Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
7287 Artigos
Resumo
O objetivo principal deste artigo é o de comparar os temas de Produção
Enxuta e Construção Enxuta por meio de três técnicas distintas: kanbans;
balanceamento de linha x linha de balanceamento e rede de fornecedores.
Para tal foi realizado um levantamento bibliográfica baseado no modelo de
ponderação proposto por Etges (2012). O principal resultado encontrado
é o aumento de soluções e estratégias voltadas especificamente para o
universo da Construção Enxuta, o que contribui para a consolidação
desta como filosofia distinta da Produção Enxuta. Este artigo pode ser de
interesse de empresas do setor de Construção e também de órgãos públicos e
pesquisadores ligados ao setor.
Palavras-chave: Construção Enxuta. Produção Enxuta. Lean.
Abstract
The main objective of this article is to compare Lean Production and
Lean Construction by means of three techniques: the use of kanbans; Line
Balancing X Line of Balance and supplier network. For this, a bibliographic
survey was carried out based on the weighting model proposed by Etges
(2012). The main result found is the increase of solutions and strategies
1 Universidade Federal do Paraná (UFPR)
vitorfelipenery@gmail.com
aimed specifically at the Lean Construction universe, which contributes to
the consolidation of this as a distinct philosophy of Lean Production. This
2 Universidade Federal do Paraná (UFPR)
ricardomendesjr@gmail.com
article may be of interest to companies in the Construction sector and also
to public agencies and researchers related to the sector.
3 Universidade Federal do Paraná (UFPR)
izabel.zattar@gmail.com Keywords: Lean Construction. Lean Manufacturing. Lean.
fontes que o auxilia- Fluxo de valor (ação específica para se elevar o valor, removendo desperdícios)
Fluxo (visão geral das etapas da produção, eliminar interrupções)
ram na avaliação do
Puxar (produção de acordo com solicitação do cliente)
uso de cada categoria
Perfeição (melhoria contínua do valor e eliminação de perdas)
de prática, sendo que
Quadro 1: 5 Princípios do Lean Thinking
na sequência propôs Fonte: Elaborado a partir de Mariz e Picchi (2013).
e aplicou um mode-
lo com fatores de ponderação tendo como base as Em uma tentativa de explicar o que seria o
opiniões de especialistas em Construção Enxuta. Pensamento Enxuto (lean thinking), Liker e Meier
O problema de pesquisa que norteia este artigo (2007) propõem os 4 Ps (Philosophy, Process,
é “É possível comparar a Produção Enxuta e a People and partners, Problem solving) que vi-
riam a balizar os princípios da Produção Enxuta, quantidade corretos. Para tal é necessário uma sin-
os quais são descritos na sequência. Filosofia cronia e equilíbrio entre processos, fornecedores e
(Philosophy) é o alicerce para um pensamento distribuidores. Para aperfeiçoar a relação entre os
de longo prazo é a filosofia enxuta, onde líderes processos, foi criada uma ferramenta visual bas-
concebem a empresa como um meio de agregar tante simples denominada kanban (Shingo, 1996;
valor aos clientes, à sociedade, à comunidade e aos Ohno, 1997). O kanban tem como especificidade
seus funcionários. Já o Processo (Process), trata o fato de, no curto prazo, “puxar” os lotes de pe-
da ideia é que processos corretos levam a resul- ças dentro do processo produtivo (produção pu-
tados corretos. Pessoas e parceiros (People and xada), enquanto os tradicionais métodos de pro-
partners): de acordo com esse princípio é essen- gramação da produção “empurram” (produção
cial o desenvolvimento de longo prazo de pessoas empurrada) um conjunto de ordens de fabricação
e parceiros, para que se possa agregar valor aos ou de compras (Tubino, Silva, & Poler, 2012).
clientes; uma ótima opção é desafiando e estimu- Porém apesar do Sistema Toyota de Produção
lando seus funcionários e parceiros a crescer. Por ser estudado e debatido desde a década de 50 do
fim, a solução de problemas (Problem solving) em século passado, o conceito de lean ainda hoje não
sua causa original (e não os seus efeitos apenas) é algo cristalizado no meio acadêmico (Shah &
conduz à aprendizagem organizacional e à melho- Ward, 2007; Pettersen, 2009). Portanto, com a in-
ria contínua. tenção de compreender melhor o que é realmente a
De acordo com Vivan e Paliari (2012) o lean filosofia lean, é preciso trazer algumas definições.
