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JOÃO PESSOA-PB
2021
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JOÃO PESSOA-PB
2021
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FOLHA DE APROVAÇÃO
BANCA EXAMINADORA
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Professor Ms. Lucilene Solano de Freitas Martins
Orientador(a)
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Membro da Banca Examinadora
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Membro da Banca Examinadora
RESUMO
ABSTRACT
This paper will analyze the legal status given to pets, verifying the definition and the
legal treatment currently given to pets, as well as studying the definition given to the
family and its most varied and possible formations, focusing on a relatively recent
formation, the multi-species family. We will also examine the problem of why pets are
still treated as mere objects financially divisible within the division of property despite
being daily treated by their owners and family members as if they were children, using
as main references the bibliographic research, such as articles, doctrines and the
legislation itself and bringing definitions of authors active in the area of Animal Law as
Andreia de Oliveira Bonifácio Santos, as well as renowned authors in the civil area as
Flávio Tartuce and Maria Berenice Dias. All this with the purpose of analyzing the
possibility of applying the custody institute, in an analogous way, in cases involving
domestic animals understood by their owners as children, at least until a specific
legislation is developed and/or approved, and of course, seeking as a result the
feasibility of the application mentioned or the creation and approval of specific laws
that deal with the subject.
1 INTRODUÇÃO
familiar. Ainda dentro do primeiro capítulo será tratado sobre o status jurídico dado
aos animais domésticos pela atual legislação e seu enquadramento dentro da
definição de bens, em especial os bens semoventes e sencientes. Em segundo
momento se abordará o núcleo familiar entendido pelo casamento e/ou união estável
e sua dissolução formal. Já no terceiro capítulo se concentrará nas consequências
legais dessas dissoluções, nesse caso na guarda compartilhada, fazendo uma ligação
dessa guarda com os animais domésticos criados pelos casais. Além disso, se
apresentará os projetos de lei que tratam sobre o tema e que são possíveis soluções
para o problema demostrado no decorrer deste trabalho. Diante do exposto será́
analisada a possibilidade de aplicação da legislação do direito de família, aos pets,
indo de encontro a condição de bens semoventes enquadráveis na partilha de bens,
como previsto no código civil vigente, até que uma legislação especifica seja editada.
Utilizando para isso projetos de leis já existentes. A metodologia utilizada será a da
pesquisa bibliográfica, em que serão utilizados autores da área do direito animal e do
direito de família, assim com análise da legislação vigente.
2 FAMÍLIA E BENS
O Direito de família é uma das ramificações do Direito Civil, cujo conteúdo versa
sobre os mais diversos conteúdos relacionados as manifestações familiares, tais
como: “a) casamento; b) união estável; c) relações de parentesco; d) filiação; e)
alimentos; f) bem de família; g) tutela, curatela e guarda” (TARTUCE, 2019, p. 1055)
De acordo com Tartuce (2019), o Direito de Família contemporâneo pode ser
entendido em duas vertentes: uma no campo existencial e outra no patrimonial.
Aquela que trata sobre o direito existencial de família, baseia-se na dignidade da
pessoa humana, cujas normas são de ordem pública. Enquanto, que as normas de
ordem patrimonial, as normas são regidas através de uma questão de ordem privada.
A determinadação da vertente do Direito de Família Contemporâneo auxilia numa
melhor compreensão das possibilidades e alterações estruturais no decorrer dos
anos, onde se encontra o “bem de ordem pública” e o “bem de ordem privada”.
O Código Civil de 1916, não mais vigente, possui uma definição ultrapassada
do núcleo familiar, em que reconhecia sua formação, exclusivamente pelo casamento,
sendo vedada sua dissolução, esse entendimento se deu devido a interferência da
Igreja Católica, a época extremamente influente, dentre dos poderes dos Estados.
Além disso, o código trazia consigo diversas distinções, muitas delas discriminatórias,
como diversas regras e condições matrimoniais decididas unilateralmente pela lei,
onde as partes não possuíam quase ou nenhum poder de opinar, ditavam assim todo
o casamento do casal. Segundo Dias (2021) era uma legislação que instituía uma
família patriarcal, hierárquica, patrimonializada, heterossexual, protegida e gerada
pelo matrimônio, que tinha como objetivo a procriação com o intuito de manutenção e
conservação do nome, status e bens da família.
