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PARA O JOVEM QUE ENCONTROU O MESSIAS

BRILHE A SUA LUZ DIANTE DOS HOMENS (Mt 5,16)

1. O encontro que muda a sua vida

Caro/a jovem,
aqui estamos nós, ainda novamente juntos para continuar o caminho que iniciámos no
ano passado, quando fizemos a experiência de “encontrar o Messias”.
Como bem se lembra, o episódio narrado no Evangelho de João (Jo 1,35-42)
acompanhou-nos nos nossos encontros de preparação para a II Jornada Nacional da
Juventude. Aqui está o texto:
“No dia seguinte, estava lá João outra vez com dois dos seus discípulos. E, avistando
Jesus que ia passando, disse: “Eis o Cordeiro de Deus”. Os dois discípulos ouviram-no
falar e seguiram Jesus. Voltando-se Jesus e vendo que o seguiam, perguntou-lhes: “Que
procurais?”. Disseram-lhe: “Rabi (que quer dizer Mestre), onde moras?”. “Vinde e vede”,
res¬pondeu-lhes ele. Foram aonde ele morava e ficaram com ele aquele dia. Era cerca
da hora décima. André, irmão de Simão Pedro, era um dos dois que tinham ouvido João
e que o tinham seguido. Foi ele então logo à procura de seu irmão e disse-lhe:
“Encontrámos o Messias (que quer dizer o Cristo)”. Levou-o a Jesus, e Jesus, fixando
nele o olhar, disse: “Tu és Simão, filho de João; serás chamado Cefas (que quer dizer
pedra)”. No dia seguinte, tinha Jesus a intenção de dirigir-se à Galileia. Encontra Filipe e
diz-lhe: “Segue-me”. (Filipe era natural de Betsaida, cidade de André e Pedro). Filipe
encontra Natanael e diz-lhe: “Encontrámos aquele de quem Moisés escreveu na Lei e
que os profetas anunciaram: é Jesus de Nazaré, filho de José” (Jo 1,35-42).
Este trecho evangélico apresenta o encontro de Jesus com os seus primeiros discípulos.
A cena tem lugar no rio Jordão, um dia depois do batismo de Jesus. É o próprio João
Batista que indica o Messias a dois deles com estas palavras: “Eis o Cordeiro de Deus!”
(v. 36). E aqueles dois, confiando no testemunho do Batista, seguem Jesus. Vendo que
o seguiam, Jesus perguntou-lhes: “Que procurais?” e eles disseram-lhe: “Mestre, onde
moras?” (v. 38). Jesus não responde: “Moro em Cafarnaum ou Nazaré”, mas diz: “Vinde
e vede” (v. 39). Não um cartão-de-visita, mas um convite a um encontro. Os dois
seguem-no e naquela tarde permanecem com Ele. E de repente descobrem que, à
medida que a noite cai em seu redor, neles, nos seus corações, irrompe a luz que só
Deus pode dar. Depois, quando se despedem e regressam junto dos seus irmãos, esta
alegria, esta luz transborda dos seus corações como um rio em cheia. Um daqueles
dois, André, diz ao seu irmão Simão, a quem Jesus chamará Pedro, “Encontrámos o
Messias” (v. 41).
A narração do Evangelho indica as caraterísticas essenciais do itinerário de fé. Trata-se
do percurso dos discípulos de todos os tempos, também nosso, a partir da pergunta
que Jesus dirige aos dois que, encorajados por João Batista, se põem a segui-lo: “Que
procurais?” (v. 38). É a mesma pergunta que, na manhã de Páscoa, o Ressuscitado
dirigirá a Maria Madalena: “Mulher, quem procuras?” (Jo 20,15). Como seres humanos,
cada um de nós está à procura: em busca de felicidade, de amor, de vida boa, de êxito.
Deus Pai concedeu-nos tudo isto no seu Filho Jesus.
Nesta busca é fundamental o papel de uma verdadeira testemunha, de uma pessoa que
primeiro percorreu o caminho e encontrou o Senhor. No Evangelho, João Batista é esta
testemunha, por isso, pode orientar os discípulos para Jesus. E aqueles dois já não
poderão esquecer a beleza de tal encontro, a ponto que o evangelista menciona até a
hora: “Era cerca da hora décima” (V. 39). Somente um encontro pessoal com Jesus gera
um caminho de fé e de discipulado. Poderia viver muitas experiências, fazer muitas
coisas, estabelecer relações com numerosas pessoas, mas só o encontro com Jesus,
na hora que Deus conhece, pode dar sentido à sua vida e tornar fecundos os seus