também pode estar presente na elaboração do pro- Hopp e Spearman (2004) conceituam Produção
jeto, aplicando o chamado Lean Design, o qual Enxuta como um sistema integrado o qual de-
leva em consideração as dimensões fluxo, valor sempenha a produção de produtos e serviços
e conversão para desenvolver o projeto de modo com quantidades mínimas de estoques e custos.
enxuto, levando em consideração o fluxo de infor- Curiosamente, a filosofia lean possui uma traje-
mações, redução de desperdícios e levando sempre tória similar com a da Gestão da Qualidade Total
em conta o processo produtivo do produto. (TQM): ambos viajaram dos EUA para o Japão e
O Sistema de Produção Enxuta está direta- então retornaram ao mundo ocidental (Dahlgaard-
mente associado e muitas vezes confunde-se com Park, Chen, Jang, & Dahlgaard, 2013).
o Sistema Toyota de Produção, também chamado Em termos sintéticos acerca da Produção
de just-in-time (JIT) (Ohno, 1997). O just-in-time Enxuta é interessante recorrer aos cinco princí-
tem como fundamento a ideia de que nada deve ser pios necessários a um sistema de produção enxuto
produzido até que seja de fato necessário. O JIT proposto por Womack e Jones (1996). Os auto-
surgiu na Toyota Motor Company of Japan, tendo res consideravam processos enxutos como sendo
sido concebido pelos engenheiros Eiigi Toyoda e aqueles que apresentam um baixo número de per-
Taiichi Ohno. das. Essas perdas estariam nas atividades do pro-
O Sistema Toyota de Produção objetiva a jeto, nas transformações físicas dos processos e na
produção de diversos modelos de automóvel, em gestão da informação (Womack & Jones, 1996).
pequenas quantidades, porém de modo lucrativo Os cinco princípios mencionados acima se-
e eficiente. O just-in-time é então composto pelo riam: definir de maneira pormenorizada qual o va-
fluxo contínuo e em lotes pequenos de peças para lor de um produto parametrizando-se pelo cliente
atender o cliente no momento exato, no local e final, atendendo sempre às especificações espera-
das, aos aspectos de suas capacidades ao seu preço Além disto, existem ainda três características
e ao tempo de produção; identificar toda a cadeia da Construção que a diferem da indústria manu-
de valor de cada produto ou família de produtos e fatureira: projetos feitos no local (não em fábricas
como eliminar perdas nesse fluxo; originar um flu- cujo layout foi pensado e projetado para desen-
xo de valor tendo como referência a cadeia de valor volver produtos); projetos únicos, embora já exista
obtida; configurar o sistema produtivo de modo uma tendência de pradronização; e complexidade
que a cadeia de valor seja ativada (ou startada) a (número de variáveis no projeto é muito maior)
partir do pedido do cliente: puxar a programação; (Koskela 2000). Estas características da constru-
melhorar continuamente a cadeia de valor através ção derivam de uma maneira mais geral, das ca-
da redução de perdas (Womack & Jones, 1996). racterísticas de projetos em contrapartida às da
A importância e os benefícios da adoção produção, a ideia de unicidade do produto final e
da filosofia lean como forma de aperfeiçoar o de uma organização montada para desenvolvê-lo a
desempenho das organizações em um cenário qual só durará até a conclusão do projeto (Ballard,
de intensa competição em escala global são bas- 2000). Porém, vale ressaltar que as diferenças en-
tante discutidas e estudadas. Tem sido aplicada tre essas características de produto e projeto estão
em áreas diversas como a Saúde (Eiro & Torres, se reduzindo dado o aumento das possibilidades
2013), Agricultura (Shiraishi, 2013) ou Educação de customização de um produto (o que aumenta
(Radnor & Bucci, 2011). Também é adotada na as chances de unicidade) e fatores como o desmon-
construção civil, chamada Construção Enxuta te e deslocamento de plantas de fábricas (Ballard,
(Koskela, 1992), que será abordada a seguir. 2000).
