidade de


São Paulo, apresentado pelo Deputado Marcio França e representado pelo Deputado
Federal Dr. Ubiali, que dispunha sobre o tema deste estudo, guarda dos animais em
casos de dissolução da sociedade conjugal, na tentativa de trazer orientações sobre
quaisquer dúvidas referentes a situação do pet que se encontra nesta situação de
“conflito familiar”.
Este projeto traz as orientações jurídicas necessárias para que o legislador
consiga realizar seu julgamento acerca da guarda do animal doméstico, em que, uma
vez decretada a separação judicial. O artigo 2º traz a seguinte redação (BRASIL,
2011)

Art. 2º Decretada a separação judicial ou o divórcio pelo juiz, sem que haja
entre as partes acordo quanto à guarda dos animais de estimação, será ela
19

atribuída a quem revelar ser o seu legítimo proprietário, ou, na falta deste, a
quem demonstrar maior capacidade para o exercício da posse responsável.
Parágrafo único. Entende-se como posse responsável os deveres e
obrigações atinentes ao direito de possuir um animal de estimação.

Vale ressaltar, que este artigo, vem a sanar quaisquer dúvidas que o legislador
teria quanto aquele que teria o direito de guarda sobre o pet, na falta de entendimento
entre os “pais”, ou na escolha daquele que possuir melhores condições de mantê-lo.
O projeto ainda deixa claro, a possibilidade da guarda compartilhada, os direitos
igualitários dos responsáveis na manutenção de sua integridade física e emocional,
visando garantir sua vida.
Apesar das inovações apresentadas pelo projeto, que sanariam algumas
lacunas referentes aos diretos dos animais domésticos e sua situação dentro do direito
de família, o projeto de lei foi arquivado, devido ao Regimento interno da Câmara dos
Deputados nº 105, mesmo assim, seus escritos são utilizados com um apoio no
entendimento de alguns julgados.

4.3.2 Projeto de Lei 1.365/2015

O Deputado Ricardo Tripoli, compreendendo a importância do tema para um


desenvolvimento sustentável da sociedade, e tendo o conhecimento do projeto de lei
do Deputado Ubiali, compreendeu a importância da regulamentação da guarda dos
animais de estimação após a dissolução da união, e apresenta o projeto de Lei de nº
1.365/2015.
Além de reforçar os direcionamentos do projeto de lei nº 1.058/11, traz
informações complementares, introduzindo a relação homoafetiva e a questão do juiz
informar quanto as responsabilidades dos tutores dos pets, em seu art. 6º (BRASIL,
2015):

Art. 6º Na audiência de conciliação, o juiz informará às partes a importância,


a similitude de direitos, deveres e obrigações a estes atribuídos, bem como
as sanções nos casos de descumprimento de cláusulas, as quais serão
firmadas em documento próprio juntado aos autos. (grifo nosso)

É importante ressaltar que o pet é considerado um ser senciente, e como tal,


não tem culpa do relacionamento de seus tutores ter se dissolvido, tendo o direito
legal, de manter o contato com ambos, no caso da guarda compartilhada, e em caso
do detentor legal, aquele que possuir por mais tempo o animal doméstico, ou aquele
que compartilhar a guarda, descumprir uma das cláusulas estabelecidas na audiência
de conciliação, arcarão com sansões pelo descumprimento.
Apesar da iniciativa, o projeto foi arquivado na Câmara dos Deputados, nos
termos do Art. 105 do Regimento Interno

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Das ramificações do direito, o direito de família é aquele que se encontra na


situação mais delicada, uma vez que o legislador, apesar de encontrar um amplo
embasamento sobre o tema, satisfaz questões envolvendo o financeiro, mas sempre,
apesar da tentativa, deixa uma das partes insatisfeita com as questões emocionais.
Muito deste entendimento se dá pelo desgaste dos relacionamentos, cujos casais
desejam resolve-los no judiciário e não com especialistas de áreas específicas.
20