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projetos e as suas iniciativas.
A vida de fé consiste no desejo de estar com o Senhor e, portanto, numa busca contínua
do lugar onde Ele mora. Nisso, não se pode chegar ao Senhor sem a sua Palavra viva e
eficaz (Heb 4,12). Esta foi dada a todo o Povo de Deus para ser acolhida, rezada, e
meditada. Cada cristão é chamado a aproximar-se de Jesus através da sua Palavra, e,
ao mesmo tempo, é chamado a aproximar-se dos outros seus irmãos e irmãs através
de Jesus que o envia.
Procurar Jesus, encontrar Jesus, seguir Jesus: este é o caminho.

2. O encontro que se torna missão

Jesus, a um dado momento, deixa a vida tranquila de Nazaré, mudando para Cafarnaum,
cidade situada junto do mar da Galileia, lugar de passagem, espaço onde se encontram
povos e culturas diferentes. O que o move é a missão de anunciar a Palavra de Deus,
que deve ser levada a todos. Vemos realmente no Evangelho que o Senhor convida à
conversão, e chama também os primeiros discípulos para transmitirem aos outros a luz
da Palavra (Mt 4,12-23). Do encontro com Jesus vem a missão de cada cristão, de cada
jovem, como nos diz o texto do Evangelho:
“Quando, pois, Jesus ouviu que João fora preso, retirou-se para a Galileia. Deixando a
cidade de Nazaré, foi habitar em Cafarnaum, à margem do lago, nos confins de Zabulon
e Neftali, para que se cumprisse o que foi dito pelo profeta Isaías: A terra de Zabulon e
de Neftali, região vizinha ao mar, a terra além do Jordão, a Galileia dos gentios, este
povo, que jazia nas trevas, viu resplandecer uma grande luz; e surgiu uma aurora para os
que jaziam na região sombria da morte (Is 9,1). Desde então, Jesus começou a pregar:
“Convertei-vos, porque está próximo o Reino do Céu”. Caminhando ao longo do mar da
Galileia, viu dois irmãos: Simão (chamado Pedro) e André, seu irmão, que lançavam a
rede ao mar, pois eram pescadores. E disse-lhes: “Vinde após mim e vos farei
pescadores de homens”. Na mesma hora, abandonaram suas redes e o seguiram.
Passando adiante, viu outros dois irmãos: Tiago, filho de Zebedeu, e seu irmão João,
que estavam com seu pai Zebedeu consertando as redes. Chamou-os, e eles
abandonaram a barca e seu pai e o seguiram. Jesus percorria toda a Galileia, ensinando
nas suas sinagogas, pregando o Evangelho do Reino, curando todas as doenças e
enfermidades entre o povo” (Mt4,12-23).
O Evangelho apresenta-nos Jesus sempre em movimento, saindo ao encontro dos
outros. Em nenhuma ocasião da sua vida pública, nos dá a ideia de ser um mestre
estático, um professor sentado na sua cátedra; pelo contrário, Ele é sempre itinerante,
peregrino, a percorrer cidades e aldeias ao encontro de pessoas e acontecimentos. Os
seus pés são os do mensageiro que anuncia a boa-nova do amor de Deus (Is 52,7-8).
Como observa o texto, lá onde Jesus prega, na Galileia dos gentios, jazia um povo
mergulhado nas trevas: estrangeiros, pagãos, mulheres e homens de variadas regiões e
culturas (Mt 4,15-16). E agora também eles podem ver a luz.
Assim Jesus “alarga as fronteiras”: a Palavra de Deus, que cura e levanta, não se
destina apenas a alguns, mas a todos; quer alcançar os que estão longe, curar os
doentes, salvar os pecadores, encorajar a quantos têm o coração cansado e oprimido.
Jesus ultrapassa os confins para nos dizer que a misericórdia de Deus é para todos.
Este aspeto é importante também para você, caro/a jovem. Não lhe aconteça professar
um Deus de coração largo e ser um jovem de coração estreito; não lhe aconteça saber
que é chamado a levar o anúncio do Reino e, ao mesmo tempo, transcurar a Palavra,
dispersando-se em tantas atividades ou discussões secundárias. Aprenda com Jesus a
colocar a Palavra no centro, a alargar as fronteiras, abrir-se às pessoas, gerar
experiências de encontro com o Senhor.
Na sua pregação, Jesus repete: “Convertei-vos, porque está próximo o Reino do Céu”