No ano de 1992, o finlandês Lauri Koskela
2.2 Construção Enxuta publicou o trabalho Application of the New
A construção civil tem evoluído bastante em Production Philosophy to Construction pelo
termos de métodos e técnicas gerenciais, em espe- CIFE– Center for Integrated Facility Engineering,
cial aquelas ligadas ao projeto do produto e plane- na Universidade de Stanford. O autor adaptou
jamento e controle da produção (Salem, Solomon, princípios do Sistema Toyota de Produção (just-
Genaidy & Wankarah, 2006; Valente, Novaes, in-time) para o universo da Construção Civil. O
Mourão, & Barros, 2012). E, apesar de suas espe- objetivo do trabalho era propor ao setor da cons-
cificidades e características particulares, conceitos trução civil um sistema de gestão de qualidade de
originalmente surgidos em ambientes fabris vêm sucesso como foi o Sistema Toyota de Produção
sendo incorporados e adaptados para o universo para as linhas de produção da Toyota Motor
da construção civil (Mariz & Picchi, 2013; Salem Company.
et al. 2006). Já em 2000 Koskela propõe que os proces-
Uma das principais características que dife- sos da construção civil sejam compreendidos em
rem entre ambientes fabris e construtivos, reside dimensões Transformação-Fluxo-Valor (TFV).
no tamanho das unidades produzidas, sendo que Koskela (2000) defende que explorando essas 3
os produtos finais da primeira geralmente podem dimensões (transformação, fluxo e valor) haveria
ser movidos e transportados, enquanto os da se- um aumento da eficiência. Ele ainda utiliza con-
gunda – devido ao tamanho das unidades – usu- ceitos da Produção Enxuta como a importância
almente não podem ser transportados (Salem et do valor percebido pelo cliente e que este determi-
al. 2006). na o que produzir.
Se os princípios da Construção Enxuta apre- Com o passar dos anos o uso de ferramentas
sentados por Koskela (1992) são similares aos da lean como o kanban foi estudado por diversos au-
Produção Enxuta (Liker & Meier, 2007) as práti- tores e profissionais (Koskela et al., 2016). Foram
cas nem tanto. A Produção Enxuta possui práticas estudados também os resultados destas no univer-
padronizadas, como o sistema de produção puxa- so da construção civil e propostas técnicas como
da e o uso de kanbans. Na construção civil, por o kanBIM voltadas mais especificamente para a
outro lado, ainda não há uma definição muito cla- Construção Enxuta (Koskela et al., 2016).
ra de quais seriam práticas típicas da Construção
Enxuta. Apesar disto, muitas práticas e discus-
sões já foram feitas sobre a Construção Enxuta 3 Procedimentos metodológicos
(Aziz & Hafez, 2013; Badukale & Sabihuddin,
2014; Cabrera, Pulido & Díaz, 2015; Paez, Salem, Este estudo teve por base os elementos toma-
Solomon & Genaidy 2005; Jørgensen & Emmitt, dos como importantes por Etges (2012). O pes-
2008; Koskela et al., 2016; Salem et al., 2006; Wu quisador utilizou em seu estudo uma metodologia
& Barnes, 2016). Jørgensen e Emmitt (2008) des- dividida em quatro fases para avaliar práticas da
tacam que a implementação e aplicação são temas
Construção Enxuta. A primeira foi uma revisão
preponderantes das publicações recentes. No en-
bibliográfica utilizando referências clássicas da
tanto, ainda não possui o mesmo volume de pu-
Produção Enxuta e da Construção Enxuta para
blicações e discussões mais amadurecidas como
uma identificação inicial de categorias de práticas
a Produção Enxuta. Jørgensen (2008) pontua
que pudessem ser aplicadas à Construção Enxuta
também que na aplicação dos princípios lean do
(Etges, 2012).
setor industrial para a construção ainda ocorrem
A segunda etapa do trabalho de Etges se
desafios para se obter uma eficiência no segun-
constituiu em analisar palavras-chaves presentes
do como a encontrada no primeiro. Aziz e Hafez
em artigos publicados no International Group for
(2013) pontuam que mesmo o uso de tecnologias
Lean Construction entre 1993, ano de sua funda-
mais modernas na construção civil como o CAD
ção, e 2010. Foram avaliados nessa etapa 736 tra-
(Computer Aided Design) não garantiria por si
balhos, dos quais 672 continham palavras-chave,
uma evolução da gestão da construção, destacan-
do a necessidade de uma filosofia de gestão como priorizando os que envolvessem aplicação prática
Na produção industrial, o kanban já é am- dutividade e não extrapolação das restrições orça-
plamente difundido como uma forma de ordena- mentárias (Zhang & Chen, 2016).