Com as mudanças sociais, houve a necessidade da elaboração do Estatuto da
Mulher Casada, em 1962, o que contribuiu para o início da diminuição de tais
discriminações. Em 1977, com a Emenda Constitucional 09 e a Lei 6.515 do mesmo
ano, vieram para revolucionar o comportamento tradicionalista e instituíram o divorcio
como forma oficial de dissolução da relação matrimonial, além de trazer a comunhão
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a família não é fruto da natureza, mas da cultura. Por isso, ela pode sofrer
inimagináveis variações no tempo e no espaço, transcendendo sua própria
historicidade. O direito não pode fechar os olhos a esta realidade.
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Com base nisso surgem diversas formas e conceitos de famílias, entre elas
podemos citar a Família Nuclear, aquela formada pelos pais e filhos e a Família
Extensa ou Ampliada, formada pelos pais, filhos, avós, tios, primos e demais
membros e que está consagrada pela lei, no artigo 25 do Estatuto da Criança e do
Adolescente (8.069/1990). Essas duas formas merecem destaque, pois ambas as são
mutáveis, já que avós, tios e primos podem fazer parte da família nuclear quando
estes vivem todos sobre o mesmo teto que aqueles e a Família Nuclear também pode
ser formada sem a presença de um dos pais, por qualquer motivo que seja.
Além dessas famílias verifica-se ainda a existência da Família Matrimonial,
aquela formada pela oficialização do casamento, seja no civil ou no religioso, e que
se faz garantida por nossa Constituição Federal; a Família Informal, aquela gerada
pela união estável de um casal e que foi abraçada pelo Código Civil de 2002, em seu
artigo 1.723, §1º, garantindo as partes direitos e deveres, assegurando alimentos,
estabelecendo o regime de bens padrão e garantindo os direitos sucessórios; a
Família Monoparental, formada pelos filhos e apenas um dos genitores e também
protegida pela Carta Magna em vigor; a Família Reconstituída ou Mosaico, formada
pelo novo casamento ou união entre pessoas que já possuem filhos de
relacionamentos anteriores; a Família Unipessoal, formada por uma única pessoa
que devido a viuvez, divórcio ou por não ter formado um núcleo familiar durante toda
sua vida vive só; a Família Anaparental, que configura a família sem país, ou seja,
formada pela ausência de seus genitores e onde os filhos vivem em uma família sem
a presença de seus país por qualquer motivo que seja e a Família Homoafetiva, que
como o próprio nome sugere é formada pela união de pessoas do mesmo sexo e que
já teve decisões judiais do STF e STJ favoráveis, garantindo a esses casais o direito
ao matrimônio e fazendo com que o Conselho Nacional de Justiça emitisse uma
Resolução, 175/2013, que proíbe que todo e qualquer órgão negue acesso ao
casamento para casais homoafetivos.
Temos ainda a Família Poliafetiva, formada pela relação de 3 ou mais
cônjuges que dividem o mesmo teto e vivem como se casados fossem; a Família
Paralela, formada pelo indivíduo que mantém duas relações ao mesmo tempo e onde
uma não conhece da existência da outra; a Família Eudemonista, formada pela
afetividade e solidariedade de um indivíduo com o outro; a Família Coparental,
formada por um casal que deseja ter filhos, mas que não vivem como se casados
fossem e/ou não possuem desejo carnal um pelo outro e que através de um acordo
ou contrato decidem gerar um filho através de inseminação artificial; a Família
Substituta, aquela para onde os órfãos ou as crianças que foram retiradas de seus
lares por problemas relacionados aos seus genitores são encaminhadas quando não
há a possibilidade de retorno para os a família nuclear ou para a família extensa e por
fim, o foco desse trabalho, a Família Multiespécie, que nada mais é que a família
onde seus integrantes são membros humanos (donos) e membros não humanos
(seus animais de estimação).
Segundo Andreia de Oliveira Bonifácio Santos (2019, p.137):
Essa relação afetiva entre humano e animal deriva de uma outra família já
citada no presente trabalho, a família eudemonista, onde os indivíduos do grupo são
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dos direitos culturais”, que apoiam e valorizam as Vaquejadas, que são visualizadas
por muitos como manifestações e formas de expressões culturais2.