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(Mt 4,17). Isto significa que a proximidade de Deus não deixa as coisas como estão,
pelo contrário, a sua Palavra mexe consigo, convida-o à mudança, à conversão: põe-no
em crise, porque a Palavra penetra na vida, fazendo-lhe discernir sentimentos e
intenções do coração, ou seja, fazendo-lhe ver qual é a luz do bem a que há-de dar
espaço e onde, ao contrário, se adensam as trevas dos vícios e pecados que tem de
combater. A Palavra, quando penetra em si, transforma o coração e a mente; muda-o,
levando a orientar a vida para o Senhor. Este é o convite de Jesus: Deus aproximou-Se
de si, por isso reconheça a sua presença, de espaço à sua Palavra e mudará a
perspetiva da sua vida.
Então, meu irmão e minha irmã, pode perguntar-se: “A minha vida, que direção toma;
donde tira a orientação? Das numerosas palavras que escuto, das fofocas, ou da
Palavra de Deus que me guia e purifica? E em mim, quais são os aspetos que exigem
mudança e conversão?”.
A Palavra de Deus, que se dirige a todos e chama à conversão, torna cada jovem que a
escuta discípulo missionário. Com efeito, Jesus passa pelas margens do lago da
Galileia e chama Simão e André, dois irmãos que eram pescadores. Convida-os, com a
sua Palavra, a segui-Lo, dizendo que fará deles “pescadores de homens” (Mt 4, 19): já
não peritos só em barcos, redes e peixes, mas peritos na busca dos outros. Este é o
dinamismo da Palavra: atraí-lo para a “rede” do amor do Pai e torná-lo discípulo que
sente o desejo de fazer subir para a barca do Reino todos os que encontra. Assim, sinta-
se chamado por Jesus pessoalmente para anunciar a sua Palavra, testemunhá-la nas
situações de cada dia, vivê-la na justiça e na caridade.
Esta é a sua missão: sair à procura de quem está perdido, de quem está oprimido e
desanimado, para lhes levar a consolação da Palavra, o anúncio de Deus que
transforma a vida, para lhes levar a alegria de saber que Ele é Pai e fala a cada um, levar
a beleza de dizer: “Irmão, irmã, Deus aproximou-Se de si, escuta-O e, na sua Palavra,
encontrará um dom maravilhoso!”

3. O encontro que ilumina a todos

Portanto, a partir do encontro pessoal com Jesus e com a Sua Palavra, nasce a missão
de cada cristão, de cada jovem, nasce a sua missão também: levar a luz do Messias ao
mundo! Você jovem deveria ser uma pessoa luminosa, que dá luz! Uma luz que não é
sua, mas é a prenda de Deus, é a prenda de Jesus. E você leva esta luz. Se você apagar
esta luz, a sua vida não terá sentido: é cristão só de nome, que não leva a luz, que leva
uma vida sem sentido.
Como batizado, imerso na Graça, foi arrancado das trevas e colocado na luz da fé. Mas
não é suficiente receber a luz, é preciso tornar-se luz. Caro jovem, você é chamado a
receber a luz divina a fim de a manifestar com toda a sua vida. Os primeiros cristãos,
diziam que a Igreja, era o “mistério da lua”, porque dava luz mas não tinha luz própria,
era a luz que recebia de Cristo. Também você deve ser “mistério da lua”: dar a luz
recebida do sol, que é Cristo,  Senhor. São Paulo recorda isto: “Comportai-vos, pois,
como filhos da luz; agora o fruto da luz consiste na bondade, na justiça e na verdade,
procurando discernir o que é agradável ao Senhor” (Ef 5, 8-10). A semente de vida nova
colocada em si no Batismo é como a centelha de um fogo, que o purifica antes de tudo,
queimando o mal no seu coração, e permite-o brilhar e iluminar, com a luz de Jesus.
Por isso é importante comportar-se como filho da luz, vivendo estas atitudes, entre as
quais saliento a bondade. Esta virtude, é um fator importante na cultura do diálogo, e o
diálogo é indispensável para viver em paz, para viver como irmãos, que nem sempre se
dão bem, é normal, mas que, no entanto, se falam, se escutam e procuram compreender
-se e encontrar-se. Não é apenas questão de “formalidade”; não é questão de “etiqueta”.
Ao contrário, trata-se de uma virtude a recuperar e a exercer todos os dias, para ir