ção logística, passando da produção até a entrega
do item ou conjunto de itens necessários à manu- 4.2 Balanceamento de linha x
fatura (Liker & Meier, 2007). Os cartões kanban Linha de balanço
puxam os materiais na construção e podem ser Apesar da aparente semelhança entre os
associados à programação do Last Planner (Paez nomes, as peculiaridades entre os conceitos de
et al., 2005). A Figura 3 exemplifica uma possibi- Balanceamento de Linha e Linha de Balanço
lidade de cartões kanban. (Line of Balance) estão além da ordem de pala-
vras. Ambas surgem no ambiente
da produção fabril, porém a se-
Exemplo de Cartões Kanban
gunda passou a ser incorporada
Pedido Pedido Pedido muito mais na Construção Civil
Nome Nome Nome (Mendes, 1999) e, além disso,
peça peça peça
é adotada no Brasil há conside-
Nº peça Nº peça Nº peça
ravelmente menos tempo que a
Família Família Família
primeira. Vale ressaltar que a
Figura 3: Exemplo de Cartões Kanban tradução mais apropriada para
Fonte: Os Autores. Adaptado de Turner e Lane (2013).
line of balance seria fila ou linha
de balanceamento, mas como
Na literatura são apresentados casos de uso Linha de Balanço – apesar de ser uma tradução
do kanban na construção civil na etapa de alvena- errônea – é mais utilizado em publicações ele
ria, em específico no controle de tijolos, cimento, será mantido seguindo a mesma utilização feita
areia, materiais de almoxarifado e na produção por Mendes (1999).
de argamassa (Arantes, 2008). Sua utilização em O Balanceamento de Linha é algo muito im-
obras tem aumentado bastantes na década atu- portante e comum da mentalidade lean e prática
al, sobretudo com a tentativa de conscientização comum na Gestão da Produção (Nguyen & Do,
e capacitação dos operários de obras (Barbosa, 2016). Uma linha balanceada é aquela em que
Andrade, Biotto, & Mota, 2013). há a distribuição mais uniforme possível entre as
Ferramentas específicas da Construção atividades e os postos de trabalho evitando as-
Enxuta foram propostas desde sua criação, um sim gargalos e perdas nos níveis de produtividade
exemplo seria o KanBIM (Koskela et al., 2016). (Martins & Laugeni, 2001). O ato de balancear a
A ferramenta KanBIM é uma aplicação do kan- linha de produção se caracteriza por definir o con-
ban combinado a características do BIM (Building junto de atividades as quais virão a ser executadas
Information Modeling) para se adequar melhor às de modo a garantir um tempo de processamento
peculiaridades da construção civil (Gurevich & aproximadamente igual entre os postos de traba-
Sacks, 2014). lho (Schafranski & Tubino, 2013). No intuito de
O sistema kanban propícia à gestão do con- minimizar a ocorrência de desperdícios, é neces-
sumo de materiais na obra e do fluxo de ativida- sário aprimorar a sincronia entre as exigências
des (Zhang & Chen, 2016). Esta gestão ajuda na de produção e a capacidade da linha, nivelando
redução de desperdícios na obra, aumento da pro- a produção com a demanda (Lam, Toi, Tuyen, &
Hien, 2016). Assim, na proporção em que a de- cumprimento das metas de produtividade e ritmo
manda aumenta, ou retrai, deve ser feito o ajuste (Ichihara, 1997).
do tempo de ciclo da linha e alterado o ritmo de A programação de atividades na construção
produção, pela inclusão ou corte de recursos e (ou) de edifícios altos é bastante simplificada com o
redistribuição de atividades entre os operadores uso da técnica de Linha de Balanço (LOB). Esta
(Silva & Porto, 2008). técnica faz uso da repetitividade das atividades ao
Realizar este processo de distribuição é o cha- longo do projeto, no caso dos edifícios, ao lon-
mado balanceamento e para fazê-lo são emprega- go dos pavimentos, parte destes ou das fachadas
dos alguns métodos como a Teoria das Restrições, (Sarraj 1990 apud Mendes & Heineck, 1997). O
uma importante metodologia utilizada na gestão seu uso permite a simulação de várias alternati-
lean (Nguyen & Do, 2016). Nesta metodologia vas de estratégia de obra e ritmos de produção dos
são empregados cálculos a fim de determinar as diversos serviços (Badukale & Sabihuddin, 2014).