O avanço do desenvolvimento social, contribui para a formação de novos


núcleos familiares, que ganham força com a implantação da Constituição de 1988,
dentre estas inovações, temos o reconhecimento da família muiltiespécies, composta
por membros humanos e não humanos, com vínculos afetivos, voltados para a
formação de uma família pai/tutor.
Discute-se, na legislação sobre esta afetividade/responsabilidade, pois diante
da legislação brasileira, há sim, a proteção constitucional a quaisquer atos que
coloquem em risco a fauna, flora e a ordem ecológica do nosso ecossistema, e seria
incoerente não associar o artigo 225 da Constituição de 1988, a proteção dos animais,
sejam eles silvestres ou domésticos, porém, o mesmo ordenamento que traz essa
proteção, entra em contradição ao preservar os direitos culturais, em que o legislador
fica em dúvida qual direito resguardar, o animal ou o cultural?
Em 2002, o Código Civil, veio a disciplinar os animais domésticos, porém os
classifica como bens, “objetos”, propriedades, descaracterizando qualquer formação
de elo afetivo existente numa relação familiar multiespécies, de que os mesmos não
teriam se quer sentimentos, muito menos, o de serem objetos diretos de tutela pela
legislação. Desta forma, compreende-se que as mudanças de hábitos sociais, e a
crescente introdução dos animais no meio doméstico, como companheiros,
substitutos de filhos, amigos e parceiros, criando laços afetivos, torna possível uma
nova adaptação legislativa.
E como o reconhecimento dos animais domésticos como seres sencientes é
através do núcleo familiar, sua dissolução carece de direcionamentos jurídicos, pois a
tutela do pet deve ser definida, quando há divergência entre o antigo casal. Porém
este é um direito novo, em que ainda existem lacunas a serem preenchidas, cujo
legislador, busca analisar o caso concreto para se chegar na melhor solução para o
pet.
Apesar da necessidade legislativa, de julgados e do surgimento de alguns
projetos de leis, mesmo que arquivados, há uma necessidade na aplicação nos
direitos dos animais. É coerente afirmar que muito se avançou no que diz respeito a
proteção da vida animal, porém, sobre sua situação dentro do ambiente familiar a
regulamentação carece de direcionamentos precisos, baseados nos estudos
doutrinários e no desarquivamento de projetos de leis que representariam um avanço
para o direito animal.

REFERÊNCIAS

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<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l3071.htm>. Acesso em: 28 Junho 2021.

BRASIL. Código Civil (2002). Lei 10.406 de 10 de janeiro de 2002. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406compilada.htm

BRASIL. Conselho Nacional de Justiça. Resolução 175/2013 de 14 de maio de


2013. Dispõe sobre a habilitação, celebração de casamento civil, ou de conversão
de união estável em casamento, entre pessoas de mesmo sexo. Disponível em:
https://atos.cnj.jus.br/atos/detalhar/1754; Acesso em: 15/11/2021

BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil.


Disponível em:
21

<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm>.
Acesso em: 28 Junho 2021.

BRASIL. Lei nº 9605 de 12 de Fevereiro de 1988. Dispõe sobre as sanções penais


e administrativas derivadas de condutas e atividades lesivas ao meio ambiente, e dá
outras providências. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8069.htm ; Acesso em: 12/11/2021

BRASIL. Lei nº 8069, de 16 de Julho de 1990. Dispõe sobre o Estatuto da Criança


e do Adolescente e dá outras providências. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8069.htm; Acesso em: 12 novembro 2021

BRASIL. Lei no 11.340, de 07 de Agosto de 2006. Dispões sobre a criação e


mecanismos para coibir a violência doméstica e familiar contra a mulher. Disponível
em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2006/lei/l11340.htm>.
Acesso em: 1 dezembro 2021.

BRASIL. Projeto de Lei 1.058 de 2011. Dispõe sobre a guarda dos animais de
estimação nos casos de dissolução litigiosa da sociedade e do vínculo conjugal
entre seus possuidores, e dá outras providências. Disponível em:
https://www.camara.leg.br/proposicoesWeb/prop_mostrarintegra?codteor=859439&fil
ename=PL+1058/2011; Acesso em 13 novembro 2021

BRASIL. Projeto de Lei 1.365 de 2015. Dispõe sobre a guarda dos animais de
estimação nos casos de dissolução litigiosa da sociedade e do vínculo conjugal
entre seus possuidores, e dá outras providências. Disponível em:
https://www.camara.leg.br/proposicoesWeb/prop_mostrarintegra?codteor=1328694&
filename=PL+1365/2015; Acesso em: 13 novembro 2021

BRASIL. Apelação Cível: AC 1000398-81.2015.8.26.0008 SP 1000398-


81.2015.8.26.0008. Relator: J.L. Mônaco da Silva, Data de Julgamento:
20/04/2016, 5ª Câmara de Direito Privado, Data de Publicação: 25/04/2016 São
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