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contracorrente e humanizar a nossa sociedade.
O dano mais grave do individualismo é que outros, as pessoas à minha volta, são
considerados como obstáculos à minha tranquilidade, ao meu conforto. Outros
“incomodam-me”, “perturbam-me”, “tiram-me tempo” e recursos para fazer o que quero.
As sociedades individualistas e consumistas tendem a ser agressivas, porque os outros
são concorrentes com os quais competir. No entanto, nesta nossa sociedade e até nas
situações mais difíceis, há pessoas que demonstram que ainda é possível escolher a
bondade, a gentileza, a amabilidade  e assim, com o seu estilo de vida, tornam-se luz no
meio das trevas.
São Paulo, na Carta aos Gálatas (5,22), fala dos frutos do Espírito Santo, e entre eles
menciona de facto a bondade: uma atitude benevolente, que apoia e conforta os outros.
Um modo de tratar o próximo, tendo o cuidado de não ferir com palavras ou gestos;
procurando aliviar o fardo dos outros, encorajar, confortar, consolar; sem nunca
humilhar, mortificar ou desprezar.
Caro irmão e irmã, acho que a vivência da bondade como virtude pessoal pode ajudar a
melhorar a vida na sua família, na comunidade, nas aldeias e cidades. A experiência
ensina que se ela se tornar um estilo de vida, pode criar uma convivência saudável, pode
humanizar as relações sociais, dissolvendo a agressão e a indiferença, promovendo o
respeito e o cuidado.
Para que a luz que recebeu de Cristo possa brilhar, através da sua vida, diante dos
homens e mulheres desse tempo, é necessário favorecer os valores universais que
traçam o caminho da fraternidade humana. Isso só pode acontecer se colocar no centro
das relações a palavra “juntos”. Com efeito, é juntos, na fraternidade e solidariedade,
que construímos a paz, garantimos a justiça, superamos os acontecimentos mais
dolorosos. Só a paz que nasce do amor fraterno nos pode ajudar a superar as crises
pessoais e sociais.
Caro/a jovem, para isso acontecer, deve repensar-se à luz do bem comum, com um
sentido comunitário, acolhendo a todos os que partilham o destino deste mundo. Não
pode ter em vista apenas a proteção de si próprio, mas é hora de se comprometer em
prol da cura dessa sociedade e desse planeta, criando as bases para um mundo mais
justo e pacífico, empenhado na busca dum bem que seja verdadeiramente comum. Para
fazer isto e viver melhor, não se pode ignorar um dado fundamental: tudo está
interligado. E assim cada um é chamado a enfrentar, com responsabilidade e
compaixão, os desafios desse mundo.
O desafio de garantir a saúde pública para todos; de melhorar a qualidade do ensino
escolar como garantia para o desenvolvimento do País; de promover ações de paz para
acabar com os conflitos e as guerras que continuam a gerar vítimas e pobreza; de
cuidar da mãe terra, da casa comum e implementar medidas eficazes para proteger o
ambiente onde vive; de combater o vírus das desigualdades, da corrupção e garantir
uma vida digna para todos. Somente enfrentando estas situações, inspirado no amor
misericordioso de Deus, é que poderá contribuir a construir um mundo novo e edificar o
Reino de Deus, que é Reino de amor, justiça, paz e fraternidade para todos. Sentir fé é
ter confiança de que tudo vale a pena. Você se torna luz se há fé no coração.

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