principais restrições de um sistema produtivo e O objetivo principal destas simulações geralmente
atuar mais intensivamente nelas, o que ampliaria será o atendimento ao prazo da obra ou ao cro-
a eficácia destas ações (Goldratt, 2010; Kucukkok nograma financeiro estabelecido. O problema da
& Zhang, 2014; Susilawati, Tan, Bell, & Sarwar, programação da construção de edifícios com a
2015; Sternatz, 2015). LOB consiste primordialmente na alocação das
A técnica de Linha de Balanço foi concebida equipes para uma determinada atividade nos su-
pela empresa estadunidense Goodyear na década cessivos pavimentos resolvendo qualquer conflito
de 40 do século passado para, em um segundo de precedências com as atividades já programadas
momento, ser desenvolvida pela Marinha estadu- (Badukale & Sabihuddin, 2014). Os usos da LOB
nidense durante a Segunda Guerra Mundial, na e seus ganhos têm sido estudados assim como ten-
programação e controle de projetos repetitivos tativas de melhorias e otimizações da ferramenta
e não repetitivos. As suas primeiras aplicações utilizando técnicas como a simulação (Cabrera et
ocorreram na indústria de manufaturados na al., 2015). A técnica pode ser compreendida nas
programação do fluxo de produção. A sua utili- Figuras 4 e 5.
zação na construção civil foi mais
difundida na Europa, no perío-
do do Plano Marshall, em obras
com serviços bastante repetitivos,
como pontes e estradas (Ichihara,
1997). É a técnica mais adequa-
da à programação de projetos
repetitivos da Construção Civil.
No entanto, sua utilização requer
cuidados com algumas influên-
cias tayloristas, que podem vir a
causar problemas com a mão-de-
obra; é necessário um bom desem-
penho da gerência e do controle
Figura 4: Diagrama de Gantt x Linha de Balanço
para evitar excessos relativos ao Fonte: Mendes (1999).
as maiores empresas do setor automobilístico deci- mizar os efeitos causados, realizando o balancea-
diram adotar a estratégia de relacionamento com mento das atividades, reduzindo esperas e garan-
fornecedores da Toyota a qual era pioneira no uso tindo o fluxo (Pero, Stößlein, & Cigolini, 2015).
da filosofia lean (Liker & Meier, 2007). A gestão Porém, o fluxo será interrompido em algum mo-
da rede de fornecedores é um dos principais dife- mento. Assim, se esta situação de interrupção de
renciais competitivos para corporações do ramo fluxo não for prevista durante o planejamento, é
alimentício (Folinas, Aidonis, Triantafillou, & necessário que se replanejem as atividades e não
Malindretos, 2013). Estudos mensuram quantita- apenas que se as redistribua como ocorre no pro-
tivamente os fluxos de materiais em uma cadeia cesso habitual (Rosenblum et al., 2007). A reali-
produtiva e utilizam indicadores quantitativos zação de uma construção envolve diversas equipes
para mensurar a eficiência desse fluxo (Júnior, de trabalho interdependentes, tais como projetis-
Siluk, & Nara, 2015). tas, fornecedores e empresas prestadoras de ser-
No universo da construção é sabido que viço. Logo, deve ser feito o gerenciamento deste
ainda não ocorre uma integração total e muito processo de modo integral (Shukor et al., 2016).
harmônica entre a rede de fornecedores e a obra Santos (2006) utilizando a função de compras
como a mesma que se dá na produção industrial como perspectiva de análise aponta que maioria
(Rosenblum, Azevedo, Borges, & Tavares, 2007). das construtoras apresenta, geralmente, proble-
Baseado nesses fatos, o planejamento visa mini- mas nas relações com a cadeia de suprimento e
seus fornecedores como: falta de controle, centra- modo lean a relação com a rede de fornecedores,
lização das compras, relacionamento conflitante uma tentativa de aumentar o grau de industriali-
entre a obra e o escritório, falta de tempo para zação das atividades da construção civil (Pero et
negociações e desconhecimento do planejamento al., 2015).