Sobre os animais domésticos serem vistos como objetos, de acordo com o
Código Civil de 2002 (BRASIL, 2002), em seu art. 1.228 traz a seguinte redação:
2 Por este motivo o STF não conseguiu extinguir a vaquejada, já que a mesma é pela legislação e
pela doutrina, apesar da crueldade empregada, uma forma de manifestação cultural. Ao tentar tornar
tais “manifestações culturais” inconstitucionais o STF encontrou uma barreira, o Congresso Nacional,
que derrubou a decisão que havia sido favorável a extinção e ainda votou e aprovou a PEC 96/2017,
também conhecida como “PEC da Vaquejada” que alterou a Constituição e passou a dispor que “não
se consideram cruéis as práticas desportivas que utilizem animais desde que sejam manifestações
culturais”
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Porém, segundo Santos (2019), casais que não tem filhos, tem optado pela
adoção de animais de estimação, transferindo a afetividade, que outrora seria
direcionada a um filho, para um “pet”, que qualificaria, aqui uma família multiespécies.
Esta é uma realialidade cada vez mais presente nas famílias contemporâneas, cujos
dados levantados pela ABINPET3, acusam um crescimento da importância do
mercado, demonstrando a representatividade dos Pets, no comércio (SANTOS,
2019).
Vale lembrar, que homens ou mulheres que moram “sozinhos”, também podem
compor o núcleo familiar, assim como moradores de rua, que mantem sua relação
além da afetividade, como também na proteção mútua pela sobrevivência. E, aos
poucos, em alguns Estados, foram sendo apresentados projetos de lei em prol da
regulamentação da situação dos animais domésticos.
Diante da explanação, a familia é fundamentada no afeto, e, geralmente, é
suscintada quando ocorre a dissolução da união de um casal, que diante da
dissolução do vinculo, suscintam demandas envolvendo o aninal doméstico, porém, a
ausência de regras jurídicas mais claras sobre a situação do animal doméstico após
a dissolução da união não é clara, existindo aqui uma lacuna, tendo, o magistrado,
que decidir de forma arbitrária para não deixar de apreciar a matéria.
3.1 CASAMENTO
O Código Civil de 2002 (BRASIL, 2002), em seu art. 1723, traz a seguinte
redação a respeito da União estável.
Art. 1.723. É reconhecida como entidade familiar a união estável entre o
homem e a mulher, configurada na convivência pública, contínua e duradoura
e estabelecida com o objetivo de constituição de família.
Para que haja a caracterização desta união é necessário que esta relação seja
pública e contínua, e que o intuito desta seja o da constituição de uma família, o
compartilhamento de uma vida em comum. O que diferencia a união estável de outras
modalidades de relacionamentos, como a do noivado ou do namoro, é que nestas
existe a mera expectativa da constituição de uma família, para, em um futuro, quem
sabe, pode acontecer, já na união estável não, há um relacionamento contínuo,
duradouro e com o objetivo da constituição de uma família.
No que diz respeito a mais detalhes sobre a união estável, o código Civil traz
ainda mais 4 artigos, e deixa os demais questionamentos a cargo do legislador,
quando forem levantados.
No instituto da união estável existe a possibilidade, a requerimento das partes,
da conversão da união em registro civil, cabendo as partes interessadas na
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provocação do judiciário para que sua união seja convertida e tenha as mesmas
seguranças jurídicas que um casamento realizado no regime civil.
4 GUARDA
separação dos pais não seja o suficiente para afetar nem a relação, nem o pleno
desenvolvimento saudável.
A dissolução da sociedade conjugal, não implica também na dissolução das
responsabilidades de um dos “nubentes” quanto a prole obtida durante a constância
da união, e o Código Civil de 2002, traz no art. 1634 as competências do exercício do
poder familiar.
O ordenamento jurídico brasileiro, em seu art. 1583 § 2º, entende que na
guarda compartilhada “o tempo de convívio com os filhos deve ser dividido de forma
equilibrada com a mãe e com o pai, sempre tendo em vista as condições fáticas e os
interesses dos filhos” (BRASIL, 2002). E que, nesta modalidade de guarda, o local
escolhido como base da moradia dos filhos será aquele que melhor atender as
necessidades dos menores (art. 1583 § 3º Código Civil)
Para que haja o estabelecimento da guarda compartilhada deve haver a
provocação do judiciário, para que, havendo acordo, decidam como será administrada
a vida dos filhos após a dissolução da união, possibilitando um desgaste mínimo a
vida do mais vulnerável nesta relação.