estratégico da empresa. A relação com fornece-
dores deveria se dar de maneira organizada, com
desenvolvimento destes e pensa-los como parcei- 5 Considerações Finais
ros, levando essas informações sempre em consi-
deração (e com seriedade) nas tomadas de decisão A filosofia de Construção Enxuta e a
da gestão da produção (Santos, 2006). Mais espe- Produção Enxuta se assemelham bastante, mas
cificamente sobre o processo de compras, Santos ao se observar de modo mais aprofundado as pe-
(2006) propõe que seja feita a compra proativa e culiaridades entre esses dois conceitos podem ser
propõe um modelo que chama de Procompras ao percebidas. E é dessa constatação que decorrem
falar dos satisfatórios resultados de sua aplicação as principais reflexões e ponderações acerca dos
em alguns estudos de caso. temas explorados. O uso das ferramentas e con-
É interessante que exista a figura de um res- ceitos lean em obras é recente, ainda não há a
ponsável por essa atividade, não apenas dentro da mesma consistência conceitual e metodológica,
organização, mas conectando toda a cadeia pro- o que é natural dado o pouco tempo desse uso.
dutiva (Júnior et al., 2015). Uma relação de pro- Porém estudos e tentativas estão sendo feitos no
ximidade com os fornecedores garante uma maior intuito de se delimitar mais especificamente a
confiabilidade nos prazos e na qualidade tanto dos Construção Enxuta.
serviços quanto dos materiais providos (Júnior et A própria variação do balanceamento de li-
al., 2015). Para tal é preciso que se haja um esfor- nha convencional das linhas de produção fabris
ço em desenvolver e capacitar fornecedores, o que para a, mais apropriada, técnica da Linha de
melhoraria o andamento dos processos internos Balanço é um dos indícios de que a Construção
da empresa (Etges, 2012). Enxuta está em fase de maturação, de uma defi-
Em trabalhos mais recentes (Li & Found, nição mais clara. Mas já há um esforço, como no
2016; Martínez-Jurado & Moyano-Fuentes, 2014) uso de kanbans ou na relação com fornecedores
já se fala em análise da sustentabilidade da rede inspirada na Produção Enxuta, para se consoli-
de fornecedores de uma obra em construção civil. dar em termos práticos (os quais estão também
Existe, inclusive, mensuração de emissões de gases sendo estudados pelos pensadores e entusiastas
poluentes e de seu impacto (Dadhich et al., 2015) da área).
e já se fala na importância da escolha de parceiros Resultados concretos de como solucionar os
sustentáveis para se montar cadeias verdes (green problemas da aplicação da filosofia lean em um
supply chain) (Wu & Barnes, 2016). Outra forma contexto peculiar como a construção civil já po-
de aperfeiçoar a relação com a rede de fornecedo- dem ser encontrados (Shukor et al., 2016). Há
res é a tentativa de integração do BIM com GIS exemplos como os resultados do uso do kanBIM
(Geographic Information Systems) encontrada no (Koskela et al., 2016), a produção modular na
estudo de Irizarry, Karan e Jalaei (2013). Existem construção enxuta (Pero et al., 2015), a integração
também esforços para realizar uma produção mo- entre BIM e GIS (Irizarry et al., 2013), a tentativa
dular na construção civil se pensando e gerindo de de aperfeiçoar o uso da técnica de LOB (Cabrera
Gurevich, U., & Sacks, R. (2014). Examination of Liker, J. & Meier, D. (2007). Modelo Toyota – manual
the effects of a KanBIMproduction control system on de aplicação: um guia prático para a implementação dos
subcontractors’ task selections in interior works. Autom. 4Ps da Toyota. Porto Alegre: Bookman.
Constr., 37, 81–87. Locatelli, G., Mancini, M., Gastaldo, G., & Mazza,
Hopp, W. J., & Spearman, M. L. (2004). To pull or not F. (2013). Improving projects performance with
to pull: what is the question? Manufacturing & Service lean construction: State of the art, applicability and
Operations Management, 6(2), 133-148. impacts. Organization, Technology & Management
in Construction: An International Journal, 5(Special),
Hou, T, & Hu, W.C. (2011). An integrated MOGA
775-783.
approach to determine the Pareto-optimal kanban
number and size for a JIT system. Expert System with Mariz, R. N., & Picchi, F. A. (2013). Método para
Applications, 38, 5912-5918. aplicação do trabalho padronizado. Ambiente
Construído, 13(3), 7-27.
Ichihara, J. A. (1997, outubro). A Base Filosófica da
Linha de Balanço. Anais do Encontro Nacional de Martínez-Jurado, P.J., & Moyano-Fuentes, J. (2014).
Engenharia de Produção ENEGEP, Gramado, RS, Lean Management, Supply Chain Management and
Brasil, 17. Sustainability: A Literature Review. Journal of Cleaner
Production, 85, 134-150.
Irizarry, J., Karan, E.P., & Jalaei, F. (2013). Integrating
BIM and GIS to improve the visual monitoring of Martins, P. G., & Laugeni, F. P. (2001) Administração
construction supply chain management. Automation in da produção (5a ed.). São Paulo: Saraiva.
Construction, 31, 241-254. Mendes, R., Jr., & Heineck, L. F. M. (1997, outubro).
Jørgensen, B., & Emmitt, S. (2008). Lost in transition: Roteiro para programação da produção com linha de
The transfer of lean manufacturing to Construction balanço em edifícios altos. Anais do Encontro Nacional
Engineering, Construction and Architectural de Engenharia de Produção ENEGEP, Gramado, RS,
Brasil, 17.
Management, 15(4), 383 – 398.
Mendes, R., Jr. (1999). Programação da produção na
Júnior, A.L.N., Siluk, J.C.M., & Nara, E.O.B. (2015).
construção de edifícios de múltiplos pavimentos. Tese
Estudo de um fluxo interno de materiais baseado na
de Doutorado, Universidade Federal de Santa Catarina,
filosofia Lean Manufacturing. Production, 25, 691-700.
Florianópolis, SC, Brasil.
Koskela, L. (1992). Application of the New Production
Millstein, M. A., & Martinich, J. S. (2014). Takt Time
Philosophy to Construction, Palo Alto, California, USA,
Grouping: implementing kanban-flow manufacturing in
Center for Integrated Facility Engineering, Stanford
an unbalanced, high variation cycle-time process with
University.
moving constraints. International Journal of Production
Koskela, L. (2000). An exploration towards a Research, 52(23), 6863-6877.
production theory and its application to construction.
Moura, R., & Heineck, L. (2014, novembro). Linha de
Doctor of Technology Thesis, Technical Research Center balanço – síntese dos princípios de produção enxuta
of Finland, Helsinki, Finland. aplicados à programação de obras. Anais do Encontro
Koskela, L., Dave, B., Framling, K., & Kubler, S. Nacional de Tecnologia do Ambiente Construído,
(2016). Opportunities for enhanced lean construction Maceió, AL, Brasil, 15.
management using Internet of Things standards. Narusawa, T., & Shook, J. (2009). Kaizen Express:
Automation in Construction, 61, 87-96. fundamentos para sua jornada Lean. Lean Institute
Kucukkok, I., & Zhang, D.Z. (2014). Mathematical Brasil. São Paulo: Lean Institute Brasil.
model and agent based solution approach for the Nguyen, M.N., & Do, N.H. (2016). Re-engineering
simultaneous balancing and sequencing of mixed-model assembly line with lean techniques. Procedia. CIRP, 40,
parallel two-sided assembly lines. Int. J. Production 590-595.
Economics, 158, 314-333.
Ohno, Taiichi. (1997). O sistema Toyota de produção:
Lam, N.T., Toi, L.M., Tuyen, V.T.T., & Hien, D.N. além da produção em larga escala. Porto Alegre:
(2016). Lean line balancing for an electronics assembly Bookman.
line. Procedia CIRP, 40, 437-442.
Paez, O., Salem, S., Solomon, J., & Genaidy, A. (2005).
Lei, H., Ganjeizadeh, F., Jayachandran, P. K., & Ozcan, Moving from lean manufacturing to lean construction:
P. (2017). A statistical analysis of the effects of Scrum Toward a common sociotechnological framework.
and Kanban on software development projects. Robotics Human Factors and Ergonomics in Manufacturing and
and Computer-Integrated Manufacturing, 43, 59-67. Service Industries, 15(2), 233-245.
Li, A.Q., & Found, P. (2016). Lean and Green Supply Pero, M., Stößlein, M., & Cigolini, R. (2015). Linking
Chain for the Product-Services System (PSS): The product modularity to supply chain integration in
literature review and a conceptual framework. Procedia the construction and shipbuilding industries. Int. J.
CIRP, 47, 162-167. Production Economics, 170, 602-615.