Normalmente, a posse do pet fica com aquele que possui mais condições de
mantê-lo, porém, no instituto da guarda compartilhada, a outra parte, terá direito a
visitas, passeios, sendo tratado como um “filho” e não como um bem semovente, ou
móvel, como bem retrata o Código Civil de 2002 (SANCHES, 2018)
A ausência de regulamentação sobre a situação do pet, quanto a dissolução da
união, dificulta o trabalho do legislador, que deve analisar cada situação e julgar
conforme orientações baseadas em analogias, jurisprudências e até entendimentos
doutrinários para não se eximir do julgamento de uma questão tão delicada e recente
no ordenamento jurídico.
Este recente entendimento é devido a crescente demanda social em busca de
uma mudança de hábitos, na introdução de animais domésticos como companheiros
de pessoas solitárias ou de casais que não possuem filhos, cujos laços afetivos vão
se intensificando ao longo da convivência (SANTOS, 2019).
Porém, os desafios enfrentados nesta modalidade de guarda ainda são
discutidos, uma vez que há uma fragilidade neste compartilhamento, onde, muitas
vezes, aquele que fica com o “direito de posse” do pet, muitas vezes deseja, mantê-
lo de forma integral.
Sanches (s/p, 2018) complementa:
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Art. 2º Decretada a separação judicial ou o divórcio pelo juiz, sem que haja
entre as partes acordo quanto à guarda dos animais de estimação, será ela
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atribuída a quem revelar ser o seu legítimo proprietário, ou, na falta deste, a
quem demonstrar maior capacidade para o exercício da posse responsável.
Parágrafo único. Entende-se como posse responsável os deveres e
obrigações atinentes ao direito de possuir um animal de estimação.
Vale ressaltar, que este artigo, vem a sanar quaisquer dúvidas que o legislador
teria quanto aquele que teria o direito de guarda sobre o pet, na falta de entendimento
entre os “pais”, ou na escolha daquele que possuir melhores condições de mantê-lo.
O projeto ainda deixa claro, a possibilidade da guarda compartilhada, os direitos
igualitários dos responsáveis na manutenção de sua integridade física e emocional,
visando garantir sua vida.
Apesar das inovações apresentadas pelo projeto, que sanariam algumas
lacunas referentes aos diretos dos animais domésticos e sua situação dentro do direito
de família, o projeto de lei foi arquivado, devido ao Regimento interno da Câmara dos
Deputados nº 105, mesmo assim, seus escritos são utilizados com um apoio no
entendimento de alguns julgados.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
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<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l3071.htm>. Acesso em: 28 Junho 2021.
BRASIL. Código Civil (2002). Lei 10.406 de 10 de janeiro de 2002. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406compilada.htm
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm>.
Acesso em: 28 Junho 2021.
BRASIL. Projeto de Lei 1.058 de 2011. Dispõe sobre a guarda dos animais de
estimação nos casos de dissolução litigiosa da sociedade e do vínculo conjugal
entre seus possuidores, e dá outras providências. Disponível em:
https://www.camara.leg.br/proposicoesWeb/prop_mostrarintegra?codteor=859439&fil
ename=PL+1058/2011; Acesso em 13 novembro 2021
BRASIL. Projeto de Lei 1.365 de 2015. Dispõe sobre a guarda dos animais de
estimação nos casos de dissolução litigiosa da sociedade e do vínculo conjugal
entre seus possuidores, e dá outras providências. Disponível em:
https://www.camara.leg.br/proposicoesWeb/prop_mostrarintegra?codteor=1328694&
filename=PL+1365/2015; Acesso em: 13 novembro 2021
DIAS, Maria Berenice. Manual de Direito das Famílias. 14. ed. Salvador: Editora
Juspodivm, 2021.
DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro: direito de família. 23. Ed.
São Paulo: Saraiva, 2014
GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro: direito de família. 12º ed.
São Paulo: Saraiva, 2015
LÔBO, Paulo. Direito Civil: famílias. 7º ed. São Paulo: Saraiva, 2017
TARTUCE, Flávio. Manual de Direito Civil. 09. ed. São Paulo: Método, 2019.