Pettersen, J. (2009). Defining lean production: some Silva, L., & Porto, E. (2008, outubro). O balanceamento
conceptual and practical issues. The TQM Journal, do fluxo produtivo à luz da toc: caso prático no
21(2), 127-142. processo de montagem de calçados autoclavados. Anais
Radnor, Z., & Bucci, G. (2011). Analysis of Lean do Encontro Nacional de Engenharia de Produção
Implementation in UK Business Schools and ENEGEP, Rio de Janeiro, RJ, Brasil, 28.
Universities. London: Association of Business Schools. Sternatz, J. (2015). The joint line balancing and material
Roh, J., Hong, P., & Min, H. (2014). Implementation of supply problem. Int. J. Production Economics, 159, 304-
a responsive supply chain strategy in global complexity: 318.
The case of manufacturing firms. Int. J. Production Susilawati, A., Tan, J., Bell, D., & Sarwar, M. (2015).
Economics, 147, 198-210. Fuzzy logic based method to measure degree of
Rosenblum, A., Azevedo, V. S., Borges, C., Jr., lean activity in manufacturing industry. Journal of
& Tavares, M. E. (2007, outubro). Avaliação da Manufacturing Systems, 34, 1-11.
Mentalidade Enxuta (Lean Thinking) na Construção
Tubino, D. F., & Silva, G. G. M. P., & da Poler, R.
Civil – uma visão estratégica de implantação. Anais
(2012, Lean manufacturing implementation: An
do Simpósio de Excelência em Gestão e Tecnologia,
exploratory study of Brazilian companies. Proceedings
Resende, RJ, Brasil, 4.
of the Production and operations management society
Salem, O., Solomon, J., Genaidy, A., & Wankarah, Annual Conference, Chicago, Illinois, USA, 23.
I. (2006). Lean Construction: From Theory to
Implementation. ASCE, Journal of Management in Turner, R., & Lane, J.A. (2013). Goal-Question-Kanban:
Engineering, 22(4), 168-175. applying lean concepts to coordinate multi-level systems
engineering in large enterprises. Procedia Computer
Santos, A. P. L. (2006). Modelo procompras: Science, 16, 512-521.
formulação, implantação e avaliação da compra pró-
ativa na construção de edifícios. Tese de Doutorado, Valente, C., Novaes, W., Mourão, C. A., & Barros, J.
Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, P., Neto (2012). Lean monitoring and evaluation in a
SC, Brasil. construction site: a proposal of lean audits. Proceedings
of the Annual Conference of the International Group for
Schafranski, L. E., & Tubino, D. F. (2013). Simulação
Lean Construction, San Diego, USA, 20.
empresarial em gestão da produção. São Paulo: Editora
Atlas S.A. Vivan, A. L., & Paliari, J. C. (2012). Design for
Shah, R., & Ward, P. T. (2007). Defining and developing Assembly aplicado ao projeto de habitações em Light
measures of Lean production. Journal of Operations Steel Frame. Ambiente Construído, 12(4), 101-115.
Management, 25(4), 785-805. Womack, J.P., & Jones, D.T. (1996). Lean thinking:
Shingo, Shigeo. (1996). Sistemas de produção com banish waste and create wealth in your corporation. New
estoque zero: o sistema Shingo para melhorias contínuas. York: Simon & Schuster.
Porto Alegre: Bookman. Womack, J.P., Jones, D.T., & Roos, D. (2004). A
Shiraishi, Marcelo Riyudi. (2013). Levantamento de máquina que mudou o mundo (7a ed.). Rio de Janeiro:
oportunidades da aplicação das ferramentas lean em Elsevier.
agricultura de precisão: propostas dentro do setor Womack, J.P. (2013). Gemba Walks (2a ed.). Cambridge,
sucroalcooleiro. Trabalho de Conclusão de Curso, Massachusetts: Lean Enterprise Institute, Inc.
Fundação de Ensino “Eurípedes Soares da Rocha”
Centro Universitário Eurípedes de Marília, Marília, SP, Wu, C., & Barnes, D. (2016). An integrated model for
Brasil. green partner selection and supply chain construction.
Journal of Cleaner Production, 112, 2114-2132.
Shukor, A.S.A., Mohammad, M.F., Mahbub, R., &
Halil, F. (2016). Towards Improving Integration of Zhang, L., & Chen, X. (2016). Role of lean tools in
Supply Chain in IBSConstruction Project Environment. supporting knowledge creation and performance in lean
Procedia – Social and Behavioral Sciences, 222, 36-45. construction. Procedia Engineering, 145, 1267-1274.